Serviço de utilidade pública:
Recebi a mensagem abaixo, testei e funcionou.
Repasso, pois pode ser importante:
Agora com esta história do "Chip", o interesse dos ladrões por aparelhos celulares aumentou. É só comprar um novo chip por um preço médio de R$ 10,00 a 30,00 em uma operadora e instalar em um aparelho roubado. Com isso, está generalizado o roubo de aparelhos celulares. Segue então uma informação útil que os comerciantes de celulares não divulgam. Uma espécie de vingança para quando roubarem celulares.
Para obter o número de série do seu telefone celular (GSM), digitem *#06#
Aparecerá no visor um código de 15 algarismos. Este código é único!!!
Escrevam e conservem com cuidado. Se roubarem seu celular, telefonem para sua operadora e informem este código. O seu telefone poderá então ser completamente bloqueado, mesmo que o ladrão mude o "Chip". Provavelmente não recuperarão o aparelho, mas quem quer que o tenha roubado não poderá mais utilizá-lo. Se todos tomarem esta precaução, imaginem, o roubo de celulares se tornará inutil. Enviem isto a todos e anotem o seu número de série.
Resumindo:
Digite esta combinação:
*#06#
para obter o código permanente do aparelho, para que ele possa ser bloqueado em caso de roubo.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
domingo, 25 de fevereiro de 2007
sábado, 24 de fevereiro de 2007
708) O Paraguai, visto pelo Senador Alvaro Dias (PR)
Harpa paraguaia
Senador Alvaro Dias (Paraná)
Os acordes emitidos pelo nosso estratégico vizinho merecem atenção. As últimas notas dedilhadas simultaneamente pelos postulantes a sucessão do presidente Nicanor Duarte Frutos podem até se diferenciar, mas um arpejo é uníssono: o Brasil é o mote central da campanha presidencial já deflagrada e que promete ser a mais disputada da história do Paraguai.
O governo brasileiro concentra suas atenções e ao mesmo tempo disponibiliza os melhores esforços diplomáticos na direção dos Palácios Miraflores e Quemado, privilegiando a interlocução com os mandatários Hugo Chávez e Evo Morales. A polêmica negociação com a Bolívia, culminada no generoso acordo do gás, expõe a nossa vulnerabilidade em muitos flancos, sinalizando as indefinições existentes no Brasil na área de regulamentação. As mesuras dispensadas à Venezuela contrastam igualmente com a desatenção para com os outros países do entorno regional.
A efervescência da campanha eleitoral no Paraguai expõe a necessidade de o Brasil rever o quanto antes o seu relacionamento com aquele vizinho. São muitos os pontos da intrincada agenda eleitoral. Há sinalização clara dos candidatos de revisão dos preços da energia excedente de Itaipu vendida ao Brasil, passando pela celebração de acordos de comércio com os Estados Unidos, desferindo novos golpes no combalido Mercosul.
Como se não bastassem os complicadores anunciados, não podemos esquecer a gravidade da situação dos aproximadamente 800 mil brasiguaios residentes em solo paraguaio, ameaçados por um processo nebuloso de ''reforma'' agrária amparado por legislação que institui a sumária expropriação de terras na faixa de fronteira sob o manto protetor de preservação da segurança nacional.
A declarada intenção de reavaliar a planilha de desembolsos (juros remanescentes da construção da usina pela Eletrobrás), bem como o valor recebido do Brasil pela energia comercializada, remetem à inevitável revisão do tratado firmado no início da década de 70. O contencioso bilateral é explícito e requer análise e mobilização da diplomacia brasileira.
O foco da política externa do presidente Lula não pode se restringir às parcerias estabelecidas com a Venezuela e a Bolívia, em detrimento do relacionamento com outros países estratégicos do mosaico regional. O Paraguai é ator estratégico sob qualquer ângulo de política exterior brasileira.
As eleições presidenciais, a serem realizadas em abril do próximo ano, prometem colocar em xeque a hegemonia do Partido Colorado, e apenas esse aspecto, por si só, enseja a possibilidade de profundas mudanças na coalizão de forças que dominaram o Paraguai nos últimos 60 anos.
O principal contendor da campanha eleitoral precocemente em curso é o ex-bispo católico Fernando Lugo, sacerdote que renunciou da sua condição eclesiástica e mergulhou na política em salto triplo. Sua imagem entre os paraguaios é irretocável, exibindo baixo índice de rejeição. Sua vitória significaria a mais profunda revisão no relacionamento com o Brasil. O candidato situacionista, o atual vice-presidente, Luis Castiglione, desfralda bandeiras em mastros cujos ventos não sopram exatamente a nosso favor. Ele defende a presença de tropas militares norte-americanas em solo pátrio e ainda apóia a formalização de acordo comercial com Washington.
A galeria dos candidatos presidenciais é mais ampla, incluindo um neto do Generalíssimo Alfredo Strossner, sem mencionar o general Lino Oviedo, mantido sob cárcere na capital paraguaia. A propósito, esse é um episódio inconcluso e de desfecho incerto. O general Oviedo permanece preso em flagrante desrespeito tanto às leis internas como a convenções internacionais subscritas pelo Paraguai. A Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos ''OEA'' já foi acionada e deverá se pronunciar sobre o caso. A popularidade de Oviedo não pode ser subestimada num cenário futuro da sucessão presidencial do Paraguai.
Os sons ouvidos nas arborizadas ruas de Assunção e cercanias não são apenas os produzidos pelas cordas da harpa paraguaia. Cabe ao governo do presidente Lula ponderar sobre os acontecimentos em marcha e escolher um novo diapasão para a política externa.
Senador Alvaro Dias - vice-presidente do Senado Federal
Sexta-feira, 23 de Fevereiro de 2007
Senador Alvaro Dias (Paraná)
Os acordes emitidos pelo nosso estratégico vizinho merecem atenção. As últimas notas dedilhadas simultaneamente pelos postulantes a sucessão do presidente Nicanor Duarte Frutos podem até se diferenciar, mas um arpejo é uníssono: o Brasil é o mote central da campanha presidencial já deflagrada e que promete ser a mais disputada da história do Paraguai.
O governo brasileiro concentra suas atenções e ao mesmo tempo disponibiliza os melhores esforços diplomáticos na direção dos Palácios Miraflores e Quemado, privilegiando a interlocução com os mandatários Hugo Chávez e Evo Morales. A polêmica negociação com a Bolívia, culminada no generoso acordo do gás, expõe a nossa vulnerabilidade em muitos flancos, sinalizando as indefinições existentes no Brasil na área de regulamentação. As mesuras dispensadas à Venezuela contrastam igualmente com a desatenção para com os outros países do entorno regional.
A efervescência da campanha eleitoral no Paraguai expõe a necessidade de o Brasil rever o quanto antes o seu relacionamento com aquele vizinho. São muitos os pontos da intrincada agenda eleitoral. Há sinalização clara dos candidatos de revisão dos preços da energia excedente de Itaipu vendida ao Brasil, passando pela celebração de acordos de comércio com os Estados Unidos, desferindo novos golpes no combalido Mercosul.
Como se não bastassem os complicadores anunciados, não podemos esquecer a gravidade da situação dos aproximadamente 800 mil brasiguaios residentes em solo paraguaio, ameaçados por um processo nebuloso de ''reforma'' agrária amparado por legislação que institui a sumária expropriação de terras na faixa de fronteira sob o manto protetor de preservação da segurança nacional.
A declarada intenção de reavaliar a planilha de desembolsos (juros remanescentes da construção da usina pela Eletrobrás), bem como o valor recebido do Brasil pela energia comercializada, remetem à inevitável revisão do tratado firmado no início da década de 70. O contencioso bilateral é explícito e requer análise e mobilização da diplomacia brasileira.
O foco da política externa do presidente Lula não pode se restringir às parcerias estabelecidas com a Venezuela e a Bolívia, em detrimento do relacionamento com outros países estratégicos do mosaico regional. O Paraguai é ator estratégico sob qualquer ângulo de política exterior brasileira.
As eleições presidenciais, a serem realizadas em abril do próximo ano, prometem colocar em xeque a hegemonia do Partido Colorado, e apenas esse aspecto, por si só, enseja a possibilidade de profundas mudanças na coalizão de forças que dominaram o Paraguai nos últimos 60 anos.
O principal contendor da campanha eleitoral precocemente em curso é o ex-bispo católico Fernando Lugo, sacerdote que renunciou da sua condição eclesiástica e mergulhou na política em salto triplo. Sua imagem entre os paraguaios é irretocável, exibindo baixo índice de rejeição. Sua vitória significaria a mais profunda revisão no relacionamento com o Brasil. O candidato situacionista, o atual vice-presidente, Luis Castiglione, desfralda bandeiras em mastros cujos ventos não sopram exatamente a nosso favor. Ele defende a presença de tropas militares norte-americanas em solo pátrio e ainda apóia a formalização de acordo comercial com Washington.
A galeria dos candidatos presidenciais é mais ampla, incluindo um neto do Generalíssimo Alfredo Strossner, sem mencionar o general Lino Oviedo, mantido sob cárcere na capital paraguaia. A propósito, esse é um episódio inconcluso e de desfecho incerto. O general Oviedo permanece preso em flagrante desrespeito tanto às leis internas como a convenções internacionais subscritas pelo Paraguai. A Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos ''OEA'' já foi acionada e deverá se pronunciar sobre o caso. A popularidade de Oviedo não pode ser subestimada num cenário futuro da sucessão presidencial do Paraguai.
Os sons ouvidos nas arborizadas ruas de Assunção e cercanias não são apenas os produzidos pelas cordas da harpa paraguaia. Cabe ao governo do presidente Lula ponderar sobre os acontecimentos em marcha e escolher um novo diapasão para a política externa.
Senador Alvaro Dias - vice-presidente do Senado Federal
Sexta-feira, 23 de Fevereiro de 2007
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007
707) Nova pausa para humor (sorrisos amarelos, por favor...)
Sinceramente não acredito nessas "pérolas de vestibular", inclusive porque algumas delas se repetem a cada ano (será possível cometer a mesma estupidez duas vezes, da mesma forma?; e o copyright, não serve para nada?).
Acredito que espíritos maliciosos, professores que ganham mal, talvez, reciclem, a cada ano, na época do vestibular, as mesmas piadinhas maldosas que recolheram (ou fabricaram?) em anos passados...
Isso não quer dizer que os candidatos ao vestibular sejam brilhantes, longe disso. Mas é que eles não levam muita culpa no cartório. Claro, muitos são vagabundos e perfeitos navegantes ou paraquedistas nesses exames de ingresso na universidade. Mas a maior parte, apenas reproduz aquilo que aprenderam (ou não?) na escola média. Ou seja, eles chegam ao terceiro ciclo virtualmente ignorantes e semi-analfabetos, tendo passado impunes por anos e anos de deseducação escolar...
Em todo caso, aqui vão as últimas...
Perólas do Vestibular da PUC-Rio 2006
Redação:
1. Título de uma redação: Sobrevivência de um aborto vivo
2. O Brasil é um País abastardo com um futuro promissório parece que confusório e preocupatório também;
3. O maior matrimônio do País é a educação;
4. Precisamos tirar as fendas dos olhos para enxergar com clareza o número de famigerados que aumenta;
5. Os analfabetos nunca tiveram chance de voltar à escola;
6. O bem star dos abtantes endependente de roça, religião, sexo e vegetarianos,está preocupan-do-nos;
7. É preciso melhorar as indiferenças sociais e promover o saneamento de muitas pessoas, de nível municipal, estadual e federal;
8. Também preoculpa o avanço regressivo da violência;
9. Resposta a uma pergunta: "Esta não cei".
História:
1. O Hino Nacional Francês se chama La Mayonèse...
2. Tiradentes, depois de morto, foi decapitulado.
3. Entres os índios de América, destacam-se os aztecas, os incas, os maios, os pirineus, os phenícios, egipcios, facistas...
4. A História se divide em 4: Antiga, Média, Moderna e Momentânea, esta, a dos nossos dias.
5. Em Esparta as crianças que nasciam mortas eram sacrificadas.
6. No começo os índios eram muito atrazados mas com o tempo foram se sifilizando.
7.Então o governo precisou contratar oficiais para fortalecer o exército
da marinha.
8. No tempo colonial o Brasil só dependia do café e de outros produtos extremamente vegetarianos.
Geografia:
1. A capital de Portugal é Luiz Boa.
2. Geografia Humana estuda o homem em que vivemos.
3. O Brasil é um país muito aguado pela chuva, senão veja a Amazônia.
4. Na América do Norte tem mais de 100.000 Km de estradas de ferro cimentadas.
5. Oceano é onde nasce o Sol; onde ele nasce é o nascente, e onde desce, é o decente. 6. Na América Central há países como a República do Minicana.
7. A Terra é um dos planetas mais conhecidos no mundo e suas constelações servem para esclarecer a noite.
8. As principais cidades da América do Norte são Argentina e estados Unidos.
9. Expansivas são as pessoas tangarelas.
10. O clima de São Paulo é assim: quando faz frio é inverno;Quando faz calor é verão; quando tem flores é primavera; quando tem frutas é outono e quando chove é inundação.
Acredito que espíritos maliciosos, professores que ganham mal, talvez, reciclem, a cada ano, na época do vestibular, as mesmas piadinhas maldosas que recolheram (ou fabricaram?) em anos passados...
Isso não quer dizer que os candidatos ao vestibular sejam brilhantes, longe disso. Mas é que eles não levam muita culpa no cartório. Claro, muitos são vagabundos e perfeitos navegantes ou paraquedistas nesses exames de ingresso na universidade. Mas a maior parte, apenas reproduz aquilo que aprenderam (ou não?) na escola média. Ou seja, eles chegam ao terceiro ciclo virtualmente ignorantes e semi-analfabetos, tendo passado impunes por anos e anos de deseducação escolar...
Em todo caso, aqui vão as últimas...
Perólas do Vestibular da PUC-Rio 2006
Redação:
1. Título de uma redação: Sobrevivência de um aborto vivo
2. O Brasil é um País abastardo com um futuro promissório parece que confusório e preocupatório também;
3. O maior matrimônio do País é a educação;
4. Precisamos tirar as fendas dos olhos para enxergar com clareza o número de famigerados que aumenta;
5. Os analfabetos nunca tiveram chance de voltar à escola;
6. O bem star dos abtantes endependente de roça, religião, sexo e vegetarianos,está preocupan-do-nos;
7. É preciso melhorar as indiferenças sociais e promover o saneamento de muitas pessoas, de nível municipal, estadual e federal;
8. Também preoculpa o avanço regressivo da violência;
9. Resposta a uma pergunta: "Esta não cei".
História:
1. O Hino Nacional Francês se chama La Mayonèse...
2. Tiradentes, depois de morto, foi decapitulado.
3. Entres os índios de América, destacam-se os aztecas, os incas, os maios, os pirineus, os phenícios, egipcios, facistas...
4. A História se divide em 4: Antiga, Média, Moderna e Momentânea, esta, a dos nossos dias.
5. Em Esparta as crianças que nasciam mortas eram sacrificadas.
6. No começo os índios eram muito atrazados mas com o tempo foram se sifilizando.
7.Então o governo precisou contratar oficiais para fortalecer o exército
da marinha.
8. No tempo colonial o Brasil só dependia do café e de outros produtos extremamente vegetarianos.
Geografia:
1. A capital de Portugal é Luiz Boa.
2. Geografia Humana estuda o homem em que vivemos.
3. O Brasil é um país muito aguado pela chuva, senão veja a Amazônia.
4. Na América do Norte tem mais de 100.000 Km de estradas de ferro cimentadas.
5. Oceano é onde nasce o Sol; onde ele nasce é o nascente, e onde desce, é o decente. 6. Na América Central há países como a República do Minicana.
7. A Terra é um dos planetas mais conhecidos no mundo e suas constelações servem para esclarecer a noite.
8. As principais cidades da América do Norte são Argentina e estados Unidos.
9. Expansivas são as pessoas tangarelas.
10. O clima de São Paulo é assim: quando faz frio é inverno;Quando faz calor é verão; quando tem flores é primavera; quando tem frutas é outono e quando chove é inundação.
706) O proximo holocausto vai ser diferente...
Transcrição de um artigo de Benny Morris:
Este Holocausto será diferente
O segundo holocausto não será como o primeiro.
Os nazis industrializaram o massacre, claro. Mas, mesmo assim, eram obrigados a ter contacto com as vítimas. Antes de as matarem de forma efectiva, podem tê-las desumanizado nas suas mentes ao longo de meses e anos com recurso a humilhações terríveis, mas, mesmo assim, tinham com as suas vítimas um contacto visual e auditivo, e alguns mesmo táctil.
Os alemães, e os seus ajudantes não germânicos, tiveram de tirar de suas casas homens, mulheres e crianças; tiveram de os arrastar e de lhes bater pelas ruas e de os ceifar em bosques circundantes, ou empurrá-los para vagões de gado que comboios transportariam para campos, onde “o trabalho liberta”, separando os sãos dos completamente inúteis que colocavam sob “chuveiros”, matavam com gás e depois retiravam os corpos para a carrada que se seguia.
O segundo holocausto será bastante diferente. Numa radiante manhã, daqui a cinco ou dez anos, talvez durante uma crise regional, talvez sem qualquer motivo aparente, um dia ou um ano ou cinco anos após o Irão ter obtido a Bomba, os Mullahs de Qom reunirão numa sessão secreta, sob um retrato do Ayatollah Khomeini com olhar severo, e darão a luz verde ao presidente Mahmoud Ahmadinejad, então no seu segundo ou terceiro mandato.
As ordens serão dadas e mísseis Shihab III e IV serão lançados contra Tel Aviv, Bersheva, Haifa e Jerusalém e provavelmente contra alvos militares, incluindo meia dúzia de bases aéreas israelitas e (alegadas) bases de mísseis nucleares. Alguns dos Shihab terão ogivas nucleares. Outros serão meros engodos, carregados com agentes químicos e biológicos, ou simplesmente com jornais velhos, destinados a confundir as bateiras antimísseis israelitas.
(...)
Continue a ler neste link.
Benny Morris é professor de História do Médio Oriente na Universidade Ben-Gurion e um dos mais marcantes representantes da esquerda académica israelita. Este ensaio foi publicado em Janeiro de 2007 no Jerusalem Post.
Retirado do blog de nuno Guerreiro Josué, "Rua da Judiaria"
Este Holocausto será diferente
O segundo holocausto não será como o primeiro.
Os nazis industrializaram o massacre, claro. Mas, mesmo assim, eram obrigados a ter contacto com as vítimas. Antes de as matarem de forma efectiva, podem tê-las desumanizado nas suas mentes ao longo de meses e anos com recurso a humilhações terríveis, mas, mesmo assim, tinham com as suas vítimas um contacto visual e auditivo, e alguns mesmo táctil.
Os alemães, e os seus ajudantes não germânicos, tiveram de tirar de suas casas homens, mulheres e crianças; tiveram de os arrastar e de lhes bater pelas ruas e de os ceifar em bosques circundantes, ou empurrá-los para vagões de gado que comboios transportariam para campos, onde “o trabalho liberta”, separando os sãos dos completamente inúteis que colocavam sob “chuveiros”, matavam com gás e depois retiravam os corpos para a carrada que se seguia.
O segundo holocausto será bastante diferente. Numa radiante manhã, daqui a cinco ou dez anos, talvez durante uma crise regional, talvez sem qualquer motivo aparente, um dia ou um ano ou cinco anos após o Irão ter obtido a Bomba, os Mullahs de Qom reunirão numa sessão secreta, sob um retrato do Ayatollah Khomeini com olhar severo, e darão a luz verde ao presidente Mahmoud Ahmadinejad, então no seu segundo ou terceiro mandato.
As ordens serão dadas e mísseis Shihab III e IV serão lançados contra Tel Aviv, Bersheva, Haifa e Jerusalém e provavelmente contra alvos militares, incluindo meia dúzia de bases aéreas israelitas e (alegadas) bases de mísseis nucleares. Alguns dos Shihab terão ogivas nucleares. Outros serão meros engodos, carregados com agentes químicos e biológicos, ou simplesmente com jornais velhos, destinados a confundir as bateiras antimísseis israelitas.
(...)
Continue a ler neste link.
Benny Morris é professor de História do Médio Oriente na Universidade Ben-Gurion e um dos mais marcantes representantes da esquerda académica israelita. Este ensaio foi publicado em Janeiro de 2007 no Jerusalem Post.
Retirado do blog de nuno Guerreiro Josué, "Rua da Judiaria"
terça-feira, 20 de fevereiro de 2007
705) Livre-comercio e emprego: estudo OMC-OIT
A proposito da matéria transcrita abaixo sobre um estudo conjunto da OIT-OMC
Minhas considerações iniciais:
Dizer que o livre-comércio (ou a globalização para ficarmos no plano mais geral) não cria empregos é obviamente simplificar uma realidade complexa.
Liberalização comercial e de investimentos possuem o efeito mais notorio de DESLOCAR empregos, geograficamente e intersetorialmente, de acordo com o velho princípio ricardiano das vantagens comparativas, tao bem conhecido de todos os economistas.
Não ousaria dizer que nesse processo, o saldo obtido é neutro -- ou seja, sem criacao liquida de novos empregos -- porque criacao e destruicao de empregos nunca se dão nas mesmas condicoes iniciais: tecnologias novas ou velhas sao deslocadas de um canto a outro do planeta, ademais de insumos produtivos mais intangiveis como o know-how,por exemplo, sem que a combinacao seja a mesma numa ou noutra ponta do processo.
Como tecnologias e outros procedimentos produtivos são sempre, por definicao, poupadoras de mao-de-obra, é evidente que haverá um deslocamento de trabalho no curso do processo, ou seja, uma supressao, temporaria, setorial, localizada, de empregos numa ponta, e sua criacao numa outra ponta. Deve-se observar, em todo caso, que mesmo com a supressao de empregos NAQUELA atividade, outros empregos estao sempre sendo criados em outras atividades, seja a montante (concepção, design, engenharia), seja a jusante (manutencao, assistencia tecnica, servicos associados, acessorios, etc).
Em outros temos, como qualquer outro processo de mercado, comercio e investimentos estao sempre aproveitando de diversas formas os fatores de producao e nesse processo deslocamentos (criacao e destruicao) de empregos sao inevitaveis.
O que ainda nao se provou, contra a paranoia bem conhecida dos luddistas e anti-liberalizadores, é que isso provoca, no longo prazo e no plano global, uma diminuicao global de empregos. A humanidade sempre conheceu subemprego e desemprego e a supressao dessas inconveniencias depende e muito dos governos nacionais, das politicas setoriais, da capacitacao dos recursos humanos.
O que é certo é que os paises mais produtivos, os mais avancados, tendem a ter menores taxas de desemprego, NA AUSENCIA de politicas inibidoras da contratacao por motivacoes sindicais e corporativas.
Como se sabe, tambem, sindicatos sao maquinas de produzir desemprego, por que pretendem regular de modo estático um dos fatores de producao, o que na dinamica economica é virtualmente impossivel. O resultado pode ser desemprego...
Estas minhas consideracoes, sem ter lido ainda o relatório...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
20 de fevereiro de 2007
Agora a matéria de imprensa:
Livre comércio não cria empregos, conclui estudo
Relatório conjunto da OMC e da OIT não vê relação entre
a abertura comercial e a redução ou o aumento do desemprego
EFE, 20/02/2007
As organizações mundiais do Comércio (OMC) e do Trabalho (OIT) reconheceram ontem não ter dados suficientes para garantir que a liberalização do comércio cria empregos e defenderam políticas nacionais eficazes para cumprir esse objetivo. Os dois organismos com sede em Genebra divulgaram ontem um relatório conjunto no qual procuram aprofundar a complexa relação entre a liberalização do comércio e a geração de emprego.
“O sistema multilateral de comércio pode contribuir para o aumento do bem-estar mundial e promover melhores resultados no emprego, um desafio enfrentado por todos os países-membros” da OMC e da OIT, afirmam no relatório os dirigentes dos dois organismos, Pascal Lamy e Juan Somavía, respectivamente. De acordo com o documento, embora “existam vários estudos empíricos, não é possível depreender uma mensagem clara deles”.
Nas últimas duas décadas de intensificação do comércio mundial não houve uma grande melhoria ou deterioração do emprego. Assim, “a única conclusão justificada é que isso depende de fatores nacionais”, acrescenta o estudo. Alguns desses fatores seriam as políticas macroeconômicas e trabalhistas, os investimentos estrangeiros diretos (IED), as novas tecnologias e o comportamento dos trabalhadores quando procuram emprego.
“A globalização pode ser positiva para a maioria dos trabalhadores dos países industrializados e em desenvolvimento, sempre que sejam aplicadas as políticas econômicas adequadas. No entanto, pode não incluir todos e não é possível ignorar suas repercussões de caráter distributivo”, afirma o documento. Segundo o estudo, o aumento da demanda por mão-de-obra qualificada é outro aspecto da globalização que tende a aumentar as diferenças salariais entre os trabalhadores.
“A teoria clássica estabelece que o comércio entre países industrializados e em desenvolvimento aumenta essas diferenças salariais no mundo industrializado”, continua o relatório, apesar de os autores afirmarem que o principal motivo dessas discrepâncias são as mudanças tecnológicas.
No que se refere à estabilidade do emprego, o estudo reconhece que estão muito difundidas as idéias de que o aumento da competitividade, a redução de obstáculos ao comércio e a maior integração entre os mercados causam o aumento da terceirização, um ambiente de trabalho “mais turbulento” e, com isso, mais desemprego.
No entanto, “os dados não comprovam esta tese”, sendo apenas possível afirmar que “a turbulência não gera um mercado de trabalho mais instável, mas sim efeitos mais negativos no caso da perda de emprego”. As organizações reconhecem que “há razões para pensar que existe um conflito entre eficiência e proteção, que, no entanto, não seria muito grave caso fossem adotadas as políticas de proteção adequadas”.
A liberalização comercial “pode ter efeitos tanto positivos como negativos” e, por enquanto, “os dados empíricos são muito limitados”, segundo os analistas, que reconhecem a importância de a abertura dos mercados ser gradual e conter programas de ajuste concretos para potencializar os benefícios do processo.
“A necessidade de programas de ajuste é maior nos países em desenvolvimento do que nos industrializados, onde os mecanismos de proteção social, por exemplo sob a forma de agências de emprego, ajudam as pessoas atingidas pelo desemprego.”
No entanto, os organismos internacionais reconhecem que, nos países em desenvolvimento, os sistemas de proteção social de ampla cobertura “podem não ser viáveis a curto prazo”, e apostam em outros, de menor duração e dirigidos especificamente aos afetados pelas reformas comerciais liberalizantes.
WTO: 2007 NEWS ITEMS
19 February 2007
WTO AND OTHER ORGANIZATIONS
ILO and WTO Secretariat issue joint study on trade and employment
The International Labour Office and the WTO Secretariat, on 19 February 2007, issued “Trade and Employment: Challenges for Policy Research”. Director-General Pascal Lamy and ILO Director-General Juan Somavia, in their foreword to the study, said “the multilateral trading system has the potential to contribute to increasing global welfare and to promote better employment outcomes”.
Download for free
Minhas considerações iniciais:
Dizer que o livre-comércio (ou a globalização para ficarmos no plano mais geral) não cria empregos é obviamente simplificar uma realidade complexa.
Liberalização comercial e de investimentos possuem o efeito mais notorio de DESLOCAR empregos, geograficamente e intersetorialmente, de acordo com o velho princípio ricardiano das vantagens comparativas, tao bem conhecido de todos os economistas.
Não ousaria dizer que nesse processo, o saldo obtido é neutro -- ou seja, sem criacao liquida de novos empregos -- porque criacao e destruicao de empregos nunca se dão nas mesmas condicoes iniciais: tecnologias novas ou velhas sao deslocadas de um canto a outro do planeta, ademais de insumos produtivos mais intangiveis como o know-how,por exemplo, sem que a combinacao seja a mesma numa ou noutra ponta do processo.
Como tecnologias e outros procedimentos produtivos são sempre, por definicao, poupadoras de mao-de-obra, é evidente que haverá um deslocamento de trabalho no curso do processo, ou seja, uma supressao, temporaria, setorial, localizada, de empregos numa ponta, e sua criacao numa outra ponta. Deve-se observar, em todo caso, que mesmo com a supressao de empregos NAQUELA atividade, outros empregos estao sempre sendo criados em outras atividades, seja a montante (concepção, design, engenharia), seja a jusante (manutencao, assistencia tecnica, servicos associados, acessorios, etc).
Em outros temos, como qualquer outro processo de mercado, comercio e investimentos estao sempre aproveitando de diversas formas os fatores de producao e nesse processo deslocamentos (criacao e destruicao) de empregos sao inevitaveis.
O que ainda nao se provou, contra a paranoia bem conhecida dos luddistas e anti-liberalizadores, é que isso provoca, no longo prazo e no plano global, uma diminuicao global de empregos. A humanidade sempre conheceu subemprego e desemprego e a supressao dessas inconveniencias depende e muito dos governos nacionais, das politicas setoriais, da capacitacao dos recursos humanos.
O que é certo é que os paises mais produtivos, os mais avancados, tendem a ter menores taxas de desemprego, NA AUSENCIA de politicas inibidoras da contratacao por motivacoes sindicais e corporativas.
Como se sabe, tambem, sindicatos sao maquinas de produzir desemprego, por que pretendem regular de modo estático um dos fatores de producao, o que na dinamica economica é virtualmente impossivel. O resultado pode ser desemprego...
Estas minhas consideracoes, sem ter lido ainda o relatório...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
20 de fevereiro de 2007
Agora a matéria de imprensa:
Livre comércio não cria empregos, conclui estudo
Relatório conjunto da OMC e da OIT não vê relação entre
a abertura comercial e a redução ou o aumento do desemprego
EFE, 20/02/2007
As organizações mundiais do Comércio (OMC) e do Trabalho (OIT) reconheceram ontem não ter dados suficientes para garantir que a liberalização do comércio cria empregos e defenderam políticas nacionais eficazes para cumprir esse objetivo. Os dois organismos com sede em Genebra divulgaram ontem um relatório conjunto no qual procuram aprofundar a complexa relação entre a liberalização do comércio e a geração de emprego.
“O sistema multilateral de comércio pode contribuir para o aumento do bem-estar mundial e promover melhores resultados no emprego, um desafio enfrentado por todos os países-membros” da OMC e da OIT, afirmam no relatório os dirigentes dos dois organismos, Pascal Lamy e Juan Somavía, respectivamente. De acordo com o documento, embora “existam vários estudos empíricos, não é possível depreender uma mensagem clara deles”.
Nas últimas duas décadas de intensificação do comércio mundial não houve uma grande melhoria ou deterioração do emprego. Assim, “a única conclusão justificada é que isso depende de fatores nacionais”, acrescenta o estudo. Alguns desses fatores seriam as políticas macroeconômicas e trabalhistas, os investimentos estrangeiros diretos (IED), as novas tecnologias e o comportamento dos trabalhadores quando procuram emprego.
“A globalização pode ser positiva para a maioria dos trabalhadores dos países industrializados e em desenvolvimento, sempre que sejam aplicadas as políticas econômicas adequadas. No entanto, pode não incluir todos e não é possível ignorar suas repercussões de caráter distributivo”, afirma o documento. Segundo o estudo, o aumento da demanda por mão-de-obra qualificada é outro aspecto da globalização que tende a aumentar as diferenças salariais entre os trabalhadores.
“A teoria clássica estabelece que o comércio entre países industrializados e em desenvolvimento aumenta essas diferenças salariais no mundo industrializado”, continua o relatório, apesar de os autores afirmarem que o principal motivo dessas discrepâncias são as mudanças tecnológicas.
No que se refere à estabilidade do emprego, o estudo reconhece que estão muito difundidas as idéias de que o aumento da competitividade, a redução de obstáculos ao comércio e a maior integração entre os mercados causam o aumento da terceirização, um ambiente de trabalho “mais turbulento” e, com isso, mais desemprego.
No entanto, “os dados não comprovam esta tese”, sendo apenas possível afirmar que “a turbulência não gera um mercado de trabalho mais instável, mas sim efeitos mais negativos no caso da perda de emprego”. As organizações reconhecem que “há razões para pensar que existe um conflito entre eficiência e proteção, que, no entanto, não seria muito grave caso fossem adotadas as políticas de proteção adequadas”.
A liberalização comercial “pode ter efeitos tanto positivos como negativos” e, por enquanto, “os dados empíricos são muito limitados”, segundo os analistas, que reconhecem a importância de a abertura dos mercados ser gradual e conter programas de ajuste concretos para potencializar os benefícios do processo.
“A necessidade de programas de ajuste é maior nos países em desenvolvimento do que nos industrializados, onde os mecanismos de proteção social, por exemplo sob a forma de agências de emprego, ajudam as pessoas atingidas pelo desemprego.”
No entanto, os organismos internacionais reconhecem que, nos países em desenvolvimento, os sistemas de proteção social de ampla cobertura “podem não ser viáveis a curto prazo”, e apostam em outros, de menor duração e dirigidos especificamente aos afetados pelas reformas comerciais liberalizantes.
WTO: 2007 NEWS ITEMS
19 February 2007
WTO AND OTHER ORGANIZATIONS
ILO and WTO Secretariat issue joint study on trade and employment
The International Labour Office and the WTO Secretariat, on 19 February 2007, issued “Trade and Employment: Challenges for Policy Research”. Director-General Pascal Lamy and ILO Director-General Juan Somavia, in their foreword to the study, said “the multilateral trading system has the potential to contribute to increasing global welfare and to promote better employment outcomes”.
Download for free
domingo, 18 de fevereiro de 2007
704) A politização do Itamaraty (Editorial OESP)
A politização do Itamaraty
Editorial de O Estado de São Paulo, Domingo, 18 de fevereiro de 2007, p. A3.
O chanceler Celso Amorim é diplomata experiente e negociador hábil. Não surpreenderia, portanto, se após a leitura da entrevista publicada no Estado de domingo passado alguns leitores tivessem ficado com a impressão de que ele contestou ponto por ponto as críticas à política externa e à conduta administrativa do Itamaraty feitas pelo embaixador Roberto Abdenur, em entrevista à Veja. O embaixador Amorim não respondeu diretamente às perguntas que lhe foram feitas pelo jornalista Expedito Filho, tangenciando os assuntos e montando silogismos. 'O que se viu foi, novamente, a prática da dissimulação, típica do ministro', diagnosticou o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, que aproveitou para explicar que o relacionamento entre Brasil e Estados Unidos é bom não porque não exista antiamericanismo na cúpula do Itamaraty, como sustenta o ministro Celso Amorim, mas porque 'há uma força inercial favorável a isso, que inclui a densidade comercial', e porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva contribui pessoalmente para a existência de um bom clima entre os dois países. Os presidentes Lula e George W. Bush, como se sabe, têm um bom e cordial relacionamento pessoal.
A entrevista de domingo mostra com clareza o método empregado pelo ministro das Relações Exteriores. Até as pedras sabem que o Itamaraty fez o possível para levar as negociações para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) ao impasse e, depois, ao fracasso. O presidente Lula tem apresentado, em seus discursos, essa façanha como uma das mais significativas vitórias de seu governo. Pois perguntado por que o Brasil não se empenhou na consolidação da Alca, o chanceler respondeu: 'O Brasil se empenhou. Fui a Miami e fechei um acordo que chegou a ser 98% costurado. Depois os fundamentalistas começaram a descosturar.' Quem são esses fundamentalistas capazes de levar ao fracasso uma negociação entre 34 países? 'Não sei quem são os fundamentalistas, se são os da direita ou os da esquerda.'
E, com isso, não apenas se desfaz qualquer ranço de antiamericanismo - ou, pior, de complexo de inferioridade que impede um relacionamento altaneiro e produtivo com a superpotência -, como se transfere para desconhecidos 'fundamentalistas' a responsabilidade pelo fracasso da integração do Hemisfério.
Alega o chanceler que a prova da inexistência de antiamericanismo em sua administração é o fato de os EUA demonstrarem 'um interesse tão grande' pelo Brasil. Ora, dado o relacionamento tradicionalmente bom entre os dois países e os interesses comerciais comuns, solidificados por maciços investimentos feitos pela iniciativa privada, lá e cá, só uma política abertamente hostil justificaria atitude diferente de Washington. Mas o antiamericanismo itamaratiano não é grosseiro; é sutil. Como observa o ex-chanceler Mário Gibson Barbosa em artigo publicado no Jornal do Brasil, trata-se de 'um antiamericanismo de viés nitidamente ideológico que contamina nossa atuação internacional, amarrando-nos cada vez mais a posições que não representam o interesse nacional. Muitas vezes nos levam a atitudes e solidariedades desnecessárias, para não dizer prejudiciais'.
Também preocupa o embaixador Gibson Barbosa o engajamento ideológico e partidário - a 'entusiástica adesão política ao petismo e ao atual governo' - que tem sido exigido dos diplomatas 'para que possam obter promoção ou os melhores postos no exterior'. Chanceler no governo Médici, Gibson Barbosa conduziu o processo de aproximação do Brasil dos países da África, numa época conturbada pelos conflitos da guerra fria. Mas isso não o transformou em ideólogo ou áulico do regime militar, pois entende que 'a atividade diplomática é exercida por uma carreira de Estado, cujos profissionais respeitam o governo de turno, mas não servem a este e sim à Nação, que, ao contrário do governo, é permanente'.
Ex-chanceleres e diplomatas de renome que deixaram o serviço ativo não têm poupado a atual gestão do Itamaraty. Um ou outro faz críticas pontuais à política externa petista. Mas não é esse o ponto de união entre eles. O que os liga é a preocupação com o processo de politização a que a Casa de Rio Branco está sendo submetida há mais de quatro anos. A imposição da 'ideologia unificada' acaba por transformar profissionais a serviço do Estado em simples áulicos do governo. O Barão do Rio Branco, um monarquista ferrenho que serviu fielmente à República, jamais permitiria isso.
Editorial de O Estado de São Paulo, Domingo, 18 de fevereiro de 2007, p. A3.
O chanceler Celso Amorim é diplomata experiente e negociador hábil. Não surpreenderia, portanto, se após a leitura da entrevista publicada no Estado de domingo passado alguns leitores tivessem ficado com a impressão de que ele contestou ponto por ponto as críticas à política externa e à conduta administrativa do Itamaraty feitas pelo embaixador Roberto Abdenur, em entrevista à Veja. O embaixador Amorim não respondeu diretamente às perguntas que lhe foram feitas pelo jornalista Expedito Filho, tangenciando os assuntos e montando silogismos. 'O que se viu foi, novamente, a prática da dissimulação, típica do ministro', diagnosticou o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, que aproveitou para explicar que o relacionamento entre Brasil e Estados Unidos é bom não porque não exista antiamericanismo na cúpula do Itamaraty, como sustenta o ministro Celso Amorim, mas porque 'há uma força inercial favorável a isso, que inclui a densidade comercial', e porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva contribui pessoalmente para a existência de um bom clima entre os dois países. Os presidentes Lula e George W. Bush, como se sabe, têm um bom e cordial relacionamento pessoal.
A entrevista de domingo mostra com clareza o método empregado pelo ministro das Relações Exteriores. Até as pedras sabem que o Itamaraty fez o possível para levar as negociações para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) ao impasse e, depois, ao fracasso. O presidente Lula tem apresentado, em seus discursos, essa façanha como uma das mais significativas vitórias de seu governo. Pois perguntado por que o Brasil não se empenhou na consolidação da Alca, o chanceler respondeu: 'O Brasil se empenhou. Fui a Miami e fechei um acordo que chegou a ser 98% costurado. Depois os fundamentalistas começaram a descosturar.' Quem são esses fundamentalistas capazes de levar ao fracasso uma negociação entre 34 países? 'Não sei quem são os fundamentalistas, se são os da direita ou os da esquerda.'
E, com isso, não apenas se desfaz qualquer ranço de antiamericanismo - ou, pior, de complexo de inferioridade que impede um relacionamento altaneiro e produtivo com a superpotência -, como se transfere para desconhecidos 'fundamentalistas' a responsabilidade pelo fracasso da integração do Hemisfério.
Alega o chanceler que a prova da inexistência de antiamericanismo em sua administração é o fato de os EUA demonstrarem 'um interesse tão grande' pelo Brasil. Ora, dado o relacionamento tradicionalmente bom entre os dois países e os interesses comerciais comuns, solidificados por maciços investimentos feitos pela iniciativa privada, lá e cá, só uma política abertamente hostil justificaria atitude diferente de Washington. Mas o antiamericanismo itamaratiano não é grosseiro; é sutil. Como observa o ex-chanceler Mário Gibson Barbosa em artigo publicado no Jornal do Brasil, trata-se de 'um antiamericanismo de viés nitidamente ideológico que contamina nossa atuação internacional, amarrando-nos cada vez mais a posições que não representam o interesse nacional. Muitas vezes nos levam a atitudes e solidariedades desnecessárias, para não dizer prejudiciais'.
Também preocupa o embaixador Gibson Barbosa o engajamento ideológico e partidário - a 'entusiástica adesão política ao petismo e ao atual governo' - que tem sido exigido dos diplomatas 'para que possam obter promoção ou os melhores postos no exterior'. Chanceler no governo Médici, Gibson Barbosa conduziu o processo de aproximação do Brasil dos países da África, numa época conturbada pelos conflitos da guerra fria. Mas isso não o transformou em ideólogo ou áulico do regime militar, pois entende que 'a atividade diplomática é exercida por uma carreira de Estado, cujos profissionais respeitam o governo de turno, mas não servem a este e sim à Nação, que, ao contrário do governo, é permanente'.
Ex-chanceleres e diplomatas de renome que deixaram o serviço ativo não têm poupado a atual gestão do Itamaraty. Um ou outro faz críticas pontuais à política externa petista. Mas não é esse o ponto de união entre eles. O que os liga é a preocupação com o processo de politização a que a Casa de Rio Branco está sendo submetida há mais de quatro anos. A imposição da 'ideologia unificada' acaba por transformar profissionais a serviço do Estado em simples áulicos do governo. O Barão do Rio Branco, um monarquista ferrenho que serviu fielmente à República, jamais permitiria isso.
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007
703) Back to the Future...
Três anos atrás eu fazia um pequeno exercício de "astrologia diplomática", apenas para me divertir. Não sei exatamente se acertei mais do que errei, ou o contrário. Não importa. A intenção era meramente um exercício espiritual, um divertissement...
Em todo caso, pode-se conferir para ver se são necessárias atualizações de conteúdo, ou apenas de forma, isto é, cronológicas...
Astrologia diplomática
Especulações sobre a política internacional em 2004 (e além)
Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)
Todo fim de ano é a mesma história: os jornais e revistas trazem aquelas previsões dos astrólogos para o começo do próximo ano, e tome promessa de catástrofes, mortes, assassinatos, traições, acidentes terríveis e outras pragas anunciadas previamente. O problema, atualmente, é que esses “astrólogos de carteirinha” já não se contentam mais com o menu habitual dos ricos e famosos, dos artistas de Hollywood (ou de novela) e um ou outro político. Não: eles já deixaram a seara das catástrofes naturais, dos acidentes de avião e das mortes das vedetes, para enveredar pelos arcanos da alta política e da política econômica oficial. Eles se profissionalizaram e se especializaram, como convém a toda economia moderna funcionando a plena carga da divisão social do trabalho (Durkheim que me perdõe, mas os astrólogos contribuem para reduzir o grau de “anomia” social).
Deve ter gente que coleciona as previsões mais picantes para conferir até o final do ano, mas confesso que eu sempre perco os recortes no meio do caminho. Quando a pilha geológica dos meus materiais “para ler depois” deixa o pré-cambriano de janeiro para o jurássico de maio a memória enfraquece; quando chega então no pleistoceno de novembro, já não há jeito de encontrar mais nada: tudo está soterrado e será descartado na próxima mudança.
Por isso, desta vez resolvi fazer diferente: vou criar minhas próprias previsões, num terreno que é o meu, obviamente, pois que eu não tenho permissão do sindicato dos astrólogos para invadir sua reserva de mercado e fazer previsões estapafúrdias sobre os temas que lhes são caros. Vou ficar na minha própria selva, que é muito mais complicada do que o mundo de Hollywood e dos cenários de novelas, e vou fazer mais: vou deixar minha lista afichada na minha página (www.pralmeida.org) o ano inteiro, mas sem qualquer garantia de satisfação ou seu dinheiro de volta. Fica valendo apenas como exercício de imaginação criadora, num mundo que se repete a cada ano.
Aqui está, portanto, minha astrologia diplomática para o ano de 2004 (e além), com a ressalva de que eu não consultei as entranhas de nenhum animal, não tracei mapas astrais de nenhum líder da política mundial, não segui o curso zodiacal de países ou organizações. Tudo é resultado da mais pura e anárquica especulação, sem compromisso de cumprimento. Como se trata da primeira tentativa, a margem de erro supera 60%, mas prometo melhorar o grau de acerto antes do Brasil ingressar no Conselho de Segurança, o que deve me dar uns vinte anos de aperfeiçoamento. Sem mais delongas, eis minha lista:
ONU:
Enfrentará uma nova crise financeira em 2004 e não terá recursos para mais de duas missões de paz e meia. Convocará uma conferência de chefes de Estado para discutir o problema da fome e das epidemias que atingem os países mais pobres: todos prometerão ajudar e o mundo continuará igual ao que sempre foi. Haverá discussões (intermináveis) sobre a reforma da Carta e a ampliação do Conselho de Segurança, sem conclusões firmes, porém. Aprovará um sem número de resoluções para resolver os mais variados problemas da humanidade: metade delas terá os Estados Unidos como único opositor (por vezes acompanhados de Israel e do Reino Unido). O Brasil abrirá o debate anual na Assembléia Geral, com um discurso no qual defenderá o multilateralismo.
Império:
Aprofundará o seu comportamento imperial, mas com algumas sutilezas, em um ano eleitoral. Continuará a não ligar para o mundo, mas fará de conta que está realmente interessado na paz e na cooperação internacionais. Continuará caçando terroristas durante o ano e alternando os alarmes amarelo e laranja. Vai legalizar imigrantes ilegais, mas um número ainda maior de candidatos passará a demandar fronteiras muito mais vigiadas. Algumas centenas de brasileiros serão deportados, gentilmente, e outros milhares continuarão tentando entrar, de forma pouco gentil. O presidente republicano será reeleito, ou então tomará seu lugar um candidato democrata. O Congresso confirmará que deseja a Alca mas que não pretende fazer nenhum esforço para abrir suas fronteiras agrícolas ou desmantelar os protecionismos setoriais. Aumentará a exportação de enlatados de Hollywood e a importação de cérebros do resto do mundo.
Europa:
Continuará tendo problemas de formação de maiorias para decidir a introdução do décimo-quinto tratado de reforço de uma união cada vez mais estreita entre seus povos, desta vez em número de 45 (contando as minorias), o que deve dar algo como 82 traduções cruzadas na Comissão, inclusive do grego para o finlandês e do sueco para o esloveno. Suas famílias continuarão não fazendo filhos, e por isso recorrerão aos imigrantes para manter a oferta de mão-de-obra barata. Continuarão enchendo a paciência do resto do mundo para que este reconheça exclusividade de apelações de origem (em queijos, bebidas e outras especialidades) que eles mesmos exportaram para o resto do mundo, com os seus emigrantes, cem anos atrás. Continuarão a manter vacas com contas em banco, porcos com talão de cheques e agricultores com cartões de crédito da própria Comissão, esperando que agricultores do Terceiro Mundo se contentem com algumas migalhas que vão jogar pela janela. Ainda assim, será um ótimo lugar para se fazer turismo cultural e gastronômico.
África:
Terá cessado duas guerras, mas começado outras três, com combatentes cada vez mais jovens (alguns empunharão a AK-47 com uma mão e a mamadeira com a outra). A entrada de recursos públicos para combater a Aids será compensada pela exportação de capitais privatizados para aumentar contas nos bancos off shore. Continuará fornecendo candidatos à imigração nos países europeus. Trapaceiros nigerianos continuarão enviando milhões de mensagens eletrônicas para confirmar que o tio ex-presidente ou o ministro da construção desejam lhe tranferir 25% do seu patrimônio desde que você consinta em lhes passar o número de sua conta em banco: será a contribuição africana para resolver em parte o problema da má distribuição de renda no mundo.
Brasil:
Apesar da reforma ministerial, a imprensa continuará especulando sobre a entrada de novos ministros na equipe de assessores do presidente. Também se discutirá muito o crescimento da economia, o aumento da oferta de empregos, a reforma trabalhista, a política e a crise das universidades, a redução dos impostos e o aumento das prestações sociais, bem como dos investimentos do governo em obras de infraestrutura. Haverá troca-troca partidário logo depois das eleições municipais e nova mudança de regras para as eleições de 2006. A próxima novela do horário nobre se espelhará na vida política do País, o que fará, pela primeira vez na história, decrescer o nível de audiência desse tipo de programa. Os discursos ainda serão superiores ao número de medidas-provisórias, com previsão de equilíbrio em 2005. Continuará em seu esforço para ingressar no Conselho de Segurança e para liderar a América do Sul, com progressos sensíveis nas duas frentes.
Mercosul:
A união aduaneira se reforçará, mas antes haverá um curto estágio de cinco anos por um espaço de preferências tarifárias e mais três numa zona de livre comércio. Sua expansão recomendará reuniões de cúpula de dois dias, para dar tempo a todos os discursos, mas a Secretária Administrativa comprará um avião próprio para seguir todas as reuniões de todos os subgrupos técnicos do mercado comum (em preparação). O grupo de educação começará a redação de um manual de portunhol e a própria Secretária Administrativa de um Mercosur for beginners ou de um Idiot’s Guide to Mercosur.
Anti-globalizadores:
Continuarão com suas ruidosas reuniões, mas cada vez mais globalizadas e mais capitalizadas. Com isso conseguirão prolongar a vida útil do Fórum de Davos, que já vinha cansando empresários e acadêmicos. Também estimularão o turismo alternativo, as edições alternativas e os discursos alternativos, criando uma pujante economia de iniciativas anti-globalização que conseguirá, finalmente, salvar o capitalismo de sua atual fase de estagnação econômica e de baixo crescimento. Serão lançados derivativos financeiros do Fórum Social Mundial, para os que desejam aplicações alternativas, com dinheiro não contaminado pelo desejo de lucro e pelo vício da exploração do homem pelo homem. Serão os únicos fluxos financeiros a recolher a Tobin Tax, num esquema administrado pela ONU, que vai reverter em benefício de organizações alternativas do Terceiro Mundo, isto é, para eles mesmos.
Comércio internacional:
Continuará sendo uma guerra por outros meios, ou continuará tendo mais a ver com a política do que com a economia. As vantagens comparativas ricardianas terão uma nova interpretação, patrocinada pela Comissão Européia e pelo Congresso americano, que tentarão modificar simultaneamente todos os livros textos de economia. Seus autores se refugiarão numa ilha deserta, reproduzindo a simulação do Robinson Crusoé que figura nesses livros textos, como exemplo de economia fechada e sem trocas. A despeito disso, as trocas se farão cada vez mais entre multinacionais, que serão em sua maioria ocidentais intercambiando produtos chineses. Indianos também vão começar a exportar uma parte de sua mão-de-obra para a Rússia, que padece de demografia declinante. Haverá dumping de ministros social-democratas, numa primeira antecipação da aplicação da cláusula social em escala universal.
Meio Ambiente:
Cada vez mais protegido, por discursos, de dirigentes políticos, e na prática, por barcos e aviões armados de radares e mísseis das organizações não-governamentais mais agressivas. Povos indígenas, por sua vez, contarão com dirigíveis nao-poluentes para supervisionar suas explorações minerais e agrícolas (sustentáveis). Técnicas de clonagem ressuscitarão espécies desaparecidas, mas as ONGs ecológicas alertarão para os desequilíbrios para o meio ambiente do século 21, não acostumado com predadores do passado. Desaparecerá a agricultura tradicional e os supermercados serão divididos em seções de transgênicos e de orgânicos, com filas separadas nos caixas para evitar contaminação recíproca.
Direitos Humanos:
Serão inclusivos, com os aspectos psicológicos contemplados em nova convenção da ONU. Animais clonados também serão incluídos na categoria. O direito à democracia derrubará o último ditador asiático, mas uma ilha do Caribe continuará resistindo aos ditames do Império. Todos os habitantes do planeta terão direito a uma renda mínima, cujo programa será universalizado graças aos esforços de um senador brasileiro, e a ONU supervisionará sua aplicação até o ano de 2075, quando se espera que o último pobre poderá adquirir uma bicicleta chinesa movida a hidrogênio.
Astrólogos diplomáticos:
Serão uma categoria reconhecida e cada vez mais disseminada, antes mesmo da formalização da profissão de “internacionalista”. Terão seu próprio sindicato e sua colônia de férias e farão congressos anuais para trocar previsões sobre os países em que vivem. O mundo será muito mais divertido e feliz com eles, pois eles poderão abolir completamente as guerras e as epidemias de suas previsões, aproveitando para abater o preço dos manufaturados e para elevar os das commodities. Ou não?
A conferir no começo de 2005.
Paulo Roberto de Almeida (Brasília: 1176, 11 de janeiro de 2004).
Em todo caso, pode-se conferir para ver se são necessárias atualizações de conteúdo, ou apenas de forma, isto é, cronológicas...
Astrologia diplomática
Especulações sobre a política internacional em 2004 (e além)
Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)
Todo fim de ano é a mesma história: os jornais e revistas trazem aquelas previsões dos astrólogos para o começo do próximo ano, e tome promessa de catástrofes, mortes, assassinatos, traições, acidentes terríveis e outras pragas anunciadas previamente. O problema, atualmente, é que esses “astrólogos de carteirinha” já não se contentam mais com o menu habitual dos ricos e famosos, dos artistas de Hollywood (ou de novela) e um ou outro político. Não: eles já deixaram a seara das catástrofes naturais, dos acidentes de avião e das mortes das vedetes, para enveredar pelos arcanos da alta política e da política econômica oficial. Eles se profissionalizaram e se especializaram, como convém a toda economia moderna funcionando a plena carga da divisão social do trabalho (Durkheim que me perdõe, mas os astrólogos contribuem para reduzir o grau de “anomia” social).
Deve ter gente que coleciona as previsões mais picantes para conferir até o final do ano, mas confesso que eu sempre perco os recortes no meio do caminho. Quando a pilha geológica dos meus materiais “para ler depois” deixa o pré-cambriano de janeiro para o jurássico de maio a memória enfraquece; quando chega então no pleistoceno de novembro, já não há jeito de encontrar mais nada: tudo está soterrado e será descartado na próxima mudança.
Por isso, desta vez resolvi fazer diferente: vou criar minhas próprias previsões, num terreno que é o meu, obviamente, pois que eu não tenho permissão do sindicato dos astrólogos para invadir sua reserva de mercado e fazer previsões estapafúrdias sobre os temas que lhes são caros. Vou ficar na minha própria selva, que é muito mais complicada do que o mundo de Hollywood e dos cenários de novelas, e vou fazer mais: vou deixar minha lista afichada na minha página (www.pralmeida.org) o ano inteiro, mas sem qualquer garantia de satisfação ou seu dinheiro de volta. Fica valendo apenas como exercício de imaginação criadora, num mundo que se repete a cada ano.
Aqui está, portanto, minha astrologia diplomática para o ano de 2004 (e além), com a ressalva de que eu não consultei as entranhas de nenhum animal, não tracei mapas astrais de nenhum líder da política mundial, não segui o curso zodiacal de países ou organizações. Tudo é resultado da mais pura e anárquica especulação, sem compromisso de cumprimento. Como se trata da primeira tentativa, a margem de erro supera 60%, mas prometo melhorar o grau de acerto antes do Brasil ingressar no Conselho de Segurança, o que deve me dar uns vinte anos de aperfeiçoamento. Sem mais delongas, eis minha lista:
ONU:
Enfrentará uma nova crise financeira em 2004 e não terá recursos para mais de duas missões de paz e meia. Convocará uma conferência de chefes de Estado para discutir o problema da fome e das epidemias que atingem os países mais pobres: todos prometerão ajudar e o mundo continuará igual ao que sempre foi. Haverá discussões (intermináveis) sobre a reforma da Carta e a ampliação do Conselho de Segurança, sem conclusões firmes, porém. Aprovará um sem número de resoluções para resolver os mais variados problemas da humanidade: metade delas terá os Estados Unidos como único opositor (por vezes acompanhados de Israel e do Reino Unido). O Brasil abrirá o debate anual na Assembléia Geral, com um discurso no qual defenderá o multilateralismo.
Império:
Aprofundará o seu comportamento imperial, mas com algumas sutilezas, em um ano eleitoral. Continuará a não ligar para o mundo, mas fará de conta que está realmente interessado na paz e na cooperação internacionais. Continuará caçando terroristas durante o ano e alternando os alarmes amarelo e laranja. Vai legalizar imigrantes ilegais, mas um número ainda maior de candidatos passará a demandar fronteiras muito mais vigiadas. Algumas centenas de brasileiros serão deportados, gentilmente, e outros milhares continuarão tentando entrar, de forma pouco gentil. O presidente republicano será reeleito, ou então tomará seu lugar um candidato democrata. O Congresso confirmará que deseja a Alca mas que não pretende fazer nenhum esforço para abrir suas fronteiras agrícolas ou desmantelar os protecionismos setoriais. Aumentará a exportação de enlatados de Hollywood e a importação de cérebros do resto do mundo.
Europa:
Continuará tendo problemas de formação de maiorias para decidir a introdução do décimo-quinto tratado de reforço de uma união cada vez mais estreita entre seus povos, desta vez em número de 45 (contando as minorias), o que deve dar algo como 82 traduções cruzadas na Comissão, inclusive do grego para o finlandês e do sueco para o esloveno. Suas famílias continuarão não fazendo filhos, e por isso recorrerão aos imigrantes para manter a oferta de mão-de-obra barata. Continuarão enchendo a paciência do resto do mundo para que este reconheça exclusividade de apelações de origem (em queijos, bebidas e outras especialidades) que eles mesmos exportaram para o resto do mundo, com os seus emigrantes, cem anos atrás. Continuarão a manter vacas com contas em banco, porcos com talão de cheques e agricultores com cartões de crédito da própria Comissão, esperando que agricultores do Terceiro Mundo se contentem com algumas migalhas que vão jogar pela janela. Ainda assim, será um ótimo lugar para se fazer turismo cultural e gastronômico.
África:
Terá cessado duas guerras, mas começado outras três, com combatentes cada vez mais jovens (alguns empunharão a AK-47 com uma mão e a mamadeira com a outra). A entrada de recursos públicos para combater a Aids será compensada pela exportação de capitais privatizados para aumentar contas nos bancos off shore. Continuará fornecendo candidatos à imigração nos países europeus. Trapaceiros nigerianos continuarão enviando milhões de mensagens eletrônicas para confirmar que o tio ex-presidente ou o ministro da construção desejam lhe tranferir 25% do seu patrimônio desde que você consinta em lhes passar o número de sua conta em banco: será a contribuição africana para resolver em parte o problema da má distribuição de renda no mundo.
Brasil:
Apesar da reforma ministerial, a imprensa continuará especulando sobre a entrada de novos ministros na equipe de assessores do presidente. Também se discutirá muito o crescimento da economia, o aumento da oferta de empregos, a reforma trabalhista, a política e a crise das universidades, a redução dos impostos e o aumento das prestações sociais, bem como dos investimentos do governo em obras de infraestrutura. Haverá troca-troca partidário logo depois das eleições municipais e nova mudança de regras para as eleições de 2006. A próxima novela do horário nobre se espelhará na vida política do País, o que fará, pela primeira vez na história, decrescer o nível de audiência desse tipo de programa. Os discursos ainda serão superiores ao número de medidas-provisórias, com previsão de equilíbrio em 2005. Continuará em seu esforço para ingressar no Conselho de Segurança e para liderar a América do Sul, com progressos sensíveis nas duas frentes.
Mercosul:
A união aduaneira se reforçará, mas antes haverá um curto estágio de cinco anos por um espaço de preferências tarifárias e mais três numa zona de livre comércio. Sua expansão recomendará reuniões de cúpula de dois dias, para dar tempo a todos os discursos, mas a Secretária Administrativa comprará um avião próprio para seguir todas as reuniões de todos os subgrupos técnicos do mercado comum (em preparação). O grupo de educação começará a redação de um manual de portunhol e a própria Secretária Administrativa de um Mercosur for beginners ou de um Idiot’s Guide to Mercosur.
Anti-globalizadores:
Continuarão com suas ruidosas reuniões, mas cada vez mais globalizadas e mais capitalizadas. Com isso conseguirão prolongar a vida útil do Fórum de Davos, que já vinha cansando empresários e acadêmicos. Também estimularão o turismo alternativo, as edições alternativas e os discursos alternativos, criando uma pujante economia de iniciativas anti-globalização que conseguirá, finalmente, salvar o capitalismo de sua atual fase de estagnação econômica e de baixo crescimento. Serão lançados derivativos financeiros do Fórum Social Mundial, para os que desejam aplicações alternativas, com dinheiro não contaminado pelo desejo de lucro e pelo vício da exploração do homem pelo homem. Serão os únicos fluxos financeiros a recolher a Tobin Tax, num esquema administrado pela ONU, que vai reverter em benefício de organizações alternativas do Terceiro Mundo, isto é, para eles mesmos.
Comércio internacional:
Continuará sendo uma guerra por outros meios, ou continuará tendo mais a ver com a política do que com a economia. As vantagens comparativas ricardianas terão uma nova interpretação, patrocinada pela Comissão Européia e pelo Congresso americano, que tentarão modificar simultaneamente todos os livros textos de economia. Seus autores se refugiarão numa ilha deserta, reproduzindo a simulação do Robinson Crusoé que figura nesses livros textos, como exemplo de economia fechada e sem trocas. A despeito disso, as trocas se farão cada vez mais entre multinacionais, que serão em sua maioria ocidentais intercambiando produtos chineses. Indianos também vão começar a exportar uma parte de sua mão-de-obra para a Rússia, que padece de demografia declinante. Haverá dumping de ministros social-democratas, numa primeira antecipação da aplicação da cláusula social em escala universal.
Meio Ambiente:
Cada vez mais protegido, por discursos, de dirigentes políticos, e na prática, por barcos e aviões armados de radares e mísseis das organizações não-governamentais mais agressivas. Povos indígenas, por sua vez, contarão com dirigíveis nao-poluentes para supervisionar suas explorações minerais e agrícolas (sustentáveis). Técnicas de clonagem ressuscitarão espécies desaparecidas, mas as ONGs ecológicas alertarão para os desequilíbrios para o meio ambiente do século 21, não acostumado com predadores do passado. Desaparecerá a agricultura tradicional e os supermercados serão divididos em seções de transgênicos e de orgânicos, com filas separadas nos caixas para evitar contaminação recíproca.
Direitos Humanos:
Serão inclusivos, com os aspectos psicológicos contemplados em nova convenção da ONU. Animais clonados também serão incluídos na categoria. O direito à democracia derrubará o último ditador asiático, mas uma ilha do Caribe continuará resistindo aos ditames do Império. Todos os habitantes do planeta terão direito a uma renda mínima, cujo programa será universalizado graças aos esforços de um senador brasileiro, e a ONU supervisionará sua aplicação até o ano de 2075, quando se espera que o último pobre poderá adquirir uma bicicleta chinesa movida a hidrogênio.
Astrólogos diplomáticos:
Serão uma categoria reconhecida e cada vez mais disseminada, antes mesmo da formalização da profissão de “internacionalista”. Terão seu próprio sindicato e sua colônia de férias e farão congressos anuais para trocar previsões sobre os países em que vivem. O mundo será muito mais divertido e feliz com eles, pois eles poderão abolir completamente as guerras e as epidemias de suas previsões, aproveitando para abater o preço dos manufaturados e para elevar os das commodities. Ou não?
A conferir no começo de 2005.
Paulo Roberto de Almeida (Brasília: 1176, 11 de janeiro de 2004).
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