O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

seminário “A trilha Dubai-Baku-Belém: os desafios das negociações internacionais sobre mudança do clima” - IRICE-MRE-USP, 16-17/09/2024, Brasilia

 Um convite para um seminário relevante: 

O Instituto de Relações e Comércio Exterior, em parceira com o Ministério das Relações Exteriores e a Universidade de São Paulo, têm a honra de convidar V. Sa a participar do seminário 

A trilha Dubai-Baku-Belém: os desafios das negociações internacionais sobre mudança do clima

Minuta de programa e nota conceitual do evento seguem anexas (abaixo).

O seminário será realizado nos dias 16 e 17 de agosto de 2024 (segunda e terça feira), das 9h até às 18h30, em formato presencial, na Confederação Nacional da Indústria - CNI


SBN Quadra 01, Bloco C, Edifício Roberto Simonsen, Auditório Fábio de Araújo Motta, 15º andar.

O evento será transmitido pelo canal do Irice e da EACH-USP no YouTube. A gravação ficará disponível posteriormente.

Muito agradeceríamos confirmar participação presencial até 15 de setembro corrente pelo e-mail wduleba@usp ou pelo link de inscrição: aqui

https://docs.google.com/forms/d/1OdFR9ZNBUnaf_T9UuxtsieeS4y5YZU9Ere2nMUYKIsc/viewform?edit_requested=true

 

Atenciosamente,

Embaixador Rubens Barbosa (Irice) e Profa. Dra. Wânia Duleba (USP)


Programação: 


 EVENTO “A trilha Dubai-Baku-Belém: os desafios das negociações internacionais sobre mudança do clima” 

A 30ª edição da Conferência das Partes (COP 30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), prevista para ocorrer em Belém-PA, em 2025, marcará o início da segunda fase na implementação do Acordo de Paris. Na ocasião, é esperado que os países apresentem novas e mais ambiciosas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). No entanto, o aumento de ambição almejado para a COP 30 depende dos resultados alcançados nas edições de Dubai (COP 28) e, especificamente, de Baku (COP 29), onde serão definidos os principais assuntos sobre o financiamento climático que possibilitará novas NDCs aos países em desenvolvimento. 

Por esse motivo, o Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), em parceria com o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e a Universidade de São Paulo (USP), está organizando o evento A trilha Dubai-Baku-Belém: os desafios das negociações internacionais sobre mudança do clima” com o objetivo de analisar os principais assuntos negociados nas COPs mencionadas para subsidiar eventuais posicionamentos do governo brasileiro. 

O evento está estruturado em oito painéis que abordarão temas como financiamento climático; mitigação/NDCs; agricultura; petróleo e transição energética; nexo clima – oceano; adaptação e perdas e danos; transições justas/justiça climática, equidade e gênero. O evento contará com a participação de autoridades do governo federal e representantes da sociedade civil, academia, e de organizações privadas e não governamentais. 

A partir das discussões, será elaborado um policy paper de cada painel, que serão lançados em edição especial da Revista Interesse Nacional (TBC). O material do encontro será encaminhado ao Itamaraty que, em outubro, começará a receber informações para subsidiar as posições brasileiras nas COPs 29 e 30. 


Organização: 

Embaixador Rubens Barbosa (Irice) 

Profa. Dra. Wânia Duleba (USP) 


Apoio: 

Ministério das Relações Exteriores, SECLIMA 

Confederação Nacional das Indústrias 

Climate Emergency Colaboration Group Realização Apoio 


EVENTO “A trilha Dubai-Baku-Belém: os desafios das negociações internacionais sobre mudança do clima” 

Auditório Fábio de Araújo Motta, CNI DIA 01 

16/09/2024 


9:00 - 10:00 

Abertura 

Ministra Sonia Guajajara

  •  Emb. Rubens Barbosa, Presidente do Irice 
  • • Emb. André Correa do Lago, Secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente, MRE 
  • • Ana Toni, Secretária Nacional de Mudança do Clima, MMA 
  • • Emb. Tatiana Rosito, Secretária de Assuntos Internacionais, Ministério Fazenda 
  • • Davi Bontempo, Superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade, CNI 



 

  •  


Mitigação/ NDCs 

10:00 - 11:30 - Painel 1 “Aumentando a ambição na segunda rodada de NDCs” 

KN Speaker Thelma Krug, former Vice-President IPCC 

  • Thiago Barral, Secretário Nacional de Transição Energética e Planejamento, MME 
  • Claudio Providas, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD 
  • Tiago Ricci, Diretor da Systemica, Coordenador Projetos de Lei da Aliança Brasil NBS 
  • Ricardo Araújo, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI)
Moderadora: Dra. Thelma Krug, former Vice-President IPCC 



  •  



11:30 – 11:45 - Coffee break 

Agricultura 

11:45 -13:15 - Painel 2 


“Agricultura sustentável e segurança alimentar na trilha para Belém” 

  • José Carlos da Fonseca, Presidente da Empapel e Relações Internacionais da Ibá 
  • Fernanda Machiavelli, Secretária Executiva do Ministério de Desenvolvimento Agrário 
  • Bruno dos Santos Brasil, Diretor de Produção Sustentável e Irrigação, MAPA 
  • Juliano Assunção, Diretor executivo do Climate Policy Initiative 
  • Virginia Antonioli (WRI), Gerente Sênior de Sistemas Alimentares Sustentáveis WRI Brasil

  • Moderador: Embaixador José Carlos da Fonseca, Ibá
  •  


 

13:15 – 14:30 - Almoço 


Petróleo e Transição energética 

14:30 – 16:00 - Painel 3 “Como o setor petrolífero pode contribuir para o financiamento da transição energética; e como o Brasil deve se preparar para o fim da era dos combustíveis fósseis” 

  • Ana Toni, Secretária Nacional de Mudança do Clima, MMA 
  • Mauricio Tolmasquim, Diretor Executivo de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras 
  • Carlos Victal, Instituto Brasileiro do Petróleo 
  • Rosana Santos, Diretora Executiva do Instituto E+ Transição Energética 


Moderador: Ministro João Marcos Paes Leme, Diretor do Departamento de Energia, MRE 

16:00 – 16:30 - Coffee break 

Clima e Oceano 

16:30 -18:00 - Painel 4 “O nexo clima e o oceano nas COPs 29 e 30” 

  • Ana Paula Prates, Diretora do Departamento de Oceano e Gestão Costeira, MMA 
  • Leandro Pedron, Diretor Departamento de Programas Temáticos, DEPTE, MCTI 
  • Andrei Polejack, Diretor de Pesquisa e Inovação, INPO 
  • Moacyr Araujo, Vice-reitor UFPE e coordenador da Rede Clima 


Moderadora: Profa. Dra. Wânia Duleba, USP/Irice 

18:00 – 18:30 - Síntese dos painéis e encerramento 

DIA 02 

17/09/2024 

Financiamento climático 

9:00 – 10:30 - Painel 5 “A Nova Meta de Financiamento Climático e os resultados esperados para a COP de Baku” 

  • Livia Farias Ferreira de Oliveira, Coordenadora-geral de Finanças Verdes, Ministério da Fazenda 
  • Fernanda Garavini, Chefe do Departamento de Gestão do Fundo Amazônia, BNDES 
  • Maria Netto, Diretora executiva Instituto Clima e Sociedade, iCS 
  • Viviane Romeiro, Diretora de Clima, Energia e Finanças Sustentáveis, CEBDS 
  • Nicole Makowski, Climate Diplomacy Coordinator at GFLAC 


Moderador: Embaixador Rubens Barbosa, Irice 

10:30 – 10:45 - Coffee break 

Adaptação e perdas e danos 

10:45 – 12:15 - Painel 6 “Uma visão brasileira sobre adaptação e perdas e danos causados pela mudança do clima” 

  • Artur Cardoso de Lacerda, Director of Governance Affairs and Secretary to the Board, Green Climate Fund, UNFCCC 
  • Armin Braun, Diretor do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos de Desastres, CENAD 
  • Inamara Melo, Coordenadora Geral de Adaptação à Mudança do Clima, MMA 
  • Bruna Veríssimo, Divisão de Negociação Climática, MRE


Moderador: Ministro Mario Mottin, Chefe da Divisão de Ação Climática, MRE 

12:15 – 14:00 - Almoço 

Transição justa e equitativa 

14:00 – 15:30 - Painel 7 “O papel do Brasil na promoção de uma transição justa e equitativa” 

  • Monique Vanni, Country Director, Wildlife Works 
  • Marcio Astrini, Diretor executivo Observatório do Clima 
  • Anne Heloise, Centro Brasileiro de Justiça Climática 
  • Dinamam Tuxá, Coordenador Executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil APIB 
  • Lara Stahlberg, Chefe de gabinete, Igarapé 


Moderador: Marcio Astrini, Observatório do Clima 

15:30 – 16:00 - Coffee break 

Gênero 

16:00 – 17:30 - Painel 8 “A vez da mulher no clima: contribuições brasileiras à agenda de gênero e mudança do clima” 

  • • Maria Jocicleide Lima de Aguiar, Assessora de Meio Ambiente e Justiça Climática, Ministério das Mulheres 
  • Tatiana Castelo Branco - Coordenadora de Mudanças Climáticas da Prefeitura do Rio de Janeiro • Liuca Yonaha, Vice-Presidente do Instituto Talanoa 
  • • Letícia Santiago de Moraes, Secretária de Juventude do CNS 


Moderadora: Liuca Yonaha, Talanoa 

17:30 - 18:00 - Síntese dos painéis e encerramento 



quarta-feira, 11 de setembro de 2024

China's Eurasian Century? Political and Strategic Implications of the Belt and Road Initiative - Nadège Rolland (NBR Books)

  

China's Eurasian Century?: Political and Strategic Implications of the Belt and Road Initiative

by Nadège Rolland

NBR Books

https://www.nbr.org/publication/chinas-eurasian-century-political-and-strategic-implications-of-the-belt-and-road-initiative/

 

May 23, 2017 The National Bureau of Asian Research ISBN 978-1939131508

In this monograph, Nadège Rolland (NBR) examines the drivers and goals of China’s Belt and Road Initiative and argues that the initiative reflects Beijing’s desire to shape Eurasia according to its own worldview and unique characteristics.

 

China’s Belt and Road Initiative (BRI) has become the organizing foreign policy concept of the Xi Jinping era. The 21st-century version of the Silk Road will take shape around a vast network of transportation, energy, and telecommunication infrastructure, linking Europe and Africa to Asia and accompanied by strengthened monetary cooperation and increased people-to-people exchanges. Beijing sees physical infrastructure as a first step toward Eurasian integration, thanks in part to the creation of economic corridors that will enable greater regional policy coordination and foster a vibrant “community of common destiny.”

Drawing mostly from the work of Chinese official and analytic communities who are striving to make BRI a reality, this study examines the concept’s origins, drivers, and various component parts, as well as the accompanying ideational narrative and domestic and international objectives, as seen through Beijing’s eyes. While Beijing is selling the promise of economic development, its main focus is on the benefits that it hopes BRI will bring to China, not simply in the realm of economics but most importantly in the geopolitical domain. More robust engagement of the entire Eurasian continent through BRI is intended to enable China to better use its growing economic clout to achieve its ultimate political aims without provoking a countervailing response or a military conflict.

BRI thus serves the Chinese leadership’s vision of a risen China sitting at the heart of a Sinocentric regional order, the essence of Xi’s “dream of the great rejuvenation of the Chinese nation.” This vision reflects Beijing’s desire to shape Eurasia according to its own worldview and its own unique characteristics. More than a mere list of revamped infrastructure projects, BRI is a grand strategy that advances China’s goal of establishing itself as the preponderant power in Eurasia and a global power second to none.

POLICY IMPLICATIONS

  • Despite China’s official narrative, BRI is not simply an economic development project, nor is it value-free. Its ultimate purpose is to build a Sinocentric Eurasian order in which Beijing’s influence and power have significantly expanded, authoritarian regimes have been consolidated, and liberal norms have receded. Western governments need to recognize that such an outcome would be contrary to both their interests and their values.
  • BRI should not be mistaken for a generous aid program for the poorest countries in the region. Instead, the initiative will make it easier for Beijing to use its growing economic presence to coerce those who challenge its interests. Participation on China’s terms might have devastating consequences for the poorest economies in the region, which could find themselves saddled with unmanageable debt and forced to relinquish control over valuable national assets.
  • In order to provide third countries with options and alternatives, Western powers need to stay engaged in Eurasia. But they should hold fast to, and if possible revitalize, ideas and programs that they began to implement across the region at the end of the Cold War. Existing multilateral instruments and institutions that abide by high standards, such as the Asian Development Bank, the World Bank, and the European Bank for Reconstruction and Development, should be used as main conduits for Western investment in the region.
  • China needs the capital and cooperation of other advanced industrial nations to propel BRI’s projects and bolster its legitimacy. To that end, Beijing has launched a massive public relations campaign to portray the initiative as an opportunity not to be missed. Before agreeing to endorse or participate in BRI, Western countries should demand more transparency and higher standards from China. There should be no compromise about good governance, respect for human rights, environmental protection, and rule of law. Western countries should hold China to account on its pronouncements about shared interests and mutual benefits.

Table of Contents


Introduction
FREE INTRODUCTION

https://www.nbr.org/wp-content/uploads/pdfs/programs/chinas_eurasian_century_introduction.pdf

 

Chapter 1
Mapping the Silk Roads

Chapter 2
The Belt and Road Initiative: Bigger, Bolder, Better?

Chapter 3
Drivers of the Belt and Road Initiative
FREE CHAPTER

https://www.nbr.org/wp-content/uploads/pdfs/programs/chinas_eurasian_century_ch3.pdf

Chapter 4
A Vision for China as a Risen Power

Chapter 5
Hurdles on the Way

Chapter 6
Political and Strategic Implications of the Belt and Road Initiative

 

Nadège Rolland

 

Distinguished Fellow,
China Studies, The National Bureau of Asian Research

Programs

Political and Strategic Implications of a Chinese-led Regional Infrastructure

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Rubens Ricupero debate suas Memórias na Biblioteca que frequentou na infância: Biblioteca Mario de Andrade, SP

 Não poderei participar, e não parece ter transmisão live. Talvez algum video a posteriori.



terça-feira, 10 de setembro de 2024

Blogs de Paulo Roberto de Almeida desde 2003


Projeção internacional do Brasil sob Lula 3: uma entrevista concedida em setembro de 2023 - Paulo Roberto de Almeida

 Notas para uma entrevista que concedi um ano atrás, em setembro de 2023, a um jornalista estrangeiro, baseado no exterior (Paris), do qual nunca tive notícia de que tivesse sido aproveitada para alguma matéria. Como, aparentemente, minhas respostas às suas perguntas não foram publicadas, tomo a iniciativa de liberar o conteúdo agora, sem qualquer mudança ou acréscimo.

Projeção internacional do Brasil sob Lula 3

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Respostas a questões colocadas pelo jornalista Xxxx Xxxxx (Paris); sobre a política externa de Lula.

 

Notas para subsidiar entrevista oral com o jornalista Xxxx Xxxxx


1)       Durante sua história, o Brasil tem jogado um papel modesto no cenário mundial, apesar de seu tamanho. O país deveria estar mais engajado? Por quê? Quais seriam os benefícios? Como deveria proceder?

PRA: Um país não pode ser mais engajado nas grandes questões internacionais apenas pela vontade de seus dirigentes e do que o permitem sua dotação de fatores herdados, adquiridos ou conquistados; um papel mais ativo depende de sua interface econômica externa, em primeiro lugar, de sua participação nos grandes intercâmbios globais – em especial no comércio, nas finanças, mas também em inovação tecnológica, produção cientifica, projeção cultural – e, em última instância, capacidade própria em meios materiais de projeção, ou disposição e disponibilidade para fazer cooperação internacional, assim como na participação em operações multilaterais de manutenção ou imposição da paz, segundo as regras definidas diplomaticamente na Carta de San Francisco, e administradas pelo Conselho de Segurança da ONU. 

Ora, a capacidade que tem o Brasil em todas essas categorias é modesta, em alguns casos praticamente inexistente; primeiro pelo seu nível de desenvolvimento econômico, pela dimensão média de suas forças militares e pelos recursos limitados devotados à cooperação internacional; depois pela sua contribuição também modesta para o estoque mundial de conhecimento tecnológico (patentes) e mesmo contribuições culturais ou literárias. O Brasil não tem, por exemplo, nenhum Prêmio Nobel, em qualquer categoria, ainda que já tenha uma participação razoável nos indicadores mundiais, aferidos, de Ciência e Tecnologia, mas com pouca dispersão no campo de sua competitividade internacional. Isso se dá em função dos níveis muito deficientes de educação em geral, em especial as bases frágeis de sua educação de massa, que é de baixa qualidade e que se reflete nos escalões superiores de ensino e explica nos níveis baixíssimos de produtividade do capital humano.  

 

2)       Por sinal, de uma gestão para outra, sempre haja mudanças abruptas na política externa brasileira. Isto seja um problema?

PRAPaíses parlamentaristas apresentam sempre maior continuidade nas grandes linhas de sua política externa, o que também se reflete, em grande medida, no presidencialismo americano, que também tem forte base congressual. Países presidencialistas típicos, como os da América Latina, apresentam propensão mais forte à descontinuidade na política externa, que é sempre definida pelo chefe de Estado e de governo, pois a diplomacia é meramente operacional, sendo uma ferramenta dócil a serviço das preferências do líder, que pode ser, como já ocorreu diversas vezes, um populista – de esquerda ou de direita – interessado mais no seu prestígio ou projeção pessoal, do que nos fundamentos sólidos de uma diplomacia dotada de credibilidade e consistência, ou seja, sem saltos bruscos, como soe ocorrer em presidências muito personalistas. 

 

3)       O Lula parece dar bastante prioridade aos temas internacionais. Por exemplo: COP 27 Egito, proposta de paz na Ucrânia, Cúpula do BRICS, Cúpula dos Países da Amazonia, etc. Como avaliar sua atuação até o momento?

PRA: Lula sempre foi personalista, extremamente cioso de sua imagem no mundo, na própria região, e até um pouco megalomaníaco, interessado em ganhar prestígio para si próprio, até superar Getúlio Vargas, o grande estadista-ditador brasileiro no século XX, e até Fernando Henrique Cardoso, de grande reputação internacional pela sua carreira acadêmica, inclusive em universidades do exterior. Nos dois mandatos anteriores (2003-2010) tentou “pacificar” conflitos na região e até no mundo (Palestina, por exemplo, ou até a questão do programa nuclear iraniano), como forma, talvez, de ganhar para si um Prêmio Nobel da Paz.

Na sua volta ao poder, em terceira encarnação como Lula 3, tenta reeditar sua diplomacia extremamente ativa, de muitas viagens e visitas, e várias iniciativas próprias, na região (Unasul, na América do Sul), no chamado Sul Global (reuniões entre presidentes da América do Sul e seus contrapartes africanos e árabes), agora em direção do mundo inteiro, mas em condições totalmente diferentes daquelas prevalecente no início do milênio. Naquela época, tomou várias iniciativas, como a do IBAS (com Índia e África do Sul), a do G4 (com Alemanha, Índia e Japão, para a reforma da Carta da ONU e ampliação do seu Conselho de Segurança) e, sobretudo, a transformação do antigo BRIC – uma mera proposta de carteira de investimentos dirigido a fundos financeiros – em foro diplomático, numa negociação direta entre Celso Amorim, seu chanceler e atual assessor presidencial, e Sergei Lavrov, com a adição da China e da Índia, ampliado para BRICS, com a adição da África do Sul em 2011, pelas mãos da China, que agora pretende ampliar o BRICS ainda mais. 

Na atualidade, o Brasil mudou, a América do Sul e a América Latina mudaram muito, e o mundo não é mais o mesmo, mudado para bem pior, com a postura agressiva da Rússia e a crescente preeminência econômica e comercial da China, candidata a nova Hegemon mundial até 2049, o centenário da dominação do Partido Comunista no gigante asiático. As duas reuniões de cúpula convocadas por Lula no primeiro semestre de 2023, com países da América do Sul, ficaram aquém dos seus objetivos políticos e diplomáticos. Na primeira, na qual pretendia retomar a Unasul, limitou-se a uma resolução aprovada pelos dirigentes da América do Sul tendente a atribuir a uma comissão a tarefa de propor sugestões sobre as novas bases da coordenação regional; foi inclusive contestado por dois dirigentes de esquerda – Gabriel Boric do Chile, Gustavo Petro da Colômbia –, assim como pelo menos um de direita, o presidente Lacalle Pou do Uruguai, em sua tentativa de reintegrar a ditadura chavista da Venezuela como parte da família “democrática”, simultaneamente à indefensável defesa das ditaduras cubana e nicaraguense. Na segunda, voltada para os países membros da OTCA, a organização do tratado de cooperação amazônica, Lula tampouco conseguiu um desejado consenso em sua proposta de fim do desmatamento florestal até 2030, mas também se desentendeu com Gustavo Petro, que pretendia o fim da exploração de petróleo na região, em lugar de uma lenta defasagem, como quer Lula, interessado nas rendas do produto em plataformas de exploração próximas da foz do rio Amazonas.

Sua proposta de paz na Ucrânia, por meio de um mal definido “Clube da Paz”, apresentada ainda na campanha presidencial de 2022, foi muito mal recebida pela imensa maioria dos países ocidentais, apoiadores declarados da Ucrânia na guerra de agressão deslanchada pelo criminoso de guerra Putin, inclusive porque Lula disfarçou muito mal sua hipócrita neutralidade de apoio objetivo à Rússia (Bolsonaro já importava fertilizantes e combustíveis, para fins propriamente eleitorais, e Lula aumento exponencialmente a compra de petróleo e diesel russos, provavelmente pelos vínculos estabelecidos em caráter pessoal com o tirano russo, desde a primeira faze do BRIC).

A diplomacia lulista tem grandes chances de obter sucesso no pano mundial se atribuir ênfase aos temas tradicionais de Lula de combate à pobreza e redução das desigualdades sociais entre países ricos e pobres, assim como nos novos temas da sustentabilidade ambiental, mas seu apoio declarado aos projetos de uma “nova ordem global” notoriamente em favor da contestação chinesa e russa da “hegemonia ocidental” tem minado sua imagem junto aos líderes das grandes potências ocidentais. Sua insistência em se atribuir um papel de representante de um diáfano Sul Global também tem sido vista com desconfiança, assim como sua propensão em ver o dólar substituído por outras moedas, ou por uma moeda comum do BRICS, um objetivo considerado inatingível no curto prazo pela maior parte dos analistas econômicos. 

 

4)       Proponentes de mais e melhor engajamento argumentam, entre outras coisas, poderia facilitar a entrada de capital estrangeiro. Concorda ou não?

PRA: Lula parece apostar na capacidade chinesa de financiar seus grandes projetos de “reindustrialização” do Brasil, uma meta extremamente difícil, entre outros motivos pelas próprias características dos investimentos externos chineses, mais interessados em projetos de infraestrutura e de abastecimento em matérias primas para sua gigantesca máquina industrial. Ele parece acreditar num inevitável declínio americano ou ocidental, mas também exibe preconceitos antiamericanos indisfarçáveis, mesmo não sendo um esquerdista clássico. Na verdade, Lula e os petistas preservam as mesmas crenças anacrônicas num forte capitalismo nacional, guiado e apoiado pelo Estado, as mesmas concepções cepalianas e unctadianas do passado, também características do terceiro-mundismo típico da Nova Ordem Econômica Internacional, dos anos 1970. Ele deseja investimentos estrangeiros, desde que alocados aos setores que o governo petista considera “estratégicos” para o Brasil, opondo-se, por exemplo, a uma abertura econômica e liberalização comercial nos moldes dos países da OCDE. 

 

5)       Depois da pandemia e a guerra no Ucrânia, alguns observadores esperavam mais investimentos no Brasil para melhorar os supply chains e compensar pela falta de grãos. Investimento nos mercados de capitais acostuma preceder o FDI. Até momento, nada de grande movimento. Como explicar?

PRA: O ambiente de negócios no Brasil ainda é extremamente burocratizado, e marcado por mudanças contínuas nas regras tributárias, além de certa volatilidade nas políticas econômicas setoriais (e até nas políticas macroeconômicas, aqui oposta à independência do Banco Central). O Brasil se tornou um país muito caro e burocrático para os empreendedores nacionais e estrangeiros, com uma carga fiscal muito elevada, um Estado muito intrusivo e baixa qualidade do capital humano. A corrupção nos negócios estatais e até privados continua sendo um problema, assim como a clara ausência de visão dos dirigentes nacionais quanto às grandes linhas de uma política de desenvolvimento coerente com o papel e as capacidades próprias do Brasil na economia interdependente global.

 

Paulo Roberto de Almeida

São Paulo, 4466, 02 setembro 2023, 5 p.


 

 

Maduro segue os passos do ditador Chávez: matérias de 2005 sobre a construção da ditadura bolivariana

 Dos meus arquivos implacáveis: matérias de 2005, ou seja, mais de 11 anos atrás, quando Chávez, com o apoio material, logístico e intelectual da ditadura de Fidel Castro, deu os passos decisivos para consolidar um regime ditatorial, com total apoio do governo de Lula 1 (2003-2006).

Paulo Roberto de Almeida

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Jornal Valor Econômico - 12/04/2005 - Editorial

 

Chávez dá novos passos em direção à ditadura

 

A Venezuela caminha para uma ditadura ou uma nova fase de mais instabilidade política, ou ambas. A trajetória crescente de radicalização interna do presidente Hugo Chávez está perto de destruir os poucos vestígios de democracia de sua "revolução bolivariana" para mergulhar em uma aventura autoritária. O principal artífice da instabilidade é o próprio Chávez. A decisão oficial de criar milícias civis armadas é um passo largo em direção à intimidação política e à conquista de um poder pessoal no pior estilo dos caudilhos que infernizaram o continente no século passado.

 

O decreto que criou as milícias, que poderão agrupar 1,5 milhão de pessoas, diz que sua função será a de "ajudar na defesa e sustentação da segurança da nação" e "integrar progressivamente a sociedade civil ao exercício do dever de co-responsabilidade na manutenção da paz nacional". Os objetivos são claros e não se restringem ao temor sempre presente de Chávez de ser assassinado por inspiração do governo de George Bush ou de ter seu país invadido pelos marines. A manutenção da "paz nacional" poderá se dar a partir de agora com ruidosos chavistas armados atemorizando a oposição ao governo, que vem minguando a olhos vistos, ao passo que o presidente concede a si mesmo cada vez mais poderes.

 

A trajetória do mandonismo de Chávez segue passos lógicos e céleres. O plebiscito convocado pela oposição para destroná-lo fracassou. Na sua esteira, em vez de gestos conciliadores, o presidente fechou progressivamente o caminho institucional para a manifestação dos partidos políticos que não aceitam seus preceitos. Em um país onde o Estado é o maior dono das terras, iniciou-se uma reforma agrária com o confisco de fazendas de propriedade de estrangeiros. A reforma educacional recém-encaminhada pelo presidente pode abrir caminho à lavagem cerebral típica de regimes stalinistas em decomposição. O passo mais grave, porém, foi a legislação aprovada pelo Congresso que torna objeto de retaliação do Estado manifestações típicas da democracia, como críticas ao presidente ou realização de passeatas em defesa de reivindicações políticas ou econômicas.

 

Após fracassar em uma tentativa de golpe de Estado, Chávez foi levado à presidência pelas urnas em 1998 e parece decidido a se perpetuar no poder. Há poucas dúvidas de que conseguirá se reeleger por um período de mais seis anos em 2006. Seu populismo autoritário não faz mal apenas às instituições políticas, mas se estende à economia, onde está minando as forças da fonte quase única de recursos do país - a estatal de petróleo PDVSA. Há sinais de que a empresa começa a sofrer de penúria de capitais para cumprir sua meta de chegar a produzir 5 milhões de barris por dia em cinco anos. Segundo a revista americana "BusinessWeek", alguns importantes poços estão tendo seu nível de produção reduzido em um quarto a cada ano e o número de novas perfurações para novos poços caiu pela metade entre 1997 e 2005.

 

Chávez resolveu também apertar o cerco às companhias estrangeiras de petróleo, que respondem por quase metade da produção. Ele elevou os royaties de 1% para 16,6% das empresas que operam na bacia do Orinoco e estabeleceu que novas parcerias terão termos mais favoráveis ao governo - 30% de royalties e 51% de participação da PDVSA. Com a produção estabilizada ou cadente e medidas que afugentam investidores, o governo venezuelano poderá em breve ficar com recursos menores para programas sociais.

 

Durante décadas, conservadores e liberais esbanjaram as receitas de petróleo venezuelano e deram às costas à miserável população do país. A eleição de Chávez rompeu com esse esquema político decrépito, que sofreu novo revés com o golpe de Estado fracassado de 2003. Chávez está sendo incapaz de livrar-se da dependência do petróleo e de dar novas esperanças e força ao jogo democrático. Ao retirar o monopólio da força do Exército e ameaçar deslocá-lo para as milícias sob comando de acólitos, Chávez está mexendo com fogo e incentivando insatisfação entre os militares, que lhe foram leais até agora. É uma jogada de altíssimo risco.

 

O aventureirismo de Chávez tem contado com o beneplácito do governo Lula, que dá um manto protetor retórico à escalada ditatorial do vizinho. "Não aceitamos difamações contra companheiros", disse recentemente Lula, diante do primeiro-ministro espanhol, José Luiz Zapatero. Resta saber o que ele fará diante da verdade. Há riscos para a democracia na Venezuela e a diplomacia brasileira, por enquanto, dá a Chávez atestados de bom comportamento.

 

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Diego Casagrande, 13.04.2005, 16h06

O FAROL CHAVISTA

por Denis Rosenfield, filósofo

 

A ascensão de Hugo Chávez ao poder e a sua forma de conservação expressam o grande sonho da esquerda latino-americana. Nem nos seus maiores devaneios, ela considerou possível que a conquista do poder por meios democráticos redundaria com tanta perfeição na supressão dessa mesma democracia. Habilidoso no discurso e nas manobras, o ditador tem conseguido passar a imagem de que governa democraticamente, com o povo, quanto tudo faz para enfraquecer as instituições republicanas, abrindo a via para o exercício autocrático do poder. Só os incrédulos e os de má-fé acreditam que tudo está normal na Venezuela. Incrédulos, porque não crêem que um processo democrático possa conduzir dessa maneira à abolição da democracia. A ascensão de Hitler ao poder seria um desses exemplos. E os de má-fé são aqueles que sabem que não se trata de democracia, porém fingem o contrário. A instauração de um regime próprio da esquerda autoritária ou totalitária, como os que povoaram os horrores do século XX, aparece, então, como a consumação da igualdade.

 

O recente episódio de compra de armamentos é apenas o último dos atos que comprovam o processo revolucionário em curso. Que a Venezuela compre aviões de reconhecimento ou barcos que ajudem a defender as suas fronteiras é um ato próprio, normal, de um país soberano que cumpre com certas de suas funções. Comprar, no entanto, 100.000 fuzis AK-7 com o propósito de armar milícias populares revela a execução de um velho preceito marxista-leninista, cubano ou maoísta, o de formar um para-exército que responda às ordens diretas do Líder máximo. A melhor forma de conservação de uma ditadura consiste no aperfeiçoamento de seus métodos repressivos, tanto mais eficientes que eles se apóiem em milícias populares, que fazem o arremedo da “soberania do povo”. Nada disso é novo historicamente, pois Fidel Castro consegue, policialmente, arrebanhar multidões, como o fizeram Mussolini, Stálin, Hitler ou Mao. Trata-se aqui da encenação autoritária ou totalitária da “democracia popular”.

 

Contudo, nada disto foi feito sem preliminares “jurídicas” e “civis”. O Supremo Tribunal teve o número de seus juízes substancialmente aumentado, de tal maneira que os novos juízes chavistas, de extrema obediência ao ditador, fossem maioria. Dessa maneira, qualquer ato arbitrário de Hugo Chávez se torna potencialmente, senão efetivamente, “legal”. A esquerda latino-americana, fã desses engodos, sempre poderá dizer que o “estado de direito” foi respeitado. No mesmo diapasão, foi “aprovada” pelo Legislativo, também totalmente controlado pelo Líder máximo, uma lei que pune severamente todo aquele que proferir uma palavra contrária ao Chefe ou uma declaração que por esse seja considerada danosa para sua figura. A liberdade de imprensa e de expressão em geral foi severamente limitada, apesar de várias manifestações indignadas de órgãos de defesa dos direitos humanos e de liberdade de expressão. Ou seja, um direito civil básico foi “legislativamente” suprimido, obedecendo ao ritual “democrático” de uma ditadura.

 

Nada disto, no entanto, seria de espantar se a nossa diplomacia e um setor considerável do PT não considerassem tais atos como perfeitamente normais. O anormal do ponto de vista democrático ganha o contorno do terrivelmente normal, o da normalidade dos regimes de esquerda autoritária ou totalitária. Quando lemos ou ouvimos declarações de altos responsáveis de nosso governo aceitando ou elogiando a política chavista, não podemos deixar de nos perguntar se essa ausência de condenação não á uma forma indireta de aprovação ao que lá está acontecendo. A atuação de nossa diplomacia em relação à Venezuela, controlada diretamente pelo Palácio do Planalto, expressa o que muitos desse governo pensam. Se acrescentarmos a isso que em torno de um terço dos membros do PT comunga dessas mesmas posições, constataremos que a esquizofrenia política atual também se nutre de outros modelos. Enquanto a esquerda brasileira não fizer o luto de suas posições passadas, o farol de Chávez continuará despontando no horizonte.

 

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Diego Casagrande

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