Depois de certa confusão quanto à ordem de publicação das doze mini-resenhas preparadas para os dois trimestres finais de 2015, finalmente foram publicadas mais quatro no começo deste ano, com data de calendário de outubro-novembro-dezembro. Nesta ordem:
1205. “Prata da Casa, Boletim ADB – 4to. trimestre 2015” [Notas
sobre os seguintes livros: 1) Sérgio da Veiga Watson: Reflexões de um civil sobre as Forças Armadas (Brasília: Thesaurus,
2015, 245 p.; ISBN: 978-85-409-0355-5); 2) Abelardo Arantes Jr.: A passagem do neoestalinismo ao capitalismo
liberal na União Soviética e na Europa Oriental (Brasília: Funag, 2015, 533
p.; ISBN: 978-85-7631-549-0; Coleção relações internacionais); 3) Vera Cíntia
Álvarez: Diversidade cultural e livre
comércio: antagonismo ou oportunidade? (Brasília: Funag, 2015, 342 p.;
ISBN: 978-85-7631-541-4; coleção CAE); 4) Benjamin Mossé: Dom Pedro II: Imperador do Brasil (O Imperador visto pelo barão do Rio
Branco) (Brasília: Funag, 2015, 268 p.; ISBN: 978-85-7631-551-3); Revista da ADB (Brasília: Associação
dos Diplomatas Brasileiros, ano 22, n. 91, outubro-novembro-dezembro 2015, p.
40-41; ISSN: 0104-8503). Relação de Originais n. 2864 e 2852.
(1) Sérgio da Veiga Watson:
Reflexões
de um civil sobre as Forças Armadas
(Brasília: Thesaurus, 2015, 245 p.; ISBN:
978-85-409-0355-5)
Como diz o título, se trata de reflexões, mas elas são absolutamente
sinceras e feitas em tom coloquial, ademais de embasadas num vasto conhecimento
pessoal, em leituras e pesquisas, com um rico suporte bibliográfico (e na filmografia)
sobre o papel das FFAA no Brasil (e em países do Cone Sul), uma trajetória de
alternância entre, de um lado, experimentos democráticos e governos civis, e
golpes e governos militares, de outro. Sem esconder um viés antimilitarista e
abertamente contrário à ditadura militar brasileira, o autor faz uma leitura honesta
dessa complicada relação. O ponto final, dado no cinquentenário do golpe,
convida as FFAA a, finalmente, reconhecer os lamentáveis excessos cometidos
naquele período e a se desvincular dos torturadores. Um livro que demorou quarenta
anos para ser escrito; deve ser saudado com uma bela continência.
(2) Abelardo Arantes Jr.:
A passagem do
neoestalinismo ao capitalismo liberal na União Soviética e na Europa Oriental
(Brasília: Funag, 2015, 533 p.; ISBN: 978-85-7631-549-0;
Coleção relações internacionais)
Curiosa
esta tese de doutorado (UnB): nela se descobre que o socialismo surgiu por
“deficiências do liberalismo no Ocidente”, que a contrarrevolução estalinista
de 1923-27 traiu o marxismo-leninismo e os trabalhadores e está na origem dos eventos
de 1989-91, quando a elite neoestalinista, numa espécie de conspiração para
continuar no poder, efetuou sua conversão ao liberalismo. A tese é uma verdadeira
revolução na história da Europa oriental e na do marxismo: a derrota do
socialismo pode não ter sido definitiva e movimentos revolucionários de cunho
socialista podem ser retomados; a elite neoestalinista usa malabarismos ideológicos
para manter-se no poder, em aliança com a elite liberal. Mas seria o período
pós-1991 marcado pelo “predomínio absoluto da hegemonia ocidental”? E será a
Rússia pós-soviética um capitalismo liberal? Curioso...
(3) Vera Cíntia Álvarez:
Diversidade
cultural e livre comércio: antagonismo ou oportunidade?
(Brasília: Funag, 2015, 342 p.; ISBN:
978-85-7631-541-4; coleção CAE)
Diversidade cultural é um fato razoavelmente bem aceito atualmente,
sobretudo em tempos e ambientes politicamente corretos. Livre comércio, por sua
vez, já é objeto de controvérsias, alguns dizendo que não existe, outros
sabotando-o deliberadamente, se por acaso existir. Os mesmos acham que a
globalização mata a diversidade, impondo uma homogeneidade artificial. O
subtítulo do livro já denota alguma dúvida sobre essa relação problemática,
sobretudo no plano do sistema multilateral de comércio (onde o tema tem um
estatuto muito ambíguo). A obra mapeia a questão, inclusive a “astúcia do poder
econômico para perpetuar hegemonias” (p. 248), e parece que o perigo aqui vem
das “pressões dos EUA” (quem diria?). Até quando o Brasil e os europeus
temerosos vão continuar na defensiva, apelando para a Unesco e os amigos da
diversidade?
(4) Benjamin Mossé:
Dom
Pedro II: Imperador do Brasil (O Imperador visto pelo barão do Rio Branco)
(Brasília: Funag, 2015, 268 p.; ISBN:
978-85-7631-551-3; História diplomática)
Benjamin Mossé, grande rabino de Avignon, foi apenas a marca de
fábrica, como se diz. O verdadeiro ghost
writer desta biografia, menos ghost
e mais writer, foi o barão, como já
se sabia, e como destaca Luis Cláudio Villafañe em seu prefácio. A edição
original do livro, de 1889, em francês, e a primeira edição em português (1890),
encontram-se disponíveis na openlibrary. Mossé, sozinho, teria feito uma
biografia medíocre, e altamente encomiástica, do seu amigo que estudava
hebraico e a história judaica. O barão escreveu, não só uma verdadeira
biografia do monarca, mas uma história completa do Brasil, incluindo Dom Pedro
I e todos os problemas dos dois reinados do período monárquico: guerras
platinas, escravidão, a emancipação gradual e a abolição, as viagens do
imperador. Ainda elogioso, o barão, mas com bom conteúdo.
Ainda sobraram várias mini-resenhas de 2015 para serem publicadas, e já tenho várias outras no pipeline. Espero que a revista da ADB seja publicada no momento certo, inclusive para liquidar o estoque existente de miniresenhas.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de de fevereiro de 2016
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