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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Reflexões ao léu, 7: A Pequena Estratégia do Brasil


Reflexões ao léu, 7: A Pequena Estratégia do Brasil

Paulo Roberto de Almeida

Andava com saudades de minhas “reflexões ao léu”, e com razão. De janeiro a março de 2011, como se pode constatar pela lista imediatamente a seguir, eu elaborei uma série de reflexões pouco refletidas, seis ao todo, que se destinavam apenas a impedir que ideias esparsas, que de vez em quando “pousam” na minha cabeça, ou “passam” pelo meu cérebro, se perdessem na imensidão conectiva dos neurônios não utilizados ou na vastidão dos espaços em branco do meu cérebro. Geralmente são frases, ou matérias inteiras, que eu leio na internet, que anoto eventualmente em um dos meus Moleskines de algibeira, mas que depois não servem para mais nada, a não ser, justamente, para esses pequenos textos que insistem em pulular na minha frente, mesmo quando tenho milhares de outras coisas para fazer, a começar pela leitura de coisas mais sérias, e pela escrita de ensaios idem. Em todo caso, esses foram, com seus respectivos links para leitura, os seis “exemplares” precedentes desta série, que ficou incompleta, desde mais de um ano:

2235. “Reflexões ao léu, 1: Fukuyama, ‘marxista’, detestado pelos ‘marxistas’”, Uberlândia, 6 de janeiro de 2011, 2 p. Primeiro de uma série, sobre temas diversos, classificando os “marxistas” que detestam Fukuyama de ingratos. Postado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/01/reflexoes-ao-leu-1-fukuyama-marxista.html).
2246. “Reflexões ao léu, 2: sobre as revoltas nos países islâmicos”, Brasília, 20 fevereiro 2011, 4 p. Reflexões sobre as mudanças em curso. Postado no Blog Diplomatizzando  (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/02/reflexoes-ao-leu-2-sobre-as-revoltas.html ).
2248. “Reflexões ao léu, 3: Diplomacia comercial brasileira”, Brasília, 24 Fevereiro 2011, 2 p. Com a implosão da Alca, evitou-se a “destruição” da indústria brasileira, para vê-la ameaçada pela concorrência chinesa. Postado no Blog Diplomatizzando  (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/02/reflexoes-ao-leu-3-diplomacia-comercial.html).
2249. “Reflexões ao léu, 4: o Brasil a caminho de novo desastre econômico”, Brasília, 27 Fevereiro 2011, 2 p. Sobre o crescimento da dívida pública patrocinada pelo governo. Postado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/02/brasil-caminho-de-novo-desastre.html).
2252. “Reflexões ao Léu, 5: Livros e leituras...”, Brasília, 8 Março 2011, 2 p. Quantos livros poderei ler em minha vida: cerca de 5 a 6 mil, no máximo. Blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/03/reflexoes-ao-leu-5-livros-e-leituras.html).
2253. “Reflexões ao Léu, 6: A Grande Estratégia do Brasil”, Brasília, 9 Março 2011, 2 p. Uma estratégia aparente, mas que não vem sendo implementada nos últimos tempos. Blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/03/reflexoes-ao-leu-6-grande-estrategia-do.html).

Pois bem, e por que retomo agora a produção seriada, depois de mais de um ano de interrupção? Apenas porque acabo de concluir uma apresentação que devo fazer na Maison de l’Amérique Latine, terça-feira próxima, 22 de maio, aqui em Paris, para um público que ainda desconheço quem seja – mas certamente será uma audiência rarefeita – a convite de seu diretor, Alain Rouquié, ex-embaixador da França em Brasília, grande conhecedor de nossa história política, do Brasil e da região, que ele já teve a imaginação de chamar de “Occident Extrême”, o que não deixa de ser uma bonne trouvaille...
O tema que ele sugeriu foi este: Rio Branco et la diplomatie brésilienne, d’hier et d’aujourd'hui”, que eu preparei sob forma de apresentação em 25 slides (disponíveis no DropBox: http://dl.dropbox.com/u/4764310/2393RioBrancoMaisAmerLat.pptx). Ao preparar essa palestra, fui naturalmente levado a tratar da estratégia do Barão, em sua época, e a refletir sobre o que ele faria atualmente, se vivo fosse, e encarregado, como se esperaria, das relações exteriores do Brasil. Negligenciando o fato de que ele, quando vivo, já era quase um santo protetor da diplomacia brasileira, uma personalidade incontrastável, incontestável, o “dono” da política internacional do Brasil, além e acima de qualquer presidente, pode-se imaginar que ele atuaria segundo as instruções do presidente de turno, mas com certa latitude de ação, em vista de sua reconhecida competência para certos temas. Mas, vamos imaginar que ele apenas atuaria como um chanceler qualquer, em face dos mesmos desafios ou agendas, que se colocariam a um chanceler, hoje, nas circunstâncias atuais do Brasil, país que deixou de ser simplesmente em desenvolvimento, e um instável crônico na América Latina, para se tornar um “emergente”, um país dotado de pretensões a ter uma influência regional e global. Pois bem, com base nessas premissas, vamos à estratégia do Brasil que eu chamei de pequena.

A primeira estratégia pequena do Brasil, na verdade mesquinha, seria a de ter exibido, durante os oito anos da doutrina do “nunca antes neste país”, uma orientação de política externa não exatamente nacional, mas mais propriamente partidária, para não dizer sectária. Quando o Barão foi convidado para ser chanceler, cargo que ele ensaiou recusar, seja por motivos de saúde, de dinheiro ou qualquer outro, a primeira coisa que ele adiantou era a de que não vinha servir a qualquer partido, a qualquer causa política, mas ao Brasil, em benefício da nação e de seu prestígio na região e no mundo.
Cem anos depois, parece que tivemos não apenas uma diplomacia estreitamente partidária, mas até um chanceler que, talvez insatisfeito por ser “apenas” diplomata, resolveu se inscrever num partido, ou melhor, no partido do poder, o que aparentemente nunca lhe foi exigido como chanceler ou como funcionário de Estado. Mas, como defensor de um governo partidário, ele resolveu se filiar a esse partido. Como todo militante desse partido, como naquelas agrupações religiosas que exigem o dízimo, tem de contribuir com sua cota de boa vontade financeira, o mesmo chanceler escolheu ser conselheiro de algumas coisas, para arredondar o salário, já que o Brasil é hoje um país caro (talvez em função de algumas políticas de pequena estratégia que o mesmo partido aplica). O Barão, provavelmente, desprezaria gestos como esse.

A segunda estratégia pequena que o Barão lamentaria, se hoje contemplasse a diplomacia dos oito anos do “nunca antes”, seria justamente essa tal de “diplomacia Sul-Sul”. O Barão nunca compreenderia, e nunca admitiria, como se consegue ser tão reducionista, tão simplista, tão estreito geograficamente nas escolhas de relacionamento internacional, ele que sempre se bateu para equilibrar as relações do Brasil entre a velha Europa, os EUA emergentes, e a América do Sul, todos tão presentes em nossas relações imediatas. A despeito dessa “aliança não escrita” com os EUA, de que falam alguns acadêmicos, o Barão, na verdade, nunca se deixou prender, ou enredar, numa relação exclusiva, ou privilegiada, com qualquer sócio maior, mas procurava sempre manter equidistância dos grandes centros de poder, das velhas potências coloniais – mas ainda agressivamente imperialistas – e da nova potência que despontava no hemisfério – e já agressivamente imperialista, precisamente. Menos ainda ele compreenderia que o Brasil só tivesse olhos para o seu entorno imediato – claro, porque a África não “existia”, dominada que era pela Europa, e que a Ásia também se debatia na colonização direta e indireta das mesmas potências – e descurasse por completo das relações com aqueles que eram nossos principais mercados e fornecedores de capitais. Ele sorriria com certa complacência antes essas propostas de “nova geografia comercial internacional”, sabedor que, em matéria de comércio, toda e qualquer geografia é boa, desde que se consiga realizar todos os intercâmbios, nos dois sentidos, que interessariam ao Brasil.

Justamente, mesmo se ele tivesse de administrar uma “estratégia Sul-Sul” para o Brasil – fatalidade lamentável que ele certamente se escusaria por completo de iniciar – ele jamais se permitiria ser complacente, leniente, inconsequente ou descuidado em relação aos direitos do Brasil. Ele jamais permitiria, por exemplo, que tripudiassem injustamente sobre nossas exportações – como infelizmente ocorre muito frequentemente com certo vizinho arrogante – ou que, ao arrepio de tratados bilaterais e de contratos internacionais, outros vizinhos inconsequentes invadissem nossas propriedades legítimas para esbulhar-nos de nossos direitos, rasgando unilateralmente compromissos que tinham sido solenemente contraídos anteriormente. Por muito menos ele fez deslocar tropas para proteger nacionais ameaçados de maus tratos; ainda que não fosse o caso de fazê-lo em todas as circunstâncias, o Barão certamente teria sido bem mais vigoroso na reação a certos atos de expropriação ilegal. Por exemplo: ainda que confrontado a uma declaração inevitável de expropriação de bens nacionais, ele JAMAIS assinaria uma nota na qual se reconhecia o direito soberano de outro país de, sem a cortesia de sequer um alerta preliminar, expropriar sem negociações ou consulta prévia propriedades nacionais, em total desrespeito às normas do direito internacional e à letra de tratados que constituíam obrigações para as duas partes. Ele certamente consideraria certas atitudes registradas nesses tempos caóticos de diplomacia confusa não só como marcas de uma pequena estratégia, mas como uma demonstração cabal de uma estratégia vergonhosa.

A mais forte razão, o Barão se guardaria escrupulosamente, e faria com que o seu presidente também observasse esse tipo de recato, de jamais interferir nos assuntos políticos internos de outros países, seja demonstrando apoios eleitorais indevidos, seja adiantando preferências ideológicas ou ainda rompendo normas e costumes de direito internacional e de relações diplomáticas. A melhor forma de manter boas relações com quaisquer vizinhos – mesmo os mais turbulentos – e com todo e qualquer país da comunidade internacional é manter reserva total quanto aos assuntos internos desses outros países, mesmo quando se possa, em privado, manter preferência por um outro personagem da vida política que possa ter influência nas relações com o Brasil. Expressar publicamente interesse nesse tipo de assunto é a mais pequena estratégia que o Barão poderia conceber, e isso ele deixou registrado em vários escritos públicos.

Finalmente, o Barão tampouco consentiria em dividir o processo de tomada de decisão em múltiplas cabeças, em fracionar o comando da diplomacia em diversos centros independentes de formulação e de execução de uma política nacional, como deve ser a política internacional de um país. Consciente, provavelmente, de que a política externa é uma espécie de política interna por outros meios, e sabedor de que a diplomacia, como a arte da guerra, exige unidade de formulação, de decisão e de implementação das ações requeridas, ele obstaria por completo a qualquer fragmentação da atuação diplomática do Brasil em unidades separadas de atuação. Já ao assumir a chefia do Ministério, e confrontando-se com a provecta figura de Cabo Frio, ele apressou-se em inaugurar um busto em homenagem a essa magnífica figura do Império, como forma de afastá-lo dos assuntos correntes, encaminhando-o a uma merecida aposentadoria que ainda tardou a acontecer. Independentemente desses dissabores, ele jamais consentiria, por exemplo, que dirigentes partidários, representantes de interesses especiais, neófitos palacianos ou quaisquer outros aprendizes de diplomatas lhe viessem sugerir esta ou aquela política em matérias que fossem de sua competência exclusiva. Como “general” da diplomacia, ele sabia que comando não se divide: ou se assume, ou se assiste a confusão predominar em temas que têm a ver com a segurança nacional.

Enfim, falamos da “pequena estratégia” que o Barão não teria, e não poderia ter, para as relações internacionais do Brasil, cem anos depois de sua morte, se por acaso voltasse ao nosso convívio; faltou falar, positivamente, da grande estratégia que ele poderia exibir na atualidade. Mas isso fica para uma outra ocasião...

Paris, 2394: 18 Maio 2012

O G8 menos 1: G7 + 0,5 (Russia): que tal voltar ao G5?

Complicadas essas decisões que se tomam com base em eventos de pura conjuntura. Depois fica difícil voltar atrás...
Paulo Roberto de Almeida

The No-Show

Dmitri TreninFOREIGN POLICY, MAY 11, 2012


PutinRussian President Vladimir Putin's decision not to attend the G-8 summit and send Prime Minister Dmitry Medvedev as a stand-in has been seen by many as a bold snub to Washington and has raised important questions about the Russian leader's motivations. Beyond that looms the larger, and much more important, question about the future of Russia's foreign policy and its relations with the West. What if Putin's real motives, however, are exactly as advertised by his Kremlin aides -- that he needs to focus on forming a new government at home? If that's true, it offers a remarkable insight into the process of power balancing among the clans that make up Russia's cabinet. Either way, it's a hell of a way to begin a new term.

Unlike Putin and Medvedev's announcement last September that they had long planned to swap places, the G-8 decision must have been made only in the last few days. When Putin announced that he would not attend the May 20-21 NATO summit in Chicago, he did confirm for the May 18-19 G-8 summit, which was then moved to Camp David by Barack Obama's administration. Until early May, U.S. and Russian diplomats were working hard on the Obama-Putin meeting to be held at the White House on the margins of the G-8 summit. Putin's public statements on the eve of his May 7 inauguration indicated his willingness to work with the United States on matters of mutual interest and even "go really far" in that direction, as his foreign-policy aide put it. For that, of course, Putin requires a working personal relationship with Obama, the current and likely future president of the United States. Snubbing him would make no sense.
So, something must have happened quite recently to make Putin change his mind. Of recent developments, two things stand out: the demonstrations in Moscow on the eve of and on Inauguration Day and the remarkable tardiness in the shaping of the "Medvedev cabinet." The May 6 clashes with the police in the streets of Moscow added more bad press to Putin's mountain of criticism in the Western media. Were he to show up at the White House, he would run the risk of being asked uncomfortable questions at a Rose Garden news conference. Putin's irritation with the U.S. government's support for Russian NGOs active in election monitoring is well known, as is his criticism of Secretary of State Hillary Clinton and the State Department. The no-show at the media-heavy ritual of the G-8 summit, most of whose leaders congratulated Putin on his reelection only grudgingly or skipped congratulations altogether, thus appears to be a retaliatory strike.

It probably was not. Putin is anything but media-shy. In your face is what he likes. The May 6 Moscow "march of millions" attracted fewer people, despite the fine weather, than the massive February event a month before the presidential election, held in bitter cold. The march had no effect on Putin's inauguration and was overshadowed on the world scene by the French and Greek elections that same weekend. Western criticisms notwithstanding, Putin feels a winner -- and he certainly looked that way on election night. If anything, he likely would enjoy the spectacle of coming back to claim his place among the world's most powerful leaders, in spite of all the hopes, entreaties, and admonitions that he would not. Doing that in the United States, in particular, would have been a personal triumph and humiliation of his foreign foes.

But what looked initially a technical exercise -- forming the new cabinet -- appears less of a formality. Moscow is awash with contradictory rumors about who's in and who's out, and the general confusion is palpable. The truth is, the Russian government is a coalition, but not of political parties (which are insignificant as far as actual governing goes) as much as of the country's most powerful clans -- a diverse group that ranges from the titans of energy, metals, or other branches of industry to the captains of state-owned enterprises; from Putin's friends, Boris Yeltsin's old family, and Medvedev's classmates to the power players in St. Petersburg, Moscow, and other regions.

The cabinet is not so much about policy as such, but about to whom and where money flows. Who controls what is essential to stability within the Russian elite who rule and own Russia at the same time. Arbitrating, brokering, and ultimately deciding the who and what in this situation is not something the new and once-again prime minister, Medvedev, can do alone. In a system where manual control takes the place of institutions, Putin is irreplaceable. The irony of the prime minister being sent on a mission abroad while the president single-handedly pulls the strings and forms his government for him underlines their respective roles -- and Medvedev's puppet status.

Putin's decision to stay away from Camp David means that he is putting the stability of his power structure above his diplomatic engagements abroad. This is not unusual for politicians. It also suggests, however, that striking the proper balance among the clans has become more difficult. If Putin, in his 13th year in power, is finding this a tricky task, the future of manual control does not seem bright.

Increasingly, Moscow's elites may think of turning to a more institutionalized method of balancing -- something of an agreement on the rules of the game, and an agreement, of course, to police that agreement -- so as to prevent any one clan from gaining too much power. When this happens, Russia's current absolute monarchy will evolve into a limited one. Putin believes, however, that Russia, in his time, can only be held together from above by a popular leader: himself. Call it authoritarianism with the consent of the governed.

Even if Putin's decision was primarily dictated by domestic concerns, his no-show will have foreign-policy implications. The G-8, which many in the West see as flawed because of Russia's membership -- and perhaps as overtaken by the economic realities of a changing world, better reflected in the G-20 -- is also being downgraded in the Kremlin's eyes. (Throughout the 1990s, the G-7+1 was the formula for Russian participation, but this was changed to the G-8 by U.S. President Bill Clinton in 1998.) For Moscow, this is less a symbol of Russia's "belonging" to the global leadership team and more of a privileged contact zone, giving Russians access to the West, but without an obligation to align with it.

In the G-20, Russians are less conspicuous, but are also less put on the spot. The fact that Putin has decided to attend the G-20 summit in Las Cabos, Mexico, in June does not mean that he values the larger gathering more. Putin, the ultimate transactional politician, frankly hates international jamborees, seeing them as a waste of time. Mexico would have been a perfect destination for Medvedev, if only Putin had been able to travel to Camp David. Instead, now he has to make the trip in order to meet the only person whom he really wanted to talk to on the canceled trip to the United States: Barack Obama.

Much has been made in the media that Putin is now scheduled to visit China before he sees Obama in Mexico. There is less here than meets the eye, however. China and the United States are both hugely important to Russia, and an early visit to China -- to attend the summit of the Shanghai Cooperation Organization -- makes a lot of sense, especially in view of political developments there ahead of the leadership change this October. Putin is unlikely, however, to build an axis with Beijing to spite Washington. Any remake of the Sino-Soviet alliance would just bring more trouble to the two countries than help advance their common interests, and it would be immensely awkward to operate.

With Putin formally back in the Kremlin, Russia's foreign policy will probably focus on gaining global expertise for domestic economic modernization, helping large international companies buy into Russia, promoting a form of global governance that would balance the West's dominance by means of such formal bodies as the U.N. Security Council and such informal ones as the BRICS, and protecting Russian security interests against threats both real and perceived, such as U.S.-NATO missile defense in Europe, by means of a massive rearmament program. Putin needs a meeting with Obama to determine how much alignment on these issues there can be between the two of them -- and how much he can get away with. Medvedev, at Camp David, will simply be on a reconnaissance mission.

A frase da semana, do mes, de sempre...

Pelo menos para mim, que é minha frase preferida.
Ainda não me ocorreu o vaticinado pelo grande escritor espanhol -- que por pouco não teve o cérebro e todo o resto ressecado numa prisão moura -- mas um dia isso pode me vir a ocorrer, se continuar exagerando: 


Y así, del poco dormir y del mucho leer se le secó el cerebro, de manera que vino a perder el juicio
Cervantes

Caro leitor: voce conseguiria gastar 160 mil por mes?

Vejamos: talvez indo três vezes no mesmo mês a Paris, em voos de 1ra classe, se hospedando no Hotel Crillon, comendo caviar Beluga todas as noites e fazendo compras para suas duas mulheres (sim, uma só, acho que seria pouco para gastar tudo isso) na rue de Rivoli e na Place Vendôme, enfim, esticando duas vezes a New York, no Astoria e nas boutiques da 5th Avenue...
Acho que dá, sim, mas precisa fazer certo esforço, senão vai sobrar...
Claro, sempre tem os clochards de Paris e os homeless de NY, que não reclamariam se recebessem 1.000 euros ou 1.300 dólares de esmola...
Paulo Roberto de Almeida 

Sonia Racy
O Estado de S. Paulo - 17/05/2012

José Maria Marin rebate acusação de que teria elevado o próprio salário na CBF – de R$ 90 mil para R$ 160 mil.

Segundo fonte da confederação, o aumento ocorreu antes de ele assumir a presidência.

Uma duvida cruel: Facebook e os altermundialistas...

Quando eu leio notícias como esta, abaixo transcrita, eu me pergunto o que pensam, como reagem, o que fazem com esse tipo de ferramental, todos aqueles órfãos do socialismo, os altermundialistas da ATTAC, os antiglobalizadores do Fórum Social Mundial, enfim, os anticapitalistas e antimercado de sempre, que inevitavelmente, a cada encontro ruidoso (e inútil), estão sempre protestando contra a globalização capitalista, perversa e desigual, assimétrica e empobrecedora, causadora de desemprego e vários outros desastres sociais, etc...
Mas, será que eles estão usando o FaceBook também? Oh dúvida cruel: como usar um típico instrumento do capitalismo globalizado e protestar contra esse mesmo capitalismo globalizado?
Respostas para este espaço democrático e aberto a todas as correntes sensatas...
Paulo Roberto de Almeida 



Facebook Raises $16 Billion in I.P.O. That Values It at $104 Billion
As investors raced to get shares, whose price Facebook set at $38 each, the sprawling social network raised $16 billion on Thursday in an initial public offering.
The I.P.O. signals a rapid evolution for the company. In just eight years, Facebook has gone from a scrappy college service founded in a Harvard dormitory to the third-largest public offering in the history of the United States, behind General Motors and Visa.
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Thiago de Melo: ja que estamos na literatura...

Meu amigo Mauricio David me envia este belíssimo poema do laureado poeta.
Aliás, não é bem um poema, e sim um manifesto pessoal, uma declaração ao mundo do significado da sua produção, do sentido do seu trabalho, dos seus objetivos de vida.
Com toda dignidade, como incumbe aos que falam a verdade...
Paulo Roberto de Almeida 

Canto do meu canto
Thiago de Mello

Escrevi no chão do outrora 
e agora me reconheço: 
pelas minhas cercanias 
passeio, mal me freqüento.

Mas pelo pouco que sei 
de mim, de tudo que fiz, 
posso me ter por contente, 
cheguei a servir à vida, 
me valendo das palavras. 

Mas dito seja, de uma vez por todas, 
que nada faço por literatura, 
que nada tenho a ver com a história, 
mesmo concisa, das letras brasileiras. 

Meu compromisso é com a vida do homem, 
a quem trato de servir 
com a arte do poema. Sei que a poesia 
é um dom, nasceu comigo. 

Assim trabalho o meu verso, 
com buril, plaina, sintaxe. 
Não basta ser bom de ofício. 
Sem amor não se faz arte. 

Trabalho que nem um mouro, 
estou sempre começando. 
Tudo dou, de ombros e braços, 
e muito de coração, 
na sombra da antemanhã, 
empurrando o batelão 
para o destino das águas. 

(O barco vai no banzeiro, 
meu destino no porão.) 

Nada criei de novo. 
Nada acrescentei às forma 
tradicionais do verso. 
Quem sou eu para criar coisas novas, 
pôr no meu verso, Deus me livre, 
uma invenção.

Carlos Fuentes, entre o Mexico e Paris - Magazine Litteraire

A última entrevista publicada pelo escritor mexicano Carlos Fuentes na revista francesa Magazine Littéraire.

16/05/2012  | Hommage L'écrivain mexicain Carlos Fuentes est mort  - Carlos Fuentes ©J-Sassier-Gallimard - ©

L'écrivain mexicain Carlos Fuentes est mort

16/05/2012 | Hommage

Carlos Fuentes, l'une des plus grandes figures de la littérature latino-américaine, est décédé à l'âge de 83 ans. Nous publions ici son dernier entretien accordé au Magazine Littéraire.
Carlos Fuentes est l’un des grands protagonistes de la littérature latino-américaine d’aujourd’hui. Depuis cinquante ans, il n’a pas cessé d’écrire et de proposer à ses nombreux lecteurs des romans fascinants, dans lesquels il a su raconter avec brio et intelligence les multiples facettes de son Mexique natal, ses contradictions et ses espoirs, son histoire, sa culture et sa magie. Après avoir beaucoup voyagé, il vit aujourd’hui entre Londres et Mexico, tout en conservant des liens profonds avec la France où il a passé de nombreuses années.
Dans son dernier livre, Ce que je crois , il nous propose une sorte d’abécédaire très personnel où il revient sur son parcours et sur quelques-uns des thèmes qui lui tiennent le plus à coeur. En alternant souvenirs privés et réflexions politiques, commentaires littéraires et émotions plus intimes, l’écrivain mexicain compose une singulière et fascinante biographie intellectuelle, dans laquelle il livre les clefs de sa vie et de son oeuvre. D’ Amitié à Buñuel , de Faulkner à Liberté , d’ Odysséeà Révolution , de Sexe à Xénophobie , les chapitres du livre - telles les entrées d’un dictionnaire privé - sont riches de surprises et nous aident à mieux comprendre les convictions d’un homme dont l’érudition, l’élégance et la sympathie ne sont plus à prouver.
- Le Magazine Littéraire. Carlos Fuentes, comment est né ce livre ? Est-ce un bilan de votre vie ?
- Carlos Fuentes. Il ne s’agit pas d’une autobiographie traditionnelle, c’est plutôt une sorte de « dialogue » très personnel avec moi-même et avec certaines expériences de ma vie, à travers une pluralité de genres littéraires. C’est un livre de confessions, où j’ai mélangé les souvenirs, la réflexion et le récit. D’ailleurs, lorsque j’ai commencé à penser ce livre, mon modèle était Don Quichotte , une oeuvre où la biographie, la confession et la fiction ont toutes les trois leur place. Ensuite, j’ai décidé d’écrire des chapitres indépendants et de les ordonner par ordre alphabétique, car je ne voulais pas écrire un livre avec un parcours linéaire. Généralement, dans un livre de mémoires, le lecteur s’attend toujours à un parcours chronologique, mais on peut très bien adopter un autre rythme, à l’instar de García Márquez dans sa merveilleuse autobiographie. La formule alphabétique m’a donc permis d’écrire selon mon humeur, un jour sur Balzac et le jour suivant sur la jalousie, en laissant plus de la place à l’imagination.
- Tout au long du livre, vous évoquez plusieurs pays où vous avez vécu : les Etats-Unis, la Suisse, la France ou l’Argentine. Qu’est-ce que cette errance a laissé dans votre mémoire et dans vos relations avec votre pays d’origine, le Mexique ?
- Nous vivons dans un monde cosmopolite, donc nous sommes tous cosmopolites, et les écrivains le sont - et le seront - encore plus. Néanmoins j’ai des racines mexicaines profondes. A l’époque où je suivais mon père dans son errance diplomatique, aux Etats-Unis et dans d’autres pays, je passais toutes mes vacances au Mexique. Ensuite j’y ai habité pendant de longues périodes, par exemple au cours des années cinquante. A l’époque, j’étais très limité dans mes mouvements, puisque j’étais sur la liste noire des Etats-Unis, la liste maccarthyste, où j’étais en très bonne compagnie, avec par exemple Simone Signoret, Yves Montand, Michel Foucault, Graham Greene, Iris Murdoch et beaucoup d’autres. García Márquez faisait remarquer la contradiction de l’attitude américaine : ils nous empêchaient d’entrer dans leur pays, alors qu’ils laissaient entrer nos livres, qui étaient bien plus dangereux que nous. Pour nous, au fond, c’était une situation comique, mais aux Etats-Unis le maccarthysme a brisé des gens, des carrières, des vies et des familles. Heureusement la société civile américaine a fini par réagir, ce qui a permis de mettre fin à cette sombre période.
- La France est très présente dans Ce que je crois ...
- J’ai passé plusieurs années à Paris où, au milieu des années soixante-dix, j’ai même été ambassadeur de mon pays. Mes premiers séjours datent des années soixante. En 1968, avec Julio Cortázar et d’autres amis, j’étais sur les barricades du Quartier latin. Soixante-huit a été un moment formidable de fraternité et de jouissance, un moment de carnaval où pour la première fois on a critiqué la société dans laquelle nous vivons encore aujourd’hui, c’est-à-dire la société de consommation dominée par l’argent, mais aussi par la frivolité, l’extériorité, la superficialité.
- L’effervescence de cette époque a-t-elle eu une influence sur votre littérature ?
- C’est toujours difficile de parler de relations directes entre politique et littérature, car en général il ne s’agit pas de relations immédiates. Si les événements de l’histoire laissent des traces dans l’écriture, celles-ci apparaissent souvent beaucoup plus tard. Par exemple, j’ai pu écrire sur la révolution mexicaine, seulement parce qu’entre elle et moi il y avait déjà une grande distance temporelle, ce qui m’a permis de regarder ces événements d’un point de vue différent. De même, j’ai pu parler du massacre de 1968 à Mexico, sur la place des Trois Cultures, seulement trente ans plus tard, dans Laura Diaz .
- Aujourd’hui vous vivez depuis dix ans à Londres. Est-ce que vous vous y sentez bien?
- A Londres, j’ai une vie régulière et tranquille qui me permet de bien travailler. Je me lève très tôt et écris tous les jours jusqu’à midi. J’y connais très peu de gens et ne suis donc pas dérangé sans cesse. En général, je passe l’hiver au Mexique, mais là-bas je ne peux pas écrire parce que la vie sociale, les amis, la famille, les dîners, les discussions, etc. occupent tout mon temps. Pour écrire un roman, j’ai besoin de tranquillité. Je dois lui donner tout mon temps et ne vivre que pour lui. Je dois donc m’isoler, mais au Mexique, contrairement à Londres, ce n’est pas possible.
- On dirait que la relation avec votre pays est faite d’attachement et de distance...
- C’est vrai. J’ai vécu la moitié de ma vie au Mexique, mais c’est seulement en vivant loin de mon pays que j’ai pu trouver la bonne distance et la bonne perspective pour en parler dans mes livres. J’ai eu le privilège de l’éloignement, ce qui m’a permis de mieux voir ses défauts et, par exemple, de mener une lutte à l’intérieur de la culture mexicaine contre le nationalisme chauvin. Il y a eu un moment, en effet, où tout ce qui n’était pas mexicain n’était pas bon. On disait que lire Proust c’était « se prostituer ». Alors j’ai voulu dénoncer cette attitude.
- Dans Ce que je crois , vous parlez du Mexique comme d’une « terre inachevée ». Pourquoi ?
- Tous les Mexicains ont l’impression que le pays n’est pas complètement bâti. Il vit dans une situation de flux, sa construction n’étant pas achevée. Un seul parti ayant dominé pendant soixante-dix ans, le pays s’est figé dans une sorte de paralysie qui a empêché de compléter son évolution et sa transformation. Ses immenses possibilités ne se sont pas complètement déployées et aujourd’hui nous sommes encore dans une phase de transition démocratique, où ne manquent pas les écueils et les problèmes.
- Il y a vingt ans, dans Christophe et son oeuf, votre vision du Mexique était presque apocalyptique. Aujourd’hui, la situation a-t-elle évolué ?
- La pollution, l’insécurité et la criminalité y sont bien pires que dans mon roman. A l’époque, je ne voulais certainement pas écrire une prophétie, mais malheureusement tout cela est devenu réalité, et même pire. J’avais également imaginé l’invasion du pays par les Américains, mais cela n’est heureusement pas arrivé, même si on ne sait jamais... ( rires ). Cela dit, dans d’autres domaines, la situation n’est plus aussi catastrophique que je l’avais décrite : le pays est en train d’évoluer vers la démocratie, nous avons des élections libres et une presse libre. C’est un point positif.
- Dans le livre, vous faites souvent l’éloge du métissage culturel. Est-il un aspect fondamental du Mexique ?
- Le Mexique a toujours été un pays métissé et le sera toujours plus. 10% seulement de la population sont de race blanche et 10% seulement de race indienne, les autres étant métissés. Dans vingt-cinq ans, il n’y aura plus de vrais Blancs ni de vrais Indiens, le Mexique sera totalement métissé. C’est un fait, on peut s’en plaindre ou s’en réjouir. En tout cas, le métissage appartient à l’identité de mon pays, dont la réalité anticipe comme une sorte de prophétie le futur du monde entier, puisque toute la terre s’achemine vers le métissage. Les grandes migrations façonnent la physionomie des pays, tout en étant leur salut, car un pays qui s’enferme risque de perdre sa propre identité. L’identité se construit toujours dans le contact et l’échange avec les autres, jamais dans l’isolement. Le métissage aujourd’hui déborde les frontières du Mexique, en devenant par exemple une réalité des Etats-Unis, où trente-cinq millions d’habitants parlent désormais l’espagnol. Los Angeles est la troisième ville de langue espagnole, après Mexico et Buenos Aires, avant Madrid ou Barcelone, mais en même temps des avenues entières sont occupées par des Coréens ou des Japonais. Los Angeles est la Byzance du xxie siècle, un exemple concret de cette culture métissée du bassin du Pacifique, qui se développe chaque jour davantage. Dans quelques siècles, nous n’aurons plus de races pures.
- Aux relations entre le monde mexicain et le monde américain, vous avez consacré un recueil de nouvelles intitulé La frontière de verre ...
- Je tiens beaucoup à ce livre. Pour l’écrire, j’ai passé six mois dans les villes situées le long de la frontière entre le Mexique et les Etats-Unis, une des plus longues au monde. Comme dans tous les mondes frontaliers, on y trouve un univers fascinant et en pleine mutation, où les différences de deux cultures qui s’affrontent coexistent avec la naissance de nouvelles réalités culturelles, linguistiques, de moeurs, etc. Sur cette frontière, une culture inédite est en train de naître, celle d’une nouvelle communauté qu’on pourrait appeler « Mexamerica ». Toutefois, contrairement à ce que l’on pourrait penser, la pénétration mexicaine du côté des Etats-Unis est plus marquée que la pénétration américaine au Mexique. Mon pays n’a pas perdu sa langue, sa cuisine, ses habitudes, sa religion, son histoire et l’influence américaine est plutôt superficielle.
- Malheureusement, la rencontre entre cultures différentes produit parfois méfiance, intolérance et xénophobie. Etes-vous inquiet ?
- C’est un fait, il faut donc être vigilant. Les conséquences de la mondialisation sont souvent contradictoires, tant sur le plan du « village global » que sur celui du « village local ». Elle nous offre des atouts formidables dans les domaines de la technologie, du commerce, de l’information, des droits de l’homme, mais il y a également les aspects négatifs. Par exemple, une globalisation sans loi ni règle produit la domination absolue des marchés et une sorte de darwinisme social à l’échelle mondiale. La conséquence paradoxale est que les marchandises sont libres de circuler, mais pas les hommes. Sur le plan local, la mondialisation peut amener à la redécouverte des identités et des traditions locales, mais aussi aux dangers de la xénophobie, du nationalisme et du nettoyage ethnique. La mondialisation risque également d’entraîner la dérive de l’information et de la culture vers une spectacularisation superficielle, uniquement vouée à la distraction.
- Toutefois, dans le domaine de la culture, la mondialisation a également permis la découverte de nouvelles littératures qui aujourd’hui enrichissent la littérature mondiale. Vous l’avez vous-même souligné dans La Géographie du roman ...
- Il y a cinquante ans personne n’aurait imaginé que le Nigeria allait avoir trois grands écrivains comme Chinua Achebe, Wole Soyinka ou Ben Okri. En Afrique, en Turquie, en Amérique du sud, en Nouvelle-Zélande, en Inde, partout l’essor du roman nous montre la richesse et la diversité de la création, qui ne peut pas se contenter d’un seul modèle. Cette nouvelle littérature mondiale représente un aspect positif de la mondialisation. Les pays qui étaient autrefois à la périphérie de l’empire apportent aujourd’hui une contribution essentielle à la littérature mondiale. Ainsi, les meilleurs romans de la littérature de langue anglaise sont l’oeuvre d’auteurs qui viennent des anciennes colonies.
- Peut-on faire le même discours pour la littérature de langue espagnole ?
- Seulement en partie, parce que l’Amérique latine a toujours eu une excellente tradition littéraire. Le grand rénovateur de la poésie en langue espagnole a été un poète du Nicaragua, Rubén Darío. Si Garcia Lorca a contribué au renouvellement de la poésie d’Amérique latine, Pablo Neruda a renouvelé celle de l’Espagne. Entre l’Espagne et l’Amérique latine les échanges ont toujours été fructueux. Il ne faut donc pas parler de littérature espagnole, mexicaine ou argentine, mais seulement de littérature en langue espagnole, celle que j’appelle la littérature du territoire de la Manche, le territoire de Cervantès qui nous embrasse tous. Je me sens à ma place dans cette tradition, tout comme je me sens à ma place dans le domaine plus vaste de la latinité.
- Considérez-vous Cervantès comme l’écrivain qui a le plus compté pour vous ?
- Absolument. Je lis Don Quichotte chaque année à Pâques et chaque fois c’est pour moi une lecture différente. Dans ce livre, j’ai trouvé l’énorme liberté d’une pluralité de genres : le roman chevaleresque, le roman d’amour, le roman byzantin, le roman à l’intérieur du roman, etc. Dans une scène, Don Quichotte rentre dans une imprimerie - c’est la première fois qu’une imprimerie apparaît dans un roman - où ils sont en train d’imprimer un livre qui s’appelle Don Quichotte. Voilà la tradition littéraire de la Manche où la littérature se fait fiction sans prétendre être la réalité. Entre Cervantès, Sterne et Diderot, il existe une continuité qu’on retrouve ensuite en Amérique latine dans l’oeuvre du seul grand romancier latino-américain du xixe siècle, Machado de Assis. A cette tradition se rattachent ensuite Borges et d’autres écrivains de notre continent.
- Est-ce que la culture française a joué un rôle important dans votre formation ?
- Oui. Dans sa jeunesse, mon père attendait tous les mois sur les quais de Veracruz le paquebot arrivant du Havre, qui apportait les nouveautés littéraires de France. Mon père aimait beaucoup la littérature française. Par conséquent, à la maison, j’ai toujours eu à ma disposition - et j’ai lu - les auteurs français. A dix-neuf ans, j’ai pris un cargo de Veracruz à Rotterdam avec La Comédie humaine et un dictionnaire. Pendant les trois semaines du voyage, je n’ai fait que lire Balzac. Plus tard, j’ai lu beaucoup d’autres auteurs, mais la leçon de Balzac a été fondamentale. Il m’a appris qu’on pouvait à la fois être un écrivain de la réalité sociale et un écrivain du monde de la fantaisie. Grâce à lui, j’ai découvert que le réalisme et l’imagination pouvaient très bien cohabiter, une leçon que par la suite j’ai essayé de ne jamais oublier.
- En lisant Ce que je crois , on a l’impression que même le cinéma a beaucoup compté dans votre formation. Est-ce exact ?
- Oui. Même ma naissance a à voir avec le cinéma, puisque ma mère a eu ses premières contractions pendant qu’elle était dans un cinéma en train de regarder un film muet, La Bohème de King Vidor. Dans les années trente, le cinéma était pour nous la découverte du visage de Greta Garbo, une image qui n’allait jamais mourir. La magie de la salle noire nous permettait de projeter nos pensées et nos désirs sur les images. Je suis tombé amoureux du cinéma à ce moment-là, j’y allais deux fois par semaine avec mon père. Et ma mère me disait tout le temps que je ressemblais à Errol Flynn... ( rires ).
- Le cinéma, pour vous, c’est aussi l’amitié pour Buñuel...
- Il a été l’un des grands créateurs de l’art du cinéma, mais pour moi il a surtout été un ami extraordinaire. A Mexico, on se voyait tous les vendredis de quatre à sept heures, pas plus tard, parce qu’il avait des habitudes de moine et se couchait très tôt. Avec lui on avait l’impression de dialoguer avec l’histoire esthétique et artistique du xxe siècle. Il avait participé à la grande avant-garde surréaliste, mais il en parlait sans prétention et avec beaucoup d’humour. En 1967, avec Goytisolo, j’étais dans le jury du festival de Venise où il participait à la compétition avecBelle de jour . J’ai tout fait pour lui faire gagner le Lion d’or contre La Chinoise de Godard et La Chine est proche de Bellocchio. Nous avons convaincu un membre russe du jury qui, au début, ne voulait pas voter pour « un ex-surréaliste qui avait fait un film dans un bordel ». Pour le convaincre, nous lui avons dit qu’un Soviétique ne voterait jamais pour un film faisant allusion à la Chine, car, au retour, il risquait le goulag en Sibérie. C’est ainsi qu’il s’est décidé à voter pour Buñuel... ( rires ).
- Avez-vous écrit des scénarios ?
- J’ai essayé d’en écrire avec García Márquez, pour pouvoir financer nos romans, mais nous étions des scénaristes épouvantables. On passait des heures à discuter sur un simple adjectif. En réalité on faisait plus de la littérature que du cinéma. A la fin, nous avons compris que ce n’était pas notre destin de sauver le cinéma mexicain. Notre destin était d’écrire des romans.
- A propos du roman, vous écrivez : « Les romanciers donnent une réalité verbale à la partie non écrite du monde ». Est-ce votre devise ?
- Chaque romancier sait qu’à côté du monde réel, il existe un autre monde qui n’est pas écrit. J’en ai discuté plusieurs fois avec Italo Calvino. Le roman est comme un fantôme du monde que l’écrivain est le seul à voir. Le romancier dit alors ce qui n’a pas encore été dit et ce qui n’est pas encore inscrit dans le code du monde. Tout cela est encore plus vrai en Amérique latine, où le monde littéraire indien, un monde qui était essentiellement lyrique, a été détruit et enterré par la conquête espagnole. Par la suite, l’Inquisition et la cour espagnole ont interdit toute importation de livres en Amérique latine pendant trois siècles. Ainsi, au moment où en Europe se développait le roman européen avec Cervantès, Madame de La Fayette ou Fielding, la lecture et l’écriture étaient interdites chez nous. C’est seulement après l’indépendance que nous avons commencé à écrire des romans. Au début, à l’exception de Machado de Assis, nos auteurs imitaient le romantisme et le naturalisme européens. Mais un beau jour, à Paris, vers la fin des années vingt, en pleine période surréaliste, trois jeunes écrivains latino-américains - le Cubain Alejo Carpentier, le Guatémaltèque Miguel Angel Asturias et le Vénézuélien Arturo Uslar Pietri - se sont promis de ne plus imiter la littérature européenne, car en Amérique latine nous avions un surréalisme inné. De cette décision est né le réalisme magique latino-américain, qui a donné lieu à une littérature capable de récupérer toutes les traditions perdues et enfouies de notre passé. Tout à coup nous nous sommes aperçus que nous avions tout à dire, que nous pouvions raconter tout ce que nous n’avions pas pu dire pendant trois siècles. Il y avait tout à inventer et une tradition à créer. De cette découverte extraordinaire découlent la puissance et la force des romans latino-américains, des romans qui ensuite ont tous été un peu vite réunis sous l’étiquette du réalisme magique. En réalité, il n’y a eu que deux grands écrivains pour qui cette étiquette est appropriée : Alejo Carpentier et Gabriel García Márquez. Cortázar, Vargas Llosa ou moi-même, nous ne pouvons pas être rangés dans cette catégorie. La vérité est que, dès ses débuts, la littérature latino-américaine a fait preuve d’une grande variété de genres et de styles.
- La découverte de cette possibilité de tout dire a dû vous procurer une sensation presque magique...
- C’était une sensation émouvante. J’avais devant moi un horizon complètement dégagé et plein de possibilités. Avec mon premier roman,La plus limpide région , j’ai par exemple raconté Mexico, la ville la plus importante du pays, qui jusqu’alors n’avait jamais figuré dans un roman. Plus tard, j’ai pu raconter ce qui n’avait pas encore été dit sur la révolution mexicaine, c’est-à-dire l’événement le plus important de notre xxe siècle. Dans le passé, nous avions eu des romans et des témoignages d’écrivains qui avaient participé directement à ces événements, mais, grâce à la distance, je pouvais regarder la révolution sous un nouveau jour plus critique.
- Dans un roman comme La Mort d’Artemio Cruz vous avez souligné le désenchantement et la dégradation des idéaux de la révolution. Pourquoi ?
- La révolution nous a permis de découvrir l’identité mexicaine qui avait été écrasée et cachée. Elle a également amené le monde paysan sur le devant de la scène nationale, en brisant l’isolement de la population rurale et de la montagne. A ce moment-là, naissent le cinéma, la littérature, la musique et l’art du Mexique moderne. Le pays sera alphabétisé, la santé et l’économie connaîtront un véritable développement, mais sur le plan politique il n’y aura pas de processus démocratique ni de pluralisme politique. Nous resterons dans un système autoritaire dominé par un parti unique. Ce système ne sera remis en question qu’en 1968, mais les jeunes demandant la démocratie obtiendront comme seule réponse la répression. Il faudra attendre encore trente ans, avant que le parti unique quitte le pouvoir, ce qui est arrivé récemment.
- Dans vos romans on retrouve tous ces soubresauts de l’histoire du Mexique. Comment envisagez-vous les relations entre la littérature et l’histoire ?
- Face à l’histoire, le romancier a toujours besoin de la distance, qui seule lui garantit une perspective originale. Sur le vif, on peut écrire des témoignages extraordinaires, je pense par exemple à celui de Primo Levi sur les camps de concentration, mais pour écrire un roman, il faut du recul. Pour aborder l’histoire, le romancier doit s’en débarrasser, il ne doit pas se situer dans l’histoire mais dans le monde. Le problème alors est de savoir comment nous nous situons dans le monde, et le romancier le fait précisément à travers l’imagination et le langage.
- C’est ce que vous avez fait dans Laura Diaz , où la protagoniste traverse toute l’histoire du XXe siècle...
- Le roman est une sorte de bilan du xxe siècle, mais à travers le point de vue d’une femme, car je voulais m’éloigner du machisme de la tradition mexicaine. Une femme pouvait incarner ce bilan avec plus de force et de sensibilité. La Mort d’Artemio Cruz et Laura Diaz sont deux romans qui pour moi vont ensemble, car les deux racontent l’histoire de mon pays. Le premier est un roman sur la révolution, tandis que le deuxième est plutôt un roman sur la relation du Mexique avec le monde. D’ailleurs dans ce livre, à travers les vicissitudes de certains personnages, je parle de la réalité hors du Mexique, de la guerre d’Espagne, de la tragédie des camps de concentration ou du maccarthysme. D’un certain point de vue, c’est un roman polyphonique.
- On doit la définition de roman polyphonique au critique russe Mikhail Bakhtine. Est-il une référence pour vous ?
- Absolument. Bakhtine a élaboré une vision du roman qui au fond est la même que celle de Cervantès. Dans le roman polyphonique se croisent les individus, l’histoire, la biographie, la psychologie, la politique : tout peut rentrer dans ce roman, grâce au langage et à l’imagination. Le carnavalesque auquel tenait beaucoup Bakhtine est représenté par cette variété contradictoire du monde qui trouve son équilibre dans le roman.
- La politique revient sans cesse dans votre vie et dans vos romans. Comment les engagements politiques peuvent-ils se concilier avec le travail littéraire ?
- En n’acceptant aucun dogme politique. La seule façon d’introduire la politique dans un roman est d’en accepter toutes les contradictions, les thèses et les antithèses. Il ne faut jamais affirmer une seule position, il faut faire entendre toutes les voix. Les écrivains du réalisme socialiste, qui étaient obligés de chanter la gloire de Staline, exprimaient toujours une seule voix, mais cette attitude n’a jamais donné lieu au vrai roman politique, parce que la politique est toujours un dialogue entre positions différentes. Dans Laura Diaz j’ai essayé de le faire de façon très explicite, par exemple à travers les discussions entre trois personnages qui ont tous participé à la guerre civile espagnole, mais dans des formations différentes : l’un est anarchiste, l’autre communiste et le troisième républicain démocrate. Je ne veux pas privilégier un seul point de vue politique, même si je me considère comme un homme de gauche. Je ne laisse jamais ma position devenir celle du roman, je ne veux pas qu’elle s’impose de façon dogmatique. Bien entendu j’ai des idées politiques, mais je sépare nettement mon activité de romancier de mon éventuel engagement pour défendre telle ou telle cause. Quand j’écris un roman, je n’adopte pas la même attitude que lorsque j’écris un article pour El País sur la politique internationale. La valeur littéraire naît toujours de la cohérence avec le langage, mais aussi d’une sorte de foi en les possibilités de la création. Dans un roman, l’imagination et le langage sont les éléments essentiels de l’engagement littéraire. Les défendre c’est donc défendre la liberté.
- Dans Ce que je crois vous citez Agnès Heller, pour qui « l’éthique est une question de responsabilité personnelle ». Qu’est-ce la responsabilité personnelle pour un écrivain ?
- Pour Dostoïevski, tout le monde devait être responsable de tout le monde. Mais comment faire ? Il posa la question au critique Vissarion G.Biélinski, qui lui conseilla de tendre sa main à la personne la plus proche de lui. C’était le seul moyen pour se sentir responsable du monde entier. Pour moi, donc, le roman est une tentative de tendre la main à l’autre. C’est ainsi que je conçois ma responsabilité personnelle.

Rencontre avec Carlos Fuentes par LeNouvelObservateur
Fabio Gambaro
Crédit photo : © Carlos Fuentes ©J-Sassier-Gallimard



Auteur

Fabio Gambaro

Notes

Cet entretien a été publié dans le numéro 416 du Magazine Littéraire. 

Lire nos articles sur Carlos Fuentes
L’écrivain mexicain Carlos Fuentes est né au Panama en 1928. Fils de diplomate, il a poursuivi ses études au Chili, en Argentine, aux Etats-Unis et en Suisse. Entre 1975 et 1977, il a été ambassadeur du Mexique à Paris. Dès son premier roman, La Plus Limpide Région , paru en 1958, jusqu’à Laura Diaz, publié en 1999, en passant parLa Mort d’Artemio Cruz (1962),Peau neuve (1967), Terra nostra (1975), Le Vieux gringo(1985), Christophe et son oeuf(1987), Diane ou La chasseresse solitaire (1994), Fuentes a peu à peu bâti un riche cycle romanesque d’une vingtaine de romans (tous traduits chez Gallimard), appelé par la suite L’Age du temps . Il a obtenu un vaste succès international et de nombreuses distinctions, parmi lesquelles le Prix Cervantès en 1987 ou le Prix Prince des Asturies en 1994. Il est également l’auteur de pièces de théâtre et de quelques essais remarquables, commeLe Sourire d’Erasme (1990) ouLa Géographie du roman(1993).

Vampirismo economico brasileiro - Rolf Kuntz


Vampirismo econômico

Rolf Kuntz - O Estado de S.Paulo, 16 de maio de 2012
Quatro países sul-americanos cresceram bem mais que o Brasil, no ano passado, com taxas de inflação muito menores. Resultados melhores que os brasileiros foram alcançados também por economias emergentes da Europa. No Brasil, empresários desconhecem ou menosprezam esses dados e se mostram dispostos, mais uma vez, a embarcar na aventura de "um pouco mais de inflação" para conseguir um pouco mais de crescimento - como se prosperidade e estabilidade fossem objetivos incompatíveis. Segundo um representante da indústria, o governo tem de bancar o risco inflacionário gerado pela alta do dólar para garantir mais atividade e preservar a produção nacional. Opiniões desse tipo têm aparecido com frequência e são um complemento previsível dos apelos por mais protecionismo e mais intervenções paternalistas (ou maternalistas) do governo. O filme é conhecido: a história inclui produtos vagabundos e caros para consumidores desprotegidos, inflação alta, desemprego estrutural e crises periódicas de balanço de pagamentos. A segurança criada pelas barreiras é tão enganadora quanto injusta.
Em 2011, a inflação média do Brasil chegou a 6,6%, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 2,7%. Estes são os números de alguns latino-americanos administrados com maturidade: Colômbia, 3,4% de inflação e 5,9% de crescimento; Peru, 3,4% e 6,9%; Chile, 3,3% e 5,9%; Equador, 4,5% e 7,8%. Alguns europeus conseguiram, apesar da crise regional, combinar expansão e estabilidade: Polônia, 4,3% de inflação e 4,3% de aumento do PIB; Lituânia, 4,1% e 5,9%; Turquia, 6,5% e 8,5%.
A conversa sobre inflação intensificou-se nos últimos dias, quando o dólar passou de R$ 1,90 e rapidamente se aproximou de R$ 2,00. Alguns economistas logo chamaram a atenção para o possível efeito inflacionário do câmbio desvalorizado. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, mostrou pouca ou nenhuma preocupação com esse risco e preferiu dar ênfase ao efeito benéfico da variação cambial. Dólar mais caro significa maior poder de competição para o produtor brasileiro. A discussão é um tanto vaga, neste momento, porque ninguém pode dizer com segurança como será o câmbio dentro de alguns meses, se a crise europeia amainar, os investidores se acalmarem e a procura de ativos em dólares ficar menos intensa. Falta saber, além disso, como estará a relação entre os juros brasileiros e os ganhos proporcionados por outras aplicações. Vários analistas mantêm a aposta numa acomodação do câmbio em cerca de R$ 1,85 por dólar.
Enquanto os especialistas tentam projetar a cotação da moeda americana, empresários festejam a depreciação do real, em coro com o ministro Mantega e sua chefe. Segundo o ministro, ele, "a torcida do Flamengo e a do Fluminense" estão satisfeitos com o câmbio atual. Além disso, a presidente Dilma Rousseff mostra-se preocupada com a competitividade da indústria, não com o dólar mais caro, acrescentou.
Mas a pressão inflacionária é apenas um dos possíveis efeitos indesejáveis da depreciação cambial. Pode-se atenuar esse efeito com a moderação do gasto público e uma gestão prudente do crédito. Surto inflacionário por causa do câmbio não é fatalidade, exceto em ambiente de tolerância. É o risco brasileiro.
A depreciação do real pode ser acompanhada também de efeitos perigosos na gestão da economia. Durante décadas, no Brasil, o câmbio desvalorizado serviu para disfarçar uma porção de ineficiências tanto das empresas quanto do ambiente econômico. As exportações avançavam muito devagar e o Brasil era insignificante no mercado internacional. Mas o câmbio depreciado funcionava como um energético, a indústria era protegida por enormes barreiras e os consumidores eram explorados sem perceber claramente a patifaria. O controle represava os preços internos e a indexação enganava assalariados e pequenos poupadores. Pouca gente contestava a aliança entre o governo voluntarista e balofo e os favoritos da corte.
Alguns itens desse roteiro talvez estejam descartados, mas o voluntarismo, o protecionismo, a ineficiência do governo, o intervencionismo e a engorda do setor público são cada vez mais sensíveis. Sem compromisso com a reforma do péssimo sistema tributário, o governo se limita a remendos. Sua incompetência gerencial se reflete na incapacidade de conduzir programas e projetos para o aumento da produtividade geral do País. De vez em quando, empresários cobram reformas relevantes. Mas brigam a maior parte do tempo pela redução dos juros e pela correção do câmbio, como se isso resolvesse os problemas de competitividade. Obviamente não resolve. Quanto ao voluntarismo, será bem-vindo enquanto resultar em domesticação do Banco Central, reserva de mercado e formas variadas de protecionismo. O passado, em alguns países, é tão difícil de enterrar quanto um vampiro.
JORNALISTA

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Dou-me o direito de discordar (Comissao da "Verdade")

Sobre isto:


A presidente Dilma Rousseff empossou nesta quarta-feira, em Brasília, os sete integrantes da Comissão Nacional da Verdade, grupo de trabalho que irá apurar violações de direitos humanos durante a ditadura militar, entre os anos de 1946 e 1988. Com voz embargada, a presidente negou que o colegiado busque “revanchismo” ou a possibilidade de “reescrever a história”. Ex-integrante da organização clandestina VAR-Palmares, a presidente se emocionou ao relembrar os “sacrifícios humanos irreparáveis” daqueles que lutaram pela redemocratização do país...

peço licença para discordar.
Como ex-integrante de dois desses grupos que alinharam contra o regime militar, no final dos anos 1960 e início dos 1970, posso dizer, com pleno conhecimento de causa, que NENHUM de nós estava lutando para trazer o Brasil de volta para uma "democracia burguesa", que desprezávamos.
O que queríamos, mesmo, era uma democracia "popular", ou proletária, mas poucos na linha da URSS, por nós julgada muito "burocrática" e já um tantinho esclerosada.
O que queríamos mesmo, a maioria, era um regime à la cubana, no Brasil, embora alguns preferissem o modelo maoista, ainda mais revolucionário.
Os soviéticos -- e seus servidores no Brasil, o pessoal do Partidão -- eram considerados reformistas incuráveis, e nós pretendíamos um regime revolucionário, que, inevitavelmente, começaria fuzilando burgueses e latifundiários. Éramos consequentes com os nossos propósitos.
Sinto muito contradizer quem de direito, mas sendo absolutamente sincero, era isso mesmo que TODOS os desses movimentos, queríamos.
Essa conversa de democracia é para não ficar muito mal no julgamento da história.
Estávamos equivocados, e eu reconheço isso. Posso até dar o direito a outros de não reconhecerem e não fazerem autocrítica, por exemplo, dizer que nós provocamos, sim PROVOCAMOS, o endurecimento do regime militar, quando os ataques da guerrilha urbana começaram. Isso é um fato.
Enfim, tem gente que pode até querer esconder isso.
Mas eles não têm o direito de deformar a história ou mentir...
Paulo Roberto de Almeida 
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Addendum em 21/05/2012
A revista Veja, em sua edição do sábado 19 (data de capa 23/05/2012), reproduziu trecho desta postagem, desta forma: 



O sociólogo Paulo Roberto de Almeida, que pertenceu a grupos de insurreição armada contra o regime militar brasileiro, colocou a questão com muita clareza:
"Como ex-integrante de dois desses grupos que se alinharam contra o regime militar, posso dizer, com pleno conhecimento de causa, que nenhum de nós estava lutando para trazer o Brasil de volta para uma 'democracia burguesa', que desprezávamos. Nós pretendíamos um regime revolucionário, que, inevitavelmente, começaria fuzilando burgueses e latifundiários."
Essa é a verdade. É uma afronta à história tentar romantizar ou edulcorar as ações, os métodos, as intenções e as ligações com potências estrangeiras dos terroristas que agiram no Brasil durante o período militar.