O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Esses aborrecidos europeus que nos querem impedir de chamar as coisas pelos seus nomes, que eles inventaram e espalharam pelo mundo...

Sacrebleu! Esses bachibozouks dos europeus querem nos impedir de usar os nomes que eles usam, há séculos, para designar produtos com características especiais, que eles pretendem associar a uma indicação geográfica precisa, a deles, exclusivamente a deles.
Não podemos chamar champagne de champanhe, por exemplo, ou parmigiano de parmesão, ou cognac de conhaque, só eles teriam o direito exclusivo da denominação.
Ils sont fous ces européens!
Querem inclusive nos impedir de usar o nome certo (ou errado, não importa) para esse produto horrível que se chama "conhaque de alcatrão de São João da Barra", sob risco que alguém o confunda com um cognac vrai et légitime...
Vão plantar batatas.
Basta dizer a eles: se vocês não querem que usemos, retrocedam na história, e desfaçam as invasões europeias sobre o mundo inteiro a partir das grandes navegações no século XV. Voltem atrás, e não exportem seus agricultores, seus artesão de queijos e vinhos, seus produtos, sua dominação política e econômica sobre nossos territórios (diriam os indígenas daqui e dali, não índios falsos como o Evo Morales).
Nós somos europeus, como o são os americanos, os argentinos, e como foram assimilados à cultura europeia outros povos, que souberam ou puderam preservar melhor seus costumes e tradições, a começar pela própria etnia, língua e religião.
Nós, latino-americanos somos absolutamente europeus (mesmo de segunda linha...).
Paulo Roberto de Almeida

Reign of Terroir: Could the European Union Force Americans to Rename Some of Their Favorite Foods?
 
Cato Institute Weekley Dispatch, February 18, 2016

The European Union’s agenda in international trade negotiations includes an effort to secure the protection of their “geographical indications” (GIs) in foreign markets. If European officials have their way, American companies would have to make up new names for wines such as champagne, port, and sherry, and also for common cheeses such as parmesan, gorgonzola, and feta.

In a new paper, Cato scholar K. William Watson argues that Europe’s approach to GI protection mainly serves to privilege traditional producers at the expense of consumer welfare and economic growth.
Reign of Terroir: How to Resist Europe’s Efforts to Control Common Food Names as Geographical Indications,” by K. William Watson
"Reign of Terroir: Could the European Union Force Americans to Rename Some of Their Favorite Foods?," from the Cato Institute Tumblr

O Cato Institute homenageia o juiz da Suprema Corte americana Antonin Scalia

Conheço muito pouco de suas opiniões e posições como juiz, por isso posto esses artigos retirados do boletim semanal do Cato Institute para melhor conhecer esse juiz tido como conservador.
Paulo Roberto de Almeida

Supreme Court Justice Antonin Scalia Remembered
 Cato Institute Weekly Dispatch, February 18, 2016

Justice Antonin Scalia passed away over the weekend, a profound loss to the Court, the nation, and to the study of law.

By any objective measure, Scalia is among the greatest justices in our history. With his penetrating logic and his colorful wit, Scalia was the most forceful and visible advocate for originalism, a theory of constitutional interpretation that was derided when he ascended to the bench and is now, for both liberals and conservatives, mainstream.

Everyone should mourn his loss, no matter which side of the political spectrum they are on.

"RIP: Was Justice Scalia the Last Great Supreme Court Justice?," by Trevor Burrus
"Scalia Will Be Impossible to Replace," by Ilya Shapiro
"This Is What Antonin Scalia Taught Me," by Walter Olson
"Justice Scalia and the Libertarian Legal Movement," by Ilya Shapiro
"Justice Scalia: Underappreciated Fourth Amendment Defender," by Jonathan Blanks
"Scalia in the Pages of Regulation," by Nick Zaiac, Peter Van Doren, and Thomas A. Firey

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O pensamento estrategico de Varnhagen - Paulo Roberto de Almeida

Antecipo aqui, por razões de viagem, o texto completo de meu ensaio sobre o historiador-diplomata, aos 200 anos de seu nascimento, ensaio que está sendo publicado em duas partes pelo boletim Mundorama. Parte do texto deve integrar ensaio maior que estou preparando sobre o mesmo tema-título, destinado a um livro coletivo sobre o personagem.


O pensamento estratégico de Francisco Adolfo de Varnhagen

Paulo Roberto de Almeida

A data de 17 de fevereiro de 2016 marca o ducentésimo aniversário do nascimento do diplomata, homem público e patrono da historiografia brasileira Francisco Adolfo de Varnhagen, nascido nesse dia de 1816 em Sorocaba, SP. Filho de um engenheiro alemão, que tinha vindo ao Brasil logo após a transferência da corte portuguesa para iniciar a fundição de ferro no país, ele se formou em Portugal, para onde tinha ido com oito anos; concluiu o curso de engenharia militar em 1834. Desde cedo, inclinou-se para os estudos de história; suas pesquisas na Torre do Tombo permitiram-lhe a identificação de Gabriel Soares de Sousa como o autor do até então anônimo Roteiro do Brasil, a primeira descrição dos domínios portugueses nas Américas, o que lhe valeu ser aceito na Real Academia de Lisboa, em 1838. Dois anos depois decidiu voltar ao Brasil, tendo sido aceito no recém fundado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Em 1841, por decreto imperial tornou-se novamente cidadão brasileiro e, incorporado ao corpo diplomático, foi indicado para levantar documentos relativos à América portuguesa, nos arquivos coloniais portugueses e espanhóis.
Varnhagen pode ser considerado um ideólogo, no bom sentido da palavra, desses que estão sempre pensando nos problemas do país e propondo respostas aos desafios do momento e também imaginando reformas que pudessem preparar a nação a enfrentar os problemas do presente e do futuro, ou seja, os decorrentes de desafios especialmente complexos e que implicam reformas de maior profundidade. Nessa concepção, pode ser visto igualmente como um doutrinário, uma vez que ele exibia, desde o momento em que se tornou brasileiro, por decreto imperial, concepções bem fundamentadas sobre como deveria orientar-se o Brasil em seu itinerário “civilizatório”, o que na época significa aproximar-se o mais possível do modelo europeu. Arno Wehling, o grande especialista contemporâneo na vida e na obra do historiador-diplomata, e que o designa como publicista e pensador político, prefere caracterizá-lo como um liberal dotado de um “conservadorismo reformador” (2013c: 160).
Mas poderia ele ser também considerado um pensador estratégico? Ou até mesmo um estadista? Tinha ele os requisitos intelectuais ou as condições institucionais para se exercer como tal? Em que medida o seu pensamento – que se manifestou nas entrelinhas de todos os seus escritos históricos, e mais diretamente em seus textos programáticos – foi, ou era, verdadeiramente estratégico? Que papel lhe coube na construção da nação desde o início do Segundo Reinado? Influenciou ele políticas de Estado, ou de governo, imprimiu suas concepções em decisões das autoridades políticas, na diplomacia ou em outras esferas da vida pública?
Que Varnhagen tenha sido um “cortesão”, no sentido aproximado da palavra, disso não cabem dúvidas; que ele tenha sido um áulico é menos seguro, pois que ele passou a maior parte da sua vida ativa, no exterior, recebendo instruções em lugar de formular ele mesmo diretivas para determinadas orientações da política exterior, embora tenha tentado algumas vezes: em determinadas questões do Prata, em especial quanto ao Paraguai, ou na postura que o Império deveria seguir em relação à guerra civil americana, por exemplo, ou no tocante ao “império” dos Habsburgos no México. A maior “fração” de sua influência eventualmente “estratégica” se deu através de seus poucos escritos programáticos e de sua obra historiográfica, que permaneceu influente por quase um século, e até hoje reverenciada no âmbito do IHGB, sem esquecer sua intensíssima e prolífica correspondência com grandes personagens do Império, a começar pelo próprio Imperador.
Aliás, chama-lo de “pai da historiografia brasileira” é apenas parcialmente correto, se entendermos por historiografia uma atividade de reflexão sobre como os historiadores descrevem o passado, em contraste com a própria descrição desse passado. Varnhagen certamente procedeu à crítica dos historiadores de sua época – poucos nacionais, vários estrangeiros – mas o que ele fez, verdadeiramente, foi escrever sobre esse passado histórico a partir de documentos primários, que ele compulsou de maneira pioneira, como poucos antes ou depois dele. Varnhagen foi básica e essencialmente um historiador, um construtor de relatos históricos sobre o Brasil colonial, até a conquista da independência, e apenas secundariamente um analista crítico de outros historiadores (como Rocha Pita, por exemplo), tanto porque, antes dele, quase não havia historiadores brasileiros ou do Brasil. O récit historique, o racconto storico, chez Varnhagen, sobrepuja, em muito, a crítica da historiografia de sua época, até então dominada pelos cronistas dos événements courants e por alguns poucos estrangeiros: os britânicos Southey e Armitage, o francês Ferdinand Dénis e o alemão Handelman, por exemplo. Ele incorpora a suas obras observações pertinentes sobre os próprios personagens históricos, que aliás ele se permite corrigir em vários pontos de detalhe, seja de geografia, seja de relato mesmo. Ele citava abundantemente todos os cronistas seus antecessores, assim como os muitos pasquins do Primeiro Reinado, ao reconstituir rigorosamente os movimentos políticos – os da maçonaria, por exemplo – que acabaram redundando na independência do Brasil.
O trabalho historiográfico e de historiador de Varnhagen está suficientemente coberto por inúmeras teses universitárias, no terreno dessa mesma disciplina (ou até no da filosofia da História), bem como, principalmente, por diversos historiadores de renome, desde Capistrano e Oliveira Lima, até Nilo Odália e Arno Wehling, este o grande intérprete e examinador do homem e da obra. Seu pensamento estratégico se situa na linha de José Bonifácio e de Hipólito José da Costa, ainda que Varnhagen se enquadraria mais exatamente na categoria de historiador dotado de visão estratégica, mesmo reconhecendo que sua influência direta nas políticas de Estado, ou nas ações de outros estadistas do Império, foi reduzida ou relativamente limitada; ele teve um papel bem mais preeminente no próprio pensamento histórico e historiográfico das décadas seguintes à publicação de suas principais obras, até praticamente as grandes revisões intelectuais que começaram a serem feitas nas humanidades a partir do entre-guerras.
Varnhagen impactou o pensamento historiográfico nacional durante mais de meio século, e todos os homens de Estado, parlamentares, magistrados, diplomatas, acadêmicos e os membros cultos da sociedade, ou seja, praticamente a integralidade da elite brasileira, passou a oferecer um relato da história do Brasil com base no seu magnum opus de pesquisa historiográfica. Em vida, ele publicou apenas duas edições da História Geral do Brasil antes de sua separação e Independência de Portugal (Madri, 1854-1857; 1877), mas já a terceira vinha anotada por ninguém menos do que o célebre Capistrano de Abreu, que corrigiu, em 1906, pontos de detalhe do relato de Varnhagen, mas manteve intata a estrutura da obra. Ela já tinha passado também pelas mãos de Paranhos Jr., que anotou pessoalmente a primeira edição, depois conservada no acervo do Ministério das Relações Exteriores. Vinte anos depois Rodolfo Garcia, ultimou essa terceira edição e a publicou com as notas de Capistrano e as suas próprias. Cinco edições integrais (seis do primeiro tomo da obra), em cinco volumes, foram editadas até meados dos anos 1950, sob os cuidados da Companhia Melhoramentos de São Paulo. Um sexto volume, com as muitas notas de Rio Branco, as de uma comissão do IHGB, e do novo editor, o historiador Hélio Vianna, tratando exclusivamente da História da Independência do Brasil, que Varnhagen estava preparando até o final de sua vida, foi finalmente publicado em 1916, aos cuidados do IHGB, no tomo LXXXIX, vol. 133, de sua Revista. Hélio Vianna, ele mesmo um grande didático da história do Brasil, encarregou-se de preparar novas edições pela Melhoramentos, que continuaram sendo publicadas até os anos 1960 e mesmo até o início dos 1980, quando o pensamento historiográfico já se tinha consideravelmente afastado dos cânones sob os quais ele trabalhava. Mas foram essas obras que impregnaram a mentalidade das elites brasileiras durante várias gerações, cujos argumentos são refletidos no discurso e na ação dos estadistas brasileiros do Segundo Império e das primeiras fases da República.
Mas antes mesmo de concluir a obra que o consagrou definitivamente, História Geral, Varnhagen compôs e publicou, em 1849, na capital espanhola, um opúsculo não assinado, “dado à luz por um amante do Brasil”, pomposamente intitulado “Memorial orgânico que à consideração das assembleias Geral e provinciais do Império apresenta um brasileiro”. Inserida no contexto intelectual da efervescência política das revoluções de 1848 (inclusive em Pernambuco) e das grandes reformas que estavam sendo empreendidas no Brasil em torno do tráfico escravo, dos novos códigos regulatórios nos terrenos comercial e fundiário e dos grandes debates sobre a organização política e administrativa do país, essa obra de um “polígrafo persistente” e de um “conservador reformista e liberal” – como o classifica o presidente do IHGB, Arno Wehling (2013c) – apresenta um enfoque diferente dos demais livros que o identificaram como o grande historiador da nacionalidade e da identidade do Brasil. Mas ela apresenta uma mesma visão do mundo: um entranhado patriotismo, um engajamento no processo de reformas tendentes a “civilizar” o Brasil, e a consciência – a despeito de ser um liberal e propugnador da iniciativa privada na área econômica – de que o Estado tinha um papel a cumprir como promotor de grandes obras de organização nacional, nomeadamente no terreno da infraestrutura e da defesa.
Foi nesse contexto que ele propôs, a partir da identificação dos grandes problemas brasileiros de sua época, um conjunto de reformas de cunho estrutural, entre elas a transposição da capital do Império para o planalto central, sugestão que já tinha sido formulada por pensadores e estadistas do porte de Hipólito da Costa e José Bonifácio. Esta é, no entanto, apenas uma dentre as seis “soluções estratégicas” aos problemas que Varnhagen identificou no Brasil do início do Segundo Império, e que ele pretendia “corrigir”, sempre no sentido de “civilizar o Brasil” segundo um modelo europeu de organização política e administrativa. Por que Varnhagen o fez? Pela simples constatação, evidenciada numa dissertação de mestrado defendida em 2009 na PUC-Rio, de que, passado um quarto de século depois da independência, o Brasil permanecia numa situação praticamente colonial, ou seja, um mero exportador de matérias primas, sem qualquer desenvolvimento aparente: “Varnhagen está alertando que o Brasil encontra-se estacionado no tempo...” (Janke, 2009: 28). O historiador Arno Wehling, que preparou uma edição anotada e atualizada ortograficamente do Memorial, resume as propostas de Varnhagen numa tabela de seu ensaio:

Memorial Orgânico, de Francisco Adolfo de Varnhagen (1849)
Problemas
Motivos
Solução
Limites por definir com nove países
Indefinição das fronteiras
Negociações bilaterais
Capital litorânea
Deslocada em relação ao país, sem boas fortificações
Capital no interior do país
Escassez de comunicações e de mercado interno
Insuficiente ação provincial e inexistência de ação nacional
Articulação de comunicações e rotas comerciais (ferrovias)
Divisão de províncias do Império
Desigualdades regionais, ênfase no litoral, sem desenvolvimento nas províncias do interior, tributação irracional
Redivisão territorial, com critérios de equilíbrio e equivalência (departamentos)
Fragilidade da defesa do país
Ausência de pensamento estratégico para a defesa
Maior alocação de recursos, identificação de pontos cruciais, territórios militares
Heterogeneidade da população
Extensão da escravidão africana, forte contingente de índios não aculturados
Colonização indígena e europeia, proteção no cruzamento de raças
Fonte: Wehling, 2013c: 174.

A proposta relativa ao deslocamento da capital do Império para o interior do país e sua localização na confluência das três bacias hidrográficas que possuem nascentes naquela região foi ainda retomada, anos mais tarde, e depois de uma penosa viagem a cavalo em direção das paragens do planalto central que ele julgava mais adequadas à instalação da nova cidade, num livreto de 32 páginas intitulado A questão da capital: marítima ou interior (Viena, 1877), no qual Varnhagen reuniu todas as informações coletadas e os argumentos de que necessitava para reforçar seus pontos de vista. Sua visão pragmática foi a de um pioneiro absoluto, traçando a rationale para a interiorização do país e para a criação da nova capital que seria seguida um século depois por esse outro grande estadista que foi Juscelino Kubitschek. Mas Varnhagen foi muito mais do que um visionário; ele foi um intelectual-estadista que traçou, em seu Memorial um verdadeiro programa nacional de desenvolvimento.
Tomando como ponto de partida esse “planejamento estratégico”, concebido por Varnhagen com apenas 34 anos de idade, num texto que permaneceu relativamente obscuro após 1851 (quando finalmente foi publicado sob o seu nome), é possível traçar um novo Memorial para a reforma da nação, com base na mesma metodologia que Varnhagen desenvolveu entre 1849 e 1850, qual seja, uma primeira parte de “enunciados” dos problemas, uma segunda de “justificativas” dos problemas detectados, e uma terceira de propostas de soluções ou “remédios”.

Memorial Pragmático de Reforma da Nação (2016)
Problemas
Motivos
Solução
Retrocesso econômico, desorganização produtiva
Desindustrialização,  exportações de commodities
Esforço concentrado em ganhos de produtividade
Descolamento dos mercados internacionais
Perda de competitividade por excesso de tributação
Reforma tributária, redução da carga fiscal, globalização
Deficiências de infraestrutura
Inexistência de ação estatal por inépcia e falta de recursos
Privatização extensiva em todas as áreas de logística
Desigualdades regionais persistentes
Políticas de “desenvolvimento regional” baseadas em induções equivocadas
Atendimento das vantagens comparativas ricardianas nas especializações regionais
Fragilidade da defesa do país
Inadequações do pensamento estratégico para a defesa; autonomia sem base no PIB
Maior alocação de recursos, mas busca de sinergias na cooperação com aliados
Heterogeneidade da população em termos de capacitação profissional
Deficiências graves na qualidade da educação de base; professores ineptos
Reforma radical do ensino público; acolhimento de imigrantes
Fonte: Paulo Roberto de Almeida, inspirado no Memorial Orgânico de Varnhagen.

Aparentemente, os problemas atuais do Brasil são quase os mesmos de 165 anos atrás; as soluções também muito se parecem. Faltam, porém. os estadistas...

Referências bibliográficas:
Centro de História e Documentação Diplomática (2005). A missão Varnhagen nas repúblicas do Pacífico: 1863 a 1867. Rio de Janeiro: Fundação Alexandre de Gusmão, 2 vols.
Fleury, Renato Sêneca (1978). Francisco Adolfo de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro: biobibliografia do Pai da nossa História. Rio de Janeiro: Edição do Autor.
Fontes, Armando Ortega (1945). Bibliografia de Varnhagen. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, Comissão de Estudo dos Textos da História do Brasil.
Guimarães, Lucia Maria Paschoal; Glezer, Raquel (cords.) (2013). Varnhagen no Caleidoscópio. Rio de Janeiro: Fundação Miguel de Cervantes.
Horch, Hans (1982). Francisco Adolfo de Varnhagen: subsídios para uma bibliografia. São Paulo: Editoras Unidas (505 trabalhos arrolados).
Janke, Leandro Macedo (2009). Lembrar para Mudar: O Memorial Orgânico de Varnhagen e a Constituição do Império do Brasil como uma Nação Compacta, Rio de Janeiro: Dissertação de Mestrado defendida na PUC-Rio, orientador: Ilmar Rohloff de Mattos (disponível: http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/Busca_etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=15063@1; acesso em 20/12/2015).
Lessa, Clado Ribeiro de (org.) (1961); Varnhagen, Francisco Adolfo de. Correspondência Ativa. Rio de Janeiro: INL.
Odália, Nilo (1997). As Formas do Mesmo: ensaios sobre o pensamento historiográfico de Varnhagen e Oliveira Vianna. São Paulo: Fundação Editora da Unesp.
Santos, Evandro (2014). Ensaio sobre a constituição de uma ética historiográfica no Brasil oitocentista: Francisco Adolfo de Varnhagen, o historiador no tempo. Porto Alegre: Tese de Doutorado em História, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; orientador: Dr. Temístocles Cezar (disponível: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/114431/000951506.pdf?sequence=1; acesso em 16/01/2016).
Sousa, Gabriel Soares de; Varnhagen, Francisco Adolfo de (1987). Tratado descritivo do Brasil em 1587. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 389 p. (Brasiliana n. 117).
Varnhagen, Francisco Adolfo (1849). Memorial Organico que a consideraçam das assembleas Geral e provinciaes do Imperio apresenta um brasileiro. Por um amante do Brasil. [Madrid:] 51 p.; edição do IHGB: Memorial Orgânico. IN: Vida e Obra de Varnhagen, Revista do IHGB, volumes de 223 a 227. Rio de Janeiro, 1954 e 1955 (resumo das partes relativas à transferência da capital, neste link: http://doc.brazilia.jor.br/HistDocs/Relatorios/1849-Varnhagen-Memorial-Organico-1.shtml; acesso em 16/01/2016).
_______ (1854). Historia Geral do Brazil, isto é, do descobrimento deste Estado, hoje imperio independente, escripta em presença de muitos documentos authenticos recolhidos nos archivos do Brazil, de Portugal, da Hespanha e da Hollanda. Por um sócio do Instituto Histórico do Brazil, Natural de Sorocaba. Madrid: vol. I (Imprensa de V. Dominguez), MLCCCLIV; disponível na Biblioteca Brasiliana Mindlin (link: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/01818710; acesso: 5/02/2016).
_______ (1877a). Historia Geral do Brazil, antes da sua separação e independencia de Portugal. Pelo Visconde de Porto Seguro, Natural de Sorocaba. 2a edição. Muito augmentada e melhorada pelo autor. Rio de Janeiro : Em casa de E. e H. Laemmert1877; no verso da folha de rosto: Vienna: Imprensa do filho de Carlos Gerold, 1877; disponível na Biblioteca Brasiliana Mindlin (link: http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/01819210; acesso: 5/02/2016).
_______ (1877b). A Questão da Capital: Marítima ou no Interior?. Viena D’Áustria, Imp. do Filho de Carlos Gerold, 1877 (reedição fac-similar: Brasília: Thesaurus, 1978 (Comemorativa do centenário de sua publicação em Viena, Áustria, 1877; reprodução do texto da 2a. edição (1935) do Arquivo Nacional, precedida de um estudo de apresentação de E. D’Almeida Vitor).
_______ (1927). História Geral do Brasil: antes da sua separação e independência de Portugal. São Paulo: Melhoramentos, 3 vols. (diversas edições subsequentes, em vários tomos e volumes, pela Melhoramentos, e em coedição Itatiaia-USP, em 1981, e uma precedente pela Imprensa Nacional, no Rio de Janeiro, em 1917, 598 p.).
_______ (1957). História da Independência do Brasil: até o reconhecimento pela antiga metrópole, compreendendo, separadamente, a dos sucessos ocorridos em algumas províncias até essa data. 3a. ed.; São Paulo: Melhoramentos (diversas edições subsequentes, inclusive em 1981, pela Itatiaia-USP).
_______ (1961). Correspondência ativa. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura.
_______ ; Sousa, Gabriel Soares de (1987). Tratado descritivo do Brasil em 1587. São Paulo: Companhia Editora Nacional (Brasiliana n. 117).
Vieira, Celso (1923). Varnhagen, o homem e a obra. Rio de Janeiro: Álvaro Pinto Editor (conferência promovida pelo Instituto Varnhagen e realizada no Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, em 17 de fevereiro de 1923)
Wehling, Arno (2013a). “Uma proposta para o Brasil em meados do século XIX”, Carta Mensal. Rio de Janeiro: Confederação Nacional do Comércio, julho, p. 3-17.
_______ (2013b). “Francisco Adolfo de Varnhagen (Visconde de Porto Seguro): pensamento diplomático”, In: José Vicente Pimentel (org.), Pensamento Diplomático Brasileiro: Formuladores e Agentes da Política Externa (1750-1964). Brasília: FUNAG, 2013, 3 vols.; ISBN 978-85-7631-462-2; vol. 1, p. 195-226 (disponível: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=507&search=Pensamento+Diplom%C3%A1tico+Brasileiro).
_______ (2013c). “O conservadorismo reformador de um liberal: Varnhagen, publicista e pensador político”, in: Guimarães-Glezer (orgs.), Varnhagen no Caleidoscópio, p. 160-201.
_______ (2002). “Varnhagen: História e Diplomacia”. In: Costa e Silva, Alberto. O Itamaraty na Cultura Brasileira. São Paulo: Martins Fontes, p. 39-63.
_______ (1999). Estado, História, Memória: Varnhagen e a Construção da Identidade Nacional. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de fevereiro de 2016

Astronomia moderna, mas na tradicao do despotismo oriental: o maior telescopio do mundo

Imperadores, e outros déspostas, sempre agiram da mesma maneira: é preciso escavar um canal? Expulsem os camponeses do traçado. Vamos abrir avenidas? Derrubem esses hutongs (cortiços). Espaços para escritórios e empresas multinacionais: passem os tratores nesses três quarteirões.
Enfim, quando não há problemas em deslocar algumas milhares de pessoas, tudo avança...
Paulo Roberto de Almeida

9,000 people to make way for huge radio telescope

MORE than 9,000 people in southwest China’s Guizhou Province will be relocated before the completion of the world’s largest radio telescope in September, local authorities said yesterday.
Development of the Five-hundred-meter Aperture Spherical Radio Telescope (FAST), which sits between hills in the rural region, began in March 2011 with an investment of 1.2 billion yuan (US$184.3 million).
On completion, the telescope will be the world’s largest of its kind, overtaking Puerto Rico’s Arecibo Observatory, which is just 300 meters in diameter.
The relocation program was proposed last year at the Guizhou Provincial Committee of the Chinese People’s Political Consultative Conference, according to its secretary-general Li Yuecheng.
Anyone living within 5 kilometers of the telescope will be relocated to create “a sound electromagnetic wave environment,” Li said.
The move will affect 9,110 residents, he said. Each person will receive compensation of 12,000 yuan, with some ethnic minority families getting an additional 10,000 yuan in housing support, the official said.
Wu Xiangping, director-general of the Chinese Astronomical Society, said earlier that the telescope’s high level of sensitivity “will help us to search for intelligent life outside of the galaxy.”
Meanwhile, Chinese scientists said they have developed a system to measure the leak rate for a vacuum environment to be used in the country’s three-step lunar exploration program.
According to researchers at the Lanzhou Institute of Physics under the China Academy of Space Technology, the system will help scientists figure out a better way to preserve samples from the moon.
“The third step of the lunar exploration project involves taking samples from the surface of the moon back to Earth,” said Li Detian, the chief scientist on the research team.
“The samples will be packed in a vacuum environment. The accuracy of measuring the finest leak in a vacuum capsule will have direct impact on the research result of the samples.”
Cheng Yongjun, a member of the team, said the measurement system will ensure a similar vacuum environment as found on the moon for the samples.
It will also make sure that the 2 kilogram samples remain uncontaminated on their way back to Earth, and prevent them from being affected by any kind of environment change, including extremely high and low temperatures.
China has a three-step moon exploration project: orbiting, landing and return. The Chang’e-5 lunar probe is scheduled to be launched in 2017, which will fulfill the final stage of the project.

Prata da Casa, Revista da ADB, 4to trimestre 2015 (atrasado, mas bonito) - Paulo Roberto de Almeida

Depois de certa confusão quanto à ordem de publicação das doze mini-resenhas preparadas para os dois trimestres finais de 2015, finalmente foram publicadas mais quatro no começo deste ano, com data de calendário de outubro-novembro-dezembro. Nesta ordem:


1205. “Prata da Casa, Boletim ADB – 4to. trimestre 2015” [Notas sobre os seguintes livros: 1) Sérgio da Veiga Watson: Reflexões de um civil sobre as Forças Armadas (Brasília: Thesaurus, 2015, 245 p.; ISBN: 978-85-409-0355-5); 2) Abelardo Arantes Jr.: A passagem do neoestalinismo ao capitalismo liberal na União Soviética e na Europa Oriental (Brasília: Funag, 2015, 533 p.; ISBN: 978-85-7631-549-0; Coleção relações internacionais); 3) Vera Cíntia Álvarez: Diversidade cultural e livre comércio: antagonismo ou oportunidade? (Brasília: Funag, 2015, 342 p.; ISBN: 978-85-7631-541-4; coleção CAE); 4) Benjamin Mossé: Dom Pedro II: Imperador do Brasil (O Imperador visto pelo barão do Rio Branco) (Brasília: Funag, 2015, 268 p.; ISBN: 978-85-7631-551-3); Revista da ADB (Brasília: Associação dos Diplomatas Brasileiros, ano 22, n. 91, outubro-novembro-dezembro 2015, p. 40-41; ISSN: 0104-8503). Relação de Originais n. 2864 e 2852.


(1) Sérgio da Veiga Watson:
Reflexões de um civil sobre as Forças Armadas
(Brasília: Thesaurus, 2015, 245 p.; ISBN: 978-85-409-0355-5)


Como diz o título, se trata de reflexões, mas elas são absolutamente sinceras e feitas em tom coloquial, ademais de embasadas num vasto conhecimento pessoal, em leituras e pesquisas, com um rico suporte bibliográfico (e na filmografia) sobre o papel das FFAA no Brasil (e em países do Cone Sul), uma trajetória de alternância entre, de um lado, experimentos democráticos e governos civis, e golpes e governos militares, de outro. Sem esconder um viés antimilitarista e abertamente contrário à ditadura militar brasileira, o autor faz uma leitura honesta dessa complicada relação. O ponto final, dado no cinquentenário do golpe, convida as FFAA a, finalmente, reconhecer os lamentáveis excessos cometidos naquele período e a se desvincular dos torturadores. Um livro que demorou quarenta anos para ser escrito; deve ser saudado com uma bela continência.



(2) Abelardo Arantes Jr.:
A passagem do neoestalinismo ao capitalismo liberal na União Soviética e na Europa Oriental
(Brasília: Funag, 2015, 533 p.; ISBN: 978-85-7631-549-0; Coleção relações internacionais)


Curiosa esta tese de doutorado (UnB): nela se descobre que o socialismo surgiu por “deficiências do liberalismo no Ocidente”, que a contrarrevolução estalinista de 1923-27 traiu o marxismo-leninismo e os trabalhadores e está na origem dos eventos de 1989-91, quando a elite neoestalinista, numa espécie de conspiração para continuar no poder, efetuou sua conversão ao liberalismo. A tese é uma verdadeira revolução na história da Europa oriental e na do marxismo: a derrota do socialismo pode não ter sido definitiva e movimentos revolucionários de cunho socialista podem ser retomados; a elite neoestalinista usa malabarismos ideológicos para manter-se no poder, em aliança com a elite liberal. Mas seria o período pós-1991 marcado pelo “predomínio absoluto da hegemonia ocidental”? E será a Rússia pós-soviética um capitalismo liberal? Curioso...


(3) Vera Cíntia Álvarez:
Diversidade cultural e livre comércio: antagonismo ou oportunidade?
(Brasília: Funag, 2015, 342 p.; ISBN: 978-85-7631-541-4; coleção CAE)


Diversidade cultural é um fato razoavelmente bem aceito atualmente, sobretudo em tempos e ambientes politicamente corretos. Livre comércio, por sua vez, já é objeto de controvérsias, alguns dizendo que não existe, outros sabotando-o deliberadamente, se por acaso existir. Os mesmos acham que a globalização mata a diversidade, impondo uma homogeneidade artificial. O subtítulo do livro já denota alguma dúvida sobre essa relação problemática, sobretudo no plano do sistema multilateral de comércio (onde o tema tem um estatuto muito ambíguo). A obra mapeia a questão, inclusive a “astúcia do poder econômico para perpetuar hegemonias” (p. 248), e parece que o perigo aqui vem das “pressões dos EUA” (quem diria?). Até quando o Brasil e os europeus temerosos vão continuar na defensiva, apelando para a Unesco e os amigos da diversidade?

(4) Benjamin Mossé:
Dom Pedro II: Imperador do Brasil (O Imperador visto pelo barão do Rio Branco)
(Brasília: Funag, 2015, 268 p.; ISBN: 978-85-7631-551-3; História diplomática)


Benjamin Mossé, grande rabino de Avignon, foi apenas a marca de fábrica, como se diz. O verdadeiro ghost writer desta biografia, menos ghost e mais writer, foi o barão, como já se sabia, e como destaca Luis Cláudio Villafañe em seu prefácio. A edição original do livro, de 1889, em francês, e a primeira edição em português (1890), encontram-se disponíveis na openlibrary. Mossé, sozinho, teria feito uma biografia medíocre, e altamente encomiástica, do seu amigo que estudava hebraico e a história judaica. O barão escreveu, não só uma verdadeira biografia do monarca, mas uma história completa do Brasil, incluindo Dom Pedro I e todos os problemas dos dois reinados do período monárquico: guerras platinas, escravidão, a emancipação gradual e a abolição, as viagens do imperador. Ainda elogioso, o barão, mas com bom conteúdo.

 
Ainda sobraram várias mini-resenhas de 2015 para serem publicadas, e já tenho várias outras no pipeline. Espero que a revista da ADB seja publicada no momento certo, inclusive para liquidar o estoque existente de miniresenhas.
Paulo Roberto de Almeida  
Brasília, 17 de de fevereiro de 2016