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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Critica ao manifesto empresarial "Carta do Povo Brasileiro" - Paulo Roberto de Almeida


Carta do Povo Empresarial:
Uma leitura crítica

Paulo Roberto de Almeida

No decorrer do mês de agosto de 2014, um número indefinido de empresários, em evento promovido pelo Movimento Brasil Eficiente (MBE) em parceria com a LIDE (Liderança Empresarial brasileira), em data exata e local tampouco revelado, redigiu e apresentou um documento dirigido a um não menos indefinido “Governante” (Sr. ou Sra.), elaborado com base em uma pesquisa nacional encomendada pelo MBE ao Instituto Datafolha, em fevereiro. Segundo uma nota preliminar liberada na ocasião, o evento “debateu o tema ‘Simplificação Tributária e Gestão Pública Eficiente’ e contou com a presença de representantes dos candidatos a presidência Aécio Neves e Eduardo Campos. Dilma Roussef (sic) não mandou representante.”
Postei a íntegra desse documento, tão pronto o recebi, em meu blog (neste link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/08/empresarios-mandam-ao-governo-em-nome.html), fazendo-o preceder de algumas críticas ásperas de minha parte, que, hoje reconheço, podem ter sido injustas com os empresários e os economistas presentes, cujo objetivo, manifestamente, era o de iniciar um diálogo aberto e sincero (ainda que em tom não menos áspero do que o meu), com o “Governante” em questão – não se sabe se o atual ou o futuro, a ser eleito em outubro, e que pode ser o mesmo, ou a mesma), para tentar resolver um dos mais complicados problemas que afligem os empresários e todos os brasileiros, qual seja, o peso desproporcional do Estado sobre a vida e a renda de todos e cada um.
Consoante um hábito que cultivo desde muitos anos, farei uma avaliação geral desse documento, mas começando por analisar topicamente cada uma de suas afirmações que me parecem merecer reparos. Serei seletivo, retendo apenas os argumentos que me parecem pouco apropriados à presente conjuntura política, ou aquém das necessidades do Brasil, que requer – e nisso concordo inteiramente com os empresários – ajustes muito sérios em suas políticas econômicas e no próprio sistema político. Assim procedendo, creio estar cooperando com o espírito do encontro empresarial e com os objetivos a que eles aspiram, embora mantendo minha proverbial independência de pensamento quanto a métodos e finalidades. Vamos ao exercício.
  
1) “Carta do Povo Brasileiro
PRA: Não creio que os empresários tenham o direito, ainda que possam ter a pretensão, de fazer uma carta a um “governante” qualquer em nome do “povo brasileiro”. Eles não possuem mandato para isso, não extraíram nenhuma representação geral da população, nem a consultaram sobre os seus propósitos. Melhor seria se tivessem se atido à verdade: “carta de empresários aos políticos brasileiros”, assim, tão simples. O argumentado aqui vale para os primeiros parágrafos substantivos do documento, como transcrito abaixo.

2) “Quem aqui se manifesta é o coletivo que chamamos de Brasil. (...) Esse é o Brasil que fala agora ao Governante.”
PRA: Não, não é. No máximo é uma pequena parte do Brasil, talvez até uma parte substantiva, se medida pela renda ou pela contribuição à formação do PIB, mas ainda assim uma fração do povo e de sua comunidade produtiva, empresários e trabalhadores. Se e quando tais empresários obterem uma representação representativa, se ouso a redundância, talvez esse “povo” possa ser mais amplo. Até aqui se trata apenas e tão somente de uma “carta de líderes empresariais".
Não se especifica, tampouco, quem seria esse “Governante”. Existe, até o dia 31 de janeiro do corrente ano, um, ou uma, depois muda, ou começa um novo mandato para a mesma. Por que não dizer “à presidente e ao seu sucessor em 2015”?

3) “Dessa vez é o povo que manda o recado. Um recado mais do que necessário, porque o velho monólogo dos marqueteiros do governo, soprando crenças no ouvido do povo, não funciona mais. O povo que lê e escreve nas redes sociais não precisa de intérpretes de pensamento.
PRA: Não, não é o povo que manda o recado, e acho que os empresários diminuem sua mensagem ao pretender tal amplitude. Mas, na verdade, o povo precisa, sim, de intérpretes, uma vez que vivemos em democracia representativa (pelo menos enquanto o partido potencialmente totalitário que ocupa atualmente o poder não reduzir a amplitude e a funcionalidade desta, mediante um decreto bolivariano que pretende instalar êmulos de sovietes, por exemplo), e que o povo em questão possui uma mais do que rudimentar educação política, para não dizer uma precária educação tout court. O povo brasileiro tem o direito de mandar recados a seus dirigentes, e ele o faz a cada dois anos, nas eleições gerais e nas parciais, subnacionais ou locais. Esses recados são dados geralmente através de partidos e da sua representação no parlamento. A carta não pode, portanto, pretender ser mais do que ela é: uma simples manifestação do pensamento de um grupo de empresários. Seria melhor que isso ficasse claro, para que eles não sejam acusados de serem ridiculamente pretensiosos.

4) “O governante que queremos é aquele que vai governar com o povo. O governante moderno aprende porque escuta, em seguida planeja suas ações e as executa como combinado. Governo sem plano é desgoverno.”
PRA: Todo governante eleito pode arguir que, legitimamente, ele governa com o povo, uma vez que detém a maioria, direta, ou proporcional (no parlamento). Aliás, no sistema presidencial brasileiro persiste uma tensão – que está na base dos conflitos entre executivo e legislativo, e na chantagem recíproca que um exerce sobre o outro – que é a diferença (inexistente nos regimes puramente parlamentaristas) entre a maioria direta do “governante”, que se expressa na eleição do presidente, e a representação proporcional no parlamento, que podem não coincidir; no Brasil, elas dificilmente coincidem, tendo em vista a extrema fragmentação partidária, mas o mesmo pode ocorrer em outros sistemas presidencialistas, como o dos EUA, por exemplo. O ideal  seria que o regime político brasileiro fosse parlamentarista, que tem justamente o poder de evitar qualquer contradição desse tipo, uma vez que o governante é aquele que detém a maioria no congresso, isoladamente ou em coalizão, mas essa é uma questão que ultrapassa o escopo destes comentários e o próprio objetivo da carta dos empresários.
Quanto à referência ao planejamento, me parece um tanto elementar, pois todo governo, até por força das circunstâncias ou dos imperativos constitucionais, tende a governar guiado por algumas ideias, no mínimo, ou até por grandiosos planos de desenvolvimento multianuais e multissetoriais (é uma das nossas obsessões favoritas), mas não se pode concluir muita coisa a partir dessa frase genérica.

5) “Chegamos ao ponto-limite. Brasília virou uma fantasia bilionária, de fato trilionária, cercada de desperdícios e ineficiências. O poder que manipula trilhões de reais nos orçamentos públicos ainda tem a petulância de afirmar ao povo que “faltam recursos”. Não! Recursos abundam. Fizemos, nas ruas, essa denúncia, em junho de 2013. O recado deveria ter sido suficiente, mas caiu no vazio.”
PRA: Sem maiores comentários, pois tendo a concordar com a expressão de exasperação, mas trata-se apenas de uma manifestação de contrariedade. Quanto ao “Fizemos nas ruas...”, acredito que nenhum empresário participou, talvez os menores, os chamados PMEs, que já tem ministério próprio, ao que parece. Mas é certo que a classe média saiu por poucos nas dias nas ruas para expressar isso aí mesmo que os empresários escrevem. Mas logo depois os vândalos ocuparam os espaços e a classe média se retirou.
Minha única consideração aqui, baseada no que ouvi das ruas, seria esta: é verdade que a classe média protestou contra os altos impostos e os “baixos” serviços públicos – em saúde, transportes, educação, segurança, etc. – mas o que ela pedia, direta ou indiretamente, era “queremos mais Estado”. Não vi ninguém dizendo: “chega de Estado, queremos serviços públicos oferecidos por companhias privadas em regime de concorrência”. Claro, seria mais complicado ter essa clarividência quanto às relações entre impostos recolhidos e serviços estatais prestados, mas os empresários deveriam saber que a grande maioria da população quer duas coisas contraditórias: pagar menos impostos, e ter melhores serviços públicos. Seria preciso uma pequena revolução para ter um sem afetar o outro, mas os empresários precisariam explicar claramente ao povo como se poderia ter maior produtividade a partir dos recursos arrecadados. Afinal de contas eles trabalham no mercado, em regime de concorrência, não é mesmo?

6) “Nesta Carta, retomamos a luta de Tiradentes, nosso maior manifestante civil: não aceitamos mais carregar no lombo um governo que aplica uma tributação impiedosa sobre o bolso do contribuinte indefeso.
PRA: Existe muitos mitos em torno de Tiradentes, e os empresários podem estar aderindo a um deles: o herói anti-tributação, numa espécie de líder avant la lettre do cidadão consciente do desequilíbrio entre extração estatal e renda disponível. Mas eles têm o direito de fazer isso. Mitos servem exatamente a esses propósitos políticos.
Empresários mais precisos poderiam dizer: consumidores, produtores e trabalhadores vem sendo tributados numa escala que prejudica o esforço de criação de riqueza, e torna o Brasil um país caro e pouco competitivo no âmbito mundial, tendo em vista os níveis de produtividade e de renda per capita vigentes no país. Teria sido mais correto, ao apontar o desequilíbrio entre renda, poupança e investimento, em função da punção fiscal do governo, que debilita todos esses agregados econômicos.

7) “O empresário, que poderia estar gerando empregos, virou um proletário do governo. Este está sempre cobrando sua fatia na frente; não espera nem o lucro acontecer. E o povo continua carregando uma das cargas tributárias mais onerosas do planeta: trabalha até a metade do ano só para sustentar o governo e os governantes.”
PRA: Correto mais uma vez, mas ainda desta vez expressa mais um protesto do que um diagnóstico da situação. Afinal de contas, o pacto constitucional, com todas as benesses encomendadas para todos – sem qualquer cálculo de provisão de recursos – e o funcionamento do sistema político, perdulário e irresponsável, funcionaram da mesma forma no último quarto de século. Ou seja, a bola já vem rolando desde muito tempo: só agora os empresários resolveram protestar. De todo modo, não é fácil desarmar a bomba fiscal, pois ela foi encomendada por todos, o povo, e os políticos. Talvez os empresários devessem começar por explicar ao povo que o caminho adotado é inviável, e mandar um recado aos políticos: ou se inverte o caminho, ou não tem mais financiamento. Creio, sem estar seguro disso, que muitos dos empresários que subscreveram essa carta-manifesto, vão contribuir para as campanhas eleitorais. Por que o fazem, se pretendem protestar contra o sistema?

8) “O povo brasileiro quer treinamento e trabalho. Quer aposentadorias e pensões compatíveis com os aportes que faz ao longo da vida. O povo brasileiro não precisa de salvadores; precisa mesmo é de gestão séria e confiável, rotativa e verificável, em todos os níveis de governo.
PRA: Mais uma vez, os empresários perderam uma oportunidade de expressar claramente o seu pensamento. O que vai acima é uma demonstração de exasperação, não um programa para um governo responsável. Os empresários deveriam voltar a se encontrar para fazer um dever de casa mais conforme às necessidades, suas e do povo.

9) “Chega de burocracia e de roubar descaradamente o tempo e a saúde do povo nas filas do atendimento médico e nas paradas de ônibus; ou queimar o futuro dos jovens com classes sem bons professores, com a falta de um computador por aluno. Esta Carta marca um ponto de virada. O povo brasileiro só precisa de condições e ambiente adequado para trabalhar, para empreender seus negócios, para desenvolver sua pesquisa, se educar e cuidar do ambiente.”
PRA: Só a última frase se aproxima, muito pouco, do que seria útil e adequado na presente circunstância. Sim, o ambiente de negócios e de trabalho no Brasil é o pior possível, mas dito apenas assim, fica igual ao protesto vazio feito nas frases que a precedem. Nem diagnóstico, nem prescrição, só protesto vazio. E o que o computador por aluno tem a ver com a qualidade da educação? Deve ser lobby de algum fabricante de computadores, que acha que vai fazer um bom negócio se o governo comprar vários milhões de computadores (no Brasil, claro), um para cada aluno. Que lamentável! A referência final ao “ambiente” é para ser politicamente ou ambientalmente correto?
Os empresários se reuniram apenas para reclamar do governo e do ambiente de negócios? Mas ele já é ruim há décadas. E o governo atual só fez piorar o que já era ruim. E os empresários ainda não fizeram um diagnóstico correto do que seria preciso fazer para melhorar, governo e ambiente de negócios? Que tal se eles se reunirem novamente para fazer, desta vez direitinho, o dever de casa?

10) “Perdas são pedagógicas. Perdemos, um dia, a democracia, para aprendermos a não perdê-la nunca mais; com a inflação, perdemos o sentido e o valor do dinheiro para, hoje, darmos todo o valor à moeda estável.”
PRA: Concordo. Aprendemos mais com fracassos e derrotas do que com eventuais sucessos. Estes podem ter muitas mães, mas aqueles parecem ter pais desconhecidos. Mas existe aqui muita simplificação. A “perda da democracia” parece referir-se a 1964, mas o fato é que ela já estava ameaçada de todos os lados; o golpe preventivo dos militares, aliás a pedido de políticos (alguns preocupados, outros apenas querendo afastar adversários para tentar governar eles mesmos), foi uma tentativa de preservar a ordem numa república anárquica, como era o regime de Goulart. A deriva ditatorial ocorreu depois, e muito em função da esquerda armada ter passado ao ataque, com atentados e assassinatos. A mesma esquerda que hoje está no poder e tenta oficializar a sua versão deformada da história passada do país. Os empresários vão aderir, igualmente, a essa visão deformada da história política do país?
E se eles estão tão preocupados assim com a inflação, por que não protestam contra as metas muito altas que são mantidas desde 2005 pelo Conselho Monetário Nacional?; por que permitem que o governo roube todo ano, do povo, todos esses pontos de inflação permitida, que estão muito acima dos níveis mundiais? O fato é que os empresários, como todos aqueles que conseguem fixar os seus preços – o que não é o caso dos trabalhadores assalariados, salvo aqueles fortemente sindicalizados, podendo repassar a sua chantagem para o resto da sociedade –, sempre procuram estar à frente da inflação, quando podem, remarcando seus preços, ou diminuindo as quantidades...

11) “Temos perdido tempo e energia demais com governos que governam mal e nos custam cada vez mais caro. Nossa paciência não tem o tamanho da vida inteira. O povo brasileiro exige ser senhor do seu tempo.”
PRA: Apenas choradeira e demagogia popularesca. Os empresários não teriam nada de mais inteligente para dizer. Os governos foram colocados lá por quem? Pelo povo! Com o dinheiro de quem? Dos empresários! Do que é que eles estão reclamando agora? Não gostaram do que apoiaram? Por que é que legiões de empresários – OK, estou exagerando, eu sei – já foram, continuam indo e ainda vão visitar o guia genial dos povos, o homem que deformou ainda mais o que já era deformado, e que pretende continuar exercendo o monopólio do poder com o seu partido neobolchevique? Os empresários são cegos, ingênuos, néscios, irresponsáveis? Tudo isso junto? Não só empresários, ficaram muito contentes, em 2002, em eleger alguém que eles sabiam que dialogava com eles, desde os tempos de sindicato dos metalúrgicos, que tomava uísque com vários deles nos encontros da federação ou da FIESP, mas se apressaram em apoiá-lo novamente, mesmo quando as patifarias do Mensalão, antes das eleições de 2006. E voltaram a reincidir no crime, ao eleger, ou pelo menos a sustentar, o poste designado, que concorria contra o mesmo candidato que em 2002 foi julgado autoritário e talvez muito arrogante no diálogo com os empresários, e também “estatizante”, o que talvez seja verdade. Mas, antes, durante, depois, e talvez ainda agora, os empresários parecem ser cegos, néscios, ingênuos, desinformados, ou até mesmo estúpidos, pois continuam a dar dinheiro para o partido que quer mantê-los no cabresto. Parabéns...

12) “Para o Brasil se projetar como líder em sua região e como um exemplo de nação próspera, moderna e justa, perante o mundo. Queremos de volta a ordem no governo, para termos de volta o progresso, que perdemos.”
PRA: Essas duas frases finais do manifesto dos empresários não fazem nenhum sentido. Como redação, eles não passam da nota 4. Reprovados, portanto. Como lógica, zero, total e confirmado. Incrível como pessoas adultas, responsáveis, bem educadas, conseguem ser ruins na hora de redigir alguma coisa com um mínimo de sentido.

Termino, infelizmente, este meu exame tópico do manifesto dos empresários, com a mesma avaliação cáustica que eu tinha feito na introdução da transcrição desse texto, na postagem do meu blog. Transcrevo aqui novamente o meu julgamento severo, feito a partir de uma primeira, e rápida leitura: “A carta é parcial, mal escrita, enganosa, deformada, carente de sentido e apenas reclamatória. Lamento constatar que nossos empresários também são medíocres e pouco preparados para liderar uma mudança real nos destinos do país. Falta substância analítica, falta consistência prescritiva, falta coerência nas propostas, falta unidade de conjunto, falta sequência lógica, ou seja, esse manifesto, chamado de Carta, não tem nenhuma solidez intelectual.”
Mas eu acrescentava, logo em seguida: “Mas já é um começo. Seria melhor se esses mesmos líderes empresariais não alimentassem a fantasia trilionária de Brasília, deixando de dar dinheiro a partidos e políticos que manifestamente estão atuando contra a nação, em seu próprio benefício.” Acho que a recomendação permanece válida.
Ao prometer voltar ao assunto, o que acabo de fazer agora, eu terminava assim minha introdução ao manifestos dos empresários: “Sou muito crítico, e provavelmente muito cáustico, como visto acima. Tenho razões para isso.”
Acho que as minhas razões ficaram claramente expressas nos parágrafos acima.
E volto à minha proposta de uma “fronda empresarial”, já objeto de alguns artigos meus no Estadão (ver aqui: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,fronda-empresarial-o-brasil-precisa-de-uma-imp-,1541582; aqui: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,os-800-anos-da-magna-carta-imp-,1528314; aqui: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,verdades-que-nao-podem-ser-definitivas,1131507,0.htm; e aqui: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,verdades--nao-convencionais-,1116065,0.htm). Enquanto os empresários não se convencerem disto, eles vão continuar pagando, e continuarão sendo esmagados por um governo maluco, um Estado opressor, e continuarão a ser explorados por uma classe política autista, prebendalista, rentista e irresponsável. Mas não sou eu que precisa dizer isso a eles...
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 11/08/2014

domingo, 10 de agosto de 2014

Corrupcao companheira: de vez em quando um acidente perturba as operacoes...

Aí é preciso recomeçar a reconstruir as bases e os novos mecanismos da ordenha contínua de fundos públicos para benefícios privados (e coletivos, mas só os da máfia...).
Como sempre acontece no Brasil, o barulho feito em torno desses casos, é inversamente proporcional ao tamanho das punições (quando as há).
Parte do dinheiro roubado, vai parar nas contas de adevogados caríssimos, que conseguem arrastar o caso durante anos, até a impunidade sorrir novamente...
Gostaria de ser desmentido por evidências de que não é assim: os mensaleiros logos estarão soltos, leves, livres e sorridentes, para recomecar suas atividades de quadrilheiros partidários.
A máfia é realmente uma coisa difícil de se vencer...
Paulo Roberto de Almeida

Youssef estuda delação premiada para reduzir pena
Folha de São Paulo, 10/08/2014

Dezesseis quilos mais magro, resultado dos quase cinco meses preso, réu em 12 processos, nos quais deve ser condenado a mais de cem anos de prisão, e com um pedido de divórcio da mulher, o doleiro Alberto Youssef enviou sinais ao Ministério Público e à Justiça de que quer fazer um acordo de delação premiada para se livrar da cadeia o quanto antes.

A lei brasileira prevê redução de pena para colaboradores. Se o que revelar à Justiça ajudar a esclarecer crimes mais graves, Youssef pode até ficar livre da prisão. Foi o que aconteceu em 2007, quando o doleiro foi detido pela primeira vez e escapou entregando uma parte da sua clientela.

A conclusão do doleiro, e da maioria dos advogados que atua na Operação Lava Jato, é que não há defesa técnica possível contra as provas que a Polícia Federal e os procuradores juntaram contra ele, Paulo Roberto Costa (ex-diretor de abastecimento da Petrobras) e cerca de 15 empreiteiras.

Restam duas alternativas para a defesa, segundo cinco advogados que atuam no caso ouvidos pela Folha sob condição de anonimato: tentar tirar o juiz Sergio Moro do julgamento ou tirar os processos do Paraná, onde a Lava Jato foi deflagrada. Moro é considerado um juiz duríssimo, mas com um preparo técnico praticamente imbatível em questões de crime financeiro e lavagem de dinheiro. As duas hipóteses são remotas, pois o STF já decidiu que o caso deve ficar na Justiça do Paraná.

O doleiro foi preso em 17 de março pela PF na Operação Lava Jato, sob a acusação de comandar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou R$ 10 bilhões em quatro anos e tinha ramificações na Petrobras, no Ministério da Saúde e em partidos como PT, PP e SDD.

É UM LUXO SÓ
Youssef levava uma vida de milionário antes de ser preso. Morava num apartamento comprado por R$ 3,5 milhões na Vila Nova Conceição --um dos bairros mais caros de São Paulo--, tinha três hotéis, uma rede de agência de viagens e helicóptero, e convivia com altos executivos de empreiteiras. Com um deles costumava beber o vinho Vega Sicilia, que, em algumas safras, custa R$ 2.000.

Uma cifra apurada pelos procuradores que atuam na Operação Lava Jato traduz, em parte, o porte que Alberto Youssef atingira. Ele remeteu US$ 444,7 milhões (o equivalente a pouco mais de R$ 1 bilhão) para fora do país entre junho de 2011 e março deste ano --uma média de US$ 150 milhões ao ano. É um volume equivalente a um banco de médio porte. É um salto e tanto para alguém que nasceu numa família de classe média baixa em Londrina, no norte do Paraná, e vendia pastel no aeroporto da cidade quando era criança.

BAIXA CREDIBILIDADE
A maior dificuldade para que a colaboração de Youssef seja aceita é que sua credibilidade tende a zero. As razões da baixa credibilidade é que ele não contou tudo o que sabia na delação premiada que fez em 2007 e não cumpriu a promessa de que não voltaria a atuar no mercado de dólar. A avaliação da PF e dos procuradores é que Youssef usou a primeira delação premiada como alavanca para elevar sua participação no mercado.

A estratégia que usou foi entregar os clientes menos importantes, como políticos e servidores públicos do Paraná, e preservar os grandes, como o deputado José Janene (PP-PR) --que até morrer, em 2010, era o cicerone do doleiro em Brasília e em empresas como Petrobras. O plano deu certo. Youssef deixou de ser um doleiro do Paraná e passou a ter atuação em São Paulo, Rio e Brasília, segundo a PF. Continuou atuando com o PP, mas conquistou aliados no PT, como o deputado federal André Vargas (sem partido-PR).

O advogado de Youssef, Antonio Augusto Figueiredo Basto, diz que a decisão de colaborar é do seu cliente, mas ele não recomenda o expediente: "O Alberto é mero bode expiatório num esquema muito maior, sobre o qual não há nenhum interesse em investigar. Você acha que ele teria feito tudo de que é acusado sem um parlamentar?". Ele diz que sai do caso se seu cliente virar colaborador.

Nossos aliados preferenciais: Evo Stroessner Morales (poderia ser Somoza, tambem)

Ou Trujillo, ou Pérez Jimenez, ou vários outros, nem todos de Macondo...
Depois que o Paraguay teve um primeiro, e longevo presidente, Don José Gaspar Rodriguez de Francia y Velasco, apropriadamente registrado na literatura universal como Yo, El Supremo (de Augusto Roa Bastos), parece que outros pequenos caudilhos querem se eternizar no poder, como fez Chávez, como fez Ortega, como está fazendo Correa, todos, aliás, muy amigos do nosso guia genial dos povos, que também gostaria de poder fazer como eles, ou pelo menos como Getúlio: um breve período de 15 anos (e o que mais der).
Esta é a nova democracia do Foro de São Paulo: se é de clube, melhor ficar mais um pouco...
Paulo Roberto de Almeida 

Lido de soslaio numa dessas colunas de jornalistas bem informados (Leandro Mazzini, do Opinião e Notícia):

Aconteceu na Bolívia. 
 Duas magistradas do Tribunal Constitucional Plurinacional, o STF de lá, foram suspensas por uma votação da.. Câmara dos Deputados. 
Porque Zoraida Chánez e Ligia Velásquez denunciaram a manobra do presidente Evo Morales em mexer na Constituição para disputar o terceiro mandato.

Os LGBTs constituem uma raca? O STF seria capaz de decidir?

Ainda não li a matéria, mas só o título já me deixou surpreendido:

Gays vão ao STF contra o Congresso Nacional
Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais requer à Corte que considere a homofobia e transfobia crime de racismo (leia mais)


Se eles são uma raça, e previsivelmente se veem também como uma minoria oprimida, vão certamente precisar de cotas, como os tais de afrodescendentes. Os augustos e preclaros ministros do nosso supreminho (deve ter aliados por lá...) vão aceitar o princípio do racismo, e já vão, na mesma encomenda (sempre é melhor decidir de uma vez) aprovar a questão das cotas?
Mas essas cotas seriam para o quê? Emprego público, ingresso na universidade, shows da parada gay, camisinhas gratuítas, o que, exatamente?
Por acaso, segundo a última pesquisa PNAD-IBGE, os afrodescendentes já constituem 53% da população brasileira. Previsivelmente vão aumentar na próxima pesquisa.
Como é que ficamos então?
Eu que sou totalmente branco -- mas desconfio que meu pai tinha uma pele, digamos assim, um tantinho morena -- estou portanto em minoria. Vou precisar de cotas eu também.  E todos os meus infelizes colegas da minoria branca opressora.
Mas eu dispenso essas pelas quais os afrodescedentes e os LGBs estão lutando.

A minha cota é simples:
Quero receber todas as publicações inteligentes produzidas pelas grandes editoras brasileiras. Mas só as inteligentes. Não deve ser muito. Dispenso auto-ajuda, soluções empresariais, conforto espiritual e recomendações para uma dieta saudável. Minha cota é só de livros inteligentes. Os editores sabem quais são...

Paulo Roberto de Almeida

Fronda empresarial: o Brasil precisa de uma - Paulo Roberto de Almeida (Estadao)

O jornal O Estado de S.Paulo, em sua página de artigos de Opinião, traz hoje (10/08/2014), meu artigo mais recente, em que trato, mais uma vez, da necessidade de uma fronda empresarial no Brasil. Nem todos compreendem o significado do conceito de fronda, em sua expressão própria ou em sua analogia histórica, como um dos leitores de quem transcrevo o comentário mais abaixo, juntamente com minha resposta a ele.
Quem desejar ler no site do jornal, eis aqui o link:
http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,fronda-empresarial-o-brasil-precisa-de-uma-imp-,1541582
Transcrevo meu artigo original:


Fronda empresarial: o Brasil precisa de uma

Paulo Roberto de Almeida

Fernand Braudel, o historiador conhecido por seus estudos sobre a evolução das economias de mercado e sobre a expansão do capitalismo – não confundir as duas coisas: este último é apenas uma, ainda que a mais importante, das formas assumidas pelas primeiras – alertava para uma situação bastante frequente nas interações entre os capitalistas e os donos do poder, representados pelos soberanos, em suas diversas modalidades: reis, príncipes, duques, arrivistas armados, condottieri. Se tratava da colusão entre o dinheiro e o poder, para o mútuo benefício de ambos, em detrimento dos cidadãos, dos súditos, de todos os pagadores de impostos. Na época por ele estudada, os capitalistas eram geralmente mercadores e banqueiros, não aqueles industriais de cartola e charuto que só surgiriam depois de bem implantada a revolução industrial; mas a realidade permanece a mesma, em todas as épocas e lugares.
Os criadores primários de renda e riqueza compram a simpatia dos fazedores de leis e de regras, para que estes “fechem” os mercados de maneira a elevar a taxa de retorno das atividades nas quais os primeiros se encontram engajados, seja no setor produtivo de manufaturas, seja nas intermediações comerciais e financeiras. Ocorre também do príncipe querer consolidar o seu poder, para afastar eventuais concorrentes, passando a adiantar esses favores aos agentes econômicos, em troca do financiamento adequado para justamente reforçar o seu monopólio sobre o poder político. Alguma semelhança ou coincidência com o que ocorre hoje no Brasil? Provavelmente, mas o cenário não é exclusivo do nosso país ou da nossa época. Ele é sustentável, aceitável, moralmente justificado, defensável do ponto de vista dos interesses da comunidade?
No limite, esse tipo de relação espúria entre detentores do poder político e criadores da riqueza primária pode levar a uma exacerbação da exação fiscal e a uma deterioração geral das instituições de comando na sociedade, alimentando corrupção, irracionalidades econômicas, inércia gerencial, falta de inovação e descrédito geral dos cidadãos (de preferência a súditos) quanto ao funcionamento da administração pública. Não parece difícil prever a perda de dinamismo na economia e uma descrença geral na legitimidade da representação cidadã, podendo redundar em acirramento dos conflitos políticos. Estaria ocorrendo isso no Brasil atual? Alguma surpresa quanto ao cenário?
Imagino que todos aqueles capitalistas – já sem cartola ou charutos – e todos os banqueiros, e seus lobistas profissionais, que circulam na capital da república de modo contínuo, já estejam cansados de todas essas petições que são obrigados a fazer, regularmente, para tentar melhorar, um pouco que seja, o seu ambiente de negócios, e para tentar preservar, uma parte que seja, dos resultados de suas respectivas atividades produtivas da sanha dos fiscais da Receita e da selva de novos regulamentos que legiões de burocratas setoriais despejam todos os dias sobre eles. Todos os mandarins da nossa república estão empenhadíssimos em construir um Brasil melhor para todos, e por isso precisam retirar os recursos de alguma parte, onde eles estão: nos caixas das empresas e nos bolsos dos cidadãos de classe média, simples trabalhadores indefesos.
Por que será que os nossos capitalistas – industriais, agrícolas e de serviços –, aparentemente tão robustos e tão conscientes da riqueza que geram em benefício da sociedade, resolvem se dobrar a partidos políticos, entregar a eles uma parte dessa riqueza criada com o suor do seu rosto (enfim, a maioria, uma parte se encosta nos empréstimos do BNDES), decidem se submeter a políticos notoriamente incompetentes e aceitam, além disso, fazer a via crucis a Brasília para pedir favores aos governantes? Para mim é um mistério, mas provavelmente tem a ver com a constituição do próprio capitalismo no Brasil, sempre embalado nos braços do Estado, alimentado no leite generoso dos subsídios e da proteção oficial, enquadrado por burocratas eficientes na regulação setorial e na captura de benefícios associados e continuamente mantido sob rédeas curtas por esse mesmo Estado, onipotente, nem sempre onipresente, mas certamente perseguindo como uma sombra o itinerário das riquezas criadas pelos capitalistas em seus afazeres cotidianos.
Se esses capitalistas lessem os livros de história saberiam que os países que alcançaram patamares significativos de prosperidade material e de bem estar coletivo foram aqueles que mais souberam defender as riquezas privadas da cobiça de aventureiros improvisados e de soberanos instalados. Para isso, os barões e os burgueses de outros séculos tiveram de decapitar, guilhotinar, ou exilar alguns dos que tentavam se assenhorear de uma parte desproporcional da sua riqueza. A condição essencial dos progressos materiais está justamente na defesa da propriedade, e é essa defesa que garantiu a pujança das economias de mercado que puderam dispor, paralelamente, de Estados contidos pela sociedade em face de soberanos tendencialmente autocráticos. A despeito de outras evidências históricas, e do que possa ter dito Fernand Braudel, esses fatos também fazem parte da história.
Foram essas frondas que permitiram a acumulação de riqueza e o bem estar de capitalistas e trabalhadores. Malgrado tentativas de “pikettyzação” do debate – uma transpiração estatística para provar que a acumulação se dá em detrimento da maioria e em favor de uma minoria – o fato é que as sociedades ficaram mais ricas lá onde a liberdade econômica foi a mais ampla; a emergência de um punhado de superbilionários jamais impediu a formação de novas fontes de riqueza; ao contrário, até estimulou outros que também buscavam essa condição. Que tal uma fronda no Brasil?

[Hartford, 28 de julho de 2014

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Um leitor não entendeu muito bem o que eu queria dizer, e escreveu o seguinte comentário a este meu artigo:

On Aug 10, 2014, at 9:21, ARIOVALDO BATISTA <ariobaxx@xxxxx.com> wrote:

Para começar foi difícil entender o linguajar do professor provavelmente de história e diplomata sr. Paulo R. de Almeida. Fronda que não encontrei em dicionários que tenho, parece que se refere ao termo ' La Fronde' de uma revolução social na "França das luzes" de Luiz XIV, na realidade um "ensaio" para a Revolução Francesa ocorrida no final do séc. XVIII, junto com a independência americana. Discordando um pouco do professor sobre a Revolução Francesa, não se tratou de uma revolução social propriamente dita, MAS DA PRIMEIRA INTENTONA COMUNISTA MAL SUCEDIDA, a segunda foi a Soviética depois da I Guerra. Ambas, incluindo a independência americana, a "história dos bastidores" até mais confiável, diz que foram financiadas pelos grandes banqueiros Rotschild, Rockfeller e Morgan, PORTANTO, NADA DE SOCIAL, mas negociatas de banqueiros mesmo.
Pelo que se depreende do texto, o autor parece dizer que a administração pública em particular no Brasil, ESTÁ TÃO EM DESCRÉDITO pela imoralidade, burrices, incompetências etc etc., que respinga para os assuntos econômicos. E daí estaria propondo uma "revolução empresarial" nos moldes da revolução social iniciada na tal "La Fronde", e ainda inacabada pela cambada comunista que ainda deita e rola nas ideologias políticas e até econômicas?
Parece que é isso que se pode concluir do texto complicado do sr. Almeida, que o Estadão apresenta no sua parte editorial.

Ariovaldo Batista
s.b.do campo sp

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Ao que eu respondi isto:



    Sr Ariovaldo,
    Sinto muito não ter sabido me fazer entender por todos os que leram o meu artigo, mas creio que ele cumpriu pelo menos uma missão: a de fazer alguns leitores, no caso o Sr mesmo, buscar nos dicionarios ou na internet, o significado da palavra fronda, que poderia ser entendida, genericamente, como uma revolta das elites contra um soberano arbitrário e extrator de recursos.
    Basicamente é isso, e fora disso o que temos são revoluções. Estas não são planejadas, encomendadas ou organizadas, simplesmente acontecem em situações extremas de crises sociais profundas, e acabam sendo precipitadas pela ação de forças incontroláveis. Então, partindo da premissa de que o Brasil está em crise, não profunda, mas numa situação de baixo crescimento, inflação em alta, contas públicas em déficit e contas externas também, podemos concluir que seria preciso fazer alguma coisa.
    Imagino que o Sr. concorde também que a indústria perde cada vez mais competitividade, o que vai gerar desemprego e novo aprofundamento da crise econômica.
    Em face disso, o que recomendei foi uma revolta empresarial, pois imagino que o Sr. também concorde comigo que o Estado extrai recursos em montantes exagerados do nosso empresariado.
    Foi isso basicamente. Grato pela mensagem.
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Paulo Roberto de Almeida

Raoul Wallenberg, salvador de judeus: em tempos obscuros, surgem homens dignos...


Schindler sueco' desafiou nazistas e salvou judeus da morte há 70 anos
SILVIO CIOFFI
OLIVIA FREITAS
DE SÃO PAULO
09/08/2014  Folha.Mundo.

Em julho de 1944, o sueco Raoul Wallenberg tinha 31 anos e uma missão na cabeça: salvar da deportação nazista estimados 100 mil judeus-húngaros que ainda viviam em Budapeste.
Naquele mês, ele chegava à Embaixada da Suécia na capital da Hungria.
Até essa data, o alemão Adolf Eichmann (1906-1962), oficial nazista em Budapeste, já havia enviado cerca de 400 mil pessoas ao campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, na Polônia.
Formado em arquitetura pela Universidade de Michigan (EUA) e vindo de uma família conhecida como "os Rockefellers da Suécia", Wallenberg contou com mais do que um clã influente para adquirir imunidade diplomática sueca e, com ela, agir numa Budapeste convulsionada pela ocupação alemã.
A ajuda extra veio do presidente americano Franklin Roosevelt, que nos derradeiros seis meses da guerra criou a organização "War Refugee Board", à qual o governo sueco aderiu.
A Suécia era neutra na Segunda Guerra Mundial; assim, na condição de diplomata (embora não de carreira), Wallenberg pôde emitir passaportes provisórios ("shutz-passes") e alugar prédios que, pintados de amarelo, serviriam de moradia e de "território seguro", garantindo a sobrevivência para milhares de perseguidos.
Por sua atitude, Wallenberg passou a ser chamado de "Schindler sueco", uma referência ao industrial alemão Oskar Schindler (1908-1974), famoso mundialmente por ter salvado cerca de 1.200 judeus do Holocausto, a maioria empregados de suas fábricas.
No último dia 9 de julho, em memória aos 70 anos da chegada de Wallenberg a Budapeste, o Congresso americano lhe concedeu postumamente a Medalha de Ouro. A honraria foi recebida por sua irmã, Nina Lagergren.
DISCUSSÃO ÁSPERA
Inimigos nada cordiais, Wallenberg e Eichmann possivelmente discutiram as deportações de judeus num jantar na casa do diplomata sueco Lars Berg, no fim de 1944.
Berg relembrou o diálogo áspero que ambos teriam tido em entrevista publicada pela "The New York Times Magazine" em 1980. "Foi um jantar especialmente civilizado para uma época brutal. Tomamos brandy, ninguém falou alto, mas era possível ver o fogo da artilharia russa através da janela [o Exército Vermelho começava o cerco a Budapeste para expulsar os nazistas]."
Nesse encontro, Wallenberg teria afrontado Eichmann e dito: "Veja, você tem que enfrentar isso. Perdeu a guerra. Por que não desistir agora?"
Eichmann teria respondido que o fim até poderia estar próximo, mas continuaria a fazer seu trabalho, mesmo que fosse morto.
Então, sempre de acordo com o relato de Berg, Eichmann e Wallenberg se encararam. "Não pense que você é imune só porque é um 'diplomata neutro'", teria dito o alemão.
Coincidência ou não, alguns dias depois, o carro diplomático de Wallenberg, sem a sua presença, foi esmagado por um caminhão.
Presidente do instituto que leva o nome de Raoul Wallenberg, o empresário argentino de origem armênia Eduardo Eurnekian, 81, que administra 52 aeroportos e é dono de bancos e vinícolas, diz não ter dúvidas de que Eichmann tinha conhecimento das atividades de Wallenberg.
Eurnekian o define como "brilhante, charmoso, falante e cheio de imaginação", além de ter sido "um dos principais salvadores que a humanidade já teve".
SUMIÇO E MISTÉRIO
Seis meses após a chegada de Wallenberg a Budapeste, o Exército Vermelho concluiu a ocupação da cidade, em 17 de janeiro de 1945.
Como os soviéticos eram aliados dos americanos, ele foi ao encontro do general russo Malinovsky.
Quando essa reunião ocorreu, a diplomacia soviética enviou telegrama aos suecos dizendo que Wallenberg estava a salvo, mas ele nunca mais foi visto.
A mãe de Wallenberg procurou a embaixada soviética em Estocolmo, capital sueca, em 1945, com um pedido de esclarecimentos sobre seu paradeiro. Como resposta, ouviu que ele "estava bem de saúde, num local seguro, em Moscou".
A diplomacia sueca não fez muito empenho em afrontar a União Soviética, pois Wallenberg não era, de fato, um diplomata de carreira. E, à época, ninguém queria confusão com os soviéticos.
Em 1947, um informe da chancelaria em Moscou disse que Wallenberg tinha morrido depois de sofrer um ataque cardíaco.
Logo depois, no mesmo ano, um encarregado de negócios estrangeiros soviético respondeu à questão do paradeiro de Wallenberg de modo diferente: "Ele não é uma pessoa conhecida na União Soviética".
Surgiram, então, rumores de que ele tinha morrido numa escaramuça de rua durante a tomada de Budapeste.
Em 1957, vários prisioneiros foram libertados e, entre eles, houve quem confirmasse ter visto Wallenberg num 'gulag' (campo de trabalhos forçados) soviético, afirmando que se referiam a ele como "o prisioneiro número 7".
ESPIÃO?
Presidente do instituto, Eurnekian acredita na possibilidade de o ditador soviético Josef Stálin (1878-1953) ter inferido que a operação de resgate dos judeus-húngaros poderia ser apenas um disfarce para Wallenberg, pois havia a suspeita de ele ser um espião a serviço dos EUA.
Hoje é sabido que Wallenberg tinha contato com agentes do Escritório de Serviços Estraégicos (OSS, na sigla em inglês), o serviço de segurança americano durante a Segunda Guerra, que foi o predecessor da CIA.
Especula-se que ele tenha sido cooptado ainda bem jovem, quando estudava na Universidade de Michigan.
"O sumiço de Wallenberg é um capítulo da história que permanece em aberto, e a verdade ainda pode emergir com a abertura de arquivos da burocracia moscovita", afirma Eurnekian.
O instituto que ele dirige oferece recompensa de € 500 mil (aproximadamente R$ 1,53 milhão) para quem der informações que ajudem a esclarecer o paradeiro de Wallenberg. 

Getulio Vargas: terceiro e ultimo volume da biografia de Lira Neto


Crise política fecha trilogia sobre Getúlio Vargas
ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO
Folha.Ilustrada, 09/08/2014 


GETÚLIO (1945-1954)
AUTOR Lira Neto
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 49,50 (448 págs.)

Há 60 anos o Brasil vivia uma aguda crise política. Getúlio Vargas tinha aumentado em 100% o salário mínimo e provocara a ira de empresários e comandantes militares. Os Estados Unidos estavam incomodados com a limitação de remessas de lucros de companhias estrangeiras no país, o estabelecimento do monopólio estatal da exploração do petróleo e a recusa de envio de brasileiros para a guerra na Coréia.
No Congresso, barulhentos conservadores falavam em mar de lama no governo. Na madrugada de 5 de agosto, a notícia do atentado contra Carlos Lacerda, com a morte do major Rubens Vaz, acelerou a turbulência, que culminou com o suicídio de Getúlio, no dia 24. A comoção que tomou conta do país adiou os planos da oposição, que só conseguiu se rearticular na trama do golpe de 1964.
A narrativa desses tempos conturbados é o ápice do último livro da trilogia "Getúlio", do jornalista Lira Neto, que chega agora às livrarias, abarcando o período de 1945 a 1954. No conjunto, o autor trabalhou cinco anos na biografia do líder político. Os dois primeiros volumes venderam no total 79 mil exemplares; esse novo sai uma tiragem de 40 mil.
"Não acredito em biografias definitivas. Getúlio é ainda um território vasto a ser explorado. Ele é o personagem mais importante da história brasileira, para o bem e para o mal. Não sou louco de tentar defini-lo", diz Lira, 50, à Folha.
Para ele, Getúlio deixou um amplo legado, que extrapola a política. "Ele modernizou o Brasil, tirou o país de uma situação agrária e o conduziu para um projeto de desenvolvimento, com uma legislação trabalhista que era moderníssima para aquele momento. A pergunta que faço é quanto disso poderia ter sido conquistado com mais democracia", avalia.
Apesar de ter sido investigada em centenas de livros, a trajetória de Getúlio ainda contém aspectos nebulosos. "Há determinadas coisas que não permitem fazer uma narrativa pronta, única e acabada", diz Lira. Exemplo principal: o assassinato do major Vaz, que fazia a segurança de Lacerda, na rua Tonelero, em Copacabana.
"O que aconteceu de fato naquela noite nunca vamos saber. Lacerda contou a história de duas formas diferentes e nunca entregou a sua arma para perícia. Os interrogatórios da investigação do caso foram conduzidos, digamos, de forma pouco polida. Pessoas interrogadas [na chamada "República do Galeão] relataram, se não a tortura física, a psicológica. Sofreram ameaças. Todas as perguntas desse caso estão em aberto", afirma o autor.
Se hipoteticamente pudesse perguntar algo a Getúlio, o jornalista trataria do caso da venda da fazenda de Maneco Vargas, filho do presidente, a Gregório Fortunato, chefe da guarda e já envolvido no caso Vaz. Na visão de Lira esse escândalo foi crucial para o desfecho da crise.
"Foi o grande golpe naquele instante final de isolamento", diz. O jornalista lembra que "mesmo os antigetulistas mais ferrenhos não se arriscam a acusar Getúlio de ter se beneficiado financeiramente do poder. O homem mais poderoso da história do Brasil de todos os tempos tinha dificuldades para pagar contas. Em São Borja, seu patrimônio era quase ridículo. Por isso, naquele momento, aquela revelação o feriu".
Para além da crise final do governo, Lira trata, nesse terceiro volume, do exílio de Getúlio em São Borja, das suas articulações políticas para a volta à cena nacional, da campanha vitoriosa à presidência. Para isso, utiliza com fartura mais de 1600 páginas de cartas trocadas com a filha Alzira _"um tesouro virgem", diz o autor.
Também os originais nunca publicados de uma segunda obra de Alzira sobre o pai são importantes no texto. O período anterior a 1950 têm, relativamente, bastante espaço. Com isso, a narrativa sobre o governo propriamente dito não fica prejudicada? Lira discorda. Para ele, o livro discorre bem sobre a assessoria econômica paralela criada por Getúlio para gestar seus grandes projetos.
Chamados "boêmios cívicos", o grupo arquitetou o BNDE, a Petrobras, a Eletrobras, contornando as limitações de um ministério conservador, formado em razão de negociações políticas. "Todo esse projeto desenvolvimentista não poderia passar pelas vias tradicionais do congresso", avalia.
Lira enxerga paralelos entre as turbulências do governo de Getúlio e a situação atual. "Sessenta anos depois estamos discutindo as mesmas coisas de quando ele estava no poder: mais ou menos estado, o quanto é possível falar em mão invisível do mercado num país com tantas contradições. Isso é um sintoma até grave", analisa.
Para o biógrafo, hoje, como naquele tempo, o debate político acontece em torno de posições extremadas —"nem sempre com o mesmo brilhantismo dos polemistas daquela época". Ele próprio sentiu isso há alguns dias quando, numa rede social, apareceu uma foto sua entregando o novo livro ao ex-presidente Lula.
"Lula me convidou para um almoço. Eu não vou? É uma questão de cortesia, de educação. Mas pessoas, até amigos, disseram que eu estava mancomunado com mensaleiro, que tinha virado um 'petralha'. Uma incompreensão do ofício do jornalismo, uma reação muito raivosa".
Na semana que vem Lira pretende começar a definir seu próximo projeto. Não uma biografia, mas algo ligado à cultura do século 20.

A politica externa e a diplomacia da Gra-Bretanha - book review

Recebido, da lista de História Diplomática:

H-Net
Greetings Paulo Almeida,
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Turner on Baxter and Dockrill and Hamilton, 'Britain in Global Politics Volume I: From Gladstone to Churchill'

Christopher Baxter, Michael L. Dockrill, Keith Hamilton, eds. Britain in Global Politics Volume I: From Gladstone to Churchill. Security, Conflict, and Cooperation in the Contemporary World Series. Houndmills: Palgrave Macmillan, 2014. 312 pp. $100.00 (cloth), ISBN 978-0-230-36044-0.

Reviewed by Michael J. Turner (Appalachian State University)
Published on H-Diplo (August, 2014)
Commissioned by Seth Offenbach

This fine collection of essays was put together by the colleagues, pupils, and friends of Saki Dockrill, whose premature death in 2009 robbed the fields of international relations, Cold War history, and conflict and security studies of a notably gifted scholar. Most of the essays deal directly with some of the issues that Dockrill addressed in her own work. So many contributions were offered, in fact, that it was decided to publish two volumes, an eloquent testament to her as a person and an academic.

This first volume opens with an introduction by Brian Holden Reid, who was for a time head of the Department of War Studies at King’s College, London, where Dockrill was a student and later a professor. Sympathetic and touching, with a fair-minded assessment of her publications, the introduction makes it clear that she was at the height of her intellectual powers when she died, making her loss all the more poignant. She contributed so much, not only with books and essays but also as editor of book series, opening the way for other scholars to publish their research. Even those who did not know her personally (this reviewer included) would agree that her work—and especially her ideas about West German rearmament in the early 1950s, the national security policy of the U.S. government in the Dwight Eisenhower years, and British withdrawal from East of Suez—will stand the test of time.[1]

The first of the essays in this collection, by T. G. Otte, focuses on Anglo-Russian relations. Otte contends that the phrase “Cold War” can reasonably be used about periods before (as well as after) the Second World War, if taken to mean a sustained enmity that falls short of armed conflict, as with British efforts to contain Russian expansionism. “Concerns about Russia,” Otte writes, “ran like a golden thread through the texture of British policy in the nineteenth and twentieth centuries” (p. 19). The British tried to exploit Russia’s problems (especially financial), encouraged proxies to assist in deterring Russia, and made alliances. Policy was “underpinned by occasional flashes of belligerence” (p. 40). It is useful to think of “Cold War” in this way, and to take the longer view of conflict and competition. But does this apply only to bilateral relations? In light of Otte’s remarks we might revise our perspectives on other historical “Cold Wars,” and at least try to determine the extent to which his approach helps us to understand multilateral relations.

John Fisher’s essay concerns Curzon’s tenure as Britain’s foreign secretary, 1919-24, and his goal of boosting the security of the empire (unsurprising for a former viceroy of India). Curzon believed assertion, preemption, and expansion to be appropriate if they served this end. He was suspicious of Wilsonian peacemaking, though used Woodrow Wilson’s rhetoric when it suited British interests; and he was dubious about the strength and reliability of France. Although he was not without talent and vision, Curzon proved to be a failure. He could not find a way to cooperate effectively with Britain’s allies, and he offended colleagues in the government with his egomania and volatility. He did not adapt quickly enough to changing international circumstances and was also undone by shifts in government thinking, particularly when “retrenchment” trumped “security” (p. 62). Fisher provides telling insights into the choices and complications facing British leaders after the First World War, and fills out our picture of one of the key figures of the time. His opinion of Curzon accords in some respects with that of David Gilmour, who has offered a generally positive view of Curzon’s performance as foreign secretary in Curzon: Imperial Statesman, 1859-1925 (2003). Curzon understood the geopolitical ramifications of the First World War and knew that it was in large part a clash of empires. After the war—no less than before it—Britain had to operate a global system and deal with interconnected problems in a global context, and perhaps other historians (notably G. H. Bennett in British Foreign Policy during the Curzon Period, 1919-1924 [1995]) have underestimated Curzon’s role.

Martin Thomas, examining British colonial governance after the First World War, points to the belief that control could be enhanced through new technology. Aircraft were to provide intelligence and assist with policing. Judging by events in Mesopotamia, however, these expectations were not fulfilled. Subjects did not respond as their colonial rulers desired; British air power was used to inflict wanton death and destruction; and there were huge difficulties beyond the practical need to keep order and promote obedience—not least because of the raising of moral and legal questions about air attacks. Of course, the propriety of certain weapons and tactics is an issue with which the international community is still grappling. This essay offers a valuable historical perspective. It is an interesting study of some problems Britain had to cope with in maintaining prestige and power after the First World War. Many of the colonies were restive in these years, and there were grave concerns about the Middle East in particular, a British sphere of influence that loomed large in wartime and postwar strategy. This was not simply because of the route to India. As Elizabeth Monroe (Britain’s Moment in the Middle East, 1914-1971 [1981]), among others, suggested some years ago, the idea was to benefit and serve selected regional peoples while also protecting British interests. Thomas reminds us of how badly this was carried out, whatever the intentions of imperial decision makers in London and the Middle East.

Keith Hamilton’s essay on the vetting of diplomatic and ministerial memoirs in the interwar period highlights the Foreign Office position that it would be dangerous to permit discordant versions of history to be disseminated, especially if they undermined the post-1918 peace settlement. Ways were found to threaten and penalize the writers, citing the national interest, which dictated that Britain’s relations with foreign powers ought not to be complicated by troublesome scribblers. But there was no consistency. No clear rules were observed; much depended on the rank and influence of the writer; and defending or sustaining reputations counted for more than serving the national interest. Hamilton offers a fascinating and informative contribution to a somewhat understudied topic.

Christopher Baxter discusses the case of Hilaire Noulens, a Soviet agent arrested in China in 1931. Revelations resulted about Soviet espionage and Baxter relates these to a wider theme—paranoia—with British intelligence chiefs making anxious assumptions about Soviet strength and intentions. The Noulens affair heightened British fears about the Soviet Union but also made communist conspiracy in China seem more of a threat than Japan’s capacity for military aggression. Success against the Comintern became “a double-edged sword” (p. 147). Baxter’s account will prompt further thinking about intelligence gathering and evaluation, the management of perceptions, and in particular the durability —or vulnerability—of Britain’s position in the Far East between the wars.

Whatever such concepts as “balance of power” and “appeasement” might have meant later, B. J. C. McKercher’s essay demonstrates that British leaders in the interwar years understood them to be robust, sensible, and realistic. During the 1920s there was a toughness and resilience to British policy. Strategic compromises were avoided and force was used when necessary to maintain a balance of power, and this lasted into the 1930s. Appeasement was well established: “just one of a number of tactical alternatives in the planning and execution of British foreign policy” (p. 153). Neville Chamberlain took control in 1937 and there was a change of emphasis because the fixation with balance of power brought too many risks. The new plan was neither weak nor confused. More risk averse, and not inflexible, it probably brought a clarity that the usual opportunistic, wait-and-see approach could not deliver. McKercher’s essay is another convincing addition to appeasement scholarship. Activity that was long regarded as foolish and irrational has for many years been seen as anything but; and one might profitably supplement McKercher’s analysis with others—the study of Chamberlain as a tragic victim of bad luck as well as his own poor judgment, for instance, or the appreciation of domestic and international constraints on the deterrence as well as the concession side of British diplomacy.[2]

Philip Bell’s essay focuses on Winston Churchill’s belief that Britain could work wholeheartedly with France to contain Germany. To Churchill, the French army in the 1930s was strong enough to deter. As Bell shows, however, there were large flies in this ointment: lack of respect and affection for France, the growing sense that Germany had a strong case against the Treaty of Versailles, and Churchill’s own inconsistencies. Churchill’s policy was less a viable alternative to appeasement than a basis for post-appeasement decision making. This essay offers further information about the options available (or thought to be available) in the 1930s, and makes plain the shortcomings as well as strong points in Churchill’s assessment of the international situation.

Britain’s dealings with Spain during the 1930s and 1940s provide the subject of Glyn Stone’s essay. During the Spanish civil war the British adhered to nonintervention, hoping to prevent escalation and reluctant to recognize the legitimacy of either side (essentially, the war was taken as a struggle between two forms of totalitarianism). After the establishment of the oppressive Franco regime, British leaders veered between efforts to restore democracy and a willingness to let matters lie, which is what the United States preferred to do in the aftermath of the Second World War. Following the enunciation of the Truman Doctrine in 1947, and in view of the need to put together an anti-communist front in Europe, the British were content to abide by the policy of noninterference in Spain’s domestic affairs. Stone’s essay demonstrates once again how shifting priorities and conditions can work against or allow statesmen to pursue a line that seems to be indicated by consistency and principle.

Joe Maiolo’s essay concerns Chamberlain’s policy in the Phoney War. Chamberlain wanted to try nonmilitary means to remove Adolf Hitler from power, and decided that economic pressure might lead to the fall of the Nazi government or push Hitler into a drastic maneuver that would fail and prompt regime change. This was an attractive prospect for Chamberlain: he was determined to minimize casualties, limit the financial cost of the war, and end the war as soon as possible. It all came to nothing. Chamberlain was mistaken, force was necessary, the war went on. Again, though, a verdict that cites bad luck rather than weakness or self-delusion might be in order, for it was not inevitable that Germany would get through the Phoney War. Maiolo cites Carl von Clausewitz’s emphasis on chance: “That Hitler’s gamble against the odds in the Battle for France paid off in the short run is evidence that Clausewitz was correct about the ungovernable role played by chance in war and not that Chamberlain’s Phoney War strategy was wrong” (p. 221). Opinions might differ about this, but there is more to Maiolo’s contribution than speculation about the role of chance in history. This essay adds greatly to our understanding of the course of the Second World War and raises questions about the likelihood of regime change in Germany (might the military chiefs have ditched Hitler?) and of course about Chamberlain’s judgment.

American opinion about the British Empire during the Second World War is Andrew Stewart’s topic. Stewart investigates the work of a committee, set up late in 1942, that was designed to assist in mitigating American hostility toward the empire and convincing the U.S. government that it would need the help of Britain and its empire in the creation and running of an amenable postwar world order. Fear had grown after the fall of Singapore, lest that disaster be taken as sign that the British Empire was heading for collapse, not recovery, and could not be the asset it might once have been. Stewart highlights the Canadian input, especially through a journalist, Graham Spry, and the inconveniences arising from American ambivalence toward Britain and lack of knowledge of Britain and its empire. The British sought to guide U.S. policy and “play Greece to their Rome,” but the likelihood of this seemed small as the war came to an end (p. 257). One point of tension between British and American leaders is explored in the essay by Saul Kelly, which deals with disagreement about the fate of Italy’s colonies. The British favored wide consultation involving all interested parties, to be followed by partition of territories and the drawing of new frontiers. The Americans pushed instead for international trusteeships, to lead to the creation of independent states that would enter into economic and security relationships with the United States. The British were alarmed because the Americans seemed unconcerned about Britain’s own security interests and were even willing to offer a role in the trusteeships to the Soviet Union (as a lever to obtain Soviet agreement on other issues). Stewart and Kelly demonstrate yet again that the “special relationship” was really a friendship full of reserves, in line with the skeptical strand in the relevant historiography. The British had to figure out just how trustworthy, reliable, and collaborative the Americans were prepared to be. No clear pattern would emerge, since conduct on both sides depended on time, issue, and circumstance. Debate about the “special relationship” will go on—as with the interesting but problematic thesis recently advanced by Simon Tate in A Special Relationship? British Foreign Policy in the Era of American Hegemony (2012), that the “special relationship” consisted of a division of labor between two partners (unequal, but still partners in a hegemonic framework). The findings of Stewart and Kelly encourage another look at familiar themes in this debate, not least Britain’s awareness of its limited reach and relative weakness, the lack of options other than reliance on America, and the tendency of British governments to exaggerate the success of their efforts to shape U.S. policy.

Essay collections are often patchy in quality and usefulness, but not this one. All the contributions are strong. They represent well-written, detailed, intelligent, and expertly researched contributions to the topic areas they cover. The essays are not subdivided into thematic categories but arranged in roughly chronological order; and though they do touch on interests shared with Saki Dockrill, mostly they reflect the current scholarly concentrations of the individual authors. The essays are pitched at a high level and do not confine themselves to familiar milestones and problems or the conventional markers and discussion points in Britain’s changing international status and influence in the era of the two world wars—meaning that students will probably benefit less from this collection than specialists, unless they have done plenty of supplemental reading. There is no volume bibliography, but each chapter has endnotes. The book includes an adequate if brief index.

Notes

[1]. I for one am indebted to Saki Dockrill for sections of my British Power and International Relations during the 1950s: A Tenable Position? (Lanham: Lexington Books, 2009) and An International History of British Power, 1957-1970(Youngstown: Teneo Press, 2010).

[2]. John Charmley, Chamberlain and the Lost Peace (London: Hodder and Stoughton, 1989); and James P. Levy, Appeasement and Rearmament: Britain, 1936-1939 (Lanham: Rowman and Littlefield, 2006).

Printable Version: http://www.h-net.org/reviews/showpdf.php?id=42121

Citation: Michael J. Turner. Review of Baxter, Christopher; Dockrill, Michael L.; Hamilton, Keith, eds., Britain in Global Politics Volume I: From Gladstone to Churchill. H-Diplo, H-Net Reviews. August, 2014.
URL: http://www.h-net.org/reviews/showrev.php?id=42121

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Wikipedia do Planalto: imagine a CIA editando o perfil da soberana...

Caro leitor: você que é uma pessoa esclarecida já sabe que computadores do Estado brasileiro, alías do governo atual, por acaso hospedados no Palácio do Planalto -- que dizem que serve para administrar o país, mas nas horas vagas os companheiros se dedicam mesmo a demonizar seus adversários políticos, que eles veem como inimigos -- alteraram perfis biográficos de dois jornalistas brasileiros muito conhecidos por suas críticas às políticas econômicas esquizofrênicas desse mesmo governo de celerados, em tom bem mais ameno do que as que você pode encontrar por aqui.
Enfim, eu não preciso responder a um editor de jornal, para dizer o que penso dos atuais ocupantes do palácio presidencial.
Mas, imagine caro leitor, se fosse a CIA a ter alterado a biografia da nossa cara soberana, aquela mesma que já tinha sido fraudada anteriormente para mostrar um mestrado e um doutorado inexistentes, nunca antes (e depois) vistos nos registros daquela universidade que já abrigou outra tese fraudada, a de um ministro que precisava desesperadamente de um título de doutor, antes de assumir um cargo nesse mesmo governo esquizofrênico? Imagine isso.
Imaginou?
Já pensou o escarcéu que estariam fazendo os companheiros contra a CIA, o imperialismo, o governo estadunidense? Não poderiam declarar guerra, é verdade, mas seriam até capazes de retirar o embaixador, como já fizeram em ocasiões anteriores, para demonstrar contrariedade.
A soberana disse que lamenta o ocorrido, e que vai mandar investigar. Balela (eu ia escrever mentira, mas acho que posso esperar pela próxima balela), pois descobrir quem fez é a coisa mais fácil do mundo.
Está tudo explicado em artigo do jornal O Globo, que reproduzo a partir da coluna do jornalista Políbio Braga, que já foi objeto, ele também, de ataques dos mercenários a soldo do partido totalitário que nos governa.
Parece que ninguém mais se comove com o espetáculo de fraudes contínuas, de patifarias regulares que nos veem dos mais altos escalões da república. Será que os brasileiros estão anestesiados ante o espetáculo de crimes políticos cometidos de forma intensa pelos companheiros?
Eu não deixo de registrar, pois isso apenas me confirma o que venho dizendo há muito tempo: o Estado brasileiro foi tomado de assalto por uma máfia, que pretende se eternizar no poder. Vamos deixar?
Paulo Roberto de Almeida

Conheça o programa (software) que identifica os IPs do Palácio de Dilma usados para difamar adversários e caluniar jornalistas

Coluna do jornalista Políbio Braga, 10/08/2014
O programa que identifica o IP, o Protocolo de Internet,uma espécie de DNA do computador usado, chama-se  @brwikiedits. Ele divulga no Twitter quando um verbete na Wikipédia é alterado por um computador do governo. A inforemação é do jornal O Globo de hoje. 
. Isto significa que um governo não precisa de 90 dias para saber de que computador do Palácio do Planalto e quem o usou para difamar jornalistas e políticos.
. O @brwikieditrs não está sozinho na empreitada. O @parliamentedits, por exemplo, presta serviço semelhante, entregando as vezes em que um computador do Parlamento inglês faz alguma modificação. O mesmo faz o @congressedits, mas com o Congresso americano.
. Foi este que serviu de inspiração para o desenvolvedor Pedro Felipe Melo Menezes, de 18 anos, que criou a versão brasileira do serviço no início de agosto. Morador de Natal, ele explica que buscou o registro dos provedores do governo e, a partir daí, encontrou os IPs. Sempre que há uma alteração, é seu robô que publica no Twitter.
— O programa em si já existia, e seu código de programação é livre. Só precisei adaptar com os IPs brasileiros. Sou da área de TI, mas gosto muito de acompanhar a política — conta o estudante de Análise e Desenvolvimento de Sistemas do Instituto Federal do Rio Grande do Norte.
. Segundo Menezes, todos os órgãos federais já são monitorados pela ferramenta.
. O Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) informou que já foi aberta investigação para apurar a responsabilidade pela alteração do conteúdo, realizada por meio de um dos IPs administrados pelo Serpro.