O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Encyclopedia do Holocausto - Museu do Holocausto dos EUA - free book

Enciclopédia de guetos e campos de concentração nazistas para download gratuito

Obra apresenta dados detalhados, fontes, referências, imagens e mapas. São anos de pesquisa reunidos em mais de 4 mil páginas. Os interessados podem baixar os dois volumes do site do Memorial Museu do Holocausto dos EUA.

Ana Paula Tavares | Agência Café História
O Mandel Center, do Memorial Museu do Holocausto dos EUA (USHMM, na sigla em inglês), em parceria com a editora da Universidade de Indiana, disponibilizou os dois primeiros volumes da coleção Encyclopedia of Camps and Ghettos, 1933-1945, referência internacional no campo dos Estudos do Holocausto. São aproximadamente 4 mil páginas disponibilizadas em 4 pdfs.
Capa do livro sobre guetos e campos de concentração nazistas
Capa dos dois volumes da Enciclopédia de guetos e campos de concentração do Museu do Holocausto de Washington.
A obra traz a descrição detalhada dos 20 mil campos e guetos criados pelos nazistas ou por seus aliados – da Noruega ao norte da África, da França à Rússia. A enciclopédia será composta por 7 volumes que serão lançados até 2025. O prefácio institucional do volume I explica o objetivo da coleção: “Quantos campos e guetos existiram? Quem os administrava? Quem foram suas vítimas? Quanto tempo durou a operacionalização de vários campos e guetos, e qual o propósito específico de cada? Quem lucrou com eles? Onde se pode consultar arquivos e outras fontes de pesquisa sobre determinado campo ou gueto?” [1]
Como está dividida a Enciclopédia
A enciclopédia traz testemunhos, mapas, fontes e fotos, além das respostas para as perguntas acima em cada entrada. No entanto, tudo está em inglês, ainda sem tradução para o português. Confira abaixo o que fazer para fazer o download (gratuito) de cada volume: 
Volume I: traz a descrição dos campos mais antigos, dos maiores campos de concentração da SS e seus subcampos – como como o complexo de Auschwitz; os campos especiais da Polônia e da Alemanha e campos para juventude.  Disponível para download mediante cadastro aqui.
Volume II: Trata dos guetos da Europa oriental ocupada pelos nazistas, tais como territórios Estônia, Letônia, Lituânia, região da Criméia, Ucrânia e territórios russos ocupados. Disponível para download mediante cadastro aqui.
Volume III: Trata dos campos e guetos administrados pelos estados europeus “afiliados” ao nazismo, tais como Croácia, Hungria, Itália, Romênia, Bulgária, Eslováquia e a França de Vichy. Inclui também territórios no norte da África. Data de lançamento ainda não anunciada.
Volume IV: Abordará os campos e outras instalações de detenção militares da Alemanha. Data de lançamento ainda não anunciada.
Volume V: Abordará os campos subordinados ao SS-Reich Main Office e ao Higher SS e líderes policiais. Data de lançamento ainda não anunciada.
Volume VI: Abordará os campos de trabalho forçado não subordinados a SS, como o complexo REIMAHG. Data de lançamento ainda não anunciada.
Volume VII: Abordará outras instalações de detenção e extermínio, como os campos de germanização para crianças polonesas e os centros de eutanásia. Data de lançamento ainda não anunciada.
Enquanto estive navegando, confira também as publicações disponíveis gratuitamente sobre o genocídio na Armênia e sobre a questão dos refugiados, ambas somente em inglês.

Notas
[1] Este prefácio que chamamos de institucional é assinado por Paul A. Shapiro, diretor do Centro de Estudos Avançados sobre o Holocausto do USHMM; Alvin H. Rosenfeld, conselheiro do Comitê Acadêmico do Conselho do Memorial do Holocausto; e Sara J. Bloomfield, diretora do USHMM. Há também outro prefácio – “foreword” – no volume I assinado por Elie Wiesel, que faleceu no ano passado e foi escritor vencedor do Prêmio Nobel na categoria e professor dos Departamentos de Filosofia e de Religião da Universidade de Boston.

Historia intelectual: uma bibliografia - Vanderlei Sebastiao de Souza (Cafe Historia)

História Intelectual: objetos, abordagens e perspectivas

Ampla e interdisciplinar, a História Intelectual se consolidou nos últimos anos no Brasil e no mundo. Confira uma bibliografia comentada sobre este importante domínio historiográfico.

Por Vanderlei Sebastião de Souza
Café História, 08/05/2017
A História Intelectual pode ser definida tanto como uma disciplina quanto um campo de estudo, cujos objetos, abordagens e perspectivas de análise são variadas e interdisciplinares. De maneira geral, esse domínio historiográfico transita ainda na fronteira de outras disciplinas, como a História dos Intelectuais e a História Cultural ou das Mentalidades, conforme pratica a historiografia francesa, ou a História das Ideias, a História Política e a Filosofia da Linguagem, conforme a versão predominante nas historiografias britânica e norte-americana. Nas últimas décadas, a História Intelectual tem produzido uma série de polêmicas teóricas e metodológicas que colocaram no centro das discussões o próprio estatuto do trabalho historiográfico: a possibilidade de interpretação do texto histórico, do seu contexto de produção e das intenções do autor ao escrever uma obra, um conceito ou um enunciado qualquer. Esse debate tem enriquecido a historiografia e alargado o horizonte de análises em diferentes direções, desde a História dos Conceitos, passando pelos debates sobre História da Leitura, da Recepção e Circulação de Ideias, até pesquisas em torno das gerações, movimentos ou redes intelectuais, ou mesmo do estudo de biografias e trajetórias de intelectuais.
História Intelectual - Máquina de escrver
A História Intelectual é hoje um domínio historiográfico consolidado. Foto: Unplash / Florian Klauer.
Nos últimos anos, esse campo também ampliou seu diálogo com a História Social e Cultural, atentando para a inextricável relação entre o mundo social, as sensibilidades culturais e a produção de ideias, tanto de intelectuais e de tradições consagradas quanto de autores anônimos e movimentos intelectuais considerados marginais. Neste sentido, a bibliografia aqui indicada trata tanto das obras teóricas e metodológica quanto daquelas que apresentam estudos temáticos ou empíricos com os quais vem se ocupando a História Intelectual. O objetivo é apresentar aos leitores do Café História uma lista de obras que permita compreender as diferentes perspectivas de análise, as problemáticas norteadoras, os objetos e as possibilidades de pesquisa desse diversificado e impreciso campo de estudo.
LACAPRA, Dominick. Rethinking Intellectual History: texts, contexts, language. Ithaca: Cornell University Press, 1983.
Publicado ainda nos anos 1980, a obra é uma das principais referências teórica e metodológica no campo da História Intelectual. Partindo de uma perspectiva transdisciplinar e num estreito diálogo com as propostas do linguistic turn, LaCapra propõe nesse livro uma ampla renovação da História Intelectual a partir do diálogo com a Filosofia, a teoria da linguagem e a crítica literária, reformulando o problema da relação entre os grandes textos da tradição ocidental e seus contextos de produção, ou mesmo de antigas dicotomias sobre as visões internalistas e externalistas. O autor defende que os historiadores intelectuais precisam reavaliar o modo como concebem a leitura e a interpretação dos textos históricos, ampliando seu diálogo com a crítica literária e as noções de textualidade. Ao invés de analisar o texto como um documento histórico, como um testemunho ou artefato de constituição de um determinado período histórico, LaCapra destaca a necessidade de pensar as relações complexas entre o presente e o passado, entre os textos, a realidade e os discursos, as formas de leitura, interpretação e apropriação textual, sobretudo das obras clássicas ou dos cânones.
SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Embora o livro seja mais comumente associado ao campo da História Política, As fundações do pensamento político moderno é uma obra exemplar de História Intelectual. No livro, o historiador britânico coloca em perspectiva o contextualismo linguístico, método de análise desenvolvido pelo autor a partir dos anos 1960, quando se tornou um dos principais representantes da chamada Escola de Cambridge. Nesta obra, Skinner analisa os principais textos do pensamento político no período de transição da Idade Média para a Moderna, atentando especialmente para a formação do Estado e do pensamento político moderno. Preocupado com os modos de estudos e interpretação dos textos históricos, Skinner analisa tanto os autores clássicos quanto os chamados pensadores marginais, procurando enfocar as matrizes mais amplas de formação social e intelectual desses pensadores e o significado de suas atuações políticas. Ao invés de concentrar atenção nos clássicos, como se fossem pensadores atemporais, Skinner elabora uma história das ideologias políticas, evidenciando a natureza e os limites da linguagem e do vocabulário normativo disponível num determinado período histórico. Alargando seu compromisso com o método de pesquisa da História Intelectual, o historiador britânico enfatiza que, para compreender o significado de uma obra e as intenções do autor, o historiador intelectual precisa analisar as “ideias em contexto”, atentando não somente para o contexto intelectual em que as obras foram concebidas, mas para “o contexto das obras anteriores e dos axiomas herdados a propósito da sociedade política, bem como o contexto das contribuições mais efêmeras da mesma época ao pensamento social e político”.
DOSSE, François. La marcha de las ideas. Historia de los intelectuales, historia intelectual. Valencia: Universitat de València, 2007.
O livro deve ser visto como um balanço teórico e metodológico das principais perspectivas e problemáticas que envolvem a História Intelectual. O historiador francês demonstra que esse campo historiográfico emergiu do entrecruzamento da tradicional História das Ideias com a História Cultural e das Mentalidades, ou mesmo da influência da História das Ciências, sobretudo no contexto da historiografia francesa. Na primeira parte do livro, o autor trata do próprio conceito de intelectual, demonstrando que as suas definições e caracterizações são amplas, polissêmicas e polifônicas. Segundo ele, embora o intelectual possa ser caracterizado pelo compromisso com a crítica e o engajamento público, a definição de intelectual não pode ser tomada a priori, mas a partir de uma dada perspectiva histórica e sociológica, chamando a atenção para a relação entre a História Intelectual e a História Social e Cultural. A segunda parte do livro trata das diferentes tendências da História Intelectual, destacando especialmente as análises propostas pelo contextualismo linguístico da Escola de Cambridge, representada por historiadores como Quentin Skinner, John Pocock e John Dunn, e pela História dos Conceitos construída por Reinhart Kosseleck em estreito diálogo com a História Social. Dosse destaca ainda a importância da renovação historiográfica produzida após a virada linguística, cujas reformulações romperam com as tradicionais dicotomias entre as análises internas e externas, a relação texto e contexto, passado e presente, o que possibilitou a construção da História Intelectual como um interessante e promissor campo historiográfico.
DARNTON, Robert. Boemia literária e revolução: o submundo das letras no Antigo Regime. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
A obra de Robert Darnton tem contribuído sobremaneira para renovação da História Intelectual, especialmente pelo estreito diálogo que articula com a História Cultural. Em Boemia literária e revolução, o historiador norte-americano analisa o papel dos intelectuais marginais e da subliteratura às vésperas da Revolução Francesa. Ao contrário da historiografia tradicional, que procurava entender as ideias revolucionárias a partir dos grandes filósofos iluministas, Darnton busca as motivações que alimentaram a Revolução nos escritos subversivos, anticlericais e pornográficos que circulavam no submundo dos excluídos, da boemia literária, dos panfletistas e dos filósofos fracassados. Além de analisar as ideias políticas e morais defendida por essa literatura underground, Darnton persegue com maestria o processo de circulação e comercialização dessas obras, demonstrando a existência de um rico comércio editorial clandestino que envolvia tipógrafos, escritores, contrabandistas e leitores, seja do submundo da boemia ou de burgueses ávidos pela propaganda radical contra o Antigo Regime, a moral aristocrática e a corrupção do clero. Atentando, portanto, para a produção e a circulação marginal de ideias políticas e filosóficas, o livro não apenas alarga a nossa compreensão sobre o consumo e a difusão de ideias potencialmente explosivas, decisivas para a deflagração revolucionária, como renova a metodologia da História Intelectual em diferentes direções.
PALTI, Elías José. Giro lingüístico e historia intelectual. Stanley Fish, Dominick LaCapra, Paul Rabinow y Richard Rorty. Buenos Aires, Universidad Nacional de Quilmes, 1998.
O historiador argentino Elías José Palti, especialista em História Intelectual da América Latina, apresenta neste livro uma interessante análise das implicações do giro linguístico nas Ciências Humanas, destacando a renovação da História Intelectual norte-americana depois dos anos 1960. Na primeira parte do livro, Palti introduz as principais questões que nortearam o linguistic turn e o modo como a História Intelectual passou a repensar o significado da linguagem, do texto histórico, das formas de interpretação e recepção das ideias e, acima de tudo, da textualização do mundo. Partindo da análise da produção de Hayden White, Stanley Fish, Dominick LaCapra, Fredric Jameson e Richard Rorty, o historiador argentino historiciza o giro linguístico destacando, ao mesmo tempo, suas contribuições para o processo de renovação da História Intelectual e os paradoxos e limitações de suas teorias da linguagem. Na segunda parte do livro, Palti reúne um excelente conjunto de textos de autores norte-americanos ligados ao movimento do giro linguístico, com destaque para o clássico texto Repensar la historia intelectual y leer textos, de Dominick LaCapra, e Relativismo: el encontrar e el hacer, de Richard Rorty. Esse conjunto de texto não apenas dialoga com as principais questões apresentadas por Palti na primeira parte do livro, como também lançam novas questões para repensar os desafios colocados pelas teorias da linguagem ao campo da História Intelectual.
SILVA, Helenice Rodrigues da. Fragmentos da História Intelectual: entre questionamentos e perspectivas. Campinas, Papirus, 2002.
Helenice Rodrigues da Silva trata neste livro tanto das discussões teóricas e metodológicas da História Intelectual, chamando a atenção para a diversidade de abordagens e perspectivas teóricas, quanto da trajetória e da atuação dos intelectuais franceses na segunda metade do século XX. Curiosamente, o livro traça a História Intelectual francesa a partir de uma ampla análise da própria contribuição dos franceses para campo da História dos Intelectuais. Em diálogo com a História Social francesa, a autora analisa o modo como os intelectuais daquele país leram e responderam aos momentos nefrálgicos da história da França, como a participação na Segunda Guerra Mundial, a memória sobre o nazismo, a Guerra Fria, as manifestações de 1968 e o processo de colonização e descolonização. Para a autora, ao mesmo tempo que os eventos culturais, políticos e sociais foram decisivos para modelar as visões e valores dos intelectuais, estes também ajudaram a formatar a sociedade a partir da atuação pública e do desejo de transformar a realidade, como foi a grande marca da intelectualidade francesa a partir de meados do século XX. Neste sentido, Helenice Rodrigues da Silva esboça uma história social das ideias, ou uma história sociológica dos intelectuais, analisando as perspectivas, os projetos e a atuação de um conjunto de intelectuais que vai de Jean Paul Sartre a Michel Foucault, passando por Norbert Elias, Hannah Arendt, Claude Leford até Pierre Bourdieu.
LOPES, Marco Antônio (org). Grandes nomes da história intelectual. São Paulo: Editora Contexto, 2003.
Organizado por Marco Antônio Lopes, o livro apresenta um extenso número de textos escritos por diferentes historiadores brasileiro. A obra pode ser considerada uma das principais contribuições para a História Intelectual já produzida no Brasil, uma vez que concilia as reflexões teóricas e metodológica com a análise de uma diversidade de temas e estudos de caso que vão da História Intelectual, a História Social das Ideias, a História do Pensamento Político, passando pela História da Historiografia até a História Cultural. A coletânea apresenta análises que cobrem diferentes períodos da História, seja do mundo antigo e medieval, seja da História Moderna e Contemporânea. Merece destaque a última seção do livro, intitulada O Brasil dos intelectuais, os intelectuais do Brasil, que coloca em cena a análise da obra e atuação de viajantes, literatos, ensaístas e pensadores sociais brasileiros do século XIX e XX. De forma proposital, a variedade de autores, textos, temas e abordagens refletem a própria diversidade teórica e metodológica do campo da História Intelectual, conforme o próprio organizador do livro destaca em seu texto de introdução.
PALLARES-BURKE, Maria Lucia. Gilberto Freyre: um vitoriano dos trópicos. São Paulo: Editora da Unesp, 2005.
O livro de Maria Lucia Pallares-Burke não é apenas um dos mais ricos estudos sobre Gilberto Freyre, mas uma interessante obra de História Intelectual. Produzido a partir de uma extensa pesquisa documental, a autora persegue a trajetória intelectual, a vida social, as ideias, projetos e antagonismos de Gilberto Freyre até a publicação de Casa-Grande & Senzala, emblemático estudo da sociedade brasileira publicado em 1933. Ao mesmo tempo em que traça uma biografia intelectual do escritor pernambucano, Pallares-Burke preocupa-se em investigar as leituras, as formas de apropriação, os diálogos, as redes e as sociabilidades do autor com intelectuais brasileiros, latino-americanos, norte-americanos e europeus. Sua preocupação é entender como foi possível a escrita de Casa-grande & Senzala, cuja síntese exalta a História Cultural e a identidade mestiça brasileira, num contexto marcado pelo determinismo biológico e racial. O argumento central de Pallares-Burke é que a obra de Gilberto Freyre deve muito ao diálogo que estabeleceu com a cultura britânica, representada acima de tudo pelo universo literário e científico de escritores como Thomas Carlyle, William B. Yates, Lafcadio Hearn, Herbert Spencer, Alfred Zimmern e Franklin Giddings.
SÁ, Dominichi Miranda de. A ciência como profissão: médicos, bacharéis e cientistas no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006.
O livro de Dominichi Miranda de Sá é uma das melhores expressões da recente produção de historiadores intelectuais brasileiros, seja pela originalidade do tema abordado seja pela renovada perspectiva com que incorpora a metodologia da História Intelectual ao estudo da História das Ciências. Logo na introdução da obra a autora já deixa entrever as suas referências teóricas e metodológicas, apontando para o diálogo entre a História Intelectual, a História Social das Ideias e a história dos conceitos praticada por Reinhart Koselleck. Neste sentido, a autora incorpora a noção segundo a qual a produção de discursos, textos e linguagens precisa ser analisada no cruzamento com os diferentes contextos temporais de produção e de transformação do mundo social, refutando o princípio da textualização da cultura. Interessada em compreender a mudança no estilo de produção cultural brasileira no início do século XX, a autora analisa o processo de especialização da atividade intelectual e da emergência do “cientista” no Brasil. No livro, Dominichi Miranda de Sá demonstra que a pratica da atividade diletante, beletrista e bacharelesca que caracterizava a atividade intelectual brasileira até o final do século XIX passou a perder prestígio com o surgimento da pesquisa científica especializada, num contexto em que os próprios cientistas passaram a repreender indistintamente a pretensa inutilidade social dos homens de letras, dos eruditos e retóricos.

Vanderlei Sebastião de Souza é Doutor em História e professor da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro-PR). Tem experiência na área de História Intelectual e História das Ciências, com trabalhos publicados sobre História da Eugenia, interpretações do Brasil, raça, nação e identidade nacional, História da Antropologia Física e da Genética. É coordenador do grupo de pesquisa “Intelectuais, Ciência e Nação” e também coordena o “Laboratório de História das Ciências e História Intelectual”.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Eventos do IPRI: maio 2017

Inscrições abertas para os 
seguintes eventos:

Novos olhares sobre a Política Externa brasileira - Gustavo Westmann (livro)


Gustavo Westmann
       Nascido em São Paulo, Gustavo Westmann é Bacharel em Direito pela USP-SP e em Relações Internacionais pela PUC-SP. Diplomata desde 2007, já atuou nas áreas cultural, comercial e de energia do MRE e, nos últimos quatro anos, foi Chefe do Setor Comercial da Embaixada do Brasil na Itália. Atualmente é Chefe do Setor Econômico e Comercial da Embaixada do Brasil na Indonésia, onde vem aprofundando seus estudos sobre o processo de formação da sociedade global. Mestre em Diplomacia pelo Instituto Rio Branco e em Política Internacional pela Escola de Governo da Luiss Guido Carli (Roma), Gustavo Westmann também é especialista em Direito Internacional Público pela UC Berkeley e pela The Hague Academy of International Law. Já foi professor visitante nas Universidades Tor Vergata (Roma) e Luiss (Roma). Antes da carreira diplomática, atuou como consultor jurídico na área de direito ambiental.

O Homem que Pensou ao Brasil, de volta a Cuiaba, no Mato Grosso - Paulo Roberto de Almeida

Graças a meu bom amigo Marcos Troyjo, e à excelente recepção do presidente do LIDE (Grupo de Lideranças Empresariais) de Mato Grosso, Pedro Neves, voltei, pela primeira vez em 40 anos, a Cuiabá, capital do Mato Grosso, e terra de Roberto Campos, para fazer uma palestra a lideranças empresariais e políticas da cidade e do estado, ocasião na qual também divulguei o livro que organizei recentemente, publicado pela Editora Appris.
O evento transcorreu no restaurante Mahalo, uma supresa extremamente agradável no coração da América do Sul.
Abaixo o texto-guia que tinha preparado para a ocasião, sem que no entanto eu o tenha lido ou utilizado. Transcrevo para conhecimento dos presentes ao encontro, e para tutti quanti se interessam pelos problemas atuais do Brasil e pelas soluções propostas, décadas atrás, por Roberto Campos.



Paulo Roberto de Almeida
 [Notas para palestra a convite do LIDE-Mato Grosso, em Cuiabá, em 9 maio 2017, presidido por Pedro Neves; participação de Marcos Troyjo e Adriano Pires]


1. O liberalismo, um animal completamente desconhecido no Brasil
O Brasil está tão longe do liberalismo quanto a Terra está de Andrômeda, ou seja, é improvável que tenhamos a chance, a sorte, a inacreditável melhoria da situação sociopolítica e econômica em nosso país nas próximas décadas. Não pretendo ser pessimista, derrotista, ou catastrofista, mas o fato é que nem as nações ditas liberais, atualmente, são realmente liberais. Todas elas são, em maior ou menor grau, formações socialdemocratas, ou seja, economias de mercado com alto grau de intervenção estatal, obviamente em diferentes modalidades de dirigismo e com níveis também variados de carga fiscal, mas todas elas oscilando entre 30 e 50% do PIB. Não se pode, assim, acreditar que qualquer uma delas se aproxime de uma estrutura institucional identificada com o chamado “Estado Mínimo”, que supostamente equivaleria ao ideal pregado por alguns economistas clássicos, neoclássicos, das escolas austríaca, de Chicago, ou qualquer outra cultivando preceitos usuais dos liberais ou neoliberais.
Mesmo aquelas economias frequentando tradicionalmente e regularmente os primeiros lugares nos indicadores de liberdades econômicas, de competitividade e de bom ambiente de negócios – como Cingapura, Hong Kong, Nova Zelândia, Suíça, Emirados Árabes, Irlanda, Canadá ou Chile – não poderiam verdadeiramente ser classificados como “países liberais”, ainda que se aproximem de alguns critérios normalmente retidos nessas listas para identificar as economias mais abertas do mundo. Grande parte delas também padece de uma burocracia intrusiva, mas nenhuma delas consegue vencer o Brasil em matéria de surrealismo burocrático-kafkiano. Segundo leio no livro de meu amigo Marcos Troyjo, no ensaio introdutório ao Desglobalização, “nos últimos dez anos, o Brasil editou cerca de 4 milhões de normas. Mais de 800 por dia. Uma a cada 2 minutos.” (p. 16)
Não por outra razão, o Brasil se situa depois do 120o. lugar dentre 160 países aproximadamente, ou seja, no final do terceiro quarto nessas listas que trabalham sob diferentes critérios de natureza objetiva, isto é empiricamente embasada, ademais de avaliações do tipo qualitativo, ou de seja, de natureza mais impressionista. Em todo caso, quer julguemos o Brasil pelos relatórios do Fraser Institute (Economic Freedom of the World), do World Economic Forum (Global Competitiveness Report) ou do Banco Mundial (Doing Business), ou de nossa própria percepção e conhecimento direto da realidade brasileira, a situação do nosso país é propriamente deprimente, por qualquer lado que o julguemos.
Aliás, há duas maneiras, justamente, de avaliar o Brasil, e se pode até mesmo utilizar esses relatórios dotados de uma metodologia rigorosa, em seus diferentes componentes, para julgar e constatar o quanto o Brasil se afasta ou se aproxima, numa relação inversa de organização dos dados, de um bom ambiente de negócios, tendente, portanto, a uma democracia de mercado, ou, ao contrário, de um inferno terrível para os empresários, segundo outros dados. Com efeito, basta separarmos os indicadores setoriais usados nesses relatórios e os agregarmos sob dois critérios, micro e macro, ou seja, aqueles que dependem unicamente da performance das empresas, ou aqueles que, inversamente, dependem da ação do governo. Listando, portanto, o Brasil na primeira categoria veremos que a sua classificação tende a melhorar tremendamente, podendo se situar no final do segundo quarto, mas o mérito incumbe integralmente ao setor privado, que sabe ser competitivo mesmo num terreno hostil em termos de ambiente de negócios. Mas, se por uma infelicidade separarmos unicamente os elementos pertinentes ao setor estatal, aqueles dos quais nem indivíduos nem empresas conseguem escapar da sanha normativa e da voracidade arrecadatória do Estado, constataremos que nossa classificação pode ir para os últimos lugares da lista, tamanha é a ação deletéria do ogro famélico e do monstro burocrático que nos inferniza a existência, todos os dias, do nascimento à morte, de indivíduos ou empresas (aliás, nem na morte, de uns ou de outras, conseguimos escapar da abominável entidade que nos aprisiona).
Para não sermos totalmente pessimistas, não há como não reconhecer que existem, sim, liberais no Brasil. Eles são poucos, rarefeitos como essas espécies ameaçadas de extinção, mas que por incrível que pareça começam a florescer nas planícies, nas cidades, no cerrado central, em diversas partes do Brasil, e esse renascimento talvez possa ser creditado – como nas leis de consequências involuntárias – inteiramente aos companheiros que comandaram aos destinos do país entre 2003 e 2016, que nos levaram ao que eu chamo de Grande Destruição, ou seja, à pior recessão de toda a nossa história, nunca antes vista no país. Um deles foi liberal de nascimento, e morreu há dezesseis anos, e estaria completando cem anos, se vivo fosse, nascido em 1917, nas terras do Mato Grosso: eu quero referir-me, obviamente, a Roberto Campos.

2. Roberto Campos, 100 anos: atualidade de suas ideias
As principais ideias econômicas de Roberto Campos foram sendo formuladas ao longo dos anos 1950, paulatinamente a seus trabalhos no âmbito da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos e, imediatamente após, no quadro do BNDE, onde ele começa a trabalhar desde o seu início, designado Diretor Econômico. O que então caracterizava o seu pensamento era a mobilização da capacidade administradora do Estado para acelerar o processo de industrialização, por meio do planejamento indutivo e da atração de capitais estrangeiros, atuando na linha de um projeto nacional de desenvolvimento guiado pela racionalidade de resultados, antes que por um nacionalismo de intenções. Mas, por força de suas leituras e registros empíricos sobre os processos inflacionários ocorridos em outros países, Roberto Campos atribuía também grande importância à estabilidade macroeconômica, ou seja, ao equilíbrio fiscal e à contenção da inflação.
Tendo participado da formulação do Plano de Metas de JK, e depois de planos de estabilização feitos com Lucas Lopes, ministro da Fazenda de JK, e a pedido de Tancredo Neves, em 1961, quando este se preparava para assumir o cargo de primeiro ministro no gabinete parlamentarista de João Goulart, Roberto Campos adquiriu plena maturidade para formular ele mesmo um projeto de reforma completo da economia brasileira, por ele apresentado na primeira reunião de trabalho convocada pelo presidente Castello Branco, em 23 de abril de 1964. Nesse documento, intitulado “A Crise brasileira e diretrizes de recuperação econômica” – Anexo VII da Lanterna na Popa, p. 1353-1359 – Campos formula uma abrangente análise da crise conjuntural, das perspectivas para 1964, examina as raízes do desequilíbrio econômico e propõe um elenco de medidas corretivas, composto de combate à inflação (por medidas fiscais, de ação sobre as expectativas, ação emergencial sobre a oferta), de reativação da economia, de correção do desequilíbrio cambial e de inversão da crise de motivação, para trazer de volta os investimentos e a criação de empregos, com amplas reformas de estrutura.
Esse programa seria aplicado de maneira coerente no PAEG, mas sem o caráter de ajuste recessivo que economistas puramente monetaristas, ou então o próprio FMI, recomendavam, o que confirma o caráter eclético do economista-diplomata. Depois disso Roberto Campos se retira do governo e continua seu trabalho de explicação didática da economia por meio de seus livros – dois publicados com Mário Henrique Simonsen – e de seus muitos artigos publicados de maneira regular nos grandes jornais de São Paulo e Rio. Ele só volta realmente a propor um programa abrangente de correção dos desequilíbrios econômicos quanto pronuncia seu discurso inaugural no Senado Federal, em junho de 1983. Esse discurso, chamado de “As lições do passado e as soluções do futuro” constituiu, segundo suas memórias, “talvez a melhor peça que já escrevi, como síntese de problemas e propositura de soluções”. A despeito disso, ele não tardou a reconhecer que a sua “capacidade de análise e previsão era vastamente superior à [sua] capacidade de persuasão e mobilização” (A Lanterna na Popa, p. 1073). A importância desse discurso merece que suas propostas, formuladas portanto 34 anos atrás, sejam relidas, melhor conhecidas e talvez aplicadas, pois praticamente nenhuma delas conseguiu inserção nos muitos planos de estabilização ou nos programas de desenvolvimento econômico conduzidos desde então. Com a possível exceção do problema da dívida externa, relativamente desimportante atualmente, todos os demais pontos elencados nesse discurso, e na dezena de projetos de leis de reformas estruturais apresentados simultaneamente, poderiam ser implementados hoje em dia (aliás, estão sendo, como parcialmente nas reformas laboral e previdenciária).
Já seu discurso de despedida do Congresso, realizado em janeiro de 1999 na Câmara dos Deputados, representou um “melancólico pronunciamento”, uma confissão de fracasso, o de toda uma geração, que não conseguiu retirar o Brasil de uma condição de pobreza evitável para colocá-lo numa de prosperidade atingível, como ele mencionou em mais de uma ocasião. No intervalo entre um e outro se situaram batalhas épicas contra os descaminhos do desenvolvimento brasileiro, equívocos tremendos de políticas econômicas e setoriais, contra as quais ele se posicionou resolutamente em oposição, fazendo discursos de alerta e apresentando propostas alternativas, mas sendo sempre derrotado pela conjuração de néscios, ao ter de votar solitariamente, ou com apenas dois ou três colegas solidários no liberalismo, contra leis e outras medidas adotadas cujo desastre previsível ele anunciava com amargo sabor de desespero político e econômico.
Situam-se nesse universo de estupidezes legais, desde sempre ou como novidades dentro do atraso mental característico da classe política brasileira, o monopólio do petróleo, a lei de informática, o nacionalismo comercial e tecnológico, o protecionismo tarifário, o corporativismo dos mandarins do Estado contra a renda dos demais cidadãos, ou súditos do ogro famélico que ele denunciava sem cessar, e sobretudo o conjunto esquizofrênico de direitos e benesses concedidos no âmbito da Constituinte, que ele já antecipava como uma receita segura para preservar a pobreza geral, inviabilizar a formação de poupança para fins de investimento, destruir o equilíbrio das contas públicas, produzir inflação e de modo geral manter o Brasil isolado da economia mundial.  Os inimigos continuam os mesmos: nacionalismo rastaquera, protecionismo inibidor da inserção na economia global, estatismo excessivamente intervencionista nas atividades do setor privado, patrimonialismo das elites, corporativismo institucional, enfim o domínio da sociedade pelo Estado.
Registre-se que, em todos esses terrenos, Roberto Campos tinha razão antes da adoção das políticas equivocadas, durante a sua vigência desastrosa, e depois, quando depois de provocar os previsíveis efeitos nefastos, elas foram, no todo ou em parte, mudadas, eliminadas, parcialmente alteradas por revisões legais ou constitucionais posteriores. Subsistem ainda diversas generosidades irracionais no texto constitucional que continuam a produzir desequilíbrios nas contas públicas, como ele antecipava de modo lógico e racional, sem precisar de muitas provas empíricas para comprovar o acertado de suas críticas. Campos não apenas teve razão durante todo o tempo, mas também viu antes de todos os demais as consequências do caminho errado tomado pelo Brasil, e sobretudo viu mais e melhor do que todos os seus contemporâneos.
Mas registre-se igualmente que Roberto Campos teve a duvidosa “felicidade” de morrer antes da ascensão dos companheiros ao poder, que combinaram algumas das políticas erradas dos “estruturalistas” que ele combatia nos anos 1950, com o pior do intervencionismo estatal dos anos Geisel, sem ter a competência para administrar políticas públicas como feito durante a era militar. Se ele continuasse vivo durante toda a vigência do caos econômico criado pelas políticas esquizofrênicas do lulopetismo, até o paroxismo da Grande Destruição trazida não só pela velhíssima “Nova Matriz Econômica”, mas também pela incompetência gerencial, inépcia administrativa e inacreditável corrupção megalomaníaca dos aloprados do partido neobolchevique, Roberto Campos poderia ter morrido deprimido, ao contemplar tamanha destruição de riqueza em tão pouco tempo.
Um ano depois de seu discurso de despedida das atividades parlamentares, e um ano antes de morrer, Roberto Campos publicou um novo e contundente artigo, cujo título é apropriadamente “Repetindo o óbvio” (9/01/2001), no qual ele diz claramente, com todas as letras que “nosso grave subdesenvolvimento não é só econômico ou tecnológico. É político.” Ele listava então todas as graves deficiências da arquitetura institucional e da legislação político-partidária que atuavam como poderosos entraves ao desenvolvimento do país, muitas das quais são objeto dos atuais debates sobre reforma político-eleitoral. Ele terminava esse artigo num tom de lamentação que se aplica ainda hoje:
O mundo está cansado de esperar pelas “reformas” brasileiras. E de ouvir lamentações sobre a nossa pobreza. Há muito, exceto em regiões desérticas da África ou gravemente sobrepovoadas da Ásia, a pobreza deixou de ser uma fatalidade. É um acidente histórico de povos que preferem externalizar a culpa em vez de fabricar seu próprio destino.

Não há nenhuma dúvida quanto a isso: Roberto Campos continua atual, em seus diagnósticos dos erros cometidos pelas lideranças políticas e econômicas, em seus alertas sobre os desastres potenciais das políticas em vigor, em suas prescrições de urgentes reformas estruturais e em suas antecipações de possíveis caminhos que nos retirariam da pobreza evitável para nos lançar na construção da riqueza possível. Como aliás eu me esforcei de demonstrar no livro que organizei com a colaboração de muitos amigos: O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos (pela editora Appris, de Curitiba).

3. O que os empresários têm a ver com tudo isto? Muito...
Se leio o site do LIDE, o que vou encontrar? Esta declaração de valores e princípios:
O LIDE, fundado em 2003, é a mais influente organização privada que reúne líderes de empresas nacionais e estrangeiras com o objetivo de difundir e fortalecer os princípios éticos de governança corporativa no Brasil, promover e incentivar as relações empresariais e sensibilizar o apoio privado para educação, sustentabilidade e para construção de uma sociedade mais ética, desenvolvida, consciente e justa.

Ora, se percorro os relatórios e informes relativos às investigações da Operação Lava Jato, ou a outras investigações nas demais esferas desse imenso universo que parece constituir a corrupção organizada no Brasil – ou seja, crimes de colarinho branco, na acepção a mais ampla possível – não seria difícil encontrar várias, muitas empresas que frequentam os encontros do LIDE, empresas que devem contribuir para suas atividades e até conseguem, vejam só, fazer discursos que refletem perfeitamente a missão acima explicitada do LIDE, mas que na prática constituem nada mais do que pronunciamentos da mais alta hipocrisia, uma vez que sabemos que diversos, muitos executivos que assim se pronunciaram em público estavam, simultânea e dedicadamente, engajados em torpes negociações com políticos indignos desse nome, todos eles ativos habitantes desse imenso continente que constitui a propinocracia brasileira.
Vamos reconhecer, senhores, que existe algo de muito errado quando vemos, quando constatamos, em relatórios policiais, que vários líderes da economia brasileira, e supostamente líderes do LIDE também, conseguem ostentar uma imagem ética, limpa, hipocritamente seguindo os melhores princípios de governança corporativa defendidos pelo LIDE, quando ao mesmo tempo, na calada da noite, ou nos intervalos do dia, estavam ativamente engajados em corromper, em fraudar, em mentir, em elidir o Fisco, em transacionar com bandidos profissionais, cometendo, portanto, crimes econômicos, crimes políticos, ou vulgares crimes comuns, tipificados no Código Penal, o que lhes deveria garantir, hipoteticamente, várias décadas de cadeia firme.
Não vou me estender mais sobre este aspecto. Apenas vou terminar dizendo que Roberto Campos certamente ficaria tão deprimido quanto eu disse que ele ficaria, se tivesse vivido para assistir à Grande Destruição perpetrada por companheiros ineptos e corruptos, sobretudo nos últimos anos de comando político desta nossa nação por uma organização criminosa, se ele tivesse, igualmente, vivido para assistir a vários, a muitos, dos maiores capitalistas do Brasil envolvidos nas mais sórdidas transações criminosas com vulgares bandidos e com políticos de alto coturno, se ouso dizer. Ele poderia, da mesma forma, morrer deprimido.
O Brasil nunca mereceu o grande intelectual, o grande economista, o insigne diplomata que foi Roberto Campos, um dos maiores estadistas da segunda metade do século XX. Ele não o mereceria ainda hoje, pelo que se lê nos jornais, pelo que se sabe nas redes de informação, pelo que se assiste nas telas que nos invadem com mostras da mais pura desfaçatez política e empresarial. Espero que não estejamos muito longe do dia em que poderemos ler, ou reler, Roberto Campos, num ambiente mais propício à discussão de suas ideias e propostas para melhorar o Brasil.
Grato a todos pelo convite e pelo comparecimento.
Muito obrigado.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de maio de 2017

terça-feira, 9 de maio de 2017

Stefan Zweig ganha a Ordem do Cruzeiro do Sul postumamente

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso da atribuição que lhe confere o art. 84caput , inciso XXI, da Constituição, e na qualidade de Grão-Mestre da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, resolve
ADMITIR ,
a título póstumo, na Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, no grau de Comendador, STEFAN ZWEIG, escritor austríaco.

Brasília, 12 de abril de 2017; 196º da Independência e 129º da República.
MICHEL TEMER
Aloysio Nunes Ferreira Filho