O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Prata da Casa: sempre na vanguarda dos downloads - Paulo R. Almeida (Academia.edu)

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Your most popular paper for the week was 22) Prata da Casa: os livros dos diplomatas (Edição de Autor, 2014), which had 26 views.



Mini-reflexao sobre o momento presente, em algum lugar perto daqui...

Mini-reflexão sobre o momento presente em certo país perdido e ainda indeciso quanto ao seu futuro:

O Estado Islâmico Companheiro aspira a muito mais do que simplesmente conquistar territórios, dominar instituições, sequestrar pertences, escravizar indivíduos, expropriar suas crianças e estatizar as suas riquezas. Tudo isso é material e secundário.
Eles planejam monopolizar os corações e mentes, determinar as paixões permissíveis, separá-las das politicamente incorretas, para corrigi-las ou eliminar estas últimas (o que só se pode fazer obliterando, literalmente, os seus donos), determinar o que pode ou não pode ser pensado (sobre eles próprios e sobre tudo o mais), o que deve ser escrito e o que eventualmente será guardado (sendo que grande parte sequer merece registro escrito, e torna-se por todo o mais etéreo),  e ainda bem mais do que isso.
Em duas palavras, e resumindo, eles planejam concentrar poder e abolir a História.

Paulo Roberto de Almeida 
Hartford, 28/07/2015


Complemento:

Mini-reflexão sobre a queda de Roma:

Não foi exatamente aquela invasão estilo Hagar, quando os bárbaros batem às portas, com seus aríetes, e perguntam gentilmente: 
"Desculpem, com licença, mas nós viemos saquear e pilhar a sua cidade, além de acabar com o seu império. Dá para abrir as portas ou vamos precisar derrubar?"
Não! Quando os romanos se deram conta, os bárbaros já estavam entre eles, há muito tempo, saqueando e roubando, alegremente e na indiferença geral dos cidadãos romanos. 
E a história não se resumiu a uma tira de humor...

Pois é, qualquer semelhança não é mera coincidência...

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Fidel Castro: uma vida dupla, de mentira, de luxuria, de roubos, e de ditadura - livro

The Double Life of Fidel Castro: My 17 Years as Personal Bodyguard to El Lider Maximo

The Double Life of Fidel Castro: My 17 Years as Personal Bodyguard to El Lider Maximo

In The Double Life of Fidel Castro, one of Castro's soldiers of 17 years breaks his silence and shares his memoir of years of service, and eventual imprisonment and torture for displeasing the notorious dictator, and his dramatic escape from Cuba.
Responsible for protecting the Lider maximo for two decades, Juan Reinaldo Sánchez was party to his secret life - because everything around Castro was hidden. From the ghost town in which guerrillas from several continents were trained, to his immense personal fortune - including a huge property portfolio, a secret paradise island, and seizure of public money - as well as his relationship with his family and his nine children from five different partners.
Sanchez's tell-all expose reveals countless state secrets and the many sides of the Cuban monarch: genius war leader in Nicaragua and Angola, paranoid autocrat at home, master spy, Machiavellian diplomat, and accomplice to drug traffickers. This extraordinary testimony makes us re-examine everything we thought we knew about the Cuban story and Fidel Castro Ruz.
(less)
Hardcover, 288 pages
Published May 12th 2015 by St. Martin's Press (first published May 22nd 2014)
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O Estado Fascista do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

O Estado Fascista do Brasil

 Colunas Dom Total, 16/07/2015

O fascismo, reduzido à sua expressão mais simples, é quando o Estado manda em você, e você sequer tem consciência disso, uma vez que tal interação passa quase despercebida, já foi embutida pela sociedade. O contrário do fascismo é, obviamente, uma sociedade libertária, onde cada um usa de seu livre arbítrio para guiar-se na vida e nas atividades cotidianas. Tomados nesse entendimento ideal-típico mais simples possível, é claro que ambos os conceitos não expressam nenhuma sociedade concreta, nossa contemporânea, mas eles podem ajudar a situar os casos nacionais num ou noutro extremo desse espectro que leva do fascismo explícito ao libertarianismo utópico. Em outros termos, uma sociedade será tanto mais fascista, ou tendencialmente libertária, quando os comportamentos típicos dos indivíduos se aproximarem do inferno dirigista a cargo do Estado, ou da mais plena liberdade pessoal, sem interferência estatal.

Sem adentrar na consideração de abstrações sociológicas, pode-se tentar extrair exemplos de como as sociedades se situam em torno de um ou outro modelo de organização social. Tomemos os casos típicos dos Estados Unidos e do Brasil, e mesmo, numa configuração mais ampla, o das sociedades anglo-saxãs, de um lado, e o das sociedades latino-americanas, de outro, estas uma extensão do molde ibérico original. Qualquer pessoa sensata reconheceria que os EUA se aproximam bem mais do modelo libertário do que modelo fascista, e que, inversamente, o Brasil é um típico caso de corporatismo, ou seja, um clássico modelo tendencialmente fascista.

Exemplos abundam, num e noutro sentido. Vou tentar ficar em casos práticos, da vida diária, e que portanto influenciam o modo de vida, para melhor ou para pior, de milhões de pessoas. Sabe-se, por exemplo, que normas industriais são padrões adotados pelas indústrias para facilitar o uso e a disseminação de bens de consumo durável que possam gozar de ampla aceitação entre os consumidores, como uma tomada elétrica de parede, utilizável indistintamente para os mais diferentes aparelhos. As normas são adotadas progressivamente e voluntariamente pelas indústrias, e passam a ser, a partir de certa extensão de aceitação e uso, um componente da vida diária ao qual sequer se presta atenção. Já as regulações são típicos decretos estatais que impõem, por via de um instrumento legislativo, o uso exclusivo e obrigatório de um determinado padrão, estabelecido burocraticamente, e não por livre disposição das indústrias.

No caso das já citadas tomadas elétricas, é sabido, também, que o Brasil, depois de conviver durante décadas com a mais simples tomada, a de dois furos redondos (de acordo com normas industriais de corrente elétrica estabelecidas naturalmente ao longo de toda a história da indústria elétrica), passou a adotar a famosa tomada de três pinos, nas quais o terceiro se referia ao pino de segurança (ou de aterramento), e que os dois redondos originais foram complementados por fissuras verticais chatas, aproximando-se do padrão típico em uso universal nos EUA.

Pois bem, essa norma adaptada ao Brasil pelo seu caráter praticamente universal, foi alterada anos atrás pela imposição de um novo padrão, uma regulação absolutamente exótica determinada pelo Inmetro como de uso compulsório pelas indústrias consistindo de três pinos redondos em linha, mas com o central em superposição, formando um pequeno arco. Os leitores já pararam para pensar nos custos imensos, impossíveis de serem mensurados, mas se situando na casa das centenas de bilhões de reais (traduzidos nos orçamentos familiares e empresarias de 200 milhões de brasileiros e de centenas de milhares de empresas), que resultaram dessa imposição absolutamente fascista do Estado brasileiro? A totalidade da população sofreu com a medida, que, por outro lado, deu benefícios e lucros fantásticos, até hoje, às poucas dezenas de milhares de empresas que se dedicam à fabricação de tomadas de aparelhos e de parede (e de adaptadores, claro).

Eu poderia multiplicar os exemplos do mesmo tipo, como o fato de, por determinação da Anvisa, as farmácias terem sido proibidas de comercializar produtos típicos de padaria, como chicletes e refrigerantes. Qual grave atentado à saúde dos consumidores adviria da liberdade concedida às farmácias de comercializarem quaisquer produtos que são normalmente encontrados nas padarias? Penso, penso, e não encontro nenhum motivo sensato para justificar a medida, a não ser o comportamento tipicamente fascista dos burocratas da Anvisa. Que tal o comportamento dos burocratas da Ancine, impondo cotas obrigatórias de exibição de filmes nacionais, se substituindo autoritariamente às preferências dos frequentadores das salas de cinema? Para mim, isso é típico do fascismo ambiente no Brasil.

A diferença básica entre as sociedades anglo-saxãs e as ibéricas é que, nas primeiras tudo o que não estiver formalmente proibido na legislação está ipso facto liberado para a iniciativa privada dos indivíduos, ao passo que nas segundas tudo o que não estiver devidamente autorizado pelo poder público está automaticamente proibido aos particulares. Esta é a diferença entre a liberdade e o fascismo. Pense nisso, caro leitor, na próxima vez que for à farmácia, usar algum aparelho elétrico ou sair para ir ao cinema. Veja o que está acontecendo com a plataforma Uber, uma simples atualização tecnológica das relações contratuais entre motoristas e passageiros. Lamente viver em um Estado fascista.

Paulo Roberto de Almeidaé doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas (1984). Diplomata de carreira desde 1977, exerceu diversos cargos na Secretaria de Estado das Relações Exteriores e em embaixadas e delegações do Brasil no exterior. Trabalhou entre 2003 e 2007 como Assessor Especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Autor de vários trabalhos sobre relações internacionais e política externa do Brasil.

Industria automotiva: fim do stalinismo industrial companheiro? - Entrevista presidente da GM

Muito realista a entrevista com o presidente da GM para a América do Sul, "dentro de lo que cabe", como diriam os espanhóis, pois ele esconde o essencial: que o Brasil tem impostos demais, porque tem um Estado grande demais para a sua economia.
Claramente, o tipo de arranjo "contratual" que a sociedade fez consigo mesmo, através de sua nova Constituição, em 1988 (e já emendada dezenas de vezes), o chamado "pacto social", com distribuição de benesses estatais para todos e cada um (e cada vez mais), não cabe dentro do PIB, ou seja, as despesas são maiores do que a capacidade contributiva da economia.
Isso a sociedade precisa entender, mas o presidente da GM não é "obrigado" a nos criticar pela nossa esquizofrenia jurídica-constitucional, e pela nossa ingenuidade econômica.
Dentro do que cabe dizer, portanto, ele diz as coisas certas, mas está sempre querendo medidas setoriais que beneficiem a sua indústria, isso é certo.
Ou seja, ele também adora stalinismo industrial, como a maior parte dos nossos capitalistas.
Os companheiros tentaram fazer isso durante todo o tempo.
Enquanto tinha dinheiro chinês, deu para fazer.
Agora acabou e eles não têm mais nada a oferecer.
Está na hora de colocá-los para fora, e não só porque se equivocaram em política econômica.
O fato é que eles roubaram demais.
 Só por isso, já merecem cadeia.
Paulo Roberto de Almeida

Entrevista: Jaime Ardila
"A classe C, como consumidora de carros, saiu do mercado"
De homem público a executivo do setor privado
* Economista, o colombiano Jaime Ardila, de 60 anos, já trabalhou no Banco Central e no Ministério da Indústria e Comércio da Colômbia. Foi para a GM em 1984 e, em 2007, assumiu a presidência da GM Brasil; três anos depois, a da GM América do Sul.
O Estado de S.Paulo, 26/07/2015

Segundo o executivo, crise também afetou o perfil de compra das classes A e B

Principal responsável pelo crescimento contínuo das vendas de carros novos por quase dez anos, até atingir o recorde de 3,8 milhões de unidades em 2012, a classe C já não faz mais a festa da indústria automobilística. "Como consumidora de carros, praticamente saiu do mercado", diz o presidente da General Motors América do Sul, Jaime Ardila. Segundo ele, quem compra carro hoje são as classes A e B, mas mesmo estas mudaram o padrão de consumo. Em entrevista, o executivo colombiano, que está no Brasil há oito anos, fala que o mercado brasileiro deve cair 20% em
2015 e só começará a se recuperar no fim de 2016.
Qual sua avaliação sobre a situação econômica do País?
As projeções feitas por analistas independentes de uma redução do PIB de 2% para o ano é realista e coloca a economia num patamar difícil para o próximo ano. Esperávamos uma recuperação mais rápida, mas vai levar mais tempo. Significa que o próximo ano terá um crescimento muito pequeno, abaixo de 1%. É lógico que um adiamento do ajuste fiscal pode postergar a recuperação também. Fico preocupado de ver que o ajuste pode levar mais tempo do que esperávamos.
O ajuste está correto?
Esperávamos que o governo cumprisse a meta de 1,1% de superávit, mas já foi dito que não será possível. Isso pode adiar a recuperação. Precisamos de um ajuste fiscal profundo e rápido, que é muito melhor do que um pequeno e lento.
O cenário político atrapalha?
Pode atrapalhar a economia por duas razões simples: a primeira, a de tornar ainda mais difícil a recuperação dos investimentos externos e internos. E também porque toma muito mais difícil a aprovação das medidas econômicas no Congresso.
É hora de continuar subindo juros?
As cifras de inflação mostram que os aumentos que estão sendo feitos são necessários e não vejo uma recuperação econômica possível sem uma rápida redução da inflação. Quantas altas de juros ainda precisa para reduzir a inflação? Não sei. Minha impressão é que estamos chegando ao limite necessário, porque a economia está praticamente num cenário de recessão.
Por que o mercado de carros caiu tão rapidamente? É efeito da crise ou de um esgotamento de consumo?
A indústria automobilística é pró-cíclica. Cresce mais rápido quando a situação econômica é boa e piora muito mais quando é ruim. Eu já esperava que, com a situação econômica difícil, para a indústria seria ainda pior. Isso é o normal nos ciclos econômicos. Porém, há dois fatores que complicam ainda mais. O primeiro é a queda forte na confiança dos consumidores - o medo de perder o emprego. Temos também um esgotamento do modelo, em razão do alto endividamento das famílias. As pessoas não têm mais condições de comprar carros. E fica ainda mais difícil com a inflação alta. Isso faz com que a queda nas vendas seja maior do que esperávamos.
O que o sr. esperava inicialmente?
Começamos o ano com cenário de vendas de 3,2 milhões de veículos. No primeiro trimestre, ajustamos para 3 milhões. Hoje, prevemos 2,8 milhões (queda de 20% ante 2014). E acreditamos que só na segunda metade de 2016 começará uma recuperação.
É a pior crise do setor?
Eu não falaria que é a pior da história, pois já tivemos situações muito difíceis, com queda da demanda de 20%, 30%. O que é diferente hoje é que a capacidade da indústria é muito maior. Todos fizeram investimentos baseados numa projeção de mercado que não se cumpriu. Temos capacidade em excesso e trabalhadores em excesso, o que complica mais a situação.
O excesso é resultado de investimentos em ampliação e da vinda de novas fábricas ao País. Ninguém percebeu que não havia demanda para tudo isso?
Devo falar, com humildade, que a GM percebeu, pois fomos uma das poucas empresas que avaliou que não era o momento de construir novas fabricas. Estivemos perto de tomar uma decisão, mas ao final vimos que era prudente aguardar. Mas, quando você tem um mercado de quase 4 milhões de veículos ninguém quer ficar de fora. Aí chegam os concorrentes novos e eu não posso culpá-los por instalarem fabricas aqui porque o Brasil era e continua sendo um mercado interessante. O que me surpreendeu foram os investimentos de alguns concorrentes tradicionais, que já conheciam bem o mercado. Mas o Brasil vai crescer de novo. Continua sendo um dos maiores mercados do mundo.
A indústria estava viciada na redução do IPI?
Incentivos precisam ser temporários para ter impacto. Quando o mercado se acostuma, começa a incorporar nas expectativas e nos preços e o impacto desaparece. Foi o que ocorreu com o IPI. Desse ponto de vista, a resposta é sim: acho que a indústria se acostumou a um incentivo que, por natureza, ia ser temporário. Porém, também acho que os impostos na indústria automobilística são muito altos e em algum momento será preciso rever isso. Estou ciente de que não é o momento, seria uma irresponsabilidade fiscal pedir isso hoje. Mas vai chegar o dia em que o govemo vai ter de procurar fazer receita fiscal em outras áreas e reduzir de forma permanente o IPI e outros impostos, pois como está hoje é exagerado.
As montadoras já demitiram neste ano 7,6 mil trabalhadores e 0 sr. diz que ainda há excesso. Cortes vão continuar?
Já demos férias coletivas e lay-off. Estamos fazendo o possível para evitar demissões. Agora tem o Programa de Proteção do Emprego, que acho muito interessante. Para tentar minimizar o desemprego, o lay-off e o PPE são ferramentas apropriadas. A GM fará uso delas até onde for possível. Mas não posso esconder que temos trabalhadores demais. O que eu faço com os trabalhadores se não tem demanda? Inevitavelmente temos de tomar uma decisão.
Então haverá mais cortes?
No geral, não sei o que vai ocorrer, pois cada empresa toma suas decisões. Mas acho que ainda tem um grupo muito significativo de trabalhadores em excesso. Para a demanda que temos hoje é evidente que a indústria, incluindo fornecedores, ainda tem de passar por um ajuste.
A GM tem mil trabalhadores em lay-off e demitiu cerca de 400 trabalhadores no ABC. Ainda não foi suficiente para reduzir o excesso?
Neste momento não temos novos planos de cortes. O que temos são planos de usar as ferramentas existentes, ou seja o lay-off e o PPE. Porém, temos de decidir o que fazer com o pessoal que está em lay-off. Vamos nos inscrever no PPE, porque não é eficiente para uma empresa fazer cortes e depois na recuperação ter de recontratar. A prioridade será o pessoal do lay-off, mas provavelmente não para todos.
Como a matriz vê o cenário brasileiro? Faz sentido investir num mercado que opera com 50% da capacidade?
Nossa perspectiva continua sendo de longo prazo. O Brasil é um mercado fundamental para a GM. No nosso negócio não dá para parar de investir, se não fica atrasado tecnologicamente. Sem dúvida vamos manter investimentos em produto e tecnologia. Mas claro que estamos preocupados. A situação está pior do que imaginávamos quando fizemos o orçamento para o ano.
Está quanto pior?
Perdemos 27% em vendas no primeiro semestre e 34% da receita no segundo trimestre em relação ao ano passado. Mas temos suficiente caixa para continuar financiando os investimentos e não precisamos de empréstimos.
No passado recente, foi a classe média emergente que garantiu o crescimento das vendas, com a compra do primeiro carro zero, com crédito longo. E hoje, quem compra carro?
A classe C, como consumidora de carros, praticamente saiu do mercado. Hoje, a imensa maioria da classe C não tem condições de comprar carro novo por causa da alta de juros, aumento da inflação e do endividamento. É aí que está a queda da demanda. As mais de 20 milhões de novas pessoas que tínhamos na classe C, e que foi a fonte fundamental de crescimento da indústria, está comprando cosméticos, alimentos - até mudando para marcas mais baratas -, mas não está comprando carros. A imensa maioria das vendas hoje é para as classes A e B. E mesmo nessas classes há mudanças de comportamento. Por exemplo, estamos vendendo muito bem Onix e Prisma (mais populares). Não duvido que muitos desses clientes, em condições normais, iriam comprar carros de maior porte, mas por enquanto estão se conformando com Onix e Prisma.
Mas as vendas de modelos premium seguem crescendo...
Os ricos estão assustados com a crise, mas não sofreram impacto.
A exportação é saída para o setor?
Hoje ainda não, mas pode se tornar fonte de crescimento importante nos próximos dois anos se forem cumpridas condições que têm a ver não só com o patamar do câmbio, que está mais equilibrado, mas com a redução de custos. Temos custos na área trabalhista, tributária, de logística e de infraestrutura muito altos, que dificultam a competição no mercado internacional.
O Inovar-Auto ajuda ou atrapalha?
Ele é um fato. No próximo ano, será avaliado quem cumpriu as metas. Os investimentos que precisavam ser feitos para cumprir a regulamentação já ocorreram, com um impacto em custos importante. Estamos preparados para o Inovar. O que eu espero é que fiquemos aí. Acho que seria inapropriado pensar em outra fase, o Inovar 2, porque as empresas e o consumidor não estão em condições de assumir novos custos.
O sr. acha que o excesso de capacidade se deve ao Inovar-Auto, que exigiu a produção local?
Trazer investimentos era o propósito, além de melhorar a qualidade do meio ambiente e reduzir o consumo de combustível. O aumento de capacidade foi uma consequência que na época ninguém tinha condições de prever.
Por que as empresas estão reajustando preço dos carros?
Comparado com a inflação e a desvalorização do real, os reajustes foram pequenos. Não compensam nem a metade dos aumentos de custos que já tivemos.

domingo, 26 de julho de 2015

Celso Furtado, mais algumas criticas - Ivan Lima


Mais uma crítica ao pensamento de Celso Furtado, por parte de Ivan Lima, que se refere na verdade à reação ingênua de um true believer nas supostas virtudes do desenvolvimentismo furtadiano ao assistir ao já referido documentário sobre o economista cepaliano. Eu nem acredito, como Ivan Lima, que o problema de Celso Furtado seja o marxismo, e nunca faria uma crítica nessa linha. O marxismo penetra naturalmente a teoria social desde o final do século 19, e é impossível ser sociólogo, ou historiador, sem ser um pouco marxista também. Na economia a conversa é outra, pois acredito que Marx jamais poderia ter sido chamado de economista, no máximo de filósofo social. Mas, o problema de Celso Furtado, como anteriormente de seu mestre intelectual, Raul Prebisch, foi ter realizado uma leitura, uma ingestão acrítica, uma leitura deformada do que já era então o keynesianismo vulgar. Prebisch traduziu a Teoria Geral para o espanhol precocemente, mas ao começar a escrever sobre a economia latino-americana na Cepal, no final dos anos 1940, o keynesianismo já tinha sido convertido em regrinhas de política econômica. Prebisch foi um pouco mais além: transformou-o em teoria do desenvolvimento, e Celso Furtado adaptou tudo isso ao Brasil. Parece que os UniCampistas pioraram um pouco mais a coisa (mas estou falando de Conceição, não dos bárbaros e aloprados “economistas” que enterraram a economia brasileira). Os aloprados que destruiram a economia brasileira sequer chegaram a aprender keynesianismo, se contentaram com intuição. Deu no que deu...
Paulo Roberto de Almeida 

Sobre Celso Furtado
Ivan Lima
Libertatum, 23/07/2015

Um dos intelectuais esquerdistas depoentes sobre o economista Celso Furtado, no vídeo que recentemente publiquei em Libertatum, fala em encantamento - que segundo ele, o acompanhou por toda a vida -  ao assistir uma palestra de seu ídolo marxista nacional. 

Essa pequena nota é para dizer o quanto eu próprio testemunhei esse encantamento por Celso Furtado em algumas pessoas com as quais me relacionei profissionalmente. Algumas delas era gente culta, com formação superior e empresários. Gente da melhor qualidade moral, e elegantes no trato. Algumas já morreram. Outras não sei se ainda vivem. Mas todas certamente chegaram ou estão chegando ao fim da jornada já há décadas intelectualmente mortos com o tal encantamento a Celso Furtado e sua teoria de transformação do mundo via marxismo. 

E chegaram a essa condição antes mesmo da morte física, simplesmente porque o marxismo é contraditório, destrutivo, e autofágico. Conflituoso, desagregador, com suas falácias sobre as já refutadas teoria da exploração e luta de classe. E seu espírito precisa permanentemente de propaganda para manter-se em evidência pois sua teoria é vazia, inócua, embora seus meios iníquos, impiedosos, quando totalitariamente no poder. Igual a aquelas pessoas que conheci encantadas pelas "ideias" de Celso Furtado, gerações de brasileiros que efetivamente tiveram excelentes oportunidades de através do seu talento intelectual e profissional contribuir para a mudança de mentalidade dessa sociedade estatista, ajudaram a enterra-la mais fundo no buraco socialista em que ela hoje se encontra. 

Em alguma parte da aludida matéria o autor fala como chega a ser ridícula a fala teórica de Celso Furtado no vídeo. Digna de piedade. Destaco o trecho em que Celso Furtado fala sobre a condição de miserabilidade do povo, que "será", segundo ele dizia, eterna, nunca mudará sob o capitalismo. Mudou e muda, - embora penosamente devido ao governo - porque a ação humana é como água, penetra em qualquer fresta e se espraia por toda a parte com sua pujança, ainda que regulada. Isso ocorre da iniciativa do vendedor de bom bom da esquina ao mega empreendedor. A situação de uma sociedade pobre não muda devido as políticas assistencialistas de cunho socialista tipo Bolsa Família e outros mas graças ao mercado, ao capitalismo. E não muda mais rapidamente devido ao intervencionismo do governo na economia e também exatamente devido ás políticas públicas defendidas por tolos como Celso Furtado e seguidores. Devido as medidas "protetivas ao trabalhador" como a CLT que restringindo e proibindo o trabalho joga milhões de brasileiros na desesperança, baixo estima, degradação e estimula criminalidade em muitos deles, ao exigir obrigatoriedade de salário mínimo, carteira assinada, pagamento de decimo terceiro salário, - o ano só tem doze meses - ferias remuneradas pagas por terceiros, pagamento de encargos e tributos para o governo, "direitos", "direitos", "direitos"... Capital gravado, regulado, restringido, desemprego crônico, sociedade pobre. 

O marxismo é a mais contraditória de todas as teorias, produtivamente a mais estéril exatamente porque é contra a produção humana e a liberdade de empreender através dos meios privados de produção. Ou seja, é contra a ação humana. O socialismo é impraticável, nunca deu certo e nunca dará, pois é destituído de precificação como agente que informa durante o processo de mercado, sobre produção e escolha dos consumidores, todos nós. Ludwig von Mises, ainda em 1922, provou a impraticabilidade do socialismo  ao mundo em sua irrefutável obra,  "O Cálculo Econômico Sob o Socialismo". 

É preciso lutar para se alcançar a mudança de mentalidade na sociedade. Mas isso só será possível quando as ideias de encantamento com o socialismo defendido por gente como Celso Furtado parecer ás pessoas inteligentes o que efetivamente é: veneno da mais elevada toxidade pronto para infectar e destruir uma sociedade. 

Celso Furtado: uma critica ao seu pensamento, 1 - Marcos Henrique Martins Campos

Primeira parte da revisão crítica do pensamento daquele que ainda hoje é consuderado o guru do desenvolvimentismo no e do Brasil. Como são frágeis as bases intelectuais desse pensamento e como é notável a ausência de senso crítico dos supostos intelectuais brasileiros. Sempre me pareceu que o prebischianismo, o cepalianismo e o furtadismo eram uma adaptação mal feita do keynesianismo vulgar, ou seja, a transposição de algumas prescrições anticíclicas para o estatuto de política econômica, o que já é um exagero. Mas na América Latina o keynesianismo foi alçado à categoria de "teoria do desenvolvimento ". Só podia dar errado.
Paulo Roberto de Almeida 

SOBRE O AUTOR

Instituto Liberal

Instituto Liberal

O Instituto Liberal é uma instituição sem fins lucrativos voltada para a pesquisa, produção e divulgação de idéias, teorias e conceitos que revelam as vantagens de uma sociedade organizada com base em uma ordem liberal.

Celso Furtado: uma critica ao seu pensamento, 2 - Marcos HenriqueMartins Campos

A partir de um documentário encomiástico, este engenheiro desmonta os imensos equívocos conceituais daquele que ainda é considerado um dos grandes economistas do Brasil.
Vale por três aulas de economia. 
Paulo Roberto de Almeida

Para ver o documentário, "Pensando com Celso Furtado", que é criticado aqui, clique neste link: https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=oAC7MT3nKgU

Crítica ao documentário “Pensando com Celso Furtado” (II)

Por Instituto LiberalEm 
celso-furtado3(para conferir a primeira parte, clique aqui)
por MARCOS HENRIQUE  MARTINS CAMPOS*
Trecho 2 – “A pobreza tem origem no controle do excedente social, por elites aculturadas, que sempre quiseramimitar o modelo de vida das economias centrais. Ou seja, para Furtado a pobreza é fruto da má distribuição da riqueza, e enfrentá-la seria, portanto, combater os privilégios que fazem com que aconcentração de renda seja uma condição estrutural do padrão deacumulação das elites.”
Comentário – A categorização das “elites” como “aculturadas”, não passa, a meu ver, da exteriorização mal disfarçada de uma sórdida intenção de depreciar a reputação deste grupo de pessoas, estratégia a qual ele leva a cabo se utilizando da rotulação pejorativa, difamatória, desdenhosa e desnecessariamente  insultuosa de toda uma classe de indivíduos.
Ademais, qual “cultura” em específico ele acusa a “elite” de malfadadamente copiar? Seria a cultura da busca constante por melhores condições de vida? E qual “modelo de vida” ele acusa a “elite” brasileira de imitar? Um “modelo de vida” mais próspero que o brasileiro? E por qual motivo a busca constante pela elevação das condições do “modelo de vida”, atualmente em vigência no Brasil, não seria legítima, louvável, e não deveria ser até mesmo estimulada? A meu ver, a busca pela melhoria das condições de vida é uma necessidade básica, intrínseca à própria natureza humana, e jamais um homem deveria ser criticado por sua ambição neste sentido. Quem nega sua legitimidade e a sua relevância, como impulso para a evolução e a prosperidade do Homem como espécie, nega sua própria natureza humana, e não é nem mesmo digno de desfrutar de todas as conquistas da humanidade.
Furtado embasa suas teses em um discurso genuinamente marxista. Em nenhum momento o termo “capitalismo” é citado, mas esta é a estratégia mesma que garante a aceitação, e o sucesso do discurso. Esta estratégia visa à conquista do consenso unânime, já que os “letrados” marxistas reconhecerão automaticamente sua fala, e lhe acenarão consentimento e apoio, e a fração das pessoas que não (re)conhece a estratégia é convencida por adesão automática às suas falas revisionistas, “politicamente corretas”, e auto-declaradas como excepcionalmente virtuosas, acreditando estar diante da mais pura demonstração de boas intenções. Este discurso adota como tese essencial (e mais uma vez, como pressuposto universalmente aceito) o argumento de que o único resultado possível, uma vez instituído um sistema capitalista, é a desproporcional concentração de capital nas mãos dos “capitalistas exploradores”.
Bem, é óbvio que a pobreza é resultado da má distribuição da riqueza. Mas Furtado atribui uma pobreza que é histórica e inextricável a um único suposto “culpado”, e falsifica os resultados das atividades das tais “elites”. As elites (a qual eu compreendo que ele esteja se referindo ao empresariado/burguesia) têm por objetivo primordial a obtenção de lucros, neste ponto ele tem total razão. Entretanto, ele despreza e omite propositadamente o fato de que a atividade empresarial, seja ela comercial, industrial, ou qualquer outra, não tem como resultado exclusivo a geração de lucro para a “elite”: a atividade empresarial gera “efeitos colaterais”, em forma de tributos pagos ao governo (capital que entra na economia); gera renda, em forma de salários, para todos os funcionários da cadeia produtiva, tanto dos empregados diretos no negócio, quanto dos seus fornecedores (renda esta que entra na economia); e omite ainda que mesmo o lucro gerado para o dono do negócio entra na economia, seja em forma de capital reinvestido para ampliação do próprio negócio (que vai gerar mais renda na forma de mais salários e mais impostos), seja investido em quaisquer outros negócios ou setores – imobiliário, financeiro, títulos do governo, etc. Assim sendo, esta “concentração” ou “acumulação” não é uma acumulação real, já que o capital gerado não fica parado nas mãos da “elite”. Os empresários do mundo real não são como o Tio Patinhas, que guarda todo o seu dinheiro em um cofre, descapitalizando dia após dia. Pode-se notar que as atividades da “elite” criam, ou desenvolvem o capital, a partir da alocação de recursos financiados com capital previamente adquirido, e este novo capital gerado entra na economia, de uma forma ou de outra, e acaba beneficiando toda a sociedade.


Furtado adota a visão da economia como sendo um jogo de “soma zero”, no qual se compreende que, para que algumas pessoas acumulem riqueza, outras necessariamente precisam perder riqueza (ou deixar de ganhá-la) na mesma proporção. Esta ideia é completamente incorreta! A atividade industrial, assim como a de serviços, agrega valor aos recursos previamente alocados – a indústria agrega valor às matérias primas, no momento em que estas são beneficiadas, nos insumos utilizados, e à mão de obra empregada; assim como tudo o que se recebe por um serviço, além dos custos dos recursos gastos pelo prestador, é capital desenvolvido. Se a economia fosse um jogo de soma zero, não haveria crescimento econômico mundial, haveria estagnação, com os países alternando, a cada ciclo, apenas a parcela do mercado – ou do capital pré-existente – que cada um deteria.
O funcionamento do mercado sem intervenções estatais parasitárias é de vital importância, pois apenas um mercado livre e saudável é capaz de gerar riquezas e distribuí-las adequadamente por todas as camadas da pirâmide social. A mera distribuição de renda, por meio de assistencialismo, apenas “tapa o sol com a peneira”, e só é sustentável no curto prazo. O excesso de tributação, indispensável para a implantação e manutenção de programas assistencialistas, cria distorções no mercado, tais quais inflação (devido ao aumento dos custos de produção dos produtores), e redução da demanda (devido ao aumento do comprometimento da renda da população com tais tributos), e só prejudica a economia – e consequentemente às pessoas – no longo prazo.
Sobre os supostos privilégios alegados, quais privilégios são estes? Quem realmente concede privilégios é o estado, por meio de isenções de impostos, financiamentos “camaradas” para empresas “selecionadas”, por meio de bancos estatais, concessões de licitações fraudulentas, etc; além de ser o próprio estado uma entidade privilegiada, visto que é notória sua participação desleal no mercado, através das empresas estatais, que tem por hábito até operar no vermelho, à custa do dinheiro dos contribuintes, para manter as “aparências” fiscais. Estado este, que Furtado parece julgar ser possuidor de idoneidade moral de tal maneira elevada a ponto de ser o mais indicado, e legítimo mediador entre o “terrível mercado” e o “oprimido consumidor”.
Furtado, mais uma vez, parece desprezar fatos imprescindíveis. O mercado é um território onde ocorrem trocas em comum acordo entre as partes envolvidas, ou seja, entre os que oferecem produtos e/ou serviços, e o consumidor, que é soberano em suas escolhas. Os privilegiados neste território de livre oferta, e soberania de escolhas, é o ofertante que conquista mais consumidores. O mercado não concede “privilégios”, mas sim premia os que atendem às suas necessidades de forma mais satisfatória, em relação a diversos critérios, tais quais o preço, qualidade do produto/serviço ofertado, condições de pagamento, etc, critérios estes que são constantemente avaliados pelas pessoas. O consumidor é soberano em suas escolhas, e são as suas decisões que determinam quem se mantém e quem sai do mercado (toda esta tese também é valida para as relações de troca e negociações entre nações, e serve para complementar o meu comentário do primeiro trecho, sobre os outros países que supostamente se encontram na “periferia do capitalismo”).
Furtado sugere “combater privilégios”. Neste caso, ele sugere então combater a soberania do consumidor, despojando este da sua liberdade de escolhas, evitando desta forma que ele, por meio de sua ação livre e soberana, como integrante ativo do mercado que é, conceda tais “privilégios” alegadamente “imorais” aos que bem lhe atendam? O bom produto ou serviço ofertado aos consumidores não deve ser valorizado, e seu ofertador recompensado?
Trecho 3 – “A herança do pensamento de John Keynes e a experiência da guerra, mostraram para Furtado que o estado pode ser um ator decisivo na história.” e “A reconstrução dos países devastados pelo confronto bélico, e o keynesianismo, alimentaram nele a esperança de que o estado pode ser o propulsor de grandes transformações na sociedade, e pode monitorá-las ao longo do tempo.”.
Comentário – Neste ponto, é exaltada a influência de Keynes para a formação do pensamento de Furtado. Acontece que os marxistas, ao longo do último século, se apropriaram indevidamente das ideias de Keynes, por um motivo bastante óbvio: a atribuição de maiores responsabilidades das regulamentações econômicas ao estado, defendida por Keynes, serve como uma luva aos ideais progressistas e socialistas. Apesar de Keynes ter se declarado antimarxista, de ter rejeitado e se oposto obstinadamente à ideologia socialista, e ter (alegadamente) dirigido todos os seus esforços para o aperfeiçoamento do sistema capitalista, é quase praxe nos dias de hoje, entre os marxistas e demais progressistas, que se associe o keynesianismo ao socialismo (frequentemente camuflado como capitalismo de estado, ou social democracia), visto que a linha de pensamento de Keynes é muito mais “robusta” e “sustentável” (teórica, prática, retórica e dialeticamente) que qualquer linha econômica marxista clássica. O próprio Keynes percebeu tendências nesta direção, e previu a que ponto chegaria tal apropriação indevida, a ponto de afirmar “Meu nome é Keynes, mas não sou keynesiano”, em alusão ao modelo no qual forçosa e artificiosamente tentavam encaixar sua corrente de pensamento. Infelizmente este “encaixe” se deu por completo, e hoje o legado de Keynes está posto à serviço da esquerda mundial, e Furtado apenas encobre e mascara sua retórica puramente marxista com um cientificismo keynesiano falsificado e esvaziado do significado que o próprio Keynes dava à sua obra. Seu objetivo é usurpar o legado, e gozar do prestígio do keynesianismo, de modo a legitimar o empoderamento progressivo do estado, rumo ao “absolutismo democrático”, cenário este cuja antevisão do clímax é o que orienta e impulsiona as esquerdas.
A visão de Furtado, do estado como “ator decisivo na história”, ou como se convencionou dizer, “agente histórico”, é outra visão essencialmente marxista. Esta visão só pode ser aceita por quem comunga dos preceitos coletivistas da ideologia marxista. Um dos princípios fundamentais da ortodoxia marxista é a progressiva amputação das consciências individuais, até a sua derradeira absorção total pela “consciência coletiva” comunista.
Marx pregava que os integrantes do proletariado deveriam se tornar o agente histórico responsável pela condução da sociedade na qual estavam inseridos, de modo a atingirem seus objetivos de classe. Mas ele compreendia perfeitamente que uma “classe” (e muito menos os indivíduos independentes) não preenchia os pré-requisitos essenciais que habilitam uma entidade a conduzir um processo capaz de realizar tamanho feito. Para tal tarefa, ele estabeleceu a importância e a necessidade de se criar um estado forte. Mais tarde, os líderes comunistas perceberam que só seria possível criar um estado forte, e se manter no poder deste continuadamente, se obtivessem êxito em criar um partido forte. Na concepção marxista, o partido deve passar a “ser” o próprio estado. E porque a criação de um estado forte, com o poder dominado por integrantes de um partido hegemônico? Porque apenas uma entidade capaz de prosseguir com a execução de determinados planos – que visam objetivos futuros – para além da duração do prazo de vida dos seus agentes individuais é capaz de se tornar um agente histórico verdadeiramente relevante.
A conquista da hegemonia do pensamento é extremamente importante para o partido, pois o fortalece – e é neste ponto que se faz importante o “nivelamento” das consciências conforme um senso comum universalmente aceito, baseado na ideologia de classe. A hegemonia do domínio sobre as consciências consequentemente garante uma “produção” continuada de agentes individuais (políticos, militantes e eleitores) alinhados com o objetivo de longo prazo, e garante o poder continuado que é tão imprescindível à causa de, como diz Furtado, “ser um ator decisivo na história”. Assim sendo, o importante, segundo a ideologia marxista, não é o estado, mas o partido, ou uma mescla ininteligível e indivisível dos dois.
Note outro detalhe: é de importância primordial para as esquerdas a garantia da sua continuidade no comando da máquina do estado, uma vez que, alternado o grupo dominante, todo o “trabalho” em direção aos objetivos da classe se perde. E é por esse motivo que as esquerdas são tão inclinadas aos totalitarismos. Os progressistas acreditam piamente serem possuidores do dever, e mesmo da autoridade moral de, como diz Furtado, “transformar a  sociedade”. Compreendida a importância da necessidade da manutenção do domínio sobre o poder ao longo do tempo, já que apenas um estado comandado por um único grupo (ou por vários grupos ideologicamente alinhados), de maneira continuada, por longo período pode efetivamente ser um agente histórico relevante, transparece claramente na ideia de Furtado a sua inegável vocação marxista, quando ele afirma que o “estado deve ser o ator decisivo na história”, e o “propulsor de transformações”.
Conclusão:
O que todos os entrevistados do documentário disseram foram apenas compactuações para com o pensamento de Celso Furtado. A única conclusão a que posso chegar (e aà qual já cheguei há tempos, e recorrentemente fortaleço minha convicção) é a de que os intelectuais progressistas são sofistas ardilosamente treinados, experientes, e agem em um território que lhes é imensamente favorável. Tudo o que afirmam é automaticamente reconhecido como princípio básico, como senso comum. Por este motivo, todas as pessoas envolvidas de alguma maneira na defesa dos ideais liberais e conservadores, devem se dedicar a aprender a “ler nas entrelinhas” tudo o que estes intelectuais produzem, de forma a serem capazes de combatê-los ostensiva e eficazmente, trazendo à luz as suas contradições, assim como as perversas e covardes intenções ocultas em cada sentença aparentemente inofensiva.
A esquerda é um mutante, que mantém firmes seus objetivos revolucionários, sempre bem fixados além do horizonte visível, mas que frequentemente têm trocado, segundo definição do próprio Marx, o “vestido de ideias” da ideologia, que serve para encobrir seus reais interesses, seus reais desejos, e seus reais objetivos, os quais prudentemente todos os seus adeptos se dedicam a ocultar e dissimular sob pretextos alegadamente (e obviamente, falsificadamente) holísticos.
O pragmatismo é um traço típico e fundamental desta estratégia. O oponente intelectual de hoje, é o “mestre” reverenciado de amanhã (e esta alternância se repete indisciplinada e infinitamente). A mentira e a dissimulação cínica e histérica são fundamentais à estratégia: os progressistas alegadamente possuem a solução para todos os problemas, e todas as mazelas do mundo se devem ao fato de “outros”, e não eles próprios, estarem no poder (e mesmo quando eles dominam o poder, sempre são capazes de criar artifícios dialéticos, e culpar um “bode expiatório”). A conquista do poder, por quaisquer meios que sejam, é seu objetivo principal. Suas ações são inconsequentes, determinadas conforme as demandas do dia, na busca cega pelo poder, tendo como alvo fixo a distante e inalcançável utopia.
*Marcos Henrique Martins Campos é estudioso e defensor incansável do liberalismo econômico e do conservadorismo cultural, Acadêmico de engenharia, técnico químico e gerente de produção em uma grande indústria nacional.