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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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terça-feira, 14 de abril de 2015

Itamaraty: greve por razoes estritamente alimentares...

Como diria um filósofo economista, o bolso é a parte do corpo humano que mais sofre...
Pois é, nunca tivemos greves por motivos essencialmente políticos, ou conceituais, digamos assim.
Não me refiro tanto aos diplomatas, mas aos ativistas sociais, de modo geral.
Já tivemos manifestações contra o pagamento da dívida externa, contra a Alca, e os acordos de livre comércio, contra o imperialismo americano, essas coisas conhecidas.
Nunca vi uma manifestação contra o protecionismo comercial, contra o apoio a ditaduras e violadores dos direitos humanos, a favor do livre comércio, contra o Estado grande, e extrator.
Será que algum dia teremos uma manifestação contra a política externa?
Algumas faixas nas recentes manifestações contra o governo já expressavam oposição ao bolivarianismo, mas isso é um pouco distante da realidade brasileira, embora o partido hegemônico seja perfeitamente bolivarianista, e eu até diria neobolchevique.
Mas, enfim, vamos chegar lá, um dia...
Paulo Roberto de Almeida

ITAMARATY
Servidores do Itamaraty aprovam greve em assembleia
Lisandra Paraguassu
O Estado de S. Paulo, 14/04/2015

BRASÍLIA - Os servidores do Itamaraty aprovaram em assembleia uma nova greve da categoria, desta vez pelo pagamento do auxílio-moradia no exterior, que está novamente atrasado. Os oficiais e assistentes de chancelaria, além de diplomatas, deram um prazo até 6 de maio para que o pagamento seja regularizado antes de adotar a greve.
O governo federal deixou de pagar as parcelas do auxílio-moradia para os servidores do exterior desde fevereiro. O atraso é recorrente. Em segundo semestre do ano passado, os funcionários do chamado serviço exterior - que inclui diplomatas, assistentes e oficiais de chancelaria ficaram também três meses sem receber depois que o orçamento do Itamaraty para o ano acabou. Uma suplementação orçamentária havia sido autorizada pelo Congresso em outubro, mas a presidente Dilma Rousseff só assinou a liberação em novembro.
Desta vez, a falta de pagamento acontece pelo atraso na aprovação do orçamento, que aconteceu há apenas duas semanas. Até ali, os ministérios estavam recebendo apenas 1/18 dos recursos para o ano, em vez dos tradicionais 1/12 autorizados normalmente, o que fez com que o ministério começasse a atrasar suas contas. Uma liberação extra, de R$ 39 milhões, foi feita em fevereiro, mas os recursos não chegaram para o auxílio-moradia.
O atraso atinge cerca de 2 mil servidores em 227 postos em todo o mundo, já que a suplementação é paga a todos os funcionários que são deslocados do Brasil para o serviço no exterior. Em alguns casos, o pagamento do aluguel chega a representar 70% do salário, especialmente em cidades muito caras, como Luanda, em Angola, ou Londres.
Desde que assumiu o ministério, Mauro Vieira e o secretário-geral, Sérgio Danese, vem tentando resolver os problemas de caixa do Itamaraty em diversas reuniões com os ministérios da Fazenda e do PLanejamento. Consultado sobre o novo atraso, o Itamaraty respondeu que "a Administração está envidando todos os esforços para regularizar os pagamentos da residência funcional no prazo mais curto possível". Mas ainda não há previsão.
Em resposta a uma consulta do Estado o Sinditamaraty confirmou por e-mail o atraso e a falta de perspectiva. " O contingenciamento do orçamento do Itamaraty pela PR e pelo MPOG é a explicação oficial pelos crônicos e cada vez maiores atrasos no pagamento da indenização devida aos funcionários em missão permanente no exterior. Infelizmente, não existe perspectiva concreta para a regularização da situação", diz o texto.
Hoje, o sindicato apresentou o resultado de uma assembleia feita eletronicamente. POuco menos de 400 servidores responderam e quase 90%  optaram pela greve se a situação não for regularizada até seis de maio, quando deveria ser paga mais uma parcela do auxílio-moradia. O resultado da assembleia será levada ao ministro.

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Com pagamento de auxílio moradia atrasado, servidores do Itamaraty ameaçam entrar em greve
O Globo.com, 14/04/2015

Segundo sindicato, funcionários que trabalham no exterior estão desde fevereiro sem receber o benefício

BRASÍLIA — Servidores do ministério das Relações Exteriores ameaçam entrar em greve caso o governo não atenda até o dia 6 a pauta de reivindicação da categoria, que inclui o pagamento das parcelas atrasadas do auxílio moradia no exterior. Depois de realizarem uma consulta pela internet, o indicativo foi aprovado por 288 das 353 que votaram. Entre os votantes, todos filiados ao Sinditamaraty, estavam diplomatas, oficiais e assistentes de chancelaria e membros das carreiras do PCC e PGPE que trabalham no Brasil e no exterior.

Segundo o sindicato, os atrasos no pagamento ocorrem desde fevereiro, porém há casos em que a inadimplência chega a um ano. Além da pontualidade no pagamento das parcelas de residência funcional, os servidores também reivindicam a universalização do plano de assistência médica internacional do Itamaraty, o reenquadramento salarial de oficiais e assistentes de chancelaria e a criação de grupo de trabalho formado por servidores indicados pelo sindicato e pelo ministério para discussão e proposição de soluções para os problemas que afetam diretamente os funcionários.

O Sinditamaraty irá comunicar oficialmente o ministério das Relações Exteriores a respeito da decisão. Os representantes do sindicato prometem realizar ações coletivas para reivindicar o pagamento das parcelas de residência funcional em atraso e a regularização dos plantões diplomático, consular e dos setores de comunicações dos postos no exterior, considerados estratégicos.

Coiotes uivam adesismo; passarinhos soltam trinados democraticos - Reinaldo Azevedo

Já que alguém por aí falou em hienas -- procurem essa palavra neste blog -- vamos chamar os reacionários do adesismo de coiotes, sorrateiros, geralmente covardes.
Os movimentos oposicionistas não são o Bip-Bip do desenho animado, mas estão na posição de passarinhos: voam sempre e veem longe.
Vamos acompanhá-los...
Paulo Roberto de Almeida

Movimentos que convocaram as duas grandes manifestações de protesto contra o governo Dilma decidiram iniciar uma segunda fase de sua luta: o caminho agora é Brasília. Já demonstraram que estão em conexão com a larga maioria do povo brasileiro, conforme atesta pesquisa Datafolha. É chegada a hora de — atenção para este verbo — tensionar as instituições. Isso supõe um diálogo altivo com elas. O Movimento Brasil Livre (MBL) dará início, no próximo dia 17 a uma Marcha — sim, a pé — a Brasília. O objetivo é chegar à capital federal um mês depois e lá promover uma grande manifestação. O Vem pra Rua pretende apresentar, no próximo dia 15, uma pauta que reúne reivindicações de 50 organizações que se opõem ao atual estado de coisas.

Esse é o caminho natural. Falei há pouco com Kim Kataguiri, um dos coordenadores do MBL. Perguntei se a pauta principal da marcha é o impeachment de Dilma, como foi noticiado por aí. Ainda que o movimento veja razões para tanto — e elas existem —, a moçada não é ingênua. É evidente que ninguém marcha para Brasília para pedir “o impeachment ou nada”. Os coordenadores do MBL reconhecem que o impedimento é uma questão jurídica e política. Logo, depende das leis e das circunstâncias. Assim, chegou a hora de esses movimentos exigirem uma interlocução com as instituições, que não pertencem ao governo do PT, mas ao estado brasileiro.

O mesmo vale para o Vem pra Rua. Na entrevista que concedeu ao programa “Os Pingos nos Is”, da Jovem Pan, Rogério Chequer já havia falado da necessidade de articular as dezenas de grupos que hoje se organizam cobrando mudanças efetivas no país. Isso tem de virar uma pauta. Assim, esses movimentos se preparam para o diálogo dos fortes, não para a cooptação.

E, à diferença do que pretendem os reacionários de esquerda, inclusive os incrustados na grande imprensa, eles já avançaram bastante até aqui. Organizaram, em menos de um mês, duas grandes manifestações. E o fizeram contra a máquina oficial de propaganda e contra a incredulidade de analistas políticos e uma safra de colunistas intelectualmente safados como raramente se viu.

Sou antigo nesse troço de manifestação. Sei bem o que é participar de um movimento com a imprensa unanimemente a favor. Foi assim nas Diretas- Já. Era moleza! Parecia que o mundo inteiro estava com a gente. No impeachment de Collor, eu já era jornalista. Aí posso falar, vamos dizer, da adesão “por dentro”. Ainda que houvesse, e havia, o cuidado para não distorcer os fatos em prejuízo do então presidente, era evidente que a seleção da pauta se dava em favor do impeachment.

Agora, a coisa é bem diferente. Há, sim, jornalistas simpáticos aos que se manifestam. Mas, na média, a chamada grande imprensa vê movimentos como o Vem pra Rua, o Brasil Livre e o Revoltados Online com o pé atrás. Jornalistas têm certa compulsão por aquilo que julgam ser o “progressismo”. Se os que se manifestam não adotam a pauta que consideram universal — geralmente ligada à área de costumes —, tendem a entortar o nariz e a colar na turma a pecha de “reacionária”.

O que estou dizendo, com todas as letras, é que a imprensa, nas décadas de 80 e 90, respectivamente, turbinava os atos em favor das Diretas e do impeachment de Collor. Desta feita, faz o contrário. As manifestações de rua se impuseram apesar do jornalismo, não com a sua ajuda. A primeira tentação, basta olhar os arquivos, foi ver nas ruas a pressão da elite branca.

A moçada venceu o pelotão de fuzilamento moral e a barreira da desqualificação. O fel do colunismo de esquerda e o jogo pesado dos blogs sujos se mostraram irrelevantes. A patrulha do petismo nas redes sociais chamou atenção mais pelo seu lado patético do que por sua eficiência.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recomendou que os partidos de oposição não se confundam com esses movimentos da sociedade civil. Ele está certo. Como estão certos esses movimentos ao criticar o que consideram frouxidão das oposições. É preciso não confundir os papéis. As democracias avançam — e não estou dizendo nenhuma novidade; há sólida teoria a respeito — quando indivíduos, organizados em grupos, levam adiante a bandeira da convicção; às forças institucionais, cabem os limites da responsabilidade. É a tensão desses dois vetores que produz avanços. Nem a convicção deve sair por aí a cortar cabeças, como um Robespierre mais ensandecido do que o original, nem a responsabilidade deve engessar as demandas vivas da sociedade, congelando o statu quo e imobilizando os atores sociais.

É saudável que grupos de pressão na sociedade tenham uma pauta mais ousada e avançada — dados seus pressupostos e seus valores — do que as oposições institucionais. É assim que tem de ser. A pauta do Vem pra Rua, do Movimento Brasil Livre ou do Revoltados Online não se resume ao impeachment de Dilma, que pode acontecer ou não. Caso se dê, é preciso ter um amanhã; caso não se dê, também. E, é claro!, se as oposições que temos não souberem ler a realidade, serão superadas pelos fatos.

Os reacionários de esquerda, em especial alguns colunistas do nariz marrom, estão expelindo sua baba hidrófoba contra esses movimentos. Acham um absurdo e uma violência que uma de suas palavras de ordem seja “Fora PT”, mas viam uma verdadeira poesia quando os petistas gritavam “Fora Sarney”, “Fora Collor” e “Fora FHC”.

Podem ladrar à vontade. A caravana vai passar.


segunda-feira, 13 de abril de 2015

Ladra, mentirosa, quem seria? InfoLatam mira o Brasil... (Agencia Efe)

Gostei dessa foto, ou melhor, dos cartazes. Eles resumem bem o que pensam todos os que marcharam pelas ruas de mais de 200 cidades brasileiras neste último domingo, protestando contra as ratazanas do petismo, a inépcia do poste e todos os demais tráficos cometidos pelos mafiosos totalitários.
Paulo Roberto de Almeida

Brasil protestas

El Gobierno brasileño dice que menor número de manifestantes no reduce alerta

Infolatam/Efe
Brasilia, 13 de abril de 2015

Las claves
  • La declaración de Temer, que la semana pasada asumió la función de coordinador político del Gobierno, fue la única hecha por una alta autoridad sobre las multitudinarias protestas de la víspera en varias ciudades para protestar contra la corrupción y pedir la renuncia o la destitución de la presidenta Dilma Rousseff.
El Gobierno brasileño consideró  que hay que escuchar y dar respuesta a la insatisfacción mostrada en las protestas registradas el domingo en todo el país, sin importar que el número de participantes fuera menor al de convocatorias previas.
“El hecho de tener menos personas en las calles no reduce la importancia de la alerta que está dando la población y que muestra que es fundamental que el Gobierno comprenda que hay la necesidad de dialogar y escuchar más”, afirmó  el vicepresidente Michel Temer a través de su asesoría de prensa.
La declaración de Temer, que la semana pasada asumió la función de coordinador político del Gobierno, fue la única hecha por una alta autoridad sobre las multitudinarias protestas de la víspera en varias ciudades para protestar contra la corrupción y pedir la renuncia o la destitución de la presidenta Dilma Rousseff.
El ministro de la Secretaría de Comunicación de la Presidencia, Edinho Silva, dejó claro que esa sería por ahora la única respuesta del Gobierno a las manifestaciones, al asegurar que Rousseff endosa todo lo dicho por su vicepresidente.
La popularidad de Rousseff está en mínimos históricos pese a que sólo lleva 103 días de su segundo mandato de cuatro años.
Las protestas fueron convocadas por las mismas organizaciones que el 15 de marzo congregaron a cerca de dos millones de manifestantes, aunque esta vez sólo movilizaron a unas 700.000 en unas 150 ciudades.
Los organizadores admitieron la reducción del número de manifestantes, pero advirtieron de que hasta las encuestas muestran que la insatisfacción de la población continúa creciendo.
Según una encuesta divulgada el sábado por la firma Datafolha, el 75 % de los brasileños aprueba las protestas y un 63 % apoya que el Congreso abra un juicio político con miras a la destitución de Rousseff por su supuesta responsabilidad en el escándalo de corrupción en la petrolera Petrobras.
“El Gobierno está atento a estas manifestaciones. Revelan, en primer lugar y obvio, una democracia poderosa y. en segundo, que el Gobierno necesita identificar cuáles son las reivindicaciones para atenderlas. Es eso lo que el Gobierno está haciendo”, dijo Temer al negar que las autoridades estén aliviadas con la reducción del número de manifestantes.
A diferencia de las protestas del 15 de marzo, cuando dos ministros concedieron una rueda de prensa y enumeraron lo hecho por el Gobierno para atender las reivindicaciones, principalmente las medidas adoptadas contra la corrupción, el Gobierno optó en esta oportunidad por no responder directamente a los manifestantes.
El ministro de la Secretaría de Comunicación Social dijo en declaraciones a periodistas que el descontento es generalizado y que por eso los partidos de la oposición no consiguen capitalizar el malestar de las calles.
“El desgaste se extiende a todos los poderes de la República y la presidenta Dilma terminó catalizando ese descontento por ser el poder central”, afirmó.
El expresidente Fernando Henrique Cardoso afirmó hoy que los partidos de la oposición tienen que mantener distancia de las protestas para no parecer que quieren apropiarse de un movimiento surgido de la sociedad civil y para evitar un agravamiento de la actual crisis política del país.
“Los movimientos tienen una dinámica propia y no fueron convocados por los partidos políticos. Los partidos tienen una responsabilidad institucional”, afirmó Cardoso, que gobernó Brasil de 1995 a 2002, y para quien la crisis puede agravarse si los partidos deciden protestar también en las calles.
Las protestas fueron convocadas en internet por grupos sin vínculo político como el Movimiento Ven a la Calle Brasil, Revoltosos Online y Movimiento Brasil Libre y fueron respaldadas por la oposición, que sin embargo se abstuvo de exhibir sus banderas en la calle.
El senador Aécio Neves, principal líder de la oposición y presidente del PSDB, manifestó su solidaridad con los manifestantes pero se abstuvo de engrosar las marchas para, explicó, no darles una “connotación partidaria”.
Neves, derrotado en la segunda vuelta de las elecciones presidenciales de octubre por la presidenta Rousseff por sólo tres puntos porcentuales, dijo respaldar a “los miles de brasileños que regresaron a las calles para, una vez más, manifestar legítimamente su repudio e indignación contra la corrupción sistemática que avergüenza al país, y exigir soluciones para el agravamiento de la crisis económica”.

Impeachment: a guide for beginners - Pedro Logomarcino

A caminho do impeachment
Uma explicação concisa, segundo um especialist
(recebido dia 13/04/2015)

Segundo o Advogado Pedro Lagomarcino, a manifestação popular que tomou as ruas do Brasil ontem foi muito exitosa e revela a constância de propósito dos favoráveis ao “impeachment” de Dilma Rousseff.

Entretanto adverte: é fundamental, para o "impeachment" ocorrer, que seja assinada, formalmente, uma petição fundamentada e consistente, que obedeça às normas regimentais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

Pedro Lagomarcino é autor de uma longa petição que foi entregue com mais de 16.950 assinaturas no gabinete do Deputado Eduardo Cunha, atual Presidente da Câmara, e que está disponível on-line (pro bono):

http://www.citizengo.org/pt-pt/signit/13481/view

Se não houver a assinatura de uma petição efetiva, Lagomarcino avalia que de nada adiantará, pois Dilma Rousseff, o PT e seus correligionários continuarão no poder e o ânimo da manifestação popular que tomou conta do país irá se dispersar como uma cortina de fumaça.

Lagomarcino utiliza a metáfora de que desejar o "impeachment" é o mesmo que lotar um estádio para torcer para um time de futebol, pois torcer pode embalar o time, mas só quem entra em campo pode marcar o gol e fazer a diferença.

Além disso, entende que a posição do Presidente da OAB Nacional, manifestada ontem no programa Fantástico, em contrariedade ao "impeachment", foi lamentável, por uma razão muito óbvia:

- A continuidade do governo de Dilma Rousseff, com as ações de corrupção, de lavagem de dinheiro, de improbidade e de violação a lei de licitações, engorda o receita de muitos escritórios de advocacia com os acusados ou suspeitos de participação nestes crimes.

Por que o Presidente da OAB e a própria OAB apoiariam o "impeachment"?

Seria retirar o mesmo que retirar o filé de faturamento de muitos escritórios, avalia.

Lagomarcino teme que a prática do exemplar civismo, esteja sendo obstada, notadamente, pelo pensamento "quanto pior melhor", próprio de quem quer faturar com defesa de acusados e suspeitos de prática de crimes que ocorrem contra Estado (país), os quais todos estão, claramente, enquadrados na Lei nº 1.079/50 (Lei de crimes de responsabilidade).

Segundo o Advogado:

- Uma coisa é a manifestação de um leigo ao dizer que não cabe o "impeachment". Outra, completamente diferente é um jurista dizer que o "impeachment" é incabível. Este tem o dever, ao se manifestar, de dominar tecnicamente o assunto e saber o que enseja o "impeachment".

Por isso avalia, a manifestação do Presidente da OAB Nacional foi lamentável, pois não revelou ao país por que não cabe o "impeachment" e não se passou de mero achismo.

Lagomarcino assegura que os fatos relatados deste o mensalão e que vieram à tona com o PeTrolão se tratam ora da prática de crimes continuados, ora da prática de crimes permanentes e, mesmo que em início de novo mandato, este novo mandato não "zera a conta", como pensa a base governista, a qual acha que um novo mandato é como quem se endivida ao longo de um ano e na virada do ano crê que o Ano-Novo terá o poder de "zerar todas as contas e anular todas as dívidas".

Lagomarcino é taxativo: o “impeachment” é notadamente a medida justa e consentânea a ser aplicada à atual Presidenta."
- - -
Dr. Pedro Lagomarcino
OAB/RS 63.784

​* Especialista em Direito da Propriedade Intelectual - FADERGS
* Especialista em Gestão Estratégica de Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual - AVM/Cândido Mendes
* Especialista em Gestão Estratégica, Inovação e Conhecimento - ESAB​
www.pedrolagomarcino.wordpress.com

Os ratos roubaram a ratoeira do restaurante; recuperaremos - Guilherme Fiuza

Os ratos petralhas roubam de tudo, até ratoeiras que são feitas para pegá-los, eles tentam roubar e esconder. Vamos ter de redobrar nossa pressão, para retirar os ratos das redondezas...
Paulo Roberto de Almeida

A inocência dos roedores
Guilherme Fiuza,
O Globo, 11/04/2015

Delações indicaram que algumas centenas de milhões de reais escoaram do esquema para a campanha de Dilma

Se Dilma fosse uma ópera, ela se chamaria “Erenice”. Uma ópera em dois atos: 2010, a ascensão; 2015, a queda. A presidente ainda não caiu, mas o Brasil já está caindo. Ainda não se sabe se no abismo ou na real.
Dilma Rousseff declarou que sua campanha não recebeu “dinheiro de suborno”. Já o Lobo Mau declarou que não comeu a vovozinha. Cada um com a sua tática. Se os caçadores da floresta não tivessem aberto a barriga do Lobo, ele teria devorado também a Chapeuzinho. Os caçadores da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça estão abrindo a barriga do PT e tirando um mundo lá de dentro. Mas a cabeça falante do partido continua jurando inocência pela boca da presidente da República. E a Chapeuzinho verde-amarela, coitada, continua na dúvida se acredita.
Antes de voltarmos à ópera, uma última contribuição à fábula. Querida Chapeuzinho: se o seu plano é ser devorada, fique à vontade. Continue acreditando em Dilma quando ela diz, por exemplo, que vai salvar a Petrobras. O humorista inglês John Oliver já caiu na gargalhada diante da presunção de inocência da presidente brasileira — e riu não por ser humorista, mas por ser inglês. Se bem que já há estrangeiros em vários países não achando a menor graça nessa novela. São investidores lesados pelo petrolão e, ao contrário da cordial Chapeuzinho, resolveram chamar a polícia. E lá a chantagem emocional dos guerreiros do povo não protege ninguém. Bandido é bandido.
As delações premiadas de ex-diretores da Petrobras e de empreiteiras convergiram com a do doleiro Alberto Youssef e cravaram: o PT transformou propinas do petrolão em doação legal ao partido. Em mais uma contribuição progressista para a História, os companheiros inventaram a propina oficial. Nada dos arcaicos recursos não contabilizados do mensalão: tudo certinho, tudo declarado, enfim, um roubo absolutamente dentro da legalidade. E as delações indicaram que algumas centenas de milhões de reais escoaram do esquema para a campanha presidencial de Dilma — aquela que não recebeu “dinheiro de suborno”. O acusado de operar esse milagre é o tesoureiro do PT, João Vaccari, que por essas e outras acaba de virar réu no processo da Operação Lava-Jato.
Vejam como Dilma Rousseff realmente é uma ópera. Toda essa engenhosa sucção nacionalista foi montada sob a presidência dela no Conselho de Administração da Petrobras. Está gravado e filmado para quem quiser ver: o ex-diretor da estatal e protagonista do escândalo, Paulo Roberto Costa, acha “estranho” que Dilma não soubesse do esquema. Mais estranho ainda sabendo-se que a montagem do esquema é atribuída a figuras-chave do partido dela, às quais a presidente jamais negou solidariedade — inclusive àquelas condenadas pelo mensalão. O que a inocência de Dilma foi fazer no meio dessa podridão?
Melhor reler o libreto. Está lá, no primeiro ato. Ano de 2010, eleição presidencial (na qual, maldita coincidência, outro delator aponta “dinheiro de suborno” na campanha de Dilma). Ali, nasce uma estrela: Erenice Guerra, braço-direito da candidata à Presidência, entra para a História ao levar a Casa Civil para as páginas policiais, demitida e investigada por tráfico de influência. Erenice era a mulher de confiança de Dilma, preparada por ela para ser sua superministra. Claro que os métodos de Erenice Guerra e a inocência de Dilma Rousseff jamais se cruzaram nos corredores do palácio. É estranho à beça, como diria Paulo Roberto Costa, mas a vida é assim mesmo. Estranha.
Saltando para 2015, o libreto da ópera faz ressurgir a grande personagem. Na Operação Zelotes da Polícia Federal, quem surge no seio de um escândalo bilionário envolvendo a Receita Federal? Erenice Guerra, agindo como principal assessora da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Mas Chapeuzinho verde-amarela continua chupando o dedo e ouvindo Dilma dizer que vai limpar tudo e nunca viu dinheiro de suborno. Adivinhem o que vai acontecer com essa menina distraída em mais quatro anos de ópera?
Quando Vaccari entrou na CPI da Petrobras, ratos foram soltos no recinto. Mas logo se deixaram capturar. Amadores. Vaccari admitiu que esteve no escritório do doleiro Alberto Youssef, mas disse que não sabia por que foi parar lá. Questão de ginga.
Ficar assistindo a esse show de inocência não é para qualquer estômago. O Brasil já desceu da arquibancada uma vez, e vai descer de novo. Os roedores não estão nem aí — continuarão ostensivamente oprimidos, anunciando que o petróleo salvará a educação, e roendo em nome da lei. Até que os brasileiros se cansem dessa cândida obscenidade e os enxote da sala.
Ou pararam de pagar ?

Guilherme Fiuza é jornalista

Paulo Brossard e o Itamaraty, a proposito do caso Eduardo Saboia, e os nossos bolivarianos

Apequenando o Itamaraty
Paulo Brossard
Zero Hora, Opinião, 2 de setembro de 2013

Semana passada, pouco mais, ocorreu fato que, salvo erro, não tinha precedente. Senador boliviano, alegando fatos graves, solicitou ao Brasil asilo político, que lhe foi concedido na embaixada em La Paz, aliás, segundo antiga tradição nos países da América do Sul.
Passado algum tempo, o encarregado de negócios da embaixada brasileira, que vacante, ter-se-ia dirigido reiteradas vezes ao Itamaraty, no sentido de dar ao asilado devido salvo-conduto, tanto mais que as condições de seu aposento eram manifestadamente deficientes, sem que houvesse consequências. Em data recente, o mesmo diplomata, alegando até razões de humanidade, promoveu o translado do asilado para o Brasil e no Brasil ele se encontra. Conhecido o fato, verificou-se uma espécie de terremoto burocrático que deu por terra o ministro das Relações Exteriores.
Até agora, os fatos só parcialmente são conhecidos, motivo pelo qual não se pode ter visão completa do caso, no entanto, ressalta ao primeiro exame que pouca gente sai ilesa da maçaroca diplomática. Parece mesmo que a notória simpatia do governo brasileiro pelos governos bolivarianos, dos Chávez e dos Evos, explica seu estranho procedimento; tendo concedido o asilo, deixou que 460 dias se passassem sem que nada fosse feito para que o caso tivesse o desfecho regular, deixando que o asilado permanecesse praticamente preso, em um cubículo, impróprio para abrigar um asilado, quando bastasse a entrega do documento legal, o salvo-conduto.
Nunca fui asilado e espero não vir a experimentar essa situação, mas sempre entendi que quem recebe alguém como asilado deve dar-lhe tratamento decoroso e não me lembro de alguém que haja se queixado do trato aqui recebido.
Nesse longo período, mais de 400 dias, é penoso reconhecer que o Itamaraty foi omisso e complacente, e o Padre Vieira dizia que “a omissão é um pecado que se faz não fazendo”. O fato de o asilado aguardar durante esse longo tempo o necessário salvo-conduto, lhe concede certeza e indisfarçabilidade. De resto, ainda que sem uma palavra, outro fato veio a ocorrer em ritmo de urgência, a súbita mudança de endereço do ministro das Relações Exteriores da Esplanada dos Ministérios para Nova York, sede da ONU, e concomitantemente, em sentido inverso, o mesmo caminho foi feito pelo chefe da Representação do Brasil na ONU, de Nova York para a Esplanada dos Ministérios a fim de ocupar a chefia da casa de Rio Branco.
Muda o ministro oficial, mas ninguém ignora que existe uma espécie de esquizofrenia administrativa na pasta das Relações Exteriores, há um ministro inominado, dito assessor da Presidência, que exerce poder incontrastável nos assuntos externos do Brasil, apequenando o Itamaraty.
Até onde sei, e sabendo que não saiba tudo, é o que posso relatar com a objetividade possível do sucesso que absorveu atenções durante uma semana, a que não faltaram capitulação e omissões.
Quem manifestou publicamente seu desagrado ou indignação foi a senhora presidente da República, fato que seria preferível não tivesse aparecido. Exacerbar-se em público não é próprio do chefe de Estado. O natural é que nenhuma palavra fosse dita pela presidente, que poderia fazer saber a verificação do fato e determinar a autoridade competente procedesse na forma da lei. E na forma da lei o caso fosse resolvido pela autoridade competente.
Enfim, o episódio não foi bom para ninguém. É o preço a ser pago pela atual política adotada para com países da América do Sul e outros rincões.

12 de Abril: uma analise qualitativa - Reinaldo Azevedo

A Avenida Paulista tomada por milhares de brasileiros: green and yelow blocs
A Avenida Paulista tomada por milhares de brasileiros: green and yelow blocs
Há mais de uma semana o governo decidiu pautar a cobertura da imprensa, que, com raras exceções, aceitou gostosamente a orientação. Com variações, a cobertura destaca que há menos pessoas nas ruas neste 12 de abril do que naquele 15 de março. Assim, fica estabelecido, dada essa leitura estúpida, que um protesto político só é bem- sucedido se consegue, a cada vez, superar a si mesmo. Isso é de uma tolice espantosa, na hipótese de não ser má-fé. A população ocupou as ruas em centenas de cidades Brasil afora. Mais uma vez, PT, CUT, ditos movimentos sociais e esquerdas no geral levaram uma surra também numérica. Mais uma vez, o verde-e-amarelo bateu o vermelho da semana passada. E é isso o que importa.
De resto, é impossível saber o número de manifestantes deste domingo. Algum veículo de imprensa mandou jornalista cobrir o protesto em Januária, em Minas; em Orobó, em Pernambuco, ou em Ourinhos, em São Paulo? Haver menos gente na Avenida Paulista ou na orla de Copacabana, no Rio, não tem nenhuma importância. Num levantamento prévio, dá para afirmar que o “fora Dilma” foi ouvido em cidades de pelo menos 24 Estados e no Distrito Federal (ainda falta atualização). E — daqui a pouco chego lá — contem com o PT para turbinar os próximos protestos.
Consta que o governo respirou aliviado com o número menor, embora o Palácio do Planalto, ele mesmo, tenha, desta vez, resolvido se calar. Parece que não haverá Miguel Rossetto e José Eduardo Cardozo para cutucar a onça com a vara curta. A boçalidade ficou por conta da militância virtual e paga (farei um post a respeito). Respirou aliviado por quê?
Protesto em Belém: faixa do Movimento Brasil Livre pede a saída da Presidente Foto: Jairo Marques/Folhapress)
Protesto em Belém: faixa do Movimento Brasil Livre pede a saída da presidente (Foto: Jairo Marques/Folhapress)
Respirou aliviado no dia em que o “Fora Dilma” se faz ouvir de norte a sul do país?
Respirou aliviado no dia em que o Datafolha aponta que 63% apoiam o impeachment da presidente?
Respirou aliviado no dia em que a pesquisa revela que 60% consideram o governo ruim ou péssimo?
Respirou aliviado no dia em que essa mesma pesquisa evidencia que 83% acreditam que Dilma sabia da roubalheira da Petrobras e nada fez?
Respirou aliviado no dia em que esse mesmo levantamento demonstra que a crise quebrou as pernas de Lula, pesadelo com o qual o petismo não contava nem nos momentos mais pessimistas?
Por que, afinal de contas, suspira aliviado o governo? Com que jornada futura de boas notícias e alívio dos sintomas da crise ele espera contar? Sim, a indignação com a roubalheira é um dos principais fatores de mobilização dos milhares de brasileiros que foram às ruas. Mas há muito mais do que isso. Há a crise econômica propriamente dita e a sensação, que corresponde à realidade, de que o governo está paralisado.
Acontece que esse mal-estar só vai aumentar porque o pacote recessivo ainda não surtiu todos os seus efeitos. Mais: ninguém nunca sabe quando a operação Lava Jato vai chegar a um fio desencapado, como é o caso de André Vargas, por exemplo. Consta que o ex-vice-presidente da Câmara e petista todo-poderoso, ora presidiário, está bravo com o partido, do qual havia se desligado apenas formalmente.
Acabo de chegar da Avenida Paulista. Havia menos gente do que no dia 15 de Março? Sem dúvida! Mas também sei, com absoluta certeza, que, desta feita, o protesto se deu num número maior de cidades no Estado. No dia 15, encontrei verdadeiras caravanas oriundas de cidades do interior e de outras unidades da federação. Aquele foi uma espécie de ato inaugural. Havia nele a vocação de grito de desabafo, era um enorme “Chega!”. A partir deste dia 12, a tendência é que haja mesmo uma diminuição de pessoas em favor de uma definição mais clara da pauta.
Mas é evidente que se trata de um erro cretino imaginar que menos gente na rua implique que está em curso uma mudança de humor da opinião pública. Não está, não! E que se note: se o protesto do dia 15 tivesse reunido o número de pessoas deste de agora, muitos teriam, então, se surpreendido. Acontece que aquele superou expectativas as mais otimistas. Tomá-lo como régua de um suposto insucesso dos atos deste dia 12 é coisa de tolos ou de vigaristas. Mas o governo e o PT têm direito ao autoengano.
Vejo a coisa de outro modo: os eventos deste domingo, 12 de abril, comprovam o que chamo de emergência de uma nova consciência. Até torço para que o Planalto e o petismo insistam que os atos deste domingo foram malsucedidos. É o caminho mais curto da autodestruição. Esses caras ainda não perceberam que os que agora protestam não querem apenas o impeachment de Dilma. Essa é a pauta contingente. Eles falam em nome de uma pauta necessária, que é apear as esquerdas do poder, ainda que esse esquerdismo, hoje em dia, não passe de uma mistura de populismo chulé com autoritarismo.
Tenham a certeza, petistas e afins: a luta continua!

Registro das manifestacoes de 12 de Abril - Veja.com

Protestos reúnem cerca de 675.000 pessoas em 24 Estados de Norte a Sul, além do Distrito Federal. Atos demonstram que os protestos vieram para ficar

Por: Gabriel Castro, de Brasília - Atualizado em 

Manifestação contra o governo do PT, em São Paulo
Manifestação contra o governo do PT, em São Paulo(Paulo Whitaker/Reuters)

Brasileiros de quase todas as unidades da federação voltaram às ruas neste domingo para protestar contra a corrupção e a inépcia instaladas no governo federal. O protesto reuniu 275.000 pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, e se repetiu em pelo menos 200 cidades. Mais uma vez, sem serem convocados por sindicatos ou partidos políticos, centenas de milhares de pessoas expressaram seu descontentamento com a atual gestão. Embora em menor número do que no dia 15 de março - estima-se que cerca de 600.000 pessoas tenham ido às ruas neste domingo -, eles deixaram claro o sentimento de revolta que, de acordo com as pesquisas de opinião, atingem a maioria do povo brasileiro. Pesquisa Datafolha divulgada neste sábado pelo instituto indica que 63% dos brasileiros são favoráveis à abertura de um processo de impeachment contra a presidente por causa do escândalo do petrolão. Para 57% dos entrevistados, Dilma sabia do esquema de corrupção na Petrobras e deixou que ele acontecesse. Somada a uma pesquisa com resultado tão desfavorável ao governo, a volta das pessoas à rua é a prova de que a indignação contra Dilma e o PT segue em alta.

Confira como foram os protestos em todo o país

Na maior parte das cidades, a manifestação deste domingo foi menor que a do 15 de março. Por outro lado, o movimento ganhou capilaridade. Havia manifestantes organizados contra Dilma em cidades como Laranjal do Jari (AP), São João do Panelinha (BA), Goianésia (GO), Carvalhópolis (MG), Dois Vizinhos (PR) e Imbé (RS). Um mês atrás, os protestos ocorreram em apenas 160 municípios. Flávio Brado, um dos líderes do Vem Pra Rua, comemorou o número de manifestantes e disse que o mais relevante neste domingo foi o aumento no número de cidades com protestos. "Mais importante que o número de pessoas aqui em São Paulo, que já sabemos que nos apoia, foi conseguirmos duplicar, triplicar, o número de municípios que tiveram manifestações contra o governo", afirmou. Segundo ele, o foco agora é levar as demandas populares a Brasília. "Nesta semana, formalizaremos item por item o que tem de ser feito. O voto distrital puro e não obrigatório será uma dos pedidos do grupo".

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A queda no número de manifestantes pode ser atribuída a vários fatores. O 15 de março foi fruto de um longo trabalho de organização de movimentos independentes como Vem Pra Rua, Brasil Livre e Revoltados On-line, que começaram a convocar participantes pelas redes sociais quase dois meses antes. Na semana que antecedeu aquele protesto, dois fatos contribuíram para acirrar os ânimos: o pronunciamento em rede nacional da presidente no dia 8, saudado com um panelaço, e a tentativa do PT e de aliados do sindicalismo de promover uma contramanifestação na antevéspera do movimento.

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Neste domingo, nenhum desses fatores esteve presente. O tempo de organização foi menor e o governo e o PT se mantiveram em silêncio antes da manifestação. O foco do noticiário na última semana foi o Legislativo, com a votação do projeto de lei sobre a terceirização (um dos assuntos mais comentados das redes sociais) e a prisão de três ex-deputados na Operação Lava Jato.

Fora PT

Um dos líderes do Movimento Brasil Livre, Renan Haas, avaliou que, mesmo menor, o protesto deste domingo foi positivo porque, ao contrário de 15 de março, todos os grupos se uniram para pedir a saída da presidente. "Acho que houve menos gente, mas houveram manifestações em um número bem menor de cidades. Mas foi positivo porque a mensagem dessa vez ficou clara. Ninguém estava aqui por uma pauta genérica de corrupção, mas todos os grupos estavam pedindo o impeachment de Dilma Rousseff", afirma.

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Especialmente na era das redes sociais, contudo, a ida às ruas é apenas uma das formas de expressar insatisfação com o governo. A diminuição no número de manifestantes não é necessariamente um sinal de aumento na aprovação do governo. É o que também diz uma pesquisa do Datafolha divulgada neste sábado: o nível de aprovação de Dilma Rousseff está estacionado em 13%. A permanência da pressão popular sobre o governo, evidenciada pelas manifestações deste domingo, deve dificultar o esforço do Planalto para sair da crise de múltiplas faces em que se envolveu.

Os petistas, entretanto, enxergam um princípio de reação do Executivo. "O governo está tomando todas as iniciativas: no combate à corrupção, no ajuste fiscal, atuando contra o projeto de lei da terceirização. A presidente está conseguindo responder bem", afirma o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (PT-AC), admite que ainda é cedo para falar em uma reação definitiva do governo, mas vê sinais de recuperação. "Os números da Petrobras, a questão da articulação política do governo com o Michel Temer, isso somado vai dando uma conotação nova. A popularidade da presidente Dilma não cai mais e tende a subir agora", avalia. Na visão dele, entretanto, o governo só conseguirá se reerguer em definitivo se conseguir aprovar as medidas do ajuste fiscal no Congresso.

Coube, inclusive, ao vice-presidente comentar os protestos em nome do governo. Recém-chegada do Panamá, onde participou da Cúpula das Américas, Dilma passou o dia reclusa no Palácio do Planalto. Durante velório do ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF), ex-senador e ex-deputado gaúcho gaúcho Paulo Brossard, morto neste domingo em sua casa em Porto Alegre, Temer disse que o governo está atento às manifestações. "O governo está prestando atenção. Elas revelam, em primeiro lugar, vou dizer o óbvio, uma democracia poderosa. Mas, em segundo lugar, o governo precisa identificar quais são as reivindicações e atender as reivindicações. É isso que o governo está fazendo."

Já a oposição afirma que os protestos deste domingo têm um recado ainda mais claro do que os de 15 de março. "O governo não pode se iludir com essa redução no número de pessoas. A manifestação dessa vez foi mais enfática em relação ao impeachment. Essa é uma proposta que está sendo assimilada", diz o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). De fato, o grupo do Vem Pra Rua, principal organizador dos atos, só passou a defender o impeachment depois do protesto do mês passado.

O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), afirma que a indignação com o governo permanece elevada: "Não se consegue em toda mobilização repetir a quantidade de povo na rua, mas permanece o sentimento de indignação com relação à corrupção, ao estelionato eleitoral patrocinados pela presidente Dilma e pelo PT e à crise econômica que está afetando o bolso do brasileiro", diz.

Em sua página no Facebook, a ex-candidata à presidência Marina Silva também opinou sobre os protestos desde 12 de abril: "Menos gente nas ruas não significa menor insatisfação; ao contrário, pode até significar um aumento da desesperança, o represamento de uma revolta que pode retornar mais forte depois de algum tempo".

Os protestos e a baixa popularidade de Dilma têm efeito também sobre o Congresso. Com a oposição ao governo nas ruas, muitos parlamentares de partidos formalmente governistas, como PMDB, PP e PR, passaram a complicar a vida do Planalto - se não por pudor e convicção política, por sobrevivência. Os sinais desse realinhamento têm sido notados pelo governo desde o início do ano. Ao adotar oficialmente a defesa da redução de ministérios, por exemplo, a bancada do PMDB na Câmara fez uma clara tentativa de se alinhar ao eleitorado insatisfeito.

Os atos deste domingo e os de 15 de março deixam claro que os chamados movimentos sociais têm agora uma nova conotação - e já não são mais representados exclusivamente pela esquerda ou cooptados pelo PT. De Norte a Sul do país, o discurso petista encontra contraponto em brasileiros que estão dispostos a externar sua indignação, sem que sejam pagos ou convocados a fazê-lo. Não importa quantas pessoas levem às ruas, os recentes protestos não são fruto de um reflexo instantâneo e irrefletido - vieram para ficar. O governo e seus aliados foram responsáveis por devolver às ruas manifestantes apartidários. Mesmo que haja um arrefecimento temporário, não há razão para crer que essa marcha vá parar agora que a militância espontânea está mais organizada e tem uma pauta bem estabelecida. Que o governo se habitue a isso.

(Com reportagem de Eduardo Gonçalves, Victor Fernandes e Talyta Vespa)