O que algumas empresas estão enxergando (de bom) no Brasil
Companhias querem investir, mas no Brasil mesmo o curto prazo é "longo"
MARCOS TROYJO
Críticos da intervenção governamental na economia gostam de evocar uma famosa frase pronunciada por John Maynard Keynes ("no longo prazo, estaremos todos mortos").
Utilizam-na como símbolo do desprezo que o grande economista britânico supostamente nutria pelos efeitos de longo prazo das políticas de estímulo sobre finanças públicas.
Nada disso. Concorde-se ou não com a visão macroeconômica de Keynes, na origem os dizeres do grande economista britânico referiam-se à política monetária (mais especificamente, à Teoria Quantitativa da Moeda).
Ainda assim, talvez de forma incidental, Keynes notoriamente afirmou uma verdade filosófica e biológica. A frase encontra ampla aplicação em diferentes contextos.
Na presente conjuntura de grande desalento sobre o Brasil, contudo, algumas empresas estrangeiras estão colocando a frase de Keynes de ponta-cabeça.
No médio e longo prazo, o país reencontrará seu caminho de crescimento. No curto prazo, estamos todos mortos.
Entre os escombros, acham-se pechinchas. Com o real enfraquecido, juros nas alturas e uma brutal recessão, muitas empresas brasileiras estão à venda – por uma bagatela.
Isso representa grandes oportunidades para os que querem fincar pé no Brasil ou aqui consolidar setores.
No auge da “Brasilmania” em 2010, com o real sobrevalorizado, ficou famosa a “caipirinha de US$ 25”, que Ruchir Sharma menciona em seu livro “Breakout Nations”.
Os altos preços relativos no país constituíam uma formidável barreira de entrada a empresas do exterior interessadas em adquirir congêneres nacionais.
O banqueiro Jim O’Neill, primeiro formulador do acrônimo “Brics”, dizia há alguns anos que recebia amigos brasileiros em Londres, eles logo queriam ir às compras e aos restaurantes já que, comparada a Rio de Janeiro e São Paulo, a capital britânica era “barata”.
Mesmo com ativos empresariais por uma fração do valor no Brasil, não é fácil para executivos entusiasmarem seus conselhos de administração com uma visão de futuro em que o país brilha.
O Brasil experimenta uma década perdida em termos de crescimento. Resultados corporativos convertidos de real para dólar não impressionam. O quadro fiscal preocupa. A política é disfuncional.
Ainda assim, os que querem “comprar” Brasil acham que o país pode ser uma aposta bem fundamentada.
Há muito dinheiro barato disponível no mundo. A onda de assepsia na República e na relação do governo com empresas trará benefícios institucionais e fortalecimento das regras do jogo.
Em algum momento, as commodities sairão do nível raso em que se encontram. O Brasil tem um enorme mercado consumidor e, agora, encontra-se numa conjuntura cambial que lhe fornece mais competitividade exportadora.
No campo das relações internacionais, também a possibilidade do Brasil juntar-se, pragmaticamente, a acordos de liberalização comercial é algo que se leva em conta.
Tem gente nas empresas a prever que uma sugestão de mudança de rumos mais firme jogará a Bovespa lá para cima e arrefecerá o dólar (embora não para um patamar inferior a R$3,50).
Nessa linha, argumentam que, da mesma maneira que 2008, subprimes, colapso do Lehmann Brothers etc. representaram “sinistros” numa economia de mercado que essencialmente funciona bem, o Brasil também está passando por seu “acidente”.
Caberia portanto a esse “capital estrangeiro sem pressa” ter o fígado para comprar agora, sanear, e posicionar-se para a retomada logo após o “curto prazo”.
O problema é que, no Brasil, mesmo o curto prazo é longo.
Na ausência de uma inflexão mais próxima na titularidade do Planalto, faltam ainda 1042 dias para 2019, quando o país estará sob nova administração. Tal intervalo de tempo é maior do que a duração do governo de John Kennedy.
Em meio à usina de más notícias na qual o Brasil se converteu, o continuado interesse do capital estrangeiro ajuda a manter a fé no potencial brasileiro.
Não deixa de ser curioso, contudo, que a ênfase na política de apoio a empresas “campeãs nacionais” nos últimos 13 anos, que tantos recursos drenou de áreas em que a competitividade internacional brasileira poderia ser mais bem servida, acaba por funcionar como um tiro pela culatra.
Um dos efeitos colaterais dessa dinâmica é a drástica redução do número de nacionais brasileiros como acionistas e diretores de empresas a operar no país.
Lição a aprender: quem planta capitalismo de compadrio colhe desnacionalização.
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