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terça-feira, 23 de agosto de 2022

O neofascismo em ascensão no mundo e no Brasil: Olavo de Carvalho e Alexander Dugin - Filipe Barini (O Globo)

 Pessoas que incitam ódio e dominação são desequilibrados mentais, como Olavo  de Carvalho e Alexander Dugin.


Considerado 'guru' do Kremlin, Dugin já esteve no Brasil e tem seguidores no país

Filósofo, que fala português, debateu com Olavo de Carvalho, foi a boteco no Rio de Janeiro e participou de seminário sobre autor associado ao fascismo

Por Filipe Barini
O Globo, 22/08/2022 18h41  Atualizado há 12 horas

Hoje em um lugar de destaque após o atentado que matou sua filha, Daria Dugina, nos arredores de Moscou no sábado à noite, o filósofo russo Alexander Dugin, apontado pela imprensa ocidental como "guru de Vladimir Putin", tem ligações com o Brasil e um número considerável de seguidores.

Dugin fala português e deu uma série de entrevistas e palestras no idioma — em 2012, veio pela primeira vez ao Brasil, onde participou de eventos em pelo menos quatro capitais e foi fotografado em um boteco do Rio de Janeiro.

Um ano antes, participou de um debate com um outro “guru”, desta vez do bolsonarismo, Olavo de Carvalho (1947-2022), que posteriormente foi editado na forma de um livro, “Os EUA e a nova ordem global”. Embora haja alguns pontos de contato entre duas linhas de pensamento, incluindo a aversão ao chamado “globalismo”, um termo vago usado pelos ultranacionalistas para se referir às instituições e tratados transnacionais, os dois tiveram mais rusgas do que acertos.

Um deles é sobre a posição da China no novo acerto global. Enquanto Olavo de Carvalho trazia um discurso anti-Pequim, evidenciado durante a pandemia da Covid-19 e que se faz presente na fala de alguns de seus seguidores, Dugin vê a China como parte da construção de uma resposta aos EUA — recentemente, o filósofo russo apontou a Iniciativa Cinturão e Rota, um dos pilares da diplomacia chinesa, como uma “estratégia para garantir a independência da Rússia e da China”.

Em 2014, em sua segunda visita ao Brasil, Dugin participou de um seminário em São Paulo sobre as ideias do italiano Julius Evola (1898-1974), tido como um dos principais ideólogos do neofascismo italiano. Naquele mesmo ano, a Rússia invadiu a Crimeia, algo defendido pelo filósofo russo e que levou a um de seus comentários mais condenáveis: durante uma palestra, na Rússia, disse que os ucranianos “deveriam ser mortos”. Pouco depois, foi demitido da Universidade Estatal de Moscou.

“O pensamento de Dugin, que já chegou a pedir a morte de todos os ucranianos, é uma mistura insalubre de geopolítica neoeurasiana, ocultismo neonazi, nova direita francesa e perenialismo”, escreveu no Twitter, em fevereiro, David Magalhães, professor de Relações Internacionais da FAAP e cofundador do Observatório da Extrema Direita Brasil.

Citado por David Magalhães, o perenialismo, também conhecido como tradicionalismo, é uma filosofia surgida no início do século XX que defende que valores considerados "tradicionais", como os ligados à religião e à espiritualidade, estejam à frente de conceitos como a liberdade de expressão e a democracia. Essa linha de pensamento influenciou ideólogos como Dugin e Olavo de Carvalho.

Adeptos no Brasil
Entre os adeptos das ideias de Dugin no Brasil se destaca o grupo conhecido como Nova Resistência. Em seu site, se define como uma “organização política de orientação nacional-revolucionária, composta por trabalhistas, distributistas, tradicionalistas, nacionalistas de diversas vertentes e adeptos da Quarta Teoria Política”, uma referência a uma teoria apresentada por Dugin em livro do mesmo nome, publicado em 2009.

O ponto central é a superação das três teorias da modernidade, segundo Dugin: o liberalismo, o comunismo e o fascismo, usando elementos delas, mas realizando uma espécie de “descontaminação” de posições vistas como negativas. Há ainda um forte viés antiliberal.

A Nova Resistência também se considera um “reduto antiliberal e anticapitalista”. Nesta segunda-feira, a página do grupo apresentava artigos relacionados ao atentado contra Daria Dugina e outros escritos pelo próprio Dugin há alguns dias.

Recentemente, surgiram sinais de uma suposta infiltração do Nova Resistência no PDT — no dia 31 de março, a página da representação do grupo em Pernambuco escreveu, no Twitter, que “o PDT nacional precisa se tornar o partido do povo”. O líder do grupo, Raphael Machado, é filiado ao partido.

Em junho, o presidente do PDT, Carlos Lupi, afirmou ao site Congresso em Foco não ter conhecimento do grupo, mas declarou que a dupla militância é proibida na sigla há cinco anos, e prometeu “providências imediatas”.

Na semana passada, durante entrevista do candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, no programa Roda Viva (TV Cultura), o escritor e editor do UOL, Flávio Costa, perguntou sobre o tema. Em resposta, Ciro Gomes disse não ter nenhuma informação, mas garantiu que “qualquer neonazista, neofascista, racista, seja lá o que o diabo for, não vai estar no PDT”.

Além do Nova Resistência, existe um outro grupo duginista no Brasil, a Frente Sol da Pátria, que é uma dissidência. Ambos também expressam posições similares às do Kremlin sobre o conflito na Ucrânia.

As ideias do filósofo não parecem restritas a esses nichos: no final de abril, foi anunciada uma palestra de Alexander Dugin, com a participação de membros da Escola Superior de Guerra (ESG). Naquele momento, a guerra já estava a todo vapor, e o evento acabou cancelado.

Oficialmente, o Laboratório de Estudos de Defesa e Segurança Pública da Uerj que organizaria a entrevista, afirmou que a decisão ocorreu por motivos de agenda. Dugin acabou falando no mesmo dia a um canal brasileiro, o Arte da Guerra, em uma live que, segundo uma pessoa ligada ao Nova Resistência, “foi assistida por vários oficiais da ESG”.

https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2022/08/considerado-guru-do-kremlin-dugin-ja-esteve-no-brasil-e-tem-seguidores-no-pais.ghtml

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