quarta-feira, 1 de abril de 2009

1052) Convite irrecusavel: Harvard University

Acabo de receber um convite para dar aulas de história latino-americana na Universidade de Harvard, em programa administrado pelo David Rockefeller Center for Latin American Studies.
Como se trata, simplesmente, da melhor universidade dos EUA, e possivelmente do mundo, achei que não devia recusar esse convite, que me obrigará a mudar-me, de armas e bagagens, para os EUA, mais especificamente para Boston, ou Cambridge.
Vou tratar da mudança agora mesmo...

terça-feira, 31 de março de 2009

1051) Turismo academico (9): 500 milhas de Indianapolis

Não, corrijo de imediato: não participei, nem pretendo participar das 500 milhas de Indianapolis, que por sinal estão comemorando o 100. aniversário este ano; vejam o site oficial neste link. Mas, acabo de conferir: 1909 é de fato o centenário da corrida, mas a primeira ocorreu apenas em 1911... (embromadores esses automobilistas locais...)

500 milhas, da Virginia a Indianapolis...
Estou apenas conferindo minhas milhagens (que não me dão direito a milhagens extras, pois isso eu já venho fazendo): fiz exatamente 574 milhas nesta terça-feira, 31 de março de 2009, desde a Virginia (Alexandria, onde estava no Marriott), passando por Washington (DC), estados de Maryland, West Virginia, Pennsylvannia, novamente West Virginia, Ohio e finalmente Indiana, onde estou muito próximo a Indianapolis.
Isso dá exatamente 923,5 kms, numa média aproximada de 90 kms/h, sem visita nenhuma desta vez, apenas estradas (aliás, muito boas: não vi um buraco sequer...).

As estradas são boas, as paradas apenas razoáveis: aquela coisa de MacDonalds, BurgerKing e as variantes de fast-food, além dos mesmos hotéis de sempre.
Pelo menos a rede de Comfort Inn e Comfort Suites tem internet rápida gratuita, o que já é um progresso, depois da exploração comercial de Miami e Washington.
Paisagens bucólicas, com aquela sucessão de barns de rednecks, ou seja, os celeiros dos agricultores (subsidiados, of course), algumas vaquinhas e sobretudo campos colhidos, mas limpinhos, como se tivessem sido pintados para alguma foto de cartão postal. Algumas cidades pelo caminho, mas pouca coisa de realmente interessante, a não ser alguns prédios magnificos pela sua arquitetura moderna, pontes e viadutos bonitos e seguros, controle razoável de velocidade pelos state troopers.
Tempo magnífico, na maior parte do percurso, com sol e pouco vento. Apenas um pouco de chuva já na passagem de Ohio para Indiana. Boa música em todo o percurso, alternando duas estações de jazz.
Todas estradas inter-estaduais, construídas a partir do National Security Act do presidente Eisenhower, são de concreto, sem pedágio, e com abundante sinalização. Entre os mapas e o GPS do carro, o trajeto correu como se fosse planejado milimetricamente, sem qualquer problema.

Não observei sinais de crise, mas tampouco registrei os excessos de consumo de outros tempos: paramos várias vezes em centros comerciais (outlets, em grande parte, mas shoppings, também) para algumas compras, e os estacionamentos estão relativamente vazios, sem aquelas enormes vans carregando toneladas de bugigangas, como ocorria alguns anos atrás, ou talvez até o ano passado...
Pelas matérias da CNN, registro que a confiança do consumidor americano está voltando, e pelo menos a metade acredita que a crise está passando. O desemprego chegou a dois dígitos em alguns estados da costa leste e do Pacífico (os de maior comércio exterior), mas aparentemente o país parece recobrar algum sinal de vitalidade. Tenho lido matérias pelos jornais que demonstram a grande flexibilidade do sistema produtivo e o espírito de inovação de seu povo (vários sugeriram emissão de bônus nacionais, como durante as duas guerras mundiais, em lugar de depender de dinheiro chinês [que, aliás, é americano]).

O presidente Obama partiu hoje para a Inglaterra, mas suspeito que a maior cobertura será dada a sua esposa Michelle. A CNN já entrevistou seu "biógrafo", e me pergunto quando surgirá o biógrafo do cachorro presidencial...
A imprensa americana adora futilidades, aliás como qualquer imprensa, mas nisso acho que ela tem razão: a esposa do presidente parece mais interessante do que essa reunião do G20, que não deve decidir grande coisa.

Amanhã devo me apresentar na Universidade do Illinois, onde vou passar o mês de abril, fazendo pesquisa, leituras, e dando algumas palestras para alunos de pós-graduação.

1050) Turismo academico (8): visitas e leituras em Washington

Parte do dia em Washington, nesta segunda-feira 30.03, foi ocupada com visitas e leituras.
Na parte turística, passamos no Museu de História Natural, onde Carmen Lícia comprou alguns posters de animais, e depois fomos às galerias Freer e Sackler, que fazem parte do conjunto de museus Smithsonian. Além das coleções do acervo, que ja conhecíamos de incontáveis visitas no período 1999-2003, algumas exibições especiais estavam em curso, entre elas uma sobre arte cerâmica na Ásia oriental meridional e outra sobre uma legenda tradicional japonesa, um herói samurai que mata um monstro devorador de donzelas (clássico, esse tipo de enredo, nas sociedades fortemente patriarcais); o interesse desta legenda é que ela foi objeto de desenhos de alta qualidade artística, uma espécie de manga do século XVIII e XIX (mas a legenda é do século XII, no calendário cristão, obviamente).
Aproveitamos as visitas para comprar alguns livros; escolhi uma história do Oriente Médio contemporâneo, por um ex-diplomata inglês que se tornou jornalista depois que se decepcionou com a aventura de Suez (1956). Excelente, me pareceu, mas depois eu falo sobre ele. Um outro livro me chamou a atenção, percorri várias páginas, mas acabei não comprando. Anotei, em todo caso, os dados, para buscá-lo em alguma biblioteca americana: Lucette Lagnado, 'The Man in the White Sharskin Suit: My Family's Exodus from Old Cairo to the New World' (New York: Harper Collins 2007), uma história pessoal sobre uma tragédia humana e social: a expulsão dos judeus do Egito (onde viviam desde séculos) depois da tomada do poder por Nasser, nos anos 1950. Conheci judeus egípcios que acabaram emigrando para o Brasil...
Na livraria que fica ao lado do FMI, que já frequentei muitas vezes, tomei um capuccino enquanto lia rapidamente dois livros:
1) John B. Taylor: 'Getting Off Track: How Government Actions and Interventions Caused, Prolonged, and Worsened the Financial Crisis' (Stanford, CA: Hoover Institution, 2009). Percorri vários capítulos e fiz anotações. Devo dizer que já conheço as posições do autor, a quem aliás tinha conhecido pessoalmente, quando cuidava de assuntos financeiros na Embaixada em Washington, e acompanhei algumas reuniões de trabalho entre funcionários dos dois Tesouros, sendo que Taylor era o Secretário de Assuntos Internacionais do Tesouro americano. Ele é o autor da famosa "regra de Taylor", basicamente um método de cálculo da taxa de juros de equilíbrio em função da inflação e dos preços dos ativos. Eu já li um resumo dessa obra, "What Went Wrong?", disponível na internet, que resume o essencial do livro.
2) Nancy Birdsall (org): Rescuing the World Bank: A CGD Working Group Report and Selected Essays (Washington, DC: Ccenter for Global Development, 2006). Trata-se de uma compilação de ensaios operacionais sobre a reforma do Banco Mundial, feita ao início da gestão anterior, de Paul Wolfensohn, um dos falcões do Bush no Pentágono, mas que não durou muito tempo no BIRD.
Acabei comprando um outro livro, de Deepak Lal, um liberal indiano, chamado 'Reviving the Invisible Hand', mas depois falo sobre o livro...

Também li os jornais do dia, mas os temas são sempre os mesmos: tentativa de salvamento da indústria automobilística americana -- para mim, ela já deveria ter sido reestruturada, ou vendida para os japoneses, 20 anos atrás -- e a gestão da crise atual, segundo as visões de europeus e americanos. Parece que Londres vai ser uma bela confusão, devidamente maquiada pelos assessores presidenciais...

1049) Turismo academico (7): em Washington, de volta ao centro do poder mundial (hoje, um pouco em andrajos...)

Depois de chegar a Washington, dediquei-me à informação sobre o estado de saúde do Império, lendo o Washington Post, assistindo canais de informação e debate, conversando com alguns interlocutores.
Um diagnóstico: o Império não tem justamente um diagnóstico preciso sobre o que vai mal e se esse mal é uma simples gripe ou alguma pneumonia galopante. Ninguém espera que o gigante venha a ser posto por terra, mas o fato é que temos hoje um grandalhão com sérias dúvidas sobre seu futuro imediato e sobretudo o de médio e longo prazo.
Os comentaristas de TV e jornal -- basicamente jornalistas bem informados, economistas, observadores internacionais -- não conseguem se colocar de acordo sobre o diagnóstico e, portanto, sobre o receituário a ser aplicado, que prescrição fazer e que dose de qual remédio aplicar. Não há consenso sobre a natureza da doença e não existe acordo sobre os remédios: o Plano Geithner, por exemplo, tem defensores (mitigados) e críticos acerbos, e na verdade ainda não passou por nenhum teste prático.

Conversas 1: almocei, nesta segunda-feira 30.03, com Murilo Portugal, vice-diretor gerente do Fundo Monetário Internacional, no próprio restaurante do FMI -- aparentemente sem mais subsídios, como no passado, pois os preços me pareceram de mercado, ou pelo menos comparáveis a restaurantes de nível médio -- com a conta gentilmente coberta pelo meu anfitrião. Conversamos basicamente sobre a crise americana, a próxima reunião do G20 em Londres -- e as posições dos principais países --, e a situação no e do Brasil, obviamente. Eu era mais ouvinte do que propriamente um parceiro, tanto porque sou um observador distante de processos decisórios, justamente, e meu interlocutor ocupa uma posição importante no principal órgão monetário do planeta (o que aparentemente não impressiona muita gente, pois a única coisa que se discute é como dar mais recursos ao FMI, não mais poder...).
Como disse Murilo, a regulação que vem por aí -- e alguma, mais reforçada, vai ter de ser implementada, pois a demanda dos regulacionistas, entre eles França, Brasil, Rússia e China, vai nesse sentido -- será feita com olho no retrovisor, como sempre ocorre nesses casos: os reguladores levam em conta o que deu errado na presente conjuntura. Obviamente, a próxima crise -- tenham certeza de que virá, em alguns anos -- terá outros elementos, não os mais os responsáveis pela crise atual.

Conversas 2: jantei com Otaviano Canuto, que em duas semanas assume como vice-presidente do Banco Mundial, tendo tido a mesma posição (mas com outras funções) no BID. Conversamos bem mais sobre o Brasil, a política e a economia, do que sobre os EUA e a agenda mundial. Falamos (mal) da academia brasileira, como não podia deixar de ser, e bem sobre nossos filhos, como eles são maravilhosos e estudiosos (mas isso faz parte). Basicamente, trocamos idéias sobre os desafios econômicos do próximo governo brasileiro, em face das não-reformas não-executadas pelo governo Lula. Concordamos em que a herança fiscal será pesada, além de outras coisinhas mais não publicáveis.

Conversas 3: Na noite de domingo, dia da chegada em Washington, havia conversado com um jornalista brasileiro, Francisco Mendez, que está terminando os créditos de mestrado na Georgetown University, e se prepara para voltar ao Brasil no mês de maio. Abordamos, basicamente, temas da vida universitária, nos EUA e no Brasil. Como era de se esperar, fomos impiedosos (com razão) sobre o estado lamentável do debate intelectual no Brasil, para o que muito contribui a pobreza da vida universitária e a miséria acadêmica, de modo geral (mas miséria no sentido moral, não material).

Abstenho-me de comentar a gastronomia americana, uma contradição nos termos, pois ela é lamentável: eles conseguem estragar qualquer culinária reputada, francesa, italiana, etc... Enfim, parece que quanto mais poderoso o império, pior se torna a sua comida.
Esperemos que o mesmo não ocorra com a China, aliás apontada em todas as matérias de imprensa que li como o parceiro indispensável que pode salvar este império em dificuldades. Se a China cortar os suprimentos (em dólares), os americanos caem no abismo, e vai ser uma queda bonita (ops, horrível, quero dizer). Acho que os americanos deveriam virar budistas, ou confucionistas, whatever...

domingo, 29 de março de 2009

1048) Turismo academico (6): terrorismo meteorologico e contabilidade da viagem

Depois de todo o alarmismo da sexta e sábado, em torno de tornados e chuvas fortes, feito pelo Weather Channel, em relação ao tempo ao longo da costa leste, sobre a I-95, onde eu estava viajando, confesso que pensei até em comprar equipamento de mergulho, mas nao foi preciso. Na verdade, só comprei um guarda-chuva e um casaco de chuva, Nautico, supostamente de marinheiro, e portanto impermeável.
Mas, o dia neste domingo 29 de março não podia ter sido melhor: sol em toda a estrada, por muitas milhas, apenas um pouco de vento, ou brisas mais fortes, o que aliás fez o tempo ideal para viajar.
Saimos de Lumberton e seguimos sem problemas pela I-95, chegando a Washington as 16h30, desta vez num hotel de Alexandria, perto do aeroporto de Washington.
Chuva forte ocorreu, de fato, mas na própria Flórida, de onde já tinhamos saído na sexta, e nas planícies centrais.

Conferindo agora o contador do automóvel, verifico que deixei Miami com o contador a 11.504 milhas, e cheguei ao hotel com 12.680 milhas, o que perfaz um total de 1.176 milhas, ou 588 milhas por dia. Convertido em quilometros, daria 946 quilometros por dia, ou 1.892 no total. Está na minha média histórica do viagens, incluindo visitas interessantes pelo caminho.
Vou jantar com um jornalista conhecido e conversar sobre as novidades brasileiras e americanas.
PRA, 29.03.2009, 19h5.

1047) Relações Rússia-EUA no novo cenário estratégico

O jornalista Boris Volkhonski, editor do Russia Journal, publicado por uma das mais influentes organizações não-governamentais russas, "Fundação da Política Efetiva" (Foundation for Effective Policy), contatou-me a propósito de uma pesquisa sua, segundo ele, sobre o "sentido não-Ocidental dos negócios estrangeiros da Rússia".
Não sei dizer o que ele quer dizer com isso, exatamente, mas ao lado de diversas outras questões sobre a América Latina e suas relações com o império -- qual, exatamente?; bem, só sobrou um... -- ele me colocou uma questão sobre as relações da Rússia com os EUA, depois que a Secretária de Estado Hillary Clinton fez sua primeira visita ao inimigo cordial dos americanos, levando um "botão" de restart -- aliás, traduzido erradamente para o russo, como sabem os mais informados. Apressadamente, em viagem de Brasilia a Miami, respondi o que vai transcrito (parcialmente) abaixo.

A Rússia: não quer ser o que é, mas não pode ser o que quer... [O título é meu, obviamente, retirado de uma antiga peça de teatro espanhola, sobre um noivo pobre que não consegue convencer o pai da donzela rica a deixá-la casar com ele...]

Pergunta de Boris Volkhonski (em Inglês):
1. Do you think that the intention to press the ‘reset’ button in US–Russian relations expressed by Barack Obama’s administration means a beginning of a new ‘détente’, or is it just a kind of a tactical game aimed at achieving some short-term purposes?

PRA (resposta elaborada em Português, depois vertida para o Inglês):
Provavelmente ambos, mas analistas responsáveis não se prendem a conceitos do passado, ou de uma conjuntura determinada – como o de détente, por exemplo – para expressar e analisar realidades do presente e os desafios do futuro. A história decididamente não se repete, e as circunstâncias e configurações das relações internacionais em geral, das relações ‘especiais’ entre as duas superpotências da era da Guerra Fria, bem como os ‘problemas’ de enfrentamento global daquela época – grosso modo de 1946 a 1991 – não são mais os mesmos, e isso por um fator relativamente simples. A Rússia não é sequer a herdeira da finada União Soviética, embora ele gostaria ou pretendesse sê-lo, mas ela não tem mais o poder e a liberdade de ação de que dispôs a URSS nos tempos do socialismo, muito embora a atual Federação Russa empreenda enormes esforços para recuperar não apenas o prestígio perdido, mas sobretudo o poder – mais aparente do que real – dos tempos de Guerra Fria.
Mesmo que o mundo não seja absolutamente unipolar, como alguns acreditam, e que os EUA deixem de ser arrogantemente unilateralistas, como muitos acreditam que eles sejam, sobretudo nos anos George W. Bush, os EUA são, ainda, o grande definidor da agenda internacional em termos estratégicos e de segurança; eles são a única potência capaz de projetar poder em qualquer cenário estratégico que se conceba, o que a Rússia nem de longe é capaz de fazer. Esse poder não é exercido em sua plenitude, mas o conjunto de bases militares e a presença física dos EUA no mundo – por soldados, diplomatas, agentes diversos, e também via algumas organizações internacionais – aproximam esse país o mais possível do que poderia ser chamado de ‘império universal’. Não se trata de um império ‘extrator’, como os velhos impérios dominadores do passado – chinês, romano, islâmico, espanhol, britânico, inclusive russo-soviético – mas de um império baseado no soft power da dominação econômica indireta, ou seja, um império do livre comércio e dos investimentos.
A crise atual, que deve ser vista numa perspectiva de longo prazo, imporá alguns limites a esse império, traduzindo-se numa provável perda de poder econômico relativo: não haverá declínio tecnológico ou retrocesso econômico substantivo, mas haverá uma ausência temporária de recursos – alguns deles drenados de economias satélites, como a própria China – o que constrangerá a liberdade de ação imperial. No longo prazo, haverá uma redistribuição do poder econômico no mundo, que pode ou não beneficiar a Rússia, dependendo de como esta se insere na economia globalizada.
Atualmente, a Rússia se insere basicamente de duas formas: como grande fornecedora de commodities energéticas e como fonte de poder militar em sua região específica, a Eurásia, especialmente a Ásia central, onde o seu poder de pressão é maior, assim como sobre seus ex-satélites da MittelEuropa. Ou seja, ela pode ‘chantagear’ um pouco os países dependentes de seu suprimento de energia – basicamente os europeus ocidentais e os penduricalhos de seu ex-império imediato – e pode denegar cooperação aos EUA e à OTAN para fins de resolução de problemas regionais ou locais, alguns deles cruciais, no contexto da luta contra o terrorismo de base islâmica, os problemas do Oriente Médio, o Irã, e todos os países no entorno do Mar Negro e do Mar Cáspio.
O botão de ‘reset’ é meramente simbólico, apenas um gesto de boa vontade ao início de uma nova gestão imperial. Mas deve-se ressaltar também que a administração Obama possui uma visão não confrontacionista do mundo, diferente da postura unilateralista por princípio da administração Bush. Se esta foi agressiva, pode-se caracterizar a nova como de détente, mas isso é apenas um conceito, impróprio para os tempos atuais: o mundo já não se organiza apenas em torno dos dois grandes pólos da era da Guerra Fria e a Rússia não tem mais condições de fixar ou estabelecer a agenda do mundo como ela fazia nos tempos da URSS.
Mesmo assim, esse ‘reset’ não se destina apenas a atingir objetivos de curto prazo, limitados às relações EUA-Rússia, e sim objetivos sistêmicos, ou estruturais, da nova política externa dos EUA: estes não têm interesse numa attitude confrontacionista com a Rússia simplesmente porque a maior parte dos problemas que os EUA enfrentam na região e em torno dela, assim como alguns problemas mais distantes, passam por uma cooperação política razoável com a Rússia. Isto envolve Irã, Coréia do Norte, Oriente Médio, Conselho de Segurança da ONU, atuação da OTAN no Afeganistão e vários outros problemas.
Ou seja, resumindo, o botão de reset é de fato substantivo, mas sua importância global, ou estratégica, não pode ser comparada às antigas relações EUA-URSS. Os dados da equação mudaram bastante, e não por ação unilateral, ou imposição dos EUA, e sim por retração, decadência econômica, incapacidade política e diplomática da Rússia. Esta, a despeito de sua recuperação militar e econômica, não consegue mais determinar a agenda mundial.
(...)
Brasília-Miami, 26.03.2009

sábado, 28 de março de 2009

1046) Turismo academico (5): alive, so far...

Ao sabor das tempestades e tornados...

Comecei o dia, em Brunswick, na Georgia do sul, com tempo quente, sol, algumas nuvens, agradável para viajar.
Entramos em Charleston, uma cidade colonial da Carolina do Sul, com tempo coberto e já mais fresco, mas ainda razoável para passear. Era o que tinha para ver no caminho, com exceção de Savannah, ainda na Georgia, mas eu já conhecia de visita anterior.
Em Savannah foi realizada a primeira reunião conjunta do FMI e do Banco Mundial, em 1946, a única a que compareceu John Maynard Keynes, eleito presidente do Banco Mundial. Ele morreu pouco depois. Começou então a 'mania' de se eleger um americano para o Banco Mundial e um europeu para o FMI, até agora seguida, mas provavelmente não vai se manter durante muito tempo mais.
Já tinha estado em Charleston uma vez, para uma reunião de cooperação acadêmica, iniciada pelo ministro Paulo Renato de Souza (MEC, governo FHC) e tinha gostado. A cidade melhorou bastante, com muita restauração em velhas casas coloniais, mas na verdade a maior parte da arquitetura é do século XIX. A cidade é tipicamente turística e deve ficar cheia no verão. Agora tinha gente de bermuda e outros de casaco...
Depois de Charleston, foi uma chuva só, por vezes severa, e muito congestionamento na estrada, com velocidade reduzida a menos de 50 milhas por hora em alguns trechos.
Não consegui ver nenhum tornado, ou nenhum tornado conseguiu me encontrar, mas pode ser que eles estejam esperando por mim amanhã, uma nova jornada de "severe thunderstorms", "heavy rains" e "possible tornados" em cima do meu caminho, justamente.
Em Chicago, perto de onde vou, já caiu abaixo de zero, com novas nevascas e sorvete caindo por todo lado.
Não se pode dizer que a viagem esteja sendo aborrecida...
A bem da verdade, nao sei se conseguirei chegar a Washington amanhã, domingo, como era minha intenção.
Depende de um tornado que deve estar me esperando na estrada...

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Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...