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domingo, 6 de agosto de 2017

A Ordem do Progresso (7): resenha de Marcelo de P. Abreu, por Gladson Miranda

Continuidade da transcrição da resenha de Gladson Miranda, desde as postagens anteriores:
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Abreu, Marcelo de Paiva (org.):
A Ordem do Progresso: dois séculos de política econômica no Brasil
2. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014, ISBN 978-85-352-7859-0
íntegra da resenha 
(...)


CAPÍTULO 7 - O INTERREGNO CAFÉ FILHO, 1954-1955

Demosthenes Madureira de Pinho Neto

1.     Introdução

Período relativo ao intervalo entre o suicídio de Vargas e a posse de Juscelino Kubitschek. (pg.143)

2.     A gestão Gudin

Café Filho assumiu a presidência com o suicídio de Vargas e nomeou Eugênio Gudin para ministro da Fazenda, este veio estabelecendo medidas seriamente ortodoxas com relação às políticas econômicas, mas principalmente as atitudes contra a inflação. (pg.143)

A conjuntura econômica externa

O Brasil passava por uma crise com os preços do café e a diminuição nas exportações até o meio do ano de 1954. Em razão disto, Gudin fez tratativas com o Fundo Monetário Internacional para renovar o empréstimo realizado por Aranha. (pg.144)
Em 1955 foi promulgada a Instrução 113 da SUMOC, sendo que a partir daquele momento a Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil (CACEX) tinha autorização para licenças para importar sem cobertura cambial “equipamentos destinados à complementação dos conjuntos já existentes no país e classificados nas três primeiras categorias de importação”. (pg.146)
Essas atitudes tinham como objetivos principais a reforma financeira e econômica interna, mas pode-se dizer que não existiu “qualquer “ruptura”, no que tange ao tratamento concedido ao capital estrangeiro, que tenha sido introduzida pela instrução, já que o governo Vargas, apesar da retórica nacionalista, vinha progressivamente liberalizando a legislação aplicável aos fluxos de capitais privados”. (pg.147)

A política de estabilização doméstica

O mandato de Gudin tinha como objetivos principais “austeridade fiscal e contração monetário-creditícia”, uma vez que foram observados a expansão monetária e o déficit público, ambos em razão da inflação. (pg.147)
Gudin tinha a intenção de iniciar um programa fiscal severo, combinado com a diminuição das despesas públicas e o desenvolvimento da receita orçamentária. (pg.147)
Em razão deste programa, as contrações da expansão do crédito prejudicaram a liquidez que experimentou uma crise ao final de 1954. Mas foi o denominado “confisco cambial” que desencadeou o processo político que levou a troca de Gudin. (pg.149)

3.     A administração Whitaker

A primeira medida de Whitaker foi de acabar com o “confisco cambial”, pois considerava absolutamente ilegal, injusto e contrário à Carta Magna. Esta fase inicial foi de não contenção, pelo menos no que diz respeito ao auxílio às classes produtoras. (pg.149)

A condução da política econômica

Logo em seguida a assumir seu posto, Whitaker experimentou sua primeira crise, a bancária, no ano de 1955, que chegou até ocasionar uma paralisação na atividade da indústria e do comércio. (pg.150)
O novo ministro tentava de várias formas retomar a economia, diante disto entendeu por suspender temporariamente as aquisições de café, até que os concorrentes entendam os esforços que o Brasil fez para reter estoque. (pg.150)
“Whitaker, na verdade, parecia preocupar-se mais com a renda em cruzeiros da lavoura do que com a receita de divisas do país. De fato, a política cafeeira do ministro só era inteligível à luz dos objetivos maiores, encarnados pela reforma cambial com a qual visava restituir à cafeicultura o que o governo apropriava-se por meio do chamado ‘confisco’”. (pg.151)

A reforma cambial

Durante muito tempo o Brasil vinha tendo atitudes cambiais opostas às recomendações das entidades internacionais, especialmente do FMI. Gudin vinha adiando a centralização das taxas cambiais “ações, decorrente do regime de taxas múltiplas, era indispensável à sua política de estabilização interna”. (pg.151)
Foi então que o presidente estabeleceu os termos de uma reforma, tendo como principais condições as seguintes: “a consolidação a longo prazo dos vultosos compromissos externos de curto prazo; a obtenção de um stand by credit, a ser utilizado para evitar flutuações demasiado violentas no mercado livre; e, finalmente, a reformulação do sistema tarifário brasileiro para garantir relativa proteção às indústrias após a eliminação dos ágios cambiais”. (pg.152)
Ao final do governo do presidente Correa, o ministro da Fazenda foi substituído, sendo que o novo ministro, Mário Câmara, iria tentar manter a política monetária ortodoxa que estava sendo buscada. Contudo, restavam apenas mais três meses de governo presidencial e não havia muito mais a ser feito com relação a política econômica. (pg.154)

4.     Considerações gerais

O governo de Café Filho foi pequeno e não há muitos dados para se analisar. Mas pode-se dizer que o PIB e a indústria tiveram crescimentos, apesar de ter sido evidenciada uma constrição dos investimentos no ano de 1955. “No quadro político do pós-guerra, o governo Café Filho pode ser considerado um efêmero triunfo do “golpismo” udenista. Mais do que um ensaio, tratava-se de um anúncio de 1964”. (pg.154-156)


(continua...)

A Ordem do Progresso (6): resenha de Marcelo de P. Abreu, por Gladson Miranda

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Abreu, Marcelo de Paiva (org.):
A Ordem do Progresso: dois séculos de política econômica no Brasil
2. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014, ISBN 978-85-352-7859-0
íntegra da resenha 
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CAPÍTULO 6 - DUAS TENTATIVAS DE ESTABILIZAÇÃO, 1951-1954

Sérgio Besserman Vianna

1.     Introdução

No período de governo do presidente Vargas, a política econômica foi caracterizada como uma opção ao capitalismo, uma vez que fora “apresentada como resultado seja de uma estratégia abrangente e bem definida de desenvolvimento econômico”. (pg.121)
A ideia do governo era separar em dois momentos: primeiramente “haveria a estabilização da economia, o que, na visão ortodoxa das autoridades econômicas de então, consistia fundamentalmente em equilibrar as finanças públicas de modo a permitir a adoção de uma política monetária restritiva, e dessa forma, acabar com a inflação”, em seguida viriam “empreendimentos e realizações”. (pg.121)
Com a vitória de Vargas nas eleições de 1950, os Estados Unidos demonstraram maior vontade em auxiliar financeiramente os programas de desenvolvimento. Ainda em 1950 foi criada a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos - CMBEU, como demonstração dessa disponibilidade e foi essencial para o sucesso do segundo momento das ideias do governo. (pg.122)

2.     Rumo ao colapso cambial, 1951-1952

A política econômica externa

No início do governo as expectativas de melhora na economia eram promissoras, as relações com os Estados Unidos estavam indo bem, o preço do café vinha aumentando desde meados de 1949. (pg.122)
O combate à inflação tinha uma importância na rigidez da época imputado ao aumento das importações. “A inflação era explicada pela expansão dos meios de pagamento que, no caso brasileiro, chocava-se com uma oferta relativamente inelástica no mercado interno agravada pela escassez de oferta de bens de produção que tornava a melhoria de produtividade dependente de importações”. (pg.123)
Em 1952 o país enfrentou uma crise cambial que teve início com a falta de controle do comércio internacional em razão da discrepância presente entre “a concessão de licenças e a efetivação das importações”. (pg.125)

A política econômica doméstica e o desempenho da economia

Foi-se então definido o planejamento econômico do governo, com a concessão do controle para os encarregados a pensar sobretudo de forma mais rígida. (pg.125)
No setor público, as despesas tiveram redução, os custos com investimento foram restringidos, por outro lado, a receita teve aumento, muito por causa do desenvolvimento da economia, mas também em razão da inflação e principalmente da melhora na forma de arrecadar e pela expansão das importações. (pg.126)
A economia teve um bom desempenho, o PIB aumentou de 4,9% para 7,3% nos anos de 1951 e 1952. O setor que mais cresceu foi o de serviços, muito em razão da impulsão ocasionada pelas importações. Os dados mais importantes deste período estão relacionados com os investimentos realizados por causa das importações com taxa de câmbio sobrestimada. (pg.127)

3.     A transição para o novo ministério

Ao entrar no ano de 1953, o país sofria com uma crise cambial posto que o retardamento comercial estava avaliado em cerca de 600 milhões de dólares e a inflação ainda não tinha sido reduzida. O projeto de reorganizar o cenário econômico-financeiro para iniciar o momento de empreender não estava dando certo. (pg.127)

Relações econômicas internacionais

As crises sofridas pelo Brasil por volta dos anos de 1952 ocasionaram grandes atrasos comerciais, os quais levaram o Banco Mundial a resolver intervir na situação promovendo opções. O Brasil então sofreu de duas formas: primeiramente, o país permitiu que o Banco Mundial intervisse coercitivamente para que o Eximbank praticasse exigências rígidas no tocante ao empréstimo de dólares. Seguinte a isso, foi determinada a extinção da CMBEU e como consequência o encerramento dos financiamentos para os projetos apresentados. (pg.129)

Conjuntura econômica e evolução do quadro social e político

No ano de 1953, entra como destaque o empréstimo que o Brasil realizou com o Eximbank, no valor de 300 milhões de reais, com prazo para amortização de apenas três anos e com taxa anual de juros de 3,5%. (pg.130)
Neste mesmo ano foi promulgada a Lei do Mercado Livre, Lei nº 1.807, a qual tinha como um dos principais objetivos o aumento nas exportações, sendo que o mesmo não fora atingido, pois teve seu percentual diminuído em 11% com relação ao ano anterior. (pg.131)
O país ainda passava por inúmeros problemas internos, como, por exemplo, quando eclodiu a greve geral dos trabalhadores. O atual presidente, Vargas, havia realizado um acordo de melhorar a distribuição de renda e a qualidade de vida, mas como não ocorreu a greve emergiu. Além disso, Jânio Quadros vencia as eleições como prefeito de São Paulo o que debilitava a base aliada do governo presidencial. (pg.132)

4.     A nova tentativa de estabilização

O programa Aranha e os resultados de 1953

Aranha assume o Ministério da Fazenda com novas ideias, esperançoso que poderia estabilizar a economia com métodos ortodoxos. Os objetivos ainda não haviam sido estabelecidos, mas sabia-se quais eram os problemas principais: “a situação cambial e o financiamento do déficit público sem emissão de moeda e expansão do crédito”. (pg.133)
Ao promulgar a Instrução 70 o governo tentou abarcar esses dois problemas em uma mesma resolução. Diante dos resultados desta instrução, pode-se dizer que estes foram favoráveis, a exportação estava se recuperando, as importações não caíram e a receita foi elevada. (pg.135)
Os dados mais relevantes do ano de 1953 foram que a inflação aumentou de 12% para 20,8%, a economia não teve crescimento tão baixo, apenas 4,7% menor do que os anos precedentes, a indústria teve crescimento de 9,3%, o PIB de 0,2%. (pg.137)

Novas dificuldades: café e salários

As expectativas para o ano de 1954 eram positivas, esperava-se um crescimento da economia, a confiança também estava sendo depositava na safra do café e na renegociação da dívida com o Eximbank. (pg.138)
Neste ano ocorreu um problema, o salário-mínimo teve aumento de 100%, o que provocou muita tensão política e polêmica. Além disso, o país estava tendo problemas com o café, pois houve uma geada nos principais estados produtores, o que prejudicou em cerca de 3 milhões de sacas. (pg.139)
Ao final do mandato de Aranha, seus objetivos estavam demasiadamente danificados o que comprometia a estabilização econômica, não só em razão dos problemas com o café, como visto, mas também em razão do aumento do salário-mínimo realizado contra a sua vontade, pelo presidente. (pg.140)

5.     A última crise

A crise de 1954 que antecedeu o golpe, o qual derrubou Vargas, foi um dos motivos de enfraquecimento do governo o que possibilitou o presidente se isolar politicamente e criou os requisitos para o golpe ser promissor. (pg.141)
Após o golpe, várias nuances históricas e políticas desabrocharam, inclusive movimentos anti-golpes, mas talvez a mais importante foi a impulsão que a bancada centro-esquerda (PSD-PTB) teve para posteriormente eleger Juscelino Kubitschek. (pg.141)

(continua...)

A Ordem do Progresso (5): resenha de Marcelo de P. Abreu, por Gladson Miranda

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Abreu, Marcelo de Paiva (org.):
A Ordem do Progresso: dois séculos de política econômica no Brasil
2. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014, ISBN 978-85-352-7859-0
íntegra da resenha 
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CAPÍTULO 5 - POLÍTICA ECONÔMICA EXTERNA E INDUSTRIALIZAÇÃO, 1946-1951

Sérgio Besserman Vianna

1.     Introdução

O presente capítulo tem como escopo a política econômica do período em seguida ao final da Segunda Guerra. O governo Dutra teve dois marcos em sua política econômica. Primeiramente, houve uma mudança na “política de comércio exterior, com o fim do mercado livre de câmbio e a adoção do sistema de contingenciamento às importações”. O segundo marco foi a saída de Correa e Castro, ministro da Fazenda, na metade de 1949, “indicando a passagem de uma política econômica contracionista e tipicamente ortodoxa para outra, com maior flexibilidade nas metas fiscais e monetárias”. (pg.105)
Os Estados Unidos foram a única nação que saiu bem financeiramente da última guerra e era o único em condições de fornecer os suprimentos e bens que o restante do mundo necessitava. Como resultado, o mundo sofreu um desequilíbrio no que concerne ao dólar e ao ouro, passando inclusive por um período de escassez do primeiro. (pg.106)
Em 1950 foi criada a União Europeia de Pagamentos, a qual existiu apenas até o ano de 1958, após inúmeras discriminações que os Estados Unidos vinham sofrendo sem responder com retaliação. (pg.107)

2.     Políticas cambial e de comércio exterior

Tais políticas devem ser analisadas conforme as divisas. Os preços no Brasil variaram bastante, chegaram a dobrar em relação aos Estados Unidos nos anos de 1937 e 1945, o que demonstrava o sobre valor da taxa cambial. (pg.107)
Dentre os objetivos dessas políticas “atender à demanda contida de matérias-primas e de bens de capital para reequipamento da indústria, desgastada durante a guerra” e que “a liberalização das importações de bens de consumo (também objeto de forte demanda reprimida) forçasse a baixa dos preços industriais através do aumento da oferta de produtos importados pelo câmbio sobrevalorizado” estavam entre os principais. (pg.108)
Com o final da guerra a importação e a exportação brasileira também foi afetada, os mercados com os fornecedores anteriores retornaram e a economia iniciou sua recuperação. O Brasil estava decidido a manter a taxa de cambio fixa a fim de que esta pudesse ser revalorizada. (pg.109)
O déficit brasileiro conseguiu ter sua redução muito em razão de as importações as quais originavam das moedas conversíveis continuaram a declinar. Além disto, houve também a diminuição dos preços de importação. Esses fatores acabaram por ocasionar o aumento, com a consequente recuperação, dos preços do café. (pg.110)
“As importações permaneceram sob o sistema de controle e extremamente comprimidas. Há indicações de que, em 1949, começou a surgir novo posicionamento frente à questão das importações: o sistema de licenças prévias passava a ser encarado conscientemente como instrumento de promoção de substituição de importações, como se discutirá adiante”. (pg.112)
Os preços elevados do café juntamente com a demanda alta de importação, levaram a maior capacidade do Brasil como importador o que fez com que Dutra liberasse a concessão de licença para importar na segunda metade de 1950. (pg.112)

3.     Substituição de importações e crescimento industrial

Em 1947 foi estabelecido um mecanismo de controle exclusivamente com o objetivo de combater o desequilíbrio externo, a fim de que a moeda estrangeira fosse melhor utilizada e ainda de forma racional, contudo, esse mecanismo acabou por ser muito importante para a indústria após a guerra. (pg.112)
Em razão da “combinação de taxa de câmbio sobrevalorizada” notam-se três consequências: “efeito subsídio, associado a preços relativos artificialmente mais baratos para bens de capital, matérias-primas e combustíveis importados; efeito protecionista, através das restrições à importação de bens competitivos e efeito lucratividade, resultante do fato de que a taxa de câmbio sobrevalorizada tendeu a alterar a estrutura das rentabilidades relativas, no sentido de estimular a produção para o mercado doméstico em comparação com a produção para exportação”. (pg.113)         
No período do governo Dutra, houve a tentativa de estabelecer o Plano Salte, o qual apresentou inúmeras dificuldades em razão da ausência de definições das maneiras de financiamento. Sua implantação ocorreu em 1950 e no ano seguinte já não estava mais sendo utilizado. (pg.114)

4.     Relações internacionais e movimento de capitais

Durante o governo de Dutra, o presidente investiu no desenvolvimento de projetos internos com o objetivo de obter apoio dos Estados Unidos, entretanto, este já estava focado em outros países, mais especificamente na Europa. (pg.114)
Foi definida então uma política em 1948, estabelecendo no que o Brasil deveria se preocupar para poder atrair capitais internacionais, consistindo em três situações: “a reorientação dos capitais formados internamente, o aumento médio de produtividade e o afluxo de capitais estrangeiros”. (pg.115)
Foi então que em 1949, com o discurso do novo presidente dos Estados Unidos, que uma ponta de esperança apareceu, ao dizer que o país passaria a se comprometer em levar conhecimento para as partes menos desenvolvidas do mundo, ato conhecido como “Act of lnternational Development”. (pg.116)

5.     Política econômica interna

Durante o período de Dutra como presidente, a política econômica foi bastante severa, a inflação chegou a alcançar níveis de 14,9%e 20,6% e tornou-se o maior problema da política monetária a ser combatido. (pg.116)
Os primeiros anos de governo foram complicados, no mandato de Gastão Vidigal como ministro da Fazenda houve um déficit nas contas públicas em razão dos salários dos funcionários públicos. No final do ano de 1946 Correa e Castro voltou a ser ministro da Fazenda e implantou políticas mais rigorosas, alcançando um superávit em 1947, após muitos anos. (pg.116)
Por fim, conclui-se que o governo Dutra teve características de crescimento interno, ausência de equilíbrio financeiro, e externamente houve aumento das expectativas de financiamento dos programas de desenvolvimento pelo governo dos Estados Unidos. (pg.119)

(continua...)

A Ordem do Progresso (4): resenha de Marcelo de P. Abreu, por Gladson Miranda

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Abreu, Marcelo de Paiva (org.):
A Ordem do Progresso: dois séculos de política econômica no Brasil
2. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014, ISBN 978-85-352-7859-0
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CAPÍTULO 4 - CRISE, CRESCIMENTO E MODERNIZAÇÃO AUTORITÁRIA, 1930-1945

Marcelo de Paiva Abreu
O presente capítulo tratará sobre a elaboração e efetivação da política econômica durante o período de 1930 a 1945. A repercussão da “grande depressão” na economia mundial ocasionou a redução da importância dos fluxos financeiros e comerciais externos. (pg. 79)

1.     Superação da crise e política econômica do Governo Provisório, 1930-1934

O conflito externo no tocante à economia do Brasil interferiu diretamente nos pagamentos, especialmente no que tange à baixa dos preços de exportação, as quais não alcançaram a compensação mesmo com o aumento da quantidade de produtos exportados e pela suspensão do “influxo de capitais estrangeiros”. (pg. 80)
No ano de 1930, o Brasil tinha inúmeras dívidas com empréstimos internacionais, cerca de 65% correspondia à dívida britânica e 30% à dívida com os estadunidenses. “Os empréstimos norte-americanos eram menos sólidos (mais importantes na área estadual e municipal) e mais onerosos, em vista de terem sido negociados na década de 1920, quando as taxas de juros eram mais elevadas do que no período pré-1914”. (pg. 81)
Dos anos 1930 a 1936 o Brasil passou por algumas dificuldades, grande parte delas relacionadas a economia internacional e também à crise cambial experimentada pelo país. Durante esse período houve redução de capital de algumas empresas, outras chegaram a falir, algumas foram nacionalizadas e até mesmo transferidas dos europeus para os norte-americanos. (pg. 82)
Em 1933 houve um reajuste econômico o que fez com que a situação financeira do café melhorasse, inclusive as dívidas dos produtores tiveram redução de 50% e renegociadas por um prazo de 10 anos. (pg. 84)
No ano de 1930 o padrão-ouro foi posto de lado o provocou o rompimento do vínculo entre o choque externo e o estreitamento monetário. Contudo, a base monetária só veio se recuperar da queda a partir de 1931, depois de o Ministro da Fazenda, Whitaker, sair do posto. (pg. 85)
“Após cair 9% entre 1928 e 1930, e permanecer praticamente estagnado em 1931-1932, o produto industrial cresceu 10% ao ano entre 1932 e 1939. A participação das importações na oferta total (a preços de 1939) caiu de 45% em 1928 para 25% em 1931 e 20% em 1939”. Esses dados nos levam a perceber que o comportamento da indústria não era exclusivamente dependente do café. (pg. 86)

2.     Boom econômico e interregno democrático, 1934-1937

O câmbio não teve melhora, nem com a atenuação do balanço de pagamentos relacionado com o “descongelamento de atrasados cambiais”. Em 1934 as pressões dos norte-americanos ficaram mais fortes a fim de que o país realizasse uma mudança no regime cambial. (pg. 86-87)
A partir do início de 1935, apesar de a taxa de câmbio de importação ter se mantido estável até o ano de 1937, a de exportação teve variações consideráveis. Em razão disso, o Conselho Federal de Comércio Exterior chegou a autorizar situações de isenção parcial ou total das taxas de câmbio. Essa atitude gerou o aumento em 19% do valor das exportações entre o período de 1935 a 1936. (pg. 87-88)
Apesar de inúmeras dificuldades com o balanço de pagamento, a economia manteve o crescimento de 8% ao ano durante 1934 a 1937. “Entre 1919 e 1939, a despeito de o produto industrial haver triplicado, a participação dos gêneros industriais produtores de bens de consumo no valor agregado industrial caiu apenas de 80% para 70% (Fishlow, 1972)”. (pg. 88-89)
Em 1934 houve uma reforma tributária e em 1935 o Brasil assinou um tratado com os Estados Unidos, a fim de impedir danos consideráveis à “produção industrial doméstica”. Esse acordo ocasionou para o Brasil a mais importante negociação comercial da década de 1930. (pg. 89)
O Brasil vinha sofrendo pressões dos norte-americanos, mas no ano de 1934, contrariando as ideias de seu aliado, consolidou um acordo comercial com a Alemanha para intercâmbio de mercadorias. Em razão deste acordo as vendas de algodão e café para a Alemanha aumentaram significativamente. (pg. 91)
Neste ano ainda o Brasil enfrentava dificuldades com o preço do café, que teve diminuição, inclusive em razão da queda nas exportações com os Estados Unidos, entretanto, as exportações para a Alemanha e Reino Unido continuaram a crescer e até para o Japão ganhou importância. (pg. 92)
Os Estados Unidos mantiveram sua posição como exportador, tendo uma participação de cerca de 23-25%, já a Alemanha e o Reino Unido trocaram de posição, enquanto a Alemanha aumentava sua parcela o Reino Unido diminuía. Pode-se afirmar que houve uma substituição dos produtos, sendo que os britânicos tiveram sua participação reduzida de 19% para 11% e os alemães aumentaram de 12% para 20%. (pg. 92-93)

3.     Estado Novo e economia de guerra, 1937-1945

A chegada do Estado Novo em 1937 fez com que algumas tendências amadurecessem. Novas agências do governo foram criadas a fim de que o poder central fosse fortalecido para que a área econômica conseguisse alcançar seus objetivos reguladores. (pg. 93)
Ainda naquele ano, houve a adesão de um “monopólio cambial do governo”, o qual teve como justificativa a escassez de divisas, responsável principal pelo aumento das importações. (pg. 93)
As relações com os Estados Unidos permitiram a criação de uma missão promovida por Aranha. Esta tinha como tópicos, dentre outros, “questões relacionadas à defesa nacional, às relações comerciais, à dívida pública externa e ao tratamento recebido pelos investimentos diretos norte-americanos no Brasil a serem discutidos com o Departamento de Estado – e assuntos ligados à política cambial, criação de banco central e planos de desenvolvimento de longo prazo na órbita do Tesouro norte-americano”. (pg. 94)
Os compromissos foram respeitados, entretanto, esta missão foi uma tentativa de reaproximação do Brasil com os Estados Unidos, em detrimento da Alemanha. (pg. 95)
A início da guerra não foi inteiramente favorável as exportações brasileiras, contudo, durante os anos de 1941-1942 os Estados Unidos e o Reino Unido tiveram uma diminuição em suas exportações em razão da guerra, o que fez com que o Brasil assumisse o posto de suprir essa falha. (pg. 95)
“As dificuldades relativas à obtenção de importações resultaram em efeitos contraditórios sobre o desempenho da economia. Por um lado, a produção de determinados bens podia desenvolver-se sem a alternativa de suprimento externo; por outro, o crescimento industrial era limitado pela dificuldade de obtenção de insumos essenciais e de bens de capital que possibilitassem a ampliação da capacidade”. (pg. 96)
As limitações do comércio do Brasil ocasionaram uma subordinação do Brasil aos Estados Unidos, tanto com relação as importações, como das exportações. O Brasil ainda ficou condicionado com relação aos preços do café, que independentemente da pressão realizada ainda teve de se sujeitar aos Estados Unidos. (pg. 97)
A relação brasileira com os britânicos durante o período da Segunda Guerra se baseou principalmente no fato de ambos estarem preocupados em: “minimizar o custo imediato das importações necessárias ao esforço de guerra numa conjuntura de notável escassez de reservas de moeda conversíveis, especialmente dólares”. (pg. 98)
Durante o governo Vargas, especialmente no ano de 1937, havia uma preocupação em investir em transporte e nas forças armadas, mais do que quitar a dívida externa. Em razão deste fato, o Brasil naquele ano pagou menos do que presumidamente teria condições, ao contrário do ocorrido no ano de 1930, o qual o país arcou com muito mais do que poderia. (pg.100)
A dívida pública foi negociada por duas vezes durante o período da guerra. A primeira vez no ano de 1940 e a segunda, de forma definitiva no ano de 1943. (pg.100-101)
“Ao período de guerra correspondeu a estagnação do total de capitais estrangeiros privados investidos no Brasil (algo inferior a US$700 milhões), ocorrendo um aumento das inversões norte-americanas, especialmente a partir de 1943 (em atividades manufatureiras) e redução das inversões europeias”. Com a guerra se encaminhando para o final, o Brasil começou a se sentir incomodado com as relações com os Estados Unidos e tentou usar o Reino Unido como sobrecarga, uma vez que aquele país se demonstrava cada vez mais hostil. (pg.102)
Os Estados Unidos se demonstravam insatisfeitos com países que não tinham representantes eleitos de forma democrática. No ano de 1945 Vargas foi deposto e houve uma mudança nas políticas norte-americanas com relação ao Brasil. Após essa fase, iniciou-se um ciclo de supremacia política e econômica das preferências norte-americanas no Brasil. (pg.103)

(continua...)