Recebi este livro – Dois Cônsules de Sua Majestade Imperial em Luanda (1822-1861) – do autor, Gilberto da Silva Guizelin, via Editora, e foi uma grata surpresa constatar imediatamente a qualidade da pesquisa e o desenvolvimento da redação, pois esta obra de história diplomática e social se lê como um romance, ainda que trate de um aspecto muito relevante de nossa política internacional no século XIX – tráfico, escravidão, relações diplomáticas e comerciais com a África – e da diplomacia triangular envolvendo Grã-Bretanha, Portugal e o Império brasileiro.
O autor, Gilberto da Silva Guizelin, é doutor em história pela Unesp e mestre em história social pela Universidade Estadual de Londrina. Conduziu uma vasta pesquisa em arquivos e na literatura pertinente, para contar a fascinante história de dois cônsules que, em épocas diversas, representaram o Brasil no "país" africano (foi colônia portuguesa desde o século XVI até 1974) num dos momentos de maior tensão nas relações do império, tanto no primeiro como no segundo reinado, e nas regências.
Interessante que nossa história de relações com Angola colonial começa com essa presença consular (e humana, de brasileiros em Luanda) e também começa, já no Estado independente, exatamente por um consulado, rapidamente convertido em embaixada, em meio à guerra civil pós-abandono por Portugal da sua mais rica colônia na África (e a da guerra de resistência mais dramática, pois continuou como guerra civil durante mais de uma década).
Depois dos livros de Charles Boxer e de José Honório Rodrigues, eu estava querendo ler mais um pouco sobre as relações entre o Brasil e a África, Angola especificamente, no seu período mais denso para a história dos dois povos, e das relações internacionais triangulares, envolvendo Portugal e Grã-Bretanha anti-escravista. Este é o livro para saciar minha curiosidade, junto com o de Jerry Dávila, para o período da independência e guerra civil.
Guizelin pesquisou em todos os arquivos pertinentes, leu toda a literatura a respeito dos intercâmbios entre Brasil e Angola, e destaca a qualidade e importância do trabalho consular, por vezes mais relevante até do que as relações diplomáticas, que ficam na high politics, e não adentra na vida real dos países. O subtítulo apresenta o nome dos dois "heróis" dessa história fascinante:
Relações Brasil-Angola, de Rui Germack Possolo a Saturnino de Sousa e Oliveira.
Um livro a ser lido e resenhado. O Itamaraty deveria comprar tantos exemplares quanto forem necessários para distribuir em todas as bibliotecas de Angola e dos centros de estudos africanos das universidades brasileiras, além de autoridades naquele mais importante país de nossa interface africana.
Paulo Roberto de Almeida
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