‘Ucranianos não estão prontos para negociar com um Estado terrorista’, diz ex-embaixador da Ucrânia
Rostyslav Tronenko afirmou que, apesar do alongamento do conflito, o país ainda não pretende promover um acordo de paz
Por Jovem Pan 24/08/2022 08h15 - Atualizado em 24/08/2022 08h35
Nesta quarta-feira, 24, a guerra na Ucrânia completa seis meses desde o começo da invasão russa. A data coincide justamente com os 31 anos de independência ucraniana da antiga União Soviética. Na terça, 23, o presidente Volodymyr Zelensky alertou para a possibilidade de aumento dos ataques russos por conta da data comemorativa no país invadido. Para falar sobre o atual momento do conflito, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou Rostyslav Tronenko, ex-embaixador da Ucrânia no Brasil. O diplomata foi categórico ao afirmar que, apesar do alongamento do conflito, o país ainda não pretende negociar um acordo de paz: “Os ucranianos não estão prontos para negociar com um Estado terrorista, que usa chantagem nuclear ocupando, desde fevereiro, a planta nuclear de Chernobyl e a maior planta nuclear europeia, Zaporizhzhia. Não estamos prontos para negociar a nossa rendição incondicional. Ante todas as atrocidades nos territórios ocupados, crimes contra a humanidade e crimes de guerra que a Rússia está fazendo nos territórios ocupados, agora a gente quer a vitória, como diz o presidente Zelensky. Nós estamos entendendo melhor o inglês do ex-primeiro ministro Boris Johnson, que o russo dos saqueadores, dos assassinos, daqueles que estão massacrando a nossa população, destruindo a nossa infraestrutura e realizando pelo nono ano consecutivo a guerra total e a guerra de agressão contra a Ucrânia”.
“Essa guerra dura desde fevereiro de 2014, com a ocupação ilegal da Crimeia e outras cidades pelas tropas russas, e depois avanço nas províncias das regiões de Lugansk e Donetsk, em 24 de fevereiro deste ano. Durante os últimos oito anos, segundo os dados sempre muito cautelosos da ONU, a Ucrânia sofreu 16 mil mortos, mais de 30 mil gravemente feridos, e 1,5 milhão dos refugiados internos. A guerra continua, a Ucrânia, assim como em 2014, reagiu e está resiliente, resistente. Ninguém esperou, nem em 2014, nem nesse ano, que a Ucrânia ia resistir. E, assim como disse o presidente Zelensky hoje, parabenizando todos os ucranianos, não só na Ucrânia, mas no mundo todo, eu gostaria de aproveitar para parabenizar também a comunidade ucraniana do Brasil”, declarou o ex-embaixador.
O diplomata também relembrou a história ucraniana para rebater a ideia de que o país sempre fez parte do território russo e disse que a celebração da independência representa a retomada de um povo milenar: “Vamos ver a história da Ucrânia. O cristianismo nas nossas terras foi levado no final do século X, no ano de 988, durante a existência do principado. O principado de Moscou apareceu três séculos depois. O império Russo apareceu só no começo do século XVIII. Por isso, vamos evitar essas inverdades históricas de que a Ucrânia é o mesmo povo e sempre foi parte do império. Nós estamos celebrando a renovação da nossa independência, nós ganhamos a independência, como outros países, no final da Primeira Guerra Mundial, no ano 1917. Por isso, estamos celebrando hoje a renovação da nossa independência. É um país circular, com história milenar e nós vamos prevalecer”.
Apesar de defender que a rendição ucraniana ainda é inviável, Tronenko ponderou que negociações deverão ser feitas, desde que com concessões por parte do país de Vladimir Putin: “Nós não temos ‘plano B’, quando falo das negociações, claro que sabemos da história que qualquer guerra termina na mesa de negociações, mas a Rússia não quer negociar e não quer achar um compromisso conosco. Eles querem imputar para a gente oferecer só a rendição incondicional, para a Ucrânia se entregar. Há oito anos, em 2014, nós não nos rendemos. Pedimos mais armamento, mais apoio político e mais sanções econômicas contra o país agressor. Nós pretendemos negociar, mas negociar um compromisso. Ficar no meio do caminho. O presidente Zelensky está muito claro, não estamos prontos para negociar a nossa rendição incondicional, nós queremos paz sim, porque não é nossa guerra, o agressor é a Federação Russa, é muito claro”.
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