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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A crise argentina e seus efeitos sobre o Brasil- Parte 3 (final) - Paulo Roberto de Almeida

A crise argentina e seus efeitos sobre o Brasil- Parte 3 (final)

3. Negociações comerciais internacionais e percepções externas nessa área
As negociações birregionais entre o Mercosul e a União Europeia constituem um dos mais patéticos equívocos da estratégia comercial do bloco dos últimos dez anos. A despeito de terem sido feitas aproximações desde o início do Mercosul por parte da União Europeia – que sempre demonstrou certo paternalismo em relação ao bloco, como se este devesse seguir o seu modelo integracionista – as negociações para um acordo de liberalização comercial (e não de livre comércio) só foram de fato engajadas depois que os Estados Unidos propuseram o seu projeto de uma área de livre comércio hemisférica, a Alca, lançada na Cúpula de Miami de dezembro de 1994 (aliás, aceita pelo então chanceler do presidente Itamar Franco, que veio a ser o mesmo do governo Lula, durante os seus dois mandatos).
Desde antes de assumir o poder, Lula e o PT já tinha caracterizado a proposta da Alca como um projeto, não de integração – o que, estrito senso, ele não era – mas de “anexação”. Governo e partido se empenharam, desde o início, na implosão do projeto americano, do qual o Brasil participava de modo muito relutante, por sinal. De modo explícito, as preferências estavam com as negociações multilaterais da Rodada Doha e com as birregionais com a UE, ingenuamente creditadas de algum mérito superior que não poderia existir no esquema hemisférico. Aqui ocorreu notoriamente um enorme erro de avaliação, o que levou a um equívoco ainda maior no plano estratégico. Os fluxos de comércio do Brasil com o hemisfério sempre tiveram um grande componente de produtos manufaturados, ao passo que o intercâmbio com a zona europeia sempre foi mais caracterizado pelo padrão Norte-Sul de intercâmbio comercial, cujos fluxos eram, aliás, claramente prejudicados pelo subvencionismo e protecionismo europeus na área agrícola. Parecia claro, aos olhos de observadores isentos, e de economistas sensatos, que os interesses do Brasil estariam melhor contemplados se consolidado um acesso garantido ao enorme mercado norte-americano, que aliás tinha outras características do que a abertura de mercados (igualmente difícil no setor agrícola). A Alca, do ponto de vista do Brasil seria basicamente um acordo de investimentos, uma vez que o Brasil passaria a atrair a implantação de empresas americanas interessados nos mercados do Mercosul e da América do Sul.
Parece claro que a implosão da Alca, pelos estrategistas do governo Lula, serviu para diminuir amplamente o entusiasmo, ou a propensão, dos europeus por um acordo com o Mercosul, que para eles serviria, essencialmente, para compensar as esperadas desvantagens que teriam surgido com a eventual constituição da Alca. Eliminada esta possibilidade, de maneira completamente ideológica diga-se de passagem (pela ação combinada de Chávez, Kirchner e Lula, na Cúpula de Mar del Plata, em novembro de 2005), um observador atento, ou minimamente racional, poderia chegar à conclusão de que diminuiria proporcionalmente o entusiasmo europeu pela liberalização comercial com o Mercosul (cuja demanda de acesso agrícola continua a sofrer obstinada resistência de diversos membros da UE). Pois bem, dez anos se passaram sem qualquer perspectiva de progressos nas negociações, a despeito de declarações cosméticas sobre sua importância nas relações das duas regiões entre si.
As negociações birregionais entre o Mercosul e a União Europeia constituem um dos mais patéticos equívocos da estratégia comercial do bloco dos últimos dez anos
Chegamos ao momento atual, sem Alca, sem muita esperança do lado da Organização Mundial do Comércio e sem qualquer outro acordo bilateral ou regional de importância (ou mesmo sem muita importância) que tenha sido concluído pelo Mercosul. Alguns dos seus dirigentes – mas não da Argentina, certamente – voltam a depositar grandes esperanças num eventual acordo comercial (de qualquer tipo) com a UE. Seria ele possível, factível, provável? Duvido, mesmo com toda a agitação diplomática que se desenvolve ocasionalmente em torno dele. As razões se devem apenas parcialmente à oposição argentina a um maior grau de liberalização e de abertura de seus próprios mercados na mais que hipotética possibilidade de se chegar a bom termo nesse processo. O fato é que a maior parte dos parceiros, em maior ou menor grau, não estão efetivamente comprometidos com novos esquemas de liberalização, na ausência de poderosas alavancas que poderiam conduzir a um acordo de um tipo qualquer (como a Alca poderia ter sido, por exemplo).
Ainda que a atitude Argentina seja um claro indicador de que não existe, de fato, unidade negocial no âmbito do Mercosul – e isso destrói uma de suas principais características enquanto bloco alegadamente funcional, enquanto união aduaneira – o fato é que não existem prejuízos que possam ser por ela causados ao Brasil que já não tenham sido causados pelas próprias autoridades econômicas brasileiras pela sequência de medidas impensadas, claramente defensivas, quando não abertamente protecionistas, tomadas em defesa de alguns dos seus mais influentes lobbies empresariais – como os da indústria automotiva, por exemplo, aliás todo ele estrangeiro – e de alguns sindicatos de trabalhadores muito ligados à CUT, ao PT e ao próprio Palácio do Planalto. O Brasil vem sendo questionado, na OMC e bilateralmente por alguns grandes parceiros, de recuo nos compromissos de stand-still (neutralização de qualquer nova medida em defesa dos mercados nacionais) e de não recurso ao protecionismo explícito que todos os participantes de uma rodada de negociações assumem quando de seu desenrolar.
A reputação do Brasil enquanto parceiro comercial confiável foi de certo modo arranhada pelas medidas tomadas desde 2009 pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e pela Fazenda, não apenas no âmbito comercial, mas igualmente financeiro e fiscal-tributário. Um exemplo precoce da inversão de prioridades já tinha sido revelado quando da “denúncia” unilateral pelo Brasil do acordo automotivo com o México: enquanto ele produziu saldos favoráveis às empresas brasileiras engajadas no intercâmbio, ele foi plenamente aceito pelo governo brasileiro; bastou haver reversão nos fluxos, que ele se tornou repentinamente negativo e objeto de renegociação forçada. Registre-se, por importante, que a parte mexicana não é, nem nunca foi, em nada responsável pela trajetória aleatória do câmbio brasileiro, influenciado por uma série de outros fatores que não os sucessos ou frustrações do acordo automotivo bilateral.
Agora, a Argentina resolve fazer exatamente o mesmo contra os automóveis brasileiros. Resta saber qual será a atitude do governo brasileiro neste particular. A experiência dos dez ou onze anos passados no trato bilateral do Brasil em relação ao protecionismo e às arbitrariedades comerciais do maior sócio no Mercosul não prenunciam nada de muito diferente do que já ocorreu até aqui. Talvez aqui se aplique o conhecido ditado sobre o feitiço e o feiticeiro. Em resumo, quando se trata da Argentina, um país que conheceu uma trajetória espetacular ao longo da história econômica do século 20 (qualquer que seja o sentido que se dê ao termo espetacular), nunca se corre o risco de ser surpreendido por novas surpresas ainda mais surpreendentes do que as anteriores e conhecidas até aqui. Inacreditáveis argentinos…

SOBRE PAULO ROBERTO DE ALMEIDA

Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, mestre em planejamento econômico pelo Colégio dos Países em Desenvolvimento da Universidade de Estado de Antuérpia, doutor em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas. Trabalhou como assessor especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. É autor dos livros: “O Mercosul no contexto regional e internacional” (Aduaneiras, 1993), “ O Brasil e o multilateralismo econômico” (Livraria do Advogado, 1999), “ Relações internacionais e política externa do Brasil: história e sociologia da diplomacia brasileira (UFRGS, 1998)” e “O moderno príncipe – Maquiavel revisitado” (2007)

Farm Bill: a crime against American people (Cato Institute)

O Farm Bill não é apenas um atentado à racionalidade econômica, ele é um crime cometido contra o próprio povo americano, que vai pagar essa conta de forma duplicada, diretamente pelos impostos, e indiretamente pelos preços dos produtos.
Mais do que um crime, aliás, um equívoco econômico monumental.
Paulo Roberto de Almeida


Farm Bill Spending Up 49 Percent
(Share on Facebook and Twitter)

The Senate passed a $956 billion compromise farm bill, which makes only modest cuts to the bloated food stamp program. The bill has passed the House last week. Says Cato scholar Chris Edwards, “Farm bill supporters claim that the new bill includes ‘savings’ and ‘cuts,’ but that is a myth… The reality is that Congress is imposing a huge, damaging, and unaffordable burden on taxpayers and the economy.”
 

Farm Bill Spending Up 49 Percent

Under cover of SOTU media coverage, Congress is set to sneak through the first big farm bill since 2008. The Congressional Budget Office released its estimate of the bill’s cost: $956 billion over 2014-2023. It would thus mean almost $1 trillion more borrowed from U.S. and foreign creditors, adding more weight to the anchor pulling down the living standards of our children and grandchildren.
If you are a reporter, please don’t write that the farm bill “slashes” anything. Even according to the official score, it just trims $16.5 billion from expected spending of $956 billion over the decade, which is just 1.7 percent. The food stamp (“nutrition”) portion of the bill trims just $8 billion from expected spending of $756 billion, which is just 1.1 percent.
However, the 2014 farm bill is not a cut at all when compared to the 2008 farm bill, which was projected to cost $640 billion over 10 years. That is a 49 percent spending increase.  
Sure, the new bill shuffles the farm subsidy deck chairs, but the bill’s main budget attribute is that it ratifies the huge recent increase in food stamp spending. The House bill had proposed trimming a modest $39 billion (5 percent) from food stamps, but Republican leaders caved in and agreed to just a token 1 percent trim in the final bill.
Here are 10 reasons why the farm bill makes no sense.

Eleicoes 2014: a economia como fator relevante na campanha - Cesar Maia

ECONOMIA CONSPIRA CONTRA A REELEIÇÃO DE DILMA
Cesar Maia, 6/02/2014

1. Quando a economia vai muito bem (digamos nota de 8 a 10), quase garante a reeleição dos governos. Quando vai muito mal (digamos nota de 0 a 3), quase inviabiliza a reeleição. Entre 4 e 7 a campanha vai decidir o jogo.

2. Mas há nuances. Uma economia pode ter nota 3 e não afetar a chance de reeleição do governante. Mas para se medir a probabilidade de sucesso nas diversas notas de 3 a 7, há que se analisar duas coisas. A primeira é a curva para se chegar a estas notas. A nota 3 a 7 vem de uma curva ascendente? Por exemplo, veio de 0 para 3? Ou numa curva descendente? Veio de 10 para 7?

3. Quando Carville cunhou a frase “é a economia, estúpido”, naquele ponto, a economia dos EUA estaria numa nota média de 6. Mas o problema é que ela havia chegado a uma nota 10 e vinha mergulhando. A curva era descendente. Curvas descendentes criam incômodos, desconfortos. Ao contrário, as curvas ascendentes criam conforto e expectativas positivas quanto ao futuro.

4. A segunda coisa é quando a economia fica situada horizontalmente, ou seja, flutuando em torno de uma nota. Mesmo que a nota seja 3 ou 7, ela precisa ser analisada dentro dela mesma para se projetar conclusões.

5. Que nota se daria para a situação econômica do Brasil, hoje, sem se fazer qualquer tipo de análise dos fundamentos macroeconômicos, ou coisas no estilo. Uma porcentagem de crescimento econômico, ou de inflação ou outro parâmetro é uma média entre setores ou entre valores. Não é a mesma coisa que todos os setores da economia ou todos os preços estejam crescendo numa mesma taxa ou variando e flutuando muito entre setores e preços. Uma situação cria sensação de previsibilidade. Outra, de imprevisibilidade, de insegurança, de desconforto.

6. Chegando ao Brasil, digamos que a nota dada pela percepção média seja 5. Mas que 5 é esse? Nos últimos 3 anos o crescimento flutuou perto de 2%. Mas veio de 7,5%. A indústria vem caindo e a agricultura e serviços flutuaram. A inflação cresceu em relação a 2010 e os preços relativos flutuaram muito. Isso sem falar nos preços chamados neste verão de SuReal. A balança comercial vem numa curva fortemente decrescente. Os juros –base- oscilaram pela política monetária do governo. Passaram de 11% para 7,5% e voltaram a crescer para o patamar anterior.

7. O câmbio cresceu muito, de 1,70 para 2,40 nos últimos meses, afetando o preço dos bens importados e do turismo da classe média. A baixa taxa de desemprego que o governo alardeia, vista por dentro, mostra uma alta proporção de emprego sem qualificação. Sem o emprego precário, os quase 6% de taxa de desocupação iriam para perto de 20%. Com as taxas maiores entre os jovens. E pior: a taxa de rotatividade é altíssima e a tendência ao se conseguir um novo emprego é que este seja de um nível salarial inferior e com menor exigência de qualificação.

8. Com isso tudo se pode garantir que a situação econômica atual produz desconforto e pessimismo quanto ao futuro, mesmo que aparentemente estabilizada num certo patamar. Garantidamente não será trunfo do governo, podendo ser da oposição, desde que essa saiba fazer a crítica colando-a ao cotidiano das pessoas e não as análises macroeconômicas.

9. E nem se precisa ir muito longe. Pesquisa Ibope-CNI do final de 2013. Taxas de Desaprovação: política contra desemprego 49%; Impostos 71%, Inflação 63%, e juros 65%.

10. Resumindo: a economia conspira contra a reeleição de Dilma.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A crise argentina e seus efeitos sobre o Brasil (2 de 3) - Paulo Roberto de Almeida

A crise argentina e seus efeitos sobre o Brasil- Parte 2 de 3

2. Os efeitos da crise argentina sobre o Brasil e o Mercosul

O agravamento da crise argentina, na sequência da aceleração dos seus índices de inflação, aprofundamento da perda de competitividade externa e constante recurso a um protecionismo que também prejudica a competitividade setorial de diversas de suas indústrias – somados a outros desequilíbrios monetários, orçamentários, fiscais e cambiais – introduz uma situação de instabilidade no Cone Sul, ao criar novos efeitos negativos no plano dos fluxos comerciais bilaterais e regionais e ao desempenhar, ainda que moderadamente, um efeito dominó sobre os fluxos financeiros e de investimentos para os países vizinhos, com destaque evidente para o caso do Brasil. Mesmo que os observadores externos sejam capazes de identificar as diferenças de situação entre o caso brasileiro – de relativa estabilidade no baixo crescimento – e o caso, bem mais grave, da Argentina – de profunda quebra de confiança na capacidade das autoridades econômicas de estabilizar o cenário macroeconômico –, parece inevitável que algumas consequências advirão para o Brasil da caminhada argentina para a beira do abismo, o que pode aproximá-la do caso infinitamente mais grave da rápida deterioração da situação na Venezuela, outro grande parceiro do Brasil no comércio regional.

O fato, também relevante, que o governo brasileiro demonstre solidariedade, compreensão e tolerância com os desvios e inconsistências macroeconômicas de seus dois principais parceiros na América do Sul – tendo inclusive patrocinado o ingresso, segundo alguns indevido ou até ilegal, do país caribenho no Mercosul – pode contribuir para consolidar a impressão, aos olhos desses observadores, de que o Brasil pode ver com simpatia algumas das medidas heterodoxas adotadas nesses países para fazer frente ao que parece ser uma péssima gestão dos seus assuntos fiscais, monetários e cambiais. Já algumas agências de classificação de risco vêm alertando para certas inconsistências do lado da política macroeconômica brasileira, como também para desvios setoriais registrados no plano das políticas industrial e comercial, algumas das quais já foram objeto de questionamento na OMC.

Assim, mesmo que o aprofundamento da crise cambial e monetária argentina não resulte, necessariamente, num efeito dominó em direção do Brasil, além de suas inevitáveis consequências no plano do comércio bilateral – aparentemente já apontando para novos patamares de declínio (automóveis, manufaturados em geral, energia) – o cenário prospectivo não prenuncia nenhuma melhoria no horizonte previsível. Resta saber o que poderia ser feito para minimizar os efeitos da nítida deterioração do quadro macroeconômico e setorial no país vizinho – e também na Venezuela – sobre o cenário econômico de curto e médio prazo no Brasil. Esses efeitos se exercerão nos planos do comércio, dos fluxos financeiros, cambial e de investimentos.

O agravamento da crise argentina introduz uma situação de instabilidade no Cone Sul

A redução da demanda argentina por produtos brasileiros de exportação – tanto pelo protecionismo deliberado, como pela indisponibilidade de saldos positivos – não poderá ser compensada facilmente, pois grande parte desse comércio era de fluxos administrados (no caso do acordo automotivo, por exemplo), levando-se ainda em contra que muitos dos países do continente sul-americano também se tornaram grandes clientes da máquina exportadora chinesa em manufaturados (que sempre foi o essencial das exportações regionais brasileiras). Um esforço adicional do governo e dos exportadores pode redirecionar parte do que está sendo perdido, mas, ainda assim, os níveis de preferência existentes ao abrigo dos acordos regionais no âmbito da Aladi talvez não consigam compensar inteiramente o que está sendo agora perdido, o que pode representar um problema grave para muitas empresas brasileiras. Com efeito, mesmo se o Mercosul tornou-se relativamente menos importante para o comércio exterior do Brasil como um todo – que diversificou e aumentou bastante seu comércio com a Ásia e outros países emergentes – o Cone Sul ainda era, e continua sendo, importante no plano microeconômico para dezenas, ou centenas, de empresas da região Sul ou até de outras regiões do Brasil, que não são competitivas ou não se interessam pelos mercados mundiais, concentrando suas vendas no âmbito do Mercosul e de outros vizinhos regionais (que também serão afetados pelo clima de erosão atual da confiança).

Os fluxos financeiros também serão afetados, talvez duplamente, ainda que de modo independente. Com o lento restabelecimento da situação nos Estados Unidos e uma ainda mais lenta minimização dos graves problemas na Europa, pode-se prever um redirecionamento de aplicações, provavelmente acelerada no caso de elevação das taxas de juros nos mercados avançados. Mas deve também se manifestar a mesma “fuga para a qualidade” de investidores institucionais e simples agentes especuladores a partir do agravamento da situação na Argentina e em alguns outros países, o que pode afetar o Brasil, acelerando a desvalorização de sua moeda. Ainda que o Banco Central possa, e deva, intervir nos mercados para corrigir ou minimizar parte dessas tendências, o esforço pode ser modesto para evitar consequências no plano inflacionário e das próprias transações correntes, já bastante abaladas pelo comportamento declinante da balança de comércio. A passagem do patamar de 4% do PIB no déficit de transações correntes pode precipitar certa fuga de capitais (inclusive de nacionais), o que resultaria no aprofundamento dos principais indicadores macroeconômicos em direção ao vermelho.

A morosidade da dinâmica econômica no Brasil também parece reduzir as perspectivas do lado dos investimentos diretos estrangeiros em direção ao Brasil, numa frente que costuma exibir tendências de médio e longo prazo. Mas esse é também um terreno que já foi impacto negativamente antes mesmo do agravamento da crise na Argentina, e que atinge os investimentos brasileiros realizados no país. Não se desconhece, por exemplo, o retraimento já registrado por parte de grandes empresas brasileiras – a Petrobras e a Vale estão entre elas – em função das medidas restritivas que vêm sendo tomadas, desde muito tempo, pelas autoridades federais ou provinciais que atingem os investimentos estrangeiros de modo geral, e os brasileiros em especial. Quando da nacionalização irregular e arbitrária da Repsol, por exemplo, o governo da Espanha montou uma operação defensiva muito eloquente em apoio a seus investidores privados; não se conhecem gestos similares por parte do governo brasileiro, pelo menos não de modo aberto e transparente.

Em quaisquer dos cenários, portanto – e o ambiente na Argentina ainda não se revelou em toda a sua inteireza –, as perspectivas para o Brasil podem ser mais graves do que o anunciado normalmente pelas autoridades econômicas ou políticas. O quadro é tanto mais incerto quanto mais desequilibradas podem ser as respostas argentinas aos desafios do momento, numa conjuntura em que tampouco os responsáveis brasileiros têm sinalizado claramente opções alternativas de política econômica mais eficazes ao que até agora se manifestou sob uma obscura “nova matriz macroeconômica”. Como sempre, metade do esforço, mais até do que os indicadores em si, tem de se apoiar num elemento intangível que se chama de “credibilidade” da (ou confiança na) capacidade das lideranças econômicas (e políticas) de adotarem as medidas corretas para responder aos problemas já detectados.

SOBRE PAULO ROBERTO DE ALMEIDA

Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, mestre em planejamento econômico pelo Colégio dos Países em Desenvolvimento da Universidade de Estado de Antuérpia, doutor em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas. Trabalhou como assessor especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. É autor dos livros: “O Mercosul no contexto regional e internacional” (Aduaneiras, 1993), “ O Brasil e o multilateralismo econômico” (Livraria do Advogado, 1999), “ Relações internacionais e política externa do Brasil: história e sociologia da diplomacia brasileira (UFRGS, 1998)” e “O moderno príncipe – Maquiavel revisitado” (2007)

Abecedário da Política Brasileira

Abecedário da Política Brasileira

A:
ABIN: deveria alertar o governo para candidatos corruptos a cargos públicos e para a invasão de prédios públicos pelos neobolcheviques do MST, e não consegue fazer nem isso: o governo é avisado pela imprensa de funcionários corruptos, e se surpreende quando seus aliados paralisam algum ministério; melhor fechar a ABIN;
Aloprados: seres bizarros, que de vez em quando ocupam a crônica política e policial, ao mesmo tempo, sem que daí resulte nada de estranho (muito pelo contrário); continuam a postos, para serviços mais sofisticados, espera-se...
América Latina: cenário habitual de grandes discursos em favor da integração; todos os problemas são resultantes da exploração imperialista (a China já prometeu corrigir esse pequeno problema);
Apedeuta: Supremo Mestre, Guia Genial dos Povos, Líder inconteste das massas, Instinto Inato da Conciliação, etc., etc., etc.;
Argentina: o melhor sócio do Brasil no Mercosul: permite um grande saldo no comércio bilateral, mesmo sem manipulações cambiais no vizinho maior; relação estratégica e perfeito entendimento para a questão do Conselho de Segurança da ONU;

B:
Base de apoio: diz-se do conjunto de pessoas dispostas a ceder o seu voto por alguma outra compensação material, geralmente direta (mas indireta também serve);
Bingo: já teve até CPI, mas continua recrutando boas vocações; máquinas modernas, como em Las Vegas (enfim, não temos coristas); ganhou do jogo do bicho;
Bolívia: território de certificação de veículos usados, podendo ser legalizados se nenhum proprietário legal aparecer; costumava desapropriar refinarias, antigamente;
Brasil: país surrealista situado a centro-leste da América do Sul; segue a teoria de Galileu: se move, apesar de tudo... (aos trancos e barrancos, como diria Darcy Ribeiro; ou então, progredindo por fatalidade, como diria Mario de Andrade);
Buracos: depende de onde for: nas estradas, costumam produzir buracos orçamentários ainda maiores; nos orçamentos são tapados com previsões maiores de receitas;

C:
Câmara: parte do Congresso (vide abaixo); são muitos e não conseguem se sentar ao mesmo tempo: segurança providencia banquinhos de festa; ficam falando no discurso dos colegas, o que motivou a mesa a pagar curso de reeducação;
Celular: produto perigoso; melhor ter dois ou três: sempre tem orelhas à escuta...
Congresso: nos EUA, o centro real das decisões políticas; no Brasil, o centro surreal das decisões políticas; alguns já compararam a um bazar, mas deve ser maldade...
Contribuições: ao contrário dos impostos, não precisam ser repartidas com os estados, daí sua multiplicação desde a Constituição de 1988; também tem aquelas que vão para a caixinha dos políticos, eventualmente declaradas segundo a legislação eleitoral (mas isso não é obrigatório);
Corrupção: a impressão de que aumentou é falsa: o governo assegura que o que aumentou foram as operações contra a corrupção (que por um infeliz acaso, envolvem cada vez mais gente do governo); Brasil não é campeão: deve ter pelo menos vinte países mais corruptos no mundo; somos apenas os melhores nesse esporte;
Cotas: indispensáveis para realizar a justiça social; dividem o país entre negros e o resto, sendo que o resto não precisa de cotas, por ser maioria; agora, mais da metade da população brasileira se define como sendo afrodescendente, o que pode atrapalhar um pouco...

D:
Diplomacia: soberana, como deve ser; altiva e ativa; de grande projeção internacional; império finalmente se dobra ao charme indiscutível e à importância do Brasil;
Direitos Humanos: todo mundo tem seus problemas, e não se deve politizar a questão;
Dívida: já houve um tempo em que era impagável, sobretudo a externa, objeto dos xingamentos habituais dos patriotas; hoje se convive muito bem com ela, já que permite um clima de harmonia entre banqueiros e os militantes das boas causas;

E:
Estado: grande mãezona generosa, que provê alimento, carinho e renda digna a todos os cidadãos; tudo no Brasil é dever do Estado e direito dos cidadãos (mas esqueceram de dizer quem paga; ora, quem paga é você, leitor!);
Estupidez: muito mais frequente do que se imagina, mas que pode ser apresentada como esperteza, dependendo de quantos amigos se possui nas colunas políticas dos jornais;
Evangélicos: bancada poderosa, que não convém contrariar; todo candidato vira cristão evangélico em época de eleições e adere à filosofia básica do credo; prometem corrigir os gays e menos gays, mediante orações e preces ao divino; vão agora atacar os livros didáticos: muito darwinistas para o seu gosto...

F:
Fiscal/Fiscalização: o que falta para impedir definitivamente a corrupção no Brasil?: o governo já está providenciando concurso para recrutar mais 15 mil fiscais, a serem distribuídos por todo o Brasil; a corrupção vai aumentar (querem apostar?)
Fome: Desapareceu, depois do sucesso do Fome Zero, que agora está sendo exportado para o mundo, via FAO e viagens do Grande Líder; o Brasil, na verdade, teve tanto sucesso no combate à fome, que agora luta com um problema de obesidade...

G:
Gaga: não temos Lady Gaga, mas temos várias personalidades gagás, que ainda não perceberam que seu tempo já passou; tem gente do arco da velha, que continua grudada no governo, pedindo cargos, títulos, funções, prebendas; ou seja, teremos um governo que vai passar quatro anos arrastando os pés...
Governo: entidade destinada ao bem comum e à felicidade geral de seus integrantes;

H:
Hora do Brasil: programa atraente e bem editado, com notícias importantes, equilibradas e focadas no interesse geral dos brasileiros;
Horário Eleitoral Gratuito: ao contrário do que diz o nome, não sai de graça, mas não convém suscitar isso para o pequeno partido de patriotas que promete corrigir todos os males da nação;

I:
Ignorância: invocar sempre que surgir algo inesperado, que não estava previsto ser revelado pela imprensa (ver abaixo); a ignorância é permitida aos bebês, aos índios e aos políticos; idiotas dispõem de um vale-brinde para alegar ignorância...
Inépcia: característica quase inexistente entre nós, já que todos são tão bem preparados para os cargos públicos, e tão impolutos (outro verbete a ser inserido), que a ABIN nem se preocupa mais em levantar a ficha e verificar a capacidade do candidato ao cargo; a inépcia só surge depois, quando o sujeito senta na cadeira decisória...
Imprensa: inimiga do poder, de todo poder, por definição; mas pode-se também fazê-la trabalhar a favor, desde que alimentada e vestida propriamente; democratas sinceros querem controlá-la para evitar os abusos cometidos pelos jornalões conservadores e pelo Partido da Imprensa Golpista (PIG); pode ser uma caixa de surpresa, daí a necessidade manter boas relações nas redações;
Isonomia: princípio máximo organizador dos salários, gratificações e prebendas: todo mundo deve ser remunerado igualmente, pois o esforço é coletivo;

J:
Jejum: estado da oposição (catatônico, na verdade); incompetente, seria a expressão;
Justificativa: costumava preceder as medidas provisórias e explicar a sua razão de ser, além de especificar precisamente o seu objeto; com a multiplicação de MPs, para variados assuntos, nem sempre compatíveis entre si, perdeu sua razão de ser; tampouco é necessário ter alguma, quando algum político é surpreendido por alguma denúncia da imprensa (sempre malévola), ou pode-se usar uma genérica: “fiz o que todo mundo faz”;

K:
Kilowatt-hora: medida de energia usualmente utilizada em eletrotécnica; costumava ser muito barata no Brasil, mas acabou ficando muito, cara já que é uma forma fácil de arrecadar recursos: ninguém consegue sobreviver sem energia; governo aproveita dessa situação para assaltar o bolso dos cidadãos e o caixa das empresas;

L:
Leituras: “Há uma diferença entre o Hitler e o Stálin que precisa ser devidamente registrada. Ambos fuzilavam seus inimigos, mas o Stálin lia os livros antes de fuzilá-los. Essa é a grande diferença. Estamos vivendo, portanto, uma pequena involução, estamos saindo de uma situação stalinista e agora adotando uma postura mais de viés fascista, que é criticar um livro sem ler”. (ex-Ministro da Educação Fernando Haddad)

M:
Memória: brasileiros são singularmente desprovidos de; esquecem o nome dos deputados votados no dia seguinte; um escândalo é logo apagado da memória para dar lugar ao seguinte; só serve para guardar nome de atriz de novela e de jogadores de futebol no caso dos mais fanáticos;
Ministros: existem tantos que ninguém consegue lembrar de todos os nomes, nem o (ou a) presidente; alguns são incompetentes, mas são poucos, e estão ali por causa do partido, ou do Apedeuta, ou por sua própria competência em outros assuntos (a ver); deveriam atuar de forma coordenada, mas é difícil reuni-los todos...

N:
Neoliberal: ser desprezível, que quer vender o Brasil aos especuladores, aplicando discretamente as regras do Consenso de Washington; ideologia condenada e praticamente expulsa das universidades brasileiras, que souberam resistir bastante bem a esse assalto à razão e ao bem-estar coletivo; sobrevive em alguns redutos da direita, mas está acuado e condenado ao desaparecimento;

O:
Orçamento: peça mais importante na vida de uma nação, tão importante que o Brasil possuía três: o monetário, o fiscal e o das estatais; mesmo unificado, agora, costuma ser objeto de revisão cuidadosa (para cima) por parte dos congressistas, que são mais otimistas do que o governo no volume de arrecadação; no Brasil ainda tem a jabuticaba do orçamento aprovado e do contingenciado, solto aos poucos, ao saber da conjuntura política...

P:
Parcerias Público-Privadas: governo demorou quatro anos para aprovar e depois esqueceu; já existiam no Império, foram esquecidas na República e renascidas na nova era de justiça social; geralmente o público paga para companhias privadas, o que recomendaria passar diretamente às privatizações (mas estas são condenáveis);
Partidos: forma moderna de organização política, consistindo no agrupamento de pessoas ideologicamente afins para a conquista do poder e a implementação de um programa de medidas visando ao bem comum; no Brasil, existe um mercado secundário dos partidos políticos, e até um supermercado de partidos, com grande oferta de modelos diversos nas estantes, servindo basicamente aos mesmos fins;
Política: forma suprema do entendimento humano, mais bem social; substituí a guerra, mas pode ser uma guerra por outros meios; no Brasil se divide entre alta política, média política e baixa política, sendo por vezes difícil distinguir entre as três;

Q:
Quadro: diz-se do militante partidário que paga regularmente seu dízimo ao partido (mesmo se retirado do orçamento público em virtude do aparelhamento generalizado do Estado); técnico qualificado da burocracia estatal, recrutado mediante concurso, que todo brasileiro espera fazer desde criancinha;

R:
Receita: o órgão mais importante do país; está presente na vida de todo brasileiro, mesmo sem ele saber, sem perceber e sem sentir; tem um único objetivo: aumentar a arrecadação, em qualquer tempo e circunstância; cumpre bem o seu papel;
Risco: costumava estar associado à classificação efetuada por agências especializadas em medir riscos não comerciais; no Brasil são poucos os riscos incorridos em atividades mais heterodoxas, digamos assim; tanto é que tem gente que nem se preocupa mais com denúncias ou flagras da imprensa;

S:
Saúde: chegando perto da perfeição: governo pensa em exportar o SUS para a OMS;
Senado: altas responsabilidades: senadores deveriam controlar as operações financeiras externas, mas acabam controlando as suas próprias; ótima editora e gráfica;
Socialismo: dura enquanto durar o dinheiro dos outros; justiça social; todo mundo no Brasil é socialista, inclusive os membros do Partido Liberal;

T:
Terras: depende de quais; se for de grandes proprietários, do agronegócio, por exemplo, precisam ter sua produtividade reavaliada para fins de reforma agrária; se forem públicas, servem para integrar o programa de reforma agrária do governo (mas só se estiverem bem localizadas) e ser distribuídas a pessoas perfeitamente incompetentes para fazê-las trabalhar, que depois as venderão no mercado secundário, para gente mais competente; também servem de justificativa para a existência de um partido neobolchevique que diz que pretende fazer reforma agrária nas terras dos outros; se forem compradas por estrangeiros, devem ser desapropriadas, em nome da soberania, se ultrapassarem 2 mil ha.;
Tesouro: cuida bem do nosso dinheiro; de vez em quando passa algum ao BNDES, que o repassa à Petrobras ou a outras empresas dedicadas ao desenvolvimento nacional;
Torcedores: tribo de seres primitivos que se dedicam a estranhos rituais, como xingar o juiz, obrigar a troca do técnico após duas derrotas e, de vez em quando, massacrar algum torcedor adversário desavisado ou distraído; existem alguns que pensam...
Trem-bala: ao contrário do nome, ainda não conseguiu demonstrar suas qualidades, salvo aquela bem brasileira de multiplicar orçamento, correções e aditivos, mas tudo isso de forma antecipada, antes mesmo de sair do país; aí está sua grande qualidade: subiu de preço numa rapidez impressionante, nunca antes vista neste país e em qualquer outro...

U:
Universidades: se forem públicas, são templos do saber; se forem privadas, são tabajaras, mas ainda assim merecedoras de recursos públicos para realizar a inclusão educacional; produzem muitas teses (infelizmente não muitas patenteáveis);

V:
Veado: antigo animal do jogo do bicho; deu lugar a animais mais vistosos, atualmente, todos orgulhosos de sua condição; fazem até paradas;
Vida pública: a mais nobre das ocupações; por vezes vem misturada à vida privada, mas ninguém liga muito para isso; pequenos desvios são ignorados; grandes desvios são até elogiados, como esperteza política;

X:
Xis da questão: No Brasil, existem milhares de técnicos de futebol e outros milhões que proclamam, orgulhosa e sabiamente: “O problema do Brasil é... (este aqui)”, e aí soltam justamente a expressão fatídica, o tal de “xis da questão”, que, uma vez resolvido, converterá a pátria-mãe num mar de tranquilidade, num paraíso de benefícios sociais, para sempre redimido de outros “xizes” das questões;

Y:
Yoani Sanches: incomoda a esquerda no Brasil, que queria continuar apoiando a ditadura dos irmãos Castro e apresentar todos os dissidentes como agentes do império; uma blogueira independente destrói a propaganda pró-Castro de idiotas consumados (e desonestos) como Frei Beto e Emir Sader;

W:
Walt Disney: fundador do grande império da ideologia americana, o mais cultuado, atualmente, pelas classes médias brasileiras, que estão indo duas vezes por ano a Disney World, graças à valorização do real e à desvalorização da moeda americana;

Z:
Zebra: animal muito comum no futebol e na política, mas possui conotações diferentes (e talvez roupas diferentes) quando está na segunda condição;


Projeto de criacao de uma nova agencia para licitacoes e compras governamentais - ANPT

Projeto de criação de uma Nova Agência Nacional, para racionalizar os procedimentos licitatórios e de compras governamentais: ANPT

 Projeto de Lei

Dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Pilantragens e Trambiques – ANPT – com vistas a unificar os procedimentos aplicados a todas as compras governamentais, contratos e outras operações envolvendo recursos públicos, institui um regime especial de controle e manipulação das operações que especifica, estabelece tributação e incentivos específicos, e dá outras providências.

Justificativa:
Ao Congresso Nacional:
Tendo em vista recentes descontroles imprevistos em processos de compras, licitações e contratos governamentais, que redundaram em denúncias indevidas por parte da imprensa, com acusações infundadas a congressistas, funcionários governamentais e militantes partidários, envolvendo inclusive empresários dedicados integralmente à causa do desenvolvimento nacional, sobretudo no setor de infraestrutura rodoviária, e também com vistas a racionalizar os procedimentos licitatórios, agilizar revisões de contratos, bem como implementar novas modalidades de seleção de contratados e eventuais subcontratações autorizadas, faz-se necessária a unificação de todos os procedimentos aplicados aos casos em espécie, ou seja, envolvendo obras públicas, para melhor distribuição dos benefícios e melhor identificação dos beneficiários dessas obras feitas com verbas públicas (ou seja, envolvendo o dinheiro do público).

Projeto:
Art. 1º Fica criada a Agência Nacional de Pilantragens e Trambiques – ANPT –, alternativamente também dedicada a Patifarias e Trapaças (doravante simplesmente referidas como P&T), com poder e jurisdição obrigatórios sobre todos os contratos e licitações dos poderes públicos, mediante o uso de metodologia centralizada, única e transparente (CUT), para melhor administrar o planejamento, atribuição e repartição das dotações orçamentárias que são empregadas em obras públicas de qualquer natureza.
§ 1º Para fins do disposto no caput, todos os projetos de obras públicas, com descrição e justificativa dos valores envolvidos, deverão ser comunicados à ANPT, por expediente enviado com cópia à Casa Civil da Presidência da República, e ainda incluir, não exaustivamente, as seguintes informações:
I - prazo estimado de realização do empreendimento;
II - programação orçamentária dos desembolsos previstos, já incluído o sobre-preço habitual de 25% acima dos montantes usados na concorrência pública;
III – inexistência de vínculos de qualquer espécie entre o ofertante e funcionários da área encarregada das licitações;
IV - prazo de pagamento do empreendimento, inclusive previsão de revisão periódica dos aumentos habituais em obras públicas;
V - comprovação de que o ofertante e promitente realizador do empreendimento possui ativos para remunerar todos os participantes do processo, inclusive intermediários governamentais e partidários; e
VI - procedimento simplificado que demonstre o objetivo de realizar o empreendimento e de utilizar os recursos direcionados aos projetos em causa no menor prazo possível.

Art. 2º O Conselho Nacional de Obras Públicas definirá a lista de obras prioritárias que integrarão a lista anual de projetos a serem controlados pela ANPT.
§ 1º O Conselho Nacional de Obras Públicas (CNOP) será integrado por todos os representantes dos órgão envolvidos nos projetos de obras públicas, com a formação de comissões setoriais para cada um dos domínios reservados e especializados da administração pública; farão parte, ainda, do CNOP, representantes partidários da base de apoio do governo no Congresso e eventuais observadores do mundo empresarial.
§ 2º A Receita Federal do Brasil participará obrigatoriamente de todo e qualquer processo de atribuição de obras públicas, com vistas a antecipar o pagamento dos imposto devidos por ocasião da contratação dos beneficiários contemplados com os empreendimentos, inclusive imposto de renda antecipado sobre os rendimentos previstos no empreendimento. A incidência do imposto sobre a renda, exclusivamente na fonte, será feita de acordo com as seguintes alíquotas:
I - zero por cento, quando auferidos por pessoa física; e
II - quinze por cento, quando auferidos por pessoa jurídica tributada com base no lucro real, presumido ou arbitrado.

Art. 3º A ANPT recolherá, preventivamente, das entidades e instituições autorizadas a operar obras públicas, um percentual variável entre 15% e 25% do montante total da contratação, dependendo dos montantes globais a serem definidos em regulamento ulterior, inclusive um valor proporcional pelas revisões ulteriores dos contratos, com vistas a cumprir as funções institucionais da ANPT, que são controlar, monitorar, contabilizar e operar a redistribuição dos lucros de P&T, de forma homogênea e unificada, de acordo com os melhores procedimentos da CUT, de maneira a garantir o bom funcionalismo do presidencialismo de mensalão, que constitui a base legítima do sistema político brasileiro.
§ 1º Os percentuais estabelecidos acima poderão variar por um fator não superior a 3, dependendo da magnitude da obra pública e das proporções respectivas de financiamento público ou do capital próprio oferecido como garantia pelas empresas empreendedoras.
§ 2º Os cotistas do presidencialismo de mensalão de que trata o caput deste artigo serão catalogados oficialmente desde o momento do registro do empreendimento, e terão participação nos lucros de P&T proporcional à representação geral presente no Congresso Nacional e na base de apoio do governo, o que for maior.
§ 3º O não atendimento por algum cotista do presidencialismo de mensalão de suas obrigações no que se refere ao apoio à agenda governamental implica a exclusão, parcial ou completa, temporária ou definitiva, de qualquer das proporções dispostas no caput deste artigo dos lucros de P&T, tal como recolhidos pela ANPT e redistribuídas segundo os procedimentos adotados nesta MP.

Art. 4º Das sobras dos recursos arrecadados pela ANPT, ou seja, os lucros de P&T, depois das deduções de impostos e da redistribuição entre a base, contratada na origem, no mínimo 50% (cinquenta por cento) será incorporado ao patrimônio da ANPT com vistas à ampliação da base de apoio do governo, de maneira a que o presidencialismo de coalizão possa ser o mais amplo possível. As sobras eventuais da distribuição serão aplicados em ações, debêntures, conversíveis ou não em ações, ou outros títulos de emissão de empresas selecionadas pelo CNOP, com o objetivo de constituir um capitalismo de coalizão, segundo modalidades a serem definidas em regulamento próprio.

Art. 5º Fica instituído o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento do Capitalismo de Coalizão – REIDECACO, nos termos e condições estabelecidos em Medida Provisória subsequente.
Parágrafo único. O Poder Executivo regulamentará o regime de que trata o caput.

Art. 6º É objetivo do REIDECACO trabalhar para a implantação de um poderoso sistema capitalista ligado ao Estado e ao presidencialismo de mensalão, de maneira a garantir continuidade dos grandes projetos de transformação social e econômica criados desde a inauguração da nova era.
§ 1º Compete ao CNOP a aprovação, por meio de portarias, dos projetos que se enquadram nas disposições e objetivos do REIDECACO.
§ 2º  As pessoas jurídicas participantes dos projetos administrados pela ANPT serão objeto de tratamento preferencial pela Receita Federal, tanto mais favorável quanto participarem de maneira voluntária para o patrimônio da ANPT, em incentivos e deduções fiscais a serem estabelecidos em Medida Provisória ulterior.

Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.