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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sábado, 9 de setembro de 2017

Formacao da Diplomacia Economica no Brasil, 3ra edicao disponivel - Paulo Roberto de Almeida

Finalmente disponível a nova edição, revista, atualizada, agora em dois volumes:

FUNAG lança a terceira edição do livro “Formação da Diplomacia Econômica no Brasil” - Paulo Roberto de Almeida
rotativo vol I II diplomacia economica
A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) publica a 3ª edição da obra “Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império”, do diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) e diplomata Paulo Roberto de Almeida. O livro examina, em dois volumes, a formação da diplomacia econômica no Brasil, desde as primeiras etapas (1808 e 1822), até a emergência, mais perto do final do Império, de uma diplomacia madura e segura na defesa dos interesses nacionais. A obra analisa ainda o desenvolvimento dessa diplomacia econômica ao longo da era republicana, numa síntese quanto aos elementos de ruptura e de continuidade de nossas relações econômicas internacionais. A apresentação é do embaixador Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras.
O livro está disponível para download gratuito na Biblioteca Digital da Funag
(Brasília: Funag, 2017, 2 volumes; Coleção História Diplomática; ISBN: 978-85-7631-675-6; obra completa; 964 p.); Volume I, 516 p.; ISBN: 978-85-7631-668-8; link: http://funag.gov.br/biblioteca/download/1212-Formacao-da-diplomacia-economica-no-brasil-VOL1.pdf) e Volume II, 464 p.; ISBN: 978-85-7631-669-5; link: http://funag.gov.br/biblioteca/download/1213-Formacao-da-diplomacia-economica-no-brasil-VOL2.pdf).

Minha ficha de registro dessa obra é esta aqui: 


1265. Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império. 3ra. edição, revista; apresentação embaixador Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras; Brasília: Funag, 2017, 2 volumes; Coleção História Diplomática; ISBN: 978-85-7631-675-6 (obra completa; 964 p.; Volume I, 516 p.; ISBN: 978-85-7631-668-8; Volume II, 464 p.; ISBN: 978-85-7631-669-5 ). Relação de Originais n. 1351.


sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Churrasco de passarinho: ecologistas querem impedir centra fotovoltaica

Como os passarinhos podem virar churrasco, os ecologistas querem impedir a construção de usinas deste tipo:

Maior torre de energia solar do mundo é construída em Israel

Image captionUsina de Ashalim ficará pronta no primeiro trimestre de 2018 | Foto: Divulgação
Na paisagem das areias do deserto do Negev, no sul de Israel, uma torre de 250 metros de altura - o equivalente a um prédio de 50 andares - se destaca. Trata-se da torre da usina solar de Ashalim, parte do esforço das autoridades israelenses para produzir, até 2020, 10% de sua energia através de fontes renováveis; hoje, este porcentual é de 2,5%.
A mais alta do mundo em um projeto de energia solar térmica concentrada (Concentrating Solar Power - CSP, em inglês), a torre de Ashalim é circundada por 50.600 espelhos controlados por computador (heliostatos), distribuídos por uma área de 3 km². Esses espelhos acompanharão a movimentação do sol de modo a refletir luz sobre uma caldeira localizada no alto da torre, durante o maior tempo possível ao longo do dia.
A radiação solar infravermelha capturada pelos espelhos e refletida sobre a caldeira criará um processo térmico de vapor que moverá enormes turbinas, gerando energia elétrica "limpa". Quando pronta, no primeiro trimestre de 2018, a usina de Ashalim produzirá 121 megawatts de energia solar, suficientes para iluminar 125 mil casas, evitando a emissão anual de 110 mil toneladas de dióxido de carbono. 
"A eletricidade será gerada a partir do vapor da mesma forma que geraria uma usina de gás ou de carvão, mas a energia não vem de combustíveis fósseis e sim do sol. É uma obra de porte para quem quer investir em energia limpa", diz o engenheiro uruguaio Jacinto Durán-Sanchez, diretor-geral da usina solar.
Espelhos podem ser controlados remotamente e ficam próximos a torres de wi-fi, para garantir conexão sem interrupção | Foto: Felipe Wolokita
Os espelhos serão controlados remotamente até mesmo por telefones celulares dos engenheiros e diretores. Diariamente, a areia do deserto acumulada sobre eles terá de ser retirada. 
"Os heliostatos vão estar inclinados, levando os raios de sol e o calor até a caldeira para levar a água a um vapor de 600 graus. Cada heliostato tem seu comando individual e remoto. Entre os espelhos há torres de wi-fi para assegurar que estejam conectados 24h por dia", explica o engenheiro argentino Claudio Nutkiewicz, outro latino-americano envolvido no projeto.
No mundo, existem atualmente apenas 10 usinas heliotérmicas com capacidade superior a 121 MW. A maior é a de Ivanpah, no deserto do Mojave (EUA), inaugurada em 2014, com capacidade projetada de 392 MW. Mas ela conta com três torres de 190 metros de altura cada uma (40 andares), que recebem luz de 173.500 heliostatos.

Usina de Ashalim tem custo estimado de US$ 570 milhões | Foto: Daniela Kresch
O projeto de Israel é mais humilde no número de espelhos (um terço), mas inova ao contar com apenas uma torre dez andares mais alta - que teria potencial maior na produção energética com custo menor do que o de erguer diversas torres. Novos megaprojetos com torres altíssimas (ao invés de várias mais baixas) estão em andamento. Uma delas, na Austrália, chegará perto da de Ashalim. A Aurora Solar Energy terá uma torre de 227 metros de altura (48 andares).
A usina solar (ou heliotérmica) de Ashalim tem custo estimado de US$ 570 milhões e, faz parte de um projeto mais amplo, o Megalim, uma joint-venture entre a General Electric (GE), a BrightSource (empresa americana de energia solar que também construiu a usina de Ivanpah) e o fundo israelense Noy (que investe em infraestrutura, com participação do Banco Hapoalim, o maior do país).
No total, o projeto é estimado, em US$ 820 milhões, incluindo mais duas obras complementares: uma para armazenamento de energia solar de noite e outra de uma usina com tecnologia fotovoltaica para produzir ainda mais energia. Juntos, os três projetos solares gerarão cerca de 310 MW - cerca de 2% das necessidades de Israel. 
Mas as usinas heliotérmicas também têm críticos. Nos Estados Unidos, ambientalistas apontam para o fenômeno de aves mortas encontradas nas proximidades dessas centrais elétricas. Eles afirmam os pássaros são incinerados pela luz refletida pelos espelhos, que pode alcançar 600° centígrados.

A hiperinflacao de Chiang Kai-Shek levou a China ao comunismo - Jonathan Fenby book

Mao Tse-tung parece ter sido mais vitorioso por causa da inflação do que pela potência de suas tropas:

Today's selection -- from Chiang Kai-Shek by Jonathan Fenby. In 1947, it looked certain that Chiang Kai-shek and the Nationalists would triumph over Mao Zedong and the Communists in the battle for China, but mismanagement of the economy and crippling hyperinflation destroyed his chances:

"On 7 August 1947, Chiang Kai-shek flew over the loess country of northern Shaanxi to the town [of Yan'an] where Mao had found his haven at the end of the [now legendary] Long March. The Generalissimo walked briskly through Yan'an, accompanied by a triumphant group of generals led by General Hu Zongnan, the 'Eagle of the North-West' who had ring-fenced the base area during the war with Japan.


China's Wartime Finance and Inflation: 1937 -- 1945, 1965
"[Hu] had taken Yan'an without a fight -- the Communist leadership had already trekked out. The place was of no importance in itself, and the bleak countryside of northern Shaanxi offered no benefits for the Nationalists. But that meant little beside the symbolism of having forced Mao and his colleagues to flee once more, the Communist leader on a horse while his troops marched round him. Chiang went to see Mao's house and the long tunnel connecting it to Zhu De's headquarters as Nationalist photographers took snaps of poppies and the 'Local Product Company' building to show that the Communists had been dealing in opium.

"A combination of huge forces, American supplies and transport, plus some good generalship in the north had put Chiang in what looked like an unassailable position in the first eighteen months after the end of the war with Japan. Mercenary armies came back under the Nationalist flag. He had the active support of the China Lobby in the United States, combining politicians in Washington, a network of businessmen round T. V. Soong and H. H. Kung, and the influence of [Time magazine and the other Henry] Luce magazines. The Republican, Thomas Dewey, seemed well placed to beat Truman in the 1948 presidential election -- after a visit to America, Chen Lifu told a Shanghai newspaper that this would mean 'extraordinary measures' to send military aid to China. But, as so often, Chiang's position was more hollow than it appeared. By the time he walked through Yan'an, his military fortunes had peaked, and the disintegration of areas under Nationalist control was racing ahead.


1950 propaganda cartoon (via ChinaSmack). The caption in the right panel reads, Now currency has stable rates, gold and greenbacks are disgraced, Renminbi are widely trusted, speculators have been busted.
"Hyperinflation was destroying the middle classes and honest officials; wholesale prices in Shanghai rose by 45 per cent in a single month. The mother of the author of Wild Swans, Jung Chang, had to hire a rickshaw to carry the huge pile of notes needed to pay her school fees in the Manchurian city of Jinzhou where beggars tried to sell their children for food. Labour unrest grew -- there were 4,200 strikes in Shanghai in 1946-47. In some universities, police agents masquerading as students patrolled the campuses with guns under their gowns searching for subversives. In [Beijing], troops fired on a protest by 3,000 students, killing several. In Kunming, five dissidents were shot by police, and more than 1,000 were held in a jail, pulled out of the cells at midnight to kneel in the gravel yard while soldiers waved bayonets at them and told them to confess to being Communists -- the American journalist Jack Belden added that more than thirty were buried alive. The protests were encouraged by the Communists, but were, above all, a sign of war-weariness and alienation from a regime that had nothing more to offer.

"Not that support for the Communists was as widespread and automatic as subsequent propaganda would assert. The party demonstrated great skill in organising the peasantry, but its revolution was often imposed rather than being the result of spontaneous popular uprising."

To subscribe, please click here or text "nonfiction" to 22828.
Chiang Kai-Shek: China's Generalissimo and the Nation He Lost
Author: Jonathan Fenby
Publisher: Carroll & Graf Publishers
Copyright 2003 by Jonathan Fenby
Pages: 473-475

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quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Novo livro de Anne Applebaum: Red Famine - Stalin's War on Ukraine (em outubro)

Da mesma autora de Gulag, que já resenhei (ver abaixo), e de Iron Curtain, que já li, mas não resenhei:

Depois do ponto de nao retorno: qual a postura dos apoiadores? - Paulo Roberto de Almeida


Depois do ponto de não retorno: qual a postura dos apoiadores?

Paulo Roberto de Almeida
 [Mini-reflexão sobre o momento da luta anticorrupção; interrogação sobre a atitude de apoiadores, especialmente a de diplomatas]
 
E agora, como ficamos?
Depois do testemunho de um apparatchik graúdo – companheiro de caráter, ou seja, um canalha perfeito, como a maior parte dos seus colegas na direção do partido, mas sem a mesma convicção “bolchevique” que comandou o silêncio de colegas de fraudes, mentiras e patifarias – no quadro da Operação Lava Jato, acredito que se chegou àquela fase do processo que se chama de “ponto de não retorno”. Isto me parece evidente, e tão evidente que dispensa qualquer comentário sobre a sequência ulterior dos procedimentos a serem adotados no plano da Justiça. Acredito que os acusados, em primeiro lugar o chefão mafioso de toda a quadrilha, serão inapelavelmente condenados por um juiz rigoroso no plano dos procedimentos judiciais. Se eles vão, ou não, cumprir penas de prisão é outra questão, que não me interessa nesta mini-reflexão.
O que me interessa, na verdade, é a atitude pessoal de todos aqueles que apoiam e sustentam, ainda, o partido e o seu chefe supremo, uma tropa formada por muitos militantes da causa, mas por motivos que podem ser diferentes para um ou outro grupo de pessoas. Esses apoiadores eu dividiria em duas classes de pessoas: aqueles que eu chamo de “true believers”, isto é, os crentes sinceros, e vários outros que podem ter motivações diversas na sustentação da causa partidária, especialmente do chefe supremo de todos eles. A partir deste momento de não retorno, de queda para o abismo de todos os que atuaram nas causas criminosas do partido e de seu chefe, o que me interessa, na verdade, e a atitude de uns e outros em relação ao que vem pela frente.

True believers são irredutíveis em suas crenças
Todo e qualquer movimento religioso ou político, qualquer crença social sempre agrega a massa dos crentes, aqueles que acreditam sinceramente na verdade e na boa-fé da sua causa, e uma cúpula de “organizadores” e manipuladores desse movimento, que podem ou não acreditar no que afirmam, mas que vivem disso e precisam manter a fé dos true believers. Estes últimos são geralmente ingênuos, ignorantes, pessoas de reduzida capacidade mental, ou de conhecimentos limitados, que necessitam, por razões diversas, de alguma crença em alguma coisa, para dar sentido às sua vidas e atitudes. No limite, esses crentes sinceros podem se converter em fundamentalistas, ou seja, militantes ativos da sua causa, e que, num outro limite, pode chegar àquele ponto de fanatismo que legitimaria qualquer atitude, mesmo a extrema, a de se sacrificar pela causa em questão. Isso existe no mundo religioso e existe no mundo político, aliás até no futebol, onde energúmenos completos chegam ao ponto de matar o torcedor de um time adversário. Terroristas, políticos ou religiosos, são feitos desse material.
Em geral, no entanto, os true believers constituem uma massa amorfa e sincera de apoiadores irredutíveis, aqueles que por ignorância ou ingenuidade continuarão sustentando a causa dos sacerdotes do culto em qualquer tempo e lugar. Eles continuam defendendo a causa e seus chefes mesmo contra todas as evidências de que esses “sacerdotes” – ou chefe políticos – constituem, na verdade, uma gangue de perfeitos patifes que usam da causa para objetivos pessoais, não necessariamente em acordo com as crenças (muitas vezes em total contradição com os “princípios e valores” do movimento), mas para fins sórdidos, de enriquecimento ilícito, por exemplo, que é quase sempre o objetivo efetivamente buscado por esses “sacerdotes” (que também podem ser motivados por questões de prestígio, narcisismo, megalomania, etc.).
Não vou me ocupar dessa categoria de apoiadores, pois geralmente se trata de pessoas com as quais é impossível se ter qualquer tipo de diálogo racional, dada, justamente sua condição de verdadeiros crentes da causa, alguns até o fim, outros até que algum evento contundente possa demovê-los de sua crença. Talvez as mais recentes revelações – como o testemunho desse chefete do partido que administrava as contas pessoais do chefão mafioso –, que conformam o que se pode classificar de “ponto de não retorno”, alguns desses verdadeiros crentes desistam de apoiar o “messias”, ou o salvador e profeta da causa, mas duvido que isso ocorra em grande escala. Crentes sinceros são geralmente impérvios e imunes a quaisquer fatos e evidências que tendem a desmentir os fundamentos de sua crença. Deixemo-los em paz...

Uma questão de caráter, ou falta de...
Interessa-me mais a segunda categoria de apoiadores, um grupo para o qual eu não tenho uma designação única, pois esse grupo restrito de sustentadores da causa, e de seu chefe, pode estar animado por motivações diversas: oportunismo, carreirismo, fins materiais (enriquecimento, igualmente, como pode ser esperado), fidelidade pessoal ao chefão que os “prestigia” diretamente (por causas profundamente egoístas, é verdade), ou qualquer outro motivo ou razão para permanecerem ao lado do movimento e do seu supremo sacerdote, mesmo quando as evidências contraditórias já são propriamente irrecusáveis, ou seja, impossíveis de serem negadas, contornadas, deslegitimadas. Eles continuam ao lado do chefe, contra ventos e marés, e isso não tem nada a ver com o fato de serem – o que não são – true believers. Geralmente são pessoas suficientemente bem informadas, até inteligentes, que sabem exatamente o que se passa, o que sempre se passou, ainda que no início pudesse haver uma esperança sincera de que a causa valia o seu apoio e engajamento na causa.
Tudo o que ocorreu, no seguimento da mobilização dos militantes do baixo clero – os true believers – e de materialização dos objetivos do movimento, todas as patifarias e crimes cometidos, o gigantesco espetáculo da corrupção, poderia tê-los demovido de apoiar a causa e o seu chefe, ao constatar a realidade do que estava por trás de todo o discurso aberto ao público, em total contradição com o que se passava nos bastidores e que eles sabiam muito bem, ou poderiam desconfiar, que era verdade. Afinal de contas, à diferença dos militantes sinceros, mas ingênuos e ignorantes, essas pessoas nunca foram ingênuas ou ignorantes, mas se engajaram na causa, e na defesa da organização e do seu chefe supremo, de forma totalmente voluntária e conscientemente.
Essas pessoas – intelectuais, ou presumidos tais, chefes de outras organizações, jornalistas, artistas, representantes dos chamados movimentos sociais, e até dois dos mais importantes diplomatas que serviram nos governos companheiros – se reuniram diversas vezes numa espécie de “pacto de sangue” em favor do chefão da causa, no que pode ser considerado como uma “tropa de choque” pessoal, uma guarda pretoriana dita “intelectual” atuando em defesa do sacerdote supremo. Como chama-los, como designar a tropa de choque, que classificação atribuir aos integrantes desse grupo restrito em apoio ao líder do movimento, aquele que o diplomata mais conhecido integrante da tropa chamou de “Nosso Guia”? Confesso que não sei.
Uma única conclusão é possível em face da atitude dos apoiadores conscientes: essas pessoas deixaram de ter qualquer caráter, no sentido mais amplo dessa palavra. Em outros termos, são aquilo que se chama de canalhas completos. Lamento apenas que colegas diplomatas integrem o bando de cúmplices da causa criminosa. O serviço exterior do Brasil, o Itamaraty, o conjunto dos diplomatas – categoria da qual faço parte – não merecia assistir a um espetáculo deprimente, como pode ser a manifestação de apoio completo de integrantes da carreira a crimes manifestamente perpetrados não só contra o país, como contra a credibilidade e a legitimidade das suas instituições, inclusive da diplomacia (uma vez que os crimes se estenderam por diversos países, usando e abusando de instituições diplomáticas para o cometimento de tais crimes).
Não tenho nenhum problema em afirmar, mais uma vez, minha convicção plena, confirmada pelo menos desde 2005 de que, a partir de 2003, o Brasil passou a ser comandado por uma organização criminosa, com um chefão mafioso à sua frente, o que aliás permanece até este momento. Talvez tenha sido por isso que me afastei, talvez de maneira inconsciente, no começo, mas instintivamente convicta, do apoio e do serviço em benefício da administração diplomática lulopetista que passou a servir, com tons de submissão abjeta, às obsessões megalomaníacas do chefão da quadrilha, inclusive e sobretudo no plano internacional. Desde aí tornei-me um crítico da diplomacia em questão, que sempre chamei de lulopetismo diplomático, por considera-lo contrário aos interesses nacionais, e por saber, mesmo sem documentação probatória, que crimes de corrupção estavam sendo cometidos nos subterrâneos do regime execrável que ficou no poder por mais de três mandatos.
Nunca duvidei dessas minhas certezas, o que aliás foi confirmado indiretamente pelo ostracismo completo a que fui condenado durante todos esses anos, numa longa travessia do deserto que durou exatamente os treze anos e meio da gestão lulopetista na política nacional. Agora que essa fase deprimente da vida do país se encaminha para o seu ocaso, e o seu desfecho judicial, só posso lamentar, mais uma vez, que colegas diplomatas integram o pelotão de choque de defesa desses crimes abomináveis e do seu perpetrador supremo. Como chamar essas pessoas? Não tenho nenhum outro nome a não ser o de canalhas. Espero que superemos essa fase vergonhosa da vida nacional, durante a qual a diplomacia também foi envolvida, indiretamente, na trajetória de crimes cometidos pelo lulopetismo. A diplomacia se salvou relativamente ilesa desses episódios, ainda que a política externa tenha sido contaminada pelas loucuras, exageros e idiotices do lulopetismo diplomático, algo do que ainda não nos libertamos completamente no momento presente. Continuarei engajado no restabelecimento da dignidade da política externa brasileira e na conformidade da diplomacia profissional a seus padrões históricos de comportamento.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de setembro de 2017