O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

terça-feira, 29 de outubro de 2019

O aumento da fragmentação latino-americana - Chicago Tribune (AP)

Onde será que foi parar aquele famoso foro de coordenação entre os países latino-americanos não bolivarianos? Fez chabu, poucos meses depois de anunciado triunfalmente?
Paulo Roberto de Almeida

Argentina election to deepen South America's fragmentation



Associated Press - The Chicago Tribune
Oct 28, 2019 | 10:00 PM 
| RIO DE JANEIRO

Argentina election to deepen South America's fragmentation
(Daniel Jayo / AP)
A center-leftist's victory in Argentine presidential elections is set to cement a rift between South America's largest nations, and suggests regional turbulence could extend for years. 

Alberto Fernández and his far-right Brazilian counterpart Jair Bolsonaro have antagonized each another since August, and their statements since Sunday's vote signal that neither plans to relent. 

In his victory speech, Fernández declared that Brazil's leftist former President Luiz Inácio Lula da Silva -- Bolsonaro's nemesis -- is unjustly imprisoned and demanded his freedom. 

Bolsonaro, meanwhile, told reporters during a visit to Abu Dhabi that Argentina had "chosen poorly" and that he didn't intend to offer his congratulations. 

Brazil and Argentina are the biggest members of the Mercosur trade customs union that this year celebrated reaching a free-trade accord with the European Union after two decades of negotiations. The deal appeared to be a bonanza for South American farm products, while French farmers feared it would swamp them with cheap imports, particularly beef and poultry. 

Brazil's economic policymakers hailed it as a milestone in opening their closed economy, claiming it will have a total economic impact of $87.5 billion in Brazil through 2035. Fernández, for his part, has expressed skepticism of deal. 

Partly as a result of Mercosur, the nations are also heavily reliant on one another for trade and political friction could complicate the growth of job-creating trade and investment. 

Fernández will begin his four-year term in December and Bolsonaro's first term finishes in December 2022, meaning they will simultaneously hold office for at least three years. 

Oliver Stuenkel, a professor of international relations at the Getulio Vargas Foundation, a university in Sao Paulo, said open hostility between the two reflects them playing to radical wings of their respective alliances to ensure domestic support. That strategy will make it difficult for pragmatists on either side of the border to defuse the imbroglio, notwithstanding their economic interdependence. 

"When you don't have a personal, workable relationship, anything can become a fire. When there's no trust on top, it's hard to put out fires. There will be disagreements," Stuenkel said by phone. "There are doubts about whether Fernández and Bolsonaro will be on talking terms. 

"Bolsonaro didn't call to congratulate; these are petty, small politics and the real big questions that the region faces aren't being discussed or addressed." 

South America in recent years saw a surge of center-left leaders known as the Pink Tide retreat, which was mistakenly interpreted at the time as right-wing politicians regaining ground, according to Christopher Garman, Eurasia Group's managing director for the Americas. In fact, the shift represented widespread dissatisfaction with the overall status quo, further evidenced in recent weeks by massive street protests in Ecuador and Chile. 

"It's not that voters went right; they just kicked out incumbents. And they remain angry. It wasn't a policy and ideological move when it came to voter demands," Garman said. "That difficult public opinion environment remains, and there is variable capacity of governments to be able to navigate this. It's the underbelly of difficult middle-class politics across the region." 

Countries' positions toward Venezuela's socialist government also divide the region. Venezuela is in the throes of catastrophic depression that's prompted food and medicine shortages, plus the exodus of millions. 

Fernández's party was long allied with Venezuela's leaders and he is widely expected to withdraw from the Lima Group, which includes Brazil, that doesn't recognize the legitimacy of Venezuelan President Nicolás Maduro. 

Bolsonaro in August warned a prospective Fernández government would resemble that of Maduro, and referred to him and his running-mate, former President Cristina Kirchner, as "red bandits." 

Brazil's foreign minister Ernesto Araújo said on Twitter on Monday that Fernández's win sends "the worst possible signals. Trade closure, a retrograde economic model and support for dictatorships." He added Brazil will be pragmatic in its defense of the country's principles and interests. 

Argentina and Brazil falling out would have broader implications, as it's impossible to have real debate about South American integration or face up to regional challenges if they aren't on the same page, Stuenkel said. 

"It's clearly the most unpredictable period since democratization in the late 1980s. Starting then, there was consensus that more cooperation was better, and that's no longer the case," he said. 

Copyright 2019 The Associated Press. All rights reserved. This material may not be published, broadcast, rewritten or redistributed.

Impacto do acesso a textos PRA em um ano (junho 2018 a junho 2019)

Your Impact from July 01, 2018 to June 30, 2019

17,862 Unique Visitors

6,223 Downloads

32,988 Views

142 Countries

2,613 Cities

873 Universities

11,548 Research Fields

150,548 Pages Read

16) O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado (2010)8302
Politica externa brasileira em debate (Ipea-Funag, 2018)4612
07) Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergências (2005)3847
A politica externa brasileira em debate: Ricupero, FHC e Araujo3667

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Trabalhos PRA mais acessados em Academia.edu


Trabalhos PRA mais acessados em Academia.edu
(nota: a repetição dos mesmos arquivos se deve ao fato de que eles foram acessados por duas vias diferentes)

Page
All-Time Views
1,574
1,146
635
583
577
264
230
218
209
172
145
125
112
103
99
83


As FFAA sob risco de serem envolvidas por hordas de um governo insano - Marcelo Godoy, Paulo Roberto de Almeida

As FFAA ante o caos governamental

Marcelo Godoy explicita um problema extremamente grave: a confusão mental que reina nas hostes bolsonaristas — em primeiro lugar na cabeça do seu chefe — ameaça contaminar as FFAA, a partir de uma desorganização tipicamente facista, mas que na verdade não tem nenhuma doutrina coerente em seu substrato. Trata-se de um fascismo troglodita. As FFAA precisam se precaver contra os tresloucados, do contrário serão engolfadas no caos que já é esse desgoverno.
Vou continuar desenvolvendo essa questão, pois considero o assunto extremamente grave.
Paulo Roberto de Almeida


Rede bolsonarista contamina grupos de WhatsApp de militares
Defesa do uso das Forças Armadas para monitorar manifestações populares traz novo desafio para a instituição
Marcelo Godoy
O Estado de S. Paulo, 28/10/2019

Um dos grande embates na Constituinte foi o momento em que se definia o papel das Forças Armadas. As entrevistas com oficiais generais feitas pelos pesquisadores Celso Castro e Maria Celina D'Araújo mostram que a solução final foi dada por Afonso Arinos, que sugeriu a inclusão da expressão que vinculava a destinação constitucional das Forças Armadas como mantenedoras de lei da ordem à convocação por um dos poderes constitucionais. Seria preciso a iniciativa de um do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário para que as Forças Armadas pudessem garantir a lei a ordem.

Em 30 anos, o uso das Forças Armadas neste tipo de missão multiplicou-se por 3 no País. Do crime organizado a conflitos no campo ou em terras indígenas, de incêndios na Amazônia a derramamento de óleo em praias: tudo virou pretexto para desvirtuar as Forças Armadas de sua função primordial, como se elas fossem o lenitivo para toda deficiência do Estado ou incompetência dos políticos.

É verdade que no governo Bolsonaro os militares ainda não foram usados em operações gigantescas contra o crime organizado, como as que no passado aconteceram no Rio. O presidente parece seguir a própria vontade dos generais de manter a tropa distante da função de polícia. O mandatário, no entanto, parece colocar ao comando das Forças um novo desafio: como manter a prudência e a racionalidade no uso de tal instrumento e evitar o risco de se confundir a defesa das instituições com a defesa do governo.

O leitor viu aqui que, em sua viagem no Japão, Jair Bolsonaro disse ter acionado o Ministério da Defesa para deixar as Forças Armadas de sobreaviso em casos de protestos no Brasil semelhantes aos que sacudiram Chile e Equador. "A gente se prepara para usar o artigo 142 da Constituição federal, que é pela manutenção da lei e da ordem, caso eles (integrantes das Forças Armadas) venham a ser convocados por um dos três Poderes", disse.

Especialistas em Forças Armadas, como o cientista político Eliézer Rizzo de Oliveira, alertam que a Constituição de 1988 não previu que o presidente ou o chefe de qualquer um dos Poderes preste contas ao Congresso de ações dos militares em território nacional. Não se imaginava na época em que a Constituição foi feita que um presidente da República pudesse classificar manifestações populares - como as que ocorreram em 2013 - como terroristas, que é como Bolsonaro qualificou os protestos no Chile, conforme o leitor viu aqui no editorial Surtos Autoritários.

A contaminação de parte da oficialidade pelo bolsonarismo é evidente nos grupos de WhatsApp mantidos por militares. Cada turma de academia militar tem o seu. Há ainda os grupos das Armas de cada turma. Há generais e coronéis da ativa e da reserva que desistiram de participar das conversas mantidas nesses ambientes em razão de bobagens ali divulgadas. "Não perco meu tempo com bobagens", disse um deles. Um outro relatou ter sido expulso de um grupo por discordar do bolsonarismo.

Entre as bobagens há uma enorme quantidade de propaganda bolsonarista e até de incentivos ao fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Muitos atuam como radicais messiânicos que pensam que o País precisa ser salvo do "politicamente correto" ou do "marxismo cultural". Incapazes de conviver com a democracia, flertam com a irresponsabilidade liberticida.

Não diferem, portanto, os conteúdos divulgados em alguns desses grupos do material virulento patrocinado pelas milícias bolsonaristas que classificam todo aquele que critica o governo de esquerdista ou comunista. Fazem parte desse tropa digital pessoas próximas do presidente e, segundo aliados de ontem, como a deputada federal Joice Hasselmann, até mesmo seus filhos.

O que esses bolsonaristas esquecem é que o Exército não pode ser usado contra o povo, quando o povo - e não uma minoria - decide mostrar sua insatisfação com os governos. Um milhão de chilenos foi às ruas de Santiago - o país tem 16 milhões de habitantes. E o governo de Sebastián Piñera teve de ceder os anéis para conservar os dedos. No começo da crise, o líder chileno flertou com a saída militar. Afirmou que enfrentava uma guerra. Foi desmentido pelos generais. E, no fim, apresentou sua rendição.

Tentar transformar as Forças Armadas em defensoras de governo, seria rebaixá-las a um papel que já no Império dividia e exasperava seus líderes. Em 1889, dois meses antes de proclamar a República, as manobras palacianas levaram o marechal Deodoro da Fonseca a deixar o cargo que ocupava em Mato Grosso por considerá-lo indigno de sua patente. Disse então: "Se tivesse de ir ao céu, São Pedro servir-me-ia de vaqueano; se tivesse de ir ao inferno, pediria a qualquer político que me guiasse". Deodoro queria reformar e reorganizar o Exército. Ele sabia que Forças Armadas modernas não se prestam ao papel de guarda pretoriana de imperadores ou de famílias reais.
Marcelo Godoy

Novo surto de twitaços anti-argentinos do chanceler acidental

Ernesto Araújo sobre o presidente eleito Alberto Fernández, da Argentina 

Introdução por Paulo Roberto de Almeida 

O chanceler acidental se expressa por twites. Nada contra, se pelo menos eles fossem minimamente coerentes com certa deontologia diplomática, que recomenda nunca ofender os vizinhos, mesmo que você, pessoalmente, possa discordar da filosofia política, da religião, das opções econômicas ou do modo de vestir de seus contrapartes. Representando um país, seria recomendável manter certo recato, discrição, cortesia, gentileza, boa-vontade e predisposição para o diálogo respeitoso e aberto à cooperação, em benefício de milhões de concidadãos que podem não partilhar de sua ideologia ou crenças políticas, e que tiram muito do seu sustento nas trocas comerciais e vários outros tipos de intercâmbios com esses vizinhos.
Ofender vizinhos logo de partida não constitui apenas o mais deplorável comportamento antidiplomático, mas uma simples demonstração de grosseria gratuita, sem qualquer benefício que possa ser alcançado em seu próprio proveito. Trata-se de uma perfeita demonstração de uma daquelas atitudes que o historiador italiano Carlo Maria Cipolla analisou em seu magnífico panfleto sobre As Leis Elementares da Estupidez Humana, ou seja, causar mal aos outros, sem retirar nenhum benefício para si próprio.
Por falar em mal, a referência a “forças do mal” remete a um tipo de discurso teológico ou religioso, que se acomoda muito mal, ou praticamente nada, a uma postura diplomática isenta de vieses ideológicos ou apenas cordata, como soem ser a quase totalidade dos diplomatas profissionais.

Outro registro curioso a ser observado nos twites do chanceler é o seu profetismo apressado, antecipando de imediato — ou seja, sem sequer aguardar alguma declaração formal do presidente recém eleito — que as políticas do futuro governo serão essas descritas: fechamento comercial, economia retrógrada e apoio a ditaduras. Mesmo que os twitaços não tivessem sido feitos em meio a uma tournée diplomática por algumas das ditaduras mais vistosas do mundo, esse profetismo totalmente subjetivo já seria uma terrível ofensa, não apenas aos novos governantes do país vizinho, como à própria inteligência da diplomacia brasileira, que jamais tinha se deixado arrastar a grau tão extremo de descortesia antidiplomática.
O chanceler acidental faria bem se deixasse todas essas grosserias ao próprio presidente, que já se arvorou em juiz universal dos bons comportamentos eleitorais, ao dizer que o povo argentino “escolheu mal”, o que é uma nova agressão gratuita a um povo consciente de sua plena soberania política e sua liberdade de escolha.

O presidente — notoriamente inepto em política externa, senão em todas as demais vertentes das políticas públicas — e o seu chanceler acidental estão cavando um fosso nas relações bilaterais e no âmbito do Mercosul com o nosso mais importante vizinho, depois de já terem isolado o Brasil de uma lista enorme de outros grandes parceiros tradicionais, para não relembrar que ambos já expuseram a diplomacia brasileira ao ridículo universal, com suas atitudes histriônicas e francamente inadequadas, segundo padrões consagrados em nossa história ou num simples manual de boas maneiras, não apenas as diplomáticas.

Os quatro twites do chanceler acidental reproduzidos abaixo constituem, em minha opinião, exemplos execráveis de tudo o que não poderia ocorrer nos anais da diplomacia brasileira, agregando aos muitos registros deploráveis já acumulados no curto espaço de menos de um ano, este que já pode ser classificado de anus horribilis da diplomacia brasileira. Espero que esse espetáculo de horror tenha um fim o mais breve possível.
Paulo Roberto de Almeida 
São Paulo, 28/10/2019

Twites de Ernesto Araújo em 28/10/2019:

1/Não há muita ilusão de que o fernandez-kirchnerismo possa ser diferente do kirchnerismo clássico. Os sinais são os piores possíveis. Fechamento comercial, modelo econômico retrógrado e apoio às ditaduras parece ser o que vem por aí.

2/As forças do mal estão celebrando. As forças da democracia estão lamentando pela Argentina, pelo Mercosul e por toda a América do Sul. Mas o Brasil continuará inteiramente do lado da liberdade e da integração aberta.

3/A esquerda é totalmente ideológica no apoio aos regimes tirânicos da região. Mas, quando se relaciona com as democracias (das quais depende), a esquerda pede “pragmatismo”. Curioso. “Pragmatismo” significa sempre a direita se acomodar aos interesses da esquerda.

4/Seremos pragmáticos na defesa dos princípios e interesses do Brasil: um Mercosul sem barreiras internas e aberto ao mundo, uma América do Sul sem ditaduras.