O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 21 de junho de 2011

A Revolucao Russa: vinte anos depois (2) - Paulo Roberto de Almeida

Transcrevo abaixo artigo que escrevi em 1986, e que permaneceu inédito até hoje, por falta de veículo onde o publicar.
Não altero uma linha, uma palavra sequer...
Paulo Roberto de Almeida

A Próxima Revolução Russa
Paulo Roberto de Almeida

Movement for Socialist Renewal: Manifesto for a new USSR
The Guardian, August 3, 1986, pp. 9-11

A recente divulgação, no exterior, do manifesto do “Movimento de Renovação Socialista”, supostamente de “oposição clandestina” ao Partido Comunista da União Soviética, incita a uma série de questões sobre a natureza do texto e a veracidade de seu terrível diagnóstico sobre a situação efetiva da segunda maior potência do planeta. Mais do que tudo, porém, o documento levanta o problema, não de sua autenticidade, mas de sua verdadeira autoria. A informação do jornalista Martin Walker, correspondente em Moscou do The Guardian de Londres, que primeiro o publicou em sua edição de 3 de agosto de 1986, segundo a qual o texto foi elaborado com a participação de altos funcionários do próprio PCUS, foi considerada como correta por alguns especialistas em assuntos soviéticos.
Minha tese é a de que não apenas isso é verdadeiro, como também de que o próprio documento é “oficial”, isto é, que ele foi elaborado pela mais alta cúpula do Partido, senão pelo próprio Gorbatchev, pelo menos sob sua direta inspiração e orientação. Não há, por certo, evidências diretas e comprobatórias dessa “chancela oficial”, mas alguns indícios claros permitem sustentar, ainda que indiretamente, esta afirmação. Muitos deles são substantivos, ou seja derivam do teor mesmo desse “manifesto”, outros são de natureza formal e se prendem a maneira pela qual o documento foi dado a público. A primeira e importante questão foi formulada pelo próprio porta-voz do Ministério das Relações Exteriores soviético, Guenady Guerassimov: “Por que ele foi aparecer agora?”.
A resposta mais simples e direta é esta: para assentar o seu poder e transformar a imensa estrutura carcomida em que se converteu a União Soviética, Gorbatchev precisa enfrentar um potente inimigo: a própria máquina do Partido Comunista. Essa nova revolução terá de ser conduzida nos “corações e mentes” dos russos, antes que se possa tomar de assalto a fortaleza medieval do Estado soviético.
Essa luta é antiga e está ligada a própria história da modernização do País: Pedro, o Grande, e o próprio Lênin enfrentaram, cada qual em seu tempo, o desafio do atraso social e da paralisia estatal. Lênin, aliás, é diretamente invocado pelos autores do manifesto atual, como quando, confrontado às tarefas práticas de dirigir o novo Estado, ele colocava as alternativas oferecidas a Rússia pós-revolucionária: “ou sucumbir ou imitar o exemplo dos países mais avançados e alcançá-los economicamente”.
Andropov pretendeu sacudir a letargia que tinha contaminado o Partido e o aparelho de Estado depois de quinze anos de “brejnevismo” triunfante (que poderia ser definido como a “etapa superior” do burocratismo soviético). A enfermidade e seu rápido passamento impediram-no de balançar o edifício. Gorbatchev parece possuir o que faltou a seu antigo mestre no KGB: tempo e saúde. O novo líder soviético sabe que a simples mudança nos quadros dirigentes não é suficiente para levar adiante a gigantesca tarefa da modernização econômica e social da União Soviética: o remanejamento nos serviços e nas chefias já parece, aliás, ter atingido seus limites operacionais. Trata-se agora de conduzir uma verdadeira revolução conceitual nos sacrossantos princípios organizativos do “comunismo” russo. É para esta verdadeira revolução que aponta a divulgação do manifesto do “Movimento de Renovação Socialista”.
Por que afirmo que esse manifesto é, na verdade, da mais alta cúpula dirigente soviética e não de um suposto grupo de “oposição interna”? Uma análise, ainda que sumária, de suas propostas permite constatar que nenhuma, absolutamente nenhuma, das mudanças nele sugeridas está em contradição com os objetivos abertos ou velados do atual grupo no poder.
A preocupação mais evidente dos “autores” do documento é com o atraso técnico-científico e econômico da sociedade soviética e o enfraquecimento estratégico-militar daí decorrente. Invocando ritualmente, em diversas passagens, o exemplo de Lênin e da NEP de orientação neo-capitalista, o texto sublinha a necessidade de observar-se o funcionamento das “leis econômicas” (não do socialismo, mas de mercado, entenda-se bem), abrindo espaços à autonomia das empresas, à iniciativa individual na agricultura e no comércio e aos princípios do lucro e dos investimentos privados.
Em seu programa econômico, a suposta “oposição socialista” trai candidamente o cordão umbilical que a liga à suprema direção do Estado: “Na esfera econômica, o programa do MRS prevê o dobro da produção industrial nos próximos dois ou três anos e a triplicação da produção agrícola; uma significativa redução na importação de grãos e outros produtos e a provisão de alimentos básicos para toda a população do país; o crescimento do comércio, dos serviços e bens de consumo nacionais para o público, no mesmo padrão dos países civilizados”. Trata-se seguramente da primeira “oposição” de que se ouviu falar na comunidade socialista que tem objetivos produtivistas a curto prazo.
Enfrentando corajosamente a grave crise de legitimidade política do socialismo autoritário, o manifesto é extremamente claro em suas propostas de liberdades civis e de direitos fundamentais: liberdade de imprensa, de expressão, supressão da perseguição política e religiosa e, sacrilégio supremo, possibilidade de criação de organizações políticas alternativas. A reivindicação “burguesa” do pluralismo político é, ainda aqui, considerada como “funcional” para a sobrevivência do sistema: “A competição entre essas organizações para apresentar o melhor programa de ação é do interesse de nossa classe dominante – os trabalhadores, os camponeses e os intelectuais – [e] seria um grande passo no desenvolvimento da democracia soviética, com todos os cidadãos desfrutando de um genuíno governo socialista-democrático”.
O que o programa propõe, portanto, é que o Estado realize, dois ou três séculos depois, a “missão histórica” das revoluções burguesas, instituindo a liberdade política e a democracia formal. O manifesto de “oposição” não poderia, assim, ser mais “situacionista”: mudar a forma da dominação para melhor preservar a continuidade do regime.
É contudo no setor da política externa que a “oposição interna” mais revela seu oficialismo e sua adesão aos princípios fundamentais do imperialismo e do hegemonismo, duas constantes da política internacional russa, czarista ou soviética. Depois de constatar o colapso da “fraternidade socialista” e a perda de autoridade da URSS no próprio campo socialista, o manifesto condena a carta do “terceiro-mundismo”, culpado de não ter obtido “nenhum dividendo político ou econômico” para o país. Mais ainda, o documento critica a diplomacia e a política externa pelas “interpretações errôneas” sobre as causas da tensão mundial, colocando-se totalmente na linha de recente artigo do ex-embaixador soviético nos EUA, Anatoly Dobrinin, publicado na revista Kommunist de junho último. O atual chefe do Departamento Internacional do PCUS tem a audácia de propor um “novo pensamento político”, reconhecendo que a tentativa pode dar lugar “a vivas discussões e a dolorosas divergências”.
O objetivo último dos autores do manifesto – e nisso eles se alinham com a postura atual da diplomacia soviética – parece ser o estabelecimento, via negociações, de um “neo-globalismo”, através do qual as tensões com o imperialismo rival seriam reduzidas e a liderança soviética restabelecida em seu próprio campo. Coerentemente, a “oposição interna” afirma que a adoção de seu programa “aumentará o poderio militar e econômico da URSS e consolidará o sistema socialista mundial”. Em resumo, trata-se do primeiro “samizdat” que padece do incurável mal (russo) do chauvinismo de grande potência.
Não é apenas através dos objetivos propostos que o manifesto da “oposição interna” trai seu oficialismo. Uma análise formal do discurso revela a marca indefectível da terminologia oficial (ou seja, o jargão ortodoxo), o apelo legitimador à autoridade de Lênin (invariavelmente citado no contexto “reformista” de 1921) e o uso adequado de informações estatísticas sobre a URSS e de referências de atualidade política e jornalística internacional (apenas compreensíveis para uma elite ilustrada de burocratas soviéticos).
Todo o manifesto, aliás, só pode ser lido numa perspectiva comparada: a do atraso em relação ao Ocidente. A suposta “oposição clandestina” preocupa-se, por exemplo, com a dívida externa da URSS, “colocando-a em terceiro lugar como nação devedora, atrás somente do Brasil e do México”. Mais ainda: ela adverte para o surgimento de uma oposição armada “podendo visar altos oficiais da KGB”. Não há mais dúvida: trata-se do primeiro manifesto de oposição de orientação abertamente “tecnocrática”, cujos objetivos são, declaradamente, os de reformar o sistema, aumentar-lhe a eficiência, preservar as conquistas da URSS como uma grande potência e, sisntomaticamente, assegurar a sobrevivência física dos próprios dignitários do regime.
Num sistema esclerosado, como é o soviético atualmente, as mudanças propostas pela “oposição clandestina” só podem mesmo ser conduzidas por via revolucionária, ainda que por meio de uma “revolução pelo alto”. As reformas e inovações têm de ser feitas contra a máquina do Partido e para isso é preciso, em primeiro lugar, quebrar-lhe o monopólio e a onipotência.
Se estivéssemos nos tempos de Stalin, a questão da mudança na base social do regime seria equacionada com a substituição física, em escala maciça, dos responsáveis partidários. Nas condições atuais, o remanejamento da máquina burocrática passa por um grande estremecimento nos fundamentos sociais do regime, uma sacudidela capaz de romper a letargia generalizada que tomou conta do corpo social.
O programa parece ser claro: modificar as bases conceituais do sistema, tomar de assalto o aparelho e alterar radicalmente suas regras de funcionamento. A tarefa não pode de forma alguma ser conduzida pelos propagandistas habituais do regime: jornalistas, ativistas partidários, lideranças políticas. Isto por uma razão muito simples: eles não têm mais nenhuma credibilidade, seja ao nível do público em geral, seja no seio da imensa burocracia que vive desfrutando da engrenagem. O caráter “subversivo” da mensagem é, nesse caso, a condição de sua credibilidade e eficácia ulterior.
A própria forma de sua divulgação assume no caso uma função operacional. A exportação “clandestina” do texto, por meio de um jornalista ocidental, nos faz lembrar o episódio do famoso “Relatório Kruschev", em 1956, que marcou o começo da desestalinização. As lideranças soviéticas têm uma longa experiência em se servir da imprensa ocidental para seus objetivos táticos. Veiculado pelas rádios ocidentais dirigidas a URSS, o programa será muito melhor aceito e difundido internamente. Desde há muito que a prática do “samizdat” se faz por meios eletrônicos, sobretudo a cassete individual. A recente tragédia de Chernobyl gerou uma forte comoção social, tendo a liderança mais esclarecida canalizado o protesto para os veículos oficiais de comunicação, imprensa e rádio sobretudo. O caminho está aberto para a conquista da liberdade de expressão pelo público.
Ignazio Silone, um dos primeiros renegados do socialismo e dissidente do Comintern, não estava de todo errado ao prever, nos anos trinta, a natureza do enfrentamento final sob o socialismo: entre comunistas de facções rivais. A próxima revolução russa será, em consequência, uma revolução do Estado contra o Estado, ou seja uma revolução pelo Estado e para o Estado.
Ainda estamos na fase de seleção dos competidores. A “oposição interna” do PCUS, isto é, o próprio Gorbatchev, já escolheu seu campo: o do “socialismo com liberdade”. A próxima etapa deverá assistir à luta entre esses grupos pelo controle da máquina do Estado. O programa do grupo ascendente parece ser claro: recompor as bases do poder soviético pela introdução dos princípios de mercado no sistema econômico. Marx, parafraseando Hegel, dizia que a história se repete, na segunda vez como farsa. Por ironia da história, assistiremos na URSS, setenta anos depois, à vitória da “revolução burguesa” sobre a “revolução proletária”.

[Brasília, 07.07.86]
[Inédito; Relação de Trabalhos n° 129]

129. “A Próxima Revolução Russa”, Brasília, 7 setembro 1986, 5 pp. Artigo sobre o manifesto do grupo dissidente soviético “Movimento de Renovação Socialista”, publicado originalmente por The Guardian Weekly (03.08.86) e, no Brasil, pela Folha de São Paulo (31.08.86). Inédito.

A Revolucao Russa: vinte anos depois (1) - Foreign Policy

Transcrevo abaixo artigo sobre os 20 anos da revolução que derrocou o socialismo e acabou com a União Soviética, que se pretende revisionista publicada no número corrente da Foreign Policy, e que considero parcialmente correto.
Em post subsequente, direi porque sou crítico desse artigo, com base no que já escrevi quinze anos atrás, neste artigo, até hoje inédito:

129. “A Próxima Revolução Russa”, Brasília, 7 setembro 1986, 5 pp. Artigo sobre o manifesto do grupo dissidente soviético “Movimento de Renovação Socialista”, publicado originalmente em The Guardian Weekly (03.08.86) e, no Brasil, pela Folha de São Paulo (31.08.86). Inédito.
Paulo Roberto de Almeida
Everything You Think You Know About the Collapse of the Soviet Union Is Wrong
*And why it matters today in a new age of revolution.

BY LEON ARON
Foreign Policy, JULY/AUGUST 2011
Every revolution is a surprise. Still, the latest Russian Revolution must be counted among the greatest of surprises. In the years leading up to 1991, virtually no Western expert, scholar, official, or politician foresaw the impending collapse of the Soviet Union, and with it one-party dictatorship, the state-owned economy, and the Kremlin's control over its domestic and Eastern European empires. Neither, with one exception, did Soviet dissidents nor, judging by their memoirs, future revolutionaries themselves. When Mikhail Gorbachev became general secretary of the Communist Party in March 1985, none of his contemporaries anticipated a revolutionary crisis. Although there were disagreements over the size and depth of the Soviet system's problems, no one thought them to be life-threatening, at least not anytime soon.
Whence such strangely universal shortsightedness? The failure of Western experts to anticipate the Soviet Union's collapse may in part be attributed to a sort of historical revisionism -- call it anti-anti-communism -- that tended to exaggerate the Soviet regime's stability and legitimacy. Yet others who could hardly be considered soft on communism were just as puzzled by its demise. One of the architects of the U.S. strategy in the Cold War, George Kennan, wrote that, in reviewing the entire "history of international affairs in the modern era," he found it "hard to think of any event more strange and startling, and at first glance inexplicable, than the sudden and total disintegration and disappearance … of the great power known successively as the Russian Empire and then the Soviet Union." Richard Pipes, perhaps the leading American historian of Russia as well as an advisor to U.S. President Ronald Reagan, called the revolution "unexpected." A collection of essays about the Soviet Union's demise in a special 1993 issue of the conservative National Interest magazine was titled "The Strange Death of Soviet Communism."
Were it easier to understand, this collective lapse in judgment could have been safely consigned to a mental file containing other oddities and caprices of the social sciences, and then forgotten. Yet even today, at a 20-year remove, the assumption that the Soviet Union would continue in its current state, or at most that it would eventually begin a long, drawn-out decline, seems just as rational a conclusion.
Indeed, the Soviet Union in 1985 possessed much of the same natural and human resources that it had 10 years before. Certainly, the standard of living was much lower than in most of Eastern Europe, let alone the West. Shortages, food rationing, long lines in stores, and acute poverty were endemic. But the Soviet Union had known far greater calamities and coped without sacrificing an iota of the state's grip on society and economy, much less surrendering it.
Nor did any key parameter of economic performance prior to 1985 point to a rapidly advancing disaster. From 1981 to 1985 the growth of the country's GDP, though slowing down compared with the 1960s and 1970s, averaged 1.9 percent a year. The same lackadaisical but hardly catastrophic pattern continued through 1989. Budget deficits, which since the French Revolution have been considered among the prominent portents of a coming revolutionary crisis, equaled less than 2 percent of GDP in 1985. Although growing rapidly, the gap remained under 9 percent through 1989 -- a size most economists would find quite manageable.
The sharp drop in oil prices, from $66 a barrel in 1980 to $20 a barrel in 1986 (in 2000 prices) certainly was a heavy blow to Soviet finances. Still, adjusted for inflation, oil was more expensive in the world markets in 1985 than in 1972, and only one-third lower than throughout the 1970s. And at the same time, Soviet incomes increased more than 2 percent in 1985, and inflation-adjusted wages continued to rise in the next five years through 1990 at an average of over 7 percent.
Yes, the stagnation was obvious and worrisome. But as Wesleyan University professor Peter Rutland has pointed out, "Chronic ailments, after all, are not necessarily fatal." Even the leading student of the revolution's economic causes, Anders Åslund, notes that from 1985 to 1987, the situation "was not at all dramatic."
From the regime's point of view, the political circumstances were even less troublesome. After 20 years of relentless suppression of political opposition, virtually all the prominent dissidents had been imprisoned, exiled (as Andrei Sakharov had been since 1980), forced to emigrate, or had died in camps and jails.
There did not seem to be any other signs of a pre-revolutionary crisis either, including the other traditionally assigned cause of state failure -- external pressure. On the contrary, the previous decade was correctly judged to amount "to the realization of all major Soviet military and diplomatic desiderata," as American historian and diplomat Stephen Sestanovich has written. Of course, Afghanistan increasingly looked like a long war, but for a 5-million-strong Soviet military force the losses there were negligible. Indeed, though the enormous financial burden of maintaining an empire was to become a major issue in the post-1987 debates, the cost of the Afghan war itself was hardly crushing: Estimated at $4 billion to $5 billion in 1985, it was an insignificant portion of the Soviet GDP.
Nor was America the catalyzing force. The "Reagan Doctrine" of resisting and, if possible, reversing the Soviet Union's advances in the Third World did put considerable pressure on the perimeter of the empire, in places like Afghanistan, Angola, Nicaragua, and Ethiopia. Yet Soviet difficulties there, too, were far from fatal.
As a precursor to a potentially very costly competition, Reagan's proposed Strategic Defense Initiative indeed was crucial -- but it was far from heralding a military defeat, given that the Kremlin knew very well that effective deployment of space-based defenses was decades away. Similarly, though the 1980 peaceful anti-communist uprising of the Polish workers had been a very disturbing development for Soviet leaders, underscoring the precariousness of their European empire, by 1985 Solidarity looked exhausted. The Soviet Union seemed to have adjusted to undertaking bloody "pacifications" in Eastern Europe every 12 years -- Hungary in 1956, Czechoslovakia in 1968, Poland in 1980 -- without much regard for the world's opinion.
This, in other words, was a Soviet Union at the height of its global power and influence, both in its own view and in the view of the rest of the world. "We tend to forget," historian Adam Ulam would note later, "that in 1985, no government of a major state appeared to be as firmly in power, its policies as clearly set in their course, as that of the USSR."
Certainly, there were plenty of structural reasons -- economic, political, social -- why the Soviet Union should have collapsed as it did, yet they fail to explain fully how it happened when it happened. How, that is, between 1985 and 1989, in the absence of sharply worsening economic, political, demographic, and other structural conditions, did the state and its economic system suddenly begin to be seen as shameful, illegitimate, and intolerable by enough men and women to become doomed?
LIKE VIRTUALLY ALL modern revolutions, the latest Russian one was started by a hesitant liberalization "from above" -- and its rationale extended well beyond the necessity to correct the economy or make the international environment more benign. The core of Gorbachev's enterprise was undeniably idealistic: He wanted to build a more moral Soviet Union.
For though economic betterment was their banner, there is little doubt that Gorbachev and his supporters first set out to right moral, rather than economic, wrongs. Most of what they said publicly in the early days of perestroika now seems no more than an expression of their anguish over the spiritual decline and corrosive effects of the Stalinist past. It was the beginning of a desperate search for answers to the big questions with which every great revolution starts: What is a good, dignified life? What constitutes a just social and economic order? What is a decent and legitimate state? What should such a state's relationship with civil society be?
"A new moral atmosphere is taking shape in the country," Gorbachev told the Central Committee at the January 1987 meeting where he declared glasnost -- openness -- and democratization to be the foundation of his perestroika, or restructuring, of Soviet society. "A reappraisal of values and their creative rethinking is under way." Later, recalling his feeling that "we couldn't go on like that any longer, and we had to change life radically, break away from the past malpractices," he called it his "moral position."
In a 1989 interview, the "godfather of glasnost," Aleksandr Yakovlev, recalled that, returning to the Soviet Union in 1983 after 10 years as the ambassador to Canada, he felt the moment was at hand when people would declare, "Enough! We cannot live like this any longer. Everything must be done in a new way. We must reconsider our concepts, our approaches, our views of the past and our future.… There has come an understanding that it is simply impossible to live as we lived before -- intolerably, humiliatingly."
To Gorbachev's prime minister Nikolai Ryzhkov, the "moral [nravstennoe] state of the society" in 1985 was its "most terrifying" feature:
[We] stole from ourselves, took and gave bribes, lied in the reports, in newspapers, from high podiums, wallowed in our lies, hung medals on one another. And all of this -- from top to bottom and from bottom to top.
Another member of Gorbachev's very small original coterie of liberalizers, Foreign Minister Eduard Shevardnadze, was just as pained by ubiquitous lawlessness and corruption. He recalls telling Gorbachev in the winter of 1984-1985: "Everything is rotten. It has to be changed."
Back in the 1950s, Gorbachev's predecessor Nikita Khrushchev had seen firsthand how precarious was the edifice of the house that Stalin built on terror and lies. But this fifth generation of Soviet leaders was more confident of the regime's resilience. Gorbachev and his group appeared to believe that what was right was also politically manageable. Democratization, Gorbachev declared, was "not a slogan but the essence of perestroika." Many years later he told interviewers:
The Soviet model was defeated not only on the economic and social levels; it was defeated on a cultural level. Our society, our people, the most educated, the most intellectual, rejected that model on the cultural level because it does not respect the man, oppresses him spiritually and politically.
That reforms gave rise to a revolution by 1989 was due largely to another "idealistic" cause: Gorbachev's deep and personal aversion to violence and, hence, his stubborn refusal to resort to mass coercion when the scale and depth of change began to outstrip his original intent. To deploy Stalinist repression even to "preserve the system" would have been a betrayal of his deepest convictions. A witness recalls Gorbachev saying in the late 1980s, "We are told that we should pound the fist on the table," and then clenching his hand in an illustrative fist. "Generally speaking," continued the general secretary, "it could be done. But one does not feel like it."
THE ROLE OF ideas and ideals in bringing about the Russian revolution comes into even sharper relief when we look at what was happening outside the Kremlin. A leading Soviet journalist and later a passionate herald of glasnost, Aleksandr Bovin, wrote in 1988 that the ideals of perestroika had "ripened" amid people's increasing "irritation" at corruption, brazen thievery, lies, and the obstacles in the way of honest work. Anticipations of "substantive changes were in the air," another witness recalled, and they forged an appreciable constituency for radical reforms. Indeed, the expectations that greeted the coming to power of Gorbachev were so strong, and growing, that they shaped his actual policy. Suddenly, ideas themselves became a material, structural factor in the unfolding revolution.
The credibility of official ideology, which in Yakovlev's words, held the entire Soviet political and economic system together "like hoops of steel," was quickly weakening. New perceptions contributed to a change in attitudes toward the regime and "a shift in values." Gradually, the legitimacy of the political arrangements began to be questioned. In an instance of Robert K. Merton's immortal "Thomas theorem" -- "If men define situations as real, they are real in their consequence" -- the actual deterioration of the Soviet economy became consequential only after and because of a fundamental shift in how the regime's performance was perceived and evaluated.
Writing to a Soviet magazine in 1987, a Russian reader called what he saw around him a "radical break [perelom] in consciousness." We know that he was right because Russia's is the first great revolution whose course was charted in public opinion polls almost from the beginning. Already at the end of 1989, the first representative national public opinion survey found overwhelming support for competitive elections and the legalization of parties other than the Soviet Communist Party -- after four generations under a one-party dictatorship and with independent parties still illegal. By mid-1990, more than half those surveyed in a Russian region agreed that "a healthy economy" was more likely if "the government allows individuals to do as they wish." Six months later, an all-Russia poll found 56 percent supporting a rapid or gradual transition to a market economy. Another year passed, and the share of the pro-market respondents increased to 64 percent.
Those who instilled this remarkable "break in consciousness" were no different from those who touched off the other classic revolutions of modern times: writers, journalists, artists. As Alexis de Tocqueville observed, such men and women "help to create that general awareness of dissatisfaction, that solidified public opinion, which … creates effective demand for revolutionary change." Suddenly, "the entire political education" of the nation becomes the "work of its men of letters."
And so it was in Soviet Russia. The lines to newspaper kiosks -- sometimes crowds around the block that formed at six in the morning, with each daily run often sold out in two hours -- and the skyrocketing subscriptions to the leading liberal newspapers and magazines testify to the devastating power of the most celebrated essayists of glasnost, or in Samuel Johnson's phrase, the "teachers of truth": the economist Nikolai Shmelyov; the political philosophers Igor Klyamkin and Alexander Tsypko; brilliant essayists like Vasily Selyunin, Yuri Chernichenko, Igor Vinogradov, and Ales Adamovich; the journalists Yegor Yakovlev, Len Karpinsky, Fedor Burlatsky, and at least two dozen more.
To them, a moral resurrection was essential. This meant not merely an overhaul of the Soviet political and economic systems, not merely an upending of social norms, but a revolution on the individual level: a change in the personal character of the Russian subject. As Mikhail Antonov declared in a seminal 1987 essay, "So What Is Happening to Us?" in the magazine Oktyabr, the people had to be "saved" -- not from external dangers but "most of all from themselves, from the consequences of those demoralizing processes that kill the noblest human qualities." Saved how? By making the nascent liberalization fateful, irreversible -- not Khrushchev's short-lived "thaw," but a climate change. And what would guarantee this irreversibility? Above all, the appearance of a free man who would be "immune to the recurrences of spiritual slavery." The weekly magazine Ogoniok, a key publication of glasnost, wrote in February 1989 that only "man incapable of being a police informer, of betraying, and of lies, no matter in whose or what name, can save us from the re-emergence of a totalitarian state."
The circuitous nature of this reasoning -- to save the people one had to save perestroika, but perestroika could be saved only if it was capable of changing man "from within" -- did not seem to trouble anyone. Those who thought out loud about these matters seemed to assume that the country's salvation through perestroika and the extrication of its people from the spiritual morass were tightly -- perhaps, inextricably -- interwoven, and left it at that. What mattered was reclaiming the people to citizenship from "serfdom" and "slavery." "Enough!" declared Boris Vasiliev, the author of a popular novella of the period about World War II, which was made into an equally well-received film. "Enough lies, enough servility, enough cowardice. Let's remember, finally, that we are all citizens. Proud citizens of a proud nation!"
DELVING INTO THE causes of the French Revolution, de Tocqueville famously noted that regimes overthrown in revolutions tend to be less repressive than the ones preceding them. Why? Because, de Tocqueville surmised, though people "may suffer less," their "sensibility is exacerbated."
As usual, Tocqueville was onto something hugely important. From the Founding Fathers to the Jacobins and Bolsheviks, revolutionaries have fought under essentially the same banner: advancement of human dignity. It is in the search for dignity through liberty and citizenship that glasnost's subversive sensibility lives -- and will continue to live. Just as the pages of Ogoniok and Moskovskie Novosti must take pride of place next to Boris Yeltsin on the tank as symbols of the latest Russian revolution, so should Internet pages in Arabic stand as emblems of the present revolution next to the images of rebellious multitudes in Cairo's Tahrir Square, the Casbah plaza in Tunis, the streets of Benghazi, and the blasted towns of Syria. Languages and political cultures aside, their messages and the feelings they inspired were remarkably similar.
The fruit-seller Mohamed Bouazizi, whose self-immolation set off the Tunisian uprising that began the Arab Spring of 2011, did so "not because he was jobless," a demonstrator in Tunis told an American reporter, but "because he … went to talk to the [local authorities] responsible for his problem and he was beaten -- it was about the government." In Benghazi, the Libyan revolt started with the crowd chanting, "The people want an end to corruption!" In Egypt, the crowds were "all about the self-empowerment of a long-repressed people no longer willing to be afraid, no longer willing to be deprived of their freedom, and no longer willing to be humiliated by their own leaders," New York Times columnist Thomas Friedman reported from Cairo this February. He could have been reporting from Moscow in 1991.
"Dignity Before Bread!" was the slogan of the Tunisian revolution. The Tunisian economy had grown between 2 and 8 percent a year in the two decades preceding the revolt. With high oil prices, Libya on the brink of uprising also enjoyed an economic boom of sorts. Both are reminders that in the modern world, economic progress is not a substitute for the pride and self-respect of citizenship. Unless we remember this well, we will continue to be surprised -- by the "color revolutions" in the post-Soviet world, the Arab Spring, and, sooner or later, an inevitable democratic upheaval in China -- just as we were in Soviet Russia. "The Almighty provided us with such a powerful sense of dignity that we cannot tolerate the denial of our inalienable rights and freedoms, no matter what real or supposed benefits are provided by 'stable' authoritarian regimes," the president of Kyrgyzstan, Roza Otunbayeva, wrote this March. "It is the magic of people, young and old, men and women of different religions and political beliefs, who come together in city squares and announce that enough is enough."
Of course, the magnificent moral impulse, the search for truth and goodness, is only a necessary but not a sufficient condition for the successful remaking of a country. It may be enough to bring down the ancien regime, but not to overcome, in one fell swoop, a deep-seated authoritarian national political culture. The roots of the democratic institutions spawned by morally charged revolutions may prove too shallow to sustain a functioning democracy in a society with precious little tradition of grassroots self-organization and self-rule. This is something that is likely to prove a huge obstacle to the carrying out of the promise of the Arab Spring -- as it has proved in Russia. The Russian moral renaissance was thwarted by the atomization and mistrust bred by 70 years of totalitarianism. And though Gorbachev and Yeltsin dismantled an empire, the legacy of imperial thinking for millions of Russians has since made them receptive to neo-authoritarian Putinism, with its propaganda leitmotifs of "hostile encirclement" and "Russia rising off its knees." Moreover, the enormous national tragedy (and national guilt) of Stalinism has never been fully explored and atoned for, corrupting the entire moral enterprise, just as the glasnost troubadours so passionately warned.
Which is why today's Russia appears once again to be inching toward another perestroika moment. Although the market reforms of the 1990s and today's oil prices have combined to produce historically unprecedented prosperity for millions, the brazen corruption of the ruling elite, new-style censorship, and open disdain for public opinion have spawned alienation and cynicism that are beginning to reach (if not indeed surpass) the level of the early 1980s.
One needs only to spend a few days in Moscow talking to the intelligentsia or, better yet, to take a quick look at the blogs on LiveJournal (Zhivoy Zhurnal), Russia's most popular Internet platform, or at the sites of the top independent and opposition groups to see that the motto of the 1980s -- "We cannot live like this any longer!" -- is becoming an article of faith again. The moral imperative of freedom is reasserting itself, and not just among the limited circles of pro-democracy activists and intellectuals. This February, the Institute of Contemporary Development, a liberal think tank chaired by President Dmitry Medvedev, published what looked like a platform for the 2012 Russian presidential election:
In the past Russia needed liberty to live [better]; it must now have it in order to survive.… The challenge of our times is an overhaul of the system of values, the forging of new consciousness. We cannot build a new country with the old thinking.… The best investment [the state can make in man] is Liberty and the Rule of Law. And respect for man's Dignity.
It was the same intellectual and moral quest for self-respect and pride that, beginning with a merciless moral scrutiny of the country's past and present, within a few short years hollowed out the mighty Soviet state, deprived it of legitimacy, and turned it into a burned-out shell that crumbled in August 1991. The tale of this intellectual and moral journey is an absolutely central story of the 20th century's last great revolution.

Leon Aron is director of Russian studies at the American Enterprise Institute and author of the forthcoming Roads to the Temple: Truth, Memory, Ideas, and Ideals in the Making of the Russian Revolution, 1987-1991.

Nao intervencao nos assuntos internos de outro pais: esquecimento?

"A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quarta-feira a senadores do PP que está confiante na reeleição da presidente da Argentina..."

Acredito que nenhum dirigente deveria se pronunciar sobre escolhas político-eleitorais em outros países, sobretudo vizinhos: não cabe, não é conveniente, não se faz, e não é a coisa mais inteligente em matéria de eleições...
Paulo Roberto de Almeida

Dilma comenta política externa brasileira em almoço com senadores
MÁRCIO FALCÃO
Folha de S.Paulo, 15/06/2011

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quarta-feira a senadores do PP que está confiante na reeleição da presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Segundo relatos dos parlamentares que foram recebidos em um almoço oferecido no Palácio da Alvorada, a presidente afirmou que a disputa eleitoral no país vizinho está tranquila.

No encontro, a presidente também disse apostar na eleição de José Graziano da Silva à direção geral da FAO (órgão da ONU para agricultura e alimentação). Alguns senadores avaliam que a situação de Graziano pode ter perdido força devido à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) contra a extradição do terrorista italiano Cesare Battisti.

A sede da FAO fica em Roma, na Itália. A presidente não demonstrou preocupação com esse fato. O governo e as instituições italianas não aceitam a decisão sobre Battisti, condenado à prisão perpétua no país por quatro assassinatos.

Dilma disse que o governo brasileiro está empenhado na vitória de Graziano, que concorre com candidatos de Indonésia, Iraque, Irã, Áustria e Espanha. O adversário mais forte é o ex-chanceler espanhol Miguel Angel Moratinos.

Dilma também confirmou que deverá ir aos Estados Unidos em setembro, seis meses depois de o presidente norte-americano, Barack Obama, ter visitado Brasília. A presidente deve participar da abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova York e ainda avalia se terá reuniões bilaterais com Obama.

A senadora Ana Amélia (RS) disse que a presidente apresentou um breve panorama da relação com os países vizinhos e com a América Latina. A senadora afirmou que a presidente deve apresentar nos próximos meses uma política de incentivo para o setor automotivo, favorecendo a competição a países, como a Argentina. As medidas não devem mexer na política de câmbio. "Foi um cenário muito positivo".

O senador Benedito de Lira (AL) disse que a presidente comentou que está satisfeita com a posição internacional do país.

Uma chance ao Partido Novo: novos (e outros) principios na politica

Os que me conhecem, ou os que me leem regularmente (aqui ou em outros espaços e veículos), sabem que eu não sou, nunca fui e não pretendo ser homem de partidos, de seitas, de movimentos.
Sou um homem de causas, de princípios, de valores e de objetivos, apenas isto.
Em outros termos, não pretendo ser homem de partido pois não quero perder minha liberdade de pensamento e de ação, tendo de aderir disciplinadamente a causas coletivas que poderiam, eventualmente, chocar-se com meu livre-arbítrio, com minha individualidade e minha capacidade de agir em defesa de certas causas e princípios com base num julgamento próprio sobre o que venha a ser uma solução de maior racionalidade possível e de melhor eficácia e eficiência no plano das políticas públicas, sem ter de cingir-me a uma carta de princípios ou a diretrizes de ação que permaneçam como referências obrigatórias para os membros do movimento, grupo ou partido.
Simplesmente meu espírito anarquista (no plano das ideias) não combina com o tipo de enquadramento disciplinar que um partido exige e requer de seus membros. Por isso não serei membro de algum, qualquer um.
Isto não quer dizer que eu não possa atuar em defesa de certas causas e objetivos que combinem, mesmo parcialmente, com aquilo que eu imagine ser melhor para o Brasil e sua sociedade.
Acredito, por exemplo, que o Brasil é um "Prometeu acorrentado", um gigante dotado de certa energia (até criativa, por força de seus cidadãos mais ativos) mas que se encontra cingido por um incontável número de amarras e grilhões, a maior parte auto-imposta (pela inconsciência ou baixa educação política da maioria de sua população, ainda dotada da baixa escolarização), mas grande parte também imposta por carreiristas e oportunistas de diversos tipos, que se apossam do poder para servir a causas que não são exatamente aquelas que reputo mais adequadas às necessidades do país. Não pretendo agora fazer um manifesto a respeito de minhas crenças pessoais, que de resto já são suficientemente expostas em vários dos meus textos, e aqui mesmo, resumidas na coluna da direita, e que transcrevo brevemente:

"Minhas preocupações cidadãs voltam-se para os objetivos do desenvolvimento nacional, do progresso social e da inserção internacional do Brasil. Entendo que quatro das condições básicas para que tais objetivos sejam atingidos podem ser resumidas como segue: uma macroeconomia estável, uma microeconomia competitiva, uma alta qualidade dos recursos humanos e abertura ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros."

Por isso mesmo venho hoje expressar meu apoio de princípio -- e com isso demandar também o apoio dos que concordarem com a causa -- a uma iniciativa que reputo honesta, necessária e inadiável. Ela se prende ao que eu designaria como a "causa da reforma no Brasil", por meio da mobilização das energias e vontades de todos os brasileiros insatisfeitos com os rumos -- geralmente lentos, mas por vezes nefastos também -- que tomam e tomaram as políticas públicas no País. Não vou estender-me agora sobre as razões que levam a fazer isto: vou expressar minhas razões e apresentar meus argumentos em outros textos, que serão aqui postados.
No momento apenas gostaria de pedir o apoio de todos os que concordarem com os princípios e objetivos que vão expressos abaixo para viabilizar a existência de um novo partido no Brasil, chamado justamente de Partido Novo, que se pretende um partido sem políticos (pelo menos no começo, como é óbvio).
Seus princípios poderiam ser resumidos em poucas palavras:
ética da responsabilidade, eficiência na causa pública, honestidade intelectual, responsabilidade quanto aos meios e fins, melhor governança possível (tal como eu interpreto seu manifesto e carta de princípios).

Transcrevo abaixo o resumo e algumas notas sobre o que é o que pretende ser o Novo, e apenas digo que ele necessita ainda, nas próximas semanas, de 200 ou 300 mil assinaturas para poder se viabilizar legalmente em vista das eleições municipais do próximo ano, com as quais se apresentará ao imenso público descontente com os rumos do Brasil atual (e ele é formado por dezenas de milhões de eleitores que tentaram algo diferente nas últimas eleições e não conseguiram lograr satisfação).
Não é preciso filiar-se, nem militar pelo Partido Novo (e eu jamais pediria isso aos que me leem), mas é preciso assinar uma ficha de apoio (que se encontra no site do Partido e que pode ser mandada sem custo pelos correios para um desses endereços contratados previamente) e que servirá para cumprir trâmites legais junto à justiça eleitoral.

O que é o Partido Novo e o que ele pretende?

Duas palavras: Gestão e Cidadania

Ver documentos, apresentação, carta de princípios, ficha de apoio:
www.novo.org.br

Por que um partido?
Porque a forma mais eficiente de fazer politica social é por meio do Estado; o que faz a diferença entre os partidos são os lídere no processo de governança.

Por que um novo partido?
Por que existe uma separação entre a sociedade civil, a classe política e o governo.
A união precisa ser feito por um caminho, que é o dos partidos.
Se propõe que exista um novo partido, inicialmente sem políticos.
Hoje existem 27 partidos legalmente registrados no Brasil.

Que tipos de partidos existem no mundo?
Basicamente dois tipos:
Mais governo e mais igualdade -- Menos impostos e mais eficiência
Reino Unido: Labour -- Tories (Conservadores)
Espanha: PSOE -- PP
Itália: Ex-PCI - Populari
Alemanha: SPD -- CDU e CSU
Estados Unidos: Democratas -- Republicanos

No Brasil, diferentemente das outras grandes democracias, existem apenas:
PT -- Nenhum
Fonte: Instituto Análise

Por que uma melhor gestão pública?
O Brasil é um país que tem uma carga fiscal de país avançado, com serviços de país atrasado, ou seja, pagamos tanto quanto os ricos, mas temos uma renda per capita cinco ou seis vezes inferior.
Eis a carga fiscal em alguns países:
Chile: 12,5%; Argentina: 25%; EUA: 30%; Brasil: 37,5; Alemanha: 50 %

Como e por que um Partido Novo?
Partido de ideias, não de pessoas; acredita em renovação dos cargos públicos; os cargos eletivos são oportunidades de prestação de serviço público, não de benefício pessoal; uma gestão partidária separada da gestão pública (importante); dar suporte aos candidatos e aos eleitos.
Os recursos são sempre finitos: governar é definir prioridades e metas.

Estratégia do Novo:
Iniciar atuação pelo poder executivo municipal: partido de resultados, não só de discursos; criar uma marca de qualidade e eficiência na gestão pública; selecionar candidatos competentes; elaborar propostas junto com o candidato; vincular o candidato às suas propostas; dar suporte ao mandatário na execução; fiscalizar e cobrar resultados.

Quem começou o processo?
Novembro 2010: 6 amigos
Fevereiro 2011: 181 fundadores de 10 estados (de 16 a 83 anos; 35 atividades diferentes)
Junho de 2011: 270 mil apoiadores de todo o Brasil

Desafio atual:
Conseguir 500 mil assinaturas em todo o Brasil, mas pelo menos em 9 estados (existem hoje cerca de 300 mil assinaturas, mas elas precisam ser verificadas e certificadas)
O Partido Novo está em campanha, atualmente, para coletar assinaturas, para constituir os diretórios estaduais e municipais em nove estados.
Também pretende criar grupos de discussão para elaborar seu programa de ação.

Pretendo, sem filiar-me, contribuir nesse processo.
Creio que o Brasil precisa, merece...
Paulo Roberto de Almeida

E por falar em partidos...: este é da base, mas recebe sem base tambem...

Eu nunca deixarei de me surpreender com a desfaçatez de certas pessoas, que por acaso são políticos, que por acaso são de uma causa nobre -- a promoção da justiça social, da igualdade, da moralidade na coisa pública, do socialismo, enfim -- e que por um acaso, também, ocorrem de serem da base aliada do governo e de viverem às custas do governo, ou seja, de todos nós.
Eu nunca deixarei de expressar meu horror, meu asco, minha repulsa (acrescentem mais algumas expressões negativas, à vontade de cada um) a este tipo de comportamento:
Paulo Roberto de Almeida

Dirigente do PSB leva R$ 280 mil ao deixar cargo
O Estado de São Paulo, 20/06/2011

Amaral recebeu indenização por ter sido oficialmente 'demitido' da diretoria-geral da ACS; no mesmo dia foi nomeado para conselhos da Itaipu e do BNDES.

O vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, recebeu pelo menos R$ 280 mil dos cofres públicos ao sair em março da diretoria-geral da Alcântara Cyclone Space (ACS), uma sociedade dos governos do Brasil e da Ucrânia para gerir o principal programa espacial brasileiro, que passa por grave crise financeira. Amaral recebeu esse dinheiro porque conseguiu ser oficialmente "demitido" do cargo.

Em entrevista gravada ao Estado, o dirigente do PSB afirmou que foi ele quem decidiu sair da direção da ACS, ainda durante as eleições 2010. "Eu quis. Pedi e acertei com a presidente Dilma antes do processo eleitoral", afirmou. Ele contou, porém, que negociou com o governo federal para ser demitido. "Eu pedi para ser demitido, todo mundo faz isso. Não posso ser crucificado por isso", afirmou.

A receita da empresa é 100% de origem pública. Por ser uma parceria internacional, seus funcionários são contratados pelas regras da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e têm carteira assinada. Ao ser atendido no desejo de ser demitido, o dirigente do PSB e ex-ministro de Ciência e Tecnologia fez um grande negócio, porque teve direito às indenizações de demissões sem justa causa - os R$ 280 mil foram pagos pela ACS incluindo, por exemplo, os 40% de multa sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Esses valores ainda não incluem o saldo do FGTS que Amaral pôde sacar por ter sido demitido.

No mesmo dia da demissão, Amaral foi nomeado para integrar os conselhos da Itaipu Binacional e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cujos salários somam cerca de R$ 25 mil. A chefe de gabinete de Amaral na ACS, Patricia Patriota, filha do deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE), também conseguiu ser demitida e recebeu cerca de R$ 55 mil.

A assessoria da Presidência disse que não confirma a versão de Amaral sobre o acordo para ser demitido. Informou que a Presidência decidiu por sua saída e que ele "foi exonerado por ter cumprido uma missão e ter encerrado um ciclo na empresa". A ACS, vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, está paralisada. Criada em 2007, já recebeu R$ 218 milhões do governo brasileiro e R$ 98 milhões da Ucrânia num projeto orçado em R$ 1 bilhão.

Cortes - O Estado revelou na quinta-feira que o projeto empacou depois que a presidente Dilma cortou seu orçamento e determinou auditoria nas contas da empresa e na execução da parceria. A exoneração de Amaral foi publicada no dia 28 de março no Diário Oficial da União com as assinaturas da presidente Dilma Rousseff e do ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia). Ele ganhava R$ 30 mil mensais. Naquele dia, foram divulgadas as indicações para ele assumir uma vaga na Itaipu e outra no BNDES.

A assessoria de Mercadante disse que ele foi exonerado da ACS pelo governo, mas não sabia que ele receberia a indenização. Em duas entrevistas ao Estado na quinta-feira, Amaral entrou em contradição e acabou contando que a demissão foi um acerto com o governo. Num primeiro momento, quando a reportagem ainda não tinha a confirmação de que ele havia sido demitido, o dirigente do PSB afirmou, na entrevista sobre a crise do programa espacial, que pediu para deixar o cargo de comando do projeto. Após essa entrevista, a ACS confirmou que demitiu Amaral, em cumprimento ao acordo dele com o governo.

Ele então se negou a comentar os valores recebidos sob a alegação de que é um problema dele e da empresa. A ACS se negou a dar mais detalhes sobre a saída de Amaral. Por sua assessoria, argumentou que, embora receba recursos do governo brasileiro, é uma empresa pública internacional e, por isso, tem o direito de não revelar suas despesas internas. Por ser binacional, ela não presta contas a órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria-Geral da União (CGU).

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A maneira etica de fazer politica... (lavando atividades partidarias, literalmente...)

Bem, neste caso também, nunca deixarei de me surpreender com o novo partido da ética (podre) e da moral (torta). Não se pode, aliás, pedir algo a quem não tem a menor ideia do que o conceito significa, e mesmo que soubesse não se importaria o mínimo com sua adequação à realidade.
Como disse alguém, uma mentira revolucionária é muito mais valiosa (e como!) do que uma verdade reacionária...
Paulo Roberto de Almeida

Aloprado confessa: "O PT tentou forjar dossiê contra Serra. Mercadante pagou tudo"
Coluna do jornalista Políbio Braga, 20/06/2011

A oposição decidiu acionar mais uma vez a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, desta vez para enquadrar o ministro Aloísio Mercadante como mandante da quadrilha dos Aloprados, contratada para forjar dossiê contra o ex-governador José Serra.

. A oposição quer a imediata demissão do ministro da Ciência e Tecnologia.

. A Polícia Federal já investigou o caso, confirmou tudo, mas não enquadrou Mercadante.

- Neste final de semana, a revista Veja publicou confissão de um dos membros da quadrilha do PT, o ex-diretor do Banco do Brasil, Expedito Veloso, que confirmou tudo. Ele confessou que Mercadante encarregou-o de encomendar um dossiê falso contra Serra. Ele contratou para isto os empresários Darci e Luiz Antonio Vedoin, que cobraram R$ 1,7 milhão para falsificar documentos e conceder entrevista denunciando falsamente José Serra. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, integrou a quadrilha. O dinheiro saiu do PT e também do bolso do ex-governador Quércia.

CLIQUE AQUI para ler a reportagem de Veja.

No Mato Grosso, o PT forjou dossiê contra a candidata do próprio PT
Muita gente não prestou atenção ao fecho da reportagem deste final de semana de Veja, na qual o ex-diretor do Banco do Brasil, Expedito Veloso, conta que o PT forjou dossiê para atingir membros do próprio PT, no caso a senadora Serys Slhessarenko, do Mato Grosso.

. O próprio Expedido Veloso contou tudo à própria senadora, anos mais tarde. Serys perdeu a eleição para Blairo Maggi, que foi quem pagou os bandidos do PT. Ela confirmou o caso para a revista Veja.

Politica industrial lulista: 300 milhoes por... nada...

Eu nunca deixarei de me surpreender com o tamanho das malversações que cercam toda e qualquer politica industrial conduzida diretamente pelo Estado. Lembro-me perfeitamente que essa "fábrica de chips" foi anunciada com certa fanfarra, como sendo o começo da libertação do Brasil da importação de circuitos integrados, um dos principais componentes nos déficits setoriais da balança comercial.
Pois bem, vejam o que resultou, ou melhor não resultou.
Acho que tenho de me surpreender, sim, e sentir nojo, aliás, pelo dinheiro público desperdiçado...
Paulo Roberto de Almeida

Ex-presidente confirma que a fábrica gaúcha de chips não funciona e foi um antro de malfeitorias
Coluna de Políbio Braga, 20/06/2011

Anunciada como o início da mudança da matriz industrial do RS, que pularia diretamente da agroindútria para a civilização pós-industrial, a fábrica de chips de Porto Alegre, o Ceitec, passou ao centro de um furacão de denúncias de patifarias e malversação de dinheiro público que envolve fundo o governo Lula e seu aliado, o PSB do Rio Grande do Sul, do deputado Beto Albuquerque, que bancou politicamente o empreendimento e nomeou quase todas as diretorias. O ministério foi do seu Partido durante todo o governo Lula.

. O Ceitec já consumiu R$ 300 milhões e até agora não produziu chips ? o dobro do previsto inicialmente. As obras sofreram 13 aditivos em seis anos e estão na mira do Tribunal de Contas da União. Uma auditoria identificou várias irregularidades na construção, inclusive superfaturamento de ao menos R$ 15,8 milhões, além de problemas na licitação conduzida pela gestão anterior. Nos bastidores, Mercadante classificou a situação como ?um escândalo?.

. Desde o ano passado, circula em Porto Alegre uma cópia da carta de demissão de Eduard Weichselbaumer, que vive hoje na Califórnia, na qual ele revela que os equipamentos da fábrica estão tecnologicamente ultrapassados e simplesmente não funcionam, apesar de terem sido reformados.

. O editor almoçou com Eduard Weichselbaumer mais de uma vez. O executivo tem pedigree internacional e o editor avisou a ele que se daria mal no caso de prosseguir administrando ?empresarialmente? como fazia. O alemão disse ao editor, em off (agora esta informação é pública, conforme reportagem deste domingo da Istoé), que o então ministro do PSB decidiu atrasar a obra em 5 anos, quando poderia ter feito tudo em um ano.

. Confrontado pela revista Istoé neste final de semana, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloísio Mercadante, o chefe dos Aloprados, que visitou o Cietec no dia 25 de abril, um ano depois da inauguração avisou:

- O PSB que armou essa bomba, ele que a desarme.

CLIQUE AQUI para ler o que mais escreveu o editor sobre o assunto.

domingo, 19 de junho de 2011

Ten Reasons Why China is Different - Stephen S. Roach

Ten Reasons Why China is Different
Stephen S. Roach
Commentary, May 5, 2011

NEW HAVEN – The China doubters are back in force. They seem to come in waves – every few years, or so. Yet, year in and year out, China has defied the naysayers and stayed the course, perpetuating the most spectacular development miracle of modern times. That seems likely to continue.
Today’s feverish hand-wringing reflects a confluence of worries – especially concerns about inflation, excess investment, soaring wages, and bad bank loans. Prominent academics warn that China could fall victim to the dreaded “middle-income trap,” which has derailed many a developing nation.
There is a kernel of truth to many of the concerns cited above, especially with respect to the current inflation problem. But they stem largely from misplaced generalizations. Here are ten reasons why it doesn’t pay to diagnose the Chinese economy by drawing inferences from the experiences of others:
Strategy. Since 1953, China has framed its macro objectives in the context of five-year plans, with clearly defined targets and policy initiatives designed to hit those targets. The recently enacted 12th Five-Year Plan could well be a strategic turning point – ushering in a shift from the highly successful producer model of the past 30 years to a flourishing consumer society.
Commitment. Seared by memories of turmoil, reinforced by the Cultural Revolution of the 1960’s and 1970’s, China’s leadership places the highest priority on stability. Such a commitment served China extremely well in avoiding collateral damage from the crisis of 2008-2009. It stands to play an equally important role in driving the fight against inflation, asset bubbles, and deteriorating loan quality.
Wherewithal to deliver. China’s commitment to stability has teeth. More than 30 years of reform have unlocked its economic dynamism. Enterprise and financial-market reforms have been key, and many more reforms are coming. Moreover, China has shown itself to be a good learner from past crises, and shifts course when necessary.
Saving. A domestic saving rate in excess of 50% has served China well. It funded the investment imperatives of economic development and boosted the cushion of foreign-exchange reserves that has shielded China from external shocks. China now stands ready to absorb some of that surplus saving to promote a shift toward internal demand.
Rural-urban migration. Over the past 30 years, the urban share of the Chinese population has risen from 20% to 46%. According to OECD estimates, another 316 million people should move from the countryside to China’s cities over the next 20 years. Such an unprecedented wave of urbanization provides solid support for infrastructure investment and commercial and residential construction activity. Fears of excess investment and “ghost cities” fixate on the supply side, without giving due weight to burgeoning demand.
Low-hanging fruit – Consumption. Private consumption accounts for only about 37% of China’s GDP – the smallest share of any major economy. By focusing on job creation, wage increases, and the social safety net, the 12th Five-Year Plan could spark a major increase in discretionary consumer purchasing power. That could lead to as much as a five-percentage-point increase in China’s consumption share by 2015.
Low-hanging fruit – Services. Services account for just 43% of Chinese GDP – well below global norms. Services are an important piece of China’s pro-consumption strategy – especially large-scale transactions-based industries such as distribution (wholesale and retail), domestic transportation, supply-chain logistics, and hospitality and leisure. Over the next five years, the services share of Chinese GDP could rise above the currently targeted four-percentage-point increase. This is a labor-intensive, resource-efficient, environmentally-friendly growth recipe – precisely what China needs in the next phase of its development.
Foreign direct investment. Modern China has long been a magnet for global multinational corporations seeking both efficiency and a toehold in the world’s most populous market. Such investments provide China with access to modern technologies and management systems – a catalyst to economic development. China’s upcoming pro-consumption rebalancing implies a potential shift in FDI – away from manufacturing toward services – that could propel growth further.
Education. China has taken enormous strides in building human capital. The adult literacy rate is now almost 95%, and secondary school enrollment rates are up to 80%. Shanghai’s 15-year-old students were recently ranked first globally in math and reading as per the standardized PISA metric. Chinese universities now graduate more than 1.5 million engineers and scientists annually. The country is well on its way to a knowledge-based economy.
Innovation. In 2009, about 280,000 domestic patent applications were filed in China, placing it third globally, behind Japan and the United States. China is fourth and rising in terms of international patent applications. At the same time, China is targeting a research-and-development share of GDP of 2.2% by 2015 – double the ratio in 2002. This fits with the 12th Five-Year Plan’s new focus on innovation-based “strategic emerging industries” – energy conservation, new-generation information technology, biotechnology, high-end equipment manufacturing, renewable energy, alternative materials, and autos running on alternative fuels. Currently, these seven industries account for 3% of Chinese GDP; the government is targeting a 15% share by 2020, a significant move up the value chain.
Yale historian Jonathan Spence has long cautioned that the West tends to view China through the same lens as it sees itself. Today’s cottage industry of China doubters is a case in point. Yes, by our standards, China’s imbalances are unstable and unsustainable. Chinese Premier Wen Jiabao has, in fact, gone public with a similar critique.
But that’s why China is so different. It actually takes these concerns seriously. Unlike the West, where the very concept of strategy has become an oxymoron, China has embraced a transitional framework aimed at resolving its sustainability constraints. Moreover, unlike the West, which is trapped in a dysfunctional political quagmire, China has both the commitment and the wherewithal to deliver on that strategy. This is not a time to bet against China.

Stephen S. Roach, a member of the faculty of Yale University, is Non-Executive Chairman of Morgan Stanley Asia and author of The Next Asia (Wiley 2009).

80 anos de FHC: louvacoes e panegiricos nao combinam com este blog

Normalmente eu passaria longe desse tipo de discurso laudatório, totalmente artificial, e puramente hiperbólico, em que se tenta fazer de alguém uma personalidade maior do que realmente é. Ou seja, eu normalmente não transcreveria aqui esse tipo de panegírico, se ele não tivesse a ver, também, com ideias e conceitos sobre o Brasil e sua política, dois temas que são aqui privilegiados.
Acredito que o personagem em questão, FHC, realmente tem qualidades, de intelectual e de homem público, em todo caso, maiores e melhores qualidades do que as exibidas por líderes políticos e intelectuais algumas décadas antes dele e possivelmente algumas décadas à frente, também. Não acredito, por exemplo, que venhamos a ter algum outro presidente tão bem preparado quanto ele pelo futuro previsível, assim como não tivemos nenhum outro igual nos cem anos anteriores da República.
Isso não significa, porém, que ele esteja isento de julgamentos negativos, de avaliações objetivas (que indicariam seus erros também), ou que outros, em suas dimensões próprias, não tenham tido igual, ou maior, importância, para a vida republicana, ou simplesmente brasileira, desde a independência. O julgamento deveria ser deixado à história, com o necessário recuo que nos permitisse, por exemplo, comparar FHC a Pedro II, a Campos Salles, a Getúlio Vargas, a JK, a Castello Branco ou a Geisel, por exemplo, para mencionar alguns que me parecem dispor da postura de estadistas. Todos os demais são menores, para não dizer medíocres, quando não foram nefastos para o país ou a economia brasileira.
Mas estou em total desacordo com essa postura de incensar FHC, fazendo-o responsável pelo que não é responsável.
Assim, discordo frontalmente de Celso Lafer quando diz que:
"Fernando Henrique é um raro caso, no Brasil e no mundo, de um grande intelectual que foi bem-sucedido na política, alcançando a Presidência da República no primeiro turno, por voto majoritário, em duas sucessivas eleições."

FHC não foi eleito duas vezes turno no primeiro por ser intelectual, e sequer por ser político. Ele foi eleito porque resolveu o drama nacional da inflação e da erosão monetária, drama que abatia a sociedade brasileira nas décadas anteriores.
Mas, alto lá, quem fez isso foi sua equipe econômica, o punhado de economistas que soube conceber, implementar e adaptar o Plano Real, em suas diversas fases, desde 1993 até 1999.
O mérito de FHC foi o de saber reunir essa equipe e concordar com ela, mesmo não entendendo direito a essência do plano: ele confiou nos economistas e defendeu o plano junto ao presidente Itamar (que ainda assim atrapalhou sua consecução mais bem sucedida ao obstaculizar um necessário ajuste fiscal que deveria ter sido feito concomitantemente com a implantação do real, e não o fez porque, como todo político, detesta ser impedido de gastar).
Ou seja, quem elegeu FHC foi a equipe econômica.
Se ouso reconhecer algum mérito em FHC foi esse de compreender que o Brasil precisava terminar com as loucuras econômicas anteriores, mas como disse, a responsabilidade principal incumbe aos economistas, não a ele.
O que FHC fez de digno foi criar um mecanismo de transição entre governos, oferecendo as melhores condições a Lula para começar a governar.
Este, na sua esperteza política, preservou a íntegra da política econômica anterior, mesmo demonizando-a em seu discurso da "herança maldita", o que apenas revela seu caráter (que vocês podem classificar com o adjetivo que quiserem).
Ou seja, FHC passa para a história certamente como um presidente de grandes qualidades, mas seu principal mérito, e o que lhe fez ser eleito e reeleito, isso pertence à equipe econômica.
Nenhuma versão correta da história poderia eludir este fato.
Paulo Roberto de Almeida

FHC aos 80
Celso Lafer
O Estado de S.Paulo, 18 de junho de 2011

Fernando Henrique Cardoso chega aos 80 anos em grande forma e na plenitude das qualidades que dele fizeram um grande intelectual e um grande homem público. É o nosso elder statesman e a sua palavra tem prioridade na agenda de discussão nacional. Tem prioridade porque é dotada de autoridade, que se caracteriza por ser menos que um comando, mas mais do que um conselho, na definição de Mommsen. Essa autoridade é fruto do seu percurso e do seu legado, que aqui destaco celebrando o seu aniversário e, ao mesmo tempo, contrapondo-me à damnatio memoriae com a qual o presidente Lula, o PT e os seus simpatizantes, inclusive no mundo acadêmico, buscaram infligir à sua trajetória.

A damnatio memoriae é um instituto do Direito Romano por meio do qual um sucessor condenava a memória do seu antecessor, buscando apagar a sua imagem e eliminar o seu nome das inscrições, considerando-o um inimigo ou uma vergonha para o Estado romano. No Brasil, esse é o objetivo da retórica da "herança maldita", tal como persistentemente aplicada à qualificação da sua gestão presidencial por seu sucessor e acólitos. Ressalvo que dessa postura se afastou a presidente Dilma Rousseff, ao saudar com civilidade republicana os 80 anos de FHC e ao identificar os seus méritos.

Fernando Henrique é um raro caso, no Brasil e no mundo, de um grande intelectual que foi bem-sucedido na política, alcançando a Presidência da República no primeiro turno, por voto majoritário, em duas sucessivas eleições. Usualmente os intelectuais, na medida em que se interessam pela política, ou se dedicam à crítica do poder ou a assessorar o poder. FHC, além de ter desempenhado esses dois papéis, exerceu o poder no vértice do sistema político brasileiro. Logrou alcançar e exercer o poder em função de certas características de personalidade que merecem o elogio, e não a condenação de uma ressentida damnatio memoriae.

FHC foi afirmando a sua liderança desde os tempos da universidade, o que lhe valeu o reconhecimento dos seus pares. São componentes do modo de ser da sua liderança a agilidade e a rapidez da inteligência, que os gregos qualificam de anquinoia, e o dom de gentes, da prazerosa civilidade do seu trato com as pessoas..

A política requer coragem, que é uma "virtude forte" necessária para o ofício de governar e vai além das virtudes requeridas para lidar com as necessidades da vida e as exigências da profissão. É o sentimento de suas próprias forças, como a define Montesquieu. É saber manter a dignidade sob pressão, nas palavras de Hemingway, no confronto com o perigo e as dificuldades. Coragem, nos precisos termos das definições acima mencionadas, nunca faltou a FHC, como posso testemunhar ao tê-lo visto enfrentar seja a aposentadoria compulsória na USP por obra do arbítrio do regime militar e o bafo da repressão nos momentos iniciais do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), seja, em outro plano, no exercício da Presidência, a desestabilizadora crise do câmbio de 1999, que pôs em risco o Plano Real. Teve, para dar outro exemplo, a coragem de assumir o Ministério da Fazenda, no governo Itamar Franco, para enfrentar o imenso desafio de debelar anos de uma inflação desenfreada e corrosiva. A coragem também passa pela firmeza de lidar com temas controvertidos e se contrapor ao seu grupo político e à tendência majoritária da opinião pública. É a nota do seu empenho atual na discussão do problema das drogas, que mostra que os anos não enfraqueceram a sua vocação de combate.

O juízo político é a capacidade de perceber as características que singularizam um contexto. Beneficia-se da visão geral que o conhecimento oferece, mas requer a competência para identificar, numa dada realidade, as particularidades do que pode ou não resultar. FHC, na sua trajetória, foi capaz de olhar o distante e observar o perto, nas palavras de Goethe. Desse modo, como intelectual apto a se orientar na História, sempre teve visão global para entender o conjunto das coisas no Brasil e no mundo e, por obra da qualidade do seu juízo político, a sensibilidade para captar o espaço do potencial das conjunturas com que se confrontou. Pôde, assim, exercer, para falar com Albert Hirschman, a sua íntegra "paixão pelo possível".

Assegurou, na sua Presidência, republicanamente, a governabilidade democrática de um país complexo como o Brasil, por meio de uma liderança aparelhada por um superior juízo político que soube dosar harmonização com inovação e transformação. Logrou, desse modo, orientar o País a partir do Estado e mudar a sociedade brasileira, pois guiado pelo seu sentido de direção construiu um novo patamar de possibilidades para o nosso país.

FHC transformou a sociedade brasileira com o Plano Real, que, com a estabilidade da moeda, assegurou a previsibilidade social das expectativas e promoveu a redistribuição de renda. Impôs racionalidade administrativa com a legislação da responsabilidade fiscal e as privatizações. Garantiu a solidez do sistema bancário com o Proer. Inaugurou o novo alcance das redes de proteção social com o Bolsa-Escola. Empenhou-se na institucionalização da democracia, no fortalecimento da cidadania e na valorização dos direitos humanos. Deu destaque à agenda ambiental. Elevou, com as suas realizações e sua presença pessoal, o alcance do papel do Brasil no mundo. Em síntese, o seu legado é o de um grande homem público que promoveu a ampliação do poder de controle da sociedade brasileira sobre o seu destino, de que se vem beneficiando, de maneira duradoura, o nosso país.

Celebrar o seu aniversário é uma oportunidade de celebrar a sua obra e a sua pessoa e, no meu caso, de afirmar que é um privilégio fruir a sua convivência e, assim, saudar, com amizade e admiração, os seus jovens, sábios e democraticamente bem-humorados 80 anos.

PROFESSOR TITULAR DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS E DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES NO GOVERNO FHC

Segredo eterno? So na confissao (e para quem acredita...)

Eu já disse o que penso a respeito dessa tal sensibilidade de "documentos históricos", que justificaria segredo eterno para certos documentos: uma escapatória a guardar documentos que tem pouco a ver com a história, e sim com a reputação de certas pessoas, talvez até coisa menos elevada e nobre...
Nenhum país de respeito pode pretender esconder sua história: os que assim o fazem se tornam suspeitos de conivência com coisas pouco dignas do registro histórico, e talvez merecedoras de outro tipo de registro...
Paulo Roberto de Almeida

Fiquei desapontado com apoio de Dilma ao sigilo eterno de documentos, afirma historiador
FERNANDA ODILLA, BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, 19/06/2011

Membro da ABL (Academia Brasileira de Letras), o cientista político e historiador José Murilo de Carvalho afirma ter ficado "desapontado" com o recuo e apoio da presidente Dilma Rousseff ao sigilo eterno de determinados documentos oficiais.

"A política do sigilo, do segredo, da ocultação, inviabiliza uma escrita confiável da história. Perde o historiador, perde o cidadão, perde o país", afirma o pesquisador.

Ele garante não nenhum episódio da história brasileira que não possa ser divulgado, em especial sobre temas como a delimitação de fronteiras brasileiras e a Guerra do Paraguai (1864-1870) --citados pelos que são contrários ao projeto que tramita no Senado e prevê a divulgação de todos os papéis oficiais.

Para o pesquisador, o grande problema é a falta de pessoal especializado para catalogar e disponibilizar documentos. Leia, abaixo, a entrevista com José Murilo de Carvalho, que respondeu por escrito as perguntas da Folha.

Folha - O Sr. acredita haver alguma circunstância em que é preciso manter o sigilo eterno de documentos oficiais? Por que?
José Murilo de Carvalho - Não. Segredo perpétuo só o da confissão. A história é dinâmica, tudo muda, mudam os valores, a política interna, a política externa, os próprios estados nacionais surgem e desaparecem.

Na avaliação do sr. há um tempo ideal máximo para se manter um documento com acesso restrito?
Não há tempo máximo ideal. Depende do momento, da prática dos outros países, da conjuntura interna e internacional. O que era um prazo bom em certo momento já pode parecer inaceitável em uma sociedade mais democratizada. Os prazos estabelecidos no projeto aprovado pela Câmara são razoáveis e estão de acordo com as tendências atuais.

Quem deveria participar da classificação de documentos oficiais?
Primeiro, claro, deve haver uma lei classificando os documentos de acordo com seu grau de importância e das possíveis consequências. Feito isso, a liberação deve ser automática assim que decorra o prazo estabelecido. Caso possa haver prorrogação do sigilo, como no projeto aprovado pela Câmara, uma comissão avaliará se deve ser ele prolongado ou não. Essa comissão deve ser mista. Pode, por exemplo, incluir representante do Itamaraty (caso o documento tenha a ver com política externa), do Ministério da Justiça (no caso de política interna), do Congresso, do Judiciário, da OAB, das Universidades (historiadores).

Pela experiência do senhor, quais episódios relevantes da história brasileira podem ainda ser objeto de informações e documentos com conteúdo protegido por sigilo?
Episódio, nenhum. Há, naturalmente, negociações internacionais que podem exigir um prazo para liberação. O do projeto da Câmara (25 anos, renováveis uma vez) é mais do que suficiente. Há também documentos que podem atingir a honra de vítimas de tortura que devem ser tratados com cuidado.

Há risco de desconstruir mitos, personalidades e patronos com a divulgação de documentos hoje mantidos sob sigilo? Ou esses mitos já foram todos desconstruídos?
Se há riscos, é mais uma razão para abrir os arquivos. Mitos têm que ser destruídos em nome da maturidade democrática. Renan dizia que nações se criam à base de esquecimento, ocultação e mesmo mentira histórica. Mas hoje não se trata mais de construir a nação. Ela já existe. E para mantê-la, hoje, é necessário construir a sociedade democrática. Isso inclui o direito de informação sobre a própria história. A política do sigilo, do segredo, da ocultação, inviabiliza uma escrita confiável dessa história. Perde o historiador, perde o cidadão, perde o país.

Em relação à Guerra do Paraguai e à disputa pelo território hoje ocupado pelo Acre, o sr. tem conhecimento de papéis com conteúdo capaz de provocar ameaça ao Estado? Em relação a esses dois episódios, há alguma informação ainda não revelada ou hoje alvo de especulação?
Participei, no governo FHC, quando Celso Lafer era Ministro das RE [Relações Exteriores], de uma comissão do Itamaraty para examinar a liberação dos documentos. Sobre a Guerra, não encontramos nada que justificasse o segredo, muito menos o eterno. Mais ainda, a comissão convidou um diplomata aposentado, especialista em tratados internacionais de fronteiras e ele garantiu que a abertura não traria qualquer risco, pois são atos jurídicos perfeitos. Escondem o seu passado países inseguros, autoritários. Países maduros com sociedades democráticas não têm medo de enfrentar seu passado, seja ele qual for

O Itamaraty garante no arquivo do MRE não há mais nada protegido por sigilo em relação à Guerra do Paraguai. Acredita que absolutamente tudo sobre o episódio está aberto a consulta?
No Arquivo do Itamaraty, o grande problema é a falta de pessoal técnico para classificar, catalogar e disponibilizar os documentos. Como parece estar proibida a contratação desse pessoal, o país e os historiadores ficam privados de uma extraordinária fonte de pesquisa. Fora isso, é até tedioso ficar discutindo a abertura dos documentos da Guerra.

Na avaliação do sr., os defensores do sigilo eterno têm receio de que?
Há que perguntar a eles. E a posição da presidente Dilma? Fiquei desapontado com seu apoio ao segredo e ocultamento perpétuos. Esperava dela a mesma posição que adotou em relação à comissão da verdade. Os documentos da ditadura são muito mais delicados do que os de cem anos atrás. Nesse ponto, a posição do ex-presidente Lula, apoiando o projeto da Câmara, está mais de acordo com os novos tempos democráticos.

A tragedia grega do euro: desafios epicos...- Kenneth Rogoff

O título é meu, mas a análise é de um dos economistas mais respeitados da atualidade.
A questão é simples: o euro tem futuro?
Parece que sim, mas vai ter de entrar em alguma academia de fisioterapia, ou estação de águas, para fazer um bom recondicionamento antes de se colocar novamente em marcha.
O problema, como sempre, não é tanto o euro, mas o que fazem deles governos irresponsáveis.
Velha questão, soluções clássicas: regime de emagrecimento, educação espartana, hábitos sóbrios, sem se perder na bebida ou em festinhas muito caras. Nem sempre se tem uma tia rica -- estilos EUA ou Alemanha -- para pagar a conta do seu cartão de crédito. Um dia isso acaba...
Paulo Roberto de Almeida

El euro, en la encrucijada
KENNETH ROGOFF
El País, 19/06/2011

Europa se encuentra en una crisis constitucional. Nadie parece tener el poder de imponer una resolución razonable a la crisis de la deuda de sus países periféricos. En lugar de reestructurar la carga de deuda manifiestamente insostenible de Portugal, Irlanda y Grecia (los llamados países PIG, por sus iniciales), los políticos y legisladores están presionando para que se adopten paquetes de rescate cada vez más grandes con condiciones de austeridad cada vez menos realistas. Por desgracia, no están solo "pateando" el problema para más adelante, sino empujando una bola de nieve montaña abajo.

Es cierto que, de momento, el problema sigue siendo económicamente manejable. El crecimiento de la eurozona es respetable, y los PIG representan solo el 6% de su PIB. Pero al argumentar obstinadamente que estos países se enfrentan a una crisis de liquidez, en lugar de un problema de solvencia, los funcionarios del euro están poniendo en riesgo todo el sistema. Importantes economías de la eurozona, como España e Italia, padecen grandes problemas de endeudamiento, especialmente si se tiene en cuenta su crecimiento anémico y una manifiesta falta de competitividad. Lo último que necesitan es que se haga creer a la gente que ya hay en marcha una unión implícita de transferencias y que las reformas y la reestructuración económica pueden esperar.

Los funcionarios de la Unión Europea sostienen que sería catastrófico reestructurar las deudas de cualquier miembro de forma proactiva. Es ciertamente el caso del contagio que ocurriría si se reestructura la deuda griega. Dejará de propagarse solo cuando Alemania erija un cortafuegos firme y creíble, probablemente en torno a la deuda de los gobiernos centrales español e italiano. Este es exactamente el tipo de solución realista que uno vería en una zona monetaria verdaderamente integrada. Así que, ¿por qué los líderes europeos encuentran tan inimaginable esta solución intermedia?

Tal vez es porque creen que no tienen en funcionamiento los mecanismos de gobernanza necesarios para tomar decisiones difíciles, para elegir ganadores y perdedores. Las instituciones fracturadas y débiles de la Unión Europea disponen de menos del 2% del PIB de la eurozona en ingresos fiscales. Cualquier tipo de decisión audaz esencialmente requiere unanimidad. Es un "todos para uno y uno para todos", independientemente de su tamaño, posición de deuda y capacidad de rendición de cuentas. No tiene sentido elaborar un plan B si no hay autoridad o capacidad para ejecutarlo.

¿Puede Europa tener suerte? ¿Hay alguna posibilidad de que la bola de nieve de deuda, disfuncionalidad y dudas se deshaga sin causar daño antes de que cobre más fuerza?

En medio de tanta incertidumbre, todo es posible. Si el crecimiento de la eurozona supera ampliamente las expectativas en los próximos años, los balances de los bancos se fortalecerían y los bolsillos de los contribuyentes alemanes se volverían más voluminosos. Los países periféricos podrían experimentar un crecimiento suficiente para ir cumpliendo sus ambiciosos compromisos de austeridad.

Sin embargo, es mucho más probable que la estrategia de hoy conduzca a un estallido y a una restructuración desordenada. ¿Por qué el pueblo griego (por no hablar de los irlandeses y los portugueses) tendrían que aceptar años de austeridad y lento crecimiento a fin de conseguir apuntalar los sistemas bancarios francés y alemán, a menos que reciban grandes sobornos para hacerlo? Como el profesor de Stanford Jeremy Bulow y yo mostramos en nuestro trabajo sobre la deuda soberana en la década de 1980, rara vez se puede exprimir a los países para que realicen pagos netos (pagos menos nuevos préstamos) a entidades extranjeras de más de unos cuantos puntos porcentuales y por algunos años. La actual estrategia de la UE y el Fondo Monetario Internacional pide que estos pagos se realicen a lo largo de una o dos décadas. Tiene que hacerlo, no sea que los contribuyentes alemanes se rebelen ante la perspectiva de tener que pagar por Europa a perpetuidad.

Quizás esta vez sea diferente. Tal vez el encanto de pertenecer a una creciente moneda de reserva haga que una recesión y austeridad sostenidas sean posibles de maneras rara vez vistas en la historia. Lo dudo.

Es cierto que, contra todos los pronósticos y la lógica histórica, parece que Europa va a mantener el liderazgo del FMI. Notablemente, en su resignación a la aparentemente inevitable elección del primer puesto, los líderes de los mercados emergentes no parecen darse cuenta de que todavía deben desafiar la prerrogativa de los Estados Unidos de nombrar al extremadamente poderoso número dos del Fondo. El FMI ya ha sido extraordinariamente generoso con los países PIG. Una vez que se enclave el nuevo equipo pro rescate, solo podemos esperar más generosidad, sin importar si estos países adhieren a sus programas.

Por desgracia, un FMI con gran permisividad es lo último que Europa necesita en estos momentos. Con su crisis constitucional, hemos llegado exactamente al momento en que el FMI debe ayudar a la eurozona a tomar decisiones difíciles que no puede adoptar por sí misma. El Fondo debe crear programas para Portugal, Irlanda y Grecia que restablezcan la competitividad y reduzcan la deuda, y les ofrezcan una esperanza realista de un retorno al crecimiento económico. El FMI debe impedir que los europeos permitan que su parálisis constitucional convierta la bola de nieve de la eurozona en una avalancha mundial.

En ausencia del FMI, la única institución con capacidad de actuar es el ferozmente independiente Banco Central Europeo. Pero si el BCE asume por completo el papel de "prestamista de último recurso", en última instancia, caerá en la insolvencia él mismo. No es manera de asegurar el futuro de la moneda única.

El final de cualquier crisis es difícil de predecir. Tal vez sea suficiente un colapso mayor de la tasa de cambio del euro, generando un auge de las exportaciones. Tal vez Europa entre en un auge de todos modos. Pero es difícil ver cómo la moneda única puede sobrevivir mucho tiempo más sin un paso decisivo hacia una unión fiscal más sólida.

Kenneth Rogoff es profesor de Economía y Políticas públicas en la Universidad de Harvard y fue economista en jefe del FMI.

Brasil-UE: a tal de relacao estrategica (tem muitas...)

Preocupaciones brasileñas
JOSÉ IGNACIOTORREBLANCA
El País, 17/06/2011

La cuestión no es si Brasil es socio estratégico para la UE, que lo es, sino si la UE es socio estratégico para Brasil

Escribo desde Brasilia, un festival de arquitectura y urbanismo que provoca sensaciones encontradas. Se celebra el XVIII Foro Brasil-Europa y he venido a encontrar la respuesta a una pregunta aparentemente sencilla. Brasil, dicen los documentos oficiales que se manejan en Bruselas, es un socio estratégico para la UE. Que la UE se fije en Brasil es fácil de entender: es ya la octava potencia económica del mundo, habiendo sobrepasado a miembros tradicionales del G-7 como Canadá e Italia, y va camino de convertirse en la quinta. Aquí, el efecto de la crisis ha sido tan leve como increíble el efecto rebote posterior: en 2010 el país creció a un 7.5%, así que lo que en realidad preocupa es un posible sobrecalentamiento de la economía. Brasil tiene algunas cosas de las que los europeos carecemos: una población joven, ingentes recursos naturales, una cesta energética en la que hasta el 40% de su consumo tiene su origen en energías renovables y un entorno geopolítico completamente favorable, pues carece de rivales o enemigos de peso. Para colmo de la envidia, tiene un superávit comercial con China, algo que en Europa cuesta siquiera imaginar. Estamos pues ante una potencia económica, energética y medioambiental de crucial importancia para la Unión Europea.

De todos los BRIC (Brasil, Rusia, India y China), Brasil es el más afín a Europa; además es una democracia y tiene una economía de mercado abierta, lo que no todos los BRIC pueden decir. Como dicen algunos aquí, Brasil es el "extremo Occidente", así que, al menos en teoría, deberíamos jugar en el mismo equipo. La cuestión no es entonces si Brasil es un socio estratégico para la UE, que lo es, sino si la UE es un socio estratégico para Brasil. Para responder a esta pregunta me ha parecido primero necesario averiguar qué quiere Brasil y qué le preocupa. Con las entrevistas que he hecho en el Ministerio de Exteriores brasileño y las ponencias de los participantes he elaborado una lista de preocupaciones.

Por un lado, les preocupa que la UE esté dejando pasar la oportunidad de cerrar las negociaciones comerciales con Mercosur. La presidencia española de la UE desbloqueó las negociaciones, pero los avances han sido escasos, cosa que atribuyen al proteccionismo agrícola de la UE y a los ciclos electorales europeos. También están preocupados por las no-admisiones de turistas brasileños a territorio Schengen y las condiciones, dicen que humillantes, en las que se gestionan estas repatriaciones. De igual forma, protestan por el bloqueo europeo a las exportaciones de etanol (Brasil es el primer exportador mundial), así como por la indiferencia de los europeos a la hora de calcular el impacto de sus regulaciones sobre la industria brasileña (se cita como ejemplo la directiva REACH sobre productos químicos, cuyas 273 páginas de normas obligan a las empresas brasileñas a invertir ingentes recursos en entender cómo aplicarla correctamente).

Otra preocupación es que los organismos internacionales estén llenos de europeos y que estos les presionen para secundar sus posiciones sin a cambio satisfacer los objetivos brasileños. Brasil ha hecho del logro de un asiento permanente en el Consejo de Seguridad de Naciones Unidas un elemento central de su política exterior, pero los europeos no apoyarán esa demanda mientras siga prefiriendo alinearse con Rusia y China antes que con ella en las votaciones. Brasil se abstuvo en la votación del Consejo de Seguridad de la ONU sobre Libia. Lejos de arrepentirse, los brasileños señalan que los bombardeos de la OTAN sobre Trípoli en busca de Gadafi exceden el mandato original de la Resolución 1.973 y confirman que hicieron lo adecuado.

Pero si algo preocupa de verdad aquí es la desindustrialización. Brasil lo ha apostado prácticamente todo a la exportación de materias primas: además de dos millones de barriles de petróleo, el país es el primero del mundo en exportaciones de café, azúcar, tabaco y vacuno, y segundo en exportaciones de soja. Aunque China compra una gran parte de esas materias, a cambio inunda su mercado de manufacturas baratas con un yuan artificialmente devaluado, lo que tiene el efecto de hundir la industria nacional y desplazar los productos brasileños de sus mercados naturales latinoamericanos, también por cierto de los africanos (nótese que en la última década Brasil ha quintuplicado su comercio con África y abierto 35 nuevas embajadas). Esta lista de preocupaciones, tan diferente de las nuestras, es la madeja que Europa tiene que desenredar si quiere ser escuchada por Brasil. Hacerlo no parece precisamente fácil, pero sí inevitable si se quiere ser estratégico para Brasil.

Twitter: @jitorreblanca

sábado, 18 de junho de 2011

O governo constroi agora a crise futura...

Existem pessoas que pretendem que tudo vai bem, no melhor dos mundos. São os otimistas, ou inconscientes...
Existem outras, entre as quais me incluo, que pretendem ver um pouco além do que nos oferecem políticos, economistas irresponsáveis e outros aventureiros.
Sempre se deve ver um pouco mais longe do que a conjuntura imediata...
É o que nos oferece este editorial:

Governo e política salarial estimulam a inadimplência
Editorial - O Estado de S.Paulo
18 de junho de 2011

Nas últimas semanas aumentou bastante a inadimplência, sinal de excesso de demanda, renda insuficiente e endividamento além da renda. O mais urgente desafio para o Brasil, hoje, é aumentar a poupança, tanto a do governo quanto a das famílias, isto é, reduzir o consumo que o governo de Lula estimulou por diversos meios, como o crédito em consignação, a expansão do crédito subsidiado e a redução da taxa de juros - embora ela ainda seja muito alta, em grande parte por causa da poupança insuficiente.

Apesar desse quadro, podemos considerar que a economia brasileira na realidade estimula a inadimplência, que está mais elevada em razão de uma política habitacional que criou um endividamento suplementar, que poderia ser positivo se fosse acompanhado por medidas que restringissem as vendas a prestações e o uso dos cartões de crédito.

O estímulo à inadimplência tem, no momento, duas fontes principais: a política de gastos do governo e a perspectiva de aumentos salariais generosos já neste ano - e, mais ainda, a perspectiva de um aumento maior no próximo ano sem nenhuma justificativa vinculada a um aumento paralelo da produtividade.

O governo federal está prevendo para este ano um aumento de 10% das suas receitas e considera que poderá aumentar seus gastos numa proporção ligeiramente inferior à elevação das receitas, porém muito acima do crescimento do PIB. Nessa situação, o País não eleva sua poupança interna e até recorre à poupança externa. Não aparece uma decisão firme de conter realmente os dispêndios para se obter poupança. Não há dúvida de que as famílias contam, inconscientemente, com o aumento dos gastos governamentais que têm um papel importante na liquidez da economia. Assim, mantêm seus gastos apostando numa melhora futura que lhes permitirá honrar seus atrasados.

A política salarial, num clima de quase pleno emprego, tem efeito ainda mais nocivo, pois leva as famílias a não se preocupar muito com as suas dívidas, que pretendem saldar por meio dos aumentos que receberão neste ano, fugindo a qualquer preocupação com o futuro e sem pensar muito nos efeitos inflacionários desses reajustes, que, na realidade, reduzem o poder aquisitivo. A perspectiva é agravada quando se leva em conta que, no próximo ano, o salário mínimo será aumentado em cerca de 14% justamente para as famílias mais endividadas, que sacam sobre o futuro sem levar em conta que o plano de ter casa própria justificaria, na verdade, um aumento da poupança.

Celebrando o segredo e a impunidade: uma mania em certos circulos...

Não sei se outras pessoas admitem ser chanadas de idiotas. Eu não admito. Mas admito minha total falta de poder para mudar o que me parece ser uma agressão imbecil à minha inteligência.
O governo está dizendo que eu não sou capaz de controlar o que o governo faz, e que eu faria melhor ficando quieto enquanto ele gasta o meu dinheiro, aquele que eu ganho com o meu trabalho e que ele arrecada por impostos diretos, indiretos, contribuições, taxas e um sem número de outras fórmulas usadas para extorquir dinheiro dos brasileiros.
O governo está pedindo que eu seja um idiota calado, o que me recuso a ser.
Como disse, e repito, não tenho poderes para impedir isso. Acredito que a oposição, ou brasileiros dignos que trabalham nessa área, podem, devem, na verdade, impugnar essa legislação celerada do governo que lhe permite gastar dinheiro sem controle e sem prestar contas.
Não é possível fazer a toda uma nação de idiota, chamar-nos a todos de imbecis.
Não admito isso, mas a única coisa que posso fazer, no momento, é protestar por este modesto instrumento, e tornar outros leitores conscientes de que o governo pretende chamá-los de idiotas e usar como sabe o seu dinheiro, com a repetição de tudo aquilo que sabemos que acontece quando se trata de dinheiro público e hordas, enxames, ratazanas de sugadores contumazes dos recursos coletivos. A mim não me enganam...
Paulo Roberto de Almeida

Sigilo para a bandalheira
Editorial - O Estado de S.Paulo
17 de junho de 2011

Se fosse permitido brincar com coisa séria, poderia se dizer que o governo ganhou a final de um campeonato com um gol de mão, em impedimento, depois dos acréscimos. É a comparação que ocorre diante da aprovação, tarde da noite de anteontem, do texto básico da Medida Provisória (MP) 527, que institui regras especiais para a realização de obras e serviços relacionados com a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Ou, no jargão oficial, o Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC). O texto afinal vitorioso foi apoiado por 272 deputados; outros 76 votaram contra e 3 se abstiveram.

Desde o ano passado, o Planalto vinha tentando driblar os dispositivos da Lei 8.666, que regulamenta as licitações oficiais, a pretexto de assegurar a modernização, a toque de caixa, da negligenciada infraestrutura nacional, para o País não passar vergonha nos dois maiores eventos esportivos do globo. Na quinta tentativa de legislar sobre a matéria no bojo de outras propostas, o governo terminou por alojá-la na MP que trata da criação da Secretaria de Aviação Civil. A oposição insistiu, com bons motivos, para que o assunto fosse objeto de um projeto específico. Mas, determinado a mostrar força e serviço depois da paralisia provocada pelo escândalo Palocci, o Planalto deu as costas à alternativa.

Já para a base aliada não faltaram concessões. É o caso da inclusão de aeroportos em capitais a 350 quilômetros de uma sede da Copa no novo regime de obras. Originalmente, o tratamento especial se restringia às cidades-sede. Além disso, esses municípios poderão tomar empréstimos até 2013 sem levar em conta seu limite de endividamento. Mas isso ainda é detalhe perto das facilidades que compõem o RDC. A principal delas desobriga as empresas interessadas de apresentar o projeto básico da empreitada antes da licitação. A MP chama isso de "contratação integrada". O nome mais adequado seria "contratação no escuro".

O governo alega que as contratadas não poderão fazer aditivos para aumentar o preço que pediram no momento da concorrência. Mas não parece excluída a hipótese de o governo aumentar até quanto bem entender o valor de um contrato. Na Lei de Licitações, o teto varia de 25% (no caso de obras novas) a 50% (quando se tratar de reformas). Se assim é, uma porta se fecha enquanto outra se escancara. Mas o gol de placa da MP - gol contra o dever elementar do setor público de dizer sem subterfúgios o que faz com o dinheiro do contribuinte - é a cláusula que livra o governo de informar à sociedade quanto pretendia gastar com determinada obra ou serviço. É a desfaçatez do orçamento secreto.

Assim como o contratado não precisou fazer um projeto para vencer a licitação, o contratante (União, Estado ou município) poderá ocultar o valor que estava disposto a desembolsar. No limite, o País ficará sem saber se a Copa custou menos ou mais do que o previsto - e por quê. Na primeira versão desse verdadeiro habeas corpus preventivo para a bandalheira, o governo ainda aceitava que os órgãos fiscalizadores, como os Tribunais de Contas, poderiam exigir informações sobre as importâncias em jogo a qualquer momento - antes ou depois da licitação. E poderiam também divulgar os dados recebidos. O Planalto deve ter concluído, delubianamente, que "transparência assim já é burrice".

E, na undécima hora, baixou as persianas por completo. Os órgãos de controle não só perderam a prerrogativa de se manter informados em qualquer etapa da obra - o governo é que decidirá o que lhes repassar e quando -, como ainda ficarão proibidos de tornar pública a documentação obtida. Atribui-se à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, o argumento de que a Constituição admite o sigilo quando do interesse do Estado e da sociedade. É tratar os brasileiros como um ajuntamento de pascácios. O único interesse que essa obscenidade preservará será o da corrupção. O sigilo impedirá um Tribunal de Contas de instruir um processo em casos suspeitos.

A votação da MP não está concluída. A Câmara ficou de deliberar no próximo dia 28 sobre os destaques acrescidos ao texto. Quem sabe será possível então torná-lo um pouco menos acintoso.

Contra a divisao politica do Brasil: uma simples homenagem

Certas pessoas, em especial certos políticos, só conseguem viver, e alguns até prosperar, semeando a cizânia, a divisão, a oposição, entre pessoas, entre as classes (ou o que lhes parecer ser uma sociedade dividida em classes), entre partidos, enfim, categorias inteiras de cidadãos divididos.
Já se viu muito disso aqui no Brasil e em certos países vizinhos: é aquela coisa do "nós e eles", do "povo e a elites", dos "pobres e ricos", sempre contra, sempre em contradições, sempre em posturas opostas dos "bonzinhos" e "malvados", dos "virtuosos" e dos "perversos", enfim, uma maneira de ganhar dividindo, fragmentando, esquartejando, denegrindo os outros para poder realçar suas "qualidades" (muitas vezes falt de).

Não sou especial admirador dos supostos "grandes homens": todos tem seus motivos, suas fraquezas, suas ambições. Muitos se lançam na vida política por vaidade, mais do que por desejo sincero de ajudar o país e a sociedade. Mas alguns acabam fazendo mais bem do que mal, por possuírem melhores
qualidades pessoais e algumas noções de administração. Outros pensam fazer o bem, e acabam provocando problemas que vão se refletir mais adiante, ainda que possam trazer benefícios no curto prazo. Se eles ainda tentam dividir a sociedade, para promover seus objetivos pessoais, então, o mal que fazem é incomensurável. Mas isso só se pode perceber depois...
Não creio que se deva ser reverencial a FHC, mas concordo em que ele foi um dos melhores presidentes que tivemos, talvez não o melhor (pois isso depende de um julgamento mais ponderado, e objetivo), mas certamente um dos melhores, mais responsáveis, em todo caso.
Quanto a seu sucessor, um julgamento objetivo ainda não foi feito. Mas ele será feito, inclusive por mim, quando a ocasião for conveniente.
Minha modesta homenagem, e minha advertência estão feitas...
Paulo Roberto de Almeida

FHC, o presidente mais importante da história do Brasil, faz 80 anos hoje
Reinaldo Azevedo, 18/06/2011

O Brasil teve dois presidentes da República realmente fundamentais para a sua história: Getúlio Vargas e Fernando Henrique Cardozo. O primeiro descobriu o poder do estado na definição dos rumos de um país; o segundo, o poder da sociedade. Essas coisas não são um campeonato, mas, se eu tivesse de escolher, é evidente que ficaria com FHC. Com ele, não só o Brasil criou os marcos fundamentais para ocupar um lugar de destaque entre as economias emergentes como viu avançar o controle democrático do poder e do estado.

Na sexta-feira, dia 10, estive na Sala São Paulo, na festa que comemorou os seus 80 anos. FHC está de bem com a vida, feliz, ciente do seu legado e atento aos desafios presentes, com a lucidez de sempre. Fez uma brevíssima saudação aos convidados, exaltando, uma vez mais, a tolerância, a civilidade e a alegria de viver. Tendo prestado um enorme serviço aos brasileiros e ao Brasil, ele nos lembra que podemos, sim, ter um bom futuro.

Curiosamente, ou até por isto, o mais importante presidente da nossa história sofreu um tentativa de desconstrução inédita, com uma virulência como jamais se viu. Nem mesmo a ditadura avançou contra a herança do regime deposto pela “revolução” com a violência retórica com que Luiz Inácio Lula da Silva atacou o seu antecessor — nada menos do que o líder que havia posto fim ao ciclo da superinflação, que havia estabelecido os fundamentos do equilíbrio macroeconômico, que havia vencido alguns entraves históricos ao desenvolvimento. Não só isso: criou e consolidou as bases dos programas sociais no país, que, bem…, o Lula de oposição, ele sim!, chamava de “esmola”, o que está documentado em vídeo. O Apedeuta referia-se aos programas reunidos no Bolsa Família.

Oito anos de ataques implacáveis, sustentados pela mais poderosa máquina de propaganda jamais montada no país! Lula contou, ainda, com o auxílio pressuroso de setores da imprensa e do colunismo adesista, que se referiam — e alguns o fazem até agora — à “privataria” da era tucana, à “ruína” do governo FHC, ao “neoliberalismo” e a fantasias várias para tentar minimizar o papel definidor que o “homem do Real” teve na história do país.

Até ontem à noite, que se soubesse, Lula ainda não havia dado os parabéns àquele que tem a pretensão de ter como rival. Talvez não o faça. O misto de arrogância e insegurança intelectual do petista o impede de reconhecer a obra alheia, a grandeza alheia e até a gentileza alheia. Só conhece a prepotência e a subserviência. Não podendo se impor ao antecessor sob qualquer critério que se queira, então se sente diminuído — e, por essa razão, ataca.

Lula e o PT precisavam criar a farsa da ruptura com o passado para que seu projeto ganhasse identidade. Em certa medida e por um bom tempo, foram bem-sucedidos, ficando para a história o papel de fazer justiça a FHC, o que, de certo modo, já começou a acontecer, mas não sem revelar, contraditoriamente, um traço de morbidez do processo político brasileiro. Explico daqui a pouquinho.

Qualquer reconstituição minimamente honesta da história do país dos últimos 16 anos há de distinguir o homem que quebrou paradigmas e fundou a novidade daquele que teve, sim, o mérito de não tentar surfar contra a onda; há de distinguir o reformador fundamental do estado daquele que o submeteu, em muitos aspectos, a uma involução; há de distinguir o que atuou de olho no futuro daquele que buscou reescrever o passado. FHC sabe que lugar há de lhe reservar a história. E Lula também. E só por isso o tucano é capaz de reconhecer méritos no governo do petista, mas o petista jamais será capaz de reconhecer méritos no governo do tucano.

Em entrevista ao Correio Braziliense, FHC especulou, com algum humor, que Lula talvez tenha algum “problema psicológico” com ele. Tem, sim!, e já escrevi a respeito. Uma história sentimental do petista vai revelar o homem que se construiu eliminando os que o antecederam.

No sindicato, destruiu a velha-guarda na qual se ancorou para subir; no movimento sindical nacional, esmagou antigas lideranças para se tornar o grande líder; na esquerda, tratou com menosprezo ícones do pré-64, como Leonel Brizola (que o chamava de “sapo barbudo”) e Miguel Arraes; no próprio PT, desmoralizou todos aqueles que, ainda que minimamente, ousaram desafiá-lo. Não por acaso, no filme hagiográfico “O Filho do Brasil”, permitiu que o “pai” — refiro-me à entidade freudiana — fosse morto uma vez mais. Lula só sabe existir destruindo. Sua identidade estava, em sua cabeça ao menos, em ser um anti-FHC. De maneira escancarada, sempre fez questão de opor a sua ignorância à sabedoria do outro, destacando que ignorância é força. O esforço, no entanto, e já há sinais evidentes disso, vai se revelando inútil. À medida que o tempo passa, a obra de FHC se agiganta.

Estado mórbido
Aqui e ai já se começa a fazer justiça a FHC — de modo mais acentuado depois que a presidente Dilma Rousseff destacou o papel do tucano na estabilidade econômica e seu espírito democrático. Pois é… A mensagem da presidente parece ter, sei lá, destravado as consciências ou, ao menos, liberado setores da imprensa para reconhecer o óbvio. “Se até Dilma está dizendo, então deve ser mesmo verdade…” A “PeTite aguda” é uma doença do espírito que subordina a inteligência a comandos puramente ideológicos, a despeito dos fatos. É um estado mórbido — e o principal sintoma desse mal é a falta de independência.

Mas deixemos essa gente pra lá. FHC faz 80 anos. Vida longa àquele que nos libertou da condenação ao atraso e soube enxergar, contra a metafísica então influente da política brasileira, que a chave dessa libertação estava em pôr mais sociedade no estado, em vez de mais estado na sociedade.

Parabéns, presidente Fernando Henrique Cardoso!

Um filme, dois cenarios, uma unica realidade...

Estou revendo, na TV, o primeiro filme da série The Goodfather (O Poderoso Chefão, em português), e acabo de ouvir a frase de um dos cappi da mafia, quando ele se dirige ao demais, reunidos pelo dito cujo:


"Don Corleone conseguiu controlar tantos juízes e políticos em Nova York. Ele devia compartilhar com todos nós..."

Mutatis mutandis, me parece algo aplicável em outros países também...

Alguns pretendem dizer que senadores e juízes não matam ninguém. Diferença sutil, talvez...