Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
1114) Contra o Racismo e o Apartheid oficiais
-------------
Paulo Roberto de Almeida
COTAS E LOROTAS
Ubirataran Iorio
20/05/2009
http://www.ubirataniorio.org/blog.htm
Nestes dias em que nossos congressistas estão para votar o chamado “Estatuto da Igualdade Racial”, que deveria ser denominado de Estatuto da Desigualdade Instituída, reproduzo o artigo que publiquei no Jornal do Brasil em 9/7/2007:
“Há poucos dias, a Suprema Corte dos Estados Unidos, em decisão apertada – cinco votos contra quatro – desferiu um golpe letal no denominado princípio de ação afirmativa, ao decidir pela inconstitucionalidade do sistema de cotas étnicas em dois distritos: Seattle, no estado de Washington e Louisville, em Kentuky. Tal decisão deverá firmar jurisprudência, dando margem a ações judiciais contra as cotas, o que poderá pôr fim a essa prática. Entrementes, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o sistema de cotas acaba de ser aprovado...
Ações afirmativas são políticas que têm o objetivo de garantir o acesso à educação ou a empregos a grupos “historicamente não dominantes”, como as chamadas minorias - mulheres, homossexuais, negros e índios -, por meio de tratamentos preferenciais que os beneficiem, dos quais a imposição de cotas é um exemplo.
À época em que ocupava o cargo de diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ, vi com preocupação o governo estadual impor, pela primeira vez no Brasil, cotas nos vestibulares da universidade, para candidatos afrodescendentes (dos quais a maioria - os mulatos - também são eurodescendentes!) e para os originários de escolas públicas. Meu ceticismo era motivado por diversas razões: não há constituição em qualquer sociedade que se preze que não abrace o princípio da igualdade perante a lei; reprimindo pessoas qualificadas em favor de pessoas não qualificadas, fere-se a meritocracia; trata-se de uma forma aberta de discriminação; é uma prática do coletivismo; ao gerar ressentimentos contra os beneficiados, incita ao racismo; sob o ponto de vista da economia, as cotas são claramente contra-produtivas; contribuem para piorar a já tão enfraquecida qualidade acadêmica; tenta-se combater injustiças “históricas” mediante novas injustiças e enfrentar discriminação com mais discriminação - olho por olho e dente por dente.
Apenas com a melhoria da educação básica - e não usando critérios de raça (sempre discutíveis), etnia ou sexo - é que seremos uma sociedade com mais igualdade de oportunidades! Isto é de uma clareza tão visível que é difícil acreditar existirem pessoas que não pensem assim! A luta deve ser por maior igualdade de oportunidades, ou seja, para que todos os cidadãos, indistintamente, tenham acessos semelhantes aos benefícios e que, mediante o esforço e a capacidade de cada um, possam deles usufruir. Não será lançando uns contra outros que construiremos uma grande nação!
O argumento de que as políticas afirmativas reparam “injustiças históricas” pode até ser bem intencionado, mas é uma bazófia que padece de impressionante falta de praticidade: muitos povos, historicamente, sofreram injustiças com guerras e outros flagelos, mas como consertá-las de forma “justa”? Babilônicos, assírios, sumérios, caldeus, amoritas, acádios, godos, visigodos, medos, celtas, samaritanos, cartagineses, etruscos, índios, negros, asiáticos, coríntios, efésios, hebreus e tantos outros... Se, por exemplo, algum remoto descendente de um cidadão da Esparta do general Leônidas fosse descoberto, seria “justo” obrigar um também longínquo descendente do exército de Xerxes da Pérsia a indenizá-lo por aquela injustiça “histórica”? Seria “justo” entregar a Alemanha para os judeus de hoje, a título de reparar os crimes hediondos de que seus pais, avós e bisavós foram vítimas? É “justo” contemplar descendentes de escravos negros com cotas, em detrimento de tataranetos de senhores de engenho, que nem conheceram? Quantas tribos foram massacradas por outras tribos, ainda na África? E quantos brancos, hoje, não serão descendentes distantes de escravos dos romanos ou atenienses, por exemplo?
Boas intenções, apenas, não bastam. Não se corrigem velhos erros com erros novos. A ação realmente afirmativa de que carece o país é uma boa educação para todos, sem qualquer distinção, e que premie o mérito. Basta de cotas e de lorotas!”
Se deixarmos o racismo invadir o Brasil, dividindo-o e agredindo a formação de nosso povo, vai ser muito difícil extirpá-lo mais tarde!
1113) Twitter: para mim uma inutilidade
Hi, Paulo Almeida
[XXXX] has requested to follow your updates on Twitter!
A little information about [XXXX]:
Na mesma mensagem, o sistema avisa que eu tenho:
0 followers
0 updates
following 13 people
Since you protect your updates, you need to either approve or deny this request. You can do this by visiting http://twitter.com/friend_requests. For more information or help, please visit our help article
De fato, eu sou um fracasso nesse novo sistema interativo, do qual eu tinha vagamente ouvido falar como a nova moda, ou febre, interativa.
Pelo que percebi, as pessoas postam, como se fosse num mini-blog, pequenas notas sobre o que estão fazendo, para que outros curiosos, ou voyeurs, possam saber o que, exatamente, elas estão pensando, fazendo, indo, saindo, etc, ou seja, um perfeito narcisismo dirigido, ou um voyeurismo organizado, e público, obviamente...
Sinto muito, a todos os que pretenderiam saber de minhas atividades, mas não sou dado a este tipo de coisas. Sem querer ofender a todos os conhecidos que demonstraram curiosidade por me seguir no Twitter, não pretendo alimentar tal tipo de instrumento.
E, de antemão, me desculpo com todos aqueles que buscam interação por esse veículo.
Aceitei algumas demandas por pura cortesia, de pessoas conhecidas, mas elas devem estar se perguntando quando eu pretendo postar a primeira mensagem.
Respondo de imediato: NEVER.
Sinto muito, mas não é o meu estilo.
O mesmo Twitter Team informa que:
Turn off these emails at: http://twitter.com/account/notifications
É o que pretendo fazer, e talvez até cancelar minha conta no Twitter, pois não pretendo usá-lo. Como disse, entrei por pura distração, ao pretender me informar melhor o que era, ou o que é, exatamente, esse novo instrumento, mas posso parar por aqui mesmo.
Sorry twitters, mas estou fora dessa...
quinta-feira, 21 de maio de 2009
1112) Carreira Diplomatica: respondendo a um questionario
Paulo Roberto de Almeida (www.pralmeida.org)
Respostas a questões colocadas por graduanda em administração na UFSC.
1. Como você se sente por ter escolhido essa profissão (área de atuação)?
PRA: Bastante bem: de certa forma, a profissão me escolheu, posto que desde muito cedo comecei a viajar, primeiro pelo Brasil, depois pela América do Sul e, finalmente, ao completar 21 anos, decidi estudar na Europa, por meus próprios meios e obtendo meus próprios recursos. Foi uma escolha que me preparou para uma vida nômade e aventureira e nunca me arrependi de ter-me lançado ao mundo em fase ainda precoce e sem sequer ter terminado o segundo ano da graduação. Como minha intenção era estudar fora do Brasil, pode-se dizer que realizei meu intento. Quando regressei ao Brasil, depois de quase sete anos na Europa, eu já estava preparado, digamos assim, para tornar-me diplomata. Mas, antes, não tinha pensado: “tropecei” com a carreira, se ouso dizer. Até então, eu só queria derrubar o governo militar.
2. Como você descreveria a sua profissão?
PRA: Uma burocracia de alto nível de qualificação técnica com ampla abertura para as humanidades e o conhecimento especializado. Trata-se, simplesmente, da mais intelectualizada carreira na burocracia federal, combinando aspectos da carreira acadêmica, da pesquisa aplicada e da elaboração de decisões em ambiente altamente competitivo, tanto interna, quanto externamente. Uma elite, como se costuma dizer.
3. Qual sua formação acadêmica? Você considera que ela foi fundamental para o sucesso profissional?
PRA: Ciências Sociais, ou humanidades, no sentido lato, e acredito que ela foi fundamental no ingresso e sucesso na carreira escolhida. Desde muito cedo inclinei-me para os estudos sociais, com forte ênfase na história, na política e na economia, complementados por uma dedicação similar a geografia, antropologia, línguas e cultura refinada, de uma maneira geral. Sou basicamente um autodidata e creio que isso facilitou-me enormemente o ingresso na carreira, pois quase não necessitei de muito estudo para os exames de ingresso. Aliás, entre a decisão de fazer o concurso (direto, no meu caso) e o ingresso efetivo, decorreram pouquíssimos meses (três).
4. Quais as principais dificuldades enfrentadas para conseguir passar no concurso?
PRA: Direito e Inglês, posto que eu havia estudado amplamente todas as demais matérias, mas não Direito, e todos os meus estudos foram feitos em Francês, que eu dominava amplamente. Mas, meu Inglês era muito elementar, servindo tão somente para leituras. Acho que passei raspando nessas duas matérias, nas outras fui bem.
5. Quando você iniciou sua carreira você tinha definido alguns objetivos e metas de onde queria chegar?
PRA: Não especialmente: nunca fui carreirista, no sentido tradicional do termo, e não me preocupava em ser embaixador ou ocupar qualquer posto de distinção. O que me seduzia era a profissão em si, a mobilidade geográfica, o conhecimento de novos países, a possibilidade de estar sempre aprendendo, estudando, viajando. Sou basicamente um estudioso, um observador da realidade, um “compilador” de informações e análises e um escritor improvisado. Todo o resto me é secundário.
6. Como você integra as diversas esferas de sua vida (trabalho, família, lazer, esporte, cursos, etc.)? Está satisfeito?
PRA: Imenso sacrifício para consegui fazer tudo aquilo que tenho vontade, pela simples razão que eu tenho vontade de ler tudo, o tempo todo, em qualquer circunstância, assim como tenho vontade de viajar, de participar de atividades acadêmicas e intelectuais, tendo ao mesmo tempo de me desempenhar em funções atribuídas pela burocracia no meio de tudo isso. Ora, é praticamente impossível conciliar tantas vontades, e ainda ser um marido perfeito, um pai de família perfeito e outras coisas da vida social e relacional. Em síntese, esses outros aspectos foram de certa forma sacrificados no empenho pessoal em ler, estudar e escrever. Reconheço essas imperfeições, mas não se pode ter tudo na vida: escolhas são inevitáveis, e as minhas estão do lado da leitura, do saber e da escrita. São atividades nas quais eu me realizo plenamente. Em outros termos, ninguém consegue integrar todos os seus interesses perfeitamente, e algum aspecto (ou vários) acaba sempre sendo sacrificado; no meu caso, são horas de sono, de lazer, de simples far niente, e também certa negligência familiar, reconheço. Não pratico esportes, a não ser caminhadas moderadas, já em idade madura. Pratico leituras, com alguma intensidade, eu diria intensíssima, e sobretudo o gosto da escrita. No mais, sou um pouco eremita...
7. Quais os períodos de sua carreira que você mais gostou?
PRA: Todos, pois em todos e em cada um eu fiz aquilo que mais gosto: viajar, muito, intensamente, ler, também intensamente, escrever, observar, aprender, em toda e qualquer circunstância, mesmo em situações difíceis de abastecimento, conforto, restrições monetárias ou outras. Toda a minha carreira me trouxe algo de bom, mesmo em situações temporariamente de sacrifício. Nunca deixei de fazer aquilo que mais gosto, e que já foi descrito anteriormente.
8. Quais os períodos de sua carreira que você menos gostou?
PRA: Numa ou noutra situação, alguns postos apresentam dificuldades materiais, desconfortos psicológicos, desafios razoáveis: por pequenos momentos, chega-se a desejar voltar ao Brasil e retornar à rotina burocrática do cerrado central, onde os atrativos são menores, mas também as surpresas. De toda forma, sempre aproveitei os momentos de dificuldade para refletir e escrever, como sempre, aliás.
9. Dentro da perspectiva de sua carreira tem alguma coisa que você gostaria especialmente de evitar?
PRA: Sim, talvez eu devesse ter dedicado menos atenção aos livros e mais às pessoas, mas essas são escolhas que fazemos deliberadamente, por opções próprias, pensadas ou não. Quem tem a compulsão pela leitura e pela escrita, não consegue acalmar-se a menos de satisfazer o seu “vicio”, daí o sacrifício de outros aspectos da vida social que muita gente valoriza em primeiro lugar. Por outro lado, nunca, na carreira, fui obrigado a assumir obrigações que eu mesmo não desejasse assumir, como por exemplo trabalhar em áreas para as quais eu não me sinto talhado nem tenho a mínima vontade de experimentar: administração, por exemplo, ou cerimonial, ou talvez ainda consular. São áreas nas quais eu provavelmente me sentiria infeliz, pois o meu terreno natural são os estudos, de qualquer tipo: geográfico, político, econômico, cultura, antropológico, no sentido amplo. Todas as áreas funcionais de caráter geográfico, político ou sobretudo econômico me servem perfeitamente. Aliás, nunca me pediram para trabalhar em áreas nas quais eu não gosto, e se me pedissem eu não teria nenhuma hesitação em recusar, mesmo podendo incorrer em alguma falta funcional ou ser sancionado por isto. Sou um pouco anarquista, e não gosto de fazer o que me mandam e sim o que eu decido e gosto de fazer.
Por outro lado, jamais me pediram para escrever ou dizer algo que violentasse minha consciência, e eu não hesitaria um segundo em recusar-me terminantemente, como algumas vezes me recusei a defender determinados pontos de vista, que não eram os meus. Por outro lado, jamais enfrentei a obrigação de escrever naquele estilo clássico, ou chatérrimo, que é o diplomatês habitual, cheio de adjetivos hipócritas e de pura formalidade vazia: não tenho espírito, paciência nem disposição para esse tipo de enrolação. Costumo escrever o que penso, sem qualquer concessão a formalismos. Sobretudo, não costumo produzir bullshits, muito freqüentes nesta profissão...
10. Você tem objetivo em longo prazo na sua carreira? Você tem uma visão de futuro profissional?
PRA: Acredito que o diplomata deve servir antes à Nação do que a governos, deve defender valores, e não se subordinar a teses momentaneamente vitoriosas que por alguma eventualidade confrontem esses valores. Já escrevi algo a esse respeito, e remeto a meu trabalho: “Dez Regras Modernas de Diplomacia” (Chicago, 22 jul. 2001; São Paulo-Miami-Washington 12 ago. 2001, 6 p., n. 800; ensaio breve sobre novas regras da diplomacia; revista eletrônica Espaço Acadêmico, a. 1, n. 4, setembro de 2001; link: http://www.espacoacademico.com.br/004/04almeida.htm).
11. Você se considera realmente bom em quê? Quais são seus pontos fortes? E como você aproveita seus pontos fortes no seu trabalho?
PRA: Creio que sou capaz de fazer análises contextuais que envolvam conhecimento histórico, embasamento econômico e situação política, ou seja, tenho instrumentos analíticos e amplos conhecimentos que me permitem situar qualquer problema (ou quase) em um contexto mais amplo, e daí extrair alguns elementos de informação para a instrução de um processo decisório que tenha em conta o interesse nacional. Toda a minha vida eu estudei o Brasil e o mundo, visando tornar o primeiro melhor, num mundo que nem sempre é cooperativo. Registre-se que eu não pretendo tornar o Brasil melhor para si mesmo, ou seja, uma grande potência ou qualquer pretensão desse gênero, que encontro simplesmente ridícula. Eu pretendo tornar o Brasil melhor para os brasileiros, ponto. Contento-me apenas com isso. Minha perspectiva, a despeito de ser um funcionário de Estado, não é a do Estado. Não pretendo trabalhar no Estado, para o Estado, com o Estado: minha perspectiva é a dos indivíduos concretos, e meus objetivos são promover os indivíduos, se preciso for contra o Estado. Não tenho nenhum culto ao Estado e nem pretendo torná-lo maior ou mais poderoso, apenas mais eficiente para servir aos indivíduos, não a si mesmo. Desespera-me essas pretensões nacionalistas estatizantes, pois elas se fazem, em geral, em detrimento do bem-estar individual da maior parte dos cidadãos.
Por outro lado, não me considero patriota, no sentido corriqueiro do termo. Sou brasileiro por puro acidente geográfico, pois poderia ter nascido em qualquer outro país ou em qualquer outra época, por puro acaso. Gostaria de reiterar esse ponto, com toda a ênfase que me é permitida. Não sou dado a patriotismos, nem a chauvinismos ultrapassados e ridículos. A nacionalidade, repito, é um acidente geográfico, ou talvez seja a naturalidade, da qual decorre a primeira. Parto do pressuposto da unidade fundamental e universal da espécie humana. Sou brasileiro, como poderia ter sido esquimó, hotentote ou pigmeu, e ninguém seria responsável por esses acasos demográficos, nem mesmo meus pais, posto que ninguém “fabrica” uma pessoa com base em especificações pré-determinadas. Somos em parte o resultado da herança genética (em grande medida, talvez mais do que o indicado ou desejável, mas talvez não a parte mais decisiva de nossas personalidades); em parte o resultado do meio social e cultural no qual crescemos, e das influências que experimentamos involuntariamente em diversas etapas formativas de nosso caráter; e em parte ainda (o que espero mais substancial ou importante), somos o produto de nossa própria formação ativa, dos estudos empreendidos e dos esforços que fazemos nós mesmos para moldar nossas vidas, nosso estilo de comportamento e nossa maneira de pensar, com base em escolhas e preferências que adotamos ao longo da vida. Devemos sempre assumir responsabilidade pelo que somos, e jamais atribuir ao meio ou a qualquer herança genética determinados traços que podem eventualmente revelar-se menos funcionais para nosso desempenho profissional ou intelectual.
Meus pontos fortes, portanto, são minha capacidade analítica, meus conhecimentos acumulados e meu devotamento à causa dos indivíduos, não dos Estados, e sempre tento passar esses pontos à frente de qualquer outra consideração. Não hesito em defender meus pontos de vista, mesmo contra meus interesses imediatos, que poderiam recomendar uma acomodação com a situação presente – a lei da inércia é uma das mais disseminadas na humanidade – ou com autoridades de qualquer tipo. Não costumo fazer concessões a autoridades apenas para obter vantagens pessoais, e acho essa atitude basicamente correta (ainda que a um custo por vezes enorme no plano pessoal). Talvez seja teimosia de minha parte, mas considero isso antes uma virtude, do que um defeito. Enfim, tendo concepções fortes sobre determinados temas, me é muito mais fácil preparar e expor posições do interesse do Brasil, com base em conhecimentos previamente acumulados, o que me dispensa de longas pesquisas ou buscas em arquivos.
12. Quais são seus pontos fracos?
PRA: Devo ter (e tenho) vários, sendo os mais evidentes essa introversão habitual, essa preferência ao convívio com os livros, mais do que a convivência com pessoas, uma certa arrogância intelectual (que reconheço plenamente), derivada de leituras intensas e de uma imensa acumulação de conhecimentos e informações – que em excesso podem ser prejudiciais, dizem alguns – essa pretensão a saber mais do que os outros (o que em parte é verdade, pela simples intensidade de leituras, mas os outros não gostam que se lhes confronte os argumentos, obviamente). Por outro lado, não tenho nenhum respeito pela hierarquia ou pela autoridade, o que muitos consideram um defeito (mas não eu, dado meu anarquismo particular). Não sou de respeitar o argumento da autoridade, mas apenas a autoridade do argumento, a lógica impecável, e a decisão bem formulada, posto que empiricamente embasada, tecnicamente sólida, com menor custo-oportunidade ou a melhor relação custo-benefício. Enfim, sou um racionalista, e detesto impressionismos e subjetivismos, o que é muito fácil de encontrar em quaisquer meios. Daí choques inevitáveis com determinadas pessoas que pretendem mandar a partir de sua vontade exclusiva, não de um estudo aprofundado de situação. Enfim, ser rebelde assim deve ser um defeito...
13. O que você mais deseja na sua carreira?
PRA: Todos somos egocêntricos ou narcisistas em certa medida. Todos queremos reconhecimento e prestígio, por mais que se diga o contrário. Todos queremos ser elogiados e premiados (no meu caso não monetariamente ou em qualquer aspecto material). Assim, desejo ser reconhecido não necessariamente como um bom diplomata, mas simplesmente como um bom cidadão, alguém que cumpre seus deveres e atua conscienciosamente em benefício da maioria (que calha de ser o povo brasileiro, mas poderia ser qualquer outro, pois como disse, eu me coloco do ponto de vista dos indivíduos, não do Estado). Gostaria de ser reconhecido como estudioso, como esforçado e, sobretudo, como alguém comprometido com o bem comum. Pode ser vaidade, mas é assim que vejo minha carreira, que para mim não é uma simples carreira de Estado, mas sim uma atividade que me coloca no centro (ou pelo menos numa das agências) do Estado, ali colocado para servir a pessoas, não a instituições abstratas.
Gostaria que se dissesse de mim, em algum momento futuro: foi um funcionário dedicado, foi um homem bom, esforçado, devotado ao bem comum, sobretudo foi correto consigo mesmo e com todas as instâncias de interação social ou profissional. Praticou a honestidade intelectual e se esforçou para fazer do Brasil e do mundo lugares melhores do que aqueles que encontrou em sua etapa inicial de vida.
14. O que você pensa que acontecerá à sua carreira nos próximos dez anos?
PRA: Nada de muito relevante, posto que não sou carreirista e não faço da carreira o centro de minhas preocupações intelectuais ou sequer materiais. Estou na carreira diplomática, como poderia estar na academia ou em alguma outra atividade que tenha a ver com o estudo, o esforço intelectual, a análise e a elaboração de propostas. Sou basicamente um intelectual e a carreira para mim é secundária. Provavelmente vou me aposentar nos próximos dez anos, e aí dispor de todo o meu tempo livre para me dedicar àquilo de que mais gosto: leitura, redação, um pouco de aulas e palestras, viagens, alguns prazeres materiais (como a gastronomia, ou a gourmandise, por exemplo) e espero ter condições físicas de continuar escrevendo, ensinando e colaborando com a elevação intelectual da sociedade pelo maior tempo possível. Se me sobrar tempo gostaria de consertar algumas coisas que encontro muito erradas no Brasil, como por exemplo: a corrupção (generalizada em todas as esferas), a desonestidade intelectual nas academias, a miséria material de grande parte da população (que decorre, em minha opinião, de políticas erradas e do excesso de poderes conferidos ao Estado), enfim, tudo aquilo que sabemos errado em nosso País.
15. O que você aconselharia para alguém que estivesse iniciando na mesma área?
PRA: Seja estudioso, dedicado, honesto intelectualmente, esforçado no trabalho, um pouco (mas apenas um pouco) obediente, inovador, curioso, questionador – mas ostentando um ceticismo sadio, não uma desconfiança doentia –, tente aprender com as adversidades, trate todo mundo bem (e, para mim, da mesma forma, um porteiro e um presidente), não seja preguiçoso (embora dormir seja sumamente agradável), cultive as pessoas, mais do que os livros (o que eu mesmo não faço), seja amado e ame alguém, ou mais de um... Enfim, seja um pouco rebelde, também, pois a humanidade só avança com aqueles que contestam as situações estabelecidas, desafiam o status quo, tomam novos caminhos, propõem novas soluções a velhos problemas (alguns novos também). No meio de tudo isso, não se leve muito a sério, pois a vida é uma só – sim, sou absolutamente irreligioso – e vale a pena se divertir um pouco. Tudo o que eu falei ou escrevi acima, parece sério demais. Não se leve muito a sério, tenha tempo de se divertir, de contentar a si mesmo e os que o cercam.
Brasília, 21 de maio de 2009.
1111) Volatilidade e paises em desenvolvimento
Beyond Lending : How Multilateral Banks Can Help Developing Countries Manage Volatility
Guillermo Perry, 2009
Center for Global Development
Contents
Chapter 1: Causes and Consequences of High Volatility in Developing Countries
Chapter 2: The Role of Financial Insurance and Hedging (and of Multilateral Development Banks) in Reducing Volatility
Chapter 3: Dealing with Liquidity Shocks and the Procyclicality of Private Capital Flows
Chapter 4: Dealing with Currency Risks
Chapter 5: Dealing with Commodity Price, Terms of Trade, and Output Risks
Chapter 6: Dealing with Natural Disaster Risks
Chapter 7: Why Multilateral Development Bank Practices Are So Far from Their Potential
Chapter 8: An Agenda Going Forward
http://www.cgdev.org/content/publications/detail/1422098
terça-feira, 19 de maio de 2009
1110) Joaquim Nabuco nos Estados Unidos
Os Estados Unidos e o pensamento de Nabuco
Humberto França,Escritor
DIARIO DE PERNAMBUCO, Recife, Sábado, 16 de maio de 2009
Um seleto grupo de historiadores e diplomatas brasileiros e norte-americanos se reuniu na Universidade de Wisconsin, Madison, EUA, de 24 a 25 de abril passado, para discutir as idéias do pensador social, historiador, político e diplomata pernambucano, - Joaquim Nabuco. O evento “Nabuco and Madison - Uma celebração centenária” - rememorou a apresentação da conferência de Joaquim Nabuco - “The Share of America in Civilization”-, de 1909, e ensejou a inauguração na Biblioteca da Universidade de Wisconsin de uma exposição sobre o líder do Movimento Abolicionista. Na ocasião, igualmente foi lançado um programa de integração científica e cultural - Brazil Initiative - que objetiva um maior diálogo entre os Estados Unidos e o Brasil.
O interesse pelas ideais e trajetória de Nabuco revela que na história das relações Brasil - EUA, nenhum outro brasileiro mereceu tanto reconhecimento público num país estrangeiro, quanto Joaquim Nabuco,na ocasião em que exerceu as funções de primeiro embaixador do Brasil em Washington 1905-10. E, neste momento em que o Brasil assegura a sua posição entre as nações líderes do concerto internacional, a iniciativa da Universidade de Wisconsin muito contribuirá para aproximar, ainda mais, os povos e as instituições dos nossos países. Decerto, promoções desse porte deveriam interessar muito mais as autoridades e as instituições do estado de Pernambuco. No entanto, passaram quase despercebidas. É lamentável que não se obtenha por meio dessas ações, uma maior divulgação da nossa história e dos nossos grandes líderes no Exterior.
O evento em Madison teve a irretocável coordenação do professor Severino Albuquerque, que o realizou com o apoio do Programa de Estudos Latino Americanos, Caribenhos e Ibéricos. A extensa programação teve início com uma saudação do Dr. José Thomaz Nabuco Filho. Em seguida, dois conferencistas ocuparam a tribuna. O embaixador João Almino, cônsul-geral do Brasil em Chicago, tratou do tema: “The importance of Nabuco’s Madison Speech”, e este articulista discorreu sobre “Joaquim Nabuco nos Estados Unidos: A Diplomacia Pan-Americanista, 1905-1910”, encerrando uma sessão solene, muito concorrida, em que estiveram presentes membros da reitoria da Universidade do Wisconsin, autoridades e convidados.
No decorrer da Conferência, realizaram-se treze palestras de notáveis professores, pesquisadores e diplomatas brasileiros e norte-americanos. Todas de altíssima qualidade científica. Destacaram-se as apresentações do vice-presidente da Associação dos Diplomatas do Ministérios das Relações Exteriores, - Dr. Paulo Roberto de Almeida, e da ex-cônsul dos EUA no Recife, Diana Page, e a do Dr. Alfred M. Boll, estes do Departamento de Estado. A primeira parte da programação também contou com as palestras dos professores Dain Borges, Pedro Meira e João Cezar de Castro Rocha, representando as Universidades de Chicago, Princeton, USA e Manchester (Grã-Bretanha), respectivamente.
Na última tarde do evento, os eminentes professores Jefrrey Needell, da Universidade da Florida, e Steven Topic, da Universidade da Califórnia, discorreram acerca do Joaquim Nabuco, o abolicionista e o político liberal. As apresentações prosseguiram com as palestras dos professores Joshua Alma Enlsmen, da Academia Militar de West Point, do Dr. Peter Beattie, de Universidade de Michigan e da pesquisadora Courtney Campbel. A palestra do professor Celso T. Castillo, também da Universidade de Vanderbilt, encerrou uma das mais importantes iniciativas realizadas no Exterior, nos últimos anos, sobre o pensamento mestre e a ação política e diplomática de Joaquim Nabuco.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
1109) Maquiavel, uma reflexao contemporanea
Um livro ainda inédito
Ao que consta, Gustave Flaubert, comentando com um correspondente sua obra mais famosa, teria dito: “Madame Bovary c’est moi!”.
Sem querer comparar-me ao ilustre escritor francês do século 19, e muito menos ao meu ainda mais ilustre antecessor do Renascimento italiano – na verdade, tempos bárbaros para a Itália e para ele mesmo –, creio que eu poderia, nos planos intelectual e espiritual, dizer isto: “Machiavelli sono io!”.
As razões estão explicitadas no meu Prefácio e na própria dedicatória ao genial florentino, un vero uomo di Stato, cujas tribulações e frustrações lhe deram o tempo e o lazer, mas também a angústia, de colocar no papel suas muitas reflexões sobre o comando dos homens e administração das armas na construção de um Estado moderno, laico e eficiente. Se ele tivesse tido sucesso em seus outros afazeres, talvez jamais teria encontrado o tempo necessário e o estímulo interior suficiente para escrever sua obra mais genial.
Sou apenas um seu leitor contemporâneo, mas tudo o que eu escrevi, por meio dos conceitos de Maquiavel, foi pensando no Brasil, que talvez enfrente tempos tão bárbaros quanto os da Itália do Renascimento. Espero que não tenhamos de esperar tanto tempo para o nosso Risorgimento...
Para a leitura do Prefácio e da dedicatória deste meu livro dedicado à figura e ao pensamento de Maquiavel, ver este link.
1108) O mundo, 20 anos apos a queda do muro de Berlim; Unisul - Florianopolis, SC
Unisul - Florianopolis, SC
Apresentação
Data de realização: dias 22 a 24 de junho de 2009.
O I Seminário de Pesquisa Interdisciplinar – I SPI é o mais novo evento técnico-científico regional do Brasil que reúne os Cursos de Administração, Relações Internacionais e Turismo da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina).
Trata-se de um evento público-privado, que tem por objetivo estimular a produção científica de qualidade, oportunizando e socializando o conhecimento por meio de conferências, debates, apresentações de trabalhos técnico-científicos.
Em sua 1ª edição, o tema geral do evento é "20 anos após a queda do Muro de Berlim”. O objetivo é difundir pesquisas e debates interdisciplinares na região sul do Brasil acerca das visões das áreas da Administração, Relações Internacionais e Turismo sobre o mundo 20 anos após a queda do muro de Berlim.
Não perca a oportunidade você, estudante de graduação ou pós graduação, pesquisador ou profissional da Administração, de Relações Internacionais e do Turismo, assim como demais interessados venham compartilhar o conhecimento conosco.
Submissão de trabalhos
Local: Dependências do Campus Norte da Ilha da UNISUL
Florianópolis-SC
Mais informações com a coordenação:
Prof. Dr. Nilzo Ivo Ladwig
Prof. Msc. Rogério Santos da Costa
Comissão Técnico-Científica
. Prof. Msc. Alvaro Jose Souto - Administração
. Profª. Msc. Kristiane Rico Sanchez - Administração
. Prof. Msc. Márcio Roberto Voigt – Relações Internacionais
. Prof. Dr. Nilzo Ivo Ladwig – Turismo
. Prof. Msc. Rogério Santos da Costa - Relações Internacionais
. Prof. Msc. Victor Henrique Moreira Ferreira – Turismo
1107) Cronica de um assassinato anunciado: Guatemala
The YouTube video that could bring down Guatemala's government
Thu, 05/14/2009 - 7:50pm
Days before his murder, Guatemalan lawyer Rodrigo Rosenberg recorded this video predicting that he would soon be killed and that the Guatemala's President Alvaro Colom would be responsible:
Rosenberg was shot and killed while riding his bicycle on Sunday. He had been representing a financial expert named Khalil Musa who was himself murdered along with his daughter after accusing a state-owned bank of corruption. Rosenberg had publicly accused the government of conspiring the kill Musa. The video quickly went viral after Rosenberg's death, sparking anti-government demonstrations with thousands of angy protesters demanding Colom's resignation and calling for an international investigation.
Agora o artigo de Moises Naim, editor da Foreign Policy, no jornal El Pais:
¿Cómo se pelea contra un muerto en YouTube?
MOISÉS NAÍM 17/05/2009
Esto es lo que se debe estar preguntando Álvaro Colom, el presidente de Guatemala. Como se sabe, un abogado ha acusado al mandatario, a su secretario privado y a la primera dama de asesinato. El abogado acusador y el muerto son la misma persona: "Mi nombre es Rodrigo Rosenberg Marzano, y lamentablemente, si usted está en este momento oyendo o viendo este mensaje, es porque fui asesinado por el señor presidente Álvaro Colom...", dice con espeluznante calma el prestigioso abogado guatemalteco en un vídeo que ya ha sido visto por millones de personas en todo el mundo gracias a Internet.
Centroamérica no está inexorablemente destinada a convertirse en un infierno de corrupción, crimen y muerte
Rosenberg grabó este vídeo cuatro días antes de su muerte, al convencerse de que un atentado contra su vida era inevitable. En el vídeo también explican los motivos de sus asesinos: era el abogado de un empresario que, al negarse a ser cómplice de negocios sucios en un banco controlado por el Estado, fue asesinado. Y su hija también.
En el vídeo de 18 minutos Rosenberg denuncia que, a través del banco, se financian proyectos inexistentes de la esposa del presidente, se lava dinero de narcotraficantes y se financian negocios turbios del entorno presidencial.
"Yo no soy narcotraficante, no soy asesino, ni todo lo que esa porquería dice", respondió el presidente Colom refiriéndose al vídeo. También enfatizó que tiene la conciencia limpia y que no va a renunciar: "Sólo muerto me sacarán del palacio". Según Colom, todo esto forma parte de una conspiración para desestabilizar a su Gobierno. "Las acusaciones en mi contra son parte de un plan", dijo el mandatario. La primera dama, Sandra Torres, está de acuerdo: "Hay muchos tentáculos detrás del caso Rosenberg".
En su vídeo, el abogado Rodrigo Rosenberg había anticipado que el presidente de Guatemala y sus allegados lo acusarían de formar parte de una conspiración: "Hay algo que siempre oímos, que hay un compló en contra del Gobierno, que es una hipótesis... Esto no es una hipótesis, no tiene nada de hipótesis, esto es una realidad". Y así es. La realidad que tiene que explicar el presidente Colom es por qué Rodrigo Rosenberg está muerto.
Naturalmente, el presidente de Guatemala ha prometido una investigación a fondo sobre este caso. Es interesante notar, sin embargo, que nadie parece creer que el Gobierno o el poder judicial guatemalteco estén capacitados para llevar a cabo una investigación independiente y creíble. Quizás por esto, el presidente Colom solicitó la ayuda del FBI, la Organización de Estados Americanos, la ONU y de otros organismos internacionales para resolver el crimen. De nuevo, Rosenberg adelantó algo de esto en su vídeo: "Hemos caído en una Guatemala que ya no es nuestra; una Guatemala que es de los narcos, de los asesinos y de los ladrones".
En efecto, en las conferencias internacionales ya se ha convertido en algo común oír que Guatemala es un narco-Estado en el cual redes de narcotraficantes y criminales de todo tipo se han infiltrado y ejercen un enorme control sobre importantes instituciones públicas y privadas.
Y el problema trasciende a Guatemala, aunque es en ese país donde se evidencia con más gravedad. En toda Centroamérica, políticos y policías, militares y periodistas, banqueros y congresistas forman parte de los instrumentos que estas redes criminales utilizan para operar a sus anchas.
De hecho, una nueva e importante amenaza para esta región de economías débiles e instituciones más débiles aún es el progreso que México, ahora muy apoyado por Estados Unidos, tendrá en su lucha contra los carteles de la droga.
A medida que las cosas se le pongan más difíciles a las organizaciones de narcotraficantes que tienen sus bases de operaciones en México, los incentivos para trasladarlas a países como Guatemala, Costa Rica, Panamá, El Salvador, Honduras o Nicaragua serán cada vez mayores. Pero Centroamérica no está inexorablemente destinada a convertirse en un infierno de corrupción, crimen y muerte. Hay sociedades que logran producir anticuerpos que repelen estas tendencias. Algunos de estos anticuerpos ahora vienen armados con cámaras de vídeo.
mnaim@elpais.es
domingo, 17 de maio de 2009
1106) Petrobras: um depoimento de um ex-empregado
O DRAMA DA PETROBRÁS
Waldo Luís Viana*
Pouca gente sabe, mas já fui empregado da Petrobrás. Não terceirizado, mas por concurso. E pedi demissão, dez meses depois, sendo entrevistado por quatro psicólogas que, naturalmente, me olhavam atônitas. Saí, porque queria completar o curso de Economia na Gama Filho, chegava em casa à meia-noite, atravessando toda a cidade, do bairro de Piedade ao Leme, jantava, dormia de madrugada e acordava às seis e trinta da manhã para estar às oito no Edifício-sede.
Em minha época, 1976, não havia auxílio-refeição, vale-transporte, nem nada. Era só o salário-seco, mais auxílio-periculosidade (para subir e descer de elevador) e cartão de ponto. Ah, como detesto cartão de ponto, mas agradeço a Deus, porque foi o pavor dele que me fez poeta: “sou um homem que vive nos interlúdios concedidos pelo relógio de ponto...” – dizia, nos versos trôpegos da mocidade...
Queria ser escritor – imagina?, no Brasil de Paulo Coelho e José Sarney – e as psicólogas me perguntavam, sofridas, o motivo de eu querer ir embora. Sem muita paciência – já tinha pavio curto naquela época – redargui: “quero ver o sol nascer...”. Elas não entenderam nada, tadinhas, mas eu chegava em casa tarde, saía cedo e não via o sol subir no horizonte. Coisa de poeta.
Fui colocado no serviço de pessoal e era tão bom datilógrafo que me puseram para compulsar documentos sigilosos sobre a empresa. Impressionou-me a quantidade de internações psiquiátricas entre os petroleiros, mas isso não podia comentar com ninguém. Internavam-me em sala sem janela e fui dos únicos datilógrafos a utilizar máquinas elétricas com pedais, já extintas, para confeccionar tabelas de relatórios “top-secret” para a diretoria. Minha curiosidade era imensa e, como era muito rápido, lia tudo e anotava os detalhes escabrosos num bloquinho. Tudo isso eu já destruí, mas de memória, na época, o maior número de internamentos eram os do serviço de contabilidade. Fora a incidência de alcoolismo que era muito grande. Segredo maior do que o da Igreja Católica em relação aos padres...
Há trinta e dois anos, com Shigeaki Ueki na presidência, vivíamos as consequências do choque do petróleo, que fizeram o japonezinho desligar a sua piscina de água quente para poupar energia. Como fazia parte da “peãozada”, fingia-me de morto e não tocava em política, assunto proibido. A Petrobrás já era, então, orgulho nacional e não havia pai de família que não estufasse o peito de orgulho, quando afirmava que o filho trabalhava na empresa.
Quando pedi demissão descontentei meus pais. Resolvera seguir o destino pedregoso e íngreme da não burocracia. Para mim, era insuportável ver aqueles técnicos de administração, de gravatinha, batendo em meu ombro e dizendo a frase-modelo: “meu filho, quando eu me aposentar...”
A empresa articulava uma tecnologia mental no empregado, como se não funcionasse sozinha, dada a sua grandiosidade. Muitos trabalhavam com febre, com medo de ir ao serviço médico e serem mal vistos pelos chefetes de seção.
Naquela época, a empresa gastava 11% de seu orçamento com despesas de pessoal e, atualmente, reduziu esse “gasto” entregando algumas atividades-meio a terceirizados, aliás muito mal vistos pelos concursados, que detêm crachá autêntico. Não sei como está hoje, mas o cartão de ponto é exigido até para profissionais de curso superior, os horários são rígidos e a mega-empresa continua um quartel. De fazer inveja aos atuais militares que nem rancho têm para oferecer aos recrutas.
Os privilégios dos petroleiros existem, mas as benesses e salários-extras continuam em poder de uma elite muito bem estabelecida, estruturada e corporativa. São ciosos de seus privilégios e têm cabeça de funcionários públicos, ou seja, sabem que se mantiverem a cabecinha conservadora, não contestatória, se lamberem muito bem as botas dos chefes, permanecerão até a aposentadoria, quando como verdadeiros trapos humanos vão requerê-las, com complemento financeiro da fundação PETROS.
Essa empresa hoje é imensa, tentacular, um estado dentro do estado, e a União, apesar de todos os esforços do governo tucano para privatizá-la, no que foi impedido pelo Alto Comando do Exército, ainda detém 51% do capital das ações com direito a voto. Com a troca de governo, tornou-se a joia da coroa do PT e é administrada diretamente pelo Palácio do Planalto e pela Casa Civil, passando por cima, na prática, da natural hierarquia do Ministério das Minas e Energia.
Quem manda na Petrobrás é Lula e Lula desmanda na Petrobrás. Era para ser o paraíso petista, mas nunca o foi. Os petistas invadiram a empresa, de alto a baixo, como a KGB fazia na União Soviética com o controle dos bairros em Moscou. Nenhum cargo de confiança ficou incólume. O comissariado manda e desmanda mesmo. Todo mundo baixa a cabeça, naquela técnica de sabujice de quem quer sobreviver, esperando novos tempos. Precisaríamos de um Machado de Assis ou de um Lima Barreto para descrever o que acontece na mente dos chefes de seção e dos engenheiros de staff. Principalmente aqueles que assistem à farra das concessões orçamentárias a diversas ONGs desconhecidas...
Os controles e auditorias internos são draconianos, principalmente no varejo. Os gastos no atacado, em dólares e euros, sob responsabilidade das diretorias e do Conselho de Administração fogem à imaginação dos mortais da planície ou a qualquer vasculhador que não seja do meio. Para quem não conhece economia de petróleo, as tacadas são indetetáveis!
Como uma empresa de petróleo, mesmo mal administrada, é um supernegócio, bastaria uma vista d’olhos nas firmas fornecedoras da Petrobrás, muitas delas criadas por ex-funcionários, e os escritórios de advocacia, para os contenciosos surgidos com os que negociam diretamente com ela, para assuntar diversas surpresas. Isso seria matéria para os serviços de inteligência da Polícia Federal, da ABIN, do CADE e de outras agências, além da curiosidade atenta do que os petistas chamam de mídia golpista. Isso sem falar no Ministério Público, que tem tantos procuradores jovens e loucos para defender os altos interesses da sociedade. Aqui vai a todos eles um terno pedido do poeta: por favor, deem um passo à frente...
Agora vemos essa CPI montada no Senado, com cara e enredo de chantagem. Com a grana e os interesses em torno da empresa, é muito fácil que a Comissão não dê em nada, embora se o esterco for remexido, não venha a sobrar pedra sobre pedra. A Petrobrás é um dos sustentáculos da Pátria, assim como Jerusalém era a capital dos judeus e do cristianismo. Mesmo assim, a cidade um dia foi destruída e mudou a história do mundo.
Não admira que o drama da Petrobrás, orgulho nacional seja tão grande. Tão grande quanto uma plataforma! Aliás, tudo é gigantesco naquela empresa que tantos serviços têm prestado a ela mesma e a sua burocracia. Inclusive batendo às portas da corrupção. O povo brasileiro, seu pretenso proprietário, espera por explicações...
É claro que em 180 dias os senadores não irão apurar coisa alguma. Eles só querem desviar o foco dos escândalos sobre o Congresso e culpam o governo Lula por não os haver defendido, tal como o fez nos tempos dos hierarcas do mensalão.
Mesquinharia se paga com mesquinharia. Assim, nada como mexer com a joia da coroa e fazer a opinião pública esquecer logo das mordomias do Senado e outras futilidades, não defendidas a contento pelo governo atual. E com seis meses decorridos vem o Natal, o Ano Novo, o Carnaval e mais um ano de eleições. E Suas Excelências estarão salvas para disputar novo pleito, quem sabe com financiamento dos próprios lobistas e empresários que sobrevivem dos nababescos negócios ligados ao petróleo brasileiro.
Vamos assistir de camarote a mais uma pantomima teatral. Não é comédia. É o drama da Petrobrás, a grande empresa, orgulho nacional, de qual um dia, num acesso de capa e espada, me demiti...
_____
*Waldo Luís Viana é escritor, poeta, economista e ex-empregado concursado da PETROBRAS. Aliás, de primeiro emprego a gente nunca esquece...
Teresópolis, 16 de maio de 2009.
1105) Controversias historiograficas sobre 1964
Recentemente, redigi um artigo, na série falácias acadêmicas, que tenta discutir alguns dos mitos em torno do movimento de 1964, enquadrado na categoria das falácias porque justamente é objeto dos julgamentos mais maniqueistas por parte da academia.
Os interessados em conhecer esse ensaio podem lê-lo por inteiro no link que segue imediatamente após, ou então em segmentos, como registrado mais abaixo.
Falácias acadêmicas, 7: os mitos em torno do movimento militar de 1964
Espaço Acadêmico, ano 9, n. 95, abril 2009
Para o mesmo texto em pdf, clicar neste link.
Com algumas poucas mudanças, o ensaio foi reproduzido em quatro partes no boletim Via Política: Os mitos em torno do movimento militar de 1964
(1): Uma historiografia enviesada (12.04.2009);
(2) Mitos do Governo Goulart (19.04.2009)
(3) Análise das alegadas ‘reformas de base’ (26.04.2009)
(4) Balanço econômico do Governo Goulart (03.05.2009).
1104) A defensoria publica na diplomacia
"O senhor acha que um defensor público de carreira, conhecedor das falácias sociais governamentais, daria um bom Diplomata? Sempre sonhei em ingressar na Diplomacia, e gostaria muito de saber sua opinião a respeito se minha profissão hoje poderia criar alguma dificuldade de adaptação ao corpo diplomático. Desde já, muito obrigado! Abraço, L G"
Minha resposta:
"L,
Eu apenas lhe repetiria o titulo de um romance italiano, que virou tambem um filme: Va dove ti porta il cuore. Você deve fazer aquilo que o seu coração mandar, com um pouco de racionalidade.
Você não precisa ser um bom, ótimo ou mediano diplomata, você apenas precisa ser um bom cidadão, comprometido com a causa pública, no sentido mais lato desse termo, e engajado a serviço, não da diplomacia estrito senso, mas do Brasil, no seu sentido mais largo.
Não considero que os problemas do Brasil possam ou devam ser resolvidos por meio da diplomacia, longe disso. Todos os nossos problemas, sem exceção, são "made in Brazil" e requerem soluções internas, domésticas, nenhum deles resultando de questões externas. A diplomacia no máximo pode trazer oportunidades de acesso a mercados, investimentos, know how, mas o essencial precisa ser feito aqui mesmo.
Em todo caso, vale tentar...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
pralmeida@mac.com www.pralmeida.org
http://diplomatizzando.blogspot.com/
sábado, 16 de maio de 2009
1103) A construcao do Apartheid no Brasil: continuam tentando...
Como sabem todos aqueles que acompanham as estatísticas oficiais, as últimas pesquisas da PNAD (realizadas pelo IBGE) revelam que nada menos do que 48% -- repito, por extenso: quarenta e oito por cento -- da população se considera "afro-descendente", obviamente com base em auto-declaração devidamente estimulada pela perspectiva oportunista de empregos, cotas universitárias e outras prebendas que seriam fornecidas pelas políticas de cunho racialista em implantação por autoridades dementes e gupos de militantes negros de evidente má-fé.
Mais um pouco, já no próximo Censo, uma maioria de brasileiros vai se autodefinir como negros, pardos, mestiços, afrodescendentes ou variações dessas categorias racialistas cujoúnico objetivo é aquilo mesmo que se pretende promover: sua "redenção", de preferência via empregos públicos, ajudas diversas, ingresso fácil em universidades públicas e coisas desse gênero.
Sendo assim, serão os brancos, reduzidos a minoria, que poderão começar a reivindicar leis de proteção e apoio pelo seu estatuto de "minoria". Absolutamente ridículo, se não fosse patético...
ATENTADO RACIALISTA
EDITORIAL
O GLOBO, 16/5/2009
Tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei de importância transcendental, capaz de levar o Brasil a viver a experiência do racismo como jamais se pensou que aconteceria num país cuja imagem se confunde com a miscigenação e o convívio, sem tensões raciais, entre milhões de pessoas de quase todas as origens possíveis — Américas, Europa, África e Ásia.
Pode ser que o fato de o Congresso estar mergulhado em grave crise de imagem sirva de cortina de fumaça para o que se passa na comissão especial criada na Câmara para discutir a proposta do Estatuto da Igualdade Racial, de iniciativa do senador Paulo Paim (PT-RS), e já aprovada no Senado.
Nesta Casa, discutem-se as cotas raciais para o preenchimento de vagas nas universidades públicas.
Mas é o estatuto que revela a dimensão e a profundidade do projeto político e de poder racialista, cujo objetivo é dividir a sociedade entre “brancos”, de um lado, e “negros” e “pardos”, de outro.
Aprovado o projeto, o Brasil naufragará num apartheid de estilo sul-africano. Aqui, porém, destinado a superar “desigualdades raciais” e a dar a “reparação” a supostas vítimas da igualdade.
As cotas no ensino são apenas uma pequena parte de uma grande construção política racialista.
Revogam-se afinidades sociais, sem relação com origem social e renda, e coloca-se em seu lugar o critério da cor da pele, num atentado contra o patrimônio cultural e social da nação.
O estatuto chega a determinar que filmes e programas de televisão tenham no mínimo 20% de atores e figurantes negros — como nas cotas nas universidades, não há qualquer preocupação com mérito e capacidade profissionais.
A mesma regra é estabelecida para peças de publicidade contratadas por estatais e órgãos públicos. A publicidade privada destinada à TV e a cinemas terá de obedecer à mesma cota.
O projeto avança também no mercado de trabalho. Na contratação de servidores, negros terão tratamento especial, com o “incentivo à adoção de medidas similares em organizações privadas”.
Assim, as tensões raciais serão disseminadas também nos ambientes de trabalho, no setor público e nas empresas privadas.
Haverá, ainda, Ouvidorias Permanentes em Defesa da Igualdade Racial, um passo para o ministério público e polícias raciais.
O país se encontra à beira de um pesadelo orwelliano. Coerente com todo este projeto — bem lembrou o sociólogo Demétrio Magnoli, em artigo no GLOBO —, faltará uma lei como a da Proteção do Sangue Germânico, da Alemanha de 1935. Aquela criminalizava o casamento e o sexo entre arianos e judeus; esta proibirá o mesmo entre “brancos” e “negros/ pardos” brasileiros. É o que faltará para o serviço dos racialistas ser completado.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
1102) A crise e a morte (anunciadas, exageradamente) do capitalismo
(provavelmente exageradas, como diria Mark Twain)
Paulo Roberto de Almeida
Sou regularmente contatado, através de meu site, por jornalistas e estudantes de diversas partes do Brasil, que, em função dos materiais que encontram no meu site ou nos blogs que mantenho para diversas finalidades, me procuram para resolver dúvidas informativas, ou mais exatamente didáticas (correspondendo, supostamente, a buscas na internet em torno de algum tema de seu interesse momentâneo). Muitas das questões, nestes tempos incertos, referem-se, obviamente, às origens da crise, seus desenvolvimentos e seu impacto sobre o Brasil. Algumas das questões são mais prosaicas, motivadas provavelmente pela previsível satisfação interior de algum professor alegadamente anti-capitalista, com as turbulências e possível decadência do sistema globalizado.
Assim, recentemente, respondi a perguntas de um estudante de jornalismo sobre a crise e a morte do capitalismo. Com efeito, esse tipo de pergunta não deve sair da cabeça dos próprios alunos, mas deve ter sido lá colocada por algum desses professores desejosos de enterrar o capitalismo, o que apenas reflete uma incompreensão magistral sobre como funciona o mundo real.
Em todo caso aqui vão as perguntas e as minhas respostas:
1) Há a possibilidade de a atual crise econômica ser o início do colapso do sistema capitalista?
PRA: Não existe a menor possibilidade. Quem afirma uma coisa dessas não tem a menor idéia de como funciona uma economia de mercado ou de como funciona o sistema capitalista, que representa uma das muitas formas da economia de mercado. A atual crise econômica, que se desenvolveu a partir de uma bolha financeira, não é a primeira, nem será a última a afetar o sistema capitalista, por vezes de forma mais severa do que outras, como foi o caso 80 anos atrás, na crise das bolsas de 1929, na crise bancária de 1931 e na depressão que se seguiu durante a maior parte dos anos 1930. Para haver colapso do sistema capitalista teria de estar ocorrendo uma crise estrutural da economia de mercado, o que está longe de ser o caso.
2) Quais os fatores que apontam para que isso ocorra?
PRA: Isso não está ocorrendo, justamente, nem vai ocorrer. O que está havendo é mais uma crise recorrente, previsível, e até “normal” para as condições em que operam as economias de mercado e o próprio capitalismo. Toda economia de mercado é inerentemente instável, pelo próprio dinamismo econômico, que produz descompassos entre setores, assimetrias de informação, desequilíbrios entre oferta e demanda, busca incessante de retornos mais elevados, mesmo à custa de maior exposição ao risco, diferenças de mecanismos regulatórios entre as economias nacionais – na ausência de mecanismos supranacionais, ou internacionais, que possam monitorar todos os tipos de ativos transacionados – ainda mais num sistema capitalista que funciona, em larga medida, com base nas iniciativas individuais dos detentores de ativos e nos tomadores de créditos. Em algum momento, o desejo de ganhos extraordinários vai superar a propensão à cautela pelos agentes de mercado, e quando, por algum motivo sempre imprevisto, alguém desconfia que aqueles ganhos não vão se realizar, começa uma retirada maciça das aplicações naquele mercado. Como todo o sistema funciona com base na confiança, e como os agentes costumam ter o comportamento de manada, é óbvio que haverá um descompasso entre os ativos efetivamente existentes no mercado e aqueles valores transacionados no mercado de futuros com base numa valorização hipotética (por definição, sempre acima das possibilidades reais do mercado). Apenas para se ter uma idéia das dimensões envolvidas nesses vários mercados, considere-se que o PIB mundial – isto é, a soma dos valores agregados por todos os países, durante um ano, nos seus respectivos processos produtivos nacionais, situa-se ao redor de 50 trilhões de dólares; a soma dos ativos transacionados efetivamente nos mercados financeiros, sob diversas formas, aproximava-se, antes da crise, da casa dos 200 trilhões de dólares, ou seja, quatro vezes mais o valor da produção anual; já a soma de todos os ativos financeiros virtualmente existentes, ou mesmo realmente, incluindo dívidas dos governos, mercados futuros, valores patrimoniais de casas, ações, etc, alcançava a cifra de 500 ou trilhões de dólares, ou seja, mais de dez vezes o valor do PIB mundial. Esses 400 trilhões de dólares acima das transações de mercado representam uma valorização hipotética, ou virtual, que poderia, ou não, ser realizada, se todas as transações fossem realizadas em algum momento em todos os mercados existentes no mundo, mas isso compreende muita riqueza artificial, ou seja, valorização indevida ou exagerada de ativos, como ocorre em toda bolha financeira (por exemplo, uma casa de 100 mil dólares, estar sendo estimada no mercado a 150 mil, e com base nesse valor, servir de lastro, ou aval, a uma outra operação de empréstimo de mais 50 ou 60 mil dólares, inflando artificialmente a carteira de ativos de um banco, sem que o detentor original do bem consiga realizar aquela venda hipotética). Em algum momento a bolha estoura e todos perdem, mas no momento do jogo, todos estão supostamente ganhando. Esse é o capitalismo, nem bom, nem mau, apenas permitindo a realização de muitos negócios com base na confiança, ou na expectativa, de que tudo corra bem.
3) O capitalismo se fortalece com a atual crise?
PRA: Certamente, posto que algumas regras serão criadas, para diminuir a possibilidade de repetição desse tipo de crise, o que evitará, de alguma maneira, o exagero da especulação nesse tipo de modalidade. Mas, como o capitalismo é muito criativo, outros instrumentos financeiros e outros mecanismos de transações serão criados, de maneira que a próxima crise ocorrerá, certamente, mas de maneira diferente da atual. Os que falam de enfraquecimento do capitalismo ou de sua crise estrutural não têm idéia de como funciona o sistema, justamente permitindo enorme expansão dos negócios, muita especulação – durante a qual muitos ficam ricos, pois alguns sempre arriscarão seu dinheiro com novos negócios – e uma circulação de riqueza de maneira muito dinâmica. As tentativas de controlar o sistema são não apenas inócuas, como contra-produtivas, pois diminuiriam o seu dinamismo natural.
4) Quais são as soluções para o atual panorama econômico?
PRA: As de sempre: regulação das transações com ativos, para evitar uma exposição ou alavancagem muita exagerada dos intermediários financeiros; maior transparência nas informações relativos a títulos transacionados; exigência de garantias quanto a depósitos, mas que não podem ser exageradas, pois isso diminuiria o poder da especulação, que é sempre positivo, pois ela permite negócios que normalmente não seriam feitos, na ausência de motivação para ganhos extraordinários.
Os que pedem um capitalismo sem riscos, sem especulação, sem crises, não sabem do que estão falando, pois todo e qualquer sistema de mercado está exposto aos riscos das assimetrias de informação nesses mercados. O sistema sem risco é aquele sem dinamismo, como eram os antigos sistemas socialistas. Eram tão “estáveis” que estagnaram e desapareceram, e suponho que ninguém – salvo alguns utópicos irrecuperáveis – esteja pedindo a volta do socialismo, de resto impossível, pouco prático e irrealizável.
Haverá, também, um pouco mais de sistemas de ajuda emergencial, com maiores volumes de recursos sendo disponibilizados para empréstimos a países em situações de desequilíbrio grave, como aliás já existe atualmente, mas com um volume financeiro não compatível com as eventuais necessidades de mercado.
5) Quem a crise econômica atinge diretamente no Brasil? Por quê?
PRA: Primeiro pelo canal do crédito, sobretudo comercial, pois sabemos que o comércio internacional se faz, em grande medida, com base em letras de câmbio e outros modos de financiamento de curto prazo. Depois pela própria ausência de recursos para investimentos ou empréstimos de maior prazo. Também pelo aumento dos juros internacionais, o que é um resultado da diminuição dos volumes globais de recursos transacionados no sistema financeiro. Isso acaba afetando a produção, gerando, em conseqüência, desemprego setorial, ausência de investimentos e eventualmente até inadimplência, de empresas ou até dos países, que não dispõem de recursos próprios. Como o Brasil não emite uma moeda de aceitação internacional, como o dólar, ele depende de divisas estrangeiras para se relacionar comercial e financeiramente com o mundo: na ausência desses dólares, ele tem de usar reservas próprias, o que ainda é o caso, mas isso um dia pode acabar.
6) O dólar continuará sendo moeda padrão, do comércio?
PRA: Sim, ainda que outras moedas possam ser usadas adicionalmente, complementarmente ou até em substituição ao dólar. Supondo-se que o dólar se desvalorize, o que não ocorreu até agora – mas pode vir a ocorrer – pessoas, empresas e países buscarão outras moedas, que preservem o seu poder de compra e o seu valor internacional – isto é, que não se desvalorizem – e que possam vir a fazer parte de suas poupanças, investimentos, transações. Pode ser o euro, pode ser o iene, o yuan chinês, o rublo russo, ou até o real brasileiro, dependendo das circunstâncias. Tudo é uma questão de confiança: se as pessoas acreditam naquela moeda, e sobretudo, naquela economia, elas continuarão a aceitar essa moeda e a investir naquela economia, do contrário ela será rejeitada por todos. Tudo depende do dinamismo e do vigor econômico de um país. Como a Europa cresce pouco, é uma economia pouco flexível, como o Japão é um país relativamente fechado, como a China ainda não inspira confiança no mundo, por se tratar de um regime ditatorial, sem muita transparência, e como o Brasil ainda é uma economia pequena, de baixo dinamismo e sem uma moeda conversível, é provável que o dólar continue exercendo seu papel de moeda de troca e de reserva internacional ainda durante algum tempo. Paulatinamente, outras moedas poderão se fortalecer e outras podem desaparecer...
7) Muitas empresas e grupos econômicos apontam a sustentabilidade como uma medida de sobrevivência para o futuro, No entanto, o que se avançou em termos práticos e como as empresas tem investido nessa questão?
PRA: Sustentabilidade é um conceito vago, que apenas quer dizer que devemos usar os recursos do planeta de maneira a não esgotá-los ou extingui-los. Mas não há muita clareza do que isso signifique no plano setorial: quanto petróleo, quanta energia renovável, quantas terras agrícolas, quanta produção biotecnológica, etc. A tecnologia e os mercados terão respostas para os desafios do futuro, mas nem sempre existe uma consciência clara que é possível, ou preciso fazer, de quais são os meios ou técnicas mais apropriados para o crescimento e a manutenção no bem estar das populações, e sobretudo de quais seriam as prioridades de investimentos em novas tecnologias – que têm custos muito diferenciados entre as várias possibilidades e alternativas – em face do chamado custo-oportunidade, ou seja, como utilizar os recursos (por definição escassos) em função das alternativas e dotações diferenciadas no plano prático. As empresas mais proclamam do que praticam, de fato, a sustentabilidade, porque se tornou politicamente correto, por uma questão de imagem pública e de pressão de grupos ambientalistas, dizer que seus processos produtivos são sustentáveis. Mas tudo isso pode mudar rapidamente, com descobertas nos terrenos dos novos materiais (nanotecnologia), da energia, da biotecnologia. De toda forma, melhor confiar na pesquisa científica e nas comprovações empíricas do que em crenças pouco fundamentadas no conhecimento pouco objetivo do mundo real, como fazem alguns grupos ambientalistas, que praticam terrorismo ecológico dotado de pouca base científica.
Paulo Roberto de Almeida, diplomata e professor.
(Indianapolis, Indiana, EUA, 11.04.2009)
quarta-feira, 13 de maio de 2009
1101) Falacias academicas: uma opiniao dissidente
Justamente, acabo de receber uma mensagem de alguém que está fortemente incomodado com os meus artigos, tanto que me escreveu uns tantos adjetivos para condenar o meu trabalho.
Transcrevo a mensagem, omitindo obviamente o nome e o local do meu correspondente descontente -- apenas indicando que se trata de uma grande universidade federal -- e coloco mais abaixo a mensagem de resposta que acabo de lhe mandar.
[Começo de transcrição]
On 13/05/2009, at 18:29, Xxxxxxxx Xxxxxxxx wrote:
Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.
Nome: Xxxxxxxx Xxxxxxxx
Cidade: Xxxx Xxxxxxxxx
Estado: XX
Email: xxx.ufxx@gmail.com
Assunto: Opiniao
Mensagem: Caro professor lendo somente os títulos de alguns de seus artigos - obviamente que não se faz necessário lê-los na íntegra para entendermos sua ideologia patrocinada - conclui-se facilmente que o mundo produz cada vez mais um maior número possível de idiotas. Seus próprios seguidores se encaixam perfeitamente neste crescente rol. E por falar em "falácias", sua obra inteira pode ser intitulada de "Falácias de um representante de uma ideologia falida", tamanho o festival de baboseiras escritas por quem frequentou por tantos anos o mundo acadêmico.
[Fim de transcrição]
Essa a mensagem, simpática, como se pode constatar. Eis a minha resposta:
Caro Xxxxxxxx,
Uma das caracteristicas do mundo academico é o debate aberto, sustentado em argumentos empíricos ou de lógica formal. Acredito que adjetivos não se encaixem nessa categoria.
Como você parece ter opiniões muito sólidas em torno de determinadas questões, faço a sugestão que você escreva um ou vários artigos rebatendo, refutando todos os meus artigos, e indicando por que, exatamente, esses meus artigos seriam falácias.
Eu me comprometo a levá-lo a exame do Conselho Editorial para tê-lo publicado na REA.
Dessa forma teriamos um verdadeiro debate aberto, como convém ao meio acadêmico...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
www.pralmeida.org
PS: Aguardo resposta, ainda...
1100) Turismo academico: a serie completa da viagem aos EUA
Brasília, 2004: 13 maio 2009, 38 p.
Compilação e reestruturação dos posts publicados no blog Diplomatizzando sob a rubrica turismo acadêmico, relatando as etapas sucessivas de meu périplo de estudos e de viagens pelos EUA, em abril de 2009. Postado de maneira completa, com nova introdução, no blog Textos PRA, em 13.05.2009, neste link.
1099) Brazil in the Global Economy: um estudo sobre ganhos de comercio
(um estudo sobre os ganhos a serem obtidos pelo Brasil, com base num modelo econométrico, com a conclusão de uma rodada de negociações comerciais multilaterais)
The purpose of this study is to contribute to the knowledge base upon which the Brazilian government, as well as the international community, evaluates the policy choices the country faces in the realm of trade. The paper simulates a range of possible trade agreements as well as other changes in the global economy that could affect Brazil, exploring the effects of these changes on the Brazilian economy.
The paper finds that all explored trade agreements will have positive, but very modest, effects on the Brazilian economy and on Brazilian households as a whole. Furthermore, a Doha agreement would increases employment of unskilled labour by more than an agreement among the large developing countries alone. Yet, the paper figures that a Doha agreement would be more favourable for skilled labour.
At the same time, the paper indicates that under all the trade scenarios, small overall gains in real income mask somewhat larger changes for different sectors, producing both winners and losers. In this context, a Doha agreement would generally favour agricultural sectors but deal losses to some manufacturing sectors. The impact of different South–South free trade agreements varies considerably within the agricultural sector, reflecting the elimination of existing high tariffs imposed by one or more partners. The paper points that Brazilian manufacturing sectors tend to lose under any of these agreements, with the exception of the automotive sector.
The paper concludes that increased global economic engagement may still be seen as beneficial for the Brazilian economy. Nevertheless, it is important in policy debates that the nature and costs of structural adjustment be taken into account and that the pattern of trade achieved serves the country’s long-term development goals.
http://www.carnegieendowment.org/files/brazil_global_economy.pdf
1098) Itamaraty no YouTube
12/05/2009
O Ministério das Relações Exteriores terá um canal de vídeos no site Youtube com o objetivo de ampliar os meios de informação para todos que se interessam pela política externa do Brasil.
De acordo com comunicado divulgado nesta terça-feira (12), no endereço é possível encontrar vídeos de entrevistas coletivas concedidas pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, acompanhado ou não de autoridades estrangeiras.
Segundo informa agência de notícias Efe, o Ministério declarou que o "objetivo é permitir que jornalistas, acadêmicos e todo o público interessado em assuntos de política externa brasileira tenham acesso a gravações em vídeo de coletivas de imprensa, entrevistas, briefings e visitas de autoridades ao Palácio do Itamaraty".
Clique aqui para conhecer a página do Ministério no Youtube
1097) Brazil Initiative - University of Wisconsin-Madison
In response to the growing global importance of Brazil in economic and political spheres, the University of Wisconsin-Madison’s Division of International Studies and the Latin American, Caribbean & Iberian Studies (LACIS) Program have begun an interdisciplinary initiative aimed at producing collaborative research, teaching and outreach projects focused on Brazil.
The overarching goal of this Brazil Initiative is to bring faculty and alumni together with private foundations, businesses and state agencies to help Wisconsin better understand and engage with Brazil as an emerging global economy. The Brazil Initiative
will also work to expand UW-Madison’s Study Abroad Programs in Brazil. This initiative builds on Wisconsin’s long-standing involvement with Brazil. Portuguese language instruction at UW-Madison goes back almost 70 years and the Summer Intensive Portuguese Institute, supported by the U.S. Department of Education’s Title VI program, has been in operation since 1985.
Professor Severino Albuquerque, from the Department of Spanish and Portuguese, is the appointed faculty lead and director of the Brazil Initiative for 2009-2011. Professor Albuquerque will convene a faculty steering committee to oversee the activities of the Brazil Initiative.
ACTIVITIES OF THE BRAZIL INITIATIVE
• A series of workshops for Wisconsin businesses with interest in trade and exchange with Brazil. Sponsors: UW-Madison School of Business/CIBER and Wisconsin Department of Commerce. Partially supported by the Baldwin Wisconsin Idea Fund. (Launch - summer
2009).
• A Tinker Visiting Professorship. Professor Glauco Arbix, from the University of Sao Paulo will teach and conduct research on Brazil’s socio-economic and political issues at the UW-Madison School of Business (Fall semester 2010).
• Major conference on US-Brazil relations beginning with follow up to the Nabuco and Madison conference, under the direction of Emeritus Professor of Law David Trubek. (Fall 2010).
• A Writer in Residence Program at UW-Madison, in collaboration with the Consulate of Brazil in Chicago (beginning with Fall 2009).
• Appointment of Honorary Fellows to conduct independent research on Brazil – U.S. economic and political relations. First fellow: Professor Wilson Almeida, Professor of International Relations at the Universidade Catolica de Brasilia (2008-2009).
• A series of visiting invited speakers in diverse fields with expertise on Brazil (2009-11)
• A series of visiting officials of governments, industry, business and commerce, beginning with Diana Page, immediate past U.S. consul in Recife, Brazil (April 2009).
• Expand exchange programs such as the existing agreement between the UW Law School and the Pontifical Catholic University in Rio de Janeiro.
• Foster interdisciplinary research and academic activities in areas of shared interest for Brazil and the United States.
• Expand study abroad, field work and internship opportunities for undergraduate and graduate students interested in Brazilian studies.
• Convene Brazilian UW alumni and other Brazilianists in conjunction with the Latin American Studies Association (LASA) conference in Rio de Janeiro to initiate new collaborative efforts (June 2009).
The UW-Madison Division of International Studies is the campus unit that coordinates international activity at the University of Wisconsin-Madison. The mission of International Studies is to promote international education and cooperation both on and
off-campus.
Latin American, Caribbean and Iberian Studies (LACIS) at the University of Wisconsin-Madison is a U.S. Department of Education Title VI National Resource Center, established in 1973. LACIS coordinates and supports teaching, research
& outreach on campus; offers over 250 courses, an undergraduate major, a Master’s Degree, a Ph.D. concentration; offers research support & conferences for faculty & students; and visiting faculty & scholars programs.
terça-feira, 12 de maio de 2009
1096) A Ordem Mundial e as Relações Internacionais do Brasil: curso de ferias na ESPM-SP, em julho
Curso de atualização, de ferias, por Paulo Roberto de Almeida
Breve descrição: Uma atualização crítica sobre aspectos políticos, econômicos e tecnológicos da ordem internacional contemporânea. Serão enfocados os principais problemas da agenda diplomática mundial e a forma como o Brasil interage em cada uma dessas vertentes, no contexto da globalização e da internacionalização de seu sistema econômico.
Data: de 13 a 17/07/2009, 40 vagas
Duração: 15 h, noturno; Horário: das 19h às 22h30
Custo: R$ 700,00 (preço 2: R$ 770,00)
Local: ESPM-SP - Rua Dr. Álvaro Alvim, 123 - Vila Mariana - 04018-010 - São Paulo, SP; (Mapa de localização)
Mais informações pelo telefone (11) 5085-4600 ou pelo e-mail ci@espm.br
Outras informações sobre o curso e inscrições: neste link
Conteúdo do curso: O atual contexto geopolítico mundial e a estrutura econômica internacional contemporânea constituem as duas grandes vertentes deste curso, que tem por meta atualizar os participantes a respeito da agenda internacional e do posicionamento do Brasil neste cenário. Uma atualização crítica: a idéia é pensar o mundo de forma macro. O programa é dividido em cinco partes, uma para cada dia de aula: “A ordem política mundial do início do século 21 e a posição do Brasil”, “A ordem política mundial do início do século XXI e o Brasil”, “A ordem econômica mundial e a inserção internacional do Brasil”, “Economias emergentes no contexto mundial: desafios e perspectivas”, “O Brasil no contexto dos Brics: anatomia de um novo grupo” e “O regionalismo sul-americano e o papel político-econômico do Brasil”.
Metodologia: As aulas são apoiadas em uma apostila e uma ampla bibliografia, na exposição de conceitos e na discussão em sala, em interação com os alunos sobre as questões selecionadas e outras sugeridas durante o curso.
Professor: Paulo Roberto de Almeida, diplomata de carreira, doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas, mestre em Planejamento em Econômico, professor de Economia Política Internacional no mestrado em Direito do Uniceub (Centro Universitário de Brasília), orientador do mestrado em Diplomacia do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores. Site: www.pralmeida.org
Objetivos: Informar, analisar e debater, com os participantes do curso, os aspectos políticos, econômicos e tecnológicos da ordem internacional contemporânea. Serão enfocados os principais problemas da agenda diplomática mundial e a forma como o Brasil interage em cada uma de suas vertentes, no contexto da globalização e da internacionalização de seu sistema econômico.
A quem se destina: A estudantes de humanidades em geral, de cursos de Relações Internacionais, em particular, mas também a todos os que estudam temas de alguma forma afetos aos negócios globais, em nível de graduação ou especialização em administração (com foco em global business). Deve interessar, igualmente, a homens de negócio, assim como a quaisquer outros profissionais interessados em atualizar conhecimentos sobre a agenda internacional (negociações comerciais multilaterais e regionais, crises financeiras, temas globais) e sobre a diplomacia brasileira em particular.
Programa:
1. A ordem política mundial do início do século XXI e o Brasil
1.1. Segurança estratégica e equilíbrios geopolíticos: interesses do Brasil
1.2. Relações entre as grandes potências e conflitos regionais: a América do Sul
1.3. Cooperação política e militar nas zonas de conflitos: o Conselho de Segurança
2. A ordem econômica mundial e a inserção internacional do Brasil
2.1. Regulação cooperativa das relações econômicas internacionais
2.2. Assimetrias de desenvolvimento: crescimento e investimentos estrangeiros
2.3. Cooperação multilateral e Objetivos do Milênio
2.4. Recursos energéticos e padrões de sustentabilidade: o papel do Brasil
3. Economias emergentes no contexto mundial: desafios e perspectivas
3.1. Evolução recente das economias emergentes no contexto mundial
3.2. Acesso a mercados e negociações comerciais multilaterais
3.3. O Brasil no contexto das economias emergentes: desafios e limitações
4. O Brasil no contexto dos Brics: anatomia de um novo grupo
4.1. O que são, como evoluíram e o que pretendem os Brics
4.2. Impacto dos Brics na economia mundial e desta nos Brics
4.3. O Brasil e as implicações geoeconômicas e geostratégicas do novo grupo
5. O regionalismo sul-americano e o papel político-econômico do Brasil
5.1. Contexto político da América do Sul em perspectiva histórica
5.2 Os processos de integração regional e a evolução da posição do Brasil
5.3. Integração regional: origens e evolução do Mercosul, crise e estagnação
5.4. Desafios do Mercosul no contexto regional e mundial: perspectivas.
Palavras-chave para o mecanismo de consulta do site da ESPM: Relações econômicas internacionais, agenda política mundial, países emergentes, integração regional, América do Sul, política externa do Brasil.
-------------
Paulo Roberto de Almeida
pralmeida@mac.com www.pralmeida.org
http://diplomatizzando.blogspot.com/
domingo, 10 de maio de 2009
1095) Bacalhau de dia das maes (receita pessoal)
Vou apenas reproduzir o que fiz, sendo que os eventuais candidatos podem introduzir variações em suas tentativas respectivas, com outros elementos ou de outra forma.
Bacalhau, obviamente, de boa qualidade (e que não é barato): comprei quase dois quilos de filé de bacalhau numa casa especializada, e deve ter custado acima de 140 reais (sorry, sou distraido completamente em coisas de dinheiro, em várias outras coisas também).
Batatas, cebolas, pimentões (de várias cores, para ficar bonito), ovos, azeitona, temperos e, à parte, arroz e salada, sem esquecer azeite de oliva, um pouco na preparação e muito na hora de servir, individualmente.
Comecei deixando o bacalhau de molho 24 horas antes, trocando várias vezes a água, para retirar o excesso de sal.
Domingo de manhã (dá para fazer tudo sozinho em duas horas, mas comecei mais cedo, para fazer com calma, ler jornal no meio, consultar e-mails, etc), comecei por cozinhar o bacalhau num panelão fundo, sem me preocupar em contar o tempo, digamos por meia hora, pelo menos (deve ter uma maneira mais científica de se cozinhar um bacalhau, mas eu sou contra manuais de instruções). Depois deixei o bacalhau descansando, e esfriando, numa travessa e não me ocupei dele (ele não reclamou).
Cozinhei, separadamente (mas tem gente que recomenda cozinhar na própria água do bacalhau), batatas e pimentões. Enquanto isso chorei ao descascar as cebolas. Não fervi as cebolas na água, como da vez precedente, mas preferi fritá-las, em finas rodelas que foram se dissolvendo, numa grande frigideira (teflon, mas com um pouco de azeite e dois dentes de alho, apenas). Também cozinhei separadamente cinco ovos comuns, e mais sete ovos de codorna (estes para a salada).
Com o bacalhau já frio (mas no meio eu fui fazer outras coisas), separei todas as postas, em gomos e pedaços, retirando o que havia de espinhas, cartilagens e peles ainda remanescentes no que era um filé razoavelmente bom. Deixei os belos gomos para o prato principal e os pedaços irregulares para uma travessa complementar.
Bem, aí começa a montagem, muito simples, na verdade.
Cortei lascas finas, e transversais, de batata, que fui colocando numa grande travessa previamente untada de azeite de oliva. "Forrei" o fundo, se ouso dizer. Coloquei um pouco de cebola nos intersticios. Aí fui colocando os grandes gomos do bacalhau, e alguns pedaços nos intervalos. Coloquei pimentão alternado nas cores, ovo duro em fatias e azeitonas verdes sem caroço (tem quem prefira pretas), com temperos (basicamente orégano e manjericão, com um pouco de sal na batata e no pimentão).
Fiz nova camada de batatas, pimentão, e mais bacalhau em pedaços grandes, com mais ovo e azeitonas e um pouco de azeite de oliva. Voilà, a primeira travessa estava pronta.
A segunda travessa, um pouco menor, seguiu basicamente o mesmo ritual, com o acréscimo de tomates frescos em pedaços, pois nem todo mundo aprecia tomate no bacalhau. Na verdade, essa travessa ficou com pedaços menores de bacalhau, digamos orfã das grandes lascas branquinhas da travessa maior. Azeite por cima, mas não muito, azeitonas.
Tudo pronto, convidados chegados, comecei a fazer o arroz e a salada (na verdade pronta, combinação de dois tipos de alfaces, cenoura raspada e os ovos de codorna) e coloquei apenas a travessa maior no forno. A intenção seria fazer as duas, mas tivemos menos convivas do que o esperado (daí que coloquei na geladeira a segunda travessa, um estoque para os dias difíceis, digamos assim).
Em menos de vinte minutos, estava tudo pronto, mesa posta, música opcional.
Escolhi dois vinhos para desgustar, antes e durante, ambos chilenos: um Chardonnay Viñas del Mar (com perdão pela propaganda) e um Sauvignon Concha Y Toro (idem). Apenas o primeiro foi consumido, pois dois convivas, de ressaca da noite anterior, preferiram ficar no refrigerante (sem propaganda, desta vez). Tinha cerveja também (uma delas Heineken), que caii muito bem com bacalhau, mas ninguém quis.
Bem, não sei se estava realmente bom (pois sou muito exigente comigo mesmo), mas recebi elogios e todos comeram pelo menos duas vezes.
Sobremesas: um torta de dia das mães (de morango e creme, o que não faz exatamente o meu gosto, sobretudo o creme, mas aprecio o morango) e uvas tipo Red Globe. Espresso de máquina para quem pediu, e ninguém foi aos licores. Não tinha charuto, pois esta é uma casa tentativamente smoke free.
A travessa era grande, assim que ainda sobrou para a janta, para os mais famintos.
Ainda tem uma travessa inteira na geladeira, o que dispensará a empregada de fazer comida nesta segunda, e aí seremos "obrigados" a repetir o menu do domingo.
Acho que vou de cerveja, desta vez, mas se preferirem abro o Sauvignon para experimentar. Sobremesa, ainda torta e uvas, para não variar (e não desperdiçar).
Como visto, não há nada de especial na minha "receita", e qualquer ignaro em artes culinárias -- como eu mesmo -- pode se aventurar pela cozinha, poupando pelo menos as mães de fazer qualquer coisa no dia das mães. Sim, teve presentes, beijos e abraços.
Acrescentei às flores, compradas no próprio domingo de manhã, uma plaquetinha comprada nos EUA: "Missing: a cat and a husband; cat rewarded..."
Foi bom, simples, simpático e etílico (sim, não esquecer de fazer uma sesta, depois do almoço, sobretudo porque acordei cedo para preparar tudo). Agora vou terminar a leitura dos jornais e das revistas...
(Um dia ofereço uma receita de risoto de camarões, o único outro prato em que me arrisco, mas preciso de algum experimento antes).
1094) Um manifesto confuso-bolivariano
Não publiquei este longo texto como comentário posto que não se trata absolutamente de um comentário, está claro, mas permito-me a liberdade de transcrevê-lo aqui em meu blog por razões puramente de "antropologia política", eu diria.
Desconheço seu autor, Antonio Jesus Silva, possivelmente um mero transmissor de idéias coletadas junto a um bizarro movimento "quilombolivariano", e a única coisa que eu poderia dizer sobre ele é que mereceria, em primeiro lugar, aulas de Português, de redação especificamente, e quem sabe até, aulas de lógica formal e, certamente, de história e de sociologia.
O manifesto abaixo, longe de expressar idéias políticas claras, traduz um confuso sentimento de despeito, preconceito e ódio contra o que poderíamos chamar de sociedade ocidental capitalista, mas não há propostas claras, a não ser um difuso sentimento ou desejo de vingança (inclusive, aparentemente, contra os judeus).
Transcrevo aqui apenas para que se possa dar conta de como o discurso chavista é, de fato, divisivo, confrontacionista, racialista (inclusive de forma equivocada) e absoltuamente deletério, nos planos político e econômico. Triste constatação, sem dúvida...
antonio jesus silva deixou um novo comentário sobre a sua postagem "1092) Falacias Academicas: a serie completa (até a...":
REVOLUÇÃO QUILOMBOLIVARIANA !
A COMUNIDADE NEGRA AFRO-LATINA BRASILEIRA
APOIA E É SOLIDARIA AO POVO PALESTINO.VIVA A PALESTINA!
Viva! Chàvez! Viva Che!Viva! Simon Bolívar! Viva! Zumbi!
Movimento Chàvista Brasileiro
Manifesto em solidariedade, liberdade e desenvolvimento dos povos afro-ameríndio latinos, no dia 01 de maio dia do trabalhador foi lançado o manifesto da Revolução Quilombolivariana fruto de inúmeras discussões que questionavam a situação dos negros, índios da América Latina, que apesar de estarmos no 3º milênio em pleno avanço tecnológico, o nosso coletivo se encontra a margem e marginalizados de todos de todos os benefícios da sociedade capitalista euro-americano, que em pese que esse grupo de países a pirâmide do topo da sociedade mundial e que ditam o que e certo e o que é errado, determinando as linhas de comportamento dos povos comandando pelo imperialismo norte-americano, que decide quem é do bem e quem do mal, quem é aliado e quem é inimigo, sendo que essas diretrizes da colonização do 3º Mundo, Ásia, África e em nosso caso América Latina, tendo como exemplo o nosso Brasil, que alias é uma força de expressão, pois quem nos domina é a elite associada à elite mundial é de conhecimento que no Brasil que hoje nos temos mais de 30 bilionários, sendo que a alguns destes dessas fortunas foram formadas como um passe de mágica em menos de trinta anos, e até casos de em menos de 10 anos, sendo que algumas dessas fortunas vieram do tempo da escravidão, e outras pessoas que fugidas do nazismo que vieram para cá sem nada, e hoje são donos deste país, ocupando posições estratégicas na sociedade civil e pública, tomando para si todos os canais de comunicação uma das mais perversas mediáticas do Mundo. A exclusão dos negros e a usurpação das terras indígenas criaram-se mais e 100 milhões de brasileiros sendo estes afro-ameríndios descendentes vivendo num patamar de escravidão, vivendo no desemprego e no subemprego com um dos piores salários mínimos do Mundo, e milhões vivendo abaixo da linha de pobreza, sendo as maiores vitimas da violência social, o sucateamento da saúde publica e o péssimo sistema de ensino, onde milhões de alunos tem dificuldades de uma simples soma ou leitura, dando argumentos demagógicos de sustentação a vários políticos que o problema do Brasil e a educação, sendo que na realidade o problema do Brasil são as péssimas condições de vida das dezenas de milhões dos excluídos e alienados pelo sistema capitalista oligárquico que faz da elite do Brasil tão poderosa quantos as do 1º Mundo. É inadmissível o salário dos professores, dos assistentes de saúde, até mesmo da policia e os trabalhadores de uma forma geral, vemos o surrealismo de dezenas de salários pagos pelos sistemas de televisão Globo, SBT e outros aos seus artistas, jornalistas, apresentadores e diretores e etc.
Manifesto da Revolução Quilombolivariana vem ocupar os nossos direito e anseios com os movimentos negros afro-ameríndios e simpatizantes para a grande tomada da conscientização que este país e os países irmãos não podem mais viver no inferno, sustentando o paraíso da elite dominante este manifesto Quilombolivariano é a unificação e redenção dos ideais do grande líder zumbi do Quilombo dos Palmares a 1º Republica feita por negros e índios iguais, sentimento este do grande líder libertador e construí dor Simon Bolívar que em sua luta de liberdade e justiça das Américas se tornou um mártir vivo dentro desses ideais e princípios vamos lutar pelos nossos direitos e resgatar a história dos nossos heróis mártires como Che Guevara, o Gigante Osvaldão líder da Guerrilha do Araguaia. São dezenas de histórias que o Imperialismo e Ditadura esconderam. Há mais de 160 anos houve o Massacre de Porongos os lanceiros negros da Farroupilha o que aconteceu com as mulheres da praça de 1º de maio? O que aconteceu com diversos povos indígenas da nossa América Latina, o que aconteceu com tantos homens e mulheres que foram martirizados, por desejarem liberdade e justiça? Existem muitas barreiras uma ocultas e outras declaradamente que nos excluem dos conhecimentos gerais infelizmente o negro brasileiro não conhece a riqueza cultural social de um irmão Colombiano, Uruguaio, Venezuelano, Argentino, Porto-Riquenho ou Cubano. Há uma presença física e espiritual em nossa história os mesmos que nos cerceiam de nossos valores são os mesmos que atacam os estadistas Hugo Chávez e Evo Morales Ayma,Rafael Correa, Fernando Lugo não admitem que esses lideres de origem nativa e afro-descendente busquem e tomem a autonomia para seus iguais, são esses mesmos que no discriminam e que nos oprime de nossa liberdade de nossas expressões que não seculares, e sim milenares. Neste 1º de maio de diversas capitais e centenas de cidades e milhares de pessoas em sua maioria jovem afro-ameríndio descendente e simpatizante leram o manifesto Revolução Quilombolivariana e bradaram Viva a,Viva Simon Bolívar Viva Zumbi, Viva Che, Viva Martin Luther King, Viva Osvaldão, Viva Mandela, Viva Chávez, Viva Evo Ayma, Viva a União dos Povos Latinos afro-ameríndios, Viva 1º de maio, Viva os Trabalhadores e Trabalhadoras dos Brasil e de todos os povos irmanados.
O.N.N.QUILOMBO –FUNDAÇÃO 20/11/1970
quilombonnq@bol.com.br
Publicar este comentário.
Recusar este comentário.
Moderar comentários para este blog.
Postado por antonio jesus silva no blog Diplomatizzando... em Domingo, Maio 10, 2009 7:11:00 PM
[Fim de transcrição]
sábado, 9 de maio de 2009
1093) O entendimento necessario entre os EUA e a China
O NECESSÁRIO E IMPRETERÍVEL ENTENDIMENTO EUA-CHINA
Amaury Porto de Oliveira
Em fins de janeiro, tive minha última reunião de trabalho com Gilberto Dupas. Ele me chamou ao IEEI, em São Paulo, para encontrar Clodoaldo Hugueney, recém-instalado na chefia da Embaixada do Brasil na China, e interessado em apoios acadêmicos para projetos de cooperação sino-brasileira. Hugueney mostrava-se impressionado com a amplitude e riqueza das análises da vida internacional, em curso na China, e com a seriedade e profissionalismo dos seus governantes, dando azo a que eu avançasse minha convicção de que a substância do jogo internacional, nas próximas duas ou três décadas, vai consistir num improrrogável entendimento entre americanos e chineses, em busca de novas definições para a ordem mundial. Dupas concordava com que uma dessas definições implicava em mudanças profundas na matriz energética da economia global.
Meu ponto de partida, nesta reflexão, é que o mundo está assistindo ao fim de quase três séculos de liderança anglo-americana, premido a encontrar novas soluções de valor paradigmático para as exigências sócio-econômicas do planeta. E o que distingue uma era, nesse nível, é antes de mais nada sua matriz energética. O governo Bush retardou perigosamente a aceitação, pelos EUA, da dura realidade de que a Terra está ameaçada no seu saudável funcionamento, em conseqüência das opções energéticas feitas na Idade Industrial. Pelos ingleses, inicialmente, com a queima do carvão fóssil para transporte e manufaturas e, mais tarde, a produção de eletricidade. Pelos americanos, no século XX, com o uso avassalante dos hidrocarbonetos na Sociedade do Motor. Na era que raia, a China vai-se tornando em termos absolutos (mercê da sua enorme população), um foco de poluição global ainda maior que Inglaterra ou EUA, embora em termos per capita os EUA sigam de longe imbatíveis. Mas o fato é que a China não tem escolha. Ou se resigna ao atraso ou adota os modelos dos anglo-americanos. Eles conceberam um sistema na medida das ambições de bem-estar deles próprios, sem deixar espaço para possíveis ambições do resto. A China tomou hoje a liderança desse resto, e não haverá saída efetiva para a crise que se abateu sobre o mundo, enquanto os EUA não abrirem espaço para a China e os emergentes.
(...)
para ver o texto completo, clique este link.