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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Chile: a direita militar pinochetista ensaia um começo de rebelião: não terá sucesso...

 Transcrevo o que recebi: 


Comienzan los problemas en Chile

¡CARTA DE UN COMANDANTE EN JEFE INSTITUCIONAL!!! 


Sugerencia del Comandante de Ejército: Jaime Manuel Ojeda Torrent 

Veterano del 73.


Del: Comandante en Jefe Institucional.

Al:  Señor Gabriel Boric Font, Presidente electo de la Nación.

Presente:

Me dirijo a usted en mi condición de Comandante en Jefe Institucional, conforme a las leyes y reglamentos vigentes, con el fin de reclamar por haber designado  como Ministro de Defensa a la señora Maya Fernández Allende. 

La designación de la señora Maya Fernández Allende, representa una severa afrenta y humillación para con nuestra institución y su sagrada historia.

El suscrito no pone en duda su derecho legal y constitucional de nombrar sus ministros, pero no puede aceptar la humillación a nuestra sagrada Institución que conlleva la designación que Ud. hace, como Ministra de Defensa,  de la señora Fernández Allende.

Su nombramiento, a todas luces, representa una subrepticia forma de vengar a su abuelo, el ex Presidente Salvador Allende Gossens, del cual usted, conforme públicamente lo ha señalado, es admirador. 

El único mérito que presenta la señora Maya Fernández Allende, para haber sido designada Ministro de Defensa, es el odio que siente para con las Fuerzas Armadas, las cuales el 11 de Septiembre de 1973, derrocaron a su abuelo 

Me es un deber moral, como Comandante en Jefe Institucional,  hacerle presente que el ex Presidente Allende, abuelo de la señora Maya Fernández, es reconocido en nuestra historia militar por el profundo daño causado a nuestra sagrada Patria y en particular a nuestra Institución.

El trascendental daño causado por el ex presidente Allende, abuelo de la Ministro de Defensa por usted designada, y sus consecuencias, aún lo pagamos con un inconmensurable daño humano, como es el que han padecido y padecen nuestros Veteranos del 73.  

Mi reclamo está basado en los siguientes hechos irrefutables que el ex Presidente Allende, realizó para  el logro de su objetivo político de imponer una dictadura comunista en el país:

-Intentó, sin lograrlo, sobornar a todos nuestros altos mandos.

-Trató de infiltrar ideológicamente nuestra Institución y fomentar la división entre oficiales y suboficiales. 

-Intentó crear un institución militar paralela a la nuestra, con el apoyo de Luis Fernández Oña, agente enviado por Fidel Castro para tales efectos, y nada menos que padre de la señora Fernández Allende.  

-Fomentó la formación, capacitación y entrenamiento guerrillero, con el apoyo humano y material, principalmente de Fidel Castro. 

-Sus terroristas del MIR, a quienes fraternalmente llamaba: "Los Jóvenes Idealistas", asesinaron a mansalva a muchos de nuestro personal y Allende graciosamente  los amnistió. 

-El primer decreto que firmó Allende, una vez que asumió el poder, fue indultar a los terroristas del MIR condenados por asesinatos, asaltos, secuestros y por colocación de bombas. 

(Espero que usted no lo imite, amnistiando a  los delincuentes terroristas responsables de las explosiones antisociales.)

En consideración a lo anterior, solicito a usted reconsiderar el nombramiento de la ciudadana Maya Fernández Allende, por conformar su designación una clara ofensa a nuestra Institución, a nuestros hombres de ayer, de hoy y del mañana.

De no hacerlo, la señora Maya Fernández, se verá expuesta a que uno de los nuestros, imite la honorabilidad y valentía moral de uno de los militares que se negó a rendir honores a Fidel Castro.

Me refiero al Coronel Alberto Labbé Troncoso (QEPD), cuyo nombre está grabado en letras de oro en la historia de las FF.AA.

Como también, por mínima moral, el suscrito le presentaría su indeclinable renuncia al cargo de Comandante en Jefe Institucional.

Ya que de no renunciar estaría traicionando a mi institución y también  a aquellos que, por culpa de Allende, han perdido la vida o se encuentran procesados, condenados, o prisioneros como los Veteranos del 73.

Si bajo resquicios legales se me acusa de deliberar, asumo las consecuencias con la dignidad que amerita mi alto cargo y por mi deber de lealtad de predicar con el ejemplo personal ante mis subalternos. 

Lo saluda atentamente,   

Fdo. Comandante en Jefe Institucional*( E,A y/o FA ).*


Eleições 2022: Terceira via, miragem e realidade - Demétrio Magnoli (O Globo)

Como eu próprio anunciei, assim que saiu essa novidade da aliança Lula-Alkmin, no último trimestre de 2021, ela está destinada a liquidar a fatura já no primeiro turno, sem precisar sequer fazer campanha, ou fazendo, pró-forma, pois também tem aquela dinheirama toda para gastar.
Paulo Roberto de Almeida

    Terceira via, miragem e realidade

    Demétrio Magnoli

    01:24:54 | 24/01/2022 | Economia | O Globo | Demétrio Magnoli | BR

    O fracasso da "terceira via" está expresso nas sondagens de opinião pública. Segundo as análises convencionais, a explicação para o fracasso encontra-se na polarização política entre Bolsonaro e Lula, que fecharia o caminho a uma candidatura alternativa, de centro. Há bem mais que um simples equívoco no diagnóstico.

    Polarização? As pesquisas evidenciam que a rejeição a Bolsonaro situa-se em torno de 60% do eleitorado. São os que não votariam no presidente em nenhuma hipótese, parcela que chega a 64% entre os pobres e 54% na Região Sul, suposta fortaleza do bolsonarismo. Se o pleito fosse hoje, Lula triunfaria no primeiro turno. A polarização circunscreve-se às redes sociais. Não existe polarização eleitoral.

    A tese da "terceira via" assenta-se exclusivamente sobre a antiga constatação de que o lulismo não controla a maioria do eleitorado. Isso ficou provado nas quatro vitórias consecutivas do lulopetismo, duas de Lula e duas de Dilma, que só tiveram desenlace no segundo turno. Daí os arautos da "terceira via" concluem pela existência de uma vasta parcela dos eleitores dispostos a sufragar uma candidatura alternativa.

    É uma tese que ignora a história. Ao longo de um quarto de século, o sistema político partidário brasileiro equilibrou-se sobre a polaridade PT-PSDB. Contudo, durante a crise aberta pelo impeachment de Dilma (2016) e pela eleição de Bolsonaro (2018), o polo centrista implodiu. A falência do partido de centro manifestou-se duplamente, nas formas do desastre eleitoral da candidatura Alckmin e da adesão das novas lideranças tucanas ao candidato da extrema direita. A miragem da "terceira via" hipnotiza os que se recusam a encarar a morte do PSDB original.

    "Terceira via"? Moro e Doria, que tentam colar o rótulo sobre suas próprias candidaturas, não conseguem decolar, pois são vistos pelos eleitores como ramificações do bolsonarismo. O passado recente esmaga o presente almejado: nenhum dos dois tem legitimidade política para ocupar o centro de uma cena supostamente tensionada entre polos extremos. Ciro, que poderia ocupar essa posição, carece de estruturas partidárias e alcance eleitoral: perambula numa paisagem árida, como um Quixote destituído até mesmo do inseparável Sancho Pança.

    Paradoxalmente, a "terceira via" vai se tornando uma realidade - e atende pelo nome de Lula. O ex-presidente definiu uma estratégia de campanha baseada na ideia de ocupar o centro do tabuleiro político. A democracia unida contra o autoritarismo -eis a mensagem que o candidato procura veicular. A manobra destina-se a fechar o caminho do centro, ocupando-o.

    Não é novidade. Lula operou segundo a mesma estratégia em seu triunfo pioneiro, duas décadas atrás, divulgando a Carta ao Povo Brasileiro e compondo chapa com o empresário José Alencar. A i novação é o passo ousado de articular uma chapa com Alckmin, símbolo de um PSDB que não mais existe. A mensagem: meu governo conectará as políticas sociais lulistas à política econômica tucana. Reconciliação é o nome de seu jogo.

    Nas hostes de esquerda, a valsa da aliança provoca acesa controvérsia. Tipicamente, surgiu um abaixo-assinado de lideranças relevantes e diminutas do PT contra o "pacto com a direita". A margem, os "companheiros de viagem" do PSOL manifestam santa indignação. José Dirceu, um realista que sabe calcular, já apresentou sua defesa do pacto lulista. Para persuadir a esquerda, sugere que a presença de Alckmin destina-se a evitar uma futura desestabilização do governo Lula pelas maléficas elites. Talvez cole, mas Dirceu sabe que a lógica estratégica é outra.

    A alta finança e os empresários financiados pelo BNDES amaram Lula durante dois mandatos e permaneceram com Dilma até 2015, depositando suas esperanças no providencial Joaquim Levy. A ruptura só se deu quando o populismo econômico atingiu o paroxismo, apontando rumo a um túnel argentino ou a um abismo venezuelano. Sem os feiticeiros dilmistas da "nova matriz econômica", Lula não corre risco de desestabilização. A chapa com Alckmin é para inscrever na pedra a "terceira via" - e, assim, triunfar no primeiro turno. 

    segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

    Maracá - Emergência indígena; denúncia de genocídio indígena

    O policial federal que preside a FUNAI desde o ano passado mandou processar a principal organização indígena do país, a Apib, por ter produzido a série em 9 capítulos chamada "Maracá", feita em 2020 para denunciar o genocídio indígena.


     Por favor, ajudem a divulgar, assistam, salvem os arquivos, compartilhem, traduzam e enviem para outros países. Divulgue isso amplamente, os indígenas agradecem

    Maracá - Emergência indígena

    Episódio 1 - Plano de Cura

    Episódio 2 - A mãe do Brasil é indígena

    Episódio 3 - Ancestralidade

    Episódio 4 - Antropoceno

    Episódio 5 - Genocídio
    https://youtu.be/i_BioJyaBe0

    Episódio 6 - Sangue indígena: nenhuma gota a mais.
    https://youtu.be/HzfRaGIOM8o

    Episódio 7 - O grande aldeamento


    Eleições 2022: Doria no Itamaraty: o que o presidenciável tucano tem a oferecer em política externa? - Ana Lívia Esteves (Sputnik)

    Doria no Itamaraty: o que o presidenciável tucano tem a oferecer em política externa?

    Ana Lívia Esteves

    Sputnik Brasil09:31 20.01.2022 

    https://br.sputniknews.com/20220120/doria-no-itamaraty-o-que-o-presidenciavel-tucano-tem-a-oferecer-em-politica-externa-21094505.html 


    Apesar das dificuldades para consolidar sua campanha dentro do PSDB e decolar nas pesquisas de intenções de voto, Doria pode usar CoronaVac para se promover como melhor candidato para política externa brasileira. 
    Depois de prévias tumultuadas no PSDB, que contaram com acirrada disputa interna e até ataques de hackers, o governador de São Paulo, João Doria, luta para consolidar sua pré-campanha à presidência da República. 
    Com desempenho desanimador nas pesquisas de intenção de votos, os caciques do partido teriam colocado um "prazo de validade" à candidatura de Doria, de acordo com o jornal Correio Brasiliense. 
    O governador de São Paulo teria até março para decolar nas pesquisas, sob pena de perder apoio interno do partido. Para melhorar sua posição na corrida ao Palácio do Planalto, Doria anunciou agenda de viagens pelo Brasil e reuniões com líderes do agronegócio e empresariado. 
    Além disso, a equipe econômica do tucano, que conta com economistas como Henrique Meireles, Zeina Latiff, Ana Carla Abraão e Vanessa Rahal Canado, foi anunciada em dezembro. 
    Assessores de Doria acreditam que o pré-candidato tem um trunfo perante seus adversários: o sucesso no desenvolvimento e produção da CoronaVac no estado de São Paulo, empreitada que beneficiou a campanha de vacinação nacional. 
    Governador de São Paulo, João Doria, com vacina CoronaVac, 22 de agosto de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 20.01.2022
    Governador de São Paulo, João Doria, com vacina CoronaVac, 22 de agosto de 2021
    Essa carta na manga de Doria indica que o setor de política externa poderá gerar dividendos na sua campanha. 

    "Doria deve trazer a questão das vacinas para os debates [da campanha presidencial de 2022]", disse o doutorando em Ciência Política (UFSC) e membro do Núcleo de Estudos em Comportamento e Instituições Políticas (NECIP), Gabriel Mendes, à Sputnik Brasil. "Essa foi uma grande negociação internacional que ele liderou, diretamente com a China." 

    Para Mendes, o tucano deve enfatizar que, apesar de a China ser um país comunista, ela teve altivez e neutralidade para negociar a obtenção da vacina, em prol do povo paulista e brasileiro. Doria ainda deve capitanear na atuação internacional do governo paulista. 
    O governo do estado de São Paulo acaba de inaugurar um escritório de representação na América do Norte, sediado em Nova York, nos EUA, em prática conhecida como "paradiplomacia"
    "A paradiplomacia é quando entes não federais, como prefeituras, estados, ou o legislativo, fazem negociações com outros entes políticos internacionais não federais", disse Mendes. "Doria é muito afeito a isso." 

    Prefeito de São Paulo, João Dória, visita o papa Francisco - Sputnik Brasil, 1920, 20.01.2022
    Prefeito de São Paulo, João Dória, visita o papa Francisco
    O Palácio dos Bandeirantes ainda comanda representações em Munique, na Alemanha, Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e em Xangai, na China, no âmbito do projeto InvestSp. 

    Política de Defesa 

    De acordo com Mendes, a política externa proposta por Doria poderá ser mais alinhada com os Estados Unidos do que aquelas propostas por Lula ou Ciro. 

    "Ainda que não proponha o alinhamento subordinado que vemos com o governo Bolsonaro [...] Doria se voltaria novamente aos EUA, talvez dando um pouco às costas para as relações Sul-Sul, como os outros governos do PSDB fizeram", acredita o especialista. 

    Nesse sentido, haveria baixa possibilidade de retomada de projetos de integração da América do Sul, como a UNASUL, durante um eventual governo Doria. "Sob um governo do PSDB, não vejo possibilidade de retomada da UNASUL [...] porque se trata de um projeto de alinhamento regional na área de defesa", garante Mendes. 
    O especialista lembra que a política de defesa nacional brasileira foi alterada durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, para adquirir um caráter de parceria em relação aos vizinhos sul-americanos. 

    Sede da UNASUL, em Quito: países da região não puderam chegar a um consenso em relação à participação da Venezuela na organização, levando a sua paralisação - Sputnik Brasil, 1920, 20.01.2022
    Sede da UNASUL, em Quito: países da região não puderam chegar a um consenso em relação à participação da Venezuela na organização, levando a sua paralisação
    "Antes, tínhamos uma política de defesa nacional que considerava cenários de guerra com Argentina e Uruguai", lembra Mendes. "Isso tudo o PT alterou, e hoje a política de defesa é voltada para os vizinhos no sentido de formar uma parceria. [...] E esse é o objetivo central da UNASUL." 
    Segundo ele, "o PSDB não está de acordo, está incomodado com a política nacional de defesa brasileira", e deve propor a sua alteração, como o fez durante as campanhas presidenciais de 2014 e 2018. 

    De volta para o futuro 

    Especialista em política externa partidária, Mendes sugere que a atuação internacional de um eventual governo Doria se assemelhe à política conduzida durante o governo de Michel Temer, entre maio de 2016 e 1º de janeiro de 2019. 
    Durante esse governo, o PSDB ficou a cargo da política externa brasileira e emplacou dois chanceleres: José Serra, entre de maio de 2016 a fevereiro de 2017, e Aloísio Nunes, de março de 2017 a janeiro de 2019. 
    "Eu apostaria que o governo Doria seria uma continuação da política externa do governo Temer", declara Mendes. "Na época, o PSDB solicitou [a condução da política externa] porque viu ali uma grande vitrine de políticas que poderiam surtir efeito nas eleições de 2018." 
    Uma das principais conquistas do governo Temer na área externa foi a assinatura do acordo Mercosul-União Europeia, depois de mais de 20 anos de negociações. O acordo, no entanto, corre o risco de não ser ratificado, em função da oposição de países relevantes, como a França. 

    Michel Temer, presidente do Brasil, na abertura da 73ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York - Sputnik Brasil, 1920, 20.01.2022
    Michel Temer, presidente do Brasil, na abertura da 73ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York
    "Acho que o PSDB retomaria a discussão do tratado com a União Europeia [...] e fortaleceria o Mercosul, que é considerado importante para a indústria brasileira", acredita Mendes. 
    Já quando o assunto é a aliança com países como Rússia e China, em fóruns como o BRICS, Mendes é mais reticente. 
    "Se avaliarmos pelo o que ocorreu no governo Temer, poderá haver um novo freio nas negociações com o BRICS. O PSDB é mais afeito a órgãos como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM), e países como os Estados Unidos. Prefere as relações hemisféricas", explica Mendes. 

    Da esquerda para a direita, Xi Jinping, presidente da China, Vladimir Putin, presidente da Rússia, Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, e Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, após reunião do BRICS no Palácio do Itamaraty em Brasília, Brasil, 14 de novembro de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 20.01.2022
    Da esquerda para a direita, Xi Jinping, presidente da China, Vladimir Putin, presidente da Rússia, Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, e Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, após reunião do BRICS no Palácio do Itamaraty em Brasília, Brasil, 14 de novembro de 2019
    Além disso, uma política externa tucana poderia voltar a dar prioridade a países desenvolvidos do continente asiático, com destaque para o Japão. 

    "Países da Ásia, principalmente Japão, sempre foram preferenciais nas políticas externas executadas pelo PSDB", lembra Mendes. "Então acredito em um resgate no investimento em países altamente capitalistas que deram certo, em detrimentos de áreas como América do Sul, África e Oriente Médio." 

    Quando o assunto é política externa, João Doria pode estar mais bem posicionado do que o atual presidente, Jair Bolsonaro. Só nos resta saber se o tema está na pauta do eleitor brasileiro para 2022 e "se é um capital político importante em termos de voto", conclui o especialista.

    domingo, 23 de janeiro de 2022

    Eleições 2022: os Faria-Lulers - Helena Chagas, Lydia Medeiros (Capital Político)

     Lá vêm os “farialulers”

    Helena Chagas, Lydia Medeiros

    Uma análise da conjuntura 

    Capital Político, Brasília, 23/1/2022 - no145

    A entrevista do ex-presidente Lula aos sites independentes, afirmando que não quer voltar ao cargo para resolver os problemas do sistema financeiro e dos empresários, que pretende “botar os pobres no Orçamento e os ricos no Imposto de Renda” e que não dará prioridade a compromissos fiscalistas, mas, sim, a “pagar a dívida social”, não compõe exatamente uma narrativa agradável aos ouvidos do chamado mercado.

     Mas a boa repercussão da fala junto ao setor financeiro não surpreendeu seus analistas, porque tem origem num processo de aproximação que começou há semanas. Setores do mercado que leram as pesquisas da virada do ano, confirmando a liderança isolada do petista e as chances rarefeitas de uma terceira via, começam, pragmaticamente, a trabalhar com a possibilidade de vitória do ex-presidente. Isso vem implicando um esforço para ver o copo meio cheio em relação a Lula e buscar convergências.

    No caso da entrevista, elas foram encontradas no discurso aliancista do ex-presidente, que praticamente confirmou Geraldo Alckmin como vice em sua chapa, enquadrou a ala petista contrária à parceria e mostrou que, se vencer, seu governo irá além do PT e da esquerda. A disposição de “conversar com todo mundo”, inclusive com o setor financeiro, foi o suficiente para “encher o copo” do mercado, com repercussão positiva no câmbio e nos negócios.

    Não há data para essas conversas. A pauta desses “farialulers”, como estão sendo chamados de brincadeira, é complexa. Terá que ser reduzida a pontos básicos quando for apresentada a Lula — se é que já não foi, informalmente. Um deles passa pela recuperação da imagem externa do país, com a urgência de se criar um ambiente favorável ao retorno de investidores, como os fundos ambientais que fugiram de Bolsonaro. Analistas acham que, se o próximo presidente sinalizar com nomes experientes e respeitados para essa área, a reação positiva será imediata.

    Há previsões também de que, eleito o petista, o mercado não vai confrontar sua prioridade aos investimentos públicos para retomada do desenvolvimento e a uma forte injeção de recursos no campo social. Aos olhos desse pessoal, esses gastos são comparativamente pequenos, e devem aumentar. Preocupam-se, sim, em compatibilizar princípios que sustentam a rentabilidade e a remuneração do setor com uma política desenvolvimentista. Vão lembrar a Lula que estão previstos investimentos

    privados maciços no setor de infraestrutura — portos, ferrovias, energias renováveis — no próximo governo. Já contratados, podem fazer parte da retomada da economia, organizada e conduzida por quem ganhar a eleição.

    Se a conversa avançar, certamente vai aflorar a ansiedade do pessoal do mercado em relação à escolha da futura equipe econômica. Nenhum dos nomes de petistas e antigos auxiliares que vêm circulando nas discussões sobre o programa de governo agrada ao setor — o que não chega ser novidade. Há torcida por um nome novo, técnico ou de político experiente, como, por exemplo, algum ex-governador que tenha fechado direitinho as contas do estado. Como a torcida do mercado financeiro pode ter efeito contrário, alguns acham melhor ficar calados.

    As referências do petista à reforma tributária agradaram, bem como o tom contido em relação à rediscussão da reforma trabalhista. Outra grande apreensão dessa turma começou a se dissipar. Lula não falou em reverter a autonomia do Banco Central. Agradou ao dizer que chamará para conversar o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, hoje com mandato, e que “o BC tem que ter compromisso com o Brasil, e não comigo”.

    Ao fim e ao cabo, ao falar para blogs de esquerda, o ex-presidente parece ter alcançado, mesmo sem mirar, inusitada sintonia com setores da direita no mercado. Foram tantos os recados considerados tranquilizadores que o serviço Scoop by Mover, um portal de notícias do ramo, chamou Lula de “roteador de sinais”.


    A parábola do Brasil no último meio século - Paulo Roberto de Almeida

     A parábola do Brasil no último meio século

    Paulo Roberto de Almeida

    O Brasil vinha construindo, desde a ditadura militar, um Estado atuante e funcional, com erros de gestão aqui e ali.
    Elevaram o patamar da economia, mas deixaram legados pesados na inflação e na dívida externa.
    O plano Real, com ajustes no tripé macroeconômico, venceu o fantasma da hiperinflação e melhorou a qualidade das políticas públicas, macro e setoriais.
    Lula, a despeito da corrupção e das alianças com ditaduras execráveis, elevou a imagem externa do país.
    Dilma, a arrogante incompetente, destruiu tudo isso, provocando a maior recessão da história do país, e ainda foi conivente com a megacorrupção do PT.
    Bozo está ultimando a catástrofe: se aliou aos piores meliantes da política, para exacerbar sua obra destrutiva no plano institucional e genocida no plano da saúde pública; como tantos ainda conseguem apoiar um psicopata perverso é uma infeliz descoberta sobre características pouco apreciáveis da sociedade brasileira, com insanos entre a própria elite social.
    Já chegamos no limite de nosso declínio de civilidade, ou ainda temos novas frustrações pela frente?
    No ano do Bicentenário, o balanço, para mim, é extremamente constrangedor ao contemplarmos as “realizações” do último meio século.
    Estaríamos em condições de esperar mais?
    Com nossas “elites” parece difícil…

    Brasília, 22/01/2022

    sábado, 22 de janeiro de 2022

    Avraham Milgram (Tito) responde aos equívocos e argumentos inaceitáveis da historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro sobre um tema histórico - Fabio Koifman e Rui Affonso

    A Newsletter da Conib – Confederação Israelita do Brasil – publicou recentemente (11/01/2022) uma resenha crítica da historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro ao artigo dos historiadores Fabio Koifman e Rui Afonso, num livro publicado a propósito da controversa questão dos vistos concedidos no Consulado do Brasil em Hamburgo por uma funcionária, em 1939-41, que viria a casar-se com o escritor Guimarães Rosa, Aracy Moebius de Carvalho. 

    Nessa resenha Tucci Carneiro tece críticas aos dois historiadores que um dos organizadores do livro, o historiador Avraham Milgram, achou tremendamente injustas, mas não apenas isto, totalmente equivocados e indignas de uma resenhista séria. Avraham Milgram tentou que a CONIB publicasse suas observações a essa resenha distorcida, o que a CONIB recusou fazer, para não "aumentar a polêmica", justificaram-se os editores. 

    O texto original das críticas infundadas dessa historiadora figura neste URL: https://www.conib.org.br/historiadora-maria-luiza-tucci-carneiro-critica-polemica-sobre-serie-lancada-pela-tv-globo/ (cujo teor é transcrito ao final). Mas a CONIB não quis publicar a réplica do historiador israelense.

    Em consequência Avraham Milgram resolveu divulgar suas respostas, que eu recebi, como abaixo. Em nome da honestidade intelectual, publico suas respostas ao artigo, uma vez que a Newsletter da CONIB, tendo feito o agravo, recusou-se a publicar estas respostas.

    Paulo Roberto de Almeida


     Resposta à historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro na polêmica sobre a série lançada pela TV Globo, publicada no Newsletter da CONIB em 11 de janeiro de 2022. 

    Sou Avraham Milgram, historiador aposentado do Yad Vashem que supostamente não deveria me envolver na "polêmica sobre a série lançada na TV Globo", principalmente por ser um evento que ocorre no Brasil, enquanto eu vivo em Israel. Porém, querendo ou não, me encontro envolvido visto que publicamos, Anat Falbel, Fábio Koifman e eu, o livro Judeus no Brasil história e historiografia – ensaios em homenagem a Nachman Falbel (Rio de Janeiro: Garamond 2021), que inclui o artigo dos historiadores Fábio Koifman e Rui Afonso "Os vistos concedidos no consulado de Hamburgo 1938-1939" pp. 123-156 


     Neste estudo, excepcionalmente documentado, os autores demonstram que todos os vistos outorgados a judeus perseguidos através daquele consulado foram concedidos legalmente de acordo as diretrizes do Itamaraty, pelos cônsul-geral Souza Ribeiro, indubitavelmente antissemita, e pelo vice-cônsul, o prestigiado escritor João Guimarães Rosa que viria a casar com Aracy Moebius de Carvalho, funcionária e secretária do consulado. Um destes vistos concedido a Margarethe Levy, que testemunharia a favor de Aracy no dossiê do Yad Vashem, tinha seu passaporte carimbado com o "J" vermelho, detalhe importante, vejam p. 129, nota 13 e p. 135 do referido artigo. A documentação analisada pelos historiadores, mostra que os procedimentos legais que permitiram a saída de Margarethe Levy, bem como a de outros testemunhos era no entanto desconhecida pela comissão jurídica que reconheceu Aracy como Justa das Nações no início dos anos 1980. Não se trata de inculpar a dita comissão pelo desconhecimento do que hoje nos é revelado pelo artigo documentado em base ao arquivo do Itamaraty, que efetivamente, não se limita a homenagem concedida à Aracy de Carvalho. Diria até que este último é um mero detalhe, importante para a memória e menos para a história. O principal, para aqueles poucos que acompanham esta polêmica, se refere aos procedimentos do Itamaraty, ou seja, a implementação dos vários decretos leis e o emaranhado de diretrizes, ordens, circulares, telegramas que envolviam os cônsules no exterior e não apenas no consulado em Hamburgo no final da década de 1930. Esta complexidade foi destrinchada em grande parte, senão na sua totalidade, no artigo dos dois historiadores o brasileiro Koifman e o português Rui Afonso. Todavia, há questões não resolvidas, que provavelmente jamais serão. Por exemplo, quais foram os motivos que levaram beneficiários de vistos brasileiros legais outorgados em Hamburgo a solicitar o reconhecimento da Aracy de Carvalho como Justa das Nações? Estas e outras questões de teor histórico constituem o trabalho dos historiadores. Saber, conhecer, enriquecer o conhecimento, compreender o comportamento humano, desmistificar crenças e buscar a verdade são a raison d'être de cientistas sociais. É isto que aprenderam nas universidades: questionar, inquirir, escavar arquivos, ler toneladas de papéis velhos, num diálogo constante com o passado para decifrar o presente. Aqui chegamos ao âmago da questão, o confronto e desafio da história vis-à-vis da memória. 

    Considerando o estudo publicado de Fábio Koifman e Rui Afonso por um lado e minha expertise sobre o Holocausto por outro, faço os seguintes comentários à crítica da historiadora Tucci Carneiro: 


    1. "na mesma ocasião em que foi homenageado o embaixador brasileiro Luiz Martins de Souza Dantas. Ambos, Souza Dantas e Aracy, têm em comum o fato de 2 transgredirem as normas antissemitas das Circulares Secretas impostas pelo governo Vargas a partir de 1937". 


    Resposta: Aracy foi homenageada em 1982 e Souza Dantas em 2003, mas o que deve ser salientado é que este último sim transgrediu as normas do Itamaraty a ponto do embaixador ter sido repreendido e enfrentado um processo administrativo, enquanto Aracy nem foi repreendida, e não porque ela agiu na surdina, mas porque efetivamente não houve transgressão da sua parte no que diz respeito às diretrizes que restringiam a concessão de vistos a "semitas". 


    2. "Questionar “o heroísmo” de Aracy de Carvalho e a “verossimilhança da narrativa” com a realidade dos fatos, como foi feito em algumas das críticas, pode ainda abrir caminho para o discurso que nega o Holocausto"


    Resposta: O trabalho de investigação dos historiadores não tem absolutamente nenhuma relação com a negação do Holocausto, pois a sua pesquisa está inserida na história do Nazismo e da perseguição aos judeus, da política de teor antissemita de restrição a sua entrada no Brasil, e na análise dos procedimentos de concessão de vistos do consulado brasileiro em Hamburgo. Onde exatamente se encontra a má fé e o antissemitismo que motivaria os negadores do holocausto? Seria o caso de verificar no google o que significa negação do Holocausto. Me admira a falta de compreensão de algo tão simples e evidente, além de constituir uma acusação difamatória contra os historiadores Fábio Koifman autor do livro sobre o embaixador Luís de Souza Dantas e Rui Afonso, autor de obras sobre o Justo português, o cônsul Aristides de Sousa Mendes (Um homem bom e Injustiça). 


    3. "A historiografia brasileira tem comprovado com base em documentos pesquisados junto ao Arquivo Histórico do Itamaraty que, ao facilitarem os vistos de imigração aos judeus perseguidos pelos nazistas, os diplomatas e funcionários brasileiros em missão no exterior corriam risco de vida, de prisão e, até mesmo, de perderem seus cargos sob pena de sofrerem um processo administrativo como ocorreu com Souza Dantas"


    Resposta: Absolutamente errado. Nenhum diplomata brasileiro correu perigo, seja porque usufruíam de imunidade diplomática, seja por conta da Judenpolitik da Alemanha Nazista que visava escorraçar os judeus do território alemão. Nenhum diplomata estrangeiro correu perigo por auxiliar os judeus perseguidos. O cônsul chinês em Viena, Feng Shan Ho, concedeu centenas de vistos para judeus que lhes possibilitaram entrar em Shanghai ao mesmo tempo em que Eichmann se empenhava dia e noite para expulsá-los da Áustria. Eichmann certamente ficou feliz com o procedimento do cônsul chinês, bem como do cônsul-geral dos EUA, John Wiley, que ao testemunhar a brusca e violenta perseguição contra os judeus nas ruas de Viena buscou explorar ao máximo as possibilidades de ajuda humanitária aos requerentes de vistos, empenhando-se em agilizar e facilitar o processo de aprovação desses vistos sem infringir as normas estabelecidas pelo State Department. Algum deles sofreu por isto? Nenhum, com exceção do cônsul português Aristides de Sousa Mendes e o embaixador brasileiro Luís de Souza Dantas, porém não pelos nazistas, foram justiçados por Oliveira Salazar e Getúlio Vargas. 


    4. "E, se até o presente momento, conhecemos apenas alguns nomes daqueles que conseguiram os “vistos de salvação” com a ajuda de Aracy, é pelo fato dela não ter autorização para assinar os documentos diplomáticos por ser funcionária da sessão de passaportes do Consulado Geral do Brasil em Hamburgo". 


    Resposta: É claro que Aracy não estava autorizada a assinar passaportes, visto que era secretária. No entanto, com os resultados da pesquisa de Koifman e Afonso, conhecemos um número grande de nomes, as circunstâncias e o modus operandi da concessão de vistos brasileiros, todos legais, (vejam pp. 154-156), procedimentos que Aracy não esteve envolvida. 


    5. "Aracy, além dos vistos, conseguia forjar passaportes sem o “J” vermelho que, se mantidos, denunciariam a identidade judaica do seu portador às autoridades consulares e nazistas"


    Resposta: Absolutamente errado. Mesmo aqueles judeus que testemunharam alegando que Aracy "forjava passaportes sem o 'J' vermelho", entraram no Brasil com o 'J' vermelho nos seus passaportes, inclusive aqueles poucos que solicitaram seu reconhecimento no Yad Vashem. Aracy forjava passaportes sem o 'J' vermelho? Efetivamente, nas toneladas de livros de história sobre o Holocausto jamais foi mencionado ou reconhecido algo do gênero. E os nomes "Sara" e "Israel" apostos nos passaportes com o mesmo objetivo de identificar a origem judaica dos seus portadores? Pergunto, Aracy também fazia-os desaparecer dos passaportes dos judeus? Se assim fosse, seria porque haviam filo-semitas, corruptos ou antinazistas no ministério do Interior do 3o. Reich...! Nem um e nem outro. Não tenho outro termo para definir este argumento senão fake news


    6. "No entanto, se contabilizarmos as assinaturas do cônsul Guimarães Rosa nas Fichas Consulares de Imigração emitidas entre 1938 e 1942, certamente teremos uma dimensão aproximada dos judeus salvos pelo casal. Algumas destas fichas estão disponíveis na Base de Dados Arqshoah: www.arqshoah.com." 


    Resposta: O fato das assinaturas de Guimarães Rosa constarem nos passaportes não atesta que estes vistos foram outorgados ilegalmente contra as diretrizes do Itamaraty, para um melhor entendimento, é necessário ler o artigo dos dois historiadores acima mencionado. 


    7. "Pergunto: os críticos negam (ou desconhecem?) a veracidade dos testemunhos sob a guarda do Yad Vashem, assim como as gravações realizadas pelo projeto coordenado por Steven Spielberg junto a Shoah Foundation, as pesquisas da historiadora Mônica Raisa Schpun (autora do livro “Justa”) e as entrevistas gravadas pela equipe Arqshoah/Leer-USP?" 


    Resposta: Muito pelo contrário. Os historiadores não só não negam os testemunhos como estes últimos corroboram e comprovam o que Koifman e Afonso alegam sobre a legalidade dos vistos concedidos aos autores dos testemunhos. Por exemplo, na p. 135 (idem nas pp. 146-147): "Não por acaso, no depoimento de Margarethe Levy, que se encontra no dossiê do Yad Vashem, ela mencionou o depósito que o casal realizou em troca da concessão de um visto, como também a transferência de valores de outros judeus alemães que obtiveram visto naquela oportunidade, exatamente os que o cônsul informou e solicitou instruções ao MRE. Mais do que isso, Souza Ribeiro ainda anotou nos passaportes do casal Levy, conforme as ordens que recebeu: Temporário—Visado conforme o que dispõe o artigo 280 do decreto no. 3.010, de 10 de agosto de 1938. Temporário para ser regularizado no Brasil. Foi efetuado o depósito de 98:860$000 (noventa e oito contos, oitocentos e sessenta mil reis) no Banco do Brasil em S. Paulo, dinheiro proveniente do Estrangeiro, conforme carta de 26-9-1938 desse Banco, arquivado neste Consulado Geral. (Ass.) S. Ribeiro"

    Quem não conhece e nega os conteúdos dos testemunhos do dossiê do Yad Vashem é Tucci Carneiro. Mas nunca é tarde para conhecer e estudar este dossiê, assim como a documentação do Itamaraty! E não seria demasiado a Tucci Carneiro ler (e aprender) com o artigo mencionado, nem que fosse para tomar conhecimento da seriedade, profundidade e densidade documental que há nele, e jamais julgar às cegas. 


    8. "Ressalto aqui o valor pedagógico da série Passaporte para a Liberdade que, certamente, serve de alerta para os perigos do antissemitismo assumido como política do Estado alemão entre 1933-1945, e reforça a importância da solidariedade em tempos sombrios." 


    Resposta: Este é um ponto a favor de Tucci Carneiro que ela soube pontuar. Como ultimamente a Globo afirmou, se trata de uma série de ficção, e neste contexto, como Tucci Carneiro, eu também estimo o valor educativo da minissérie televisiva para informação e formação ética e civil das gerações de hoje e futuras. O que incomoda a autora da crítica à crítica é a desmistificação da concessão ilegal de vistos referida à Aracy, que enfraquece o teor historiográfico - ideológico e denunciativo - de Tucci Carneiro que etiquetou a predominância absoluta do antissemitismo nas elites políticas do Estado Novo. Todavia, se o leitor quiser compreender como foi possível a presença do discurso oficial sigiloso antissemita (ideologia) no milieu do Itamaraty e consulados no exterior, paralelamente a predominância de muitas ambiguidades e da permissividade relativa na concessão de vistos (práxis), o artigo de Fabio Koifman e Rui Afonso é um prato cheio. Exemplo de historiografia inteligente e honesta. 


    Avraham Milgram 


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    Historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro critica polêmica sobre série lançada pela TV Globo

    A recente polêmica sobre a série Passaporte para Liberdade, lançada pela TV Globo em 20 de dezembro de 2021, coloca em dúvida as ações salvacionistas de Aracy Moëbius de Carvalho reconhecida como “Justa entre as Nações”. Este título lhe foi concedido pelo Yad Vashem em Jerusalém, em 8 de julho de 1982, na mesma ocasião em que foi homenageado o embaixador brasileiro Luiz Martins de Souza Dantas. Ambos, Souza Dantas e Aracy, têm em comum o fato de transgredirem as normas antissemitas das Circulares Secretas impostas pelo governo Vargas a partir de 1937.
    Questionar “o heroísmo” de Aracy de Carvalho e a “verossimilhança da narrativa” com a realidade dos fatos, como foi feito em algumas das críticas, pode ainda abrir caminho para o discurso que nega o Holocausto.
    A historiografia brasileira tem comprovado com base em documentos pesquisados junto ao Arquivo Histórico do Itamaraty que, ao facilitarem os vistos de imigração aos judeus perseguidos pelos nazistas, os diplomatas e funcionários brasileiros em missão no exterior corriam risco de vida, de prisão e, até mesmo, de perderem seus cargos sob pena de sofrerem um processo administrativo como ocorreu com Souza Dantas. E, se até o presente momento, conhecemos apenas alguns nomes daqueles que conseguiram os “vistos de salvação” com a ajuda de Aracy, é pelo fato dela não ter autorização para assinar os documentos diplomáticos por ser funcionária da sessão de passaportes do Consulado Geral do Brasil em Hamburgo. Na documentação do Arquivo Histórico do Itamaraty no Rio de Janeiro, não há indícios do envolvimento direto de Guimarães Rosa com as ações salvacionistas de Aracy, pois certamente, os devidos cuidados foram tomados pelo casal, tendo em vista as restrições impostas pelo Itamaraty. Aracy, além dos vistos, conseguia forjar passaportes sem o “J” vermelho que, se mantidos, denunciariam a identidade judaica do seu portador às autoridades consulares e nazistas.
    No entanto, se contabilizarmos as assinaturas do cônsul Guimarães Rosa nas Fichas Consulares de Imigração emitidas entre 1938 e 1942, certamente teremos uma dimensão aproximada dos judeus salvos pelo casal. Algumas destas fichas estão disponíveis na Base de Dados Arqshoah: www.arqshoah.com. Aliás, este é o contexto histórico que dá sustentação à construção da narrativa   da série Passaporte para Liberdade criada por Mario Teixeira com a colaboração da inglesa Rachel Anthony e a direção de Jayme Monjardim.
    Ainda que baseada em fatos reais registrados pelo Yad Vashem, uma novela ou filme tem a permissão de adentrar ao campo da ficção, desde que não abra caminhos para o negacionismo e não fragilize o valor dos testemunhos dos sobreviventes do Holocausto.  Sabemos que a narrativa da série Passaporte para Liberdade baseou-se nos testemunhos registrados no Yad Vashem e em documentos pesquisados no acervo da família Tess para reconstituir a história de Aracy e de Guimarães Rosa em Hamburgo, Além destes registros, recorreram também à assessoria de historiadores e sobreviventes do Holocausto com o objetivo de evitar a distorção dos fatos e favorecer os discursos negacionistas que atentam contra a veracidade do Holocausto.
    Ao colocarem em dúvida as ações salvacionistas de Aracy (tratadas como “mito” por falta de comprovação), extrapola-se o campo da crítica historiográfica, investindo contra o valor dos testemunhos daqueles que foram salvos graças aos vistos concedidos (e assinados) por Guimarães Rosa durante o período em que ele esteve à frente do Consulado Brasileiro de Hamburgo: 1938-1942. Pergunto: os críticos negam (ou desconhecem?)  a veracidade dos testemunhos sob a guarda do Yad Vashem, assim como as gravações realizadas pelo projeto coordenado por Steven Spielberg junto a Shoah Foundation, as pesquisas da historiadora Mônica Raisa Schpun (autora do livro “Justa”) e as entrevistas gravadas pela equipe Arqshoah/Leer-USP?
    Como já escrevi, “os caminhos de liberdade abertos por Aracy e Guimarães Rosa garantiram a preservação da vida de milhares de cidadãos que, naquele momento, emergiam como vítimas da ignorância nazista. Pelas trilhas dos excluídos transitaram grupos heterogêneos que, segundo a classificação totalitária, não eram dignos de continuar vivendo na sociedade alemã. As intermináveis filas de refugiados nos oferecem uma verdadeira tipologia da exclusão, delineada pelo emprego da violência, do terror, da pseudociência, da censura e da mentira, entre tantos outros artifícios totalitários.”
    Ressalto aqui o valor pedagógico da série Passaporte para a Liberdade que, certamente, serve de alerta para os perigos do antissemitismo assumido como política do Estado alemão entre 1933-1945, e reforça a importância da solidariedade em tempos sombrios.

    Resenha do livro Heróis do Castello, de Cristiano Berbert, por Roberto Klotz

    Meu amigo e colega Cristiano Bernert postou no Linkedin, de onde copio, uma resenha sobre seu romance baseado em fatos verdadeiros, de uma bela história brasileira, a saga da FEB na luta contra os alemães nos campos de batalha da Itália.

    Cristiano Berbert
    Cristiano Berbert • 1st Chief of Staff, Secretary of Bilateral Negotiations for the Middle East, Europe and Africa at Brazilian Ministry of Foreign Affairs (Itamaraty) 

    Compartilho resenha de Roberto Klotz sobre meu romance, Heróis do Castello.

     https://lnkd.in/eUSPpXqY

    "Ansioso, esperei meu exemplar de Heróis do Castello chegar pelo correio.

    A expectativa foi confirmada: leitura prazerosa.

    É uma história de um piloto de caça da FAB – Força Aérea Brasileira que lutou durante a Segunda Guerra, participando na batalha de tomada ao Monte Castello, no norte da Itália. Essa batalha foi duríssima, nela morreu o maior contingente de pracinhas e, pelo resultado, foi também a vitória mais heroica da FEB – Força Expedicionária Brasileira. 

    Interessei-me porque papai foi piloto e combateu pela FAB na ELO – Esquadrilha de Ligação e Observação e também participou na famosa batalha.

    O romance ficcional se inicia no litoral sul da Bahia a bordo de uma barcaça que é torpedeada por um submarino alemão. Um jovem tripulante, André Mendonça, que nas horas vagas desenhava aviões, sobrevive ao ataque e ao naufrágio. 

    Nesse interim, provocado por inúmeros ataques dos submarinos alemães, o Brasil entra na guerra aliando-se aos norte-americanos. André se alista na aeronáutica e em pouco tempo é selecionado junto com vários outros companheiros para participar de um treinamento no Texas. O treinamento é longo. André é um dos poucos que conseguem ser aprovados para pilotar o P-47 thunderbolt.

    André é convocado para a guerra e participa de inúmeras missões de bombardeio na Itália. Em fevereiro de 1942 sua esquadrilha é intimada a auxiliar a infantaria brasileira em mais uma tentativa de vencer os alemães que estavam numa posição estratégica muito superior no monte Castello. 

    O autor foi ousado ao narrar uma história inserindo um herói fictício entre verdadeiros combatentes. Teve o cuidado de trocar os nomes de pessoas ao torná-las personagens do romance, como no episódio em que insere André na criação do emblema “Senta a pua”. O autor do desenho foi o piloto major Fortunato Câmara da Silva, cujo nome, na narrativa, foi transformado em Honorato.

    A soma de feitos para um único protagonista aponta para uma história épica digna de ser transformada em um roteiro para um filme hollywoodiano nos moldes da “Jornada do herói”, consagrado livro de Joseph Campbell.

    Berbert estreou como um experiente escritor. 

    O autor mostra-se um ótimo contador de histórias ao fazer o leitor sentir e participar das emoções do protagonista em cada situação.

    André, apesar do papel de herói, comete pecados, mesmo que justificados pelas situações impostas. Apesar das falhas, torcemos pelo personagem. A criatividade do autor é tão extraordinária quanto a do protagonista ao inseri-lo em inúmeras situações conflitantes e resgatá-lo cada vez com mais heroísmo. Torcemos para que consiga sair das enrascadas e, por fim, nos orgulhamos de que ele seja brasileiro.

    O romance, acima de tudo, destaca o valor dos combatentes na Segunda Guerra elevando o orgulho de ser brasileiro.

    Roberto Klotz".

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    Cristiano Berbert já tem dois outros livros publicados: