terça-feira, 26 de julho de 2011

Pobres e miseraveis: Chile, Brasil, Argentina...

A presidente diz que pretende tirar 16 milhões de pessoas da miséria, no Brasil, e compara isso à população do Chile:

"Apesar de ter sido uma grande vitória nossa, ainda resta um Chile".

Pois é, pretendem retirar esses 16 milhões da miséria e colocá-los na situação de dependentes do Bolsa-Família.
Ela poderia ter acrescentado o seguinte:

"Estamos construindo um exército de assistidos equivalente a um terço dos habitantes deste país, o que vale uma Argentina inteira no cartão magnético do governo."

Paulo Roberto de Almeida

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Elevando notas de rodapé à condição de debate:

ALlan disse...
Bela postagem. Objetiva e que nos alerta das consequências de certas políticas.

Terça-feira, Julho 26, 2011 6:35:00 PM
Daniel disse...
Paulo,

Qual é o problema do Bolsa Família que tantos criticam, muitas vezes sem saber, ou criticam apenas por criticar? Sei que há pessoas que recebem sem ter a mínima necessidade de receber. Mas sei que há várias pessoas que recebem e que necessitam muito do dinheiro, pouco, que recebem. Conheço uma senhora, que três filhos tem, que recebe pouco menos de R$120,00 do programa e isso permite a família dela ter uma qualidade de vida uma pouco melhor. Já que outrora o salário dela não dava pra pagar coisas básicas. Não digo que permita mudar a vida totalmente, mas ajuda e somente as pessoas que necessitam desta ajuda pode realmente falar se é um programa que funciona. Muitos países possuem programas de subsídios. Compreendo que parece que o governo está dando o peixe sem ensinar a pescar, mas penso que isso é uma grande mentira, já que o valor recebido não é muito, quem recebe certamente trabalha também. Não vi ninguém que simplesmente parou de trabalhar devido ao Bolsa Família. Quem parou de trabalhar foram crianças que deixavam de ir à escola para ajudar no sustento da família. Sei que não é assim tão bonitinho, pois ainda há trabalho infantil. Mas tenho certeza que não é este quadro medonho que muitos tentam pintar.
Terça-feira, Julho 26, 2011 11:01:00 PM

Paulo R. de Almeida deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Pobres e miseraveis: Chile, Brasil, Argentina...":

Daniel,
Existe uma visão do mundo que considera normal que o Estado proceda à redistribuição de benefícios para pessoas identificadas como pobres.
Não estou equivocado ao classificar essa visão como sendo socialista, e você deve concordar comigo.
Como disse uma líder política, o socialismo dura enquanto durar o dinheiro dos outros. E é isso que o Estado faz no bolsa-familia: tira dinheiro de alguns para dar aos outros.
Você pode achar isso normal, mas isso significa apenas subsidiar o consumo.
Você talvez tenha estatísticas -- que eu não tenho -- segundo as quais, antes deste governo, quarenta e quatro milhões de pessoas, ou quase um terço do país, passavam fome e só foram salvas pelo programa BF.
Eu tendo mais a acreditar que se trata de um curral eleitoral.
O problema do BF, se voce quer minha opinião é justamente esse: criar uma nacao de assistidos.
Não creio que um país possa prosperar assim.
Pode ser que outros países tenham programas de subsidios. Nao importa, não é por isso que eu acho correto.
Muitos países possuem agriculturas subsidiadas, industrias protegidas pelo Estado e não é por isso que eu vou concordar com o que considero estruturalmente equivocado.
Pode até ser pouco dinheiro, mas prefiro outras políticas: de subsídio à educação de jovens e adolescentes: primário, secundário e escolas técnicas, ponto final.
Desculpe se o decepciono, mas eu sou assim.
Expresso minha opinião e estou pronto a defendê-la com base em argumentos econômicos, posturas racionais, raciocínios lógicos.
Considero o BF nefasto para o Brasil, como considero os programas de ação afirmativa em bases raciais deletérios, divisionistas, sementes do Apartheid.
Sou assim...
Paulo Roberto de Almeida

E por falar em educacao de presidiarios...

...querem transformar os alunos em "presidiários" (por culpa dos professores ausentes).
Nem tanto assim, mas o quadro do ausentismo dos mestres é catastrófico, ao que parece.
Congresso deve providenciar outra lei prevendo a compra de correntes para deixar os alunos bem atados às escolas...
Paulo Roberto de Almeida

Aprovado projeto que obriga a permanência dos alunos dentro da escola
Karla Alessandra.
Notícias da Câmara, quarta-feira, 31 de março de 2010, 19:25

Brasília - Câmara aprova projeto de lei (PL 2357/07) que obriga a permanência dos alunos dentro da escola, mesmo na ausência dos professores.

Segundo o projeto, na falta do professor os alunos deverão permanecer dentro da escola em atividades recreativas.

O relator da proposta na Comissão de Constituição e Justiça, deputado Efraim Filho, do Democratas da Paraíba, é favorável ao projeto que vai dar mais segurança para os alunos.

"Quando há ausência do professor o aluno é dispensado com a ideia de que ele retorne à casa. Agora nem sempre é isso que acontece e é exatamente esse o mérito do projeto que aprovamos reconhecer que a escola tem que ter um papel de responsabilidade."

Efraim Filho lembrou que nas escolas já existem professores de artes e de educação física que podem ser acionados no caso da falta de um outro professor.

Ana Siqueira, que é mãe de dois alunos da rede pública de ensino, é favorável à permanência dos alunos na escola durante todo o período de aula, para que as crianças não fiquem expostas à ação de marginais.

"Principalmente, eu acho que na adolescência eu acho que não é bom ele ficar em casa porque tem muitos pais que trabalham, como é que ele vai saber se o filho vai para casa ou não vai? Eu sou de acordo que seja dada uma outra atividade, ou de violão ou de dança, ou de desenho ou de digitação. É assim que eu penso."

A proposta segue agora para o Senado.

Atencao jornalistas: liberada a pancadaria no Congresso contra voces...

Bem, a solução agora é acorrentar o gravador na cintura, usar aqueles capacetes de ciclistas e colete à prova de qualquer coisa. Recomendo também não aproximarem-se muito de certos gorilas do Congresso (por gorilas eu não me refiro aos seguranças...).
Paulo Roberto de Almeida

Senado inocenta Requião por agressão a repórter
Fábio Góis
Congresso em Foco, 26/07/2011

Arquivamento de ação contra senador, determinado por Sarney sem alarde em 18 de maio, sequer foi comunicado ao autor, o Sindicato dos Jornalistas do DF.

Em 25 de abril, o senador Roberto Requião (PMDB-PR), irritado com a pergunta de um repórter sobre sua pensão vitalícia como ex-governador, subtraiu-lhe o instrumento de trabalho – um gravador digital. O episódio aconteceu em plenário, e se estendeu pelo corredor que o liga ao gabinete de Requião – o profissional de imprensa tentava reaver o aparelho, mesmo diante das ameaças do parlamentar. O esforço foi em vão: não satisfeito em ter se apoderado de bem alheio, Requião deletou o arquivo que continha a entrevista. Mas a sequência de indelicadezas foi perdoada pelo Senado: no último dia 18 de maio, sem alarde, a Advocacia Geral arquivou uma representação por quebra de decoro apresenta pelo Sindicato dos Jornalistas do DF contra Requião.

O parecer de 20 páginas que absolve Requião foi assinado pelo advogado-geral do Senado, Alberto Cascais, e endossado pelo presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), correligionário de Requião. Na introdução da peça, Cascais aponta, entre outras coisas, incompetência do presidente do Senado em analisar o caso, quando o correto é que o caso seja protocolado no Conselho de Ética.

O argumento é meramente burocrático, uma vez que nem o próprio Sarney poderia ter determinado encaminhamento da representação àquele colegiado. Nem o Conselho de Ética nem a Corregedoria do Senado sequer estavam instalados à época, em uma situação que inviabilizaria, de acordo com a justificativa do advogado-geral, qualquer representação por quebra de decoro.

Também subscrito pelos advogados do Senado Fernando Cunha e Hugo Souto Kalil, o parecer alega a “ilegitimidade ativa” do sindicato para “deflagrar processo político-administrativo disciplinar”. Também foram vistas por Cascais irregularidades na representação, bem como “narração deficiente dos fatos” e ausência de “elementos probatórios” que a justificassem. Com base em “precedentes do Supremo Tribunal Federal”, o advogado negou por fim que a peça processual preenchesse requisitos de admissibilidade.

“O sindicato representante imputou ao senador representado (Roberto Requião) apenas os seguintes fatos: apropriação indevida de aparelho gravador utilizado pelo jornalista; ameaça de agressão física com o dizer ‘você quer apanhar?’, e chacota pública do profissional na Internet, ao chamá-lo de ‘engraçadinho’”, diz trecho do parecer, segundo o qual a subtração do celular e das ameaças não configurariam “agressão”.

Censura e advertência

Na representação, o sindicato sequer pedia abertura de processo por quebra de decoro contra Requião, mas sim que fosse aplicado ao senador advertência e censura, embora o episódio comprove postura inadequada ao Parlamento. A subtração do gravador, segundo relato do repórter ao Congresso em Foco, foi inusitada, uma vez que a entrevista transcorria naturalmente quando Requião recusou responder se abriria mão de sua aposentadoria caso o governo do Paraná adotasse restrições orçamentárias.

“Por que eu abriria mão?”, respondeu Requião, já esboçando contrariedade. “Essa pensão no Paraná existe há 40 anos. Todos os ex-governadores recebem. Recebe a mãe do Beto Richa, que é governador do Paraná; (…). E eu recebo essa pensão porque, durante o governo em que eu chamei de ladrões os que haviam roubado o erário, predado [sic] o patrimônio do estado do Paraná, e como eles não tinham sido condenados, eu passei a ser condenado em multas porque os ladrões ainda não tinham sido condenados em instância final. Estou usando essa pensão para pagar as multas que me foram injustamente impostas”, justificou Requião, para quem o salário de senador é “um bom salário [R$ 26,7 mil]”, apesar de “inferior aos dos servidores de carreira do Senado”.

O repórter então insistiu em saber se não seria o caso de abrir mão da pensão vitalícia em nome do equilíbrio das contas públicas. O que se ouve em seguida é um barulho provocado pela retirada, à força, do gravador das mãos do repórter. “Calma! Não estou mais gravando. Espera aí, deixe-me desligar”, ainda tentou ponderar o jornalista. Em vão.

“Não vai desligar mais porra nenhuma. Vou ficar com isso aqui”, diz o senador, já transtornado. A gravação (confira a íntegra, registra depois pelo próprio senador) é interrompida nesse ponto da conversa, mas o repórter diz que muito ainda foi dito ao passo em que o senador se retirava do plenário.

Emitido sem qualquer tipo de publicidade e com arquivamento determinado por Sarney em 18 de maio, o parecer só foi disponibilizado à imprensa depois de pedido feito pelo jornal O Estado de S. Paulo. A decisão sequer foi comunicada ao sindicato. “O silêncio do Senado passa um péssimo recado à sociedade. Apesar do corporativismo encarnado no presidente do Senado, havia alguma esperança de que o episódio resultasse ao menos numa censura pública, como prevê o regimento da Casa”, lamentou ao jornal paulista o presidente do sindicato, Lincoln Macário.

Fábio Góis
* Repórter do Congresso em Foco desde 2007, atuou antes como jornalista de cultura e assessor de imprensa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), entre outras instituições.

Ufa: ainda bem que os bandidos ciberneticos sao analfabetos...

Todo mundo já deve ter recebido essas mensagens de bancos, pedindo para atualizar os cadastros.
Algo como esta aqui, que acabo de receber, com logo perfeito, e-mail plausível (e até possível), tudo nos conformes, menos o Português:

Prezado correntista,
no mês de março do ano de 2011 infelizmente sofremos ataques ao nosso banco de dados o qual acabou afetando uma média de 210 mil clientes em território norte-americano, devido ao ocorrido estamos implementando novos procedimentos de segurarança para evitar que eventos como esse se repitam novamente.
Solicitamos que efetue imediatamente a instalação do nosso aplicativo de segurança em todos computadores os quais acessam sua conta [XBank]
.

Bem, vamos ter de pedir para os congressistas que não aprovem aquela lei generosa (!!???) do Senador Cristovam Buarque que prevê redução de pena para os bandidos que estudarem na cadeia.
Vamos manter os bandidos ignorantes, dentro ou fora da cadeia.
A ignorância ainda é nossa aliada...
Paulo Roberto de Almeida

World Trade Report 2011: Regional Trade Agreements

RESEARCH AND ANALYSIS
World Trade Report 2011
The WTO and preferential trade agreements: From co-existence to coherence


The ever-growing number of preferential trade agreements (PTAs) is a prominent feature of international trade. The World Trade Report 2011 describes the historical development of PTAs and the current landscape of agreements. It examines why PTAs are established, their economic effects, and the contents of the agreements themselves. Finally it considers the interaction between PTAs and the multilateral trading system.

Accumulated trade opening — at the multilateral, regional and unilateral level — has reduced the scope for offering preferential tariffs under PTAs. As a result, only a small fraction of global merchandise trade receives preferences, and preferential tariffs are becoming less important in PTAs.

The report reveals that more and more PTAs are going beyond preferential tariffs, with numerous non-tariff areas of a regulatory nature being included in the agreements.

Global production networks may be prompting the emergence of these “deep” PTAs as good governance on a range of regulatory areas is far more important to these networks than further reductions in already low tariffs. Econometric evidence and case studies support this link between production networks and deep PTAs.

The report ends by examining the challenge that deep PTAs present to the multilateral trading system and proposes a number of options for increasing coherence between these agreements and the trading system regulated by the WTO.

Download pdf:

> Complete report (256 pages; 8034KB)

> Contents, acknowledgements, disclaimer, DG Foreword and Executive Summary (19 pages; 820KB)

I- World trade in 2010 (22 pages; 451KB)

II- The WTO and preferential trade agreements: From co-existence to coherence
> A. Introduction(6 pages; 78KB)
> B. Historical background and current trends(46 pages; 2315KB)
> C. Causes and effects of PTAs: Is it all about preferences?(30 pages; 550KB)
> D. Anatomy of preferential trade agreements(42 pages; 1063KB)
> E. The multilateral trading system and PTAs(32 pages; 485KB)
> F. Conclusions(3 pages; 61KB)

> Statistical appendix(29 pages; 324KB)
> Bibliography(11 pages; 178KB)
> Technical notes, glossary, abbreviations and list of figures (16 pages; 859KB)

(links)

> Previous World Trade Reports

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Banqueiros preocupados (nao no Brasil; dos EUA)...

A principal revista do "capital financeiro monopolista internacional", como se dizia antigamente (quando todo mundo era marxista), ou seja, dos financistas, agiotas e especuladores de Wall Street, lança um alerta ao seus afiliados: por força de uma legislação muito intrusiva e reguladora, o setor bancário americano pode ficar atrás e já estaria perdendo terreno para seus concorrentes de outros países.
Paulo Roberto de Almeida

American Banker
Letter from the Chairman
Dear Colleague:

It’s been nearly a year since the passage of the Dodd-Frank Act, the most significant financial services legislation since the Great Depression, and banks, industry representatives, academics and analysts are still trying to come to grips with it.

At more than 2,300 pages containing hundreds of new rules – not to mention the creation of a new agency devoted solely to consumer protection – the impact of the law may not ultimately be clear for years to come. Regulators are still in the process of identifying systemically important banks and nonbanks, forcing securitizers to retain at least some of the risk of loans they sell and creating new mortgage disclosure standards, just to name a few.

While it’s tempting for bankers to look at the size and scope of the regulatory reform law and throw up their hands in confusion, understanding the aftermath of Dodd-Frank will be critical for their business in the months and years ahead. That’s why American Banker is holding its first Regulatory Symposium.

In speeches from top lawmakers and regulators, and panel discussions covering the hot topics in the policy world, we hope to shed light on how regulatory reform has changed the business of banking, and what financial services executives can expect next.

Please accept our invitation to join us September 19 and 20 in Washington D.C. It’s your chance to find out first hand from the key policy players what’s happening in the nation’s capital, and where regulators and lawmakers are liable to focus in the future.

Sincerely,
Rob Blackwell
Washington Bureau Chief
American Banker

Para maior gloria dos gloriosos: crescendo sobre o proprio mito (quem mais?)

Ego inflado pode ser como essas bolhas financeiras (derivativos, títulos, ações, whatever...) que crescem desmesuradamente, e um dia estouram, provocando certo ruído e algum desgaste na paróquia.
Por vezes a paróquia é o mundo inteiro, como se viu em 2008, quando loiros de olhos azuis mergulharam o mundo na crise e na recessão.
Ainda bem que morenos de olhos negros estavam atentos para nos livrar dessas "marolas" do capitalismo globalizado, perverso, iníquo, concentrador e assimétrico...
Bem, tendo feito obra meritória de reformas incontáveis pelo Brasil afora durante oito anos inteiros (fora os de preparação), o nosso guia maior empreende agora vôos mais altos, para reformar a África, a América Latina, o mundo inteiro, se deixarem.
Eu pessoalmente acho que ele deveria começar pelo Maranhão e pelo Piauí, mas parece que é pouco para sonhos megalomaníacos...
Mas, sobrou para o Brasil também: ele vai interferir poderosamente nas eleições de 2012, e se prepara para novo pleito em 2014.
Adoradores incondicionais estão delirando de contentamento. Acham estranho que pessoas normais achem estranho...
Paulo Roberto de Almeida

Fora da Presidência, Lula monta estrutura paralela de diplomacia
Cristiane Agostine
Valor Econômico, 25/07/2011 – p. A6

São Paulo - Lula com Chávez (foto): ex-presidente sente-se à vontade para dar bronca e conselhos a governantes

No início de junho, em uma conversa com o presidente Hugo Chávez, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu broncas e conselhos ao amigo venezuelano. Lula repassou a Chávez a reclamação de empresários brasileiros em relação à dificuldade para importar coque de petróleo daquele país e o questionou sobre o programa habitacional "Gran Misión Vivienda Venezuela", a versão local do "Minha Casa, Minha Vida". No Palácio Miraflores, em Caracas, o petista colocou em xeque a meta ambiciosa do programa, de construir dois milhões de casas até 2017.

No fim daquele mês, em encontro com o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, o ex-presidente o orientou a mapear e cadastrar todas as famílias carentes do país, antes de pensar na criação de um programa como o Bolsa Família, carro-chefe de sua gestão na Presidência. Em maio, Lula esteve no Panamá com o presidente Ricardo Martinelli. O petista aconselhou o governante, empresário varejista que ascendeu por fora da elite do país, como driblar resistências sociais. Recém-eleito presidente do Peru, Ollanta Humala também procurou o ex-presidente em busca de aconselhamento.

Fora da Presidência, Lula tem feito de seu trabalho uma espécie de diplomacia paralela ao governo federal. O ex-presidente recebe chefes de Estado, empresários e é sondado até a intermediar o diálogo da oposição com governos estrangeiros, como na Venezuela. A seus auxiliares, o ex-presidente diz que está vivendo o melhor dos mundos: pode falar aquilo que deseja, sem os limites e obrigações diplomáticas que o cargo lhe impunha.

Instituto Lula poderá reeditar Caravanas da Cidadania em países da África e da América Latina

No primeiro semestre longe do Palácio do Planalto, Lula atua em três frentes: a montagem do Instituto Lula; a elaboração de um memorial com sua trajetória sindical e política e a empresa L.I.L.S. Palestras, Eventos e Publicações LTDA. O instituto será lançado até setembro e o projeto do memorial deve ficar pronto até o fim do ano. O museu está sendo negociado com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e deve ser instalado em um prédio a ser doado pela prefeitura.

O Instituto Lula substituirá o Instituto Cidadania, atual local de trabalho do ex-presidente. Por enquanto, a entidade vai continuar na mesma casa onde funciona o Cidadania, no Ipiranga, na zona sul de São Paulo, mas os auxiliares do petista buscam uma sede maior.

Do instituto, o ex-presidente comandará ações voltadas para a América do Sul e África. Uma das ideias estudadas, mas sobre a qual ainda não há consenso, é articular uma espécie de "Caravana da Cidadania" em países latino-americanos e africanos. Segundo o ex-presidente do Sebrae Paulo Okamotto, responsável pela organização do instituto, seria uma reedição internacional das caravanas feitas por Lula, então candidato à Presidência, no início dos anos 90. "Por que não fazer uma Caravana da Cidadania nesses países?", diz Okamoto. " Não podemos ficar daqui pensando e dizendo como eles têm que viver. Temos que fazer nesses países o que fizemos no Brasil, conhecer as classes políticas, as culturas, a realidade local", explica.

A entidade já organizou dois debates sobre a África e a América Latina, com a participação de representantes do Banco Mundial, e pretende criar um conselho com especialistas, para elaborar programas. Empresários e governantes têm procurado o instituto para participar de projetos. Lula poderia atrair investidores àqueles países. "É importante fazer desses países grandes mercados consumidores. Isso acaba gerando empregos também para os países ricos, que vão produzir mais para vender nesses lugares", analisa Okamotto. "Queremos mostrar um novo modelo econômico", afirma.


A preocupação, diz Okamotto, é que a atuação de Lula não fique resumida às palestras. "Queremos trabalhar em projetos para ajudar no desenvolvimento econômico da África e da América Latina. Não somos uma ONG para ficar fazendo projetinhos", comenta Okamotto. "Ele não terá papel de consultor, mas sim animador, fomentador", registra.

A agenda internacional do ex-presidente tem sido intensa e deve continuar assim no segundo semestre. Nos primeiros seis meses longe da Presidência, Lula já visitou 18 países. Na sexta-feira, o petista disse, em Pernambuco, que deverá fazer mais 23 viagens internacionais até o fim do ano. "Muitos governantes querem falar com ele e saber como é que ele promoveu o desenvolvimento com inclusão social, como fez o Brasil", conta Okamotto.

Em todos os países que visitou, Lula foi reconhecido e tratado como celebridade, com direito a fotos, abraços e autógrafos. Em algumas viagens, o ex-presidente saiu para jantar e conhecer lugares. O petista tem feito o mesmo em São Paulo, ainda que com pouca frequência. Na Presidência, sempre evitava sair.

Os auxiliares do ex-presidente aproveitam essa demanda de viagens para ganhar tempo e tentar focar a atuação do instituto. No comando das ações para os países africanos e latino-americanos estão o ex-ministro Luiz Dulci e a ex-assessora especial da Presidência Clara Ant.

O Instituto Cidadania é considerado como a "incubadora" da futura entidade. Criada em 1990, sob comando de Lula, depois da derrota para Fernando Collor de Mello na disputa presidencial, a organização não governamental fomentou durante anos debates sobre políticas públicas até ser esvaziada com a vitória de Lula em 2002. Com o fim dos oito anos de governo, foi retomada. O Cidadania tem uma dúzia de funcionários e custa mensalmente cerca de R$ 100 mil, entre folha de pagamento, contas de água, luz e telefone e viagens de Lula. Os deslocamentos, no entanto, não costumam pesar no orçamento. Em geral, a passagem de avião é custeada pela empresa ou banco que contrata o ex-presidente para uma palestra. Lula costuma "pegar carona" em aviões de empresários.

Kassab deve ajudar o petista e sinaliza com a doação de terreno e prédio para abrigar memorial

Na direção do instituto está o deputado federal José de Fillipi (SP), ex-prefeito de Diadema e responsável pelas finanças das campanhas presidenciais de Lula em 2006 e de Dilma Rousseff, em 2010. A receita do Cidadania é obtida por meio de doações de empresários, pessoas físicas e do que o ex-presidente ganha com suas palestras de R$ 300 mil. Em geral, os doadores são também financiadores de campanhas. "É gente que conheci em campanhas passadas, há muito tempo", diz Okamotto. "Cada vez peço 50 paus [R$ 50 mil], 100 paus [R$ 100 mil], diz.

Ao lançar o Instituto Lula, Okamotto afirma que a receita da entidade crescerá de forma significativa. "Para o novo instituto vamos fazer uma campanha mais forte de arrecadação. Vai levantar muito, mas muito dinheiro", afirma. "Hoje, muitos empresários oferecem dinheiro, mas não é o momento. Dinheiro não é o problema. Estou preocupado com o que o instituto vai fazer, em como vai atuar", explica.

Okamotto buscou referências em diferentes institutos espalhados pelo mundo: dos americanos Al Gore e Jimmy Carter, do africano Nelson Mandela, outros na Índia e em Portugal. Em março, visitou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no instituto do tucano, para trocar experiências. "Pesquisei vários no mundo todo e não tinha motivo para não visitar o de Fernando Henrique", diz. Foram estudados dois modelos: instituto e fundação. Descartaram esse último por avaliarem que criaria amarras como a fiscalização do Ministério Público e a abertura de contas da entidade.

A principal finalidade do instituto será a de manter Lula no centro do cenário político. "Lula quer fazer política, ele quer continuar. Tem muita coisa ainda para fazer, para fortalecer a democracia. Fazer política não significa que isso desembocara em uma candidatura, mas ele pode ser candidato a tudo: prefeito, deputado, senador e presidente", comenta Okamotto.

O ex-presidente concentrou a agenda internacional neste ano para dedicar-se em 2012 às viagens pelo país. Com vistas às eleições municipais, Lula estuda refazer trajetos das Caravanas da Cidadania e se empenhará na construção de alianças políticas e de candidaturas.

A principal renda do ex-presidente têm sido as palestras pagas. Os pronunciamentos do petista ajudam a sustentar também Okamotto, sócio de Lula na empresa de palestras L.I.L.S. (de Luiz Inácio Lula da Silva), constituída em março deste ano. Okamotto é amigo de Lula há mais de 30 anos e diz ter pago uma dívida de R$ 29,4 mil do ex-presidente com o PT, em uma ação investigada na CPI dos Bingos. Ex-tesoureiro do partido, o petista diz não receber um salário no instituto, mas afirma que já estava preparado para isso. "Ganhei dinheiro quando estava no Sebrae, guardei. Tenho uma empresa de vendas pela internet [a Red Star Ltda.], sou aposentado e tenho a participação nessa empresa. Já estava preparado para passar alguns meses sem salário", comenta.

O ex-presidente, além de atuar no instituto e fazer palestras, investe no lançamento de um memorial que contará os oito anos de sua gestão, sua história sindical e política e as transformações do país desde o fim do regime militar. Articulado por Okamotto, o projeto será lançado até o fim deste ano com apoio do ex-ministro Paulo Vannuchi.

O memorial, denominado provisoriamente como da Democracia, será interativo, nos moldes dos museus da Língua Portuguesa e do Futebol, e deve ser instalado no centro de São Paulo, na região conhecida como cracolândia, para ajudar na revitalização da área. As negociações com o prefeito Gilberto Kassab estão avançadas e a prefeitura poderá doar um terreno e até um prédio para o museu. Assim como o instituto, o museu será custeado por empresários e buscará leis de incentivo cultural. O memorial deve ser gerido pela Universidade Federal de São Paulo.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...