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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Estupidezes linguisticas: quando procuradores se convertem em policiais da lingua...

Esta crônica abaixo é bem humorada, e provavelmente mais eficiente no desmantelamento do policiamento linguístico  do politicamente correto insuportável que invade hoje todas as esferas públicas, do que meus impropérios habituais, chamando de idiotas consumados todos esses candidatos a censores do idioma que só conseguem ser inquisidores estúpidos de assuntos absolutamente banais...
Em todo caso, como já alertei várias vezes, assusta-me viver num país em que nos descobrimos cercados de idiotas por todos os lados, e que, pior, gastam o nosso dinheiro com causas perfeitamente estúpidas...
Paulo Roberto de Almeida 

Carta aberta a um procurador da República

Uma pequena contribuição ao procurador na sua árdua tarefa de retirar da língua portuguesa todas as expressões que possam ser consideradas ofensivas
José Augusto Carvalho*
CONGRESSO EM FOCO | 03/04/2012
Senhor procurador,
Escrevo-lhe esta carta porque soube que o Sr. entrou com ação na Justiça requerendo a imediata retirada de circulação, suspensão de tiragem, venda e distribuição do dicionário Houaiss, porque no verbete “cigano” há acepções ao seu ver carregadas de preconceito ou xenofobia, apesar da informação explícita no dicionário de que tais acepções são pejorativas. Para o Sr., o texto do verbete afronta a Constituição Federal e pode ser considerado racismo. É para ajudá-lo nessa importante tarefa de cortar as afrontas linguísticas à Constituição da República que lhe escrevo esta carta aberta, na esperança de que ela lhe chegue às mãos.
Há, na língua portuguesa e consequentemente nos dicionários, outros verbetes racistas e preconceituosos que afrontam nossa Carta Magna, como “judiar”, “judiaria”, “judiação”, uma verdadeira apologia ao antissemitismo. Portanto deve-se igualmente requerer que a Justiça mande suprimir do Houaiss e de tantos outros dicionários também o verbo “denegrir” que é um acinte aos afrodescendentes por sua significação pejorativa. Por que o luto tem de ser preto? Envie-se então uma mensagem ao Congresso Nacional para que faça uma lei que proíba a cor negra para o luto. Mande-se retirar também dos dicionários o verbete “mulato”, que se origina do nome “mula” e é uma ofensa também aos que têm a cor da Gabriela de Jorge Amado. Aliás, também deve ser eliminada dos dicionários a expressão “eminência parda”, por sua conotação negativa que agride os que são pardos.
Seria bom também retirar do dicionário o verbete “esquimó”. Na língua do povo mongólico que habita as regiões geladas da Groenlândia, Canadá e Alasca, a palavra “esquimó” significa “comedor de carne crua”, o que é altamente ofensivo para esse povo que prefere ser chamado de “inuit”, que quer dizer “povo”. Os esquimós, digo, os inuits, também merecem o nosso respeito, embora morem longe do Brasil.
Por que não mandar suprimir todos os palavrões dos dicionários? Imagine-se um adolescente ou uma criança que, ao abrir o Houaiss ou o Aurélio, encontre um palavrão desses cabeludos que fariam enrubescer uma freira de pedra. Trata-se de pornografia explícita que deve ser extirpada.
Aliás, por que as notas musicais pretas são de menor valor que as brancas? Trata-se de racismo velado, já que uma semifusa, por exemplo, toda pretinha, vale bem menos que uma semibreve, toda branquinha. Mande-se, portanto, tirar o negrume das notas musicais e apreender todas as partituras, de Bach a Villa-Lobos, por exemplo, porque todas contêm notas pretas de menor valor que as notas brancas.
Mande-se suprimir nos livros de Física a expressão “buraco negro”, e de todos os dicionários expressões como “magia negra”, “humor negro”, “ver as coisas pretas”, todas com conotações altamente ofensivas à raça que tanto fez pelo progresso de nossa Terra.
Aliás, por que não mandar recolher todas as gramáticas da língua que ensinam que a concordância nominal se faz no masculino, mesmo que haja um único homem entre milhões de mulheres? Trata-se de uma agressão às mulheres não prevista na Lei Maria da Penha.
Como vê, Sr. Procurador, sua tarefa é extremamente árdua. Haveria outras coisas a dizer, como o preconceito contra a raça branca, encontradiço também nos dicionários, pois passar a noite em claro, dar um branco (quando se perde momentaneamente a memória), arma branca, casamento branco, elefante branco, greve branca, intervenção branca, versos brancos, escravatura branca, viúva branca, ditadura branca, e outras mais, são expressões que devem ser abolidas por sua conotação pejorativa, nitidamente racista.
Se de todo for impossível acabar de vez com os dicionários e livros científicos, cuja função é exatamente a de informar e ensinar sem preconceitos, só lhe resta uma solução, dada a dificuldade de cumprir a missão de salvar a língua portuguesa e a cultura brasileira dos preconceitos e afrontas à Lei Maior: desista dessa ação.
Um abraço fraterno do José Augusto Carvalho
*Mestre em Linguística pela Unicamp e Doutor em Letras pela USP

Militantes Negros querem revogar a lei da oferta e da procura

Eu às vezes me pergunto se é só estupidez, mesmo, ou se é racismo puro,  entranhado na mente desses militantes da causa negra, que pretendem obrigar comerciantes privados -- não necessariamente formados em altas escolas de comércio ou em cursos de administração, mas que devem ter algum instinto de mercado -- a fixarem preços administrados, segundo sua concepção idiota de valores econômicos, em patamares que eles julgam serem politicamente aceitáveis, mas que não são, provavelmente, economicamente realistas.
Certas pessoas acham que pelo fato de as bonecas "serem praticamente iguais", elas deveriam ter o mesmo preço: elas querem eliminar as preferências dos consumidores e o direito dos comerciantes realizarem um lucro maior sobre a procura dos clientes, o que é humanamente compreensível (menos para certos energúmenos).
Elas querem fazer o MP obrigar os comerciantes a "igualar os preços" das bonecas. 
Mas a minha sugestão é melhor: os comerciantes deveriam cobrar mais caro pelas bonecas negras, pois assim os militantes da causa receberiam a distinção -- embora duvidosa econômicamente -- de terem "suas" bonecas mais "valorizadas".
Não é uma solução perfeita para um problema perfeitamente estúpido?
Em todo caso, creio que o Brasil está se encaminhando para uma dupla trajetória muito triste: crescente estupidez nacional e racismo explícito, ao contrário.
Paulo Roberto de Almeida 

Conselho vai investigar caso de bonecas em feira
O Globo, 3/04/2012

Entidade pode recorrer ao MP se artesã não igualar preços de brancas e negras em Ipanema

RIO - O Conselho Estadual dos Direitos do Negro (Cedine) enviará três representantes à Feira Hippie de Ipanema, no domingo, para checar a diferença de preço entre bonecas de pano negras e brancas. Como noticiou na terça-feira Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO, uma barraca cobra R$ 85 pelas brancas e R$ 65 pelas negras, embora as duas sejam praticamente iguais.

Presidente da entidade, Paulo Roberto dos Santos disse que os conselheiros tentarão conseguir com a dona da barraca uma explicação para a diferença de preços. Se os argumentos não forem convincentes, e se a proprietária se recusar a rever os valores, o conselho poderá encaminhar ao Ministério Público uma denúncia de discriminação:

— Nós resolvemos que, antes de qualquer atitude, vamos lá no domingo ver de perto essa situação, se tem a ver com algum preconceito. E vamos, primeiramente, convencer a pessoa a tratar com isonomia, com igualdade (brancas e negras). Se ela se recusar, vamos fazer uma denúncia formal ao Ministério Público e procurar a Defensoria Pública — disse Paulo.

A decisão de ir à feira foi tomada em reunião do Cedine, à qual estiveram presentes representantes do Conselho de Entidades Negras do Interior do Estado do Rio e da Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio.

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Ainda falando de livros: Carlos Zafon - O Jogo do Anjo


O Jogo do Anjo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Jogo do anjo (em espanhol El Juego del Ángel) é um livro lançado em 2008,escrito pelo espanhol Carlos Ruiz Zafón.

[editar]Sinopse


Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita algumas moedas ou um elogio em troca de uma história. Nunca esquece a primeira vez em que sente o doce veneno da vaidade no sangue e começa a acreditar que, se conseguir disfarçar sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de garantir um teto sobre sua cabeça, um prato quente no final do dia e aquilo que mais deseja: seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente vai viver mais do que ele. Um escritor está condenado a recordar esse momento porque, a partir daí, ele está perdido e sua alma já tem um preço.
Assim começa O Jogo do Anjo, livro em que o catalão Carlos Ruiz Zafón explora novos ângulos da cidade onde ambientou A Sombra do Vento, sucesso que já ultrapassou a marca dos 10 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo desde o seu lançamento, em 2001.
Maior lançamento do mercado editorial espanhol de 2008, O Jogo do Anjo chegou às livrarias do país com uma tiragem recorde de mais de um milhão de exemplares. No Brasil, primeiro país a publicar uma tradução do romance, o livro sai pelo selo Suma de Letras com tiragem inicial de 80 mil exemplares. Já lançado na ArgentinaChileColômbia e México, a obra figura no topo das listas de livros mais vendidos desses países.
Enquanto guia seus leitores por cenários familiares, como a pequena livraria Sempere e Filhos e o mágico Cemitério dos Livros Esquecidos, Zafón constrói uma história que mistura o amor pelos livros, a paixão e a amizade. O autor conta que se permitiu brincar com o formato da obra, que combina diferentes estilos: “O Jogo do Anjo é, a meu ver, uma história de mistério e romance que, como a A Sombra do Vento, explora e combina numerosos gêneros, técnicas e registros. É novamente uma história de livros, de quem os faz, de quem os lê e de quem vive com eles, através deles e até contra eles. É uma história de amor, amizade e, em alguns momentos, sobre o lado obscuro de cada um de nós. Pelo menos essa é minha ambição, oferecer ao leitor uma experiência intensa e convidá-lo ao jogo da literatura.”
O protagonista e narrador do romance é David Martín, um jovem escritor que vive em Barcelona na década de 20. Aos 28 anos, desiludido no amor e na vida profissional e gravemente doente, o escritor David vive sozinha sozinho num casarão em ruínas. É quando surge Andreas Corelli, um estrangeiro que se diz editor de livros. Sua origem exata é um mistério, mas sua fala é suave e sedutora. Ele promete a David muito dinheiro, e sua simples aparição parece devolver a saúde ao escritor. Contudo, o que ele pede em troca não é pouco. E o preço real dessa encomenda é o que David precisará descobrir.
O Jogo do Anjo traz alguns dos personagens de A Sombra do Vento. No entanto, de acordo com o autor, o livro não é uma continuação de sua obra anterior, mas sim uma segunda investida em uma narrativa “centrada em um mesmo universo literário. É como uma caixinha chinesa, um labirinto de ficção em que há quatro portas de entrada”.


Agora, falando de livros, um livro sobre livros - Carlos Zafon

A Sombra do Vento 
Carlos Ruiz Zafón 
Romance   464 páginas 
Tradução: Márcia Ribas 
ISBN: 8573026049


Chega ao Brasil o fenômeno editorial que conquistou os leitores da Espanha e Alemanha e consagrou o espanhol Carlos Zafón como uma das maiores revelações literárias dos últimos tempos
Em meio à profusão de títulos lançados a cada ano no mercado editorial, poucos conseguem conquistar ao mesmo tempo o público e a crítica. A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón, é uma dessas raridades. Por mais de 60 semanas na lista dos livros mais vendidos da Espanha, onde seu sucesso o fez ser considerado um verdadeiro fenômeno literário, o romance repetiu o êxito na edição alemã, que vendeu 100.000 exemplares no primeiro mês, e já conquistou a crítica dos Estados Unidos, onde acaba de ser publicado neste mês de abril. Ao todo, o livro teve 850.000 exemplares impressos nas diversas edições e seus direitos de tradução foram vendidos para 17 países, além de ter sido finalista dos prestigiosos prêmios literários espanhóis Fernando Lara 2001 e Llibreter 2002.
A Sombra do Vento  é uma narrativa de ritmo eletrizante, escrita em uma prosa ora poética, ora irônica. O enredo mistura gêneros como o romance de aventuras de Alexandre Dumas, a novela gótica de Edgar Allan Poe e os folhetins amorosos de Victor Hugo. Ambientado na Barcelona franquista da primeira metade do século XX, entre os últimos raios de luz do modernismo e as trevas do pós-guerra, o romance de Zafón é uma obra sedutora, comovente e impossível de largar. Além de ser uma grandiosa homenagem ao poder místico dos livros, é um verdadeiro triunfo da arte de contar histórias.
Tudo começa em Barcelona, em 1945. Daniel Sempere está completando 11 anos. Ao ver o filho triste por não conseguir mais se lembrar do rosto da mãe já morta, seu pai lhe dá um presente inesquecível: em uma madrugada fantasmagórica, leva-o a um misterioso lugar no coração do centro histórico da cidade, o Cemitério dos Livros Esquecidos. O lugar, conhecido de poucos barceloneses, é uma biblioteca secreta e labiríntica que funciona como depósito para obras abandonadas pelo mundo, à espera de que alguém as descubra. É lá que Daniel encontra um exemplar de A Sombra do Vento,do também barcelonês Julián Carax.
O livro desperta no jovem e sensível Daniel um enorme fascínio por aquele autor desconhecido e sua obra, que ele descobre ser vasta. Obcecado, Daniel começa então uma busca pelos outros livros de Carax e, para sua surpresa, descobre que alguém vem queimando sistematicamente todos os exemplares de todos os livros que o autor já escreveu. Na verdade, o exemplar que Daniel tem em mãos pode ser o último existente. E ele logo irá entender que, se não descobrir a verdade sobre Julián Carax, ele e aqueles que ama poderão ter um destino terrível.
Em sua busca de início aparentemente inocente, Daniel acaba adentrando os mistérios e segredos mais obscuros de Barcelona, e conhece uma galeria de personagens que vão ajudá-lo a resolver o mistério de Carax. Dom Gustavo Barceló, célebre livreiro barcelonês, seriamente interessado em comprar o exemplar de A Sombra do Vento que Daniel lhe mostra; sua linda sobrinha cega, Clara Barceló, que revela a Daniel os primeiros elementos do mistério que cerca Carax e sua obra e por quem o menino se apaixona perdidamente; Fermín Romero de Torres, mendigo de passado glorioso e aguçado senso de humor que se tornará o maior aliado de Daniel na busca da verdade; Nuria Monfort, mulher triste que guarda em seu apartamento escuro um grande e doloroso segredo; e Javier Fumero, o cruel policial que também parece dedicar a vida a perseguir o fantasma de Julián Carax.
À medida que vai descobrindo mais sobre a vida de Carax, Daniel entende que o mistério de sua obra está de alguma forma relacionado à história de amor entre dois jovens do início do século: o próprio Carax, filho de um modesto chapeleiro, e Penélope Aldaya, filha de uma família da alta sociedade de Barcelona. E enquanto a cidade e seus personagens vão aos poucos lhe revelando os segredos e as conseqüências dessa história de amor do passado, o próprio Daniel também descobre o verdadeiro amor nos braços de Bea, irmã mais velha de seu melhor amigo Tomás Aguilar.
A Sombra do Vento usa o cenário grandioso de Barcelona, com suas largas avenidas, seus casarões abandonados, sua atmosfera gótica e espectral, para ambientar um romance arrebatador que é também uma reflexão sobre o poder da cultura e a tragédia do esquecimento. A busca de Daniel marca sua transformação de menino em homem, e desperta no leitor um fascínio renovado pelos livros e pelo poder que eles podem exercer. Ao ler A Sombra do Vento, o desejo que se tem é de, assim como o menino Daniel, abrir as portas do Cemitério dos Livros Esquecidos e descobrir em seus infindáveis corredores o livro que mudará nossas vidas.
Carlos Ruiz Zafón nasceu em Barcelona, em 1964. Em 1993, ganhou o prêmio Ebedé de literatura com seu primeiro romance, O Príncipe da Névoa, que vendeu mais de 150.000 exemplares na Espanha e foi traduzido em vários idiomas. Desde então, publicou quatro romances e transformou-se em uma das maiores revelações literárias dos últimos tempos com A Sombra do Vento, finalista dos prêmios literários espanhóis Fernando Lara 2001 e Llibreter 2002. O autor vive há sete anos em Los Angeles, onde escreve roteiros para o cinema e trabalha em um novo romance. Zafón colabora também nos jornais espanhóis La Vanguardia e El País.
Desde muito jovem, Zafón já tinha o dom de inventar histórias e era conhecido por assustar os colegas de colégio com seus relatos tenebrosos. "Sempre fui fascinado pelo mundo dos robôs, das aparições, dos fantasmas, dos palacetes modernistas, dos túneis [...]. Na minha literatura, gosto de explicar histórias a partir de imagens, e misturo relato de intrigas, relato de aventuras, romance gótico e romance histórico não-realista. Acho tedioso dizer: ‘Fulano está triste.’ O que quero é fazer o leitor sentir a tristeza. Tecnicamente é mais complicado, mas dramaticamente tem mais força e é um desafio", diz o autor.
Ao mudar-se para os Estados Unidos, Zafón ficou chocado com "os enormes hangares cheios de livros antigos, verdadeiros tesouros, que estão virando supermercados e McDonald’s". "Noto uma destruição da memória e toda uma indústria da falsificação da história para justificar o presente", afirma ele. Essa preocupação do autor permeia a narrativa de A Sombra do Vento, ambientado em uma Barcelona ainda não atingida pela sociedade de consumo. Zafón justifica a ambientação de seu romance em meados do século "por se tratar de um momento histórico fascinante onde a cultura da banalidade ainda não estava tão desenvolvida, e onde os ideais ainda eram importantes".
Repercussão na Imprensa Estrangeira
Die Welt, Alemanha
Um presente para a fantasia
Por Michel Friedman, 7/12/2003
Existem livros que fazem sonhar, que são um presente para a fantasia. Quando alguém lê um livro como esse, sente-se bem, não quer ser incomodado por nada nem por ninguém, e deseja apenas mergulhar no mundo dos personagens. A Sombra do Vento é um presente assim.
Pelos olhos de um menino, o leitor é apresentado ao mundo dos livros.
O menino Daniel, cujo pai é dono de um sebo, tem a chance de se tornar dono de um livro esquecido, e escolhe o romance A Sombra do Vento. À medida que ele vai crescendo, ficam cada vez mais evidentes as semelhanças entre a vida desse jovem e a história contada no livro. Numa narrativa interessante, extremamente sensível e que prende a atenção do leitor, o livro conta uma história cheia de amor e sentimentos. Também tem papel especial no enredo o conflito político da época franquista, a atmosfera de medo do período da ditadura e a alegria proporcionada pela liberdade. Reserve dois dias e uma noite e deixe-se enfeitiçar por uma história fascinante, comovente e política. Perca bastante tempo com o capitulo final, que instiga ainda mais a fantasia e constitui uma pequena obra-prima dentro da obra-prima maior que é A Sombra do Vento.
Kirkus Reviews, Estados Unidos
Crítica recomendada, 1/3/2004
As histórias de um livro misterioso e seu enigmático autor são elaboradamente desvendadas neste vigoroso romance dickensiano: o primeiro livro de um romancista espanhol que hoje mora nos Estados Unidos. Conhecemos seu simpático narrador Daniel Sempre em 1945, quando ele é um menino de 11 anos levado pelo pai, um dono de sebo barcelonês, a uma biblioteca secreta conhecida como Cemitério dos Livros Esquecidos. Fascinado, Daniel "escolhe" um romance desconhecido, A Sombra do Vento, complicada intriga cujo autor, Julián Carax, diz-se ter fugido da Espanha quando estourou a Guerra Civil e mais tarde morrido em Paris. Carax e seu livro deixam Daniel obcecado durante uma década, à medida que ele se torna homem, fica fascinado, quando não apaixonado, por três mulheres inesquecíveis, e chega cada vez mais perto de entender quem foi Carax e qual foi sua ligação com a família do tirânico dom Ricardo Aldaya — e por que um sinistro estranho "sem rosto" que se identifica como a criação ficcional de Carax, Laín Coubert ("o demônio"), aparentemente "saiu das páginas de um livro para poder queimá-lo". As investigações de Daniel são auxiliadas, e algumas vezes atrapalhadas, por uma variada galeria de personagens coadjuvantes que são evocados de forma vívida. Entre eles está a reservada tradutora Nuria Monfort (que sabe mais sobre os anos parisienses de Carax do que revela de início); Jacinta Coronado, a criada da família Aldaya, confinada a um hospício para esconder o que sabe; o enérgico Sancho Pança de Daniel, Fermín Romero de Torres, mendigo de muita personalidade que trabalha como "detetive bibliográfico" na livraria dos Sempere; e o vingativo inspetor de polícia Javier Fumero, um perseguidor na tradição de Javert cuja recusa em acreditar que Carax esteja morto antecipa o clímax da narrativa — onde Daniel percebe ser muito mais do que apenas um leitor da intrincada e triste história de Carax. A Sombra do Vento vai mantê-lo acordado à noite — e será um tempo bem empregado. O livro é absolutamente maravilhoso.

O Gulag da Coreia do Norte - Liberation (France)


Kwan-li-so, le goulag nord-coréen scruté par les Nations unies
Par ARNAUD VAULERIN
Libération (França), 4/04/2012

Au moment où la Corée du Nord s'apprête á célébrer, le 15 avril, le centième anniversaire de la naissance de son père fondateur, Kim Il-sung, deux rapports d'enquêtes et de témoignages viennent rappeler la réalité du goulag dans la dynastie des Kim. Publiés hier, les deux documents prônent une action urgente de l'ONU.

Quels sont les objectifs des rapports?
Le premier est un état des lieux et un outil juridique pour éclairer la situation des prisonniers politiques en Co-rée du Nord. Il est soutenu par une quarantaine de grandes ONG regroupées dans la Coalition mondiale pour mettre un terme aux crimes contre l'humanité en Corée du Nord (ICNK). Il exige que le mécanisme onusien des procédures spéciales soit instauré pour qu'une enquête sur les goulags soit menée de toute urgence. L'ONU avait fait usage de ce système de consultation tous azimuts pour obtenir des informations sur les personnes détenues par les Etats-Unis à Guantánamo. Le second document détaille la situation des proches de Kang Cheol-hwan et Shin Dong-hyuk, deux survivants des camps de concentration nord-coréens ayant fui au sud.

Qu'est-ce que Kwan-li-so?
C'est l'autre nom du goulag nord-coréen que l'on connaît mieux depuis la publication de Hidden Gulag en 2003 par le comité américain pour les droits de l'homme en Corée du Nord. Entre 150 000 et 200 000 personnes seraient internées dans six camps nichés dans le nord du pays. Placés sous la coupe de l'Agence de la sécurité nationale, tous sont des forteresses qui fonctionnent en autarcie. Les tortures, exécutions, travaux forcés sont le quotidien des prisonniers - adultes comme enfants -, qui doivent également affronter le froid sibérien, les dénonciations et les famines. Les rations alimentaires sont si insuffisantes qu'un ancien garde du Camp 22 a noté qu'entre 1500 et 2000 prisonniers mouraient de faim chaque année. Certains régurgitent leurs aliments, d'autres s'empêchent de déféquer pour garder le ventre plein. L'ICNK avance que 400 000 prisonniers sont morts dans ces camps depuis leur création, en 1953.

Quelles sont les victimes du goulag?
Tous ceux qui «agissent mal», «pensent mal», ont de «mauvaises fréquentations» ou pratiques religieuses, et les familles ayant des transfuges dans leur rang. Pour ce délit, Pyongyang a inventé la culpabilité par association. Ce qu'avait théorisé Kim Il-sung en 1972: «La semence des ennemis de classe, quels qu'ils soient, doit être éliminée sur trois générations.» Kim Jong-un, son petit-fils arrivé au pouvoir en décembre, a conservé les préceptes.

O Brasil a caminho do fascismo economico: evidencias contundentes...

Fascismo econômico é quando um governo, qualquer governo, retem para si a capacidade de ditar regras a empresários privados. Sem nacionalizar ou estatizar indústrias, sem deter diretamente a posse de companhias, o governo, ainda assim diz o que devem, o que podem, o que precisam fazer os agentes econômicos do setor privado.
Fascistas econômicos se julgam donos do país: eles acham que eles sabem melhor do que os milhões de habitantes do país e que os milhares de empresários produtivos o que é ou não bom o país produzir, quanto produzir, como produzir, como introduzir no mercado nacional e nos mercados externos -- na outra direção não é bem visto -- enfim, esses burocratas de meia tigela sempre se acham detentores de uma sabedoria ímpar, superior a que os mercados entregam, em pequenas pílulas quotidianas.
Não é lindo?
Ou estarei enganado?
Paulo Roberto de Almeida 


Governo decide elevar exigência de conteúdo nacional em veículos
Por Edna Simão, João Villaverde, Eduardo Laguna, Marli Olmos e Vanessa Jungerfeld
Valor Econômico, 4/04/2012

O governo decidiu elevar em dez pontos percentuais a quantidade mínima de componentes locais (do Mercosul) exigida para veículos produzidos no Brasil. Os que não contemplarem a exigência serão sobretaxados com IPI mais elevado. A medida, que entrará em vigor em 2013, toca numa ferida do setor. Os detalhes não apareceram durante o anúncio do pacote. Mas vieram à tona, numa entrevista da equipe da Fazenda, ao fim da tarde.
O governo também declarou sua forma de calcular de conteúdo local. A regra em vigor no país hoje exige um mínimo de 65% para o veículo ser considerado nacional e, assim, não ser sobretaxado com adicional de 30 pontos no IPI. No cálculo atual, o percentual inclui não apenas peças como outros gastos de produção, incluindo até propaganda. O setor usa, de fato, 45% de peças locais (produzidas no Mercosul), segundo o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa.
A partir de 2013, o conteúdo nacional passará a levar em conta apenas componentes e o percentual mínimo será elevado em dez pontos, passando para 55%.
Com a medida, o governo atende reivindicação da indústria de autopeças e dos sindicatos de metalúrgicos, que passaram os últimos meses tentando convencer o governo a reformular o cálculo. Mas contraria as montadoras, que evitavam a mudança.
O novo regime automotivo embute a boa intenção do governo de aproximar o nível de desenvolvimento tecnológico das filiais brasileiras de seus países de origem. Essas empresas terão de investir o mínimo de 0,15% da receita operacional bruta em inovação em 2013 e 0,5% em 2017. Está previsto também aumento no número mínimo de processos fabris. O incentivo vai vigorar entre 2013 e 2017
O programa não é, no entanto, ainda claro sobre mecanismos a serem adotados não só para aplicar as novas regras como também fiscalizar o cumprimento das exigências atreladas aos benefícios fiscais.
A equipe econômica deverá ter muito trabalho, daqui para a frente, para organizar os detalhes ainda não totalmente esclarecidos, como o formato das cotas de importação para as empresas com planos de produzir no país.
O tratamento para esse período de transição era o mais aguardado pelo setor porque já empresas que já iniciaram o processo de construção de novas fábricas - como as chinesas Chery e JAC e a coreana Hyundai - e outras que esperavam o novo regime para anunciar novos projetos industriais, como BMW e Chrysler. Para esse grupo, foi preciso também criar uma forma de compensar o aumento de IPI.
A solução encontrada pelo governo será a geração de créditos tributários durante a construção de uma nova fábrica. Esse crédito, que se refere aos 30 pontos percentuais adicionais nos carros com conteúdo local inferior a 65% hoje, ficará limitado à metade da capacidade de produção prevista no projeto. Mas a forma de calcular capacidade na indústria automobilística é infinita. Número de turnos, produtividade, características dos veículos e quantidade de processos repassados a terceiros são alguns dos referenciais usados.
Os dirigentes do setor passaram o dia em reuniões e apenas as entidades representativas se pronunciaram por meio de notas. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) considerou a adoção do novo regime automotivo "positiva como fator de valorização da produção nacional, de estímulo à inovação e desenvolvimento tecnológico e incremento dos investimentos da indústria automobilística no país". "O Sindipeças apoia qualquer ação governamental que valorize a indústria instalada no Brasil e amenize os efeitos de políticas econômicas que tiram nossa competitividade de um dia para outro, sem que possamos reagir", disse, em nota, o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Autopeças, Paulo Butori.
Os importadores de marcas sem planos para construir no país adiaram uma posição para hoje. O grupo, representado pela Associação Nacional das Empresas Importadoras (Abeiva), não foi atendido no pedido de ter uma cota de 180 mil veículos por ano sem a taxa adicional de IPI.
Já em Santa Catarina, o governador Raimundo Colombo (PSD), avaliou que o anúncio foi "muito importante" para o Estado e que poderá destravar negociação com BMW. A BMW aguardava as novas regras. Em recente entrevista ao "Diário Catarinense", o presidente da BMW no Brasil, Jörg Henning, disse que a empresa queria, durante a fase entre o compromisso de erguer uma fábrica até o início da produção, uma flexibilização do IPI. As declarações iniciais servem para mostrar que as empresas ficaram satisfeitas com as medidas. Resta ao governo organizar as mudanças que podem, definitivamente, assegurar ao Brasil posição de destaque entre os maiores fabricantes de veículos do planeta.

Furando a bolha do grande pacote de medidas que nao resolvem nada...

Comércio exterior critica pacote e vê protecionismo
Mônica Ciarelli / Rio
O Estado de S. Paulo, 4.04/2012

Para representantes da AEB e da Abece, causa do problema não é atacada e sobretaxa à importação será questionada na OMC

O presidente da Associação de Comércio Exterior no Brasil (AEB), José Augusto de Castro, criticou duramente as medidas de incentivo à exportação anunciadas ontem pelo governo. "Não posso nem dizer que as medidas têm boas intenções porque não têm alcance suficiente para mudar o cenário atual."
O governo, segundo ele, não atacou nenhuma das causas que limitam o crescimento das exportações. Por isso, previu, o efeito do anúncio para o setor será "muito pequeno". "Se é que terá algum impacto", destacou.
Para Castro, as medidas são apenas "retalhos" do que seria necessário para dar competitividade às exportações diante de um real valorizado. "Continuamos aguardando medidas que ataquem as causas do problema. O governo está sempre mexendo nos efeitos."
O executivo admite que, como grandes empregadores, os setores beneficiados pelo Plano Brasil Maior devem ter algum impacto positivo nos custos de pessoal com a desoneração da folha de pagamento, mas adianta que a medida, por si só, não garante uma reversão do cenário atual.
A decisão do governo de ampliar o crédito para o setor também não recebeu elogios do presidente da AEB. Pelo contrário, ele é taxativo ao dizer que só há necessidade de mais linhas de financiamento quando o exportador consegue vender o produto.
Para Castro, o governo deveria estar preocupado em reduzir a carga tributária ou acelerar investimentos em infraestrutura para conseguir dar mais competitividade ao setor externo.
A decisão de sobretaxar as importações tampouco escapou de críticas. O presidente da AEB classificou a medida de protecionista e disse que pode gerar questionamentos. "A OMC (Organização Mundial do Comércio) é clara. Não se pode ter tributação diferentes entre produtos importados e nacionais."
A sobretaxa às importações foi classificada como "lamentável" pelo presidente da Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior (Abece), Ivan Ramalho. Ex-secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior de 2005 a 2010, Ramalho concorda com Castro que o aumento na cobrança do PIS e da Cofins sobre importados é uma medida protecionista que levará a questionamentos da comunidade internacional.
De acordo com Ramalho, o tema do protecionismo ganhou, no Plano Brasil Maior, uma dimensão mais relevante que a discussão sobre estímulo à produção nacional e investimentos. Para o dirigente, sobretaxar importações, em vez de estimular a indústria nacional, vai prejudicar a produção no País, já que cerca de 80% do que é importado pelo Brasil corresponde a insumos e componentes para a própria indústria. "Em última análise, a medida vai prejudicar a própria indústria brasileira."
Ramalho prevê uma avalanche de processos internacionais contra a sobretaxação de importados. "O Brasil vai ser tachado de protecionista e vai sofrer processos lá fora. O País fica vulnerável a ações e retaliações da comunidade internacional", diz. ./ Colaborou Wladimir D"Andrade
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Criador do termo Bric não vê 'guerra cambial'
 Leandro Modé
OESP, 4/04/2012

Jim O"Neill, do Goldman Sachs, discorda do ministro da Fazenda, Guido Mantega; para ele, países ricos adotam políticas com o objetivo de resolver crises domésticas

Conhecido globalmente por ter inventado o termo Bric (grupo composto por Brasil, Rússia, Índia e China), o presidente da Goldman Sachs Asset Management, Jim O" Neill, mantém-se otimista com as perspectivas para a economia brasileira. Mas, ainda que de forma cautelosa, faz reparos a atitudes práticas e retóricas do governo Dilma Rousseff.
A começar pela guerra cambial, "descoberta" e propalada mundo afora pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Não concordo (com Mantega) quanto à guerra cambial", afirmou, durante conversa com jornalistas ontem, em São Paulo.
"A maioria dos países deve perseguir uma política econômica que seja consistente com metas domésticas. No caso do Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos), há um mandato legal para manter a inflação baixa e o desemprego mais baixo possível. Ou seja, não é foco do Fed o valor do dólar no mercado", argumentou.
Assim como o Fed, O" Neill avalia que os bancos centrais das outras duas grandes economias desenvolvidas em crise - Europa e Japão - também têm agido para corrigir problemas domésticos. "Portanto, não vejo uma guerra cambial. Aliás, usar a palavra guerra me parece um tanto perigoso, uma vez que remete à guerra comercial que se seguiu à Depressão dos anos 30 do século passado. Isso sem falar das próprias guerras reais."
O"Neill citou a Alemanha como um país que conseguiu manter o dinamismo do setor industrial apesar da valorização de sua moeda - antes o marco, e agora o euro. "A Alemanha tem se saído brilhantemente",disse. "Mostra que uma moeda forte não é necessariamente algo ruim."
O presidente da Goldman Sachs Asset Management disse que é difícil definir qual o tamanho ideal do setor industrial em uma economia. "Tomemos como exemplo os Estados Unidos. A indústria do país enfraqueceu nos últimos anos, mas, em compensação, algumas das principais empresas mundiais são americanas: Apple e Facebook, que são e também não são do setor manufatureiro."
O debate sobre desindustrialização, observou, não é exclusividade do Brasil neste momento. "O Reino Unido do pós-crise está obcecado com o aumento do tamanho da indústria."
Para O"Neill, o Brasil deveria se concentrar em três pilares para fortalecer a indústria: pesquisa e desenvolvimento, inovação e um mercado de trabalho mais flexível. O protecionismo, alertou, é um caminho a se evitar.
Ele evitou falar explicitamente que medidas recentes do governo brasileiro se encaixam no conceito. Mas deixou clara sua posição. "Não se conseguem benefícios econômicos duradouros protegendo-se da competição. O exemplo da Alemanha mostra que concorrência é algo bom."
Mesmo com essas ressalvas em relação à conjuntura global e brasileira, O"Neill se mostrou otimista com as perspectivas para a economia nacional. "O Brasil pode crescer 4%, se não mais, nos próximos cinco anos." Para este ano, a Goldman Sachs Asset Management projeta expansão de 3,6% no Produto Interno Bruto (PIB), número superior à média do mercado - que tem oscilado ao redor dos 3%.

O Estado de S. Paulo - Mais um pacote limitado / Editorial

O governo anunciou mais um pacote de estímulos à produção e à modernização da indústria, mas foi incapaz, novamente, de formular uma política de longo alcance para tornar mais eficiente e mais competitiva a empresa instalada no Brasil. A produção industrial subiu 1,3% em fevereiro, depois de um tombo de 1,5% no mês anterior, e no primeiro bimestre ficou 3,4% abaixo do nível registrado um ano antes. O setor, quase certamente, terá neste ano um desempenho melhor que em 2011, um ano de resultados muito ruins. A recuperação será impulsionada em parte pelas medidas oficiais. O câmbio tem melhorado, mas nenhuma nova medida foi tomada, embora o ministro da Fazenda tenha falado sobre o assunto. De toda forma, o poder de competição da indústria manufatureira, no fim do ano, dificilmente será maior do que é hoje, porque a maior parte dos entraves será mantida. O governo precisará de muito mais competência administrativa e disposição política para removê-los.
Com o novo pacote, será ampliado de 4 para 15 o número de segmentos beneficiados pela desoneração da folha de pagamentos. A contribuição patronal de 20% para a Previdência será eliminada, mas o benefício será compensado parcialmente, segundo o argumento oficial, pela cobrança de uma contribuição (PIS-Cofins) sobre o faturamento. A alíquota será de 1% para alguns grupos de empresas e de 2% para outros. O governo tenta, dessa forma, preservar em parte a arrecadação tributária, recolhendo de uma fração a receita perdida com outra. O resultado líquido poderá ser vantajoso para as empresas - algo a ser conferido na prática.
Além disso, haverá uma cobrança da mesma contribuição sobre importações - para contrabalançar, afirma o governo, a nova taxação do faturamento. Mas a cobrança de PIS-Cofins sobre o faturamento não será, segundo o governo, um custo adicional para as empresas, porque compensará apenas parcialmente a desoneração da folha. Logo, a justificativa do tributo sobre a importação é no mínimo estranha e qualquer estrangeiro perceberá esse detalhe.
Mais um flanco da política industrial ficará exposto, portanto, à contestação internacional. Governos de outros países já manifestaram insatisfação diante do aumento do imposto cobrado sobre veículos com menos de 65% de conteúdo nacional. Classificam essa cobrança como discriminatória e incompatível com as normas da Organização Mundial do Comércio. A cobrança adicional de PIS-Cofins sobre importação reforça o caráter protecionista da política.
O caráter discriminatório da tributação de veículos fica ainda mais claro com a decisão do governo de indicar as peças e itens de ferramentaria considerados estratégicos para o setor automotivo. Primeiro, o governo aumentou o IPI para o setor automobilístico e prometeu reduzir a alíquota para os veículos com pelo menos 65% de conteúdo nacional. O novo passo é definir como as empresas deverão formar esse conteúdo. Também haverá benefícios para quem investir em inovação, segundo uma tabela de pontos indicada pelo governo. Estímulos à inovação podem ser importantes para a competitividade, mas essa política está sendo montada sobre uma distorção tributária, o imposto discriminatório.
O aumento de recursos públicos para o crédito à exportação é um dos elementos mais positivos do pacote, mas os novos valores apenas compensam, com atraso, cortes orçamentários anunciados há meses. Com isso, o governo admite implicitamente ter cometido um erro de avaliação ao reduzir os recursos para os exportadores. Não há, nisso, nenhuma surpresa. A política industrial tem sido composta de medidas parciais, de curto alcance e decididas com um mínimo de visão estratégica.
Essas limitações são confirmadas, mais uma vez, pela nova prorrogação do Programa de Sustentação de Investimentos. Esse programa, lançado em 2009, tem sido renovado segundo as circunstâncias. Só deveria servir para o combate à recessão, mas o governo tem sido incapaz de separar medidas conjunturais e estruturais. Se fosse capaz de reordenar suas ações, reformaria a política fiscal, mudaria o padrão de gastos e abriria espaço, de forma duradoura, para uma tributação mais funcional. Mas não está preparado para isso.

O Estado de S. Paulo - A competitividade da indústria brasileira / Editorial

A questão da competitividade da indústria brasileira tem gerado intenso debate. O próprio governo federal tem reconhecido a prioridade do assunto, o que ficou especialmente claro na recente reunião da presidente com ministros e representantes do empresariado do País e no anúncio de ontem de medidas para incentivar o setor. Também se nota uma crescente mobilização incluindo os sindicatos dos trabalhadores, que corretamente têm encarado a deterioração do setor como uma ameaça.
A questão é que nos tornamos um enorme mercado consumidor, o sexto maior PIB do mundo, mas, por condições desfavoráveis de competitividade sistêmica, grande parte da demanda doméstica vem sendo atendida com o aumento das importações. Embora seja uma saída confortável no curto prazo, desperdiçamos divisas, empregos, renda e impostos, que poderiam agregar valor localmente. Isso é especialmente importante num quadro internacional de menor crescimento das economias.
A participação da indústria de transformação no PIB foi reduzida a menos de 15%, num claro processo precoce de desindustrialização. Enquanto isso, o coeficiente de importações cresceu em todos os segmentos, especialmente naqueles que exigem maior sofisticação, como o de máquinas e equipamentos, por exemplo, em que chega a 40% do total. O déficit comercial de produtos de elevada tecnologia atingiu US$ 80 bilhões em 2011 e continua se ampliando.
Mas alguns dos aspectos importantes sobre a questão ainda estão longe de um consenso. Sempre há quem busque desqualificar qualquer iniciativa, seja de política industrial, por parte do governo, ou de mobilização, pelos empresários e trabalhadores. A maioria dessas análises desconhece a estrutura industrial, assim como a lógica das decisões empresariais. Vale lembrar que o País se abriu ao mercado externo desde o início dos anos 90, mas não oferece, até hoje, decorridos mais de 20 anos, um ambiente competitivo em condições isonômicas com os nossos países concorrentes.
Uma visão ingênua do processo está em circunscrever os graves problemas enfrentados pela indústria do País como se fossem apenas demandas setoriais, corporativas. Engana-se quem imagina se tratar de um problema localizado. As empresas têm como se adaptar, aumentando o seu conteúdo importado. No limite, podem se transformar em meros representantes locais de indústrias oriundas de outros países. Embora sob o ponto de vista individual, microeconômico, a estratégia possa prolongar a viabilidade do negócio, é obvio que se trata de uma prática insustentável no longo prazo e danosa ao País.
No que se refere à desoneração tributária, financiamento e outros itens cruciais para as decisões empresariais, embora bem-vindas, as medidas anunciadas ontem não trazem novas vantagens competitivas. Os nossos concorrentes, como os chineses e coreanos, por exemplo, contam há muitos anos com condições melhores que as oferecidas no Brasil. Quanto ao financiamento, por exemplo, para citar um item importante, os produtores de bens de capital naqueles países têm acesso a linhas cujo juro cobrado é zero. Isso significa que tudo o que fizermos representa um avanço, mas não nos torna mais competitivos diante dos concorrentes externos.
O Brasil não pode abrir mão da sua indústria. Ao contrário de países como o Chile, cuja população total é inferior à da área metropolitana da cidade de São Paulo, ou mesmo a Austrália, não podemos nos dar ao luxo de viver da produção e exportação de commodities. Além disso, não há por que abdicar da indústria de transformação, justamente o diferencial que nos proporcionou o grande salto dado pela economia brasileira no século passado. O desafio do Brasil é, em vez de retroceder, avançar no processo, agregando mais valor em todas as cadeias produtivas, e incorporar novas tecnologias para diminuir a dependência de importados, assim como ampliar e diversificar nossas exportações.
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Folha de S. Paulo – Ajuda de Dilma à indústria tem pouco efeito imediato / Primeira Página

Lançado com pompa pela presidente Dilma Rousseff, o pacote de medidas para socorrer a indústria e estimular a economia no início do ano terá pouco efeito imediato. O anúncio foi recebido com desconfiança por empresários presentes à cerimônia no Planalto. A principal medida prevê a injeção de R$ 45 bilhões no BNDES, principal fonte de crédito no país para investimentos de longo prazo.

Dilma socorre indústria com medidas de impacto reduzido
Corte de impostos para 15 setores equivale a um dia de receita do governo
BNDES terá mais R$ 45 bilhões para empréstimos e reduz juros para estimular novos investimentos

DE BRASÍLIA - DE SÃO PAULO - DO RIO
A presidente Dilma Rousseff lançou ontem com estardalhaço um pacote de medidas de reduzido efeito imediato para socorrer a indústria, estimular investimentos e reanimar a economia.
O pacote aliviará em R$ 3,1 bilhões a carga tributária de 15 setores neste ano, liberando para investimentos quantia equivalente a apenas um dia da arrecadação federal em janeiro e fevereiro.
A medida de maior impacto é uma nova injeção de capital no BNDES, o banco oficial que é a principal fonte de crédito para investimentos de longo prazo no país. A instituição receberá R$ 45 bilhões do governo.
O banco, que nos últimos anos recebeu outros R$ 240 bilhões do Tesouro, usará o dinheiro para reduzir suas taxas de juros e oferecer empréstimos de prazo maior.
O pacote do governo incluiu medidas que já haviam sido anunciadas antes, estímulos para a indústria automobilística que só entrarão em vigor em 2013 e até um programa de incentivo fiscal para instituições que tratam de pacientes com câncer.
Economistas de bancos e consultorias que analisaram o pacote preveem que seu impacto será limitado, mas acham que ele pode dar à atividade econômica um empurrão no próximo ano.
Segundo o IBGE, as indústrias beneficiadas com redução de impostos empregam 30% da mão de obra ocupada no setor e são responsáveis por 20% da produção industrial do país.
As empresas desses setores deixarão de contribuir à Previdência com 20% de sua folha de pagamento e passarão a recolher uma taxa calculada sobre o faturamento, com alíquotas de 1 a 2%.
Os R$ 3,1 bilhões que serão liberados neste ano representam 0,1% do que a indústria brasileira pretende investir neste ano, de acordo com levantamento divulgado pela Fiesp nesta semana.
Estatísticas divulgadas ontem pelo IBGE mostram que a produção da indústria cresceu 1,3% em fevereiro, depois de vários meses em que a atividade do setor se contraiu.
O governo também prometeu R$ 6,5 bilhões para subsidiar os juros de um programa do BNDES que financia a aquisição de máquinas, caminhões e outros investimentos, e R$ 1,9 bilhão para crédito à exportação.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, disse que parte dos custos do pacote será compensada com um aumento nos impostos cobrados de fabricantes de bebidas como cervejas e refrigerantes.
Empresários que foram a Brasília acompanhar o lançamento do pacote e não viram seus setores contemplados pelas medidas voltaram para casa insatisfeitos.
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão, reclamou porque apenas setores que sofrem com o câmbio e a competição com produtos importados foram atendidos.
Segundo o secretário Barbosa, a prioridade do governo foi apoiar setores que enfrentam concorrência externa e são grandes empregadores de mão de obra. "Não se importa prédios da Índia nem da China", disse.
Um empresário da área de alimentos criticou o pacote por não fazer nada para reduzir o custo da energia. Representantes do setor de telecomunicações saíram antes que a cerimônia acabasse.
"A intenção é boa", disse o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. "Não dá para falar mal do que vai na direção certa, mas isso é mais do mesmo."
A presidente Dilma Rousseff aproveitou o lançamento do pacote para cobrar a redução dos spreads bancários, a diferença entre a taxa de captação dos bancos e o juro praticado nos empréstimos.
"Não estou falando nem fazendo considerações políticas, tecnicamente é de difícil explicação os níveis de spread no Brasil", afirmou, arrancando aplausos da plateia de 600 pessoas, a maioria composta por empresários.
Em seu discurso, Dilma fez ataques à política econômica dos países ricos e prometeu incentivar o mercado nacional. "O governo não vai abandonar a indústria brasileira", afirmou.

Folha de S. Paulo – Pacote improvisado provoca críticas de setores do governo

Segundo assessores, medidas importantes acabaram sem destaque por terem sido incluídas de última hora

Palácio do Planalto queria dar 'volume' à cerimônia e incluiu até programa para o tratamento de câncer
VALDO CRUZ - NATUZA NERY - MÁRCIO FALCÃO, DE BRASÍLIA
Técnicos do governo federal trabalharam até a madrugada de ontem finalizando algumas das medidas do pacote, como o novo regime para o setor automotivo.
Como de costume, a presidente Dilma Rousseff fez vários reparos a poucas horas do evento no Palácio do Planalto e, num sinal da correria, acabou assinando apenas a metade dos decretos previstos dentro do pacote. Motivo: não houve tempo de incluir o restante no roteiro da solenidade realizada ontem.
Dilma estava contrariada durante o evento, tendo distribuído broncas ao cerimonial e até ao ministro Guido Mantega (Fazenda).
Em um determinado momento, ela discutiu com ele sobre números de desoneração numa folha de papel.
Até o longo arquivo eletrônico de Power Point com as medidas, divulgado pela Fazenda, tinha erros: o secretário-executivo Nelson Barbosa teve de corrigir o valor de desonerações deste ano de R$ 4,9 bilhões para R$ 3,1 bilhões.
Auxiliares da presidente, ao fim do evento, usavam uma metáfora de mecânica para resumir a correria: a tentativa de consertar um carro em movimento.
AMONTOADO DE MEDIDAS
O plano do governo de transformar o lançamento do pacote de medidas econômicas em um evento de grande impacto acabou se revelando um erro de estratégia de marketing, na avaliação de assessores da própria presidente.
A análise foi feita reservadamente durante a solenidade de ontem no Palácio do Planalto, que reuniu mais de 400 pessoas e durou mais de duas horas.
De acordo com esses assessores, o evento poderia ter sido desmembrado em pelo menos três grandes cerimônias e ganhar, com isso, maior destaque na mídia.
Da forma como foi feito o anúncio de ontem, o pacote virou um amontoado de 21 medidas novas, velhas e de antigas promessas -incluindo até Programa Nacional de Assistência Oncológica.
A presença do programa foi a que causou maior surpresa na equipe de Dilma, que contava com seu anúncio em outra data, de preferência com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva -aproveitando o sucesso de seu tratamento contra um câncer na laringe.
'FAZER VOLUME'
Só que, de acordo com um auxiliar, o Palácio do Planalto queria "fazer volume" no lançamento de ontem.
O governo chegou a ser aconselhado, por exemplo, a anunciar em algum outro dia todas as medidas destinadas a aumentar as exportações para dar mais repercussão às novas ações de desoneração de impostos e de estímulo do investimento.
Para esses assessores, também perderam impacto medidas relacionadas ao Plano Nacional de Banda Larga e ao Programa um Computador por Aluno, projetos considerados prioritários pela própria presidente.
Pouca gente entendeu também o motivo de constar entre as medidas do pacote a famosa "guerra dos portos" -além de uma ameaça velada ao mercado de baixar novas medidas cambiais para conter a valorização do real.

Los Hermanos, ou Manos Her Los?: todo al reves nas politicas argentinas...

A Argentina é um país que briga com o mundo todo, e não contente, acaba arrumando briga consigo mesmo.
Por que será que eles decaem, ininterruptamente, pelos últimos 80 anos?
Deve ser por algum motivo...
Paulo Roberto de Almeida 



Vendas brasileiras à Argentina recuam 18,8% após barreiras
Ariel Palacios , Correspondente / Buenos Aires
O Estado de S. Paulo, 4/04/2012

Resultado de março é a maior contração nas exportações do Brasil ao país vizinho desde outubro de 2009

As barreiras protecionistas à entrada de produtos estrangeiros impostas pelo secretário de comércio exterior Guillermo Moreno provocaram uma queda abrupta das compras argentinas de produtos brasileiros. Segundo um relatório da consultoria econômica Abeceb, de Buenos Aires, as vendas do Brasil para o mercado argentino despencaram 18,8% em março. A queda representa a maior contração nas vendas brasileiras à Argentina desde outubro de 2009, em plena crise mundial.
A Abeceb indica que o Brasil teve superávit de US$ 131 milhões com a Argentina em março. Isso equivale a uma queda de 73% em comparação ao saldo comercial favorável de março de 2011. O total vendido pelo Brasil à Argentina no mês passado foi de US$ 1,427 bilhão. Na contramão, o mercado brasileiro absorveu US$ 1,296 bilhão em mercadorias fabricadas na Argentina.
Por trás dessa queda nas exportações brasileiras, afirma a consultoria, estariam as novas medidas protecionistas argentinas (que foram acrescentadas às várias barreiras preexistentes), principalmente a "Declaração Juramentada Antecipada de Importação" (DJAI). A declaração consiste em um relatório detalhado que as empresas importadoras devem apresentar previamente ao organismo de arrecadação tributária e à Secretaria de Comércio Interior.
A queda nas vendas de produtos brasileiros está concentrada principalmente nos setores de automóveis e autopeças, maquinaria e equipamentos, minério de ferro, eletrônicos, plásticos e suas manufaturas, além de produtos siderúrgicos. Ao contrário do Brasil, que registrou queda, as vendas da Argentina ao sócio do Mercosul cresceram 2,5% em comparação com março de 2011.
No primeiro trimestre deste ano o Brasil teve um recuo significativo nas vendas à Argentina em comparação com o mesmo período de 2011. Segundo a Abeceb, as exportações à Argentina foram de US$ 4,561 bilhões, o que indica queda de 34,4% em relação ao mesmo período do ano passado. Na contramão, as vendas argentinas ao Brasil - de US$ 3,952 bilhões - somente recuaram 3,1% em comparação com o primeiro trimestre de 2011.
Dupla. O sistema protecionista argentino é liderado pela dupla composta pela ministra da Indústria, Débora Giorgi, e Guillermo Moreno, o secretário de Comércio Interior. Moreno, na última meia década, foi o homem de confiança da presidente Cristina para aplicar a política de congelamento de preços e maquiagem dos índices de inflação. Os analistas o definem como o homem que faz o "trabalho sujo" da administração Kirchner.
Já Giorgi tem fama de "durona" e "implacável" com o Brasil desde os tempos de secretária de Indústria e Comércio no governo do presidente Fernando De la Rúa (1999-2001). Na época, Giorgi afirmou que o governo anterior, do ex-presidente Carlos Menem (1989-99), havia sido "excessivamente permissivo e frouxo com o Brasil".