O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Maastricht: rezando pelos livros, me convertendo nos livros...

Finalmente realizei meu ideal de vida: me converter a uma santa religião!
A dos livros...
Bem, eu já era meio fanático, um pouco místico, e totalmente beato por livros, mas agora encontrei um motivo legítimo para fundar uma nova ordem dos adoradores dos livros, uma confraria exclusiva de gente que vive nos livros, para os livros, pelos livros e que reza, única e exclusivamente, com livros, de qualquer formato, tamanho e teor (enfim, descarto os espiritualistas, para ser sincero, e aqueles que prometem felicidade eterna por apenas alguns tostões gastos nesse tipo de leitura).
Digo isto porque, finalmente, adentrei no átrio sagrado dos livros, em seu ambiente próprio, uma igreja dominicana (não que eu tenha preconceito contra as outras ordens, mas a que estava disponível para ser transformada em livraria era essa da turma do São Tomás de Aquino, um gajo que ainda preciso ler com certo cuidado).
Eu já tinha antecipado esta visita neste post, poucas semanas atrás: 



DOMINGO, 25 DE MARÇO DE 2012


Agora, penetrei pessoalmente nesse cenáculo do lazer culto, e deixo aqui algumas fotos (por certo horríveis) feitas com meu iPhone mal cuidado. Reparem como a mesa do bar, no lugar que era reservado ao altar, tem a forma de uma cruz (aqui vista do alto), do segundo andar da livraria, onde fui achar a minha compra do dia, o último (perdão, o mais recente) livro do Vito Tanzi, o grande especialista em políticas fiscais: 
Government versus Markets: The Changing Economic Role of the State
( New York: Cambridge University Press, 2011; Euros: 34,97)





Como praticar habitos pouco saudaveis e antieconomicos, e sobreviver, ainda assim

Não deixa de ter sua graça.
Atenção, esta é uma pausa dos assuntos sérios deste blog, o que não quer dizer que esta postagem seja pouco séria...
Paulo Roberto de Almeida 



Viver ou Juntar Dinheiro? Max Gehringer 
Recebi uma mensagem muito interessante de um ouvinte da CBN e peço licença para lê-la na íntegra, porque ela nem precisa dos meus comentários. Lá vai: 
"Prezado Max, meu nome é Sérgio, tenho 61 anos e pertenço a uma geração azarada: 
Quando era jovem as pessoas diziam para escutar os mais velhos, que eram mais sábios.
Agora dizem que tenho que escutar os jovens, porque são mais inteligentes.
Na semana passada li numa revista um artigo no qual jovens executivos davam receitas simples e práticas para qualquer um ficar rico. E eu aprendi muita coisa... 
Aprendi, por exemplo, que se eu tivesse simplesmente deixado de tomar um cafezinho por dia, durante os últimos 40 anos, eu teria economizado R$ 30.000,00. 
Se eu tivesse deixado de comer uma pizza por mês, teria economizado R$ 12.000,00 e assim por diante.
Impressionado, peguei um papel e comecei a fazer contas, então descobri, para minha surpresa, que hoje eu poderia estar milionário.
Bastava não ter tomado as caipirinhas que tomei, não ter feito muitas das viagens que fiz, não ter comprado algumas das roupas caras que comprei e, principalmente, não ter desperdiçado meu dinheiro em itens supérfluos e descartáveis.
Ao concluir os cálculos, percebi que hoje eu poderia ter quase R$ 500.000,00 na conta bancária. É claro que eu não tenho este dinheiro.
Mas, se tivesse, sabe o que este dinheiro me permitiria fazer? 
Viajar, comprar roupas caras, me esbaldar com itens supérfluos e descartáveis, comer todas as pizzas que eu quisesse e tomar cafezinhos à vontade. 
Por isso acho que me sinto absolutamente feliz em ser pobre.
Gastei meu dinheiro com prazer e por prazer, porque hoje, aos 61 anos, não tenho mais o mesmo pique de jovem, nem a mesma saúde. 
Portanto, viajar, comer pizzas e cafés, não faz bem na minha idade e roupas, hoje, não vão melhorar muito o meu visual!
Recomendo aos jovens e brilhantes executivos que façam a mesma coisa que eu fiz. 
Caso contrário, chegarão aos 61 anos com um monte de dinheiro em suas contas bancárias, mas sem ter vivido a vida".
"Não eduque o seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz. Assim, ele saberá o valor das coisas, não o seu preço."

Apartheid racial e racismo oficial: um comentario equivocado...

Este blog, como diz o seu "recado de entrada" está dedicado a ideias, se possível inteligentes, de pessoas inteligentes, e nisso não vai nenhum desprezo em relação a quem professa ideias ingênuas, de senso comum, como se costuma dizer.
Ele é democrático e está aberto a todo debate, de boa fé, sobre questões relevantes de políticas públicas, de preferência sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil, mas também aceita questões e opiniões, desde que bem informadas, sobre temas de política interna, desde que contribuam para o esclarecimento público e o que eu chamo de "elevação intelectual" dos cidadãos interessados e curiosos.
De vez em quando chegam-me ofensas, impropérios, achismos de militantes de certas causas, que manifestam ódio e rancor pelas ideias aqui expressas, e pela campanha que eu pessoalmente levo contra o abaixamento intelectual e a degradação moral do Brasil, infelizmente em curso na presente conjuntura, quando seres intelectualmente rústicos foram chamados a comandar a certas instâncias de decisão no Brasil.
Não tenho nenhum problema em dizer isso, e não se trata de arrogância intelectual, ou despeito político -- que os mesmos militantes de causas obscuras identificam a elitismo, ou defesa de causas conservadoras, o que é totalmente equivocado -- mas se trata, basicamente, de minha vocação professoral, digamos assim, profundamente devotada ao esclarecimento dos mais jovens, com base em uma rica experiência de vida, imensas leituras, comparações internacionais (o que me foi permitido pela vivência em diversos países) e um constante e consciente esforço de reflexão.
Pois bem, existem poucas coisas que me deixam ressabiado, pois de natural sou tolerante com opiniões políticas e econômicas contrárias às minhas: já alertei, mais de uma vez, que venho do marxismo e do socialismo, com a vantagem de jamais ter sido "religioso" -- ou seja, crente na verdade da palavra revelada do profeta Marx, ou Lênin -- e de ter visitado, conhecido por dentro, e por fora, todos os socialismos possíveis, e daí ter retirado conclusões quase definitivas sobre certos desastres sociais.
Uma das coisas que me deixam extremamente ressabiado é o racismo, de todos os tipos e de todas as cores.
Percebo no Brasil uma tendência ao racismo ao contrário, o dos militantes negros que, imitando mal os EUA, tentam criar uma cultura separada do chamado mainstream brasileiro, uma que seria afrodescendente, ou negra, uma verdadeira mistificação da história brasileira, que pode ter consequências desastrosas para nossa sociedade, certamente desigual, mas não racista como a dos EUA. Existem indivíduos e atitudes perfeitamente racistas no Brasil, mas nunca existiu o tipo de segregacionismo racial que existiu nos EUA, como agora querem implantar no Brasil, por iniciativa dos negros, não dos brancos.
Tudo isso acima para postar um comentário recebido no meu post sobre a decisão dos juízes do Supremo (melhor dizer supremo, supreminho, coitado), que interpreto, antecipadamente (e talvez erradamente) como sendo favorável às cotas. Desculpo-me, desde já, se errar, mas pelo que tenho visto desses juízes medíocres do supremo, o resultado que se pode esperar dessa corte medíocre é o pior possível.
Em todo caso, um leitor desse post, identificado como André, colocou o argumento que vai agora transcrito, e que comento em seguida: 


Acho que a grande virtude de ler esta opinião é constatar que vivemos em um regime de pluralidade. Não posso, porém, deixar de comentar: curiosamente nunca vi nenhum dos signatários sentir-se incomodado com a reserva de vagas que existia antes para os alunos egressos de escolas particulares. Ou, dito de outra maneira, com o fato de que as universidades não representavam a pluralidade racial (ou, para tomar emprestada a crença que o senhor endossa, não representavam a ausência de racismo no Brasil). Em tempo: sou branco, de olhos azuis, com conquistas por mérito, e apesar disso nunca fechei os olhos para a exclusão racial e/ou econômica que existe no Brasil. Lamento que utilize-se argumentos de negação deste fato para eliminar um debate sério sobre o racismo, problema que existe não por causa de cotas mas por fatos históricos de nosso país. em Ministros decidem pelo Apartheid e pela desigualdade racial


Comento (PRA):
Jamais ocorreu, no Brasil, por vias legais ou por expedientes informais, qualquer reserva de vagas para alunos egressos de escolas particulares. JAMAIS. Isso precisa ficar bem claro, e ser evidenciado repetidamente.
Não pelo meu caso, mas eu sou típico de certa geração, a dos alunos vindos de meios modestos -- no meu caso muuuiiito modestos -- que estudaram a vida inteira em escolas públicas, que se aperfeiçoou em bibliotecas públicas -- sem jamais ter livros em casa, um lar de pais que jamais terminaram o curso primário -- e que ingressou na mais prestigiosa universidade pública de São Paulo. Sou um entre milhares, apenas.
Evidentemente, desde esse tempo -- estou me referindo aos anos 1960 -- a escola pública caminhou rapidamente para a deterioração e a mediocridade, mas isso não implica em qualquer complô de uma classe ou de uma categoria de cidadãos contra outros, apenas o resultado infeliz da ineficiência dos poderes públicos de enfrentarem satisfatoriamente as pressões advindas da urbanização acelerada, da incorporação de estratos cada vez mais amplos de cidadãos aos sistemas de ensino, e o descuido geral demonstrado pelas autoridades em relação aos dois primeiros níveis de ensino, em benefício do terceiro ciclo e da pós-graduação.
Eu não endosso NENHUMA CRENÇA de pluralidade racial, em universidades ou em qualquer outro meio público, que devem ser absolutamente neutros em relação a cor, religião, gênero, ou qualquer outro traço. Existem desigualdades no Brasil, advindas de sua formação social, suas deficiências educacionais, profissionais, de oportunidades, mas isso não quer dizer que instituições públicas devam corrigir essas desigualdades SOCIAIS, com base em critérios RACIAIS, pois isso representaria, justamente, introduzir no Brasil uma separação racial que jamais existiu no plano das políticas públicas. 
Não existe no Brasil exclusão racial ou econômica, existe uma seleção por mérito, e infelizmente o mérito premia aqueles provenientes de meios favorecidos, o que simplesmente significa que o Estado, ou a sociedade, não se empenhou em criar oportunidades iguais para seres desiguais
Eu, sendo extremamente desfavorecido em relação a meus colegas ricos (do primário, do ginásio, do colegial e da faculdade), consegui ter acesso ao mesmo ensino que eles, exclusivamente por mérito, e pelo fato de que as escolas públicas, do meu tempo, eram muito melhores do que escolas privadas, então desprezadas pela classe média, pois escola privada era para os incapazes que não conseguiam acompanhar os estudos da escola pública (e considerada, portanto, um remédio para os preguiçosos e incapazes). Confessar que tinha feito o primário em escola privada (salvo algumas, tradicionais, ou católicas, evidentemente) era um sinal muito depreciativo para o aluno dos anos 1950 ou início dos anos 1960.
Hoje, dizer que é egresso de escola pública é quase sinônimo de medíocre, embora as diferenças não sejam tão grandes (por incrível que pareça). 
O racismo não está sendo introduzido por causa das desigualdades históricas, estruturais, existentes há séculos no Brasil, e que estava sendo gradualmente eliminado pela escola pública de qualidade. Como isso se inverteu, infelizmente, no último meio século, cresceu a demanda por soluções rápidas, não ao final do racismo, mas ao acesso a universidades que permanecem restritas a poucos, por insuficiência de vagas.
O Estado criou duas soluções erradas, absurdas, para um problema real: cotas racistas -- o que evidentemente cria racismo -- e subsídio a "indústrias" particulares de ensino para abrigar egressos de meios desfavorecidos, o que atinge também os afrodescendentes desfavorecidos.
O que os militantes da causa negra estão criando é o racismo oficial, institucionalizado, o Apartheid legal, ao diferenciar entre "raças", o que nunca existiu antes no Brasil.
Considero o comentário do André, se me permite a expressão, totalmente equivocado e singularmente ingênuo quanto aos resultados das políticas racistas que estão implantando agora.
Lamento, sinceramente, que o Brasil, certamente caracterizado por graus extremos de desigualdades sociais, esteja agora abrindo a porta para o racismo oficial.
Paulo Roberto de Almeida 
(Maastricht, 25 de abril de 2012)

O Federal Reserve pune poupadores e premia devedores...

Inacreditável! O Federal Open Market Committee, do Federal Reserve, vai continuar punindo os poupadores e beneficiando devedores, ao manter a mesma taxa irrealista de juros até o FINAL DE 2014!
Estão supostamente beneficiando a atividade produtiva, mas na verdade acumulando distorções até perder de vista.
Paulo Roberto de Almeida 



FEDERAL RESERVE BANK, BOARD OF GOVERNORS OF THE FEDERAL RESERVE SYSTEM
APRIL 25, 2012. 
FEDERAL RESERVE ISSUES FOMC STATEMENT

Information received since the Federal Open Market Committee met in March suggests that the economy has been expanding moderately. Labor market conditions have improved in recent months; the unemployment rate has declined but remains elevated. Household spending and business fixed investment have continued to advance. Despite some signs of improvement, the housing sector remains depressed. Inflation has picked up somewhat, mainly reflecting higher prices of crude oil and gasoline. However, longer-term inflation expectations have remained stable. Consistent with its statutory mandate, the Committee seeks to foster maximum employment and price stability. The Committee expects economic growth to remain moderate over coming quarters and then to pick up gradually. Consequently, the Committee anticipates that the unemployment rate will decline gradually toward levels that it judges to be consistent with its dual mandate. Strains in global financial markets continue to pose significant downside risks to the economic outlook. The increase in oil and gasoline prices earlier this year is expected to affect inflation only temporarily, and the Committee anticipates that subsequently inflation will run at or below the rate that it judges most consistent with its dual mandate. To support a stronger economic recovery and to help ensure that inflation, over time, is at the rate most consistent with its dual mandate, the Committee expects to maintain a highly accommodative stance for monetary policy. In particular, the Committee decided today to keep the target range for the federal funds rate at 0 to 1/4 percent and currently anticipates that economic conditions--including low rates of resource utilization and a subdued outlook for inflation over the medium run--are likely to warrant exceptionally low levels for the federal funds rate at least through late 2014. The Committee also decided to continue its program to extend the average maturity of its holdings of securities as announced in September. The Committee is maintaining its existing policies of reinvesting principal payments from its holdings of agency debt and agency mortgage-backed securities in agency mortgage-backed securities and of rolling over maturing Treasury securities at auction. The Committee will regularly review the size and composition of its securities holdings and is prepared to adjust those holdings as appropriate to promote a stronger economic recovery in a context of price stability. Voting for the FOMC monetary policy action were: Ben S. Bernanke, Chairman; William C. Dudley, Vice Chairman; Elizabeth A. Duke; Dennis P. Lockhart; Sandra Pianalto; Sarah Bloom Raskin; Daniel K. Tarullo; John C. Williams; and Janet L. Yellen. Voting against the action was Jeffrey M. Lacker, who does not anticipate that economic conditions are likely to warrant exceptionally low levels of the federal funds rate through late 2014.

o  APRIL 25, 2012. FEDERAL RESERVE BOARD AND FEDERAL OPEN MARKET COMMITTEE RELEASE ECONOMIC PROJECTIONS FROM THE APRIL 24-25 FOMC MEETING. The Federal Reserve Board and the Federal Open Market Committee on Wednesday released the attached table and charts summarizing the economic projections and the target federal funds rate projections made by Federal Reserve Board members and Federal Reserve Bank presidents for the April 24-25 meeting of the Committee. The table will be incorporated into a summary of economic projections released with the minutes of the April 24-25 meeting. Summaries of economic projections are released on an approximately quarterly schedule. ECONOMIC PROJECTIONS OF FEDERAL RESERVE BOARD MEMBERS AND FEDERAL RESERVE BANK PRESIDENTS, APRIL 2012. ADVANCE RELEASE OF TABLE 1 OF THE SUMMARY OF ECONOMIC PROJECTIONS TO BE RELEASED WITH THE FOMC MINUTES: http://www.federalreserve.gov/monetarypolicy/files/fomcprojtabl20120425.pdf

Ministros decidem pelo Apartheid e pela desigualdade racial

Trata-se de um "chute", claro, de minha exclusiva responsabilidade.
Segundo detecto pelos ares do tempo, os ministros vão decidir pela legalidade do racismo institucional, aceitando cotas para negros nas universidades como sendo perfeitamente legais e legítimas.
Mas atenção: são cotas para negros, não para mulatos claros, quase brancos, mesmo que sejam afrodescendentes.
A UnB já tem um tribunal racial que decide quem é negro e quem é branco.
E os negros, e os mulatos escuros, militantes da causa, estão contentes.
Quanto aos mulatos muito claros, quase brancos, ainda que afrodescendentes, bem, eles vão precisar de um esforço extra para ingressar na universidade.
Este é o Brasil dos companheiros...
Paulo Roberto de Almeida 



Reinaldo Azevedo, 25/04/2012

O Supremo Tribunal Federal deve retomar hoje o julgamento sobre as cotas raciais nas universidades públicas. Eis mais um tema que desperta paixões e que se abre a todo tipo de feitiçaria interpretativa da Constituição. Não há juízo neste mundo, NÃO À LUZ DA CONSTITUIÇÃO AO MENOS, que consiga dar sentido alternativo ao que vai no caput do Artigo 5º da Constituição, uma cláusula pétrea:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (…)”
Causa finita est. Ou deveria ser ao menos. “Todos” quer dizer “todos” — brancos, mestiços, pretos, amarelos, vermelhos…  Se as circunstâncias, em razão de uma gama enorme de fatores, torna desiguais os homens, desiguais eles são na vida social. E a política existe justamente para que se organizem e busquem viver na prática essa igualdade. Não será DESIGUALANDO-OS DIANTE DA LEI E JOGANDO FORA A CONSTITUIÇÃO que se vai produzir igualdade. O resto é o que chamo feitiçaria interpretativa. Em 2008, o ministro Ayres Britto, agora presidente do tribunal, fez uma afirmação de apelo supostamente poético, que seria endossada por qualquer representante de modelos totalitários do século 20, a saber:
“A verdadeira igualdade consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais”.
Não! Essa é só a verdadeira desigualdade. O jogo de palavras esconde um conceito terrível: alguns homens estão — os considerados, em princípio, “desiguais” — acima ou fora das leis. Repete, assim, na prática, o primado daquela tal Associação Juízes para a Democracia. O que precisa ser melhorado no Brasil é a escola pública. Ainda que fosse verdade — existem a respeito mais mistificações do que dados — que o regime de cotas amplia o número de negros nas universidades, isso não poderia se dar suprimindo direitos de terceiros, tenham que cor tiverem. Há três ações no Supremo. Uma delas destroça o aspecto supostamente virtuoso da frase da Britto. Explico.
O estudante Giovane Pasqualito Fialho, branco, foi reprovado num vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, embora tenha tido nota superior à de alunos que ingressaram pelo regime de cotas. A frase do ministro Britto, que pretende chamar de “desiguais” os negros, sugerindo que a “desigualdade” de tratamento é necessária para torná-los, então, iguais, ignora que uma outra desigualdade perante a lei se produziu: gente como Fialho teve seu direito suprimido. Entender que um negro ou mestiço tem direito especial a uma vaga, mesmo com nota inferior ao candidato em questão, faz de Fialho, que é branco, o responsável por uma desigualdade que não foi produzida nem por ele nem pelo vestibular da UFRGS, certo? Por que Fialho deveria pagar pessoalmente por isso? Porque é branco? Isso é democracia racial, ministro Britto?
Só há uma resposta para isso, a saber: o bem geral que a lei de cotas produziria, infelizmente, faria mesmo algumas injustiças pontuais no meio do caminho. É outro mimo do pensamento totalitário: alguns terão de pagar pela grandeza e pelo triunfo de algumas ideias,  ainda que com seus direitos individuais. Não há como respeitar a Constituição e aceitar as cotas raciais ao mesmo tempo.
Lembram-se do casamento gay
Embora a Constituição seja explícita AO ESPECIFICAR que união civil é aquela celebrada entre homem e mulher — e, salvo engano, homem é homem, e mulher e mulher, pouco importando a destinação que deem àquilo que Britto chamou o “seu regalo” —, o que fez o Supremo (e por unanimidade)? Apelou ao Artigo 5º da Constituição e determinou que o fundamento da igualdade obrigava a reconhecer a união civil também entre homossexuais. E o próprio Britto foi entusiasta dessa tese.
Muito bem! Mesmo contra a letra explícita de um artigo, apela-se ao fundamento geral da igualdade para aceitar a união civil homossexual. Na hora de decidir sobre as cotas, o que é igualdade no artigo 5º deve ser entendido como “tratar desigualdade os desiguais”? Vale para um caso (mesmo contra a literalidade de um artigo), mas não vale para outro? Muito bem: no argumento de Britto, recorre-se ao tratamento desigual diante da lei para tornar, então, nas suas palavras, os negros iguais aos brancos. Ocorre que esse raciocínio tem uma sobra lógica: os brancos preteridos, embora com nota maior, são, então, iguais a quem ou quê? Ainda que todo branco fosse herdeiro dos escravocratas — inclusive os descendentes de imigrantes que vieram de lascar nas lavouras de café ou na nascente indústria brasileira, enfrentando uma vida maldita de privações —, deveriam pagar as, vá lá, faltas de seus ancestrais? Que diabo de conceito jurídico é esse?
Manifesto antirracialista
Em abril de 2008, 113 pessoas enviaram um manifesto aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Sou um dos signatários. O título é este: “Cento e treze cidadãos antirracistas contra as leis raciais”. Abaixo, transcrevo alguns trechos. A íntegra está aqui. Que fique claro: não tenho a menor esperança de que se vá fazer a coisa certa. Essa é uma das questões que integram o rol das ações politicamente corretas. Ter a ousadia de debatê-la já arma espíritos. É a “democracia” segundo o entendimento de alguns… Bem, não será assim aqui, como vocês sabem muito bem. Seguem trechos do manifesto.
(…)
Nós, intelectuais da sociedade civil, sindicalistas, empresários e ativistas dos movimentos negros e outros movimentos sociais, dirigimo-nos respeitosamente aos Juízes da corte mais alta, que recebeu do povo constituinte a prerrogativa de guardiã da Constituição, para oferecer argumentos contrários à admissão de cotas raciais na ordem política e jurídica da República.
Na seara do que Vossas Excelências dominam, apontamos a Constituição Federal, no seu Artigo 19, que estabelece: “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si”. O Artigo 208 dispõe que: “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”.
(…)
Apresentadas como maneira de reduzir as desigualdades sociais, as cotas raciais não contribuem para isso, ocultam uma realidade trágica e desviam as atenções dos desafios imensos e das urgências, sociais e educacionais, com os quais se defronta a nação. E, contudo, mesmo no universo menor dos jovens que têm a oportunidade de almejar o ensino superior de qualidade, as cotas raciais não promovem a igualdade, mas apenas acentuam desigualdades prévias ou produzem novas desigualdades:
- As cotas raciais exclusivas, como aplicadas, entre outras, na Universidade de Brasília (UnB), proporcionam a um candidato definido como “negro” a oportunidade de ingresso por menor número de pontos que um candidato definido como “branco”, mesmo se o primeiro provém de família de alta renda e cursou colégios particulares de excelência e o segundo provém de família de baixa renda e cursou escolas públicas arruinadas. No fim, o sistema concede um privilégio para candidatos de classe média arbitrariamente classificados como “negros”.
- As cotas raciais embutidas no interior de cotas para candidatos de escolas públicas, como aplicadas, entre outras, pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), separam os alunos proveniente de famílias com faixas de renda semelhantes em dois grupos “raciais” polares, gerando uma desigualdade “natural” num meio caracterizado pela igualdade social. O seu resultado previsível é oferecer privilégios para candidatos definidos arbitrariamente como “negros” que cursaram escolas públicas de melhor qualidade, em detrimento de seus colegas definidos como “brancos” e de todos os alunos de escolas públicas de pior qualidade.
(…)
Raças humanas não existem. A genética comprovou que as diferenças icônicas das chamadas “raças” humanas são características físicas superficiais, que dependem de parcela ínfima dos 25 mil genes estimados do genoma humano. A cor da pele, uma adaptação evolutiva aos níveis de radiação ultravioleta vigentes em diferentes áreas do mundo, é expressa em menos de 10 genes! Nas palavras do geneticista Sérgio Pena: “O fato assim cientificamente comprovado da inexistência das ‘raças’ deve ser absorvido pela sociedade e incorporado às suas convicções e atitudes morais Uma postura coerente e desejável seria a construção de uma sociedade desracializada, na qual a singularidade do indivíduo seja valorizada e celebrada. Temos de assimilar a noção de que a única divisão biologicamente coerente da espécie humana é em bilhões de indivíduos, e não em um punhado de ‘raças’.” (”Receita para uma humanidade desracializada”, Ciência Hoje Online, setembro de 2006).
Não foi a existência de raças que gerou o racismo, mas o racismo que fabricou a crença em raças. O “racismo científico” do século XIX acompanhou a expansão imperial europeia na África e na Ásia, erguendo um pilar “científico” de sustentação da ideologia da “missão civilizatória” dos europeus, que foi expressa celebremente como o “fardo do homem branco”.
(…)
A meta nacional deveria ser proporcionar a todos um ensino básico de qualidade e oportunidades verdadeiras de acesso à universidade. Mas há iniciativas a serem adotadas, imediatamente, em favor de jovens de baixa renda de todas as cores que chegam aos umbrais do ensino superior, como a oferta de cursos preparatórios gratuitos e a eliminação das taxas de inscrição nos exames vestibulares das universidades públicas. Na Universidade Estadual Paulista (Unesp), o Programa de Cursinhos Pré-Vestibulares Gratuitos, destinado a alunos egressos de escolas públicas, atendeu em 2007 a 3.714 jovens, dos quais 1.050 foram aprovados em concursos vestibulares, sendo 707 em universidades públicas. Medidas como essa, que não distinguem os indivíduos segundo critérios raciais abomináveis, têm endereço social certo e contribuem efetivamente para a amenização das desigualdades.
(…)
A propaganda cerrada em favor das cotas raciais assegura-nos que os estudantes universitários cotistas exibem desempenho similar ao dos demais. Os dados concernentes ao tema são esparsos, contraditórios e pouco confiáveis. Mas isso é essencialmente irrelevante, pois a crítica informada dos sistemas de cotas nunca afirmou que estudantes cotistas seriam incapazes de acompanhar os cursos superiores ou que sua presença provocaria queda na qualidade das universidades. As cotas raciais não são um distúrbio no ensino superior, mas a face mais visível de uma racialização oficial das relações sociais que ameaça a coesão nacional.
A crença na raça é o artigo de fé do racismo. A fabricação de “raças oficiais” e a distribuição seletiva de privilégios segundo rótulos de raça inocula na circulação sanguínea da sociedade o veneno do racismo, com seu cortejo de rancores e ódios. No Brasil, representaria uma revisão radical de nossa identidade nacional e a renúncia à utopia possível da universalização da cidadania efetiva.
*

Eis alguns dos 113 signatários da carta:
Aguinaldo Silva, Alba Zaluar, Antonio Cícero, Bolivar Lamounier, Caetano Veloso, Demétrio Magnoli, Edmar Lisboa Bacha, Eduardo Giannetti, Eduardo Pizarro Carnelós, Eunice Durham, Ferreira Gullar, Gerald Thomas, Gilberto Velho, João Ubaldo Ribeiro, José Augusto Guilhon Albuquerque, José de Souza Martins, Lourdes Sola, Luciana Villas-Boas, Lya Luft, Maria Sylvia Carvalho Franco, Nelson Motta, Reinaldo Azevedo, Roberto Romano da Silva, Ruth Correa Leite Cardoso, Wanderley Guilherme dos Santos e Yvonne Maggie.

A piada da semana: o "modelo" latino-americanos dos Emirados Saderes

Aquele que já foi apelidado de Emirados Saderes -- por um jornalista conhecido, que a despeito de sua dureza com esse tipo de gente também sabe fazer piadas e jeux-de-mots -- nos traz a piada da semana, talvez até do ano, quem sabe da década?:






E o mais curioso é que esse modelo é aquele bolivariano, em toda a sua pujança produtiva e bem-estar geral, inflação baixa, câmbio alinhado, capitais florescentes, todo mundo querendo investir, enfim, uma maravilha de modelo.
Não é uma gracinha?
Paulo Roberto de Almeida 

O racismo em construcao no Brasil: decisao com o Supremo


O Brasil involui rapidamente, ou seja, não deixa de andar para trás a cada nova questão que se apresenta. 
Competição estrangeira? Tome protecionismo
Indústria debilitada por excesso de impostos? Um pouco de subsídios setorialmente seletivos.
Moeda valorizada? Compra de dólares em excesso pelo Banco Central e controle de capitais.
Educação de má qualidade? Subsídios a faculdades privadas para vagas aos carentes.
Maioria de brancos nos diversos setores da sociedade? Cotas compulsórias para negros, independente do mérito.
Assim, são as coisas neste Brasil progressista.
O Supremo (ou deveria dizer supremo?) vai julgar a validade das cotas raciais.
Observando um pouco o que disseram e, sobretudo o que fizeram, os magistrados supremos, creio que pelo espírito da época, vão aprovar as cotas, não constitucionalmente, mas vão dizer que elas são permissíveis dadas as circunstâncias.
Parabéns: estarão contribuindo para o crescimento do Apartheid, para a expansão do racismo, enfim, tudo o que desejam as minorias de militantes engajados nas suas causas.
Paulo Roberto de Almeida 



por Yvonne Maggie (23/04/2012)
Blog Contra a Racialização do Brasil, 24 Apr 2012 03:33 AM PDT


Obama no histórico ônibus em que Rosa Parks foi presa em 1955 por ter se recusado a dar o seu lugar para um homem branco. Foto Pete Souza/Casa Branca

Abrir o jornal e ver a foto de Barack Obama sentado em um ônibus antigo do sul dos EUA, olhando de lado pela janela, já produz emoção. Logo abaixo as imagens do mesmo veículo, há cinquenta anos atrás, e  de Rosa Parks, a americana que foi retirada do ônibus pela polícia e presa por se recusar a ceder o lugar a um homem branco, no Alabama, trazem recordações sobre  o estopim dos movimentos civis americanos que culminaram com a assinatura da Lei de Direitos Civis de 1964 e, um ano depois, a Lei de Direito ao Voto para os negros.
Andei em um ônibus parecido com este em 1961 no Tennessee, sul dos EUA e, desavisada, sentei-me no último banco. Não percebi que os passageiros se dividiam em brancos e negros – brancos na frente e negros atrás –, pois para mim, brasileiríssima, aos dezesseis anos, todos eram simplesmente pessoas. Senti muitos olhares estranhos na viagem de Nashville a Knoxville, uma cidade nas montanhas, sem atinar com o motivo. Quando paramos no meio da viagem, em uma lanchonete de beira de estrada, vi duas portas; em uma delas estava escrito colored only. Não percebi o significado daquele aviso e entrei pela porta reservada apenas às pessoas ditas negras. Lá dentro, no balcão, os  sucos e sanduíches servidos eram iguais para todos os passageiros, mas as pessoas mais escuras estavam de um lado e as mais claras do outro. Fiquei entre os mais escuros apesar dos meus cabelos longos e louros e minha pele clara. Só quando cheguei ao destino e me encontrei com minha irmã e meu cunhado americano, que lá viviam e me explicaram as regras, pude entender porque havia aquela porta e porque o ônibus era assim dividido. Os americanos do Sul viviam sob a lei Jim Crow. Os cidadãos não eram iguais diante da lei e negros não votavam. Moravam em bairros separados e eram tratados de modo diverso.
Dez anos mais tarde voltei aos EUA,  depois da Lei dos Direitos, promulgada em 1964. Nos ônibus não havia mais separação legal entre negros e brancos graças a Rosa Parks, mas os EUA continuavam cindidos racialmente. No Texas, em 1971, tive a exata noção do que significa viver em um país construído pela segregação legal.
Em Thirteen ways of looking at a black man, de Henry Louis Gates Junior, professor de Harvard, há uma história reveladora do que se passou depois da lei dos direitos. Neste livro, Harry Belafonte conta que alguns anos depois de 1964 fora convidado para fazer um filme. O produtor, muito animado, lhe dissera: “Harry, será maravilhoso, vamos fazer um filme dirigido e estrelado por negros, produzido por negros, com música feita por negros e vai ser belíssimo”. Ao que o ator, nervoso, respondeu: “Não quero fazer parte disso, passei tantos anos lutando para sair do gueto, não serei eu a me enfiar de novo nele”. Gates conta que durante a entrevista, após esta declaração de Harry, seguiu-se um silêncio constrangedor,  só quebrado com uma sonora gargalhada  do entrevistado e a seguinte frase: “Eu não aceitei a armadilha, mas é claro que Sidney Poitier aceitou e ficou rico estrelando todos aqueles filmes”.
No país da segregação racial e da lei Jim Crow cotas raciais foram consideradas inconstitucionais em 1978, no famoso caso Regents of the University of Califórnia versus Bakke (1978), e a decisão foi reafirmada em 2003, nos julgamentos envolvendo a Universidade de Michigan, Grutter versusBollinger et al. A Suprema Corte nos dois casos considerou inconstitucional a reserva de vagas para minorias em universidades. Em 2007,  novamente, a Corte Suprema americana se viu diante da mesma questão, desta vez a respeito  de crianças brancas que haviam sido preteridas em algumas escolas do distrito de Seattle que praticavam uma  política de discriminação positiva. A corte decidiu que a cor da pela não deveria mais ser usada para matricular crianças em uma escola ou outra, pois segundo a maioria dos juízes, obrigar os indivíduos a se definirem racialmente tinha o efeito de perpetuar a proeminência da “raça” na vida pública americana. Um dos juízes da Suprema Corte Americana foi além ao dizer: “Fazer com que a raça tenha existência agora para que não tenha no futuro fortalece os preconceitos que queremos extinguir”.
Diante da eminência do julgamento, dia 25 de abril, da constitucionalidade das cotas raciais na UnB pelo STF, penso que os juízes de nossa Corte Suprema devem levar a sério a posição majoritária na decisão da Corte em 2007. Muitos dos intelectuais que assinaram a Carta dos cento e treze cidadãos antirracistas contra as leis raciais entregue ao Presidente do STF em abril de 2008 já disseram em várias ocasiões que, no Brasil, as cotas raciais não só consolidarão as categorias raciais, mas as farão literalmente existir.
O gesto de Rosa Parks em 1955 visava extinguir a diferença e a desigualdade legal entre brancos e negros nos EUA e acabar com o gueto.Vemos, porém, que até hoje os americanos se veem às voltas com a questão registrada por Harry Belafonte em 1960, porque não conseguem se livrar da terrível desgraça que lhes foi imposta pelos dominadores britânicos e perpetuada pelas leis até os anos 1950. A foto de Barack Obama naquele ônibus representa a necessidade de lembrar sempre dos heróis, anônimos ou não, que optaram por sair do gueto, não aceitá-lo jamais, nem que seja por força da discriminação positiva, ou afirmativa.
Os brasileiros que como eu, nos meus dezesseis anos e até hoje, não se veem e não foram legalmente divididos em brancos e negros, em sua grande maioria não aceitam as leis raciais. Mas quem os representa? Na audiência pública realizada em 2010 no STF a maioria dos convidados a se pronunciar era favorável às cotas raciais. Neste julgamento que se avizinha apenas duas vozes estarão defendendo a posição de Rosa Parks. A maioria quer reforçar a “raça” para depois extingui-la.  Nem sempre a posição majoritária prevalece nestas situações, mas neste caso temo pela sorte do povo brasileiro, que preferiu ao longo de séculos se pensar a partir da metáfora dos três rios que se juntam em um novo e caudaloso,  que não criou leis segregacionistas e não proibiu o casamento entre pessoas de cores diferentes. Será mesmo que estes juízes conhecem suficientemente a História para  decidirem sobre o destino de todos os brasileiros?

terça-feira, 24 de abril de 2012

De conservadores e de reacionários: algumas precisoes minhas


Recebo, de um leitor deste blog, o seguinte comentário ao post indicado abaixo, que se pretende, provavelmente, irônico, mas que me parece um pouco ingênuo, e até enviesado.

Vejamos o que me escreveu esse leitor: 
Nada melhor do que ser criticado pelo próprio Paulo Roberto de Almeida, um dos baluartes do conservadorismo desse país. Obrigado PRA, voce acabou de fazer a alegria dos autores do discurso. em De volta ao problema das "injusticas sociais" em diplomacia: dia do diplomata
Entendo que se trata de um colega, que se julgou atingido pelos meus comentários (muito simplórios, na verdade) ao sentido de alguns discursos feitos no dia do diplomata. Não disse tudo o que pensava, evidentemente, tanto por falta de tempo, quanto por sentido de disciplina, pois existe uma lei do Serviço Exterior (que não é exatamente a lei da mordaça, mas controla, digamos assim, as manifestações dos diplomatas). Ainda que não existisse nada, a maior das censuras é justamente aquela exercida por colegas da Casa, sejam os superiores (que costumam ser "feudais", em hábitos e pensamento), seja pelos "horizontais", que geralmente vivem num ambiente de fofocas recíprocas (o que sempre detestei e que invariavelmente desprezei ao longo de toda a minha carreira). 
Mas presumo que se trate, mais provavelmente, ou quase certamente, de um dos redatores do discurso dos alunos, uma obra coletiva, como especificado em "epígrafe". Ou seja, todos eles, ou pelo menos certo número deles, leram o meu post e resolveram me criticar, através do comentário postado anonimamente. Não haveria mal nenhum se eles assinassem como o "coletivo que redigiu o discurso da turma de formandos", mas entendo que eles têm o direito de permanecer anônimos: seja por timidez, seja por vergonha, seja pelo temor reverencial de falar com voz própria numa casa freudianamente castradora, eles preferem permanecer anônimos. Não tem importância, eu responderei ao comentário -- o que é um direito meu, como "dono" do blog, ainda que poderia ficar calado, ou indiferente, já que muitos recomendam não polemizar -- pois que considero que toda oportunidade é boa para debater socraticamente sobre questões reais.
Então, vamos tentar debater democraticamente com o tal de "coletivo"...

Todos têm o direito de falar, de ser ouvidos, e de receber comentários pelos argumentos exibidos. É o que sempre faço aqui, publicando mesmo as críticas mais grosseiras que me são dirigidas, mas que me servem de novas oportunidades de reflexão, seja sobre o caráter das pessoas, seja como estímulo a escrever novos textos, em benefício do esclarecimento dos mais jovens (e entendo que os mais velhos sejam um pouco impermeáveis a novos argumentos ou a alguma didática não solicitada). 

Constato, em primeiro lugar, que o coletivo está contente -- embora, permito-me considerar essa expressão de contentamento como razoavelmente hipócrita -- mas também constato que a intenção real era a de me criticar. Pois não é que eles atingiram seus objetivos de serem lidos e percebidos como defensores de um novo paradigma diplomático, mais democrático, mais inclusivo, mais igualitário? Entendo que o coletivo, evidentemente, esperava elogios a granel. E não é que logo vem, imediatamente, uma crítica sutil, que eles perceberam como conservadora? Eu poderia ter sido mais extensivo, didático, rebatendo cada um dos pontos relevantes do discurso coletivo, mas preferi apenas insinuar, para incitar à reflexão. Quando é que vamos ter debate real neste país, não apenas slogans, ou atitudes de recusa, rechaçando o diálogo, e despachando o suposto “adversário” com dois ou três rótulos simplificadores? Seria pedir muito? Mesmo a jovens que estão se iniciando na vida profissional, e que ainda não se acomodaram à mesmice do cotidiano, depois de longos anos na morosidade burocrática?

Mas passemos ao que interessa. Eu, não sei bem por que, sou designado como:
"um dos baluartes do conservadorismo desse país"
e daí decorre que: 
"Obrigado PRA, voce acabou de fazer a alegria dos autores do discurso."

Bem, concedo. Se o "coletivo" ficou contente com tão pouco, posso então aumentar o contentamento coletivo precisando meus motivos de discordância, e eles são muitos. Mas não vou fazê-lo agora, pois não é caso de dar aulas de sociologia, de história ou de economia a jovens que acabam de fechar os livros de estudos. Vamos primeiros corrigir o "coletivo", restabelecendo a verdade dos fatos, que passo agora a expor.

Eu seria, então, um dos baluartes do conservadorismo no Brasil?
Isso representa, como se diz em francês, me fazer muita honra e muita desonra, ao mesmo tempo. Não me lembro de jamais ter sido identificado com o pensamento conservador brasileiro, pois inexistem textos meus identificados com essa corrente, cujos expoentes eu desconheço, no Brasil.
Aliás, desafio o "coletivo" a indicar quem seriam os pensadores conservadores do Brasil. Buscando muito poderíamos encontrar, talvez, Gustavo Corção, um nome do qual os jovens nunca ouviram falar, e talvez Miguel Reale, mais conhecido, mas seria duvidoso colocar este último entre os conservadores. O primeiro sim, foi assumidamente, deliberadamente, orgulhosamente, conservador, mas ele não deixou "filhos intelectuais", se ouso dizer. O segundo foi de certa forma um renovador do pensamento doutrinal, e filosófico do Direito no Brasil, mas eu sou muito incompetente na matéria para opinar.
O conservadorismo no Brasil, muito diferente da tradição inglesa, é algo, assim, próximo da lepra, uma enfermidade mental da qual ninguém quer ser acusado. Ninguém quer ser chamado de conservador, e até os conservadores políticos – não filosóficos, pois estes inexistem – querem ser progressistas. Mesmo liberais se pretendem “sociais. Talvez
Talvez o "coletivo" esteja pensando em Olavo de Carvalho, mas nisso eles se enganam redondamente. A menos que OC se defina, ele mesmo, como conservador, eu o considero, simplesmente, como um polemista arguto, que tem suas crenças, sim, mas raramente identificadas com o que se chama, filosoficamente, de conservadorismo, à la Burke, à la Oakeshot. OC, que foi marxista, hoje se opõe aos comunistas e ao marxismo em geral, mas isso não basta para fazer dele um conservador, que é bem outra coisa. Quem seriam, portanto, os conservadores no Brasil? Esclareçam-me, por favor.
Desafio o "coletivo" a encontrar um único texto meu que possa ser identificado com o conservadorismo. Ou eles não sabem o que é isso, ou eles são levianos nas acusações. Minha lista de trabalhos está disponível no meu site, podem buscar.
Por outro lado, de modo geral, não me considero baluarte de nada, absolutamente nada, neste país. Sou apenas eu, e meu computador, e minhas leituras, só isso. Não pertenço a partidos (e jamais ingressaria em qualquer um deles), não me filio a clubes filosóficos, a crenças religiosas ou espirituais (sou total e resolutamente irreligioso), não gosto de agrupamentos e movimentos. Não pretendo, sobretudo, liderar nada, conduzir qualquer movimento ou corrente de opinião, não quero ser apontado como líder de qualquer coisa, quero apenas permanecer o que sou: um espírito livre, que, a despeito dessas amarras institucionais temporárias, se afirma soberanamente dono das próprias ideias, sem qualquer servilismo a pessoas ou instituições, sem qualquer temor reverencial de quem quer que  seja, anarquicamente livre, como podem ser as pessoas que não temem pensar com a própria cabeça e expressar o que pensam, mesmo em prejuízo de situações, benefícios e privilégios. Acho que ficou claro, assim; portanto, esqueçam o baluarte...

Dito isto, vamos esclarecer o que é ser conservador e, a partir daí, medir a distância que me separa daqueles que classifico como os verdadeiros conservadores do país.

Como pode ser conservador alguém, como eu, que pretende mudar TUDO no Brasil? Mais do que simplesmente mudar, ou reformar, o que eu quero, basicamente, é revolucionar tudo, de A até Z, tudo o que existe de políticas equivocadas, em todas as áreas que são objeto de certa relevância social. 
Em contrapartida, considero alguns -- ou vários, quem sabe todos? -- que estão atualmente no poder, como essencialmente conservadores, quando não absolutamente reacionários. Querem ver como? Vamos lá.

1) Política:
Considero nossa Constituição anacrônica, defasada, ridiculamente conservadora, equivocada, idealista, ingênua, burra e sumamente estúpida em várias áreas, sobretudo econômicas e sociais. Querem ver? Uma Constituição que começa por pretender regulamentar em detalhes toda a vida social é radicalmente estúpida, pois obriga a sociedade, o legislativo, a entrar, cada vez, num doloroso processo de revisão constitucional, para regular ou transformar direitos de gregos e goianos. Estúpido, pois não? A vida, a economia, as transações globais são dinâmicas, e constitucionalizar tudo em detalhes é de um conservadorismo atrás, pois obriga tudo a permanecer estável por muito tempo.
O ideal, portanto, seria fazer uma Constituição mais enxuta, tratando apenas de questões essenciais e remetendo muita do que é secundário para a legislação infraconstitucional. A sociedade brasileira, dinâmica, criativa, cambiante, não merece a Constituição que tem. Quais são os projetos dos companheiros para mudá-la. Eu tenho vários.
Os companheiros que VOTARAM contra a CF, agora se opõem às mudanças simplificadoras; eles querem apenas acrescentar mais penduricalhos de direitos corporativos nessa pobre coitada. 
Procurem, por exemplo, quantos vocábulos "direito" existem: vocês vão encontrar, salvo engano, mais de 70. Procurem agora palavras como obrigações, ou eficiência, ou produtividade: necas de pitibiribas, não é? Pois é: parece que o monstrengo constitucional não serve para avançar, apenas para conservar...
Em outra esfera, a nossa representação política (proporcional) é deformada, monstruosamente deformada, e isso é um insulto à sociedade. Nosso Congresso, de maneira geral, é inflado, obeso, gastador, quase irrelevante. Perguntem quem são os "conservadores" que querem mudar isso, e os "progressistas" que querem manter tudo como está? Eu mudaria tudo, mas reconheço que os conservadores, os reacionários vão simplesmente sentar e não fazer nada. Aliás, é o que já acontece...

2) Economia:
O Brasil não apenas avança lentamente, a passos de cágado, acompanhando por baixo o ritmo da América Latina e do mundo, mas também recua, institucionalmente, filosoficamente, operacionalmente. Os companheiros no poder são adeptos de ideias velhas, conservadoras, de 50 ou 60 anos atrás, que aprenderam quando ainda estavam na faculdade mas nunca conseguiram avançar para ideias mais modernas, progressistas, reformistas ou revolucionárias. 
São conservadores, ou reacionários, e dou exemplos: querem reproduzir o planejamento da era militar, o intervencionismo dos anos 1950 e 60, o protecionismo dos anos 1970 e 80, as manipulações monetárias e cambiais dos anos 1980, e por aí vai. A política industrial tem saudades de um tempo que não volta mais, as "receitas tecnológicas" são de “avestruz”, o subvencionismo é da gloriosa era militar -- quem diria? -- e o pensamento econômico é esse keynesianismo de botequim, tosco, rústico, mal aprendido em manuais de segunda mão -- inclusive porque Keynes era bem mais sofisticado -- que não suportaria um exame de faculdade de segundo ano.  As políticas industriais e comerciais misturam indústria infante à la List e tarifas hamiltonianas -- século 19, portanto -- e protecionismo à la Manoilescu (anos 1920 e 30, neste caso). O que de mais  moderno eles têm a apresentar é a contrafação de Hamilton, List e Manoislescu, na figura patética de um coreano de Cambridge (My God!) que desconhece a história e não sabe que representa uma reencarnação mal ensaiada do prebischianismo simplificado. O furtadismo, a doutrina daquele que sempre pretendeu que um pouco de inflação não faz mal, tem adeptos em todas as partes.
Eu gostaria de revolucionar tudo isso, mas os companheiros adoram ideias velhas, tanto que escolheram como seu guru intelectual, e homenageado ocasional, alguém que é coerente, há meio século, com as mesmas ideias atrasadas que já defendia naquela época. 
E eu sou o conservador? Mon Dieu, eles não sabem o que é ser conservador. Não sou eu quem recomenda leituras dos anos 1940 e 1950 aos alunos, ideias defasadas e metodologicamente simplórias, em lugar de se alimentar das modernas pesquisas de arquivos e de testes empíricos. Deixemos a paranoia de lado, e fiquemos apenas com a teoria conspiratória, aquela que divide o mundo entre poderosos e oprimidos. Tudo isso é um pouco velho, não é?
Os reacionários não conseguem se destacar dos moldes mentais que presidiram seus estudos de meio século atrás. Poderia multiplicar os exemplos em economia, e todos eles estão invariavelmente presentes em certos posts, mas creio que posso parar por aqui. O exercício seria um pouco arriscado no plano da desconstrução mental.

3) Educação:
Aqui a inversão é notável, e eu diria mesmo patética e dramática. Os companheiros acabam de eleger como "patrono da educação no Brasil" uma figura desonesta -- que roubou suas ideias de um outro, sem sequer reconhecer o feito --, que elogiava os experimentos de "criação do homem novo" nas revoluções cubana e maoísta (e que jamais se redimiu em função dos crimes cometidos por seus símbolos ideológicos), que é responsável pelo atraso pedagógico e mental da educação brasileira, e cujas "lições" estúpidas mantêm os cursos de pedagogia e as "saúvas" do MEC aferradas a essas ideais atrasadas, em detrimento da educação brasileira (não sou eu quem digo, basta ver os resultados do PISA...).
Eu gostaria de revolucionar o setor, mas reconheço que é difícil, a começar pelo atraso mental que o guru promoveu, pelas ideias equivocados patrocinadas pela burocracia do MEC, pelo desleixo geral que convive com a máfia sindical isonomista e anti-mérito das associações de professores.
O conservadorismo, e até o reacionarismo é notável e absolutamente trágico na esfera educacional, e desde já reconheço que isso não vai ser corrigido, e que o Brasil vai continuar recuando por anos e anos à frente.

4) Governança, instituições:
Eu reconheço que o Estado trabalha mal, é ineficiente, e gostaria de mudar muita coisa, revolucionar a administração pública, acabar com a estabilidade (em quase todos os níveis e funções), acabar com o isonomismo debilóide, redistribuir funções, promover a eficiência, aferição por resultados e por méritos, instrumentos de accountability, benchmarks para várias atividades de agências públicas, market-like inducements, enfim, um sem número de mudanças que não reputo em classificar como revolucionárias para o Estado e a sociedade brasileiras.
Pergunto, ao "coletivo", quantos projetos de reforma, nesses vários setores foram encaminhados pelos companheiros no poder?
Legislação trabalhista, que todos sociólogos -- e suponho que "coletivo" estudou isso nos cursos preparatórios -- apontam como herdada do fascismo mussoliniano, que precisaria ser modernizada? Onde estão as propostas dos progressistas?
Onde está a abolição da cobrança compulsória, fascista, do imposto sindical, que os sindicalistas alternativos, nos tempos de oposição aos pelegos, diziam querer eliminar? O que fizeram depois de instalados no poder? Deram um naco sem contrapartida e sem necessidade de justificativa para as centrais, que elas mesmas são emanações de uma das mais pujantes "indústrias"  do Brasil atual, junto com a "teologia da prosperidade": a criação de sindicatos artificiais, no papel, apenas para capturar o imposto sindical.
Nossa (in)Justiça, canhestra, lenta, dominada pelo processualismo que delonga os litígios, cabendo esperar, em média, OITO anos por uma "solução", tudo isso tem proposta de reforma progressista, revolucionária? Eu, por exemplo, gostaria de reformar os códigos processuais, controlar juízes corruptos, acabar com a procastinação, os monopólios indevidos (como os da OAB), a fúria controladora irracional de procuradores e desembargadores que atuam com base em suas ideias, não com base nas leis. Mas reconheço, aqui também, que nada se fez durante todos esses anos; e nada se pretende fazer, ou existem projetos dos não-conservadores nessa área?

5) Social:
Pois é: antigamente era "reacionário" distribuir ajuda, esse "ópio do povo" que eterniza a dependência e constrói currais eleitorais. O que se fez desde alguns anos para cá? Eu pretenderia qualificar pelo emprego, sempre, para que cada um busque sua renda no mercado, não esperasse um favor do Estado, a coisa mais reacionária, mais embrutecedora da dignidade cidadã que pode haver.
Em matéria de reforma agrária, por exemplo, não existe nada de mais reacionário do que o modelo regressista, minifundista, antimercado e antiexportador, que pretendem promover os verdadeiros patronos do MDA, os neobolcheviques do MST, uma reencarnação de totalitários de um século atrás que pensa que vai fazer o Brasil retornar meio século, quando a reforma agrária tinha algum sentido social. Hoje não tem nenhum, nem econômico, diga-se de passagem, mas os reacionários se aferram a coisas do arco da velha, a textos de Caio Prado, a figuras como Julião e outros ícones ultrapassados. Acho melhor revolucionar o campo, pela capitalização, seguro agrícola, integração de mercados, concorrência mundial, abolição de subsídios, essas coisas das quais os companheiros tem horror, reacionários que são. Quem é conservador?

Poderia continuar desfilando os motivos pelos quais eu me qualifico como reformista, ou mesmo revolucionário, em face dos verdadeiros conservadores e reacionários que hoje pontificam soberanamente com soluções do século 20 ou mesmo do século 19, propostas anacrônicas para velhos problemas sociais, entre elas o insulamento stalinista na área econômica, o distributivismo canhestro na área social, a defesas das corporações medievais na área institucional, ideias defasadas em todas os níveis da educação. Mas, não creio que seja mais necessário. Basta o que vai acima.

Vou apenas me ater ao final do comentário: "voce acabou de fazer a alegria dos autores do discurso".
Mas como? Eles se contentam com tão pouco?
Eles se contentam com uma crítica superficial e rasteira?
Poderia ser muito mais contundente e analisar uma a uma as "ideias" externadas nesse discurso "coletivo", mas vou poupar os colegas desta decepção.
Talvez eu o faça um dia, mas não convém abalar convicções tão bem arraigadas -- depois de dois anos, ou quase, de reeducação -- num simples golpe revisionista. Leituras sempre ajudam; observação da realidade, também. Tenho muitos trabalhos escritos que abordam alguns dos temas tratados nesses discursos, a começar por "13 Ideias" que podem ser lidas em meu site (suponho). 

Como diria Marx, que pode ser considerado um revolucionário, acredito, "deve-se duvidar de tudo". Nisso estou plenamente com ele, inclusive e sobretudo na sua vontade de disseminar o novo modo de produção, para acelerar a marcha da história.
O "coletivo" deveria se juntar coletivamente e debater novamente as ideias classistas, racialistas, distributivistas ingênuas, sexistas que defenderam. Acho que o Brasil está acima desse tipo de divisão artificial, e seria bem melhor se a sociedade não se dividisse nessas linhas, o que seria altamente prejudicial para a sociedade e para a própria diplomacia.
Um dia volto ao assunto, quando divergir não for mais o equivalente de desafio à autoridade e um ingresso no ostracismo. Muito progressista, certamente...
E, sinceramente, preferiria debater com pessoas reais, não com um coletivo anônimo. Um pouco de coragem, pessoal, a Casa não é tão carrasca assim…

Paulo Roberto de Almeida 
(Trier, 24 de Abril de 2012)