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segunda-feira, 2 de abril de 2012

O atroz encanto de ser (decadente) argentino - Gabriel Saez-

Caso raro no mundo, a Argentina está em completo descompasso com o mundo, justamente, tanto que um grupo imenso de mais de 40 países membros da OMC pensam iniciar uma reclamação formal contra o país, por protecionismo exagerado (eu até diria exacerbado, sem nenhuma vergonha).
Esse "atroz encanto" vem do título do livro do psicanalista argentino Marcos Aguinis. Quando um país tem mais psicanalistas do que economistas ou advogados (sei que não é verdade, mas não custa brincar), só pode dar nisso: m...
Paulo Roberto de Almeida 

Aos EUA, as nossas lições sobre decadência
Gabriel Saez
Folha de S. Paulo, 2/04/2012

O assunto é a Argentina segundo os Argentinos

GABRIEL SAEZ, 38, mestre em relações internacionais pela Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (Argentina), é assessor na Câmara dos Deputados do país

Tony Soprano: "É bom fazer parte de algo desde o começo. Cheguei tarde para isso, eu sei. Mas ultimamente sinto a sensação de que cheguei no fim. A melhor parte já terminou."
Dra. Melfi: "Acho que muitos americanos têm essa sensação."
Por mais de uma década eu tinha ouvido falar sobre como a série americana "Família Soprano" ("The Sopranos", no original) era ótima. Então finalmente decidi experimentar.
Fiquei chocado quando, após quatro minutos de episódio piloto, o diálogo acima aconteceu. Soou tão familiar... Afinal, é um sujeito de origem italiana reclamando que o presente, apesar de ser mais rico e confortável, é pior que o passado. Era a encarnação do espírito argentino.
Crescer na Argentina implica continuamente praticar o revisionismo histórico e ceder à nostalgia de nossa grandeza passada.
Na realidade, é uma nostalgia da grandeza à qual sentimos ter direito, mas da qual, por alguma razão, fomos privados. A psique argentina reside na terra do "deveria, teria, poderia ter". Se o Brasil é o eterno país do futuro, a Argentina é o país do passado perenemente dourado.
Nós somos obcecados em olhar para trás, para um tempo (há um século, digamos) em que nosso PIB era comparável ao das potências europeias. Coçamos nossas cabeças tentando entender como pudemos fazer tudo errado desde então. Ah, se...
A Argentina é a decana do clube de nações totalmente obcecadas por seu declínio. Logo, é um grande prazer para nós receber os Estados Unidos em nossa irmandade mal-humorada. Isso mesmo, podem ocupar seu lugar ali ao lado da França.
Sejam bem-vindos, mas se preparem para muitos comentários sarcásticos. Pessoalmente, estou farto de ouvir que "o Japão é um exemplo do quanto é possível fazer com tão pouco; a Argentina é o contrário". Há o igualmente irritante "a Austrália é o que a Argentina poderia ter sido". Os brasileiros me dão aflição com o seu convite sutil para que a Argentina se torne "o seu Canadá".
Mas os tempos globais difíceis fazem a nossa experiência parecer relevante. Por isso, nossa presidente aproveita toda oportunidade para pregar sobre o "modelo argentino". Não é um modelo de desenvolvimento. É um modelo de resiliência.
Sabe por que? Quando olhamos a Grécia, sorrimos. Sabemos imediata e instintivamente o que é aquela confusão toda. Vemos os "indignados" espanhóis como irmãos. "Ocupe Wall Street" nos parece ser a versão de Hollywood de "Que se vayan todos", movimento que afastou o presidente De La Rúa, há uma década, e nos permitiu o privilégio raro de ter cinco presidentes em uma semana.
Tá vendo, América? Vocês ainda têm muito chão pela frente.
Não se preocupem: um declínio obsessivo não é de todo ruim. É uma dádiva para livreiros, psicanalistas e analistas políticos pessimistas. Converte taxistas em filósofos. Parece fazer maravilhas também pelo consumo de carne vermelha e vinho, sem falar nas conversas de café de final de noite, cheias de angústia existencial. Buenos Aires curte final de noite e angústia existencial como ninguém. Quem sabe o Kansas assista ao surgimento de sua própria dança melancólica que lembre o tango.
Mas, para que vocês americanos possam entrar para o clube das nações em declínio obsessivo, ainda há algo que precisam fazer. Guerras sem sentido, política fiscal insensata e decadência cultural não bastam.
Vocês também precisam se livrar da sua fé na possibilidade de reinvenção. Sim, precisam desistir daquilo que Mangabeira Unger e Cornel West descreveram como "a religião americana da possibilidade".
A ordem natural das coisas é que a democracia realize um ideal e que os próprios indivíduos se realizem? Esqueçam. Isso é um obstáculo ao gozo pleno do declínio, sempre acompanhado de fatalismo resignado.
A religião americana da possibilidade é o que nós, de outras partes do mundo, mais admiramos nos EUA ao longo da história. Nós, argentinos, estamos tão envolvidos em nosso drama histórico que é difícil perceber quão grandes fomos de fato.
Mas pessoas de todo o mundo vieram para cá, sim, em busca de felicidade e realização. A maioria dos filhos delas ainda ama esta terra. Nossos vizinhos gostam de nós mais do que se dispõem a admitir. Quem sabe algum dia ainda possamos conquistar a grandeza -ou ao menos um ponto de equilíbrio entre humor e angústia existencial, tornando os nossos "poderíamos-ter-sidos" mais folclóricos e menos dolorosos.
Não seria exatamente reinventar a noção de reinvenção, algo que ainda pode estar ao alcance dos EUA, mas pode ser o suficiente para fazer com que o Tony Soprano que existe em nós se sinta um pouco melhor. / Tradução de CLARA ALLAIN

Brasil ja vai a guerra, e escolheu os inimigos...

Sim, tem aquela velha canção do Juca Chavez, dos tempos aparentemente saudosos do JK, quando tínhamos até comprado um Porta Aviões, uma velha banheira reformada dos ingleses, que deveria servir, supostamente para aviões da Aeronáutica ou da Marinha (pois é, não se entenderam na época).
Hoje o Brasil também vai à guerra, pelo menos na linguagem belicosa daquela que é chamada de "presidenta", pelos linguistas do Planalto (ou seriam linguarudos?).
Aparentemente, os inimigos são as velhas potências coloniais, que já não se aguentam mais de déficits, e ainda encontram maneira de inundar o mundo com seus dólares e euros.
Não tenho certeza de que os indianos vejam americanos e europeus como inimigos, mas a presidenta sim...
Acho que essa batalha não vai dar em nada, se não fizermos o dever de casa.
Paulo Roberto de Almeida

Texto atualizado em 02/04/2012 - 00:33
Brasil e Índia têm ‘sólidas credenciais’ para lutar contra política monetária expansionista, diz Dilma
por Redação *
publicado originalmente no Blog do Planalto
A presidenta Dilma afirmou que Brasil e Índia têm “sólidas credenciais” para lutar contra as políticas monetárias expansionistas dos países desenvolvidos, durante o Seminário Empresarial Brasil-Índia, na última semana, em Nova Délhi.
“Nós, Brasil e Índia, temos sólidas credenciais para lutar contra os efeitos das políticas monetários expansionistas do mundo desenvolvido que não tem tomado as providências necessárias para garantir uma expansão das suas economias. Somos, sem sombra de dúvida, favoráveis à superação da crise na Europa. Achamos que houve uma melhora na medida em que foi evitada uma crise mais aguda, uma crise monetária mais aguda e acreditamos que é imprescindível que os países desenvolvidos tomem medidas efetivas para garantir a retomada da economia mundial”.
Para a presidenta, não resta dúvida que os dois países podem, juntos, enfrentar e superar de forma mais efetiva os efeitos da crise econômica internacional.
“Quando nós exploramos as nossas complementaridades, respeitando, cada um, a característica do outro, nós podemos enfrentar juntos, de forma muito mais efetiva, todos os desafios que a conjuntura nos apresenta. Por isso, eu tenho certeza que o dinamismo característico das nossas economias permitirá que superemos no melhor sentido esta fase crítica da economia internacional. Por isso é com alegria que eu vejo a nossa relação comercial se tornar cada vez mais expressiva. O Brasil permanece com principal parceiro comercial da Índia na América Latina”.
Dilma afirmou aos empresários que o comércio entre Brasil e Índia, hoje concentrado no petróleo e nos seus derivados, deve ser diversificado e defendeu a ampliação da parceria na área de medicamentos. Já no setor de combustíveis, Dilma afirmou que o Brasil está disposto a contribuir com o governo indiano na busca de alternativas energéticas sustentáveis.

Espiritos animalescos na politica comercial - Marcelo de Paiva Abreu


Espíritos animais predatórios
Marcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 2.4.2012

O tema protecionismo continua a dominar o noticiário. Está aberta a temporada de caça à desoneração fiscal, alegadamente para compensar a apreciação cambial. As grandes vinícolas brasileiras querem se proteger da concorrência dos vinhos importados por meio de salvaguardas, a despeito de seu mercado ter crescido 7% em 2011. Os produtores de cebola pressionam por medidas de defesa comercial. O setor de toalhas de mesa e banho reporta déficit setorial que deve ser debelado. Proeminente colunista-empresário siderúrgico assevera que "o governo tem condições para, sem constrangimentos, dar apoio irrestrito a setores em que a vocação industrial brasileira é indiscutível, como agronegócios em geral, energia renovável, calçados, têxteis, móveis e siderurgia (!)". A tradução, em bom português, é "quero mais". Digna de Oliver Twist, só que agora muito bem alimentado.
Nunca antes neste país se cultuou de forma mais rudimentar a ideia estapafúrdia de superávits comerciais setoriais. Danem-se as vantagens comparativas. O objetivo parece ser assegurar superávit em todos os setores.
A despeito das medidas protecionistas já adotadas, com destaque para o aumento discriminatório do IPI sobre autos importados, a presidente Dilma Rousseff afirmou, em entrevista recente, que não se trata de protecionismo, mas de barreiras momentâneas de natureza defensiva, em resposta a políticas desestabilizadoras das grandes economias. Os únicos parcos consolos foram a afirmação de que não se pretende voltar aos velhos tempos da reserva de mercado da informática e alguma hesitação quanto à política de assegurar alto conteúdo nacional dos equipamentos demandados pela Petrobrás.
A insistência, em Brasília, de que as dificuldades competitivas enfrentadas pela indústria são devidas preponderantemente a fatores externos tem levado o Brasil a ventilar em foros internacionais, de forma seletiva, a adoção de medidas corretivas. Na semana passada foi discutida em Genebra, em seminário na OMC realizado por iniciativa do governo brasileiro, a relação entre políticas cambiais e comércio. O Brasil defende a criação de mecanismos tarifários compensatórios para enfrentar distorções competitivas motivadas por políticas cambiais adotadas por parceiros comerciais. Trata-se de objetivo irrealista por várias razões. Tradicionalmente, a OMC tem tratado de questões cambiais apenas de forma marginal, sempre fazendo referência ao papel central do FMI. Embora haja relação entre comércio e finanças, a divisão de trabalho na agenda de instituições internacionais faz sentido. Depois do abandono do regime de taxas cambiais fixas, foram realizadas as rodadas Tóquio e Uruguai, baseadas na negociação de listas tarifárias consolidadas. Emperrar a pauta das negociações da OMC com a discussão de medidas automáticas de compensação de variações cambiais seria assegurar a ausência de avanços concretos por um longo período. Mesmo sem essa complexidade adicional, não se registra grande sucesso nas negociações comerciais multilaterais desde meados da década de 90.
A credibilidade das propostas cambiais brasileiras na OMC é certamente afetada pela timidez com que o assunto é tratado em outros foros, especialmente quando envolvem relações com a China. Em contraste com a brabeza metafórica dirigida a Washington e, em menor medida, a Bruxelas, a fala com os chineses tem sido em tom bem mais manso, embora seja a concorrência chinesa que afeta a indústria brasileira.
Não é apenas câmbio valorizado que erode a competitividade da indústria. É cômodo para o governo privilegiar o câmbio porque ajuda a transferir a culpa ao estrangeiro. Deformações tributárias, carência de inovação, infraestrutura calamitosa, inépcia na condução de projetos públicos, tudo isso tem que ver com vícios genuinamente nacionais. Os "espíritos animais" - pobre Keynes - de que falou a presidente estão notoriamente ausentes quando se trata de atividades que não envolvam extração de vantagens do Estado. Mesmo a questão cambial não pode ser analisada só sob o prisma da entrada de capitais especulativos. A taxa de juros brasileira reflete a persistente incapacidade de o governo equacionar o desequilíbrio estrutural das contas públicas.
O governo vem privilegiando a retórica: em Brasília, na reunião com a cúpula empresarial; em Genebra, na OMC; e em Nova Délhi, na reunião dos Brics. A reunião dos Brics é, talvez, a que melhor se justifique como reserva de posição quanto ao futuro, embora a relação assimétrica com a China seja preocupante.
Ao convescote com lideranças empresariais aplica-se implacavelmente a máxima do Barão de Itararé: de onde menos se espera, é dali mesmo que não sai nada. Mais graves são as consequências da iniciativa genebrina, pois compromete ainda mais a reputação acumulada pelo Brasil nas vitórias na solução de controvérsias sobre algodão e açúcar, bem como com o seu papel construtivo na tentativa de concluir a Rodada Doha. Será completamente ingênuo esperar que o governo reverta a situação atual e instile um pouco de bom senso e competência na formulação de sua política comercial? É triste constatar que sim.
*Doutor em Economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular no Departamento de Economia da PUC-Rio

Cuba: uma economia a beira do colapso (sem ajuda externa...)

Quem diz isso não sou eu, mas um economista cubano, vivendo em Cuba, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Havana, ex-funcionário do Banco Central -- não é mencionado porque saiu, já que se imagina que trabalhar no BC cubano deva ser algo mais próximo do objeto mais valorizado atualmente em Cuba, do que simplesmente ser professor universitário, com salário menor, provavelmente, do que um taxista -- e ele confirma o que já se sabia: sem os soviéticos, e sua generosa ajuda, a economia cubana entrou em colapso; aí, providencialmente, apareceu Chávez, o anjo enviado dos céus (com perdão dos crentes); ou seja, se Chávez desaparece, a economia cubana, que já está virtualmente em colapso, entrará definitivamente em colapso.
Bela obra esse socialismo de 50 anos, que ainda pretende continuar sob uma forma atenuada durante mais alguns anos, tentando entrar no capitalismo à la China ou Vietnã, ou seja, preservando o monopólio do Partido Comunista e toda a autocracia que vem junto.
O próprio economista confirma que se teria de fazer uma desvalorização cambial ainda maior, ou seja, deixar o povo cubano ainda mais pobre do que já é.
Será que é por isso que os companheiros estão tentando ajudar seus companheiros cubanos?
Certamente, mas eles poderiam pelo menos reconhecer o fracasso completo da experiência cubana, e renegar não só o modelo econômico como a ditadura que o sustenta.
Paulo Roberto de Almeida 



Entrevista da 2ª: Pavel Alejandro Vidal
Saída de Hugo Chávez provocaria um choque tremendo em Cuba
Economista diz que, sem a Venezuela, havana perde óleo barato e divisas com médicos, que rendem mais que turismo
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A HAVANA
Folha de S.Paulo, 2/04/2012  – pág. A18

Sem Hugo Chávez na Venezuela, Cuba mergulharia em uma crise social e política difícil de superar. Viveria um choque tremendo -mais um, duas décadas após perder sua aliada carnal URSS.
O vaticínio -quando o discípulo de Fidel Castro se trata de um câncer e enfrenta eleições em outubro- pode ser repetido por muitos analistas, mas, na boca de Pavel Alejandro Vidal, economista da Universidade de Havana, ele se traduz em números.
O impacto do fim da cooperação com a Venezuela seria duplo. Por um lado, Havana perderia facilidades financeiras para comprar petróleo, que representou metade das importações da ilha em 2010.
Mas há mais que petróleo em jogo: os mais de 30 mil profissionais de saúde trabalhando nos programas sociais de Chávez na Venezuela rendem para Havana ao menos duas vezes mais que o turismo na ilha.
Ao menos US$ 6 bilhões, estima Vidal, ante US$ 2 bilhões de divisas provenientes dos turistas em 2010. Pelos acordos assinados há dez anos, Chávez paga um salário aos médicos cubanos em seu país e outra parte diretamente ao Estado cubano.
"É muito difícil imaginar como lidar com uma crise desse tipo [ausência da cooperação com a Venezuela], dado o cansaço social que há, os baixos níveis de salários."
O economista de 36 anos, até 2006 funcionário do Banco Central de Cuba, faz parte do Centro de Estudos de Economia Cubana da Universidade de Havana, o mais importante do país e com considerável produção a respeito das reformas em curso.
Ele divulgará nas próximas semanas o resultado de sua mais recente pesquisa: um estudo sobre as reformas no Vietnã e o que da experiência pode ser aplicado em Cuba.
Leia trechos da entrevista.

Folha - O que o sr. encontrou nas reformas no Vietnã que pode ser útil para Cuba?
Pavel Alejandro Vidal - Fomos buscar no Vietnã qual foi a velocidade das reformas. Nos final dos anos 80, o país aplicou uma desvalorização da taxa de câmbio de dez vezes -Cuba, provavelmente, vai ter que desvalorizar mais do que isso. Lá houve reformas em duas velocidades. Apesar disso, embora as reformas nesse ponto monetário tenham sido um choque muito parecido ao que aconteceu no leste da Europa, os resultados foram distintos.
No Vietnã, foi um sucesso, e lá foi um desastre. Por que a diferença de resultados?
Tem a ver, especificamente no tema monetário, com a estrutura das economias.
No Leste Europeu, eram grandes empresas estatais, indústrias. Esse tipo de economia costuma reagir muito mal a um choque monetário. São empresas em que há muita burocracia, muita inércia e pouca flexibilidade.
Já no Vietnã, a economia estava baseada em empresas familiares, na agricultura, em pequenos negócios. A economia respondeu muito bem a desvalorização da moeda, acompanhada de um processo de liberalização.
Cuba tem um tipo de economia muito mais parecido com o do Leste Europeu que com o do Vietnã e, portanto, não poderia aplicar um choque monetário. Existe um modelo de fazer a desvalorização gradualmente, mas a questão é saber se Cuba, especialmente os líderes da revolução, tem esse tempo.
Essa é uma das contradições e por isso o tema da velocidade é tão importante.
O melhor seria uma reforma gradual, mas não há tempo para isso. Se Cuba tivesse começado a reforma ao mesmo tempo que o Vietnã, poderia ser aplicada a gradualidade, mas agora não.
A recomendação que faremos ao governo, à luz dessa experiência, é fazer as reformas em duas velocidades. Acelerar muito mais as mudanças em vários setores como a agricultura.
A abertura, a liberalização deveria ser muito mais rápida, com acesso à importação, acesso a capital externo, maior flexibilidade de comercialização. E passar de pequenas empresas para pequenas e médias.
Mas nas diretrizes há barreiras a empresas maiores, se prega contra a concentração de riquezas...
Vão ter de permitir pequenas e médias empresas porque em Cuba o principal ativo para enfrentar com otimismo o futuro econômico é o capital humano. Não se tira muito proveito do capital humano na microempresa. Para isso, é preciso empresas de maior tamanho, que utilizem conhecimento, tecnologia.
Esse é o nosso diferencial positivo ao Vietnã. Aqui o capital humano tem mais possibilidades. Foi nisso que o país investiu nos últimos 40 anos. E agora o que é necessário é uma política econômica que use isso eficientemente.
O que impede que as reformas sejam aceleradas? Falta consenso no governo?
Reformas precisam de consenso, de apoio popular. O interessante é que a falta de consenso não é só no governo, é também na população. Estamos há 50 anos num modelo econômico, isolados de tudo, dos meios de comunicação.
Há um consenso de que é preciso mudar, mas não sobre para onde ir. As novas gerações estão mais preparadas para as mudanças, claro.
Não sou sociólogo, mas tenho a ideia de que parte dos cubanos tem como ideal os anos 80. Querem que as mudanças nos levem para o sistema de subsídios que vigorava na época soviética. Uma economia socialista especializada, com mais recursos. Mas isso não é replicável.
E o governo, o que busca como ideal? Uma economia "socialista de mercado", como China, Vietnã?
O modelo está sendo buscado de forma pragmática, mas não há uma crítica profunda ao modelo soviético. O modelo econômico cubano ainda depende muito dele, e isso dificulta pensar em um novo. Essa é uma das debilidades: parte do sistema de direção macroeconômico está baseada na noção de uma economia planificada. E não vejo com clareza que queiram mudar isso. Está se tentando mesmo aperfeiçoar.
Isso pode ser o pior equívoco das reformas: tentar aperfeiçoar o esquema de planificação centralizado que nunca funcionou.
Vamos adivinhando o novo modelo, por meio do que vai acontecendo na política. Nem eles mesmos sabem para onde vai. O período das diretrizes é o ano de 2015, mas 2015 está aí.
O sr. diz que a idade dos dirigentes cubanos é uma pressão para que acelerem as reformas. Mas há também o fator Chávez. Ele está doente e há eleições na Venezuela em outubro. Como fica Havana sem Caracas?
A dependência não chega a ser igual a que havia com a URSS. Cuba tem comércio e investimento mais diversificados agora, mas uma mudança de situação na Venezuela que tivesse impacto nos acordos com Cuba provocaria uma crise que seria política e socialmente muito difícil de superar. Um choque tremendo.
É muito difícil imaginar como lidar com uma crise desse tipo, dado o cansaço social que há, os baixos níveis de salários.
Não há reservas para enfrentar uma crise dessa magnitude. Os acordos de médicos respondem por três vezes do que entra por conta do turismo. Estima-se que seja mais de US$ 6 bilhões.
Seria um choque duplo, então, por causa do petróleo...
Sim, teria os dois impactos. Cuba deixaria de ganhar por serviços médicos e teria de pagar mais por importações de petróleo sem facilidades financeiras existentes.
Há nervosismo no governo?
Há quem diga que quem quer que substitua Chávez não vai poder romper completamente os acordos, que a Venezuela também teria uma dependência de Cuba, o que matizaria um pouco as coisas. Mas o fato é que sem isso seria muitíssimo mais complicado. O cenário das reformas considera que Chávez continua e que não se descubra petróleo. Talvez uma coisa compense a outra.
Uma das variáveis para a velocidade das reformas é manter um ritmo que não comprometa o sistema político. O sr. concorda?
Sim, para manter a estabilidade é necessário priorizar a economia. Não obstante, as mudanças econômicas implicam mudanças políticas. Em 2015, como se diz nas diretrizes, espera-se que 30% ou 40% da população esteja empregada no setor não estatal. Isso implica uma mudança política importante. Será uma parte importante da população com uma relação com o governo de muito mais autonomia e independência, então a política terá de ser manejada de forma diferente.
Leia a íntegra da entrevista em
folha.com/no1070062

Le Bresil dans le Monde: dossier de la revue Diplomatie (article PRA)

A revista francesa Diplomatie contatou-me, logo após minha chegada à França, para colaborar num dossiê especial que estavam preparando sobre o papel do Brasil no mundo.
Minha colaboração foi esta aqui: 


2371. “Une prospective du Brésil: vers 2022”, Paris, 23 Fevereiro 2012, 10 p. Colaboração ao Dossier Brésil, revue Diplomatie. Dados principais usados para entrevista radiofônica na France Culture, programa “Les Enjeux Internationaux” (Paris, 13/03/2012, 06:45hs; link: http://www.franceculture.fr/emission-les-enjeux-internationaux-bresil-les-chances-du-pays-de-devenir-une-puissance-international). Publicado na revista Diplomatie: Affaires Stratégiques et Relations Internationales (Paris: Les Grands Dossiers de Diplomatie n. 8, avril-mai 2012, ISSN: 2115-256X; p. 90-95; link: http://www.diplomatie-presse.com/?p=4675). Relação de Publicados n. 1065.


Mas eu também sugeri outros nomes para colaborar, entre eles meu amigo Sergio Florêncio, embaixador, cônsul geral em Vancouver, atualmente.


Segue a apresentação desse número especial, feita no site da revista: http://www.diplomatie-presse.com/?p=4675
Paulo Roberto de Almeida

GDD n°8 – Géopolitique du Brésil

En 1941, réfugié au Brésil pour fuir les horreurs de la Seconde Guerre mondiale, Stefan Zweig publie Le Brésil, terre d’avenir. L’écrivain autrichien est séduit par la beauté du territoire, la chaleur, la cordialité et le pacifisme de ses habitants. Cette « terre d’avenir » fut cependant trop souvent cantonnée au statut de puissance en devenir (donc non encore établie). À travers ce rang de puissance émergente, le Brésil parvient difficilement à se faire pleinement entendre au sein d’une communauté internationale dont le jeu semble figé depuis 1945. Dès lors, comment accéder à la table des Grands ? Avec la présidence de Luiz Inácio Lula puis de Dilma Rousseff, le pays adopte une stratégie tous azimuts destinée, d’une part, à faire entendre la voix du Brésil au sein d’un système international verrouillé (par, notamment, un appareil diplomatique particulièrement efficace), et d’autre part, à créer les conditions d’une alternative à la mondialisation. Depuis le premier Forum social, Porto Alegre n’est plus seulement, en effet, le nom d’une ville brésilienne.
Il est devenu synonyme d’une posture de vigilance citoyenne et d’une remise en cause profonde des fondements mêmes d’une mondialisation plus tournée vers les profits financiers que vers le progrès humain. Et ce sursaut a gagné tous les pays. Cette posture brésilienne est le fruit d’une histoire atypique, qui ne s’est pas construite à coup de révolutions ou d’ostracisme, mais sur des valeurs d’ouverture et de tolérance. Car le Brésil est la nation, par delà toutes les autres, qui s’est le plus nourrie du positivisme d’Auguste Comte, jusqu’à l’inscrire dans sa devise nationale (« Ordre et Progrès »). Il n’est donc pas étonnant que Dilma Rousseff ait récemment choisi de se rendre à Porto Alegre et non à Davos.
En juin prochain, elle présidera la Conférence des Nations Unies sur le développement durable (dite « Rio+20 ») qui réunira notamment les délégations des anciennes comme des nouvelles puissances mondiales. L’« ancien monde » est-il préparé à cette « table des Grands » à la mode brésilienne ?
Portfolio – Ordem e progresso
Histoire
Tableau de bord – Le Brésil en quelques dates
Brésil : les enjeux de l’Histoire, entretien avec Denis Rolland, professeur à l’Université de Strasbourg et directeur d’études au Centre d’histoire de Sciences Po (Paris)
Portfolio – Quand le Sahara nourrit l’Amazone
Un État-monde
Tableau de bord – Un État-monde
Brésil : anatomie d’une puissance, par Hervé Théry, directeur de recherche au CNRS-CREDA (Centre de Recherche et de Documentation des Amériques), professeur invité à l’Universidade de São Paulo (USP), et co-fondateur de la revue en ligne Confins
Portfolio – Villes brésiliennes
Tableau de bord – 190 millions d’habitants et trois Brésils
Repères – L’immensité du Brésil ; Mers et fleuves à apprivoiser ; L’espace, un atout maître
Economie & Société
Tableau de bord – L’économie brésilienne ; Grandes entreprises et grandes fortunes
Le Brésil et la crise économique internationale actuelle, par Sergio Abreu e Lima Florencio, consul du Brésil à Vancouver
Focus – Le fer, un trésor du Brésil
Tableau de bord – L’économie brésilienne, forces et faiblesses
La participation au cœur de la politique urbaine au Brésil, par Elson Manoel Pereira, professeur à l’université de Santa Catarina, directeur du laboratoire « Villes et société » et membre du conseil scientifique du Centre d’études et de recherches sur le Brésil de l’UQAM
Focus – L’Amazonie : enjeux du vivant et biopiraterie
Géopolitique
Tableau de bord – Géopolitique du Brésil
La Grande Amazonie sud-américaine : un défi pour le Brésil, par Wanderley Messias da Costa, professeur à l’Université de São Paulo, et auteur de Geografia política e geopolítica: discursos sobre o território e o poder et de Dimensões humanas da atmosfera-biosfera na Amazônia
Focus – Le Brésil au Conseil de Sécurité des Nations Unies
Portfolio – Brésil-Afrique : célébration des grands événements et réalisme politique
Le Brésil en émergence : la conciliation de la croissance économique et de la justice socio-environnementale est-elle possible ?, par Anne Latendresse, professeur à l’Université du Québec à Montréal et directrice du Centre d’études et de recherches sur le Brésil (CERB)
Les méga-événements sportifs au Brésil : des jeux pour qui ?, par Mathieu Labrie, candidat à la maîtrise en études urbaines et Pierre-Mathieu Le Bel stagiaire postdoctoral à l’Université du Québec à Montréal – membres du CERB
Focus – Rio+20
Focus – Le Forum social mondial
Stratégies
Tableau de bord – Défense et défis stratégiques du Brésil
Stratégies brésiliennes et moyens militaires, entretien avec Bruno Muxagato, doctorant en relations internationales et enseignant à l’université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines
Repères – Le front nord ; Le front ouest ; Le front sud ; Le front maritime
Tableau de bord – Qui surveille l’Amazonie ?
Prospective
Tableau de bord – Démographie et énergie : des enjeux d’avenir
Une prospective du Brésil vers 2022, par Paulo Roberto de Almeida, diplomate, professeur d’économie politique au Centre universitaire de Brasilia (Uniceub)
Les Grands Dossiers de Diplomatie n° 8, AREION Group/CAPRI, Paris, avril-mai 2012. 100 pages, 23 x 30 cm, broché (10,95 €)