Aprendendo a ler em polones, no exame de vista...
Um imigrante polonês está fazendo exame de vista para obter carteira de motorista. O examinador lhe mostra um quadro com as seguintes letras:
C Z J W I N O S T A C Z
O examinador pergunta:
- Você consegue ler isso?
E o polonês:
- Ler?! Eu conheço esse cara!
Frio Relativo
30º C ou mais:
-Baianos vão a praia, dançam, cantam e comem acarajé
-Cariocas vão a praia e jogam futebol
-Mineiros comem um "queijin" na sombra
-Todos os paulistas estão no litoral e enfrentam 2 horas de fila nas padarias e supermercados da região
-Curitibanos esgotam os estoques de protetor solar e isotônicos da cidade
25ºC:
-Baianos não deixam os filhos sairem ao vento após as 17 horas
-Cariocas vão à praia mas não entram na água
-Mineiros comem um feijão tropeiro
-Paulistas fazem churrasco nas suas casas do litoral, poucos ainda entram na água
-Curitibanos reclamam do calor e não fazem esforço devido esgotamento físico
20ºC:
-Baianos mudam os chuveiros para a posição "Inverno" e ligam o ar quente das casas e veículos
-Cariocas vestem um moletom
-Mineiros bebem pinga perto do fogão a lenha
-Paulistas decidem deixar o litoral, começa o trânsito de volta para casa
-Curitibanos tomam sol no parque
15ºC:
-Baianos tremem incontrolavelmente de frio
-Cariocas se reúnem para comer fondue de queijo
-Mineiros continuam bebendo pinga perto do fogão a lenha
-Paulistas ainda estão presos nos congestionamentos na volta do litoral
-Curitibanos dirigem com os vidros abaixados
10ºC:
-Decretado estado de calamidade na Bahia
-Cariocas usam sobretudo, cuecas de lã, luvas e toucas
-Mineiros continuam bebendo pinga e colocam mais lenha no fogão
-Paulistas vão a pizzarias e shopping centers com a família
-Curitibanos botam uma camisa de manga comprida.
5ºC:
-Bahia entra no armagedon.
-César Maia lança a candidatura do Rio para as olimpíadas de inverno.
-Mineiros continuam bebendo pinga e quentão ao lado do fogão a lenha.
-Paulistas lotam hospitais e clínicas devido doenças causadas pela inversão térmica
-Curitibanos fecham as janelas de casa.
0ºC:
-Não existe mais vida na Bahia.
-No Rio, César Maia veste 7 casacos e lança o "Ixxnoubórdi in Rio".
-Mineiros entram em coma alcoólico ao lado do fogão a lenha.
-Paulistas não saem de casa e dão altos índices de audiência a Gilberto Barros, Gugu Liberato, Luciana Gimenes e Silvio Santos
-Curitibanos fazem um churrasco no pátio... antes que esfrie.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007
701) Premios e concursos: Franklin Roosevelt, Principe de Asturias e União Europeia
Divulgando os seguintes prêmios:
Prêmio Franklin D. Roosevelt de estudos sobre os Estados Unidos
O Prêmio Franklin Delano Roosevelt de Ciências Sociais é uma promoção da Embaixada dos Estados Unidos da América no Brasil e será atribuído uma vez por ano aos melhores trabalhos em níveis de graduação, mestrado e doutorado, com um prêmio em dinheiro para cada um desses níveis. A edição anual do prêmio contempla as seguintes áreas do saber: Relações Internacionais, Sociologia, História, Antropologia, Ciência Política, Economia, Direito e Geografia, que são de áreas de natureza interdisciplinar. O concurso é de âmbito nacional, com ampla divulgação, e premiará trabalhos de alunos regularmente matriculados em universidades brasileiras. Serão habilitados a concorrer aos prêmios trabalhos que abordem aspectos da realidade dos Estados Unidos da América. O prêmio consistirá em uma quantia em dinheiro, com os valores seguintes: Melhor Monografia - US$ 1.500,00; Melhor Dissertação - US$ 2.000,00; Melhor Tese - US$ 4.000,00. A cada ano, concorrerão aos prêmios Monografias, Dissertações e Teses que tenham sido defendidas até 31 de dezembro do ano anterior. As inscrições dos trabalhos, julgamento e premiação ocorrerão na cidade de Brasília. Os dossiês devem ser enviados até o período de Março a Julho. Informações adicionais sobre o calendário, comissão julgadora critérios do Prêmio, estão disponíveis na página da Embaixada dos Estados Unidos.
Prêmios Príncipe de Asturias
Está aberto o prazo de inscrição de candidaturas para os Prêmios Príncipe de Asturias, da Espanha, em sua vigésima sétima edição, oferecidos pela Fundação Príncipe de Astúrias e destinados a premiar o trabalho científico, técnico, cultural, social e humano realizado por pessoas, grupos de trabalho ou instituições no âmbito internacional cujo resultados constituam em exemplo para a Humanidade. Os prêmios são oito: Comunicação e Humanidades, Ciências Sociais, Artes, Letras, Investigação Científica e Técnica, Cooperação Internacional, Paz e Esportes. As propostas de candidaturas apresentadas para qualquer um destes Prêmios devem ser da máxima exemplaridade e a sua obra ou contribuição de reconhecida transcendência internacional. O edital do Prêmio, contendo a convocatória, regulamento, detalhes da premiação e formulário de proposta de candidaturas, está disponível na internet.
Concurso de Monografias sobre o tema “50 Anos construindo a União Européia”
Um concurso de monografias foi lançado pela Delegação da Comissão Européia no Brasil e faz parte do calendário de eventos programados para as comemorações do 50º aniversário da Assinatura do Tratado de Roma.
O Concurso de Monografias sobre o tema “50 Anos construindo a União Européia” elegerá três monografias na categoria de graduação e outras três em nível de pós-graduação. Os vencedores também terão direito a viajar para Bruxelas a convite da Delegação da Comissão Européia no Brasil.
Este Concurso de Monografias está aberto a estudantes de graduação e pós-graduação de todo o país e serão escolhidos os três melhores trabalhos de cada um desses níveis. O prêmio para a monografia vencedora em cada uma das categorias compreende uma viagem a Europa. As outras quatro monografias receberão menção honrosa. Os autores dos seis trabalhos escolhidos serão convidados especiais da Conferência 50 Anos Construindo a União Européia, a ser realizada em Brasília no dia 10 de maio e terão deslocamento e estadia pagos pela Delegação da Comissão Européia.
As inscrições para o Concurso de Monografias poderão ser feitas até o dia 31 de março (vide Regulamento no endereço http://www.delbra.cec.eu.int . Os trabalhos serão avaliados por uma Comissão Julgadora composta por representantes das Embaixadas da Alemanha e de Portugal e por um funcionário da Delegação da Comissão Européia.
Prêmio Franklin D. Roosevelt de estudos sobre os Estados Unidos
O Prêmio Franklin Delano Roosevelt de Ciências Sociais é uma promoção da Embaixada dos Estados Unidos da América no Brasil e será atribuído uma vez por ano aos melhores trabalhos em níveis de graduação, mestrado e doutorado, com um prêmio em dinheiro para cada um desses níveis. A edição anual do prêmio contempla as seguintes áreas do saber: Relações Internacionais, Sociologia, História, Antropologia, Ciência Política, Economia, Direito e Geografia, que são de áreas de natureza interdisciplinar. O concurso é de âmbito nacional, com ampla divulgação, e premiará trabalhos de alunos regularmente matriculados em universidades brasileiras. Serão habilitados a concorrer aos prêmios trabalhos que abordem aspectos da realidade dos Estados Unidos da América. O prêmio consistirá em uma quantia em dinheiro, com os valores seguintes: Melhor Monografia - US$ 1.500,00; Melhor Dissertação - US$ 2.000,00; Melhor Tese - US$ 4.000,00. A cada ano, concorrerão aos prêmios Monografias, Dissertações e Teses que tenham sido defendidas até 31 de dezembro do ano anterior. As inscrições dos trabalhos, julgamento e premiação ocorrerão na cidade de Brasília. Os dossiês devem ser enviados até o período de Março a Julho. Informações adicionais sobre o calendário, comissão julgadora critérios do Prêmio, estão disponíveis na página da Embaixada dos Estados Unidos.
Prêmios Príncipe de Asturias
Está aberto o prazo de inscrição de candidaturas para os Prêmios Príncipe de Asturias, da Espanha, em sua vigésima sétima edição, oferecidos pela Fundação Príncipe de Astúrias e destinados a premiar o trabalho científico, técnico, cultural, social e humano realizado por pessoas, grupos de trabalho ou instituições no âmbito internacional cujo resultados constituam em exemplo para a Humanidade. Os prêmios são oito: Comunicação e Humanidades, Ciências Sociais, Artes, Letras, Investigação Científica e Técnica, Cooperação Internacional, Paz e Esportes. As propostas de candidaturas apresentadas para qualquer um destes Prêmios devem ser da máxima exemplaridade e a sua obra ou contribuição de reconhecida transcendência internacional. O edital do Prêmio, contendo a convocatória, regulamento, detalhes da premiação e formulário de proposta de candidaturas, está disponível na internet.
Concurso de Monografias sobre o tema “50 Anos construindo a União Européia”
Um concurso de monografias foi lançado pela Delegação da Comissão Européia no Brasil e faz parte do calendário de eventos programados para as comemorações do 50º aniversário da Assinatura do Tratado de Roma.
O Concurso de Monografias sobre o tema “50 Anos construindo a União Européia” elegerá três monografias na categoria de graduação e outras três em nível de pós-graduação. Os vencedores também terão direito a viajar para Bruxelas a convite da Delegação da Comissão Européia no Brasil.
Este Concurso de Monografias está aberto a estudantes de graduação e pós-graduação de todo o país e serão escolhidos os três melhores trabalhos de cada um desses níveis. O prêmio para a monografia vencedora em cada uma das categorias compreende uma viagem a Europa. As outras quatro monografias receberão menção honrosa. Os autores dos seis trabalhos escolhidos serão convidados especiais da Conferência 50 Anos Construindo a União Européia, a ser realizada em Brasília no dia 10 de maio e terão deslocamento e estadia pagos pela Delegação da Comissão Européia.
As inscrições para o Concurso de Monografias poderão ser feitas até o dia 31 de março (vide Regulamento no endereço http://www.delbra.cec.eu.int . Os trabalhos serão avaliados por uma Comissão Julgadora composta por representantes das Embaixadas da Alemanha e de Portugal e por um funcionário da Delegação da Comissão Européia.
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007
700) O subjetismo nos exames de ingresso do Rio Branco
Recebi, a propósito do meu post 698 ("Concurso do Rio Branco: algumas dicas genéricas sobre o TPS"), o seguinte comentário do João Carlos Machado:
"Paulo,
Primeiro, gostaria de elogiar seu apreço pelos postulantes à carreira diplomatica, expresso por sua dedicação em discutir o concurso e a preparação adequada para o ingresso no itamaraty. Mas decidi escrever para saber qual é a sua opinião sobre o possivel conteudo das questões de politica internacional no TPS. Pela bibliografia indicada é dificil tirar qualquer conclusão, pois, em conjunto, os livros formam mais um debate do que o corpo de uma teoria ou corente de pensamento. Como é possivel julgar certa ou errada a afirmação de que, por exemplo, o mundo hoje é unipolar?
Obrigado
João Carlos"
Sobre isso, meu caro João Carlos (e outros eventuais interessados), eu não teria muito a dizer, senão lamentar que isso ocorra.
Nas ciências humanas em geral, e na universidade brasileira em particular, há uma tendência para afirmações com base em "pré-conceitos" e idéias pré-concebidas, cabendo ou não ao leitor aceitar a opinião do eventual formulador de argumentos supostamente doutos sobre um assunto qualquer.
Você pode, por exemplo, considerar os EUA uma hiperpotência imperial, que age de forma unilateral e arrogante, e que Israel é o seu pupilo para a "política de Bush para o Oriente Médio", como ouvi mais de uma vez de colegas universitários. Se você não concordar com este tipo de argumento, pode eventualmente ser mal julgado por alguma banca supostamente antiimperialista.
Dou dois exemplos de como as coisas podem ser deformadas, uma de cada "escola" ou tendência, para não parecer parcial.
A famosa "teoria da dependência", para criticar, em primeira mão o douto sociólogo uspiano que acabou tornando-se presidente da República e que é hoje considerado, em certos setores, como um ideólogo neoliberal, vendido ao imperialismo.
Essa "opinião" não constitui obviamente uma "teoria" e se o fosse seria uma bobagem imensa. Isso não impede de que gregos e goianos (sobretudo americanos) a tenham utilizado extensiva e intensivamente como exemplo mesmo de anaálise inovadora da realidade latino-americana, quando ela é justamente isso, um amontoado de bobagens que caberia esqueceer (como aliás recomendou seu autor, sem ter sido atendido, e sem ter reconhecido que o disse).
Na outra vertente, em certos setores maniqueistas, o mundo, a América Latina, o Brasil, etc, se dividem em nacionalistas soberanistas e em entreguistas alinhados ao imperialismo, os primeiros tratando de desenvolver o país em bases autônomas, e os segundos apenas interessados em impedir o seu desenvolvimento e em entregá-lo de mãos atadas ao imperialismo.
Isso também é uma bobagem monumental, o que não impede esses autores de serem servidos aos pobres estudantes universitários como se ciência fosse...
Bem, você escolha o que pretende como interpretação do mundo, e faça sua prova do Rio Branco de acordo, não com o que você acredita ser mais certo, mas em função daquilo que o examinador espera que você responda.
Estaria bem assim?
Desculpa se eu compliquei a sua vida e lhe trouxe mais dúvidas do que certezas, mas o mundo é assim... ou talvez o Brasil...
"Paulo,
Primeiro, gostaria de elogiar seu apreço pelos postulantes à carreira diplomatica, expresso por sua dedicação em discutir o concurso e a preparação adequada para o ingresso no itamaraty. Mas decidi escrever para saber qual é a sua opinião sobre o possivel conteudo das questões de politica internacional no TPS. Pela bibliografia indicada é dificil tirar qualquer conclusão, pois, em conjunto, os livros formam mais um debate do que o corpo de uma teoria ou corente de pensamento. Como é possivel julgar certa ou errada a afirmação de que, por exemplo, o mundo hoje é unipolar?
Obrigado
João Carlos"
Sobre isso, meu caro João Carlos (e outros eventuais interessados), eu não teria muito a dizer, senão lamentar que isso ocorra.
Nas ciências humanas em geral, e na universidade brasileira em particular, há uma tendência para afirmações com base em "pré-conceitos" e idéias pré-concebidas, cabendo ou não ao leitor aceitar a opinião do eventual formulador de argumentos supostamente doutos sobre um assunto qualquer.
Você pode, por exemplo, considerar os EUA uma hiperpotência imperial, que age de forma unilateral e arrogante, e que Israel é o seu pupilo para a "política de Bush para o Oriente Médio", como ouvi mais de uma vez de colegas universitários. Se você não concordar com este tipo de argumento, pode eventualmente ser mal julgado por alguma banca supostamente antiimperialista.
Dou dois exemplos de como as coisas podem ser deformadas, uma de cada "escola" ou tendência, para não parecer parcial.
A famosa "teoria da dependência", para criticar, em primeira mão o douto sociólogo uspiano que acabou tornando-se presidente da República e que é hoje considerado, em certos setores, como um ideólogo neoliberal, vendido ao imperialismo.
Essa "opinião" não constitui obviamente uma "teoria" e se o fosse seria uma bobagem imensa. Isso não impede de que gregos e goianos (sobretudo americanos) a tenham utilizado extensiva e intensivamente como exemplo mesmo de anaálise inovadora da realidade latino-americana, quando ela é justamente isso, um amontoado de bobagens que caberia esqueceer (como aliás recomendou seu autor, sem ter sido atendido, e sem ter reconhecido que o disse).
Na outra vertente, em certos setores maniqueistas, o mundo, a América Latina, o Brasil, etc, se dividem em nacionalistas soberanistas e em entreguistas alinhados ao imperialismo, os primeiros tratando de desenvolver o país em bases autônomas, e os segundos apenas interessados em impedir o seu desenvolvimento e em entregá-lo de mãos atadas ao imperialismo.
Isso também é uma bobagem monumental, o que não impede esses autores de serem servidos aos pobres estudantes universitários como se ciência fosse...
Bem, você escolha o que pretende como interpretação do mundo, e faça sua prova do Rio Branco de acordo, não com o que você acredita ser mais certo, mas em função daquilo que o examinador espera que você responda.
Estaria bem assim?
Desculpa se eu compliquei a sua vida e lhe trouxe mais dúvidas do que certezas, mas o mundo é assim... ou talvez o Brasil...
699) Recomendacoes a jovens formandos em RI
Formandos em relações internacionais da Universidade Tuiuti, do Paraná, me solicitaram algumas palavras em contrapartida à homenagem que fizeram de atribuir meu nome a essa turma, de 2007.
Abaixo transcrevo parte da mensagem que encaminhei a ele, a propósito dos seus “desafios e compromissos como profissionais” de relações internacionais.
(...)
Não tenho vocação de conselheiro espiritual, mas creio poder formular algumas simples recomendações, não tanto enquanto mestre ou profissional da diplomacia, mas simplesmente na qualidade de alguém que acumulou certa experiência de vida, no nomadismo da profissão, nas constantes e intensas leituras, nas observações de viagem e no contato com todos os tipos de pessoas, dos mais diversos países e de diversas inclinações políticas e ideológicas. Eu o faço mais como um colega de vocês do que como alguém que se considera superior ou detentor de algum saber especial.
Minhas simples recomendações, não comprometedoras para ninguém, seriam estas:
1) Em primeiro lugar, tenham princípios de vida, isto é, valores e causas a defender.
Todos nós temos de ter alguma causa maior que guie a nossa vida, que não seja o simples enriquecimento pelo trabalho, que certamente é dignificante e necessário, mas não basta, por si só, para dar sentido a uma existência inteira. Valores não são apenas os religiosos, por mais que estes possam ser importantes; são, também, aqueles que estão vinculados à dignidade humana, à defesa dos direitos humanos, da tolerância, da convivência pacífica, da justiça e da liberdade.
2) Coloquem o interesse nacional acima das considerações locais, setoriais ou simplesmente provincianas.
O Brasil é hoje, infelizmente, um país que conservou, sem nunca ter conseguido extingui-lo, o patrimonialismo dos antigos dominadores ibéricos. Acima desse vício, lamentavelmente, vem construindo toda sorte de particularismos e corporativismos que tornam especialmente difícil a construção de um projeto nacional consensual, que consiga romper as iniqüidades remanescentes de sua estrutura social, os desajustes de sua democracia de má qualidade, o baixo grau de esperança que decorre de seu pífio dinamismo econômico. Sobretudo, não confundam o interesse nacional com o interesse do Estado; ele talvez seja o oposto, mesmo, do interesse do Estado, que está diretamente na raiz do nosso baixo crescimento, do patrimonialismo e do fisiologismo exacerbado, da proliferação de interesses particulares primando sobre o interesse de toda a nacionalidade. O Estado, hoje, talvez já não seja a solução; ele é, provavelmente, o problema que deve ser resolvido, se o Brasil pretende retomar seu processo de crescimento.
O treinamento de vocês como internacionalistas, o conhecimento de outras realidades econômicas e sociais, mais dinâmicas e, sobretudo, mais justas socialmente, podem indicar, em princípio, onde está o interesse nacional, acima e além dos discursos politiqueiros e eleitoreiros que nos invadem a cada dois anos. Conservem certo grau de ceticismo sadio em relação a esses discursos e tratem de refletir e descobrir onde estaria o interesse nacional, em cada promessa de palanque ouvida nesses intervalos da democracia.
3) Tenham objetivos e metas a defender, sempre e em quaisquer circunstâncias.
As minhas metas, por exemplo, são as da inteligência, da racionalidade, da cultura, da educação, da tolerância, da democracia e do comprometimento com o bem-estar e a justiça social. Encontro muitas dessas metas que procuro para o meu País nos livros, bem mais, em todo caso, do que na vida real, o que seria obviamente preferível. O fato, pelo menos, de tê-las como metas já me serve de guia de vida, de diretriz moral, de justificativa ética para a minha existência. Tenho procurado servir a essas causas, dentro de minhas possibilidades humanas e materiais.
Mas, também tenho algumas causas “contra” e seria bom que vocês tivessem as suas. Eu, por exemplo, sou contra a ignorância, a irracionalidade (sobretudo em matéria de políticas públicas), sou profundamente contrário ao mau-uso do dinheiro público e à malversação das instituições estatais por gente descomprometida com os princípios da democracia e do bem-estar social. Sou contra a intolerância em matéria de opinião ou de religião, sou contra todos os fundamentalismos e integrismos existentes (nem todos eles são necessariamente de natureza religiosa), e sou, de maneira geral, contra as crenças irracionais. Acredito na ciência e no seu infinito e crescente poder para tornar o homem mais livre, mais consciente e até mais humano, se ouso dizer. Tenham confiança na ciência, ou, se quiserem, tenham fé na ciência.
Creio na capacidade da humanidade em elevar-se continuamente na escala da civilização, na defesa dos direitos do homem, de valores morais que transcendem os relativismos culturais. Sou pela universalização da democracia e dos direitos humanos, mesmo contra a razão de Estado.
4) Sejam socialmente responsáveis, sem abdicar da liberdade individual e do princípio do mérito pessoal.
Sou, em princípio, a favor da igualdade, contra o mero igualitarismo. Em outros termos, sou pelo reconhecimento dos méritos individuais e do esforço próprio na conquista dos objetivos de vida de cada um. Acredito que aqueles verdadeiramente desprovidos de meios próprios de subsistência possam ou devam ser ajudados, sobretudo intelectualmente, menos até do que no plano material. A educação deve ser repartida entre todos, como forma de capacitar o maior número possível na busca do sucesso individual, com base no desempenho próprio, não na assistência pública. A mera assistência nunca capacitou ninguém, assim como a ajuda oficial ao desenvolvimento raramente consegue elevar um país das agruras do subdesenvolvimento.
O distributivismo fácil, como muitas vezes se vê oficializado como políticas de Estado, ou aquele que é até extorquido do Estado por grupos organizados em torno de falsos princípios de “justiça social”, transmite a ilusão passageira de que os problemas sociais são resolvidos, quando eles podem ser agravados e tornados perenes. Tenham consciência de que apenas a educação pode equacionar esses problemas, e não me refiro necessariamente à educação superior. Eu me refiro à simples e básica educação fundamental, algo ainda distante de grande parte dos brasileiros.
5) Sejam íntegros no plano intelectual e não pratiquem o auto-engano.
Sou, sobretudo, um defensor acirrado da integridade do trabalho intelectual e posiciono-me profundamente contra a desonestidade acadêmica. O crescimento da ignorância, inclusive na universidade, e a expansão dos irracionalismos contemporâneos assusta-me, tanto quanto a desonestidade na vida pública, tendência lamentável que se observa no Brasil e em muitos outros países. Nossas instituições públicas estão se deteriorando visivelmente, até mais no plano moral do que no terreno propriamente material. A responsabilidade de nossa geração é enorme, pois está muito claro que o Brasil vem regredindo em vários terrenos, talvez mais relativamente do que absolutamente. Temos o dever de inverter este itinerário para a decadência.
Acredito que devamos nos esforçar para construir um mundo melhor do que o que recebemos de nossos pais e antecessores. Nossa responsabilidade individual é a de deixar um mundo melhor para nossos filhos e netos, que nos sucederão,. Certamente não gostaríamos de legar-lhes apenas déficit e dívida pública, violência urbana e corrupção oficial.
Por isso, não pratiquemos o auto-engano de pensar que cabe a outros a resolução desses terríveis problemas da corrupção política, da má qualidade da educação, do mau funcionamento do Estado, das práticas deletérias na vida cotidiana. Esses problemas são nossos, e nos cabe enfrentá-los aqui e agora. Cada um na sua esfera de atividade.
Como professor eventual, profissão que exerço irregularmente, mas de forma totalmente voluntária e com muita satisfação intelectual, acredito ser minha obrigação transmitir o máximo de conhecimentos aos meus alunos e outros aprendizes distantes, como podem ser vocês. Mais do que informação, creio que devo provê-los, essencialmente, de métodos de aprendizado auto-sustentado, defensor acirrado que sou do autodidatismo. Considero-me um pesquisador livre, sem qualquer subordinação a instituições ou corporações. Acredito que vocês também devem contribuir, cada um na sua atividade, para o avanço dos conhecimentos na sua área de trabalho. Depois, tentem estender a outros aquilo que vocês aprenderam, descobriram ou conquistaram, numa linguagem simples e acessível ao maior número de cidadãos.
Tenho plena confiança de que vocês se sentirão melhor sendo parte de uma comunidade consciente de seus deveres sociais, e não apenas reivindicadora de direitos a um Estado falido. Estes são os meus princípios e valores. Espero que eles possam servir de guia a alguns de vocês. Sejam bem sucedidos na vida profissional, não abandonem jamais os estudos, construam famílias felizes e sejam vocês mesmos felizes, no plano individual e social. Por isso, contribuam para tornar outros, mais desprovidos, um pouco menos infelizes. Isto se dará pelo conhecimento e pela educação. Algo que vocês adquiriram nos últimos quatro anos. Agora é a hora de colocar tudo isso em prática.
Felicidades e muito obrigado!
Paulo Roberto de Almeida
(Brasília, 6 de fevereiro de 2007)
Abaixo transcrevo parte da mensagem que encaminhei a ele, a propósito dos seus “desafios e compromissos como profissionais” de relações internacionais.
(...)
Não tenho vocação de conselheiro espiritual, mas creio poder formular algumas simples recomendações, não tanto enquanto mestre ou profissional da diplomacia, mas simplesmente na qualidade de alguém que acumulou certa experiência de vida, no nomadismo da profissão, nas constantes e intensas leituras, nas observações de viagem e no contato com todos os tipos de pessoas, dos mais diversos países e de diversas inclinações políticas e ideológicas. Eu o faço mais como um colega de vocês do que como alguém que se considera superior ou detentor de algum saber especial.
Minhas simples recomendações, não comprometedoras para ninguém, seriam estas:
1) Em primeiro lugar, tenham princípios de vida, isto é, valores e causas a defender.
Todos nós temos de ter alguma causa maior que guie a nossa vida, que não seja o simples enriquecimento pelo trabalho, que certamente é dignificante e necessário, mas não basta, por si só, para dar sentido a uma existência inteira. Valores não são apenas os religiosos, por mais que estes possam ser importantes; são, também, aqueles que estão vinculados à dignidade humana, à defesa dos direitos humanos, da tolerância, da convivência pacífica, da justiça e da liberdade.
2) Coloquem o interesse nacional acima das considerações locais, setoriais ou simplesmente provincianas.
O Brasil é hoje, infelizmente, um país que conservou, sem nunca ter conseguido extingui-lo, o patrimonialismo dos antigos dominadores ibéricos. Acima desse vício, lamentavelmente, vem construindo toda sorte de particularismos e corporativismos que tornam especialmente difícil a construção de um projeto nacional consensual, que consiga romper as iniqüidades remanescentes de sua estrutura social, os desajustes de sua democracia de má qualidade, o baixo grau de esperança que decorre de seu pífio dinamismo econômico. Sobretudo, não confundam o interesse nacional com o interesse do Estado; ele talvez seja o oposto, mesmo, do interesse do Estado, que está diretamente na raiz do nosso baixo crescimento, do patrimonialismo e do fisiologismo exacerbado, da proliferação de interesses particulares primando sobre o interesse de toda a nacionalidade. O Estado, hoje, talvez já não seja a solução; ele é, provavelmente, o problema que deve ser resolvido, se o Brasil pretende retomar seu processo de crescimento.
O treinamento de vocês como internacionalistas, o conhecimento de outras realidades econômicas e sociais, mais dinâmicas e, sobretudo, mais justas socialmente, podem indicar, em princípio, onde está o interesse nacional, acima e além dos discursos politiqueiros e eleitoreiros que nos invadem a cada dois anos. Conservem certo grau de ceticismo sadio em relação a esses discursos e tratem de refletir e descobrir onde estaria o interesse nacional, em cada promessa de palanque ouvida nesses intervalos da democracia.
3) Tenham objetivos e metas a defender, sempre e em quaisquer circunstâncias.
As minhas metas, por exemplo, são as da inteligência, da racionalidade, da cultura, da educação, da tolerância, da democracia e do comprometimento com o bem-estar e a justiça social. Encontro muitas dessas metas que procuro para o meu País nos livros, bem mais, em todo caso, do que na vida real, o que seria obviamente preferível. O fato, pelo menos, de tê-las como metas já me serve de guia de vida, de diretriz moral, de justificativa ética para a minha existência. Tenho procurado servir a essas causas, dentro de minhas possibilidades humanas e materiais.
Mas, também tenho algumas causas “contra” e seria bom que vocês tivessem as suas. Eu, por exemplo, sou contra a ignorância, a irracionalidade (sobretudo em matéria de políticas públicas), sou profundamente contrário ao mau-uso do dinheiro público e à malversação das instituições estatais por gente descomprometida com os princípios da democracia e do bem-estar social. Sou contra a intolerância em matéria de opinião ou de religião, sou contra todos os fundamentalismos e integrismos existentes (nem todos eles são necessariamente de natureza religiosa), e sou, de maneira geral, contra as crenças irracionais. Acredito na ciência e no seu infinito e crescente poder para tornar o homem mais livre, mais consciente e até mais humano, se ouso dizer. Tenham confiança na ciência, ou, se quiserem, tenham fé na ciência.
Creio na capacidade da humanidade em elevar-se continuamente na escala da civilização, na defesa dos direitos do homem, de valores morais que transcendem os relativismos culturais. Sou pela universalização da democracia e dos direitos humanos, mesmo contra a razão de Estado.
4) Sejam socialmente responsáveis, sem abdicar da liberdade individual e do princípio do mérito pessoal.
Sou, em princípio, a favor da igualdade, contra o mero igualitarismo. Em outros termos, sou pelo reconhecimento dos méritos individuais e do esforço próprio na conquista dos objetivos de vida de cada um. Acredito que aqueles verdadeiramente desprovidos de meios próprios de subsistência possam ou devam ser ajudados, sobretudo intelectualmente, menos até do que no plano material. A educação deve ser repartida entre todos, como forma de capacitar o maior número possível na busca do sucesso individual, com base no desempenho próprio, não na assistência pública. A mera assistência nunca capacitou ninguém, assim como a ajuda oficial ao desenvolvimento raramente consegue elevar um país das agruras do subdesenvolvimento.
O distributivismo fácil, como muitas vezes se vê oficializado como políticas de Estado, ou aquele que é até extorquido do Estado por grupos organizados em torno de falsos princípios de “justiça social”, transmite a ilusão passageira de que os problemas sociais são resolvidos, quando eles podem ser agravados e tornados perenes. Tenham consciência de que apenas a educação pode equacionar esses problemas, e não me refiro necessariamente à educação superior. Eu me refiro à simples e básica educação fundamental, algo ainda distante de grande parte dos brasileiros.
5) Sejam íntegros no plano intelectual e não pratiquem o auto-engano.
Sou, sobretudo, um defensor acirrado da integridade do trabalho intelectual e posiciono-me profundamente contra a desonestidade acadêmica. O crescimento da ignorância, inclusive na universidade, e a expansão dos irracionalismos contemporâneos assusta-me, tanto quanto a desonestidade na vida pública, tendência lamentável que se observa no Brasil e em muitos outros países. Nossas instituições públicas estão se deteriorando visivelmente, até mais no plano moral do que no terreno propriamente material. A responsabilidade de nossa geração é enorme, pois está muito claro que o Brasil vem regredindo em vários terrenos, talvez mais relativamente do que absolutamente. Temos o dever de inverter este itinerário para a decadência.
Acredito que devamos nos esforçar para construir um mundo melhor do que o que recebemos de nossos pais e antecessores. Nossa responsabilidade individual é a de deixar um mundo melhor para nossos filhos e netos, que nos sucederão,. Certamente não gostaríamos de legar-lhes apenas déficit e dívida pública, violência urbana e corrupção oficial.
Por isso, não pratiquemos o auto-engano de pensar que cabe a outros a resolução desses terríveis problemas da corrupção política, da má qualidade da educação, do mau funcionamento do Estado, das práticas deletérias na vida cotidiana. Esses problemas são nossos, e nos cabe enfrentá-los aqui e agora. Cada um na sua esfera de atividade.
Como professor eventual, profissão que exerço irregularmente, mas de forma totalmente voluntária e com muita satisfação intelectual, acredito ser minha obrigação transmitir o máximo de conhecimentos aos meus alunos e outros aprendizes distantes, como podem ser vocês. Mais do que informação, creio que devo provê-los, essencialmente, de métodos de aprendizado auto-sustentado, defensor acirrado que sou do autodidatismo. Considero-me um pesquisador livre, sem qualquer subordinação a instituições ou corporações. Acredito que vocês também devem contribuir, cada um na sua atividade, para o avanço dos conhecimentos na sua área de trabalho. Depois, tentem estender a outros aquilo que vocês aprenderam, descobriram ou conquistaram, numa linguagem simples e acessível ao maior número de cidadãos.
Tenho plena confiança de que vocês se sentirão melhor sendo parte de uma comunidade consciente de seus deveres sociais, e não apenas reivindicadora de direitos a um Estado falido. Estes são os meus princípios e valores. Espero que eles possam servir de guia a alguns de vocês. Sejam bem sucedidos na vida profissional, não abandonem jamais os estudos, construam famílias felizes e sejam vocês mesmos felizes, no plano individual e social. Por isso, contribuam para tornar outros, mais desprovidos, um pouco menos infelizes. Isto se dará pelo conhecimento e pela educação. Algo que vocês adquiriram nos últimos quatro anos. Agora é a hora de colocar tudo isso em prática.
Felicidades e muito obrigado!
Paulo Roberto de Almeida
(Brasília, 6 de fevereiro de 2007)
698) Concurso do Rio Branco: algumas dicas genericas sobre o TPS
Concurso do Rio Branco: algumas dicas genéricas sobre o TPS
Observações puramente pessoais...
Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)
Acredito que cada um dos candidatos ao concurso do Instituto Rio Branco para ingresso na carreira diplomática está dando o melhor de si mesmo nesta fase final. O importante seria que cada um dos candidatos entre na prova confiante naquilo que sabe, não desesperado com o que que eventualmente não sabe. Tranqüilidade na hora de responder me parece importante, assim como saber administrar o tempo disponível da melhor forma possivel. Eu nunca fiz TPS, mas com base no que vejo, leio e ouço, talvez pudesse fazer as seguintes observações.
Uma boa cultura geral, solidamente embasada na história, é essencial para responder às questões -- tanto as de múltipla escolha, quanto as de certo ou errado -- uma vez que o sucesso se mede, não tanto pelo maior número de acertos, mas talvez pelo menor número de erros possível.
Digo isto porque certas questões me parecem fortemente impregnadas de subjetivismo, ou de interpretações divergentes, quanto não duvidosas. Assim, o que cabe é eliminar aquelas opções que são claramente anacrônicas e incongruentes e deixar as opções (duas em cinco, idealmente) plausíveis e possíveis para um exame mais detalhado. História pode diferir de Português, mas acredito que este último está em grande medida impregnado de História e mais ainda de Literatura. Portanto, colocar as leituras em seu devido contexto -- Machado, Graciliano, Freyre etc -- é importante para responder o menos erradamente possível.
Não tenho dicas a dar em matéria de Gramática, e lamento que o exame se apoie em regras formais que não acrescentam muito ao ato da boa escrita e ao da compreensão, mas essa parece a escolha dos examinadores e caberia saber as boas regras da língua. Como geralmente um mesmo texto serve de três a cinco questões, caberia, antes de comecar a responder à primeira do bloco, ler rapidamente todas as questões dessa seção, pois as formulações e argumentos de uma segunda ou terceira questão podem eventualmente ajudar nas respostas das demais.
De maneira geral, uma mirada geral na prova, antes de comecar a respondê-la, pode ajudar a melhor administrar o tempo disponível. Tenho por mim que, ao enfrentar cada questão, o candidato deve, mais do que determinar a resposta certa, de imediato, começar por eliminar aquelas opções que são claramente errôneas, por algum conceito anacrônico, alguma afirmação claramente impossível naquele contexto.
Sempre teremos, num conjunto de cinco opções, três respostas que são claramente deficientes e caberia riscá-las de imediato para se concentrar apenas nas duas outras possíveis. Isto, claro, se o candidato tiver segurança quanto ao que configura um "erro estrutural". Se as duas restantes apresentarem problemas de interpretação, subjetivismos ou impressionismos que derivam de uma compreensão particular de um determinado problema, a solução é tentar se colocar na cabeça do examinador, para saber o que ele espera daquela questão. Nesse particular, a leitura das demais questões do bloco pode ajudar, pois elas orientam para uma determinada direção. Admitindo-se que a maior parte das questões foi preparada por professores da UnB, a "cabeça do formulador" é um pouco a desses livros feitos pelos professores da UnB que estão na bibliografia oficial.
Se uma questão apresentar dificuldades maiores, melhor seguir adiante, para não perder muito tempo com ela, para poder melhor responder às demais e não ter de correr ao final. Meu principio geral seria sempre este: tentar eliminar as erradas, que são as "inconguentes", antes do que tentar acertar na "correta", pois dúvidas quanto ao acertado de uma opção sempre subsistem.
Algumas respostas parecerão óbvias, nos pontos dominados pelo candidato, outras francamente impossíveis de determinar, por pouca preparação do candidato naquela área específica. Então, a única coisa a fazer é avançar rapidamente nas áreas dominadas e voltar depois atrás para tratar das questões mais duvidosas ou mais difíceis. Eventualmente, as respostas das últimas e essa “volta atrás”, depois de ter trabalhado o conjunto da prova, cria uma segurança maior no enfrentamento das questões duvidoas. Então, como última regra, eu diria isto:
Em lugar de "arriscar" no momento alguma resposta duvidosa para passar adiante, para "liquidar", digamos assim, as questões na sua ordem sequencial original, melhor seria passar adiante, continuando a resolver as demais questões, e voltar depois aos problemas mais angustiantes, tentado sempre eliminar as erradas, não acertar a “certa”. Esta restará, talvez, por eliminação das demais.
Estas seriam as minhas observações de caráter geral sobre a prova. Desejo todo o sucesso a cada um dos candidatos, o que vem, em grande medida, com a tranquilidade, a confiança em si mesmo, e a satisfação de ter feito o melhor possível para uma preparação fundamentalmente autodidática. Acumular conhecimentos sempre é bom, para qualquer coisa da vida. Sempre estaremos melhor sabendo mais, tendo empenhado esforços no aperfeiçoamento pessoal.
Boa sorte.
Brasília, 7 fevereiro 2007.
Observações puramente pessoais...
Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)
Acredito que cada um dos candidatos ao concurso do Instituto Rio Branco para ingresso na carreira diplomática está dando o melhor de si mesmo nesta fase final. O importante seria que cada um dos candidatos entre na prova confiante naquilo que sabe, não desesperado com o que que eventualmente não sabe. Tranqüilidade na hora de responder me parece importante, assim como saber administrar o tempo disponível da melhor forma possivel. Eu nunca fiz TPS, mas com base no que vejo, leio e ouço, talvez pudesse fazer as seguintes observações.
Uma boa cultura geral, solidamente embasada na história, é essencial para responder às questões -- tanto as de múltipla escolha, quanto as de certo ou errado -- uma vez que o sucesso se mede, não tanto pelo maior número de acertos, mas talvez pelo menor número de erros possível.
Digo isto porque certas questões me parecem fortemente impregnadas de subjetivismo, ou de interpretações divergentes, quanto não duvidosas. Assim, o que cabe é eliminar aquelas opções que são claramente anacrônicas e incongruentes e deixar as opções (duas em cinco, idealmente) plausíveis e possíveis para um exame mais detalhado. História pode diferir de Português, mas acredito que este último está em grande medida impregnado de História e mais ainda de Literatura. Portanto, colocar as leituras em seu devido contexto -- Machado, Graciliano, Freyre etc -- é importante para responder o menos erradamente possível.
Não tenho dicas a dar em matéria de Gramática, e lamento que o exame se apoie em regras formais que não acrescentam muito ao ato da boa escrita e ao da compreensão, mas essa parece a escolha dos examinadores e caberia saber as boas regras da língua. Como geralmente um mesmo texto serve de três a cinco questões, caberia, antes de comecar a responder à primeira do bloco, ler rapidamente todas as questões dessa seção, pois as formulações e argumentos de uma segunda ou terceira questão podem eventualmente ajudar nas respostas das demais.
De maneira geral, uma mirada geral na prova, antes de comecar a respondê-la, pode ajudar a melhor administrar o tempo disponível. Tenho por mim que, ao enfrentar cada questão, o candidato deve, mais do que determinar a resposta certa, de imediato, começar por eliminar aquelas opções que são claramente errôneas, por algum conceito anacrônico, alguma afirmação claramente impossível naquele contexto.
Sempre teremos, num conjunto de cinco opções, três respostas que são claramente deficientes e caberia riscá-las de imediato para se concentrar apenas nas duas outras possíveis. Isto, claro, se o candidato tiver segurança quanto ao que configura um "erro estrutural". Se as duas restantes apresentarem problemas de interpretação, subjetivismos ou impressionismos que derivam de uma compreensão particular de um determinado problema, a solução é tentar se colocar na cabeça do examinador, para saber o que ele espera daquela questão. Nesse particular, a leitura das demais questões do bloco pode ajudar, pois elas orientam para uma determinada direção. Admitindo-se que a maior parte das questões foi preparada por professores da UnB, a "cabeça do formulador" é um pouco a desses livros feitos pelos professores da UnB que estão na bibliografia oficial.
Se uma questão apresentar dificuldades maiores, melhor seguir adiante, para não perder muito tempo com ela, para poder melhor responder às demais e não ter de correr ao final. Meu principio geral seria sempre este: tentar eliminar as erradas, que são as "inconguentes", antes do que tentar acertar na "correta", pois dúvidas quanto ao acertado de uma opção sempre subsistem.
Algumas respostas parecerão óbvias, nos pontos dominados pelo candidato, outras francamente impossíveis de determinar, por pouca preparação do candidato naquela área específica. Então, a única coisa a fazer é avançar rapidamente nas áreas dominadas e voltar depois atrás para tratar das questões mais duvidosas ou mais difíceis. Eventualmente, as respostas das últimas e essa “volta atrás”, depois de ter trabalhado o conjunto da prova, cria uma segurança maior no enfrentamento das questões duvidoas. Então, como última regra, eu diria isto:
Em lugar de "arriscar" no momento alguma resposta duvidosa para passar adiante, para "liquidar", digamos assim, as questões na sua ordem sequencial original, melhor seria passar adiante, continuando a resolver as demais questões, e voltar depois aos problemas mais angustiantes, tentado sempre eliminar as erradas, não acertar a “certa”. Esta restará, talvez, por eliminação das demais.
Estas seriam as minhas observações de caráter geral sobre a prova. Desejo todo o sucesso a cada um dos candidatos, o que vem, em grande medida, com a tranquilidade, a confiança em si mesmo, e a satisfação de ter feito o melhor possível para uma preparação fundamentalmente autodidática. Acumular conhecimentos sempre é bom, para qualquer coisa da vida. Sempre estaremos melhor sabendo mais, tendo empenhado esforços no aperfeiçoamento pessoal.
Boa sorte.
Brasília, 7 fevereiro 2007.
segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007
697) Limmericks...
Limmericks
Como sabem muitos (mas nem todos), “limmericks” é uma forma de expressão poética contendo algum ensinamento prosaico, ou mesmo um divertimento passageiro, organizada em cinco estrofes, que sempre combina duas rimas na forma aabba.
Não sei se tenho jeito para essas coisas, mas vou tentar arriscar...
Honestidade intelectual
Honrar a palavra dada
Recusar a verdade revelada
Ser, no equilíbrio, um cético
Manter comportamento ético
É a que aspiro, antes de mais nada
Projeto de vida
Ampliar conhecimento
É o meu empreendimento
Propagar sabedoria
Distribuir benfeitoria
Eu vivo para esse invento...
Como sabem muitos (mas nem todos), “limmericks” é uma forma de expressão poética contendo algum ensinamento prosaico, ou mesmo um divertimento passageiro, organizada em cinco estrofes, que sempre combina duas rimas na forma aabba.
Não sei se tenho jeito para essas coisas, mas vou tentar arriscar...
Honestidade intelectual
Honrar a palavra dada
Recusar a verdade revelada
Ser, no equilíbrio, um cético
Manter comportamento ético
É a que aspiro, antes de mais nada
Projeto de vida
Ampliar conhecimento
É o meu empreendimento
Propagar sabedoria
Distribuir benfeitoria
Eu vivo para esse invento...
sábado, 3 de fevereiro de 2007
696) A arte de ser contrarianista...
O contrarianismo, na prática
Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)
Já me defini, em algum trabalho anterior, como um “contrarianista”, isto é, alguém que procura ver as “coisas da vida” com um olhar cético, sempre interrogando os fundamentos e as razões de por quê as coisas são daquele jeito e não de outro, ou de como elas poderiam ser ainda melhores do que são, aparentemente a um menor custo para a sociedade ou atendendo a critérios superiores de racionalidade e de instrumentalidade. Ou seja, em linguagem da economia política, o contrarianista é um indivíduo que está sempre procurando aumentar as externalidades positivas e diminuir as negativas, sempre efetuando cálculos de custo-oportunidade do capital empregado, sobre o retorno mais eficiente possível, adequando os meios disponíveis ao princípio da escassez.
O contrarianista não é, a despeito do que muitos possam pensar, um ser que sempre é “do contra”, um caráter negativo ou pessimista. Ao contrário, trata-se, para ele, de buscar otimizar os recursos existentes, indagando continuamente como fazer melhor, eventualmente mais barato, com os parcos meios existentes. Esta é a minha concepção do contrarianismo, uma arte difícil de ser exercitada, mais difícil ainda de ser compreendida. Eu a definiria, segundo uma lição que aprendi ainda na adolescência, como um exercício de “ceticismo sadio”, ou seja, o espírito crítico que não se compraz, simplesmente, em negar as “coisas” como elas são, mas que se esforça, em toda boa vontade, para que elas sejam ainda melhores do que são, questionando sua forma de ser atual e propondo uma organização que possa ser ainda mais funcional do que a existente.
Por isso mesmo, pretendo, neste curto ensaio, tecer algumas considerações sobre a arte de ser contrarianista, o que, confesso, não é fácil. Sempre nos arriscamos a ser incompreendidos, em aparecer como puramente negativos ou derrotistas, quando o que se busca, na verdade, é reduzir o custo das soluções “humanamente produzidas” (elas sempre são falhas). Talvez, a melhor forma de se demonstrar, na prática, a arte do contrarianismo, seria elaborar uma série de manuais de sentido contrário, isto é, em lugar dos How to do something, escrever sobre “como não fazer” determinadas coisas. Como eu exercito muito freqüentemente a resenha de livros, creio que não seria difícil oferecer algumas observações sobre essa prática corriqueira da vida cotidiana. Aliás, já o fiz, num dos primeiros posts de meu blog “Book reviews” dedicado aos livros, post nº 2, “A arte da resenha” (neste link).
Existem, de fato, muitos manuais e guias sobre a arte ou a maneira de se fazer isto ou aquilo, sendo os mais conhecidos, justamente, aqueles americanos que seguem as regras usuais do gênero “how to do this or that...”. Aperfeiçoando o gênero surgiram os “beginners’ guide to...” e os “idiot’s guide for...”. Antes dessa era de proliferação infernal de guias para todos os idiotas existentes, eu cheguei a consultar, quando estava elaborando a minha tese de doutoramento, um guia de um desses americanos do self-help, que se chamava, exatamente, How to complete, and survive... a doctoral dissertation: foi útil, confesso, ao menos em diminuir o stress com os ciclos ascendentes (eufóricos) e descendentes (que podem ser depressivos, para alguns candidatos) do longo périplo na direção do final da tese. Talvez, um dia, eu faça um manual sobre “Como não exercer a diplomacia”, para o que eu mesmo teria muito material primário – autoproduzido – a ser processado e apresentado a eventuais candidatos e outros incautos da profissão.
Esperando que este dia chegue, vejamos quais poderiam ser algumas regras simples do contrarianista profissional, aquele que leva esse método a sério, considera o exercício válido do ponto de vista das best practices e pretende aperfeiçoar os procedimentos e instrumentos para elevar essa prática ao estado de “arte”, se ela já não o é. Uma simples listagem, a ser detalhada em trabalhos posteriores, poderia compreender os seguintes pontos:
1) Questione as origens:
Toda vez que for apresentado a um novo problema, ou uma questão não corriqueira, veja se consegue detectar as origens daquele problema, porque ele surgiu dessa forma neste momento e neste local. Saber a etiologia de algum fenômeno, assim como saber a etimologia das palavras, sempre ajuda a detectar as razões de sua irrupção num dado contexto em que você é chamado a intervir. As origens e fundamentos de um processo qualquer podem contribuir para determinar seu possível desenvolvimento e eventual itinerário. É assim que procedem os epidemiologistas e, creio também, os linguistas, sempre preocupados em detectar os mecanismos fundamentais de criação de um fenômeno ou processo. Portanto, não tenha medo em perguntar: “de onde surgiu isso?; como é que isso veio parar aqui?; qual é a origem desse treco?”. Pode ajudar um bocado.
2) Determine se o que está sendo apresentado é realmente a essência da coisa:
Muitas vezes somos enganados pelas aparências, como já dizia um velho humorista. As coisas podem ter mais de uma dimensão – usualmente três, mas alguns apostam em dimensões “desconhecidas” – ou em todo caso todos os lados e facetas daquele problema podem não estar imediatamente visíveis ou serem perceptíveis da posição na qual você se encontra. Por isso, não hesite em fazer como Aristóteles e ir buscar a essência da coisa, sua natureza real. Na maior parte das vezes não é preciso bisturi ou serrote, apens um pouco de reflexão ou de exame mais acurado do que lhe é apresentado. Antes de qualquer pronunciamento, vire a coisa pelo avesso...
3) Pergunte por que aqui e agora?:
As coisas não sugem do nada, está claro, e, justamente, nos assuntos da alta política, da economia ou da diplomacia, elas deitam raízes lá atrás, em movimentos tectônicos que talvez tenham passado despercebidos aos contemporâneos, mas que já se moviam na direção que vieram a assumir na atualidade. O fato de estarem sendo colocadas na agenda neste momento significa que seu movimento natural as trouxe à superfície ou que alguém tenha interesse em que essas coisas sejam agora tramitadas e eventualmente resolvidas. Examine o contexto da “aparição”, determine as condições sob as quais elas estão sendo apresentadas e prepare-se para interrogar, você mesmo, as coisas surgidas na agenda. Essas medidas de caução são sempre importantes para evitar alguma reação precipitada ou incontornável, que possa comprometer seus próximos passos no tratamento dessas coisas.
4) Examine e avalie, preventivamente, todas as opções disponíveis:
Nunca existe uma única solução para qualquer problema humanamente concebível. Os problemas podem ser encaminhados por diferentes vias, seja quanto ao método (procedimentos), seja quanto à sua substância (a matéria em questão). As vias alternativas apresentam diferentes custos e produzem efeitos muito diversos, imediatos ou delongados. Sempre existe aquilo que os economistas chamam de trade-offs, isto é, uma maneira (supostamente racional) de se obter algo valioso cedendo alguma outra coisa, alegadamente menos importante para nós. O contrarianista pergunta, sempre, se a solução apresentada é a de menor custo possível, naquelas circunstâncias, e quais seriam os retornos esperados ou presumíveis da via adotada. Os custos devem sempre ser pesados em face dos ganhos esperados, ou de um emprego alternativo dos recuros disponíveis.
Por isso, é sempre recomendável fazer simulações, avaliar custos e oportunidades, enfim proceder de modo utilitário – como os velhos filósofos ingleses ensinaram –, afastando nossos preconceitos e as idées reçues. O instinto pode sté ser bom conselheiro, mas isso só vale para pessoas anormalmente sapientes ou dotadas de muita experiência de vida. Os simples mortais, como a maioria de nós, precisam se basear em algum estudo acurado da situação para poder determinar, justamente, se a solução proposta deliver the best available outcome, ou retorno. Isso só pode ser determinado após exame do problema e determinação do menor sacrifício a ser concedido, um pouco como no jogo de xadrez (aliás, recomendável para contrarianistas de todo o gênero).
5) Uma vez determinada a “solução”, engaje-se no resultado, mas criticamente:
No curso da vida, como diria Benjamin Franklin, só existem duas coisas inevitáveis: a morte e os impostos. Mas, mesmo estes podem ser modificados, ainda que não, helàs, evitados. Por isso, em matérias humanas, cabe se engajar em todo e qualquer empreendimento com alguma porta de saída, ou via alternativa. Determinada the best option for this problem, caberia engajar-se resolutamente na sua consecução, e seguir atentamente o desenvolvimento dos procedimentos. As muitas variáveis que interferem num determinado problema nem sempre são absolutamente determinadas pelos parceiros no jogo, podendo haver interferências externas, circunstâncias fortuitas e eventos imprevisíveis que alteram o curso ou o resultado final. Por isso mesmo, se deve acompanhar qualquer problema com olho crítico, vigiando cada etapa do processo, para ver se cabe ainda manter as premissas originais e o investimento efetuado naquela solução.
6) Reconsidere todo o processo e pratique um pouco de história virtual:
Todos já leram, ou pelo menos já ouviram falar, de hipóteses não realizadas no curso real da história mas que teriam sido possíveis em outras circunstâncias: “o que teria acontecido se, em Waterloo, Napoleão não tivesse sido derrotado?”; e se Churchill isto e Hitler aquilo?, ou seja, o impoderável resumido na pergunta clássica da história virtual “What if?”. O contrarianista deve ser, antes de mais nada, um praticante da história virtual e considerar todos os outcomes possíveis num determinado processo, pois eles poderiam ter efetivamente ter acontecido.
Minha pergunta básica, para um exercício espiritual e prático de todos os contrarianistas aprendizes, para os candidatos a “céticos sadios”, seria esta: “por que o Brasil não é um país desenvolvido?” Respostas tentativas para o meu e-mail, por favor...
Brasília, 1717: 3 de fevereiro 2007, 4 p.
Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)
Já me defini, em algum trabalho anterior, como um “contrarianista”, isto é, alguém que procura ver as “coisas da vida” com um olhar cético, sempre interrogando os fundamentos e as razões de por quê as coisas são daquele jeito e não de outro, ou de como elas poderiam ser ainda melhores do que são, aparentemente a um menor custo para a sociedade ou atendendo a critérios superiores de racionalidade e de instrumentalidade. Ou seja, em linguagem da economia política, o contrarianista é um indivíduo que está sempre procurando aumentar as externalidades positivas e diminuir as negativas, sempre efetuando cálculos de custo-oportunidade do capital empregado, sobre o retorno mais eficiente possível, adequando os meios disponíveis ao princípio da escassez.
O contrarianista não é, a despeito do que muitos possam pensar, um ser que sempre é “do contra”, um caráter negativo ou pessimista. Ao contrário, trata-se, para ele, de buscar otimizar os recursos existentes, indagando continuamente como fazer melhor, eventualmente mais barato, com os parcos meios existentes. Esta é a minha concepção do contrarianismo, uma arte difícil de ser exercitada, mais difícil ainda de ser compreendida. Eu a definiria, segundo uma lição que aprendi ainda na adolescência, como um exercício de “ceticismo sadio”, ou seja, o espírito crítico que não se compraz, simplesmente, em negar as “coisas” como elas são, mas que se esforça, em toda boa vontade, para que elas sejam ainda melhores do que são, questionando sua forma de ser atual e propondo uma organização que possa ser ainda mais funcional do que a existente.
Por isso mesmo, pretendo, neste curto ensaio, tecer algumas considerações sobre a arte de ser contrarianista, o que, confesso, não é fácil. Sempre nos arriscamos a ser incompreendidos, em aparecer como puramente negativos ou derrotistas, quando o que se busca, na verdade, é reduzir o custo das soluções “humanamente produzidas” (elas sempre são falhas). Talvez, a melhor forma de se demonstrar, na prática, a arte do contrarianismo, seria elaborar uma série de manuais de sentido contrário, isto é, em lugar dos How to do something, escrever sobre “como não fazer” determinadas coisas. Como eu exercito muito freqüentemente a resenha de livros, creio que não seria difícil oferecer algumas observações sobre essa prática corriqueira da vida cotidiana. Aliás, já o fiz, num dos primeiros posts de meu blog “Book reviews” dedicado aos livros, post nº 2, “A arte da resenha” (neste link).
Existem, de fato, muitos manuais e guias sobre a arte ou a maneira de se fazer isto ou aquilo, sendo os mais conhecidos, justamente, aqueles americanos que seguem as regras usuais do gênero “how to do this or that...”. Aperfeiçoando o gênero surgiram os “beginners’ guide to...” e os “idiot’s guide for...”. Antes dessa era de proliferação infernal de guias para todos os idiotas existentes, eu cheguei a consultar, quando estava elaborando a minha tese de doutoramento, um guia de um desses americanos do self-help, que se chamava, exatamente, How to complete, and survive... a doctoral dissertation: foi útil, confesso, ao menos em diminuir o stress com os ciclos ascendentes (eufóricos) e descendentes (que podem ser depressivos, para alguns candidatos) do longo périplo na direção do final da tese. Talvez, um dia, eu faça um manual sobre “Como não exercer a diplomacia”, para o que eu mesmo teria muito material primário – autoproduzido – a ser processado e apresentado a eventuais candidatos e outros incautos da profissão.
Esperando que este dia chegue, vejamos quais poderiam ser algumas regras simples do contrarianista profissional, aquele que leva esse método a sério, considera o exercício válido do ponto de vista das best practices e pretende aperfeiçoar os procedimentos e instrumentos para elevar essa prática ao estado de “arte”, se ela já não o é. Uma simples listagem, a ser detalhada em trabalhos posteriores, poderia compreender os seguintes pontos:
1) Questione as origens:
Toda vez que for apresentado a um novo problema, ou uma questão não corriqueira, veja se consegue detectar as origens daquele problema, porque ele surgiu dessa forma neste momento e neste local. Saber a etiologia de algum fenômeno, assim como saber a etimologia das palavras, sempre ajuda a detectar as razões de sua irrupção num dado contexto em que você é chamado a intervir. As origens e fundamentos de um processo qualquer podem contribuir para determinar seu possível desenvolvimento e eventual itinerário. É assim que procedem os epidemiologistas e, creio também, os linguistas, sempre preocupados em detectar os mecanismos fundamentais de criação de um fenômeno ou processo. Portanto, não tenha medo em perguntar: “de onde surgiu isso?; como é que isso veio parar aqui?; qual é a origem desse treco?”. Pode ajudar um bocado.
2) Determine se o que está sendo apresentado é realmente a essência da coisa:
Muitas vezes somos enganados pelas aparências, como já dizia um velho humorista. As coisas podem ter mais de uma dimensão – usualmente três, mas alguns apostam em dimensões “desconhecidas” – ou em todo caso todos os lados e facetas daquele problema podem não estar imediatamente visíveis ou serem perceptíveis da posição na qual você se encontra. Por isso, não hesite em fazer como Aristóteles e ir buscar a essência da coisa, sua natureza real. Na maior parte das vezes não é preciso bisturi ou serrote, apens um pouco de reflexão ou de exame mais acurado do que lhe é apresentado. Antes de qualquer pronunciamento, vire a coisa pelo avesso...
3) Pergunte por que aqui e agora?:
As coisas não sugem do nada, está claro, e, justamente, nos assuntos da alta política, da economia ou da diplomacia, elas deitam raízes lá atrás, em movimentos tectônicos que talvez tenham passado despercebidos aos contemporâneos, mas que já se moviam na direção que vieram a assumir na atualidade. O fato de estarem sendo colocadas na agenda neste momento significa que seu movimento natural as trouxe à superfície ou que alguém tenha interesse em que essas coisas sejam agora tramitadas e eventualmente resolvidas. Examine o contexto da “aparição”, determine as condições sob as quais elas estão sendo apresentadas e prepare-se para interrogar, você mesmo, as coisas surgidas na agenda. Essas medidas de caução são sempre importantes para evitar alguma reação precipitada ou incontornável, que possa comprometer seus próximos passos no tratamento dessas coisas.
4) Examine e avalie, preventivamente, todas as opções disponíveis:
Nunca existe uma única solução para qualquer problema humanamente concebível. Os problemas podem ser encaminhados por diferentes vias, seja quanto ao método (procedimentos), seja quanto à sua substância (a matéria em questão). As vias alternativas apresentam diferentes custos e produzem efeitos muito diversos, imediatos ou delongados. Sempre existe aquilo que os economistas chamam de trade-offs, isto é, uma maneira (supostamente racional) de se obter algo valioso cedendo alguma outra coisa, alegadamente menos importante para nós. O contrarianista pergunta, sempre, se a solução apresentada é a de menor custo possível, naquelas circunstâncias, e quais seriam os retornos esperados ou presumíveis da via adotada. Os custos devem sempre ser pesados em face dos ganhos esperados, ou de um emprego alternativo dos recuros disponíveis.
Por isso, é sempre recomendável fazer simulações, avaliar custos e oportunidades, enfim proceder de modo utilitário – como os velhos filósofos ingleses ensinaram –, afastando nossos preconceitos e as idées reçues. O instinto pode sté ser bom conselheiro, mas isso só vale para pessoas anormalmente sapientes ou dotadas de muita experiência de vida. Os simples mortais, como a maioria de nós, precisam se basear em algum estudo acurado da situação para poder determinar, justamente, se a solução proposta deliver the best available outcome, ou retorno. Isso só pode ser determinado após exame do problema e determinação do menor sacrifício a ser concedido, um pouco como no jogo de xadrez (aliás, recomendável para contrarianistas de todo o gênero).
5) Uma vez determinada a “solução”, engaje-se no resultado, mas criticamente:
No curso da vida, como diria Benjamin Franklin, só existem duas coisas inevitáveis: a morte e os impostos. Mas, mesmo estes podem ser modificados, ainda que não, helàs, evitados. Por isso, em matérias humanas, cabe se engajar em todo e qualquer empreendimento com alguma porta de saída, ou via alternativa. Determinada the best option for this problem, caberia engajar-se resolutamente na sua consecução, e seguir atentamente o desenvolvimento dos procedimentos. As muitas variáveis que interferem num determinado problema nem sempre são absolutamente determinadas pelos parceiros no jogo, podendo haver interferências externas, circunstâncias fortuitas e eventos imprevisíveis que alteram o curso ou o resultado final. Por isso mesmo, se deve acompanhar qualquer problema com olho crítico, vigiando cada etapa do processo, para ver se cabe ainda manter as premissas originais e o investimento efetuado naquela solução.
6) Reconsidere todo o processo e pratique um pouco de história virtual:
Todos já leram, ou pelo menos já ouviram falar, de hipóteses não realizadas no curso real da história mas que teriam sido possíveis em outras circunstâncias: “o que teria acontecido se, em Waterloo, Napoleão não tivesse sido derrotado?”; e se Churchill isto e Hitler aquilo?, ou seja, o impoderável resumido na pergunta clássica da história virtual “What if?”. O contrarianista deve ser, antes de mais nada, um praticante da história virtual e considerar todos os outcomes possíveis num determinado processo, pois eles poderiam ter efetivamente ter acontecido.
Minha pergunta básica, para um exercício espiritual e prático de todos os contrarianistas aprendizes, para os candidatos a “céticos sadios”, seria esta: “por que o Brasil não é um país desenvolvido?” Respostas tentativas para o meu e-mail, por favor...
Brasília, 1717: 3 de fevereiro 2007, 4 p.
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