A julgar pelo autor, ou melhor, pelo artigo abaixo transcrito, não existem alternativas à atual política externa, que é considerada excelente por princípio, mesmo quando existem amplas evidências de que ela não cumpriu nenhum dos seus objetivos projetados (no Mercosul, na OMC, na ONU, e em várias outras esferas, inclusive com a China e com a Índia, por exemplo).
Nesse sentido, o título do artigo está completamente errado: deveria ser "Pela continuidade da atual política externa, ativa, altiva e soberana".
Assim, ficaria mais claro o que o autor pretende, desqualificar quaisqer outras alternativas, e proclamar a excelência da atual diplomacia. Seria mais honesto, em todo caso, mais conforme os objetivos do site e de sua campanha continuista. De toda forma combina perfeitamente com o que pensa a maior parte da academia.
Ele condensa, sem a mediocridade de outros artigos que tenho visto na internet, o que pensa a academia, e ela pensa muito mal.
O autor é incapaz de reconhecer algumas barbaridades que assina -- em relação à Rússia, à China, por exemplo, o que revela um espírito autoritário e propenso a apoiar ditaduras, o que é títpico do partido neobolchevique atualmente no poder -- e sequer consegue reconhecer que a integração proposta no cone sul simplesmente não tem funcionado.
Ele não reconhece a deterioração nas contas comercial e de transações correntes, o baixo crescimento, a perda de credibilidade da política externa (justamente ao apoiar ditaduras e regimes pouco frequentáveis), além de diversos outros pontos que pertencem mais ao terreno do delírio -- como por exemplo, o fato de acreditar que o Banco dos Brics vai representar um grande aporte para o Brasil -- do que ao âmbito da realidade concreta.
Enfim, se trata mais de uma peça publicitária, em favor do continuismo na área externa, do que uma análise objetiva da agenda diplomática brasileira.
Paulo Roberto de Almeida
Eleições e as alternativas para a política externa
Victor Augusto Ferraz Young
Brasil Debate, 1/10/2014
Entre as iniciativas atuais que mereceriam debate mais amplo, em contraste com as propostas dos outros candidatos, está, por exemplo, a criação do banco dos BRICs, que permitirá estabelecer proteção adicional em relação à nossa vulnerabilidade monetária, com nova possibilidade de financiamento desvinculada dos credores de Wall Street.
Tema pouco debatido nesta campanha eleitoral é a proposta de política externa dos candidatos. Somos grandes exportadores de produtos agropecuários, minerais e, em proporção menor, de manufaturados.
Nossa indústria depende da importação de componentes, maquinário e serviços do exterior. Há ainda o consumo de bens finais importados que, pela valorização do real, colaboram para diminuir o ritmo de investimentos produtivos, ao mesmo tempo em que mitigam a elevação dos preços.
Além disso, a entrada e saída de capitais como investimentos diretos, aplicações especulativas, empréstimos e emissão de papéis são tão ou mais importantes que o saldo do comércio internacional brasileiro. Tais pontos, mais vinculados à economia interna, não resumiriam todos os aspectos a serem tratados por nossos representantes no exterior.
As relações interestatais também impõem desafios. Estamos sujeitos a uma zona de influência internacional que nos limita a autonomia sobre a política externa. Os Estados Unidos nos “protegem” com a Quarta Frota e espionam nosso governo.
Economicamente, como muitos países, estamos submetidos a um fluxo de liquidez controlado em última instância pelo banco central norte-americano. O que torna nossa situação bem menos confortável é o fato de nossa moeda não ser conversível, o que, conforme a absorção externa de divisas, poderia fragilizar a economia, obrigando o País a submeter-se outra vez às imposições de seus credores.
Dessa maneira, os EUA são ator da maior relevância com o qual o Brasil deve lidar habilmente. Não se trata de um demônio a nos tolher a iniciativa, mas de uma nação hegemônica que põe seus interesses à frente de qualquer outro em sua tradicional área de influência, a América Latina.
Rússia e ChinaNovos desdobramentos internacionais, por outro lado, sinalizam mudanças na divisão do poder geopolítico mundial. No leste, a Rússia demonstrou não submeter-se a pressões norte-americanas e europeias.
A incorporação da Crimeia àquele Estado e as “independências” da Abcásia e Ossétia do Sul em relação a Geórgia – apesar da contrariedade dos Estados Unidos e União Europeia – não devem ter seu status revertido.
Mais ao oriente, a China, apesar de seu atrelamento econômico a norte-americanos e europeus, vem estabelecendo uma agenda própria para a expansão de seus negócios na África, América Latina e Leste Asiático. Suas capacidades bélicas também adquiriram grande avanço sobre bases tecnológicas próprias.
O que se destaca é o fato de que, desde o fim da Guerra Fria, nenhum desses dois países, Rússia e China, parecem estar acuados ou ter suas ações totalmente vetadas pelas potências do Ocidente.
Ambos, além de considerável poder militar e capacidade aeroespacial, têm condições de impor elevado custo àqueles que queiram aplicar sanções econômicas rigorosas ou coagi-los belicamente. Não há, dessa maneira, como determinar diretrizes de política externa para o Brasil sem considerar o novo peso que têm essas duas potências no sistema interestatal.
Não há como esquecer, além disso, de que a intensificação das relações internacionais brasileiras junto a outros países da periferia é tão ou mais importante quanto aquelas tidas com o centro do poder mundial.
O recente reforço às relações Sul-Sul, alargando a integração regional e buscando estabelecer relações mais próximas junto aos países árabes e africanos, vem ajudando a incrementar o comércio exterior e favorecendo a ampliação da força política brasileira nos fóruns internacionais. Exemplo claro dessa atuação é o notável poder de barganha obtido com o G-20 dentro da OMC.
Enfim, há diferentes opções para uma política externa mais autônoma que preserve boas relações, mas que não seja atada aos Estados Unidos e/ou países da UE.
O cenário internacional nos impõe limites, mas sua configuração vem se modificando e adquirindo delineamentos que nos oferecem alternativas.
Banco dos BRICSA última iniciativa do grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de instituir o Novo Banco de Desenvolvimento e o um Fundo de Reservas de Contingência nos permitirá estabelecer proteção adicional em relação à nossa vulnerabilidade monetária, ao mesmo tempo em que teremos nova possibilidade de financiamento desvinculada dos credores de Wall Street.
Além disso, a associação do Brasil a outros Estados também subdesenvolvidos amplia ainda mais o leque de possibilidades políticas e econômicas.
Nos governos Lula e Dilma pudemos assistir à retomada desse tipo de política externa, mais independente do que a praticada anteriormente. Nestas eleições, ao nos debruçarmos sobre o programa do candidato Aécio Neves, verificamos pouca concretude de propostas.
Infelizmente, é superficial para um debate mais profundo: informa que concluirá acordos junto à Europa e lançará bases para outro com os EUA, mas não especifica sob que termos o fará. No passado, não tivemos boa experiência com os termos da abertura comercial e financeira feita pelo governo FHC.
A proposta da candidata Marina Silva, por outro lado, põe em relevo os feitos realizados em período recente, contudo, ao final, há a afirmação de que o Itamaraty foi esvaziado, partidarizado e influenciado ideologicamente: ou seja, fez-se tudo certo, mas está tudo errado. A exposição deste quesito programático é, no mínimo, contraditória.
Entendemos que a política externa em curso e as propostas dos outros dois principais candidatos à Presidência mereceriam debate mais amplo. O escrutínio dos projetos e a crítica à condução atual poderiam, dessa forma, facilitar a escolha do candidato mais adequado, pois aquele que for eleito terá de lidar com desafios exteriores que podem oferecer tanto oportunidades históricas de desenvolvimento, quanto vicissitudes que comprometeriam qualquer programa de governo, como mostra nossa própria história.
Eleições e as alternativas para a política externa
Entre as iniciativas atuais que mereceriam
debate mais amplo, em contraste com as propostas dos outros candidatos,
está, por exemplo, a criação do banco dos BRICs, que permitirá
estabelecer proteção adicional em relação à nossa vulnerabilidade
monetária, com nova possibilidade de financiamento desvinculada dos
credores de Wall Street
Tema
pouco debatido nesta campanha eleitoral é a proposta de política
externa dos candidatos. Somos grandes exportadores de produtos
agropecuários, minerais e, em proporção menor, de manufaturados.
Nossa indústria depende da importação de componentes, maquinário e
serviços do exterior. Há ainda o consumo de bens finais importados que,
pela valorização do real, colaboram para diminuir o ritmo de
investimentos produtivos, ao mesmo tempo em que mitigam a elevação dos
preços.
Além disso, a entrada e saída de capitais como investimentos diretos,
aplicações especulativas, empréstimos e emissão de papéis são tão ou
mais importantes que o saldo do comércio internacional brasileiro. Tais
pontos, mais vinculados à economia interna, não resumiriam todos os
aspectos a serem tratados por nossos representantes no exterior.
As relações interestatais também impõem desafios. Estamos sujeitos a
uma zona de influência internacional que nos limita a autonomia sobre a
política externa. Os Estados Unidos nos “protegem” com a Quarta Frota e
espionam nosso governo.
Economicamente, como muitos países, estamos submetidos a um fluxo de
liquidez controlado em última instância pelo banco central
norte-americano. O que torna nossa situação bem menos confortável é o
fato de nossa moeda não ser conversível, o que, conforme a absorção
externa de divisas, poderia fragilizar a economia, obrigando o País a
submeter-se outra vez às imposições de seus credores.
Dessa maneira, os EUA são ator da maior relevância com o qual o
Brasil deve lidar habilmente. Não se trata de um demônio a nos tolher a
iniciativa, mas de uma nação hegemônica que põe seus interesses à frente
de qualquer outro em sua tradicional área de influência, a América
Latina.
Rússia e China
Novos desdobramentos internacionais, por outro lado, sinalizam
mudanças na divisão do poder geopolítico mundial. No leste, a Rússia
demonstrou não submeter-se a pressões norte-americanas e europeias.
A incorporação da Crimeia àquele Estado e as “independências” da
Abcásia e Ossétia do Sul em relação a Geórgia – apesar da contrariedade
dos Estados Unidos e União Europeia – não devem ter seu
status revertido.
Mais ao oriente, a China, apesar de seu atrelamento econômico a
norte-americanos e europeus, vem estabelecendo uma agenda própria para a
expansão de seus negócios na África, América Latina e Leste Asiático.
Suas capacidades bélicas também adquiriram grande avanço sobre bases
tecnológicas próprias.
O que se destaca é o fato de que, desde o fim da Guerra Fria, nenhum
desses dois países, Rússia e China, parecem estar acuados ou ter suas
ações totalmente vetadas pelas potências do Ocidente.
Ambos, além de considerável poder militar e capacidade aeroespacial,
têm condições de impor elevado custo àqueles que queiram aplicar sanções
econômicas rigorosas ou coagi-los belicamente. Não há, dessa maneira,
como determinar diretrizes de política externa para o Brasil sem
considerar o novo peso que têm essas duas potências no sistema
interestatal.
Não há como esquecer, além disso, de que a intensificação das
relações internacionais brasileiras junto a outros países da periferia é
tão ou mais importante quanto aquelas tidas com o centro do poder
mundial.
O recente reforço às relações Sul-Sul, alargando a integração
regional e buscando estabelecer relações mais próximas junto aos países
árabes e africanos, vem ajudando a incrementar o comércio exterior e
favorecendo a ampliação da força política brasileira nos fóruns
internacionais. Exemplo claro dessa atuação é o notável poder de
barganha obtido com o G-20 dentro da OMC.
Enfim, há diferentes opções para uma política externa mais autônoma
que preserve boas relações, mas que não seja atada aos Estados Unidos
e/ou países da UE.
O cenário internacional nos impõe limites, mas sua configuração vem
se modificando e adquirindo delineamentos que nos oferecem alternativas.
Banco dos BRICS
A última iniciativa do grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul) de instituir o Novo Banco de Desenvolvimento e o um
Fundo de Reservas de Contingência nos permitirá estabelecer proteção
adicional em relação à nossa vulnerabilidade monetária, ao mesmo tempo
em que teremos nova possibilidade de financiamento desvinculada dos
credores de Wall Street.
Além disso, a associação do Brasil a outros Estados também
subdesenvolvidos amplia ainda mais o leque de possibilidades políticas e
econômicas.
Nos governos Lula e Dilma pudemos assistir à retomada desse tipo de
política externa, mais independente do que a praticada anteriormente.
Nestas eleições, ao nos debruçarmos sobre o programa do candidato Aécio
Neves, verificamos pouca concretude de propostas.
Infelizmente, é superficial para um debate mais profundo: informa que
concluirá acordos junto à Europa e lançará bases para outro com os EUA,
mas não especifica sob que termos o fará. No passado, não tivemos boa
experiência com os termos da abertura comercial e financeira feita pelo
governo FHC.
A proposta da candidata Marina Silva, por outro lado, põe em relevo
os feitos realizados em período recente, contudo, ao final, há a
afirmação de que o Itamaraty foi esvaziado, partidarizado e influenciado
ideologicamente: ou seja, fez-se tudo certo, mas está tudo errado. A
exposição deste quesito programático é, no mínimo, contraditória.
Entendemos que a política externa em curso e as propostas dos outros
dois principais candidatos à Presidência mereceriam debate mais amplo. O
escrutínio dos projetos e a crítica à condução atual poderiam, dessa
forma, facilitar a escolha do candidato mais adequado, pois aquele que
for eleito terá de lidar com desafios exteriores que podem oferecer
tanto oportunidades históricas de desenvolvimento, quanto vicissitudes
que comprometeriam qualquer programa de governo, como mostra nossa
própria história.
- See more at: http://brasildebate.com.br/eleicoes-e-as-alternativas-para-a-politica-externa/#sthash.7lwW4Idg.dpuf
Eleições e as alternativas para a política externa
Entre as iniciativas atuais que mereceriam
debate mais amplo, em contraste com as propostas dos outros candidatos,
está, por exemplo, a criação do banco dos BRICs, que permitirá
estabelecer proteção adicional em relação à nossa vulnerabilidade
monetária, com nova possibilidade de financiamento desvinculada dos
credores de Wall Street
Tema
pouco debatido nesta campanha eleitoral é a proposta de política
externa dos candidatos. Somos grandes exportadores de produtos
agropecuários, minerais e, em proporção menor, de manufaturados.
Nossa indústria depende da importação de componentes, maquinário e
serviços do exterior. Há ainda o consumo de bens finais importados que,
pela valorização do real, colaboram para diminuir o ritmo de
investimentos produtivos, ao mesmo tempo em que mitigam a elevação dos
preços.
Além disso, a entrada e saída de capitais como investimentos diretos,
aplicações especulativas, empréstimos e emissão de papéis são tão ou
mais importantes que o saldo do comércio internacional brasileiro. Tais
pontos, mais vinculados à economia interna, não resumiriam todos os
aspectos a serem tratados por nossos representantes no exterior.
As relações interestatais também impõem desafios. Estamos sujeitos a
uma zona de influência internacional que nos limita a autonomia sobre a
política externa. Os Estados Unidos nos “protegem” com a Quarta Frota e
espionam nosso governo.
Economicamente, como muitos países, estamos submetidos a um fluxo de
liquidez controlado em última instância pelo banco central
norte-americano. O que torna nossa situação bem menos confortável é o
fato de nossa moeda não ser conversível, o que, conforme a absorção
externa de divisas, poderia fragilizar a economia, obrigando o País a
submeter-se outra vez às imposições de seus credores.
Dessa maneira, os EUA são ator da maior relevância com o qual o
Brasil deve lidar habilmente. Não se trata de um demônio a nos tolher a
iniciativa, mas de uma nação hegemônica que põe seus interesses à frente
de qualquer outro em sua tradicional área de influência, a América
Latina.
Rússia e China
Novos desdobramentos internacionais, por outro lado, sinalizam
mudanças na divisão do poder geopolítico mundial. No leste, a Rússia
demonstrou não submeter-se a pressões norte-americanas e europeias.
A incorporação da Crimeia àquele Estado e as “independências” da
Abcásia e Ossétia do Sul em relação a Geórgia – apesar da contrariedade
dos Estados Unidos e União Europeia – não devem ter seu
status revertido.
Mais ao oriente, a China, apesar de seu atrelamento econômico a
norte-americanos e europeus, vem estabelecendo uma agenda própria para a
expansão de seus negócios na África, América Latina e Leste Asiático.
Suas capacidades bélicas também adquiriram grande avanço sobre bases
tecnológicas próprias.
O que se destaca é o fato de que, desde o fim da Guerra Fria, nenhum
desses dois países, Rússia e China, parecem estar acuados ou ter suas
ações totalmente vetadas pelas potências do Ocidente.
Ambos, além de considerável poder militar e capacidade aeroespacial,
têm condições de impor elevado custo àqueles que queiram aplicar sanções
econômicas rigorosas ou coagi-los belicamente. Não há, dessa maneira,
como determinar diretrizes de política externa para o Brasil sem
considerar o novo peso que têm essas duas potências no sistema
interestatal.
Não há como esquecer, além disso, de que a intensificação das
relações internacionais brasileiras junto a outros países da periferia é
tão ou mais importante quanto aquelas tidas com o centro do poder
mundial.
O recente reforço às relações Sul-Sul, alargando a integração
regional e buscando estabelecer relações mais próximas junto aos países
árabes e africanos, vem ajudando a incrementar o comércio exterior e
favorecendo a ampliação da força política brasileira nos fóruns
internacionais. Exemplo claro dessa atuação é o notável poder de
barganha obtido com o G-20 dentro da OMC.
Enfim, há diferentes opções para uma política externa mais autônoma
que preserve boas relações, mas que não seja atada aos Estados Unidos
e/ou países da UE.
O cenário internacional nos impõe limites, mas sua configuração vem
se modificando e adquirindo delineamentos que nos oferecem alternativas.
Banco dos BRICS
A última iniciativa do grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul) de instituir o Novo Banco de Desenvolvimento e o um
Fundo de Reservas de Contingência nos permitirá estabelecer proteção
adicional em relação à nossa vulnerabilidade monetária, ao mesmo tempo
em que teremos nova possibilidade de financiamento desvinculada dos
credores de Wall Street.
Além disso, a associação do Brasil a outros Estados também
subdesenvolvidos amplia ainda mais o leque de possibilidades políticas e
econômicas.
Nos governos Lula e Dilma pudemos assistir à retomada desse tipo de
política externa, mais independente do que a praticada anteriormente.
Nestas eleições, ao nos debruçarmos sobre o programa do candidato Aécio
Neves, verificamos pouca concretude de propostas.
Infelizmente, é superficial para um debate mais profundo: informa que
concluirá acordos junto à Europa e lançará bases para outro com os EUA,
mas não especifica sob que termos o fará. No passado, não tivemos boa
experiência com os termos da abertura comercial e financeira feita pelo
governo FHC.
A proposta da candidata Marina Silva, por outro lado, põe em relevo
os feitos realizados em período recente, contudo, ao final, há a
afirmação de que o Itamaraty foi esvaziado, partidarizado e influenciado
ideologicamente: ou seja, fez-se tudo certo, mas está tudo errado. A
exposição deste quesito programático é, no mínimo, contraditória.
Entendemos que a política externa em curso e as propostas dos outros
dois principais candidatos à Presidência mereceriam debate mais amplo. O
escrutínio dos projetos e a crítica à condução atual poderiam, dessa
forma, facilitar a escolha do candidato mais adequado, pois aquele que
for eleito terá de lidar com desafios exteriores que podem oferecer
tanto oportunidades históricas de desenvolvimento, quanto vicissitudes
que comprometeriam qualquer programa de governo, como mostra nossa
própria história.
- See more at: http://brasildebate.com.br/eleicoes-e-as-alternativas-para-a-politica-externa/#sthash.7lwW4Idg.dpuf
Victor Augusto Ferraz Young
Eleições e as alternativas para a política externa
Entre as iniciativas atuais que mereceriam
debate mais amplo, em contraste com as propostas dos outros candidatos,
está, por exemplo, a criação do banco dos BRICs, que permitirá
estabelecer proteção adicional em relação à nossa vulnerabilidade
monetária, com nova possibilidade de financiamento desvinculada dos
credores de Wall Street
Tema
pouco debatido nesta campanha eleitoral é a proposta de política
externa dos candidatos. Somos grandes exportadores de produtos
agropecuários, minerais e, em proporção menor, de manufaturados.
Nossa indústria depende da importação de componentes, maquinário e
serviços do exterior. Há ainda o consumo de bens finais importados que,
pela valorização do real, colaboram para diminuir o ritmo de
investimentos produtivos, ao mesmo tempo em que mitigam a elevação dos
preços.
Além disso, a entrada e saída de capitais como investimentos diretos,
aplicações especulativas, empréstimos e emissão de papéis são tão ou
mais importantes que o saldo do comércio internacional brasileiro. Tais
pontos, mais vinculados à economia interna, não resumiriam todos os
aspectos a serem tratados por nossos representantes no exterior.
As relações interestatais também impõem desafios. Estamos sujeitos a
uma zona de influência internacional que nos limita a autonomia sobre a
política externa. Os Estados Unidos nos “protegem” com a Quarta Frota e
espionam nosso governo.
Economicamente, como muitos países, estamos submetidos a um fluxo de
liquidez controlado em última instância pelo banco central
norte-americano. O que torna nossa situação bem menos confortável é o
fato de nossa moeda não ser conversível, o que, conforme a absorção
externa de divisas, poderia fragilizar a economia, obrigando o País a
submeter-se outra vez às imposições de seus credores.
Dessa maneira, os EUA são ator da maior relevância com o qual o
Brasil deve lidar habilmente. Não se trata de um demônio a nos tolher a
iniciativa, mas de uma nação hegemônica que põe seus interesses à frente
de qualquer outro em sua tradicional área de influência, a América
Latina.
Rússia e China
Novos desdobramentos internacionais, por outro lado, sinalizam
mudanças na divisão do poder geopolítico mundial. No leste, a Rússia
demonstrou não submeter-se a pressões norte-americanas e europeias.
A incorporação da Crimeia àquele Estado e as “independências” da
Abcásia e Ossétia do Sul em relação a Geórgia – apesar da contrariedade
dos Estados Unidos e União Europeia – não devem ter seu
status revertido.
Mais ao oriente, a China, apesar de seu atrelamento econômico a
norte-americanos e europeus, vem estabelecendo uma agenda própria para a
expansão de seus negócios na África, América Latina e Leste Asiático.
Suas capacidades bélicas também adquiriram grande avanço sobre bases
tecnológicas próprias.
O que se destaca é o fato de que, desde o fim da Guerra Fria, nenhum
desses dois países, Rússia e China, parecem estar acuados ou ter suas
ações totalmente vetadas pelas potências do Ocidente.
Ambos, além de considerável poder militar e capacidade aeroespacial,
têm condições de impor elevado custo àqueles que queiram aplicar sanções
econômicas rigorosas ou coagi-los belicamente. Não há, dessa maneira,
como determinar diretrizes de política externa para o Brasil sem
considerar o novo peso que têm essas duas potências no sistema
interestatal.
Não há como esquecer, além disso, de que a intensificação das
relações internacionais brasileiras junto a outros países da periferia é
tão ou mais importante quanto aquelas tidas com o centro do poder
mundial.
O recente reforço às relações Sul-Sul, alargando a integração
regional e buscando estabelecer relações mais próximas junto aos países
árabes e africanos, vem ajudando a incrementar o comércio exterior e
favorecendo a ampliação da força política brasileira nos fóruns
internacionais. Exemplo claro dessa atuação é o notável poder de
barganha obtido com o G-20 dentro da OMC.
Enfim, há diferentes opções para uma política externa mais autônoma
que preserve boas relações, mas que não seja atada aos Estados Unidos
e/ou países da UE.
O cenário internacional nos impõe limites, mas sua configuração vem
se modificando e adquirindo delineamentos que nos oferecem alternativas.
Banco dos BRICS
A última iniciativa do grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul) de instituir o Novo Banco de Desenvolvimento e o um
Fundo de Reservas de Contingência nos permitirá estabelecer proteção
adicional em relação à nossa vulnerabilidade monetária, ao mesmo tempo
em que teremos nova possibilidade de financiamento desvinculada dos
credores de Wall Street.
Além disso, a associação do Brasil a outros Estados também
subdesenvolvidos amplia ainda mais o leque de possibilidades políticas e
econômicas.
Nos governos Lula e Dilma pudemos assistir à retomada desse tipo de
política externa, mais independente do que a praticada anteriormente.
Nestas eleições, ao nos debruçarmos sobre o programa do candidato Aécio
Neves, verificamos pouca concretude de propostas.
Infelizmente, é superficial para um debate mais profundo: informa que
concluirá acordos junto à Europa e lançará bases para outro com os EUA,
mas não especifica sob que termos o fará. No passado, não tivemos boa
experiência com os termos da abertura comercial e financeira feita pelo
governo FHC.
A proposta da candidata Marina Silva, por outro lado, põe em relevo
os feitos realizados em período recente, contudo, ao final, há a
afirmação de que o Itamaraty foi esvaziado, partidarizado e influenciado
ideologicamente: ou seja, fez-se tudo certo, mas está tudo errado. A
exposição deste quesito programático é, no mínimo, contraditória.
Entendemos que a política externa em curso e as propostas dos outros
dois principais candidatos à Presidência mereceriam debate mais amplo. O
escrutínio dos projetos e a crítica à condução atual poderiam, dessa
forma, facilitar a escolha do candidato mais adequado, pois aquele que
for eleito terá de lidar com desafios exteriores que podem oferecer
tanto oportunidades históricas de desenvolvimento, quanto vicissitudes
que comprometeriam qualquer programa de governo, como mostra nossa
própria história.
- See more at: http://brasildebate.com.br/eleicoes-e-as-alternativas-para-a-politica-externa/#sthash.zkyqy3UM.dpuf
Victor Augusto Ferraz Young
Eleições e as alternativas para a política externa
Entre as iniciativas atuais que mereceriam
debate mais amplo, em contraste com as propostas dos outros candidatos,
está, por exemplo, a criação do banco dos BRICs, que permitirá
estabelecer proteção adicional em relação à nossa vulnerabilidade
monetária, com nova possibilidade de financiamento desvinculada dos
credores de Wall Street
Tema
pouco debatido nesta campanha eleitoral é a proposta de política
externa dos candidatos. Somos grandes exportadores de produtos
agropecuários, minerais e, em proporção menor, de manufaturados.
Nossa indústria depende da importação de componentes, maquinário e
serviços do exterior. Há ainda o consumo de bens finais importados que,
pela valorização do real, colaboram para diminuir o ritmo de
investimentos produtivos, ao mesmo tempo em que mitigam a elevação dos
preços.
Além disso, a entrada e saída de capitais como investimentos diretos,
aplicações especulativas, empréstimos e emissão de papéis são tão ou
mais importantes que o saldo do comércio internacional brasileiro. Tais
pontos, mais vinculados à economia interna, não resumiriam todos os
aspectos a serem tratados por nossos representantes no exterior.
As relações interestatais também impõem desafios. Estamos sujeitos a
uma zona de influência internacional que nos limita a autonomia sobre a
política externa. Os Estados Unidos nos “protegem” com a Quarta Frota e
espionam nosso governo.
Economicamente, como muitos países, estamos submetidos a um fluxo de
liquidez controlado em última instância pelo banco central
norte-americano. O que torna nossa situação bem menos confortável é o
fato de nossa moeda não ser conversível, o que, conforme a absorção
externa de divisas, poderia fragilizar a economia, obrigando o País a
submeter-se outra vez às imposições de seus credores.
Dessa maneira, os EUA são ator da maior relevância com o qual o
Brasil deve lidar habilmente. Não se trata de um demônio a nos tolher a
iniciativa, mas de uma nação hegemônica que põe seus interesses à frente
de qualquer outro em sua tradicional área de influência, a América
Latina.
Rússia e China
Novos desdobramentos internacionais, por outro lado, sinalizam
mudanças na divisão do poder geopolítico mundial. No leste, a Rússia
demonstrou não submeter-se a pressões norte-americanas e europeias.
A incorporação da Crimeia àquele Estado e as “independências” da
Abcásia e Ossétia do Sul em relação a Geórgia – apesar da contrariedade
dos Estados Unidos e União Europeia – não devem ter seu
status revertido.
Mais ao oriente, a China, apesar de seu atrelamento econômico a
norte-americanos e europeus, vem estabelecendo uma agenda própria para a
expansão de seus negócios na África, América Latina e Leste Asiático.
Suas capacidades bélicas também adquiriram grande avanço sobre bases
tecnológicas próprias.
O que se destaca é o fato de que, desde o fim da Guerra Fria, nenhum
desses dois países, Rússia e China, parecem estar acuados ou ter suas
ações totalmente vetadas pelas potências do Ocidente.
Ambos, além de considerável poder militar e capacidade aeroespacial,
têm condições de impor elevado custo àqueles que queiram aplicar sanções
econômicas rigorosas ou coagi-los belicamente. Não há, dessa maneira,
como determinar diretrizes de política externa para o Brasil sem
considerar o novo peso que têm essas duas potências no sistema
interestatal.
Não há como esquecer, além disso, de que a intensificação das
relações internacionais brasileiras junto a outros países da periferia é
tão ou mais importante quanto aquelas tidas com o centro do poder
mundial.
O recente reforço às relações Sul-Sul, alargando a integração
regional e buscando estabelecer relações mais próximas junto aos países
árabes e africanos, vem ajudando a incrementar o comércio exterior e
favorecendo a ampliação da força política brasileira nos fóruns
internacionais. Exemplo claro dessa atuação é o notável poder de
barganha obtido com o G-20 dentro da OMC.
Enfim, há diferentes opções para uma política externa mais autônoma
que preserve boas relações, mas que não seja atada aos Estados Unidos
e/ou países da UE.
O cenário internacional nos impõe limites, mas sua configuração vem
se modificando e adquirindo delineamentos que nos oferecem alternativas.
Banco dos BRICS
A última iniciativa do grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul) de instituir o Novo Banco de Desenvolvimento e o um
Fundo de Reservas de Contingência nos permitirá estabelecer proteção
adicional em relação à nossa vulnerabilidade monetária, ao mesmo tempo
em que teremos nova possibilidade de financiamento desvinculada dos
credores de Wall Street.
Além disso, a associação do Brasil a outros Estados também
subdesenvolvidos amplia ainda mais o leque de possibilidades políticas e
econômicas.
Nos governos Lula e Dilma pudemos assistir à retomada desse tipo de
política externa, mais independente do que a praticada anteriormente.
Nestas eleições, ao nos debruçarmos sobre o programa do candidato Aécio
Neves, verificamos pouca concretude de propostas.
Infelizmente, é superficial para um debate mais profundo: informa que
concluirá acordos junto à Europa e lançará bases para outro com os EUA,
mas não especifica sob que termos o fará. No passado, não tivemos boa
experiência com os termos da abertura comercial e financeira feita pelo
governo FHC.
A proposta da candidata Marina Silva, por outro lado, põe em relevo
os feitos realizados em período recente, contudo, ao final, há a
afirmação de que o Itamaraty foi esvaziado, partidarizado e influenciado
ideologicamente: ou seja, fez-se tudo certo, mas está tudo errado. A
exposição deste quesito programático é, no mínimo, contraditória.
Entendemos que a política externa em curso e as propostas dos outros
dois principais candidatos à Presidência mereceriam debate mais amplo. O
escrutínio dos projetos e a crítica à condução atual poderiam, dessa
forma, facilitar a escolha do candidato mais adequado, pois aquele que
for eleito terá de lidar com desafios exteriores que podem oferecer
tanto oportunidades históricas de desenvolvimento, quanto vicissitudes
que comprometeriam qualquer programa de governo, como mostra nossa
própria história.
- See more at: http://brasildebate.com.br/eleicoes-e-as-alternativas-para-a-politica-externa/#sthash.zkyqy3UM.dpuf