O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

segunda-feira, 11 de março de 2013

Salarios dos diplomatas no exterior: um debate ridiculo (PRAlmeida)


Salários de diplomatas no exterior: um falso debate

Paulo Roberto de Almeida

Depois que aqui postei uma matéria do jornal O Globo sobre os altos salários de diplomatas no exterior, várias pessoas me pediram comentários sobre o assunto, algumas de maneira educada, mas uma, perceptivelmente, com uma espécie de esgar de triunfo: “pronto, vamos pegar esses desgraçados, que dilapidam a nação com seus salários nababescos, e sobretudo esse falso moralista [eu] que critica a tudo e a todos, vamos ver como ele se sai dessa agora”. Claro, não foi assim, e foi em tom bem mais raivoso, mas que não me cabe transcrever aqui.
Pois bem, existem altos salários de diplomatas no exterior? Pode ser, ou até parece, numa simples transcrição de valores em dólares transformados ao câmbio do dia. Esses salários deveriam ser trazido abaixo do teto constitucional que é o dos juízes do Supremo? Vou logo dizer que isso é ridículo, e tecer algumas considerações sobre o assunto.
Qualquer um que conheça a estrutura – que não existe, a bem dizer – dos salários do setor público no Brasil sabe que se trata de um caos indescritível, em cada um dos poderes, dentro dos poderes, entre eles, nos três níveis da federação, em qualquer dimensão que se possa examinar. Não existe correspondência entre cargos e funções, existem diversos meios de escape dos baixos salários (com reclassificações indevidas), existem cargos de confiança que são na verdade de apaniguados, em grande medida, e existe, de forma abundante, barroca, surrealista, milhares de penduricalhos e empulhações, que atendem pelo nome de “gratificações”, dezenas delas, a maior parte completamente artificiais, criadas unicamente para aumentar os ganhos sem precisar passar pelo ritual de aprovação de uma lei específica, penduricalhos que depois são incorporados aos salários nominais e até às aposentadorias (não só do próprio, como das viúvas, que em média sobrevivem os próprios por 17 anos). Enfim, não preciso descrever o horror que é essa situação e não preciso falar do horror que tenho dela.
Um país decente, ou simplesmente normal, teria uma estrutura linear, progressiva, transparente, de salários do setor público, atingindo a todos os funcionários públicos, onde estivessem, o que fizessem, em qualquer poder, em qualquer unidade da federação. Não conheço o sistema japonês em detalhes, mas parece que se trata de algo próximo disso, e quem quiser saber como deveria funcionar no Brasil, talvez devesse olhar o sistema japonês. Mas o Brasil não é, obviamente, um país normal, e por isso exibe aberrações inacreditáveis, a começar pelo fato de que, na média, os funcionários públicos ganham cinco ou seis vezes mais do que seus equivalentes funcionais no setor privado, e não imagino (ao contrário, imagino sim, mas pelo outro lado) que a produtividade média do funcionário público seja cinco ou seis vezes superior à de seus colegas, ou equivalentes, do setor privado.
O problema, portanto, começa por aí. Para tentar colocar um pouco de ordem nesse caos, ou talvez para tentar contornar o problema, burocratas espertos trabalhando para políticos idem resolveram criar o tal de teto constitucional, o que por si já é uma aberração. Como já disse alguém, a Constituição só não traz o seu amor de volta em três dias, mas o resto, procurando bem, está lá. Não se trata de um teto, pois ele é furado por dezenas de expedientes expertos, e outras malandragens típicas dos brasileiros, que são altamente inovadores na malandragem justamente (acabam de pegar uma médica do SAMU que tinha seis dedos em silicone de colegas, para certificar presença no trabalho: devem ter aprendido desses filmes de espionagem de Hollywood, trazendo os melhores truques da CIA). O teto é patético e ridículo, inclusive porque não é um teto para os próprios “tetados”: eles recebem diversas outras mordomias em espécie e em serviços, ademais de ajutórios de diversas ordens para viver, comer e se vestir, coitados, que seu salário real supera amplamente o de um juiz da Suprema Corte dos EUA (atenção: não acho que eles ganham muito não, mas é que os EUA exibem, na média, uma renda per capita cinco ou seis vezes superior à do Brasil, e que lá esse é, de fato, o maior salário da função pública).
Pois bem, o que dizer, então, do uso desse teto furando, em reais, no Brasil, sem computar qualquer outro penduricalho, com salários (de diplomatas e militares, por exemplo) no exterior, pagos em dólar por conveniência, mas vivendo em diferentes países, com custos de vida e paridades cambiais bem diversas entre si. Não sou economista, mas conheço economia, e sobretudo conheço e conheci a vida em dezenas de países diferentes, do socialismo surreal ao capitalismo ideal, da bonança rica à miséria mais miserável, e sei, por exemplo, que os aluguéis mais altos podem ser encontrados em lugares os mais modestos, e que a loucura econômica de certos governos pode ser ainda mais alta do que a imperante em certo país tropical, onde burocratas, magistrados e luminares acham que podem usar um valor nacional como parâmetro universal de alguma coisa.
Não vou entrar nesse debate de que o salários dos diplomatas no exterior deve ser regulado pelo teto constitucional brasileiro porque ele já é ridículo no próprio Brasil e para o exterior passa a ser simplesmente surrealista. Uma coisa apenas afirmo: o teto constitucional NÃO PODE ser parâmetro para medir qualquer coisa fora do Brasil, em qualquer sentido que se pretenda. Encerro esta questão afirmando novamente: isso é absolutamente ridículo, ponto!
Agora, os diplomatas ganham muito no exterior? Em relação a que? Assim como não se mediu, no teto constitucional dos juízes do Supremo os muitos penduricalhos que Suas Excelências agregam, como medir os salários de outros diplomatas, que podem estar sendo contemplados, por seus respectivos serviços, com diversas outras vantagens indiretas (como educação dos filhos, por exemplo, algo que angustia a maior parte dos secretários servindo no exterior)?
Sou totalmente a favor de que uma lei absolutamente transparente que regulamente o que ganham TODOS os funcionários públicos, no Brasil e no exterior. Neste último caso, eu não chegaria ao ridículo de vincular o salário no exterior a QUALQUER valor do Brasil, pois isso é economicamente falho e inadequado do ponto de vista cambial, ou da simples conjuntura econômica, que muda sensivelmente em poucos meses, trazendo alterações para melhor ou para pior no poder de compra. Existem mecanismos pelos quais se pode estabelecer uma remuneração fixa, em escala, e depois diferentes mecanismos de correção, e de adição, segundo o poder de compra e a situação do trabalhador (com filhos, ou solteiro, por exemplo).
Enfim, não vou entrar nos detalhes das remunerações pois não sou especialista, nunca me interessei pelo assunto e jamais vou trabalhar num setor de administração que cuide de matérias tão chatas quanto essa. Jamais procurei saber quanto iria ganhar em qualquer função ou cargo que exerci, no Brasil ou no exterior. Isso simplesmente não me interessa. Ganho o que me pagam, adapto meus gastos ao que ganho, e isso é tudo, ponto final. Existem diplomatas que ficaram ricos na carreira? Pode ser, mas não deve ser fácil para um diplomata normal, pois poucas vezes encontrei colegas construindo mansões e dando festas faraônicas, como por vezes ocorre com outros funcionários de alguns setores. Em todo caso, nunca encontrei, na carreira, alguém que tenha entrado com o ânimo de enriquecer. Enfim tudo é possível, nos assuntos humanos...
Agora, quanto a esse falso debate que tentam criar no Brasil, em torno do teto constitucional para diplomatas no exterior, só posso repetir: é ridículo!

Paulo Roberto de Almeida (Hartford, 10/03/2013)

domingo, 10 de março de 2013

Os bolivarianos brasileiros: entrevista com SPG (Pagina 12)


EL MUNDO › ENTREVISTA CON SAMUEL PINHEIRO GUIMARAES, DIPLOMATICO E INTELECTUAL BRASILEÑO

“Chávez dijo que mira al sur”

Guimaraes habló sobre de qué forma Dilma Rousseff y Cristina Fernández se articulan para garantizar la estabilidad en la Venezuela que viene y cómo moverá sus piezas Washington ante un
 Por Darío Pignotti
Desde Brasilia
Pagina 12, 09/03/2013
Samuel Pinheiro Guimaraes es el diplomático e intelectual brasileño que a menudo citaba Hugo Chávez para fundamentar su alianza con Brasil o denunciar el “anexionismo del imperio” embutido en el ALCA. El ex Alto Representante del Mercosur Pinheiro Guimaraes también fue mencionado por la embajada de EE.UU. en Brasilia, que en documentos secretos lo tipificó como un “virulento antinorteamericano”, según reveló Wikileaks.
De qué forma Dilma Rousseff y Cristina Fernández se articulan para garantizar la estabilidad en la Venezuela que viene y cómo moverá sus piezas Washington ante un eventual gobierno de Nicolás Maduro fueron temas tratados por uno de los hombres que diseñó la nueva política externa brasileña en esta enciclopédica entrevista con Página/12.
–Maduro habló de plan sedicioso y expulsó a funcionarios norteamericanos, la prensa informó que Dilma procuró a Cristina para frenar a eventuales golpistas.
–No tengo información de primera mano, pero seguro que las presidentas están interesadas en que no haya golpe de Estado no digo ahora, pero en el mediano plazo. Esto siempre puede ocurrir, como en 2002 contra Chávez, nadie lo esperaba y de repente vino el golpe, un golpe se articula discretamente. Ellas están acertadas al preocuparse y posiblemente tengan informaciones. Pero creo difícil un golpe en el corto plazo, en el mediano o largo no sé. Es importante que Brasil y Argentina estén vigilantes, juntas pesan mucho y en esta fase de transición el apoyo de ellas al gobierno democrático es indispensable, de todos modos creo que la transición hasta las elecciones está asegurada. Y además de lo que hagan las presidentas hay que observar lo que hace Lula, él siempre está presente aunque ya no sea presidente.
–¿Las fuerzas armadas son unánimemente chavistas?
–Es preciso tomar en cuenta que la sociedad venezolana está fracturada, no en dos mitades, pero está muy enfrentada. Los programas sociales llevaron a la concientización de las masas y al mismo tiempo recalentaron una reacción de las clases altas y medias altas, y con ellas una parte de los pobres que son irremediablemente conservadores. Ese grupo suele buscar el apoyo militar, yo no sé con certeza si hay sectores militares fuertes con planes golpistas, pero hay militares a los que no les gusta el chavismo y eso no me sorprende, por eso considero importante que existan milicias populares dispuestas a defender al gobierno para compensar el poder de los militares.
–¿El nuevo secretario de Estado John Kerry será menos hostil que Hillary?
–Me parece casi imposible ser más hostil que Hillary, pero la política externa de EE.UU. trasciende a los funcionarios y se guía por un principio permanente que es el de castigar, aunque muchos años después, a los países que no se encuadraron en sus órdenes. Cuando algún país se encuadra, y Venezuela no se encuadró, en algún momento le espera la venganza misma con pretextos falsos. Así pasó con Irak, ellos querían invadirla a como fuere, George W. Bush llegó a decir que Saddam quiso matar a su padre. Lo mismo pasa con Irán por haber invadido la embajada norteamericana en Teherán. Este principio también se aplicaría a la Venezuela de Maduro, creo que Washington no perdonará nunca las actitudes de Chávez. Antes de él Venezuela era una provincia petrolera de EE.UU. En la Segunda Guerra fue la mayor proveedora de petróleo de los Aliados. Todo esto se hizo trizas con la llegada de Chávez, que dijo: “Mi política externa mira al Sur”. Fue un sopapo. Hay que entender esto geopolíticamente, Venezuela y Colombia son fundamentales para el sistema norteamericano, son el Mediterráneo norteamericano.
–Para la derecha, ¿el chavismo morirá con él?
–La dimensión de Chávez fue inmensa, pero no considero adecuado caer en el razonamiento de que todo era fruto de su carisma. Decía un autor alemán que vivió en EE.UU. que las personas no llegan al poder porque tienen carisma, el poder es el que les da carisma. Cuando Chávez llegó al poder en 1999 no tenía la gran dimensión internacional que llegó a tener, y en la medida en que se fue desarrollando su proyecto lo tuvo. Ahora hay que ver cómo madura Maduro (risas).
–¿El cesarismo del modelo bolivariano agrava el vacío causado por la muerte del líder?
–Los medios en todo el mundo entronan mucho la actuación del presidente o primer ministro, en los sistemas presidencialistas o parlamentarios, se sobrevalora a la persona, como si la persona fuera imprescindible. Es falso. Nadie gobierna solo, se gobierna porque se representa a un conjunto de sectores, porque se tiene el apoyo de sectores populares, esto pasa en las democracias liberales y en dictaduras. Es falaz considerar que el chavismo es sólo la persona de Chávez. Decir que Chávez era todo fue una mentira de los medios, que también inventaron que la revolución no es democrática, y en la Venezuela de Chávez hubo más elecciones que acá, el presidente Lula lo marcó. No hay noticias de periodistas presos, de opositores presos, si los hubiera serían noticia permanente. Esa prensa creó la fantasía de que la revolución es un sistema unipersonal, y no lo fue.
–¿La larga enfermedad de Chávez permitió que Maduro se afiance como su sucesor?
–Espero que sí, no es fácil saber cuál será su habilidad para mantener dentro del proyecto a los sectores populares, partidos, fuerzas armadas.
–Washington consideró absurda la sospecha de que Chávez haya muerto víctima de una enfermedad inoculada. Ciertamente la hipótesis suena exagerada, ¿usted la descarta?
–No estaría en condiciones de hablar sobre lo que ocurrió, pero Maduro habló del tema según tengo entendido y prometió investigar. El sabrá por qué lo dice y si hubiera alguna desconfianza por parte del gobierno venezolano éste puede adoptar la decisión que le parezca, los Estados tienen soberanía para decidir. No afirmo nada.
Los que pusieron en duda lo que causó la muerte de Arafat (presunto asesinato con sustancias radioactivas) fueron descalificados en 2004, cuando murió. Pasados los años, eso que parecía absurdo ahora no lo es. Que se investigue.
@DarioPignotti

Heranca maldita (bolivariana) - Enrique Krauze

Chaga histórica

Para historiador, o principal ônus da era Chávez foi o ódio dos microfones do poder contra os que divergiam desse mesmo poder

09 de março de 2013 | 16h 00
Enrique Krauze
 
Ele tinha uma concepção polarizada do mundo. Via o mundo dividido entre amigos e inimigos, entre chavistas e pitiyanquis(simpatizantes dos americanos), entre patriotas e traidores. Descobri sua vocação social em livros e ensaios. Mas uma coisa é a vocação social, outra a forma na qual essa vocação é praticada. Obcecado por uma admiração anacrônica pelo modelo cubano, Hugo Chávez tumultuou as instituições públicas venezuelanas, corrompeu a companhia estatal Petróleos de Venezuela SA e foi protagonista do que poderá se revelar o maior desperdício de riquezas públicas de toda a história latino-americana. Mas embora os seus erros econômicos sejam de tão grande magnitude, empalidecem diante das chagas políticas e morais que infligiu ao país.
Chávez magnetiza a massa na Plaza Caracas em fevereiro de 1998: legado polêmico - Jorge Santo/AP
Jorge Santo/AP
Chávez magnetiza a massa na Plaza Caracas em fevereiro de 1998: legado polêmico
Chávez não só concentrou o poder: ele confundiu, ou melhor, fundiu sua biografia pessoal com a história venezuelana. Nenhuma democracia prospera onde um homem supostamente "necessário", único e providencial reivindica a propriedade privada dos recursos públicos, das instituições públicas, do discurso público, da verdade pública. O povo que tolera ou aplaude essa delegação absoluta de poder numa só pessoa abdica de sua liberdade e condena a si mesmo à adolescência cívica, pois essa delegação supõe a renúncia à responsabilidade sobre seu destino.
O principal prejuízo é a discórdia no interior da família venezuelana. Nada me entristeceu mais nas visitas a Caracas (nem sequer a escalada da criminalidade ou a visível deterioração da cidade) do que o ódio dos microfones do poder contra o amplo setor da população que divergia desse poder. O ódio dos discursos, dos cartazes, dos punhos fechados, dos arrogantes porta-vozes do regime em programas de rádio e TV, das redes sociais infestadas de insultos, mentiras, teorias conspiratórias, desqualificações, preconceitos. O ódio do fanatismo ideológico e do rancor social. O ódio surdo à razão e impermeável à tolerância. Essa é a chaga histórica que o chavismo deixa. Quanto tempo levará para sanar? E poderá sanar? É um milagre que a Venezuela não tenha desembocado na violência partidária e política.
Há algumas semanas, com o agravamento da doença de Chávez, antecipei sua imediata santificação, como ocorreu com Evita Perón na, mas, dada a tradição caudilhista da Venezuela, a sacralização de sua figura será mais profunda e permanente. Hugo Chávez conseguiu a imortalidade com que sempre sonhou. Na alma de muitos dos seus compatriotas (e de não poucos simpatizantes na América Latina), ele compartilhará das glórias do Libertador. Até o comandante Fidel Castro poderia sentir-se relegado, vítima de um suave, porém implacável parricídio.
O que acontecerá agora, depois de sua morte? Tudo pode ocorrer, até a divisão interna do chavismo em uma ala ideológica e uma militar ou a vitória da oposição. Contudo, é provável que o sentimento de pesar, somado à gratidão que um amplo setor da população sente por Chávez, facilitem o triunfo de um candidato oficial nas eventuais eleições. Para isso contribuirão os órgãos eleitorais, fiscais, judiciais e - em parte - os legislativos, que continuarão nas mãos do chavismo. Seu retrato, sua cadeira vazia, sua imagem retransmitida interminavelmente acompanharão por algum tempo o novo presidente. Mas todo sofrimento tem um fim. E, neste momento, chavistas não chavistas deverão enfrentar a gravíssima realidade econômica.
Os indicadores de alarme são de domínio público. O déficit fiscal corresponde a 20% do PIB, cerca de US$ 70 bilhões. O dólar, cotado a pouco mais de 6 bolívares, triplica no mercado negro. A inflação vem sendo há anos, a mais elevada da região. A escassez (decorrente do desmantelamento do parque industrial, do êxodo da classe média profissional e da falta crônica de investimentos) virou quase uma tradição venezuelana. Há uma aguda carestia de divisas. Como explicar que um país, que na era de Chávez auferiu mais de US$ 800 bilhões em receitas petrolíferas, apresente contas tão alarmantes?
Boa parte da explicação está no petróleo. Em 1998, a Venezuela produzia 3,3 milhões de barris diários e exportava (e cobrava) 2,7 milhões. Agora, a produção despencou para 2,4 milhões de barris diários, pelos quais cobra apenas 900 mil (os que vende aos EUA, o império odiado). O restante, que ele não cobra, divide-se assim: 800 mil vão para o consumo interno, praticamente gratuito (e que gera um polpudo negócio de exportação ilegal); 300 mil destinam-se a pagar créditos e produtos adquiridos na China; 100 mil são gastos com a importação de gasolina; e 300 mil vão a países do Caribe que pagam (quando pagam) com descontos e prazos enormes ou simbolicamente, como Cuba, que "paga" seus 100 mil barris com o envio de médicos, professores e policiais (e se beneficia do petróleo venezuelano a ponto de reexportá-lo).
Um presidente chavista deverá enfrentar essa realidade e encarar o público. Mas esse mandatário já não será Chávez o hipnótico, Chávez o taumaturgo, o líder que explicava tudo, justificava tudo, minimizava tudo. As pessoas culparão os chavistas por não estarem à altura do seu legado. Dirão: "Chávez não teria permitido isto", "Chávez teria resolvido isto". Chegado a este ponto, o próprio regime chavista talvez se convencesse da necessidade de um diálogo de conciliação que agora parece utópico. E aí se poderia abrir uma oportunidade concreta para a oposição.
Depois dos longos anos de inconsistências, omissões e erros, a oposição venezuelana mostrou-se unida, escolheu um líder inteligente e determinado (Henrique Capriles) e teve bom desempenho nas eleições: recebeu quase 7 milhões de votos. Durante a agonia de Chávez, sem deixar de levantar a voz de protesto, mostrou uma notável prudência que deve confirmar nestes dias de dor e de comoção. Se a oposição - que esperou tanto - conservar a coesão e a presença de espírito, poderá avançar nas eleições legislativas, regionais e presidenciais e recuperar as posições que perdeu. Uma força latente também deverá despertar: os estudantes. Eles exerceram papel fundamental no referendo de 2007 (que impediu a conversão aberta da Venezuela ao modelo cubano) e talvez voltem a exercê-lo.
Acredito que, com a morte do grande caudilho messiânico ("Redentor", como o chamou abertamente o próprio Maduro), a Venezuela encontrará, cedo ou tarde, o caminho da concórdia: se nos quinze anos de Chávez a violência verbal não transbordou para a violência física, é razoável esperar que não explodirá agora. E a mudança poderá ser contagiosa. Cuba, a Meca do redentorismo histórico, o único Estado totalitário da América, poderá reformar-se como a Rússia e a China. Toda a região poderá oscilar então entre regimes de esquerda social-democrática e governos de economia mais aberta e liberal. E para que o trânsito seja menos acidentado, os EUA também deveriam dar sinais inéditos de sensatez, cancelando o embargo a Cuba e fechando a prisão de Guantánamo.
O século 19 latino-americano foi o século do caudilhismo militarista. O século 20 sofreu o redentorismo iluminado. Ambos os séculos padeceram com os homens "necessários". Talvez no século 21 desponte um novo amanhecer, um amanhecer plenamente democrático.
TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
ENRIQUE KRAUZE, ESCRITOR E HISTORIADOR MEXICANO, É AUTOR DE OS REDENTORES - IDEIAS E PODER NA AMÉRICA LATINA (BENVIRÁ).

Governo intervencionista assusta empresarios infraestrutura paralisada

Dizem que gato escaldado tem medo de água fria. Parece, ou pode ser...
Não sei se os empresários estão ou não escaldados com este governo e o anterior, mas o fato é que o boca grande anterior se gabava de nunca ter dado tanto lucro aos capitalistas e banqueiros: "eles nunca ganharam tanto dinheiro como neste governo", dizia ele, numa demonstração prática de que dá, realmente, para enganar todo mundo durante algum tempo. Mas tudo o que existe, se esvanece no ar, como diria um desses gurus conhecidos...
Nos tempos do Império, o governo fazia PPPs, ou concessões de ferrovias e outras obras de infraestrutura contra 6% de garantia de juros, que era bem mais que os capitalistas poderiam esperar ganhar aplicando em bônus do governo ou no mercado financeiro, em geral. Parece que funcionou, pois tivemos dezenas de ferrovias e outras obras bancadas inteiramente pelo capital estrangeiro, com a tal de garantia de juros.
Agora, o governo que não é imperial, mas que talvez gostaria de ser, oferece um monte de garantias e ninguém se mexe.
O que significa isso? Apenas uma coisa: falta de confiança...
Paulo Roberto de Almeida 

Novas vantagens, riscos antigos

10 de março de 2013 | 2h 08
Editorial O Estado de S.Paulo
 
As novas vantagens financeiras anunciadas pelo governo às empresas privadas interessadas em participar do programa de concessões em infraestrutura, especialmente em ferrovias, não têm sido suficientes para afastar temores dos grupos empresariais que avaliam sua entrada nesses programas.
É, sem dúvida, atraente para os investidores a antecipação, anunciada pelo governo na semana passada, de 15% da receita esperada pelas concessionárias durante todo o período de concessão, de 35 anos. Igualmente vantajosa para as concessionárias é a regra, conhecida anteriormente, segundo a qual a estatal Valec comprará antecipadamente toda a capacidade de transporte das ferrovias concedidas, assumindo sozinha o risco de comercialização dos serviços ferroviários. Nem com as garantias já conhecidas, porém, grandes grupos estão inteiramente convencidos de que vale a pena correr os riscos implícitos no modelo de concessão apresentado pelo governo.
A antecipação da receita prometida pelo governo começará a ser paga a partir do segundo ano após a assinatura do contrato, se o cronograma de obras estiver sendo cumprido. Trata-se de uma cláusula que poderá ser cumprida sem muitas dificuldades pelas concessionárias, pois é bastante provável que de seu controle participem grandes grupos da área de construção pesada, que já se articulam com empresas especializadas em operações ferroviárias para participar das licitações. Estima-se que, com isso, as concessionárias poderão receber antecipadamente R$ 13,65 bilhões, que serão repassados à Valec pelo Tesouro.
O direito de auferir a receita antecipadamente poderá ser apresentado como garantia junto ao BNDES, nos financiamentos, com juros vantajosos para o financiado, de até 80% dos investimentos das concessionárias.
A compra, pela Valec, de toda a capacidade de movimentação da ferrovia protege as concessionárias do risco de mercado - embora possa resultar em perdas para os contribuintes se a estatal não conseguir comercializar toda a capacidade ou se o fizer por valor inferior ao que pagou. Trata-se, por isso, de uma importante garantia para os investidores.
Nada disso, porém, elimina outros problemas sérios do modelo anunciado pelo governo e que deixam dúvidas em grupos empresariais e investidores a respeito da conveniência de sua participação nesse processo.
Embora afaste o risco comercial das concessionárias, a compra da capacidade de transporte pela Valec traz outro. Trata-se das implicações práticas do enorme poder comercial de que a estatal disporá. A história recente registra diversos casos de uso de estatais pelo governo de acordo com seus interesses políticos. Desse uso resultaram perdas para contribuintes, acionistas ou empresas com as quais as estatais tinham vínculos contratuais. O temor de que experiências como essas se repitam gera alguma insegurança jurídica.
Igualmente preocupante para os investidores é a incerteza, dentro do próprio governo, a respeito da taxa de retorno do empreendimento, variável essencial para a montagem de um programa financeiramente sustentável ao longo do período de concessão. Para forçar a baixa das tarifas, o governo tem comprimido ao máximo a taxa de retorno, o que assusta os investidores. Além disso, tem dado informações contraditórias, ora anunciando uma faixa de variação da taxa, ora anunciando outra.
Do ponto de vista institucional, o que preocupa é como se fará a compatibilização de dois modelos diferentes, o atual, no qual a concessionária tem controle sobre suas linhas - permitindo seu uso por terceiros apenas nos períodos de ociosidade -, e o novo, no qual qualquer interessado poderá transportar sua carga pelas linhas.
Por fim, a inclusão no programa de concessões ferroviárias de trechos que já são ou poderão ser atendidos com mais eficácia pelo transporte rodoviário ou pelo marítimo, como as ligações paralelas à costa nas Regiões Nordeste, Sudeste e Sul, pode tornar esses blocos desinteressantes.
  

Fake mumy, fake stories: os bolivarianos se superam...

A Verdade foi enterrada antes de Hugo Chávez
Jorge Serrão
Alerta Total, 10/03/2013


Talvez por esquizofrenia, deficiência mental ou falta de caráter, aqueles que pensam e agem de maneira burra, radicalóide e sem ética, se dizendo socialistas, comunistas, fascistas, nazistas, etc, costumam atentar contra a Verdade – definida como realidade universal permanente. Mas os bolivarianos exageraram na dose da mistificação na gestão da morte do mito Hugo Chávez Frias.

Nos meios diplomáticos e na área de inteligência militar argentina circula uma informação 1-A-1 acerca dos procedimentos ante e pós fúnebres do Presidente e revolucionário inventor da República Bolivariana da Venezuela. A revelação bombástica é que o corpo exibido, cheio de sigilo e segurança, em um super-caixão lacrado, não é de um ser humano normal, deformado por um terrível câncer. O cadáver seria um boneco de cera. O simulacro de um Chávez “embalsamado”.

A surpreendente descoberta de que o corpo no faraônico féretro bolivariano não correspondia ao Hugo Chávez original foi da “Presidenta” da Argentina Cristina Kirchner. A grande amiga de Chávez estava escalada para fazer o mais emocionado discurso politico do velório. No entanto, Cristina se sentiu enganada no momento em que chegou perto do defunto.

Ficou tão revoltada e contrariada que arranjou uma desculpa esfarrapada para voltar urgentemente a seu país – deixando até sem carona o presidente uruguaio José Mujica, que com ela veio até Caracas.

A explicação bombástica para o retorno súbito de Cristina é relatada pela inteligência militar argentina. Cristina teve um choque emocional quando se viu envolvida na farsa bolivariana montada para o velório de Chávez. Não acreditando no que seus olhos lhe mostravam, Cristina escalou uma oficial ajudante-de-ordens para investigar, de imediato, se não estaria diante de uma “brincadeira de mau gosto com a morte de alguém que lhe era muito querido”.

A oficial argentina interpelou um alto-membro do Exército pessoal de Chávez – que praticamente confessou a armação: ali não estava o corpo original do amado comandante. A militar transmitiu a informação imediatamente para Cristina – que surtou. Saiu esbravejando do Velório para o hotel, avisando que não mais faria o discurso para um boneco. O presidente imposto da Venezuela, Nicolas Maduro, tentou convencê-la do contrário, sem sucesso. Cristina voltou voando para casa.

A Presidenta Dilma Rousseff, que levava o ex Luiz Inácio a tiracolo, foi informada do incidente. Dilma e Lula deram uma breve olhada no caixão de Chávez, conversaram rapidamente com os presentes, e também foram embora o mais depressa possível – alegando coisas urgentes a serem resolvidas no Brasil. A exemplo de Cristina, não quiseram participar da farsa completa do sepultamento daquele que era o líder operacional-militar do Foro de São Paulo (organização que reúne as esquerdas revolucionárias, guerrilheiras ou simplesmente gramcistas na América Latina e Caribe).

História à parte do “boneco de cera” – uma versão completamente não-oficial das exéquias de Chávez -, tudo em torno de sua morte soa como uma grande farsa, digna do mais cínico e mentiroso socialismo bolivariano que transformou a Venezuela em um país em decomposição política, econômica e social. Tudo indica que Hugo Chávez já veio morto de Cuba – onde morreu não de problemas diretamente relacionados ao sarcoma que sofreu metástase.

O que levou Chávez realmente deste para outro mundo foi uma brutal infecção hospitalar, que detonou-lhe o pulmão. Tal fato jamais será admitido oficialmente, já que a lenda-dogma comunista prescreve que a ilha perdida dos irmãos Castro tem “uma das medicinas mais avançadas do mundo”. Caso tivesse se tratado no Brasil – como fizeram Dilma, Lula e o ex-presidente paraguaio Fernando Lugo -, Chávez poderia estar vivinho da silva... Azar dele que o Hospital Sírio Libanês não aceitou receber milhões para tratar, sem transparência e em “segredo socialista”, do grave caso médico.

Outro fato que a inteligência dos Estados Unidos já deixou bem evidente nos meios diplomáticos. Chávez morreu, provavelmente, no começo de janeiro. O prolongamento mentiroso de sua vida foi apenas uma armação para permitir a inconstitucional posse de Nicolas Maduro, através da geração de um dramalhão popular em torno da torcida pela “salvação” e cura do bem amado mito Chávez.

O problema para o regime venezuelano é que o atraso na revelação da verdade contribuiu para as mentiras aflorassem...

sexta-feira, 8 de março de 2013

A frase do mes: tudo em familia...

É, faz sentido; considerando que os empresários do agronegócio também têm família, mesmo aqueles com casamento entre pessoas do mesmo sexo (o STF já disse que pode, na cidade ou no campo, não importa), então, toda a produção de alimentos é familiar...

Os 194 milhões de brasileiros são alimentados pela agricultura familiar.
Dilma Rousseff, no 11º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (CNTTR), em Brasília.

Espirito animalesco (do governo) e instinto de sobrevivencia (dos empresarios)

Parece que o governo ainda não entendeu que o problema não está com os empresários. O problema está com ele mesmo. É ele quem impede os empresários de trabalhar e de ganhar dinheiro, de realizar lucros, de investir, de prosperar e, assim, gerar empregos, renda e riqueza (inclusive alguns impostos para ele). O problema é que o governo cai com as quatro patas encima de empresários, dos trabalhadores e dos consumidores, com sua enorme carga de impostos (na média, mas por baixo, 40% de qualquer coisa, bem ou serviço), e impede que os primeiros tenham dinheiro suficiente para seus investimentos (que também é taxado) e que os trabalhadores tenham altos salários (pois os empresários precisam ter outra folha salarial só para o governo), ou que nós todos, consumidores, compramos  segundo a nossa vontade, já que justamente deixamos dois quintos da nossa renda com ele mesmo. Também tem o fato de que ele não oferece serviços e infraestrutura compatíveis com os impostos que pagamos, e tem a burocracia, a preferência nacional, o protecionismo, a corrupção. Enfim, se o governo fizesse a sua parte, quem sabe os empresários pudessem trabalhar?

Paulo Roberto de Almeida   

Um governo perplexo

08 de março de 2013 | 2h 14

Editorial O Estado de S.Paulo
Tudo vai bem, garante a presidente Dilma Rousseff, mas, por segurança, o governo decidiu chamar os empresários para conhecer suas expectativas, ouvir suas queixas e exortá-los a um esforço maior para aumentar a produção. "Tomar o pulso" foi a expressão usada por uma fonte de Brasília. Em termos mais realistas: dois anos e dois meses depois da posse e com dois anos de estagnação em seu currículo, a presidente e seus ministros estão perdidos. Têm feito sua parte, continuam dizendo, e continuam sem entender por que o empresariado fez muito menos que o esperado. Onde está o tão falado espírito animal? O governo promete mais estímulos, com redução de impostos sobre a cesta básica e desoneração do PIS-Cofins sobre a cadeia produtiva, mas precisa de respostas urgentes. É preciso garantir um desempenho econômico bem melhor na segunda metade do mandato, embora ninguém reconheça oficialmente o fracasso do primeiro biênio. Mais que um dever presidencial, impulsionar o crescimento a curtíssimo prazo tornou-se incontornável missão partidária, nos últimos dias, depois de aberta pelo chefe supremo do partido a campanha da reeleição.
Mais que um sinal de humildade ou de realismo, o convite aos empresários, nesta altura, é um claro indício de perplexidade. A presidente, o ministro da Fazenda e demais componentes da equipe econômica parecem ter dificuldade para entender o fracasso econômico. Mostram alguma percepção do fato, mas ao mesmo tempo tentam negá-lo. O ministro Guido Mantega insiste em apresentar o Brasil como vítima da crise internacional. A presidente, ao contrário, mostra o País como imune aos problemas externos e livre, portanto, do risco de pneumonia quando as grandes potências espirram. Ela e os auxiliares parecem nem mesmo combinar suas falas.
Há alguma verdade, no entanto, no discurso presidencial. A crise global afetou o Brasil muito menos que outras economias. Se a economia derrapou foi por outros problemas, todos criados internamente - embora essa parte da história seja negada ou reconhecida apenas com muitas ressalvas pelas autoridades. Esses problemas foram em parte herdados, em parte agravados e em parte criados pelos atuais ocupantes da máquina federal.
A presidente continua falando sobre os investimentos da União como se fossem uma sequência de sucessos. Usou esse tom mais uma vez, nesta quarta-feira, durante encontro com governadores e prefeitos. Mas o governo é um investidor incompetente e raramente chega a desembolsar 60% do valor previsto no orçamento de cada ano - e a maior parte do dinheiro corresponde a restos a pagar. A maior parte das estatais, ainda sob regime de loteamento, também continua atolada na incompetência, enquanto na Petrobrás há um esforço de reforma gerencial e de recuperação.
A perplexidade do governo diante dos resultados obtidos até agora confirma também sua incapacidade de planejar e até de entender os entraves ao crescimento brasileiro. A presidente adotou desde o ano passado, com mais de um ano e meio de atraso, o discurso a respeito da competitividade. A maior parte da política adotada em dois anos, no entanto, foi destinada a estimular o consumo, como já foi provado tanto pela análise das políticas quanto pelo balanço dos resultados.
Parte do fracasso acumulado nos últimos dois anos é explicável por uma evidente confusão entre planejamento e intervencionismo autoritário. As perdas impostas à Eletrobrás e à Petrobrás, a desmoralização do Banco Central (BC) e as dificuldades para envolver o setor privado nos programas de infraestrutura são consequências dessa confusão. Não por acaso a presidente Dilma Rousseff tem insistido, em seus pronunciamentos, em apresentar o governo como cumpridor de contratos.
Não por acaso a diretoria do BC e outras autoridades têm procurado reafirmar a seriedade e o caráter técnico da política monetária. De alguma forma, a cúpula do governo dá sinais de perceber os problemas e os próprios erros, mas com muita relutância. Enquanto isso, já se foram dois anos e quase um trimestre de mandato presidencial.

Pausa para... choradeira...

Beechcraft vai contestar vitória da Embraer em licitação nos EUA

Presidente da empresa americana disse ter ficado perplexo com a decisão do governo

Reuters |
A empresa americana Beechcraft disse informou que vai protestar formalmente contra a decisão da Força Aérea dos Estados Unidos de conceder um contrato à Embraer para o fornecimento de aviões de ataque leve para uso no Afeganistão.
A fabricante brasileira ganhou, em 27 de fevereiro, a licitação para fornecer 20 aviões de ataque para missões contra-insurgência no Afeganistão.
A Beechcraft, anteriormente conhecida como Hawker Beechcraft, saiu de um processo de concordata no mês passado (fevereiro). A fabricante de aeronaves disse em comunicado que estima que a decisão da Força Aérea afetará cerca de 1.400 postos de trabalho no Kansas e outros Estados americanos.
Representantes da Embraer e da parceira Sierra Nevada não puderam ser imediatamente contatados para comentar o assunto.
Em comunicado, o presidente-executivo da Beechcraft, Bill Boisture, afirmou que sua empresa está "muito perplexa" com a decisão da Força Aérea e que vai encaminhar protesto junto ao U.S. Government Accountability Office, órgão do governo federal que verifica se licitações públicas tiveram irregularidades. Segundo a empresa, há dúvidas sobre eventuais erros cometidos no processo de seleção.
"Simplesmente não entendemos como a Força Aérea pode justificar um gasto adicional de mais de 125 milhões de dólares pelo o que consideramos ser uma aeronave com menos capacidades", disse Boisture.
A Embraer e a Sierra Nevada venceram um contrato inicial de US$ 355 milhões em dezembro de 2011, mas a licitação foi suspensa depois de ser questionada pela Hawker Beechcraft, que perdeu a disputa.
Na sexta-feira (1º), a Associação Internacional de Maquinistas e Trabalhadores da Aeroespaciais, que representa mais de 3 mil funcionários ativos e inativos da Beechcraft, pediu para a Força Aérea rever a entrega do contrato à Embraer.

Pausa para... confissoes intimas...

Não minhas, claro, pois minha vida é um livro aberto, aliás, vários abertos ao mesmo tempo...
De quem tem algo de útil a contar para a sociedade...
Paulo Roberto de Almeida

Diário da Dilma – Em terra de saci, qualquer chute é voleio
Revista Piaui, Março de 2013

1º DE FEVEREIRO - Pelas bengalas do Mandela! Fui dar uma olhada na agenda do mês e meu queixo caiu: o Patriota vai me mandar para a Guiné Equatorial!! Capital, Malabo! MALABO!!! O que eu fiz para esse homem me tratar assim?!

2 DE FEVEREIRO - Pé de pato, mangalô, três vezes! É o terceiro telefonema da Ideli hoje. Não atendi nenhum. Ela está se insinuando para passar o Carnaval comigo na Bahia. Disse que está com medo de ir para Santa Catarina por causa dos ataques. Já expliquei que mando a Força Nacional para lá, que ela pode ir tranquila. Para me livrar dela, despacho até o 2º Exército, e ainda peço ajuda à 4ª Frota americana.

3 DE FEVEREIRO - Em viagens internacionais, o Ney Latorraca faz a mala com dez dias de antecedência. É dessa eficiência que preciso.

4 DE FEVEREIRO - Risco de apagão, aumento da gasolina, polêmica em Belo Monte. Os deuses conspiram para me aproximar do Lobão.

Fui ao Show Rural de Cascavel, no Paraná. É isso que dá colocar Gleisi na Casa Civil.

5 DE FEVEREIRO - Gracinha me contou que vai sair na avenida. Fiz cara de paisagem. Precisa ter muito peito para sair na avenida depois dos resultados da Petrobras. Mas cada um com seu cada um. Se ao menos servir para ela prender aquele cabelo.

6 DE FEVEREIRO - Fiz uma sessão de cinema aqui em casa para os filhos e netos dos ministros. É como diz o conhecido ditado búlgaro: “Quem meus filhos agrada, minha boca adoça.” Uma gracinha de filme, Tainá. Eu adorei! Tarde fofa!

Coitado do Marco Aurélio. Foi operado do coração aqui em Brasília. É um destemido!

7 DE FEVEREIRO - Tá confirmado! Vou para a Bahia no Carnaval! A Base Naval de Aratu vai ficar pequena! Cara, caramba, cara, cara ô!

Brinquei que ia deixar a chave da Nação para o Rei Momo. Em oito minutos, apareceram dezessete parlamentares do PMDB sambando com uma coroa na cabeça. Em terra de saci, qualquer chute é voleio.

8 DE FEVEREIRO - Já está tudo arrumado para o nosso tradicional Baile do Toma Lá Dá Cá. Mamãe e titia arrumaram fantasias de Nina e Carminha. Gabrielzinho vai vestido de Pibinho. Se alguém aparecer com a máscara do Joaquim Barbosa, está demitido. Eu botei uns óculos escuros redondinhos, uma roupa branca, domei o topete e fiquei a cara do Psy. “Oppan Gangnam Style!”

10 DE FEVEREIRO - Estava dançando um frevo esperto quando vieram me dizer que o Lobão estava na linha. Fui pega de surpresa, tropecei e quebrei o dedão.

11 DE FEVEREIRO - De tédio é que eu não morro. O Gilbertinho me acorda cedo para dizer que o papa renunciou. Fiquei besta! Nunca tinha ouvido falar que papa podia renunciar. Não sei se devo me pronunciar. O que eu posso dizer? Vai com Deus, meu filho. Acho que não é esse o tom da coisa.

12 DE FEVEREIRO - Comecei a mascar chiclete. João Santana acha que me dá um ar menos intelectual, mais povão, com um toque de rebeldia.

13 DE FEVEREIRO - Tem coisa mais descolada que presidenta de Crocs vermelhos? Para melhorar, esse sapatinho furadinho, coisa fofa, não fica roçando no curativo que titia fez no meu dedão. Me apeguei.

14 DE FEVEREIRO - Aprendi, finalmente, a fazer bola com chiclete.

15 DE FEVEREIRO - Depois de tanto jornal repetir que o papa é pop, fiquei com a bela obra do Humberto Gessinger na cabeça. Hoje, num despacho com o Patriota, sapequei: “Minha vida é tão confusa quanto a América Central. Por isso não me acuse de ser irracional.” Disse que ia usar na próxima Assembleia Geral da ONU. Precisava ter fotografado a cara que ele fez.

Esse meteorito na Rússia só pode ser coisa do Zé Dirceu. O homem anda amargurado com a falta de apoio da KGB.

18 DE FEVEREIRO - A Ideli, que vive se fazendo de prestativa para provar que tem serventia, deu uma checada na Wikipédia e veio me dizer que existem três Guinés. Vão me mandar logo para a piorzinha delas! Nem português eles falam por lá. É espanhol! A princípio, pensei que fosse coisa do Joaquim Barbosa ou da Veja. Mas agora estou achando que foi o Temer mesmo. Ele deve estar doidinho para assumir logo essa porcaria e bem que se beneficiaria se eu pegasse uma boa malária. Onde estão os movimentos sociais que não saem em minha defesa? Ficam perdendo tempo com essa mala da Yoani, enquanto eu desapareço no coração das trevas?

19 DE FEVEREIRO - Vetei a pobreza extrema.

20 DE FEVEREIRO - Acordei às cinco da manhã e fiquei enrolando brigadeiro para a festa de 10 anos do PT. Lula disse que sou muito centralizadora. Mas será que a militância saberia deixar a borda crocante?

Malan fez 70 anos. Por que esses tucanos envelhecem tão bem? Será que são os bons vinhos? E eu aqui com o Guido, que a cada dia fica com mais cara de maître de restaurante de aeroporto.

21 DE FEVEREIRO - Estou atrás de um mapa para ver onde fica essa Guiné Equatorial. Preciso fazer a mala e nem sei o que levar. Equatorial deve ser um calor de fritar ovo no asfalto. Meu pé incha tanto com o calor…

22 DE FEVEREIRO - Isso aqui é feio como Canapi e quente feito Maceió. O presidente é dono até da carroça de cachorro-quente. Renanzinho ia se sentir em casa. Daqui vou para a Nigéria. Patriota não chega até a próxima reforma ministerial.

24 DE FEVEREIRO - Ufa. De volta para casa. Coisa boa! É domingão de Oscar! Comprei duas caixas de Guaraviton para não dormir e um potão de sorvete de pistache. Daqui não saio nem que me digam que o Lula se filiou ao PSDB. Já pus meu pijaminha de Les Mis para torcer pelo filme. Russell Crowe cantando à beira do abismo me comoveu demais.

25 DE FEVEREIRO - Sonhei que era a Yoani e estava no meio do Congresso da UNE. Os militantes mais exaltados já me atiravam tomos de O Capital quando Lobão apareceu. Ele vestia a boina de Che Guevara e com um só grito calou a multidão. Amanheci estremecida.

26 DE FEVEREIRO - Ideli não confessa, mas anda torcendo pelo Berlusconi nos bastidores. O homem tascou um beliscão na Merkel que quase provocou a Terceira Guerra Mundial. Ideli identificou no gesto uma virilidade sensual que só tinha visto antes no Mitt Romney.

27 DE FEVEREIRO - É a terceira vez que digo para o Sarney que não tenho nenhuma influência no Vaticano. Affe

Linguas Sem Fronteiras: o medidor da Wikipedia (The Economist)

Alguém saberia dizer quantas centenas de milhares de artigos foram escritos, ou figuram, em Português na Wikipedia?
Este artigo da Economist sequer menciona a última flor do Lácio... (e o galego?).
Paulo Roberto de Almeida

Languages on the internet

The keenest Wikipedians



WILLIAM GIBSON once said "The future is already here—it's just not very evenly distributed." I'd include Wikipedia, the wonderful, sprawling, open-source and free online encyclopaedia, as part of the future. It also seems to be quite unevenly distributed.
Take a look at the crazy distribution of articles and users among the world's languages. In just five languages does Wikipedia have more than 1m articles: English, German, French, Italian and Dutch. One of these is obviously an outlier: Dutch is spoken by only around 20m people. According to Eurostat, fully 100% of Dutch students are studying English, and anyone can tell you that the Dutch are keen and fluent English-speakers, while Dutch-speaking Flemings usually speak good French. This is strong evidence, with a nod to our earlier posting on the "underwear language", that people are strongly attached to their own languages even when they speak other languages well.
The next order of magnitude carries more surprises. In the box of Wikipedias with more than 100,000 articles fall obvious world languages like Russian, Arabic and Chinese. But this box also includes several languages that do not have their own state, like Spain's Galician, Basque and Catalan—more evidence that people in these regions, even if they can read Spanish, often prefer their own anyway. But even weirder, among stateless languages, are two that have no ethnic nation associated with them at all. It's not entirely surprising that Esperanto, an invented language, has 176,792 articles. Anyone familiar with the Esperanto community (such as Arika Okrent) can tell you how active it is. But Volapük? This much less well-known invented language can claim 119,091 articles in Wikipedia. for what one Village Voice writer claimed were 20 living speakers. Volapük has more articles than Hindi, with its 180m-odd speakers. I can only guess that someone has auto-translated most of those 119,091 articles into Volapük. As for Hindi, this could be a partial exception to the rule that people strongly prefer their own language. Despite a large written tradition in Hindi, it seems likely that many Hindi-speakers read Wikipedia in English.
Languages in the 10,000+ category are similarly ordered to surprise. We now see many dialects and languages with few monoglots, and probably exactly zero people who are literate only in the dialect: how many speakers of Alemannic (13,708 articles) are unable to read standard German? How many Piedmontese readers (who can browse 59,303 articles) cannot read Italian (1,012,838)? Allemanic and Piedmontese rank with languages with tens of millions of speakers, like Javanese (82m speakers, 43,122 articles).  As we continue down the list, we see many deeply underserved languages: Xhosa, Nelson Mandela's native language, has 8m speakers but just 146 articles on Wikipedia. At the very bottom of the page, we find hopeful but neglected Herero, for which someone has created a homepage but no articles at all.
Of course the number of articles isn't the only measure we should look at. Volapük is listed as having only 46 active users and zero images. And Wikipedia calculates a "depth" for each language, a measure of how often articles are edited and a discount for how many short "stub" articles there are (and so a rough proxy for quality). Scanning the list, we see that Hebrew, Arabic, Persian and Turkish are much "deeper" than the bigger German or Italian Wikipedias. I'd be fascinated to know exactly why that is, but it must have something to do with how many topics raise controversy in that neighbourhood, even about basic questions of fact.
The "depth" score is calculated by dividing by the total number of articles, so a language with many articles and few edits will have a lower depth than a language with fewer articles with the same number of edits. The deepest Wikipedia? English, with 4.2m articles, is being edited constantly, and emerges as the clear winner. Another manifestation of its unstoppable global march.

Se puder confortar... (Dalai Lama interview with Economist)

Unrest in Tibet

The views of a Marxist demon

THE Dalai Lama jokes, in his broken English, that these days, “demon peacefully sleeping”. He playfully puts his hands up by his head to make horns with his fingers; a mocking reference to the word he says Chinese officials have used to describe him. But since the leader of Tibetan Buddhism officially retired from politics in August 2011, he has kept up a hectic schedule; touring foreign countries and giving Buddhist teachings around India where he lives. And although he insists now that he has given up holding regular meetings with officials from Tibet’s government-in-exile, he remains a figure of crucial political importance to his troubled homeland (see our story in this week's issue).
“This life…now service at least in the field of Tibetan struggle, now already end,” he told The Economist in a reception room at his residence in the town of Dharamsala in the Himalayan foothills. This would be a disappointment to many of the Tibetans who queue up to see him. At the age of 77, and in hearty spirits, the Dalai Lama gives the impression of being as keenly interested in, and painfully aware of, conditions in Tibet as he ever was. He insists that he is now—and will be for the rest of his life—engaged in promoting “human values”, “religious harmony” and a dialogue between Buddhism and modern science. But the wave of self-immolations in Tibet, mainly in the two years since he announced his retirement (see our post on Analects, February 15th), has kept him at the centre stage of Tibetan politics.
The Dalai Lama denies that he has encouraged these “drastic acts” (107 of them, resulting in 88 deaths, according to Tibetan exiles). But to China’s anger, he has not condemned them and has publicly said prayers for the victims. In Tibet, he explains, “the majority of the people have a lot of resentment”. He dismisses China’s assertions that the self-immolators have often set fire to themselves for non-political reasons (see, for example, this description by Xinhua, China’s state-run news agency, of how alcoholism and family strife appeared to have led to one such suicide). “These self-burned people, not drunk, not family problem”, he says. “I met some Tibetans. I think many of them, either their parents or grandparents were killed, or arrested and died in prisons, or gulags. So you see the resentment not just recently happened. No.” Chinese leaders, he says, fail to understand this.
The Dalai Lama blames the self-immolations on increasingly tight religious and cultural controls in Tibet. In some areas local officials from China’s ethnic-Han majority have made it more difficult for Tibetans to learn their own language in school, he says. He describes the self-immolations as a “very sensitive political matter”. But he says that his retirement and what he alleges is China’s tendency to “manipulate” his words, have encouraged him to “remain completely silent”. Lobsang Sangay, the government-in-exile’s prime minister who took over the Dalai Lama’s political duties, is blunter. “The message from inside, when someone does self-immolation, is that the number one concern is the return of the Dalai Lama. They want to die, not live as political prisoners under China,” he told The Economist. (Mr Sangay, an American-educated former academic, insists that “political responsibility is with me”, but says he does have “personal” meetings with the Dalai Lama, who offers his experience.)
A growing sense in Tibet that the Dalai Lama is highly unlikely ever to return to his homeland may well be one of the reasons for the spate of immolations. If he dies in exile, the Dalai Lama has said he will likely be reincarnated in the “free world” (see, for example, this interview in 2009 with CNN). This implies that Tibetans will have little chance of seeing the next Dalai Lama in Tibet either, unless huge political change occurs there. The Dalai Lama scoffs at attempts by the Chinese government in recent years to claim a role in the approval of reincarnations (an obvious attempt, say exiles, to lay the groundwork for rejecting the legitimacy of any Dalai Lama chosen outside China and for installing one whom the Chinese authorities believe they can control). “I jokingly said, firstly Chinese communists must accept theory of reincarnation, then second the Communist Party should recognise Chairman Mao Zedong’s reincarnation, then Deng Xiaoping’s reincarnation, then logically show an interest in Dalai Lama’s reincarnation”, says the Dalai Lama with a laugh. With an equal measure of mirth (apparently aimed at showing his own ability to accommodate the party’s faith), he says: “As far as social-economic theory is concerned, I am still a Marxist, not capitalist. That’s not secret.”
The Buddhist leader says he remains committed to a statement he made in September 2011 (see here for the full text) that he will consult other lamas and lay Tibetans about the reincarnation issue when he is “around ninety”. If people feel then the institution of the Dalai Lama is no longer relevant, then it will be abolished, “no problem”, he said, noting that the pope had recently broken with 600-year-old Catholic tradition by resigning. “I think best thing is like pope sort of system”, he says. But the Dalai Lama also says that he regards Tibetans inside Tibet as his “boss”. Given the reverence widely held in Tibet for the institution, it would seem unlikely that there would be calls for it to end. “Morally speaking, I cannot say you should do this, you should not do this,” he says.
The Dalai Lama says he does see some “positive things” in China. He describes meeting a Tibetan monk recently who told him about how “hundreds” of Han Chinese sought his blessings as he toured around China. He speaks of growing demands for political reform among Chinese, including Wen Jiabao, who will step down as prime minister in a few days (though as we reported in 2010, scepticism about Mr Wen’s ability or determination to change anything has long abounded). “Voice of change, of freedom, democracy, rule of law, now these voice[s] are growing year by year”, he says. “Overall picture: this is change, becoming more realistic.” And as China changes, he says, the Tibetan issue will be solved “easily”. If only Tibetans were as optimistic.

Se puder divertir, adocando...

QUANDO SE TEM DOUTORADO
O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da evaporação de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus officinarum, (Linneu, 1758), isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de sólidos de reduzidas dimensões e arestas retilíneas, os quais configuram pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um toque no órgão do paladar de quem se disponha a um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo impressão sensorial equivalente provocada pelo mesmo dissacarídeo em estado bruto, que ocorre no líquido nutritivo da alta viscosidade, produzido nos órgãos especiais existentes na Apis mellifera (Linneu, 1758) . No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse dissacarídeo, no estado físico-químico descrito e apresentado sob aquela forma geométrica, apresenta considerável resistência a modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de compressão ao longo do seu eixo em conseqüência da pequena capacidade de deformação que lhe é peculiar.

QUANDO SE TEM MESTRADO
A sacarose extraída da cana de açúcar , a qual ainda não tenha passado pelo processo de purificação e refino e apresentando-se sob a forma de pequenos sólidos tronco-piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente o paladar, lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas em um peculiar líquido espesso e nutritivo. Entretanto, não altera suas dimensões lineares ou suas proporções quando submetida a uma tensão axial em conseqüência da aplicação de compressões equivalentes e opostas.

QUANDO SE TEM GRADUAÇÃO
O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e apresentando-se em blocos sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal tem similaridade com o sabor deleitável da secreção alimentar das abelhas; todavia não muda suas proporções quando sujeito à compressão.

QUANDO SE TEM ENSINO MÉDIO
Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do mel, porém não muda
de forma quando pressionado.

QUANDO SE TEM ENSINO FUNDAMENTAL
Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível.

Quando não se tem estudo
Rapadura é doce, mas não é mole, não!

Se puder ajudar...

Técnica do empalhamento para uso dos neófitos...

Como um animal é empalhado?

por Yuri Vasconcelos
Mundo Animal,  s.d.
 
A taxidermia - nome técnico do empalhamento de animais - é um sofisticado processo onde só a pele do animal é aproveitada. O couro é usado para "vestir" um manequim de poliuretano, parecido com esses que a gente vê nas vitrines de lojas. No passado, porém, não era assim. O animal era aberto, suas vísceras retiradas e, no lugar delas, era colocado algodão, juta ou palha - daí a palavra empalhamento, hoje fora de uso. O manequim de poliuretano começou a ser usado nos anos 50 e oferece duas vantagens: é mais resistente ao ataque de insetos e possui uma anatomia idêntica à do bicho. "Em tese, animais taxidermizados dessa forma duram para sempre. Mesmo com as técnicas mais rudimentares já existem animais com 300 anos", diz o taxidermista Luiz Carlos Mendes Antunes, do Museu de Zoologia da USP. Acompanhe, a seguir, como é feito o "empalhamento" de uma onça-pintada, o maior felino do Brasil.
Passo-a-passo para a eternidade
O "empalhamento" de um animal deve começar até 24 horas após sua morte. Depois desse tempo sua carne começa a apodrecer
1. O primeiro passo é fazer uma máscara mortuária de gesso do bicho. Ela fornece uma imagem tridimensional da cara do animal e é uma cópia perfeita de suas feições, mostrando todos os detalhes de seu rosto
2. Em seguida, com uma fita métrica, o taxidermista tira as principais medidas do animal, como a circunferência do abdome, o comprimento total do nariz à cauda, a largura da cabeça e a distância do nariz ao olho, entre outras
3. Com uso de arames e apoios, o animal é congelado na posição em que será "empalhado". Quando ele estiver durinho e na postura correta, é hora de fazer uma cópia do corpo numa fôrma de gesso
4. A partir do molde de gesso, é feito outro molde de resina. Ele será empregado na fundição do manequim de poliuretano. Se necessário, o taxidermista esculpe detalhes finais na peça, que será vestida com a pele depois
5. Paralelamente à fabricação do manequim, é feita a retirada da pele, única parte aproveitada - órgãos e carcaça são descartados. Retirado o couro, ele é curtido em banhos ácidos que dissolvem resquícios de sujeira e gordura, evitando que apodreça
6. O passo seguinte é a retirada da endoderme, uma fina membrana interna colada à pele. Feito isso, o couro é banhado com um produto químico preservativo e é engraxado para ganhar flexibilidade
7. Olhos, nariz, orelhas, boca, língua e até a cauda são fakes. Os olhos são feitos de vidro, a cauda, de poliuretano flexível, e as orelhas, nariz e língua, de plástico poliestireno. Todas essas próteses são fixadas no manequim antes da pele
8. A etapa final é vestir o manequim com a pele. Ela é encaixada e fixada com uma cola especial. Depois, é costurada. Os pontos são dados em locais de difícil visualização, como na parte inferior da barriga, para que o bicho pareça o mais real possível.

Politica Comercial: retorno aos anos 1980? - Marcelo de Paiva Abreu

Parece que, no terreno da política comercial, já voltamos aos anos 1980, senão a décadas ainda anteriores.
Ufa! Ainda bem! Imaginem se tivessemos seguido a Argentina em direção dos anos 1960 e 1970, quando a situação ainda era pior.
Resta saber se vamos segui-la, também, em direção dos anos 1930, no que se refere a controles dos fluxos de capitais e restrições e manipulações cambiais. Mais um pouco e se verá...
"Una sombra pronto seras / Una sombra y nada más..."
Paulo Roberto de Almeida

Protecionismo sem 'afobação subalterna'

Marcelo de Paiva Abreu *
O Estado de S.Paulo, 4/03/2013

A política comercial brasileira voltou à baila no debate público nas últimas semanas em vista de desenvolvimentos no cenário internacional e, também, na política nacional. A disposição de EUA e União Europeia de darem início a negociações visando a um acordo comercial suscitou especulações sobre os rumos da atual política comercial brasileira. O máximo que se obteve como reação do governo foram a declaração de que a política comercial seria "cautelosa" diante da iniciativa de Washington e Bruxelas e a afirmação de que, no Planalto, o assunto foi visto "sem afobação subalterna". Paralelamente, o prematuro início da corrida eleitoral para a sucessão de Dilma Rousseff ensejou manifestações na oposição que sugeririam que a abertura comercial poderia jogar papel relevante no programa do candidato do PSDB, Aécio Neves. Esses desdobramentos devem ser analisados à luz dos fatos correntes e do retrospecto do governo FHC quanto ao tema.

A alegação governamental sobre a cautela que cercaria a política comercial não pode ser levada a sério. O que caracteriza a atual política comercial, fora jogadas de efeito e defesa comercial à outrance, não é a cautela, mas a paralisia em relação a qualquer postura ativa. Gira, de fato, em torno do Mercosul. E, em contraste com o que ocorria na década de 1990, quando a integração regional alavancava a abertura do mercado brasileiro, hoje os parceiros do Mercosul, especialmente a Argentina, levam o Brasil a reboque em processo de gradativo fechamento da economia. Além disso, sendo - ou pretendendo ser - união aduaneira, o Mercosul tolhe a possibilidade de negociações com outros parceiros comerciais, pois a resistência argentina em abrir o mercado é ainda maior do que a brasileira.

A combinação de protecionismo e protagonismo levou a tentativas frustradas de incluir discussões cambiais no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). Novos instrumentos de proteção foram mobilizados, tais como o IPI discriminatório penalizando importações de autoveículos. Velhos instrumentos, como metas de conteúdo local, adquiriram importância em outros setores, notavelmente na compra de equipamentos e serviços para exploração e processamento de petróleo e gás.

Quanto a juras liberalizantes da oposição, que poderiam sugerir a inclusão do tema no programa de governo proposto pelo candidato do PSDB, vale a pena recordar o que ocorreu em 1993-2002. Depois da implementação do cronograma de redução tarifária em 1993 e algumas reduções tarifárias corretivas em 1994, no quadro da implementação do Plano Real, a abertura comercial foi sendo revertida e, depois, congelada. Em 1995, com o crucial apoio político de José Serra, então ministro do Planejamento, foi implementado o regime automotivo que, depois de inúmeras peripécias - aumentos tarifários, quotas de importação e derrota na OMC -, resultou em concessões tarifárias beneficiando importações de montadoras já instaladas no Brasil. E não houve redução significativa da média que se aplica a toda a estrutura tarifária.

Infelizmente, em paralelo, não foi possível chegar a um acordo de integração hemisférica, que poderia ter servido como sinal da efetiva crença do governo nos méritos da liberalização comercial. Embora o tema tenha sido puerilmente politizado pelo PT, o acordo não foi possível essencialmente porque os EUA não se dispuseram a fazer concessões que pudessem compensar as eventuais contrapartidas brasileiras.

Sempre pode ser argumentado que os problemas associados à estabilização e ao racionamento energético seriam necessariamente prioritários e que fez sentido deixar a política comercial em segundo plano. Mas a verdade é que amplos segmentos do PSDB, especialmente em São Paulo, endossaram a reversão seletiva da abertura. E o resto do governo achou que a briga não valia a pena. Estes segmentos simpáticos ao protecionismo ainda têm grande influência no partido. É difícil imaginar sua conversão tardia à crença nas virtudes do liberalismo.

Seria desejável que a abertura fizesse parte do programa de governo do principal partido de oposição. Mas para fazer não é suficiente dizer, ou mesmo querer, é preciso poder.

Reverter o protecionismo é a forma eficaz de enfrentar as dificuldades competitivas acarretadas pela apreciação cambial induzida pelo sucesso na exportação de commodities. Com proteção alta, serão perpetuadas as notórias dificuldades competitivas da indústria. Mas o protecionismo é uma crônica doença brasileira. Há resistência disseminada em aceitar que não faz sentido proteger a qualquer preço a produção doméstica diante das importações. Para que fosse rompida a coesão do bloco protecionista no início da década de 1990 foram requeridos dois ingredientes: descalabro econômico e o terremoto político que resultou na excêntrica eleição de Collor. Para promover a retomada da abertura comercial sem tais choques, seriam necessárias virtudes cívicas que fizessem prevalecer o interesse coletivo sobre os interesses setoriais e que não parecem disponíveis no momento. A esperança de que tal reversão ocorra em qualquer cenário político é, infelizmente, remota.
* Marcelo de Paiva Abreu é doutor em Economia pela Universidade de Cambridge e professor titular no Departamento de Economia da PUC-Rio.