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quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Desconstruindo Bretton Woods: a fragmentação do multilateralismo econômico pelo novo nacionalismo antiglobalista - Paulo Roberto de Almeida


Desconstruindo Bretton Woods: a fragmentação do multilateralismo econômico pelo novo nacionalismo antiglobalista

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: evolução institucional da economia mundial, sob o impacto dos antiglobalistas; finalidade: palestra na graduação em RI da Univali, SC] 

1. Bretton Woods: onde começou a ordem econômica contemporânea
Estive em Bretton Woods duas vezes, quando residi, com minha família, nos Estados Unidos: em 2000, quando servia na embaixada em Washington, e em 2014, quando trabalhei no consulado geral do Brasil em Hartford, capital do Connecticut, bem mais próximo daquela aldeia do New Hampshire onde se realizou a famosa conferência financeira e monetária das nações aliadas (várias ainda sob ocupação nazista), em julho de 1944. Nas duas ocasiões, fui conhecer o histórico hotel que abrigou menos de meia centena de delegações de nações aliadas – com governos no exílio, como Bélgica, Países Baixos, a própria França, e a União Soviética, que participou mas acabou não aceitando as duas instituições –, e aproveitei para comprar mais alguma literatura sobre o grande encontro que definiu as bases da ordem econômica multilateral que se planejava criar para o pós-guerra.
Não é o caso de contar aqui a história da conferência que resultou na criação das duas organizações fundamentais no estabelecimento da ordem econômica que deveria presidir ao restabelecimento da vida normal no pós-guerra (cujo final ainda estava um ano à frente). Já me debrucei várias vezes sobre a conferência e sobre a participação do Brasil, e posso aqui indicar alguns trabalhos feitos a esse efeito. Efetuei uma postagem em meu blog sobre os temas relativos a Bretton Woods, ao FMI e à construção da ordem econômica internacional desde aquela época (os interessados podem acessar o seguinte link de meu blog Diplomatizzando: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/09/a-ordem-economica-de-bretton-woods.html). O objeto, e o objetivo, deste texto é o desmantelamento atual dessa ordem, sob o efeito de causas estruturais, derivadas de um longo processo de mudanças e transformações na própria institucionalidade de Bretton Woods – não apenas FMI e Banco Mundial, mas também o sistema multilateral de comércio, iniciado pelo Gatt-1945 e revisto diversas vezes até resultar na OMC e no Gatt-1994 – e de causas contingentes, conjunturais, ou circunstanciais, sob o impacto dos chamados antiglobalistas atuais, capitaneados pelo presidente Donald Trump e certos líderes da nova direita nacionalista europeia. Vou me deter primeiro na trajetória histórica, para depois abordar a situação atual do que se pode desde já chamar de inversão do multilateralismo econômico do pós-Segunda Guerra.

2. De onde viemos, onde chegamos na construção da ordem econômica mundial
Ainda que se possa colocar muita responsabilidade nas ações, palavras, medidas efetivas tomadas pela atual administração americana, desde o início do governo Trump, em janeiro de 2017, o desmantelamento da ordem econômica criada em Bretton Woods, em 1944, e complementada em Genebra, em 1947 (Gatt), e em Havana, em 1947-48 (conferência econômica da ONU, que criou a natimorta Organização Internacional do Comércio), não resultou tão apenas dessas atitudes antiglobalistas adotadas pelo presidente americano. Trata-se de um longo processo de erosão gradual das bases de funcionamento das economias de mercado, a partir de medidas inconsistentes com sólidos fundamentos monetários e financeiros desde praticamente o final do padrão ouro, ou do padrão ouro-dólar, já no regime de Bretton Woods. Recomendo, a esse propósito, a leitura do livro de Liaquat Ahamed, Lords of Finance: the bankers who broke the world, disponível em edição brasileira sob o título de Os Donos do Dinheiro: os banqueiros que quebraram o mundo, que reconstitui a ordem, ou a desordem, econômica que vigorou desde a belle époque até a Grande Depressão.
O regime, ou o sistema, de Bretton Woods, funcionou, de verdade, apenas por um curto período de tempo, limitado basicamente aos anos 1960, quando ele já começou a fazer água. Logo após a entrada em vigor dos principais arranjos concertados em Bretton Woods e a partir do início do funcionamento das duas instituições irmãs – FMI e Banco Mundial –, começaram a emergir pequenos desajustes nos compromissos acertados sob o esquema de paridades estáveis de algumas das principais moedas dos membros: tanto a Grã-Bretanha, quanto a França desvalorizam as suas respectivas moedas, a libra e o franco francês, numa proporção muito acima daquela permitida pelo Fundo, que exigia aprovação prévia do Board. Os dois países o fizeram no contexto das enormes dificuldades surgidas no imediato pós-guerra, quando o Plano Marshall ainda não tinha começado a funcionar plenamente, o que só ocorreu após a criação da OECE.
A maior parte dos países europeus, aliás, só retornou à conversibilidade plena de suas respectivas moedas no final dos anos 1950, quando finalmente o sistema de Bretton Woods parecia prestes a começar a funcionar de acordo com a “pureza original” das “tábuas da lei”. Mas já em 1958, o economista belga refugiado nos Estados Unidos na época do nazismo, Robert Triffin, publicara um livro premonitório, um alerta preventivo sobre a impossibilidade prática de pleno funcionamento do padrão ouro-dólar concertado em Bretton Woods: Gold and the Dollar Crisis realmente antecipou um debate que iria surgir apenas uma década após.
No decorrer dos anos 1960, os Estados Unidos, confrontados à emergência do poder soviético no período da Guerra Fria – bomba atômica russa em 1949, quatro anos antes do previsto pelos analistas americanos, guerra da Coreia, de 1950 a 1953, bomba de hidrogênio soviética em meados daquela década, derrota francesa no Vietnã para os comunistas de Ho Chi Min, Sputnik em 1958, nacionalismo no Egito e não alinhamento no Terceiro Mundo –, começam a gastar milhões de dólares com a construção de bases militares nos pontos quentes do planeta e a formação de alianças militares com Estados clientes, além do envolvimento direto, com homens, armas, equipamentos e ajuda, na guerra do Vietnã, um imenso sorvedouro de recursos. Em meados dessa década, o Tesouro americano começa a ter dificuldades para honrar os compromissos assumidos em Bretton Woods, ou seja, trocar os dólares detidos por países superavitários na relação comercial (todos os europeus, em princípio) na cotação então fixada em 1944: 35 dólares por onça de ouro.
Com a montanha de dólares despejada no mundo, simplesmente não haveria ouro suficiente em Fort Knox para honrar essa obrigação. Um dos primeiros filmes de James Bond, aliás, me parece envolver um desses vilões dos filmes de espionagem, que planejava roubar todo o ouro depositado nesse grande cofre do Kentucky. Alguns países ainda conseguiram fazê-lo, como a França de De Gaulle, que trocou seus milhões de dólares de reservas em ouro, e ainda aproveitou para retirar o país do esquema militar da OTAN, o organismo de segurança coletiva criado pelo Tratado de Washington de 1949, segundo o modelo que tinha sido testado dois anos antes no Rio de Janeiro, com o TIAR, o tratado interamericano de assistência recíproca. Mas a Alemanha e o Japão, que também detinham milhões de dólares em reserva, ao mesmo tempo em que abrigavam tropas americanas de ocupação, não puderam fazê-lo. O Secretário do Tesouro americano à época, Douglas Dillon dizia que eles não precisavam se preocupar: dollar is as good as gold, tão bom quanto ouro.
A ilusão da manutenção da aparente estabilidade monetária e cambial de Bretton Woods só durou alguns anos mais. Em agosto de 1971, confrontados a um imenso déficit comercial em relação ao resto do mundo, e já enfrentando o crescimento da dívida doméstica, os Estados Unidos decidem se retirar unilateralmente dos compromissos de Bretton Woods. Com isso o dólar começa a se enfraquecer e o valor do ouro se valoriza consequentemente. Em meio à enorme volatilidade criada por esse vácuo institucional nos mercados cambiais – durante a qual o economista James Tobin sugere a criação de uma taxa sobre as transações financeiras, a Tobin Tax, jamais implementada –, o FMI decide, finalmente, suspender de seu convênio constitutivo o artigo que prescrevia a adoção de um regime de paridades cambiais estáveis (ainda que reajustáveis), para as moedas dos países membros. Os países decidiriam, soberanamente, qual regime cambial adotar: alguma âncora em divisa forte, eventualmente paridade fixa com o dólar, ou modalidades diversas de flutuação cambial.
Desde então, o mundo entrou num não-sistema financeiro internacional, com todos os males e bônus desse tipo de regime: maior flexibilidade para o uso – ou manipulação – das taxas de câmbio, mas também maior volatilidade nos mercados financeiros e nas políticas monetárias. No período imediatamente anterior, o FMI tinha adotado uma “moeda” de referência, um ativo puramente escritural, para se substituir ao ouro, destinado a abastecer as operações de assistência do FMI com o uso desse novo ativo em favor de países com desequilíbrios agudos nas transações correntes e no balanço de pagamentos: os direitos especiais de saque, uma moeda contábil, baseada nas cinco principais divisas mundiais: o dólar, em maior proporção, o marco alemão e o iene japonês, das duas maiores economias seguintes, mais a libra britânica e o franco francês. Curiosamente, a aprovação do DES, ou SDR, em inglês, foi obtida na única assembleia do FMI e Banco Mundial realizada no Brasil, no Rio de Janeiro em 1967; mas, a nova moeda só entrou em vigor nos anos 1970.

3. O não-sistema financeiro internacional e as crises econômicas e monetárias
Os anos 1980 e 1990 – como aliás já era o caso em décadas anteriores – foram anos de crises monetárias e financeiras em diversas ocasiões. Tudo começou com a referida desvinculação do ouro em dólar, em 1971, que precipitou o primeiro choque do petróleo, em 1973, que também tinha razões políticas – os conflitos dos países árabes, dominantes na OPEP, com Israel, e contra os países ocidentais apoiavam o Estado judeu –, mas que respondia fundamentalmente à grande desvalorização do dólar, o que diminuía, e muito, os ganhos dos exportadores de petróleo, uma vez que o preço do barril permaneceu estável desde os anos 1950, quando as grandes companhias ocidentais de petróleo dominavam os mercados.
Já não era mais o caso desde os anos 1960, quando foi criada a OPEP, e nos anos 1970, quando praticamente todos os países produtores nacionalizaram as empresas estrangeiras do setor. A primeira crise do petróleo trouxe consigo um fenômeno não previsto nos manuais econômicos keynesianos: a estagflação, ou seja, inflação em alta, em meio à recessão ou estagnação e aumento do desemprego. Foram anos de ajustes para as principais nações industrializadas, que diminuíram o componente petróleo em suas matrizes produtivas. O Brasil, infelizmente, não fez isso: iniciou um custoso e inflacionário programa do álcool – embora positivo a médio e longo prazos – e, no curto prazo, se endividou em dólares (baratos, à época, com a massa de petrodólares que precisavam ser reciclados) para cobrir a fatura petrolífera, que simplesmente triplicou: o Brasil importava então cerca de 80% do óleo que consumia. A Petrobras só passou a ser eficiente dos anos 1980 em diante, antes de ser quase destruída, dilapidada pela corrupção desmesurada das ratazanas do PT.
O segundo choque do petróleo, em 1979, logo depois da revolução iraniana, representou mais um abalo na economia mundial, não tanto para os países avançados, que já tinham realizado seus ajustes estruturais, mas para os países em desenvolvimento, que tinham se endividado abundantemente com empréstimos a taxas de juros negativos até aquele ano. Quando, a partir de 1980, os juros começaram a subir, sob o comando de Paul Volcker no Federal Reserve, o banco central americano, os países da América Latina entraram em insolvência, como ocorreu com o México, em agosto de 1982, e com o Brasil, três meses depois. Foi o início da chamada “década perdida” na região e, no Brasil, o começo da aceleração inflacionária que o levou a quatro ou cinco planos frustrados de estabilização macroeconômica e à troca de sua moeda nacional seis vezes sucessivamente, com toda a supressão de zeros em níveis astronômicos. O Brasil é realmente um campeão da troca de moedas, oito vezes no total, desde a substituição do mil-réis, que tinha vigorado por alguns séculos, pelo cruzeiro, em 1942.
Nos anos 1990, tivemos mais crises financeiras, com algumas mudanças tentativas nos sistemas monetário e financeiro internacionais, tal como administrados pelas instituições de Bretton Woods. Naquela década não se tratava tanto de introduzir um novo regime cambial – pois praticamente 90% dos países se guiavam pela flutuação, sob diversas modalidades –, mas de introduzir um novo patamar de liberalização nos movimentos de capitais, o que nunca tinha sido anteriormente considerado no âmbito das instituições de Bretton Woods. A realidade é que, depois dos ajustes feitos nos anos 1980, a maior parte dos países avançados já tinha eliminado as principais restrições aos movimentos de capitais, e liberalizado amplamente seus setores financeiros. Para o FMI, portanto, se tratava de introduzir uma mudança nos artigos constitutivos, fazendo dessas restrições não a norma, mas a exceção no tratamento dado à terceira parte do balanço de pagamentos, que trata justamente das operações financeiras, com entrada e saída de capitais autônomos. Mas, com o estalar da crise financeira nos mercados asiáticos em 1997 – seguido da moratória russa de 1998 e da própria crise brasileira nesse ano –, essa tentativa foi abandonada, e ainda não voltou à pauta das organizações de Bretton Woods.
Estas, portanto, já não são mais o que eram nos dez ou quinze anos iniciais, e se transformaram amplamente a partir da implosão do socialismo, no final dos anos 1980 e início dos 90, e da absorção de novos entrantes: a Rússia pós-soviética, a China do socialismo de mercado e todos os demais países em transição para o capitalismo da Europa oriental. O debate passou a ser outro: a mudança de padrões e a alteração do poder decisório nesses organismos, a partir do peso econômico dos emergentes dinâmicos. Algumas mudanças foram feitas, mas não todas as desejadas por estes últimos, como a diminuição do poder de voto – proporcional à participação no capital constitutivo – dos pequenos europeus e a eliminação do poder de veto dos Estados Unidos.
Depois das crises financeiras dos mercados emergentes, no final dos anos 1990, o mundo conheceu um período extraordinário de crescimento econômico, como nunca tinha ocorrido desde o primeiro choque do petróleo, combinado a uma também extraordinária ascensão da China, convertida em segunda potência econômica mundial, à frente da Alemanha e depois do Japão, e em compradora voraz de 1/5 a 1/3 de várias das commodities transacionadas internacionalmente. O Brasil se beneficiou bastante desse boom das matérias primas, com uma incrível valorização de seus preços de mercado, mas infelizmente não soube aproveitar a bonança chinesa para empreender necessárias reformas estruturais de segunda geração, que deveriam ter sucedido ao bem sucedido Plano Real de estabilização macroeconômica, em 1994, depois aperfeiçoado pelos ajustes feitos em 1999 (regime de metas de inflação, superávits primários, responsabilidade fiscal e, justamente, flutuação cambial). Ao contrário, teve início um longo processo de crescimento das despesas públicas que redundou uma década depois na maior crise econômica de nossa história.
O boom da economia mundial veio a termo, mas sobretudo nos países avançados, não tanto nos emergentes, pela primeira vez na história econômica mundial. A crise teve inicio a partir de 2007, com o estouro da bolha imobiliária nos EUA, seguida, no ano seguinte, com efeitos ainda mais devastadores, de uma crise bancária, econômica e financeira de amplitude mundial, atingindo vários países europeus (notadamente Grécia, Itália, Espanha, Portugal, Irlanda e Islândia). O que deveria ser uma “marolinha” para o Brasil, segundo se gabou o presidente Lula em 2008, converteu-se no ano seguinte numa mini-recessão, mas invertida no ano seguinte com um excepcional crescimento de mais de 7% em 2010, mas à custa de um aumento excessivo no crédito público, ademais de outros equivocados mecanismos de sustentação da demanda, que contribuíram para fazer o Brasil mergulhar na maior recessão de toda a sua história econômica.

4. Uma nova Guerra Fria econômica: o mundo de Bretton Woods prestes a ruir?
As organizações de Bretton Woods desempenharam um papel positivo nos diversos processos de ajuste e no enfrentamento das crises por que passaram países avançados e em desenvolvimento, numa fase em que praticamente todos os bancos centrais se empenhavam em reduzir juros, prover liquidez e salvar diversos dinossauros econômicos de uma falência certa. Alguns de fato foram salvos – talvez erradamente –, outros pereceram nos desastres criados por eles mesmos, uma cidade inteira – Detroit – foi declarada falida, e ocorreram muitas fusões de bancos e de empresas, assim como surgiram, no lugar das pesadas indústrias da segunda revolução industrial, empresas mais ágeis, virtuais, oferecendo intangíveis, ou seja, informação e comunicações. A globalização conheceu sua terceira onda.
O que surgiu, também, no seguimento dos ataques terroristas de 2001 e no tratamento basicamente militarizado que os EUA e outros países pretenderam empreender na “guerra ao terror”, foram núcleos esparsos de movimentos fundamentalistas, geralmente islâmicos, que passaram a integrar o cenário geopolítico do século XXI. Paralelamente, massas imponentes de refugiados políticos e de emigrados econômicos passaram a demandar os países preferenciais de acolhimento em volumes significativos: essencialmente a Europa ocidental e a América do Norte. Essas massas de migrantes internacionais, inéditas desde as invasões bárbaras do Ocidente medieval ou desde os grandes fluxos de emigrantes voluntários da Europa em direção ao Novo Mundo, entre o final do século XIX e o início do XX, gerou o surgimento ou o reforço de movimentos anti-imigratórios, de partidos nacionalistas de direita, conservadores ou até mesmo reacionários, xenófobos, com seu séquito de líderes populistas que contemplavam as difusas reações dos desempregados pela industrialização na periferia, os novos órfãos da globalização.
O poder de transformação das instituições internacionais, e da maior parte dos pequenos países europeus é, contudo, muito limitado em face desses desafios trazidos pelos milhões de migrantes em diversos continentes e pelas ondas de choque de novos agentes econômicos e alguns grandes competidores no cenário global. Esse não é, porém, o caso dos EUA, ainda hegemônicos, mas onde, no entanto, se manifestou de forma aguda o mesmo fenômeno da rejeição ao estrangeiro, ao imigrante ilegal. A eleição de Donald Trump, em novembro de 2016, representou um desafio ainda maior para a ordem econômica mundial criada em Bretton Woods e transformada paulatinamente ao longo de décadas de construção de uma nova governança feita sob a égide do G7, do G8 (depois desativado com a invasão da Ucrânia pela Rússia) e pelo G20 financeiro, instituído depois da crise econômica de 2008. Sua assunção ao poder nos EUA representou uma alteração de peso na coordenação econômica e política, mas justamente no sentido da descoordenação e no desmantelamento dos mecanismos que compunham o capitalismo global e a ordem econômica interdependente surgida depois da implosão do socialismo como alternativa às democracias de mercado.
O atual presidente americano exibe uma compreensão muito limitada das realidades econômicas da globalização, assim como da própria dinâmica da economia americana. Seu slogan de “fazer a América grande de novo” é totalmente contraditório a partir das cadeias de valor, criadas pelas próprias empresas americanas, e da interdependência concreta na qual vivem as grandes potências econômicas e seus sócios menores ao redor do mundo inteiro. O mais surpreendente é ver os chefes das grandes empresas americanas, assim como os líderes congressuais serem complacente com sua imensa incultura econômica, ao ponto de arriscar a sobrevivência a longo prazo da grande hegemonia econômica americana que deveria ainda vigorar no curso do século XXI, tendo em vista a imensa capacidade de inovação e de flexibilidade do capitalismo global americano nesta nova onda de globalização.
O que estamos assistindo, desde o início da administração Trump, é uma nova realidade política, mais exatamente ideológica – de alguma forma identificada com esse fenômeno esquizofrênico que passou a ser chamado de antiglobalismo –, que pode impactar profundamente tanto a economia quanto a política mundial na atualidade e talvez nos anos à frente. Depois de meio século de Guerra Fria geopolítica, que correspondia à antiga confrontação bipolar dos anos 1947-1991, o mundo conheceu uma década, se tanto, de unipolaridade arrogante do novo império universal, mas oportunamente desafiado, no plano estratégico, pelo renascimento do neo-czarismo de Putin, na Rússia, e logo em seguida pela formidável ascensão da China no plano econômico. Ainda que essa nova realidade passou a representar uma difícil transição para uma espécie de Guerra Fria Econômica – que também apresenta aspectos geopolíticos, mas mais de natureza mais econômica e tecnológica do que propriamente militar –, a sensibilidade de um estadista como Obama parecia conformar-se ao cenário que o historiador Neill Ferguson chamou de “Chimérica”, ou seja, uma intensa imbricação, praticamente uma osmose, entre os potenciais econômicos da China e dos EUA, com um imenso poder de transformação das realidades mundiais, não apenas reciprocamente, mas sobretudo em direção das periferias e dos novos atores econômicos emergentes, como o próprio Brasil, por exemplo. Em outros termos, um mundo novo poder ter surgido a partir de um espírito colaborativo e de integração efetiva entre as duas grandes economias.
A ignorância econômica de um Trump, assim como estilo agressivo de um Putin, somados à paranoia tradicional da paranoia dos generais do Pentágono, fizeram ruir essa possibilidade, talvez pelas próximas décadas. Não vou discorrer, neste momento e neste espaço sobre os cenários geopolíticos que podem surgir a partir dos equívocos de um dirigente inepto e prejudicial aos próprios interesses nacionais americanos. O que importa reter, no contexto deste breve ensaio, é o desmantelamento do mundo de Bretton Woods que Trump empreende com uma fúria propriamente avassaladora. A destruição se dá bem mais no universo do sistema multilateral de comércio do que no terreno dos movimentos de capitais e fluxos cambiais, mas as medidas incoerentes tomadas pelo presidente americano atingem também os investimentos diretos, os contratos e licenciamento de tecnologias, as possibilidades de transferência de know-how, a cooperação científica e as iniciativas e ações conjuntas nos grandes terrenos dos commons: meio ambiente, direitos humanos, evasão de divisas, fuga de capitais, pirataria nos mares, lavagem de dinheiro, tráficos humanos, de armas e de drogas, criminalidade transnacional e fluxos de migrantes, além do combate ao terrorismo fundamentalista, de alcance mundial. Ou seja, tudo isso fica comprometido.
Bretton Woods tinha sido concebido como um projeto de construção de um mundo aberto ao comércio e aos investimentos com base em regras multilaterais consensualmente acordadas, ainda que de certa forma moldadas pelo poderio americano, então em sua fase de maior projeção mundial. Sua universalização, durante o maior período da segunda metade do século XX, tinha sido obstaculizada pela alternativa socialista, que se manteve enquanto durou a ilusão econômica do comunismo e a existência de um sistema autocrático poderoso, comprometido com a contestação, se possível eliminação, dos sistemas democráticos de mercado, o que finalmente veio a termo com a implosão da União Soviética. A emergência do “socialismo de mercado” na China, de fato um capitalismo com forte intervenção estatal, não deveria ser um obstáculo à consolidação da interdependência econômica mundial, e à emergência progressiva das quatro liberdades mencionadas em famoso discurso do grande estadista americano, Franklin Delano Roosevelt, o homem que, em apoio ao inglês Churchill, possivelmente o maior estadista mundial de todos os tempos, salvou o mundo de mergulhar numa tirania inédita em termos históricos.
A ignorância econômica, a inconsciência política, o despreparo intelectual, a incultura filosófica do dirigente da (ainda) mais poderosa nação econômica, militar, e até cultural do mundo comprometem a possibilidade de uma convergência entre soberanias distintas, mas possivelmente confluentes na busca de prosperidade e bem-estar da comunidade humana, sem os resquícios dos imperialismos do passado. Tal cenário de cooperação e de construção de projetos comuns de desenvolvimento humano ficam postergados durante algum tempo, esperando que a fragmentação da presente conjuntura não reforce tendências e posturas ainda mais conflitivas no cenário geopolítico. Esse nefasto dirigente atual da nação americana não é certamente o único a partilhar dessas concepções antiglobalistas particularmente prejudiciais, além de esquizofrênicas, do ponto de vista de uma cultura humanista. Mas ele é certamente o mais poderoso, para o qual convergem outros medíocres do neopopulismo anacrônico. Cabe esperar que essas tendências se dissipem num futuro breve. Esta é a minha aspiração.

Paulo Roberto de Almeida
Em voo Brasília-Navegantes, Balneário Camboriú, 18-19/09/2019.

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Militância financiada na defesa do capitão? - Ricardo Galhardo (O Estado de S.Paulo)

Militância pró-Bolsonaro quer criar cadastro nas redes para evitar racha

Ação é resposta à convocação feita na véspera pelo escritor Olavo de Carvalho, que publicou um vídeo no qual pede a criação de uma militância bolsonarista

Diante da ameaça de racha na base em função do movimento contra a agenda de combate à corrupção, alguns dos principais influenciadores bolsonaristas nas redes sociais propuseram a criação de um cadastro para militantes em defesa de Jair Bolsonaro. 
Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro  Foto: Isac Nóbrega/PR
A iniciativa partiu de Allan Santos, responsável pelo site Terça Livre, que na manhã desta segunda-feira, 16, divulgou um formulário pelo qual os militantes devem fornecer dados como e-mail, nome completo, código de área e número do telefone celular. A hashtag #EstouComBolsonaro ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter, o que levou usuários das redes a apontarem uma ação coordenada em defesa do presidente Jair Bolsonaro e seus aliados mais próximos. 
A ação é uma resposta à convocação feita na véspera pelo escritor Olavo de Carvalho, guru do presidente, que publicou um vídeo no qual pede a criação de uma militância pró-bolsonaro. 
“A coisa mais urgente no Brasil é uma militância bolsonarista organizada. Notem bem, não disse militância conservadora nem militância liberal. A política não é uma luta de ideias, é uma luta de pessoas e grupos”, disse Olavo. “Tem que parar com essas concepções ideológicas gerais que não levam a parte alguma. Você saber que é conservador não quer dizer que saiba o que fazer no momento decisivo. O que você tem que saber é exatamente de que ação se trata, o que temos que fazer”, completou o guru do presidente. 
Leandro Ruschel, seguidor de Olavo e um dos principais influenciadores bolsonaristas no Twitter, sugeriu que a disputa política deve ser feita diariamente, por militantes organizados e “financiados”, e não a cada dois anos. 

“Nos EUA, há uma militância conservadora super organizada e financiada defendendo Donald Trump diariamente, enquanto do outro lado, há uma militância ainda mais organizada e financiada, o atacando. Ou vocês acham que política é votar a cada dois anos e deu?”, escreveu ele. 
A reação ocorre no momento em que setores e personalidades importantes que apoiaram a eleição de Jair Bolsonaro mas agora se afastam do governo por enxergar nas ações do presidente e de seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), tentativas de interferir em órgãos de combate à corrupção como a Polícia Federal, Ministério Público Federal e Receita Federal. 
Na semana passada o Estado revelou que grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua e personalidades como o cantor Lobão e o humorista Marcelo Madureira, que lideraram a defesa da Lava Jato nas ruas,atribuem a interferência de Bolsonaro nos órgãos de controle a uma tentativa de barrar as investigações contra Flávio e seu ex-assessor Fabrício Queiroz, investigados por movimentações financeiras atípicas. 
No final de semana essa percepção se espalhou para setores da base de Bolsonaro no Congresso, inclusive no PSL, partido do presidente. Em entrevista ao Estado, a senadora Selma Arruda (PSL-MT) disse que vai sair do partido até quarta-feira para se filiar ao Podemos. Ela disse ter sido pressionada por Flávio a retirar sua assinatura do pedido de instalação da CPI da Lava Toga, cujo objetivo é investigar o Judiciário. 
Os lavajatistas apontam a existência de um acordo entre os Bolsonaros e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, um dos principais alvos dos defensores da CPI. 
Hoje a temperatura aumentou com a declaração do líder do PSL no Senado, Major Olímpio (PSL-SP), à Coluna do Estadão, na qual ele disse que Flávio é quem deveria sair do partido em vez de Selma. 
A deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) saiu em defesa da CPI e também virou alvo de ataques nas redes. Hoje de manhã, ela publicou no Twitter que “Olavo de Carvalho acabou ontem” e acusou o guru de tentar criar “o imbecil coletivo bolsonarista”, em referência ao livro “O Imbecil Coletivo”, publicado por Olavo em 1996. 
“O filósofo que se consagrou por denunciar o Imbecil Coletivo do PT, quase criou um Imbecil Coletivo em torno de si mesmo e agora, pasmem, prega um Imbecil Coletivo Bolsonarista. Não vou criticar, quero apenas externar o meu profundo pesar”, escreveu Janaína. 
A reação do escritor também veio pelas redes. “Do meu livro 'O Imbecil Coletivo', a Janaína Paschoal não entendeu nem o título”, tuitou Carvalho.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Itamaraty tem responsabilidade na degradação de imagem do Brasil? - Hussein Kalout (Epoca)

Coluna | Itamaraty tem responsabilidade na degradação de imagem do Brasil?

Responsabilizar representações diplomáticas por falta de empenho em defesa do país é um equívoco

Revista Época, 17/09/2019 - 11:26 / Atualizado em 17/09/2019 - 16:34
Protesto contra governo brasileiro em frente à embaixada do Brasil na Itália Foto: Stefano Montesi / Getty Images
Protesto contra governo brasileiro em frente à embaixada do Brasil na Itália Foto: Stefano Montesi / Getty Images
Integrantes da alta cúpula do governo federal insistem na tese de que as representações diplomáticas brasileiras não têm feito “quase nada” para defender a imagem do Brasil lá fora.
Numa democracia minimamente madura, afirmações dessa natureza precisam ser amparadas pela apresentação de provas irrefutáveis. Do contrário, corre-se o sério risco de incorrer em crime de responsabilidade.
Se real, seria fácil detectar a existência do problema. Bastaria averiguar quantas instruções partiram do Itamaraty para as representações diplomáticas no exterior e quais não foram cumpridas.
Tudo indica que falta uma noção precisa de como funciona o trabalho de uma representação de Estado no exterior ou até quais são os limites operacionais de um embaixador e de seu staff.
Diplomacia é a arte da temperança. É um ofício que se exerce nos bastidores e não nos palanques das redes sociais. É um trabalho de fina costura e de sofisticada gramática política.
Quantos anúncios recentes relacionados à política internacional do país foram realizados em alinhamento com os postos no exterior? Poucos, se é que algum. Quantas vezes embaixadas, consulados e delegações descobriram “novas orientações” via mídia social? Corriqueiramente!
Casos não faltam. Cito aqui alguns exemplos: a inflexão da questão amazônica e o vácuo de poder deixado pela ausência de uma estratégia bem delineada; a agressão ao presidenciável argentino Alberto Fernández, possível futuro líder do país que é nosso principal parceiro estratégico na América do Sul; o dispensável embate com o presidente francês, que descambou para grosserias.
Ah! E a França segue sendo um dos principais investidores econômicos diretos no Brasil; a apoplexia verbal contra a China, o maior sócio comercial brasileiro; mais recentemente, a desnecessária diatribe contra a Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet, responsável pelo mais incisivo relatório contra a situação dos direitos humanos na Venezuela de Nicolás Maduro.
Todos esses percalços são reveladores de quão difícil é para as representações brasileiras no exterior operar nesta conjuntura de alta pressão.
O que fica patente é a ausência de equilíbrio mínimo e de padrão linear de trabalho. O eventual baixo desempenho de alguns postos diplomáticos não pode ser atribuído à falta de lealdade ou de patriotismo.
Ainda que um ou outro caso possam ser colocados na conta pessoal de seus titulares, predominam a ausência de clareza sobre qual é a bússola conceitual da atual política externa e a falta de compromisso com os princípios históricos de condução da diplomacia brasileira, acompanhados de explosão de declarações mal calibradas que, em vez de angariar espaços para o Brasil no mundo, terminam por isolar o país nas relações internacionais.
Trata-se de uma antidiplomacia presidencial cujo rumo os embaixadores do Itamaraty não têm força para alterar. E um chanceler que prefere enveredar pelo terreno do abstrato, como o fez numa palestra no think tank conservador Heritage de Washington, a utilizar o palco para uma defesa racional de interesses concretos brasileiros.
Ao examinar cuidadosamente o mapa estratégico do que pode ser chamado de “política externa”, as conclusões são frustrantes. A África é palavra praticamente inexistente no dicionário da diplomacia de turno.
É como se o continente tivesse sido deletado do mapa-múndi da geografia diplomática brasileira. E falar de política externa asiática é hoje quase uma pilhéria.
De Tel-Aviv ao Magreb, passando pelo Golfo Pérsico, não há nada que desabone até o momento a conduta dos representantes do país no Oriente Médio. Aliás, a tarefa de amainar e mitigar graves percalços tem-se revelado hercúlea.
Apenas para constar, uma delegação de elevado porte do Ministério da Agricultura e em conjunto com o setor empresarial visita, no momento, as quatro economias mais relevantes do mundo árabe (Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos e Kuwait). A preparação da missão por parte das embaixadas caminha a contento.
Já na América do Sul, não existe qualquer projeto estratégico coerente e que possa ser chamado de “política externa”. Mas, isso não é culpa das embaixadas. Antes de tudo, é responsabilidade de quem formula e de quem gerencia a execução da política exterior do país.
Do extremo-norte da Bacia amazônica até o último pináculo de Ushuaia, ninguém sabe o que queremos em matéria de liderança, projeção de poder ou desenvolvimento regional. Na Argentina, em particular, a vida da representação brasileira, em Buenos Aires, passou a ser a de contenção de danos. Um trabalho de refinado equilibrismo diplomático.
Quando o governo comemorou a conclusão do acordo comercial Mercosul-União Europeia, será que a delegação brasileira, em Bruxelas, faltou com lealdade, dedicação e profissionalismo para a conquista desse objetivo? 
Ainda que alguns diplomatas possam estar pessoalmente em desacordo com a nova orientação da “política de gênero”, será que as delegações brasileiras na ONU e na OEA não seguiram à risca a determinação do governo? Apesar das discordâncias, nenhuma instrução deixou de ser cumprida (alguns embaixadores já vestiram a carapuça e vendem um Brasil inexistente). 
A imagem de um país no mundo depende, antes de tudo, da percepção que se tem de seus governantes. A crescente desaprovação ao governo já é, no fundo, o reflexo da degradação de sua própria imagem.
Frases tóxicas, desmedidas e descalibradas acabam apagando alguns dos resultados expressivos alcançados pela atual gestão.
Cabe ao chefe da diplomacia — quem quer seja — o mínimo de altivez na defesa de seus comandados. Parece contraditório culpar os quadros de uma instituição por agir contra o interesse nacional — e, neste caso, uma instituição com reputação bicentenária na defesa dos interesses nacionais brasileiros.
Sem que as acusações estejam sustentadas em fatos concretos, incorre-se em uma irresponsável leviandade que tende a minar a respeitabilidade do serviço exterior brasileiro e, logo, a própria reputação do governo.
Embaixadas, delegações e consulados não têm capacidade de impedir protestos e pichações em seus muros, por mais que defendam a imagem do País em seu trabalho cotidiano.
O anacronismo no trato da coisa pública, a intervenção nas forças de segurança pública por motivos pouco republicanos, a carta branca concedida ao desmatamento de nossas florestas ou o corte de bolsas de estudo para cientistas e pesquisadores falam mais alto do que qualquer artigo que venha assinar um embaixador brasileiro em jornal estrangeiro.
Aliás, nunca foi preocupação para a diplomacia brasileira monitorar quais países boicotariam o discurso do Presidente do Brasil que tradicionalmente inaugura os trabalhos da Assembleia Geral da ONU, em Nova York — que ocorrerá na próxima semana.
O mundo espera um Brasil lúcido e comprometido com seus compromissos internacionais. Não dá para admoestar a plateia com elucubrações de fundo ideológico e paranoias de que o país está sob interdição do marxismo cultural, sob domínio colonial do globalismo e sequestrado por ambientalistas.
Política externa é expressão de uma nação; de um povo, e não de um governo. A política do confronto e da negação nada agregam aos interesses estratégicos do país. Para melhorar a imagem do governo é preciso rever o discurso e recalibrar a conduta. Do contrário, o Brasil seguirá em queda livre. 

Hussein Kalout é cientista político, professor de Relações Internacionais, pesquisador da Universidade Harvard e Integra o Advisory Board da Harvard International Review. Foi Senior Fellow do Center for Strategic and International Studies (CSIS) em Washington DC e Consultor da ONU e do Banco Mundial. Serviu como Secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (2017-2018). Cofundador do Movimento Agora!, foi membro do Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex) e presidente da Comissão Nacional de Populações e Desenvolvimento (CNPD).

Regional cooperation and confrontation among emerging nations - Ariel Gonzales

Recebido do jovem doutor Ariel Gonzalez, da PUC-Argentina, a quem concedi uma entrevista sobre as relações Brasil-Argentina, aqui registrada: 

3179. “Política exterior brasileña: depoimento Paulo Roberto de Almeida”, Brasília, 16 outubro 2017, 22 p. Texto transcrito de entrevista concedida a Ariel Gonzaléz; PhD Candidate, Department of International Relations; College of Administrative Sciences and Economics - Koç University. Disponível na plataforma Academia.edu (29/12/2018; link: https://www.academia.edu/38058832/Politica_Exterior_do_Brasil_uma_entrevista_a_doutorando_2017_); anunciado no blog Diplomatizzando (29/12/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/12/politica-exterior-do-brasil-relacoes.html).
Paulo Roberto de Almeida

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Dear Paulo Roberto de Almeida

A couple of years ago, you gave me an interview on South American dynamics for my Ph.D. research. Last year I defended successfully my dissertation and now I am happy to announce that my book "Confrontational and Cooperative Regional Orders. Managing Regional Security in World Politics" has been published by Routledge within the Global Security Studies Series. I would very glad if you recommend to your University and colleagues. 

The book presents a novel approach to comparing non-Western regional orders, and helps forge a better integration between International Relations disciplinary approaches and area studies. The empirical section analyzes Central Eurasia (centered on Russo-Turkish relations) and South America (focusing on Brazilian-Argentine relations) within the period 1989-2017. The volume demonstrates that soft engagement strategies from extra-regional great powers and internationalist domestic coalitions framed in a stable democratic polity are forces for peaceful interaction, while hard engagement strategies from great external powers plus nationalist coalitions within democratic backsliding in key regional powers present negative outlooks for regional cooperation.

Sadly I cannot provide you a copy since I received just a very limited number of copies from the printing house. A partial version can be accessed at https://www.academia.edu/40015700/Confrontational_and_Cooperative_Regional_Orders_Managing_Regional_Security_in_World_Politics. However, If you are interested to write a review for some journal, I can ask Routledge to send you a copy. 

Best Regards, 
Ariel Gonzalez Levaggi, Ph.D.
Associate Professor
Department of Political Science and International Relations
Pontifical Catholic University of Argentina
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Nuevas Publicaciones | New Publications:
- Confrontational and Cooperative Regional Orders: Managing Regional Security in World Politics (Routledge Global Security Studies, 2019; https://www.routledge.com/Routledge-Global-Security-Studies/book-series/RGSS)
- “Eurasia en ascenso: cambios y continuidades en los órdenes regionales de Asia Central, el Cáucaso y Medio Oriente”, Pensamiento Propio, Vol. 49/50, 2019.
- "Latin America faces Eurasian conflicts: assessing regional responses in the age of Russia-United States tensions", Vestnik of Saint Petersburg University, Vol. 12 (2), 2019 (forthcoming).