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quinta-feira, 14 de outubro de 2021

O brasileiro voador e a marcha da insensatez - Paulo Roberto de Almeida (OESP)

O brasileiro voador e a marcha da insensatez

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

O Estado de S. Paulo (14/10/2021; ISSN: 1516-2931; página de Opinião; link: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,o-brasileiro-voador-e-a-marcha-da-insensatez,70003867264?fbclid=IwAR2CtQC_VxSzKho3HV5DS5skHx0OEPogkC7WxsvUz716DoccM06I3eEzl9A). Relação de Originais n. 3978.

  



O título evoca uma lenda e um livro de história. A lenda é a do Holandês Voador, um veleiro holandês do século 18, cujo capitão enlouqueceu ao singrar os mares sem destino, passando a atrair outros navios, arrastando-os a uma destruição certeira no fundo do oceano. O livro é o da historiadora americana Barbara Tuchman, A Marcha da Insensatez(1984), que trata dos erros, falhas, ilusões e até crimes de governos que insistem em se afastar da realidade dos fatos para perseguir suas alucinações na condução dos negócios do Estado. 

O presidente brasileiro é o holandês voador, que leva o veleiro do Brasil a uma destruição quase certeira, ao insistir em loucuras e erros de administração. Em lugar de tratar dos problemas do país – inflação, falta de crescimento, desemprego, pandemia, déficits orçamentários e aumento da dívida pública –, insiste em perseguir suas obsessões: armamentismo, voto impresso, devastação de reservas indígenas pela mineração e pelo garimpo ilegal, defesa de notícias falsas para seduzir e manter sua clientela, desprezo pela vida humana em face da pandemia e reeleição a todo custo, para escapar de processos por crimes cometidos, seus e da família. 

O Brasil é o veleiro desgovernado, levado ao vórtice de um afundamento por uma administração não apenas caótica, mas totalmente desprovida de direção, tendo no timão um desequilibrado, fixado apenas em suas obsessões. A insensatez do capitão do navio fantasma insiste em submeter dois outros poderes à sua agenda destrambelhada, na qual todos devem ceder à miragem de um crescimento imaginário, bastando explorar as fabulosas riquezas escondidas da Amazônia, liberdade total em meio à pandemia, sem limites às despesas do Estado, cada qual cuidando de sua segurança por meio de suas próprias armas. 

A visão do capitão do navio é a de uma guerra de todos contra todos, concepção hobbesiana da política, na qual ganha quem se impõe pela força das armas, não pela via do funcionamento das instituições, pelo respeito às leis estabelecidas, dentro dos limites do Estado. Tal visão confrontacionista foi pela primeira vez exposta no jantar na embaixada em Washington, em 2019, quando o capitão confessou sua visão peculiar como gestor, como sendo a de destruir muito do que existia, antes de se pensar em construir qualquer coisa. O que existia eram: direitos dos indígenas sobre suas reservas, limites à capacidade financeira do Executivo, preservação dos recursos naturais ou exploração sustentável, controle de armas, normas para tráfico e a segurança dos passageiros, inclusive crianças, livre trabalho de uma imprensa investigativa numa democracia sem adjetivos, enfim, o império da lei em lugar da imposição da vontade individual de um dirigente de plantão. 

O Brasil vem sendo levado à marcha da insensatez nos palanques eleitorais do capitão – sustentados com dinheiro público – assim como ao isolamento no plano internacional por sua postura desvinculada das boas normas do relacionamento diplomático e de compromissos internacionais já aceitos pelo Brasil, sobretudo nas áreas ambiental e de direitos humanos. A maior loucura foi o caos no enfrentamento da pandemia, levando o Brasil, com apenas 2,7% da população mundial, a exibir mais de 12% das vítimas da Covid, atrás apenas dos Estados Unidos, penalizado por uma mentalidade antivacinal. O capitão é o último negacionista do planeta. 

Até quando as instituições continuarão sendo atacadas pelo capitão, num desrespeito que beira o insulto e os ataques mais insidiosos? Até quando brasileiros ingênuos serão levados à morte pelo seu comportamento irresponsável na pandemia? Até quando continuará a comprar o apoio dos legisladores, violando o processo orçamentário? Até quando a diplomacia suportará as atitudes irresponsáveis do capitão no plano externo, deixando o Brasil isolado no diálogo com todos os seus grandes parceiros? 

A marcha da insensatez levou o veleiro do Brasil ao vórtice de um afundamento pela inflação crescente, pela fuga de capitais e de investimentos, pelo descontrole dos gastos públicos por motivos eleitoreiros, fatores que nada têm a ver com a agenda da retomada econômica. O desrespeito às instituições resulta da obsessão eleitoral de um capitão que navega errante, ao sabor das correntes políticas. O veleiro está perdido num oceano de incertezas, sem bússola e sem mapas de navegação, levado pelos ventos erráticos da vontade de um capitão que não tem a menor noção dos deveres dos governantes para com os governados. O declínio é visível e encomendado, dada a ausência de qualquer objetivo compatível com os interesses do país, um velejar incessante pelos mares da loucura autoproduzida por quem tomou a direção do veleiro nacional. 

Até quando a sociedade brasileira vai navegar ao sabor dos ventos, sem qualquer atenção a seus problemas mais prementes? Até quando vamos permitir essa marcha ao desastre? 


[Brasília, 3978: 20 setembro 2021, 2 p.]


Versão original:


O brasileiro voador e a marcha da insensatez

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

 

 

O título evoca tanto uma lenda quanto um livro de história. A lenda é a do Holandês Voador, o capitão de um veleiro holandês do século XVIII, que enlouqueceu ao singrar os mares sem destino, passando a atrair outros navios com sua luz bruxuleante e arrastando-os a uma destruição quase certeira no fundo do oceano. O livro é o da historiadora americana Barbara Tuchman, A Marcha da Insensatez (1984), que trata, da guerra de Troia ao Vietnã, dos erros, falhas, ilusões e até crimes de governos que insistem em se afastar da realidade dos fatos para perseguir suas próprias alucinações na condução dos negócios do Estado. 

O presidente brasileiro é o nosso holandês voador, que leva o veleiro do Brasil a uma destruição quase certeira, ao insistir em suas loucuras e erros de administração: em lugar de tratar dos problemas reais do país – inflação, falta de crescimento, desemprego, efeitos da pandemia, déficits orçamentários e aumento da dívida pública –, ele insiste em perseguir suas mais loucas obsessões: armamentismo, voto impresso, devastação de reservas indígenas pela mineração e pelo garimpo ilegal, defesa e promoção de notícias falsas para seduzir e manter sua clientela eleitoral, desprezo pela vida humana no enfrentamento da pandemia e reeleição a todo custo, para escapar de possíveis processos por crimes cometidos, seus e da sua família. 

O Brasil é o veleiro desgovernado que está sendo levado ao vórtice de um possível afundamento por uma administração não apenas caótica, mas totalmente desprovida de direção, conduzida por um desequilibrado que tem apenas em mente aquelas suas obsessões, em lugar da correta gestão do Estado. A insensatez do capitão do nosso navio fantasma insiste em submeter os dois outros poderes à imposição de sua agenda destrambelhada, na qual tudo e todos deveriam ceder à miragem de um crescimento fantástico, bastando que se explorassem fabulosas riquezas escondidas no fundo da Amazônia, que se deixassem todos livros para trabalhar em meio a uma pandemia, que não houvesse limites às despesas do Estado e onde todos seriam livres para garantir sua própria segurança individual e se defender com suas próprias armas às ameaças representadas pelos meliantes habituais das nossas cidades, ou que honestos agricultores possam enfrentar tropas do MST decididos a invadir suas terras. 

A visão bélica do presidente é a de uma guerra de todos contra todos, uma concepção hobbesiana da vida política, na qual ganha sempre aquele que se impõe com a força da vontade, não com o funcionamento correto das instituições, o respeito às leis estabelecidas e o atendimento dos limites das possibilidades do Estado. Essa visão confrontacionista foi pela primeira vez exposta no célebre jantar, em 2019, na embaixada do Brasil em Washington, na qual o presidente confessou sua visão peculiar de sua obra de gestor, como sendo, primeiro, a de destruir muito do que existia, antes de se pensar em construir qualquer coisa. O que existia eram os direitos dos indígenas sobre suas reservas, limites aos poderes administrativos e financeiros do Executivo, a preservação dos recursos naturais ou sua exploração de modo sustentável, o controle dos meios de matar, simples normas para a circulação de automóveis e a segurança dos passageiros, inclusive e sobretudo crianças, o livre trabalho de uma imprensa investigativa numa democracia sem adjetivos, enfim, o império da lei em lugar da imposição da vontade individual de um dirigente de plantão. 

O Brasil vem sendo levado a uma marcha da insensatez pelos palanques eleitorais contínuos do presidente – sustentados pelo dinheiro público – assim como ao isolamento completo no plano internacional por uma postura absolutamente desvinculada das boas normas do relacionamento diplomático e em relação a compromissos internacionais já aceitos pelo Brasil, sobretudo nas áreas ambiental e de direitos humanos. A maior loucura foi, evidentemente, o caos existente no enfrentamento da pandemia o que levou o Brasil, tendo apenas 2,7% da população mundial, a exibir mais de 12% das vítimas da Covid registradas no planeta, atrás apenas dos Estados Unidos, igualmente penalizado por uma mentalidade antivacinal e contrária aos cuidados sanitários básicos, que aqui é constantemente estimulada pelo próprio chefe de Estado, possivelmente o último negacionista do planeta. 

Até quando as instituições consentirão em ser atacadas por quem dirige um dos três poderes e deveria respeitar a independência dos dois outros, num desrespeito que beira o insulto e os ataques mais insidiosos? Até quando brasileiros ingênuos ou subservientes às loucuras do chefe de Estado serão levados à morte por um comportamento irresponsável na pandemia? Até quando os cuidados com os estratos mais frágeis da população continuarão a ser deixados de lado, ao mesmo tempo em que o chefe do Executivo insiste em comprar o apoio dos legisladores violando o processo orçamentário por condutos paralelos, clandestinos das verbas públicas? Até quando a cidadania responsável suportará as atitudes irresponsáveis do chefe de Estado no plano internacional, o que deixou o Brasil completamente isolado no diálogo com seus grandes parceiros tradicionais? 

A marcha da insensatez no Brasil levou o veleiro do país ao vórtice de seu possível afundamento pela inflação crescente, pela fuga continuada de capitais e de investimentos, ao descontrole dos gastos públicos por motivos puramente eleitoreiros, por uma série de outros fatores que nada têm a ver com uma agenda inadiável de recuperação econômica e de respeito ao funcionamento normal das instituições, em função da obsessão eleitoral de quem passa por chefe de um Executivo que navega errante, ao sabor das correntes da política. O Brasil está perdido num oceano de incertezas, sem bússola e sem mapas de navegação, levado pelos ventos erráticos da vontade de um homem que não tem a menor noção dos deveres dos governantes para com os governados. O declínio é visível e aparentemente encomendado, dada a ausência de qualquer objetivo compatível com os interesses do país, um velejar incessante pelos mares da loucura autoproduzida por quem tomou a direção do veleiro nacional. 

Até quando a sociedade brasileira vai navegar ao sabor dos ventos, sem qualquer atenção a seus problemas mais prementes? Até quando vamos permitir essa marcha ao desastre? 

 

 

Paulo Roberto de Almeida

[Brasília, 17 setembro 2021, 3 p.; 1000 palavras.]


Repensar las relaciones internacionales tras la pandemia - Bertrand Badie (Anuario Cidob 2021)

Repensar las relaciones internacionales tras la pandemia

CIDOB, Anuario Internacional 2021
Barcelona Centre for International Affairs
https://www.cidob.org/en/articulos/anuario_internacional_cidob/2021/repensar_las_relaciones_internacionales_tras_la_pandemia
Publication date:
07/2021
Author:
Bertrand Badie, profesor, Institut d’Études Politiques, París
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A lo largo de las últimas décadas se alcanzó un consenso prácticamente unánime entre profesionales y analistas de la política internacional: las relaciones internacionales podían ser interpretadas como una suerte de competencia ancestral entre estados-nación, abocados al cuestionamiento permanente del poder. Bajo este prisma, la paz se vio reducida a la simple ausencia de guerra, un precario, sutil y más bien cínico equilibrio de fuerzas que poco a poco derivó en el “equilibrio del terror” de la Guerra Fría. El único lenguaje aceptado fue el de los intereses nacionales contrapuestos, apoyados por recursos militares cuyo efecto disuasorio u ofensivo resultaba decisivo: ¡Thomas Hobbes podía descansar en paz, con la aureola del gran erudito de la filosofía política moderna! Se impuso la geopolítica, basada en el triple postulado de que las relaciones internacionales se regían por las normas del juego interestatal, la competencia por el poder y la afirmación y defensa territorial.

Sin embargo, ninguna de estas premisas nos sirve ya para comprender la complejidad del mundo actual. Todas ellas se han visto, como mínimo, cuestionadas, cuando no sacudidas o incluso fulminadas. Y posiblemente, la vertiente más trágica de las relaciones internacionales contemporáneas radica en la negativa casi dogmática de los príncipescontemporáneos a tomar en consideración estos cambios; su obstinada determinación en creer que el mundo de hoy se mide y se aborda como el de ayer. Si nos fijamos en los postulados de la descripción clásica del orden internacional, nada resiste el escrutinio contemporáneo: los estados ya no son los únicos actores significativos en las relaciones internacionales y el lugar de los militares es cada vez más incierto y menos decisivo, siendo la victoria en el campo de batalla un suceso excepcional. Paradójicamente, las potencias dan muestras de su impotencia, el equilibrio de fuerzas resulta inestable y los intereses nacionales se ven cada vez más superados por otros más globales y más solidarios con todo el planeta; en definitiva, las cuestiones prioritarias apelan más a la humanidad global que a la nación particular.

Rupturas cada vez más profundas

En realidad, este mundo hobbesiano o westfaliano (consagrado por la Paz de Westfalia, en 1648), que se creía eterno, pasará a la historia como una mera secuencia de la historia de la humanidad, aquella en la que Europa creyó confundirse con el mundo y forjó su configuración a partir de la lucha constante entre los nacientes estados-nación. Su posterior injerto en una América de radical europeo no modificó la situación. Sin embargo, tres factores han emergido para trastocarlo todo: la descolonización, la despolarización y, sobre todo, la globalización, sometida actualmente a un proceso crítico de revisión.

La descolonización fue la primera etapa de esta deconstrucción: aconteció de manera discreta y para muchos inadvertida, ya que se creía entonces –no sin cierta arrogancia– que era esencialmente un fenómeno “periférico”, que tenía lugar en el ignoto “tercer mundo”. Sin embargo, los procesos de descolonización daban ya pistas de las carencias del paradigma geopolítico de entonces: grandes potencias eran derrotadas por otras más débiles, naciones no occidentales ganaban relevancia en el sistema internacional, veíamos también a sociedades que se movilizaban al margen de los estados –de su diplomacia y de su ejército­, todos ellos fenómenos que se consolidaban ajenos a un sustrato westfaliano. Como consecuencia de la descolonización –que fue súbita e improvisada, se alumbraron estados con poca legitimidad y cuya capacidad redistributiva ha resultado ser tremendamente limitada.

En segundo lugar, la despolarización –resultante de la caída del Muro de Berlín en 1989, hizo que se derrumbara la última muralla hobbesiana. La bipolaridad, introducida tras la Segunda Guerra Mundial, prolongó artificialmente el juego geopolítico entre dos superpotencias militares confrontadas físicamente sobre el terreno en torno al denominado “telón de acero”. Hasta 1989, las dos potencias rivales se alimentaron mutuamente. La noción de los dos “bandos” en lucha encajaba perfectamente con la noción de los dos “gladiadores” que popularizó el Leviatán. Solo los gigantes militares debían ser tenidos en cuenta: los demás estados eran poco más que peones, despreciando el hecho de que algunos habían desarrollado ya una remarcable capacidad económica.

Sin embargo, ha sido la globalización –el tercer factor disruptivo– la que ha puesto todo el paradigma en tela de juicio. Aunque es difícil de definir, sabemos que sus principales elementos constitutivos son la inclusión, la interdependencia y la movilidad. Y la incorporación de un número cada vez mayor de estados a un único sistema interconectado ha provocado la revolución más profunda que haya afectado nunca al orden internacional: la creación de un descomunal sistema social de alcance planetario, que por ende, ha resultado también ser el más desigual de todos los sistemas sociales implantados hasta la fecha. Como consecuencia de la pléyade de desigualdades que se evidenciaron (económica, sanitaria o educativa) la agenda internacional se vio empujada a cambiar de rumbo: las cuestiones sociales internacionales fueron de repente más decisivas para la estabilidad y la paz mundial que los misiles acumulados aquí y allá, o que el sacrosanto equilibrio de poder. Por lo tanto, para sobrevivir, la diplomacia debería haber acompañado estos cambios, algo que en la práctica no ha sabido hacer.

Por su parte, el efecto de la creciente interdependencia ha sido notable y transformador: al relativizar la soberanía, ha ampliado la noción de dependencia, que ya no vinculaba solamente al débil con el fuerte, sino que ahora otorgaba también un valor a la relación inversa. Con el avance de la globalización, los poderosos de antaño han pasado a depender también, al menos en parte, de los más débiles. Los nuevos conflictos, generados por socios con modestas capacidades estratégicas, han tenido un efecto debilitador en las potencias consolidadas, como hemos visto en Irak, Yemen, Afganistán y el Sahel. Asimismo, el ciclo de las crisis económicas ha puesto cada vez más a los fuertes a merced de los más débiles; el viejo entramado de alianzas de protección se ha visto amenazado por la creciente autonomía de las potencias más pequeñas, como por ejemplo, en la relación entre Estados Unidos e Israel, cada vez más distante del modelo del “hermano mayor” protector que impone la línea a seguir.

Por último, la creciente movilidad de las personas, los bienes, las imágenes y las ideas, estimulados por el progreso tecnológico, los transportes y, sobre todo, la comunicación, especialmente la digital, está creando un nuevo mundo, alejado de la geopolítica de antaño y notablemente desterritorializado. Lo internacional es cada vez más virtual y menos territorial; las fronteras ya no son los instrumentos de control casi absoluto que fueron en su día, mientras que los imaginarios, las solidaridades e incluso las luchas se desnacionalizan cada vez más, rompiendo así los paradigmas del pasado como la vieja dupla “war-making/state-making” descrita en su día por el historiador estadounidense Charles Tilly 1.

La invención de la seguridad global

El concepto de seguridad, que en su versión tradicional era la piedra angular de las antiguas relaciones internacionales, también se está rediseñando por efecto del nuevo paradigma. En el esquema más clásico, la seguridad solo se concebía en términos nacionales. Se imponía como protección imprescindible en la beligerancia interestatal. De nuevo, y desde una perspectiva esencialmente hobbesiana, es por el mero hecho de existir el Estado que este ya está expuesto automáticamente a la amenaza potencial que le plantean sus semejantes. Si el pacto social reduce la probabilidad de violencia doméstica interindividual, la ausencia de un contrato entre soberanos los condena a vivir bajo la amenaza mutua y la inseguridad perpetua. La arena internacional ha sido durante varios siglos el escenario de los "estados gladiadores“ y ha configurado de este modo la geopolítica clásica. Sin embargo, como consecuencia de los nuevos factores que hemos identificado, ha surgido gradualmente un tipo diferente de seguridad, que ha reemplazado la tradicional amenaza nacional por una amenaza global. Cuatro parámetros inéditos han cambiado entonces la definición de la construcción de la seguridad tradicional.

En primer lugar, la amenaza ya no se basa únicamente en la presencia de un enemigo potencial o real. El vínculo absoluto que solía establecerse entre inseguridad y hostilidad carece de sentido hoy en día, puesto que el riesgo contemporáneo responde mucho más a las disfunciones del sistema que a las pérfidas intenciones de otros. La inseguridad sanitaria, la ambiental (responsable de cerca de 8 millones de muertes al año según la OMS) y la alimentaria (otros 9 millones de muertes anuales) se cobran hoy muchas más víctimas que la guerra y el terrorismo juntos. Y, sin embargo, un virus y su evolución hacia una pandemia, al igual que el cambio climático, son amenazas sistémicas cuyo detonante humano se explica más por la suma de negligencias individuales que por una hostilidad deliberada hacia una comunidad concreta. Sin embargo, ya sea por automatismo o por malicia política, vemos como de nuevo estas amenazas se procesan con el filtro de lo nacional, a menudo para estigmatizar al otro y cerrar filas –por ejemplo, hablando del “virus chino”– lo que resta más que suma a su resolución. En este contexto, el reflejo geopolítico busca más preservar el viejo orden que comprender y mitigar el impacto de las nuevas amenazas. Es por ello por lo que lo más sabio en este caso sería promover una disociación radical entre los dos conceptos: inseguridad y enemistad.

En segundo lugar, la inseguridad global ya no es fruto de una estrategia deliberada o de la feroz competencia entre estados. Sucede más bien al contrario, es la dinámica competitiva la que se vuelve disfuncional. Debido a que la noción de amenaza ha cambiado, la lógica de suma cero pierde su sentido: lo que yo gano ya no lo pierde necesariamente el otro, ni viceversa. La estrategia del jinete solitario se vuelve bruscamente contra quien la emplea. Ganar la “guerra de las vacunas” a costa de los demás es solo una victoria pírrica que, a la larga, aumenta la vulnerabilidad de quien toma la iniciativa. Sucede lo mismo con la deforestación masiva, que genera pingües beneficios a corto plazo que con el paso del tiempo son contraproducentes. En definitiva, las cuestiones de esta naturaleza no pueden resolverse a nivel nacional, sino que exigen mecanismos de gobernanza global eficaces y que adopten una perspectiva win-win, que resulta impopular entre los políticos ya que empaña su balance de resultados de corto plazo.

En tercer lugar, uno de los atributos de las nuevas amenazas es que tienden a desmilitarizar parcialmente las políticas de seguridad. Y esto da lugar a una paradoja importante: lejos de ser la expresión de una lucha por el poder, los nuevos conflictos surgen precisamente de las carencias y las debilidades del sistema, como la ausencia de seguridad global, alimentaria, económica o ambiental. Mientras que en el pasado los riesgos de seguridad internacional se abordaban esencialmente con intervenciones militares, la solución a estos nuevos conflictos reside más bien en actuaciones en el ámbito social.

Por último, estas nuevas amenazas ya no se dirigen contra un territorio limitado, sino contra la humanidad en su conjunto, y a pesar de los espejismos que prometen algunas opciones políticas, ni los muros ni el encierro son una protección efectiva. Los espacios abiertos se imponen a la territorialidad cerrada de ayer: donde antes el encierro ofrecía virtudes estratégicas, ahora es la integración la que aporta soluciones nuevas. Al mismo tiempo, la seguridad adquiere cada vez más importancia como bien común de la humanidad, entendida como una comunidad cada vez más definida e impulsada por la “solidaridad de facto” que surge de la exposición común a un mismo peligro, ya sea un virus, la hambruna, la contaminación o la desertificación. Esta comunalización de la seguridad es el sustrato de una cultura de seguridad compartida, una especie de opinión pública globalizada.

Sin embargo, en esta evolución de la seguridad tradicional, hablamos en todo momento de un proceso que sigue siendo frágil. La conciencia respecto a las nuevas amenazas ha surgido de manera progresiva y desigual. En relación con las cuestiones ambientales, las evidencias tomaron forma a finales de los sesenta, con los primeros vertidos de petróleo, como el del buque Torrey Canyon, de pabellón liberiano, que contaminó las costas de Francia y el Reino Unido en marzo de 1967. La conmoción fue grande; las imágenes de playas mugrientas y aves agonizantes tuvieron un profundo impacto sobre la opinión pública e impulsaron la creación de las primeras ONG ambientalistas, convirtiendo la defensa de la naturaleza en una causa mundial. Otras catástrofes de la misma índole, agravadas por distintas formas de contaminación, en Seveso (1976), Bhopal (1984) o Chernóbil (1986), también modelaron la percepción de inseguridad ambiental que nos ocupa en la actualidad. Ahora bien, la relación del público general con estas cuestiones siguió siendo algo distante, ya que la inmensa mayoría de la población mundial nunca se había visto expuesta directamente a catástrofes como las enunciadas. La concienciación era un fenómeno intelectual. Del mismo modo, también para los dirigentes, la gestión global de las cuestiones ambientales representaba un coste político importante, cuyos beneficios se dilataban a medio o incluso a largo plazo y, por lo tanto, fuera de los tiempos que marcan las lógicas electorales. Lo que en la práctica inhibía actuaciones efectivas más allá de promesas retóricas y compromisos vagos por los que seguramente no tendrían que rendir jamás cuentas.

La crisis pandémica actual debería haber tenido un efecto muy diferente. Por primera vez en la historia de la humanidad, el mismo riesgo y, de hecho, el mismo miedo, golpeó casi simultáneamente a toda la población mundial, sin excepción, y con una fuerza y una imprevisibilidad comparables, cebándose en ricos y pobres, fuertes y débiles, activos e inactivos. La amenaza sanitaria no ha sido abstracta ni teórica: ha creado un peligro íntimo y palpable. Aunque algunos gobiernos han intentado nacionalizarla e interpretarla según los parámetros de la vieja geopolítica, a nadie se le escapa que los impactos de la nueva seguridad han mutado y afectan a todas las dimensiones de la vida social. Todo el mundo ha asistido a la interacción acelerante de los peligros globales: la inseguridad sanitaria ha repercutido directamente en la inseguridad económica, agravando la pobreza y, consecuentemente, la inseguridad alimentaria y educativa. Tampoco ha pasado por alto su relación más o menos directa con la inseguridad ambiental. Sin embargo, lo que podría haber sido un punto de inflexión importante en el funcionamiento del sistema internacional, no tuvo el impacto transformador que cabría esperar. ¿Por qué? 

La rigidez del sistema internacional

Muchos creían que la pandemia, que surgió a principios de 2020, sacudiría el orden internacional, reformularía el concepto de seguridad global y expandiría la agenda y las capacidades del multilateralismo. Para sorpresa de algunos, no fue así: el nuevo paradigma no ha sido asumido por ninguno de los dirigentes del planeta; la OMS, en lugar de verse reforzada, se ha visto vilipendiada por su “incapacidad” e incluso ha sido acusada de plegarse a los intereses de alguno de sus estados miembros. Al mismo tiempo, en todas partes hemos visto resurgir los nacionalismos, buscando alimentar de nuevo la rivalidad internacional: la guerra de las mascarillas, la guerra de las pruebas diagnósticas, la guerra de las vacunas, el cierre de las fronteras, las mutuas acusaciones de responsabilidad de la pandemia o el cuestionamiento de las cifras oficiales son ejemplos de ello.

El retorno a la crispación del sistema internacional tiene fácil explicación. En primer lugar, se debe a un factor cultural, al del hábito de los estados westfalianos a medir cualquier fenómeno internacional en términos de poder y competencia. El “efecto poder” actuó en detrimento de los Estados del Viejo Mundo, agravando los efectos de la pandemia. También China hizo suya esta visión cuando buscó beneficiarse de una “diplomacia médica” tejida a conciencia. Sin duda, la sensación de emergencia favoreció el instinto conservador: había que reaccionar con rapidez y contundencia, y para ello se recurrió a las viejas prácticas de siempre en lugar de apostar por fórmulas menos ensayadas, pero más innovadoras. Y cómo no, algunos dirigentes no tardaron en recurrir a los chivos expiatorios de siempre para ganar puntos frente a la opinión pública: culpar a un contubernio de chinos, inmigrantes y extranjeros es un recurso que aún hoy sigue dando sus frutos.

Sin embargo, lo esencial se dirimió en otra parte. El sistema internacional no es solo una cuestión de cultura y costumbre: también está estructurado por instituciones y normas que canalizan el poder de unos y otros y, por consiguiente, también de aquellos cuya ocupación principal es no perderlo. Las grandes potencias se han distinguido así por resistirse a la idea de una gobernanza global, promovida por una coalición más poblada pero menos eficaz, que abarca al personal de las instituciones internacionales, la emanación de las sociedades civiles –especialmente las ONG, y también a algunas “potencias globalizadas” que intentan apoyarse en la globalización para lograr un nuevo estatus. Esta coalición no ha logrado transformar el núcleo duro del sistema internacional hasta la fecha, pero sí ha logrado dar visibilidad a la nueva agenda internacional, confiriendo todo el protagonismo a la idea de globalidad. Los primeros atisbos de esta coalición aparecieron en los años setenta y ochenta, cuando del seno de la “sociedad civil global” emergieron las primeras ONG con un alcance plenamente mundial (Greenpeace en 1971, Worldwatch en 1974, Conservation International en 1984, etc.), al tiempo que las Naciones Unidas se dotaron de comisiones de expertos y personalidades relevantes donde debatir acerca de cuestiones como el desarrollo internacional (por ejemplo, la Comisión Brandt), el medio ambiente (Comisión Brundtland) o la gobernanza global, creando el sustrato del informe Our Global Neighborhood (1995)2.

Todo ello dará lugar también a un nuevo lenguaje, una nueva gramática con la que la opinión pública mundial y una emergente clase política internacionalizada estarán cada vez más familiarizados. En la misma dirección apuntaron también el “Discurso del Milenio” de Kofi Annan, los ocho Objetivos de Desarrollo del Milenio (ODM) derivados de este, y los diecisiete Objetivos de Desarrollo Sostenible (ODS) que impulsó Ban Ki-moon en 2015 y que se fijaron como meta el 2030.

Sin embargo, pasar a la acción y producir políticas públicas realmente innovadoras ha resultado ser mucho más difícil. En relación con el multilateralismo de la ONU, las resistencias provienen esencialmente del Consejo de Seguridad, que se niega obstinadamente a redefinir y ampliar su concepción de la seguridad, y sigue anclado en nociones de 1945, basadas exclusivamente en el interestatismo, las relaciones de poder y la interpretación geopolítica y estratégica que imperaban al término de una sangrienta guerra mundial. Las cuestiones de seguridad humana no se introdujeron en el Consejo hasta muy tarde: por primera vez en julio de 2000 (Resolución 1.308 del Consejo de Seguridad de las Naciones Unidas) y en referencia a la epidemia de VIH/sida, especialmente aguda en África. Aunque el Consejo admitió entonces que la enfermedad era una amenaza para la paz y la estabilidad mundiales, apeló únicamente al riesgo que suponía para las tropas desplegadas en Operaciones de Mantenimiento de la Paz. Dos tímidas resoluciones sobre el ébola tampoco cambiaron la situación. El golpe final llegó en plena crisis de la COVID-19 cuando, en marzo de 2020, el Consejo no logró aprobar una resolución contundente sobre la amenaza letal que suponía para la humanidad. Del mismo modo, los devastadores problemas de seguridad alimentaria no se abordaron hasta mayo de 2018 (Resolución 2.417 del Consejo de Seguridad de las Naciones Unidas), ¡73 años después de la creación de las Naciones Unidas! Incluso entonces, el tema se abordó tangencialmente, para denunciar el uso del hambre como arma en los conflictos militares. Respecto a los debates ambientales, los primeros tuvieron lugar en 2007 y desde entonces han sido difíciles e intermitentes, llevando al delegado ruso, Vasili Nebenzia, a proclamar, en enero de 2019, que el examen de estas cuestiones por parte del Consejo de Seguridad era “excesivo” y “contraproducente”.

La inhibición del Consejo de Seguridad también tiene lugar respecto a la política exterior de los estados, sobre todo de las potencias clásicas; esta está estimulada por la ola neonacionalista y populista que avanza simultáneamente en las viejas potencias y en las emergentes (Brasil, India, Turquía, etc.). Este fenómeno se debe en gran medida a los excesos neoliberales de la globalización y a la dificultad que tienen los Estados para “globalizar” su poder, es decir, encontrar su encaje en el nuevo escenario global. En cambio, asistimos a un repunte de actores no estatales, de las interacciones sociales y de las movilizaciones ciudadanas que reaccionan a la polarización política: hoy en día, la esfera social se transforma más rápido que la política y le impone de facto reformas que no pueden subestimarse. La Primavera Árabetuvo su origen en movilizaciones sociales sin una organización política en la base. Todo el año 2019 estuvo salpicado de movimientos comparables en América Latina, Oriente Medio, el norte de África e incluso en Francia, donde proliferó el movimiento de los “chalecos amarillos”. Todos estos movimientos se han alimentado de la globalización, han aprovechado las oportunidades que brindaba y en ella han reflejado su crítica; junto a las ONG y a las redes globales, sostienen la defensa de un enfoque más social de las cuestiones internacionales y más abierto a las cuestiones planetarias.

Frente a ello, los estados han optado por la resiliencia, es decir, la capacidad de encajar los golpes y absorber sus impactos, para salvar el orden vigente y evitar transformarlo. La decisión frente a la disyuntiva entre abrazar el cambio o no, oscila entre dos visiones del futuro: por un lado, el miedo al desastre inmanente; por el otro, la creencia de que la reforma podría traer nuevas oportunidades. Ambas visiones tienen sus pros y sus contras: el miedo puede llevar tanto a una revisión de las prácticas y los instrumentos, como a la crispación y el repliegue nacionalista. La sensación de oportunidad puede llevar tanto a la adhesión a un nuevo orden percibido como más fiable como a la aparición de nuevos incentivos para volver a “ir por libre”. Será la historia la que tendrá la última palabra. 

Notas:

1- N. del E.: según el paradigma expresado por el historiador Charles Tilly, la construcción del Estado y el estado de guerra son dos dinámicas que mantienen una relación positiva, es decir, se refuerzan mutuamente. Tilly llega a preguntarse en un aforismo: “¿Quién fue primero, la guerra o el Estado?”

2- El informe se encuentra accesible en el siguiente enlace: http://www.gdrc.org/u-gov/global-neighbourhood/


Why Climate Policy Has Failed - William Nordhaus (Foreign Affairs)

 Foreign Affairs, Nova York – 12.10.2021

Why Climate Policy Has Failed

And How Governments Can Do Better

William Nordhaus

 

The world is witnessing an alarming outbreak of weather disasters—giant wildfires, deadly heat waves, powerful hurricanes, and 1,000-year floods. There can be little doubt that this is only the beginning of the grim toll that climate change will take in the years ahead. Today, the central question is whether our political systems can catch up with the geophysical realities that threaten our lives and livelihoods. As world leaders struggle to design and adopt policies that can slow the pace of warming and mitigate its consequences, the United Nations Climate Change Conference in Glasgow, Scotland, this November will be an important test.

How do we evaluate the success of past climate policies? The best indicator is carbon intensity, which is a measure of carbon dioxide emissions divided by global real GDP. Figure 1 displays the levels of carbon intensity between 1990 and 2019. There are small fluctuations in the annual changes, but the trend is basically a straight line showing a decline of 1.8 percent per year.

 

Figure 1. Trend in decarbonization, 1990–2019

Figure 1. Trend in decarbonization, 1990–2019

 

Why is this important? The central goal of climate policies is to bend the emission curve downward. Yet even with all of the international agreements of the last three decades—the UN Framework Convention on Climate Change of 1992, the Kyoto Protocol of 1997, the Copenhagen accord of 2009, and the Paris climate accord of 2015, along with 25 conferences of the parties—over the same period the rate of decarbonization has remained unchanged.

Why has there been so little progress? To begin with, the price of carbon dioxide emissions across the world is essentially zero, so there is no real market incentive to decarbonize. Second, our economies suffer from inadequate investment in low-carbon technologies because of misaligned innovation incentives. Finally, the entire structure of international policy is hampered by the syndrome of free-riding. Countries rely on others to act, a tendency that undermines the strength of climate agreements. Given these three problems, it cannot be a surprise that the world has made so little headway in slowing climate change.

Climate policy today must address all of these failures. A successful strategy must include three mutually reinforcing components: universal carbon pricing, robust government support for low-carbon technologies, and a new architecture for international climate agreements. Every pillar is necessary if the world is to stand a chance of meeting its climate objectives.

 

THE PATH TO TWO DEGREES

 

The internationally agreed climate target is to limit the global temperature increase to two degrees Celsius. Looking forward, what is necessary to attain that objective?Consider three scenarios. The top line in Figure 2 assumes no change to climate policy. With the current (minimal) policies in place at both the national and international levels, emissions of carbon dioxide equivalent (carbon dioxide plus other gases that produce warming effects) are projected to increase roughly one percent per year over the next five decades—trending up, not down.

The next scenario, shown at the bottom of Figure 2, is one in which the world meets the two-degree target. To stay on this path, emissions must decline sharply and immediately. Whereas current policies will result in a rise in emissions of almost 25 percent between 2015 and 2030, the two-degree path requires a decline of 30 percent by 2030 and reaches zero emissions shortly after midcentury.  

Finally, consider the path of emissions under the Paris accord, shown in the middle line in Figure 2. Emission estimates through 2030 reflect actual national commitments, while those after 2030 are projections assuming countries continue to deepen their commitments at the same pace as during the period between 2015 and 2030. The emission trajectory under the Paris accord is virtually flat, rising three percent from 2015 to 2030 and then declining slightly after that. Of course, these projections assume that the Paris commitments are actually fulfilled.

 

Figure 2. Three emission scenarios

Figure 2. Three emission scenarios

 

The main takeaway is that meeting the two-degree target cannot happen without an immediate and steep drop in emissions. Even if all countries meet their Paris objectives, that will reduce emissions only a fraction of the necessary amount.

We should recognize that some countries have moved beyond Paris in their domestic commitments. Many are aiming for zero net emissions by midcentury or shortly thereafter. These are soft commitments, however, lacking a binding international agreement and the actual policy mechanisms that will be necessary for implementation. The administration of U.S. President Joe Biden, for example, has promised deep emission reductions but has not put policies in place to meet those promises—no carbon pricing, no major increase in energy research, and no proposals to retool international agreements.

There is a vast chasm between aspirations and policies. Economic studies indicate that there are three steps countries can take to bridge the gap: price carbon emissions, promote low-carbon technologies, and improve the architecture of international climate accords.

 

THE IMPORTANCE OF CARBON PRICING

 

The single most important step to achieve climate objectives is to put a market price on the emissions of carbon dioxide and other greenhouse gases, such as methane. For succinctness, this is commonly referred to as a price on carbon. The fundamental economic logic is that raising the price of a good reduces consumption—whether that good is cigarettes, gasoline, alcohol, or emissions. A high carbon price is necessary if we are to change the behavior of thousands of local and national governments, millions of companies, and billions of consumers.

The power of carbon prices can be explained with the example of using coal for electricity generation. When burned, one ton of coal emits close to three tons of carbon dioxide. If the government levies $50 per ton of carbon dioxide emitted, this will add approximately $140 per ton to the price of coal. This will more than double the cost of coal-fired electricity. Producers would have a strong incentive to transition away from coal in favor of low-carbon fuels (such as natural gas) or renewable technologies (such as wind, solar, and nuclear power).

Other sectors will feel a smaller impact. A $50 carbon price would add $230 per year to the cost of driving a gasoline-powered car but only $1 to the average household’s annual cost of banking services. Across the economy, carbon prices tilt the playing field against emissions. The higher the price, the steeper the tilt.

A second point, which is less obvious, is that the carbon price needs to be equal across countries and sectors. It won’t do for some sectors, such as motor fuels, to have astronomical carbon prices while other sectors, such as electricity or aluminum production, have low ones. Harmonizing prices allows the world to attain its climate objectives at minimum cost. Calculations suggest that placing the burden of reductions on only half of all countries or half of all sectors will at least double that cost.

Meeting the two-degree target cannot happen without an immediate and steep drop in emissions.

How high a carbon price is necessary? Estimates of the “social cost of carbon”—which calculates global economic damage per ton of emissions—would suggest a price of around $50 per ton in 2021, rising to $85 per ton in 2050.

This price is unlikely to attain the two-degree objective or the target of zero net emissions by 2050, however. Doing either would require much higher prices. I estimate that these ambitious targets would require carbon prices of $300 to $500 per ton in 2030, rising as high as $1,000 per ton by 2050. But the estimates from different models vary widely because the technologies needed to reach zero emissions are still speculative.

In reality, carbon emission prices and the regimes under which they operate are completely inadequate. According to World Bank calculations, in 2019 the average global price was about $2 per ton of carbon dioxide. This is not even in the same universe as what is necessary. Low carbon prices are one reason why climate policies have been so ineffective.

There are dozens of carbon pricing plans in place in different regions of the world, each setting its own price and varying in terms of the share of the region’s emissions that are covered by the regime. The largest is the European Union Emissions Trading System (ETS), which operates as a multinational carbon trading scheme. Even the ETS, as impressive as it is, has two flaws. One problem is that the price is so volatile: it has varied from $4 to $75 per ton of carbon dioxide over the last decade. More important, the ETS covers only a fraction of the European Union’s economy—slightly less than half. Other regional carbon pricing regimes, such as the California cap and trade system, have a very high coverage rate but a very low tax. Still other systems, such as those of Sweden and Switzerland, have very high prices but very low coverage.

The policy necessary to meet international climate objectives looks very different from any regime currently in operation. It needs to have the price adopted by Sweden or Switzerland and the coverage rate of California—something like a price of $100 per ton of carbon dioxide and close to 100 percent coverage. High and harmonized carbon prices are key to climate change policy, but those that exist today tend to be low and fragmented.

 

GREEN R & D

 

Governments must also increase their support for low-carbon technologies. Just as countries used extraordinary incentives to develop COVID-19 vaccines in record time, we need to use all our ingenuity to accelerate the development of low-carbon technologies.

The reason for the urgency is that moving to a low- or zero-carbon global economy will require replacing large parts of our energy infrastructure and/or developing brand-new carbon-removal technologies. Fossil fuels accounted for 84 percent of the world’s primary energy consumption in 2019. By a rough estimate, it will take on the order of $100 trillion to $300 trillion in new capital to reach zero net emissions over the next four decades. And much of that new capital must come in the form of technologies that are largely unproven or immature today. Research and development is urgently needed to make this possible.

Why is government support necessary? From an economic point of view, R & D suffers from a severe externality in the same way that climate change does. The public returns on green innovation are much larger than the private returns. Indeed, there is a double externality for low-carbon R & D. Green inventors get only a small fraction of the returns on their innovations to begin with, and then the low prices of emissions exacerbate the problem.

Carbon capture and sequestration provides a good example of this double externality. Economic returns on the research and commercialization of CCS spill over to other firms and future consumers. But the captured carbon is worthless in most countries because carbon emissions are drastically underpriced, which makes investments in CCS commercially nonviable—and therefore out of the question in corporate boardrooms.

The same logic holds for advanced nuclear power, fusion power, and the burgeoning hydrogen economy: none of them have any advantage over fossil fuels as long as carbon prices remain low. Hydrogen will never be the energy carrier of the future when carbon prices are $2 per ton.

It should be emphasized that the primary requirement is support for research and development, not production. Developing new low-carbon technologies and energy sources is much more important than subsidizing the current generation of low-carbon equipment in cars, houses, and industry.

The U.S. government’s research budget today reveals misplaced national priorities. In 2019, federal R & D spending on military systems—such as aircraft, drones, artificial intelligence, robots, and nuclear weapons—totaled $60 billion. By contrast, advanced energy and renewables received only $2 billion in government R & D funding. While there may be political logic to this disparity, there is no societal logic to the imbalance given the climate threats the world faces in the coming years.

 

THE CLIMATE CLUB

 

Why have landmark international agreements such as the Kyoto Protocol and the Paris accord failed to make a dent in emission trends? The reason is free-riding—countries neglect to do their part, putting their national interests over global interests. A country displaying this syndrome might say not just “America first” but “America only.” Nationalist policies that maximize one state’s interests at the expense of others—beggar-thy-neighbor policies—are a poor way to resolve global problems. Noncooperative approaches to issues as diverse as tariffs, ocean fisheries, war, outer space, and climate change lead to outcomes that leave most or all nations worse off. The result of pervasive free-riding is that international climate policy has reached a dead end.

The fatal flaw in the 25 UN conferences leading up to Glasgow is that they are essentially voluntary. Countries may agree to take action, but there are no repercussions if they withdraw from the accords or fail to keep their commitments. When the United States dropped out of the Kyoto Protocol, there were no penalties. In every climate agreement to date, there have been no penalties for nonparticipation or for breaking promises. Voluntary climate change treaties produce very limited emission reductions—this is the lesson of both history and economic theory, and it is validated by the three-decade decarbonization trend shown in Figure 1.

 

Current carbon emission prices are completely inadequate.

 

One proposal to combat free-riding in climate treaties is what I have called a “climate club.” Scholars who study effective international agreements find they include sticks as well as carrots—that is, they set penalties for nonparticipants and rule breakers. Trade treaties and the World Trade Organization system epitomize such an approach. They require countries to make costly commitments that serve the collective interest, but they also penalize countries that do not keep their commitments.

This could be a template for an effective climate agreement. Take an example that we have modeled at Yale and that has been studied at other universities. Suppose a climate club agrees to establish a minimum target carbon price. Under club rules, countries would be required to impose a minimum domestic carbon price, say, $50 per ton of carbon dioxide, that rises over time. The implementation mechanism may vary by country—a government could decide to use a cap and trade or a carbon tax, for instance—and each country would keep its own revenues.

The new feature—and the key difference from existing climate agreements—is a penalty for nonparticipants and countries that fail to meet their obligations. In our analysis, this takes the form of a uniform tariff increase. Such a penalty is simple to administer and serves as a powerful incentive. Our modeling suggests that a carbon price of $50 per ton plus a uniform tariff penalty of three to five percent would be sufficient to induce strong participation in a climate club. Other projections have also found that the club can succeed in bringing most countries onboard if its initial members include key players, specifically China, the United States, and the European Union.

 

THE RIGHT POLICY MIX

 

The world has made little progress in slowing global warming. Even with all the policies implemented over the last three decades, the rate of global decarbonization is unchanged. If we hope to meet our climate objectives, we must enact a swift and sharp downturn in emissions.

An effective policy must introduce high carbon prices, harmonized across countries and across sectors. Actual carbon prices are virtually zero today; they should immediately increase to around $50 per ton of carbon dioxide and rise steeply after that. High emission prices will help remedy the problem of underinvestment in low-carbon technologies, but governments must provide additional support. Right now, countries severely neglect the fundamental energy research and development that will make possible a low- or zero-carbon economy. Finally, coordinating effective international policies will require some kind of club structure—an agreement that uses both carrots and sticks to induce countries to implement critical reforms.

High carbon prices combined with investment in low-carbon technologies and international participation in a climate club—this is the mix of policies we need to meet our ambitious objectives.

 

WILLIAM NORDHAUS is Sterling Professor of Economics at Yale University and a recipient of the 2018 Nobel Prize in Economics.

O Brasil e o mundo em 1822 (e nos 200 anos que se seguiram) - projeto de livro, Paulo Roberto de Almeida

 Um projeto feito cinco anos atrás e ainda não levado adiante. Será que dá para fazer para o ano que vem?


O Brasil e o mundo em 1822

(e nos 200 anos que se seguiram)

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

 [Esquema de livro, história de dois séculos]

Brasília, 24/07/2016

 

 

Esquema de livro para ser produzido paulatinamente e ficar pronto para 2020 ou 2021:

 

Prefácio

1. Dois séculos de grandes transformações e algumas coisas que nunca mudaram

            (rupturas e permanências numa trajetória de dois séculos)

 

2. O mundo e o Brasil na virada do século XIX

            (descrição política, econômica, diplomática do mundo, Portugal e Brasil)

 

3. Como o hemisfério americano se tornou independente 

            (da revolução americana de 1776 às independências latino-americanas)

 

4. A Europa ocidental ainda manda e desmanda no mundo

            (a dominação europeia de quatro séculos renovada na era imperialista)

 

5. Democracia e capitalismo nas origens das mudanças globais

            (da primeira revolução industrial à globalização do século XXI)

 

6. Como a Europa criou a sua própria derrocada nos assuntos planetários

            (dos conflitos estatais às guerras globais do século XX)

 

7. Alexis de Tocqueville e Raymond Aron, os pensadores da modernidade

            (como pensar o mundo do século XIX ao terceiro milênio?)

 

8. O Brasil e o mundo na terceira década do século XXI

            (resumo de uma trajetória exitosa, mas incompleta; o que falta fazer?)

 

 

Projeto de livro por Paulo Roberto de Almeida 

Esquema: Brasília, 24/07/2016