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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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terça-feira, 4 de outubro de 2022

War and Gold by Kwasi Kwarteng : leituras recomendadas

 Já que esse intelectual ascendeu a funções executivas no novo governo britânico – o que é extremamente perigoso, sempre – vejamos o que eu já tenho no meu blog sobre ele, leituras de vários anos atrás: 


sexta-feira, 20 de março de 2015

Protecionismo comercial: os EUA na vanguarda (depois do Brasil) - Kwasi Kwarteng


 

Já li esse livro, retirado da biblioteca pública de West Hartford, e recomendo. De fato, os democratas eram os liberais econômicos, no passado (e os mais racistas), e os republicanos de Abraham Lincoln os supostos inimigos da escravidão, mas protecionistas tradicionais. Depois de Roosevelt, nos anos 1930, a situação se inverteu, com os democratas fazendo aliança com os sindicatos, e os republicanos se aliando aos racistas no sul.
Mas os EUA não eram os mais protecionistas no século 19, nem no 20: eles perdiam amplamente para o Brasil e vários outros países latino-americanos.

O livro não é porém sobre comércio, e sim sobre moeda, ou mais especialmente ouro, e as guerras, desde a era moderna até a atualidade. Ao final, ele tem uma tabela com os valores atualizados do ouro nos diversos países desde o século 19, e os principais estoques nos países detentores do metal como reserva de valor.
Paulo Roberto de Almeida 

Today's selection -- from War and Gold by Kwasi Kwarteng. America today is largely an advocate of free trade, and the Republican party is usually the standard-bearer of that policy. However, the Republican party of Abraham Lincoln was highly protectionist, and the U.S. grew to be the world's economic colossus with a consistently high level of protectionism. It was only in the late nineteenth and early twentieth centuries, after its manufacturing supremacy was well established, that the U.S. began to selectively adopt a free trade policy as a means of expanding its markets on a country-by-country basis:

"Contrary to what is commonly believed today about the efficacy of free markets and trade as an instrument of development, the United States continued throughout the second half of the nineteenth century to be a strongly protectionist country. 'The extreme protective system, which had been at the first a temporary expedient for aiding in the struggle for the Union ... gradually became accepted as a permanent institution.' High protection became a 'dogma'. Indeed, 'The restraint of trade with foreign countries, by means of import duties of forty, fifty, sixty, even a hundred percent, came to be advocated as a good thing in itself ...' Ideas of this kind 'were no longer the exploded errors of a small school of economists; they became the foundation of the policy of a great people'.


"The Republican Party, the victorious party of the Civil War, the party of the great quasi-martyr Abraham Lincoln, won election after general election in the forty-eight-year period from 1864 to 1912. In thirteen elections, the Democrats managed only three victories, the last of which occurred in 1912. The only other years in which the Democrats won were 1884 and 1892, both of which were (uniquely in US history) won by the same candidate, Grover Cleveland, who is known as both the twenty-second and the twenty-fourth President of the United States. The Republicans established themselves as a party of national economic might. Their programme 'threw the entire weight of the federal government behind the expansion of northern industry'. Republican policy naturally supported a 'protective tariff for industry', and it was in these years that the tariff became 'exclusively and distinctively a protective measure', shorn of any idea that it was needed for revenue-raising purposes on the part of the federal government." 


War and Gold: A Five-Hundred-Year History of Empires, Adventures, and Debt
Author: Kwasi Kwarteng
Publisher: Public Affairs
Copyright 2014 Kwasi Kwarteng
Pages 73-74

Mais uma razão para não recomendar o BRICS: Lula e Bozo são a favor - Leonardo Cioni (Terra)

 Putgrilla, como diria o fradinho...

Isolado no Ocidente, Bolsonaro encontra apoio no BRICS

Por Leonardo Cioni 

Terra, 30/09/2022

https://www.terra.com.br/noticias/brasil/isolado-no-ocidente-bolsonaro-encontra-apoio-no-brics,025eea8532610b65d07ec4d2d6aa5a16m4db5b8g.html

Se quase todo o Ocidente, dos Estados Unidos à Europa - com pouquíssimas exceções -, não esconde que está torcendo contra a reeleição de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2 de outubro no Brasil, o líder de direita encontra apoio na China e na Rússia, parceiros importantes na frente comercial e membros do grupo BRICS.

    Esta é a convicção de muitos especialistas ao analisar os quatro anos de governo do ex-capitão do Exército caracterizados por alguns deslizes no campo diplomático, mas também por muito pragmatismo no campo econômico.

    Por exemplo, Bolsonaro foi um dos poucos chefes de Estado a tomar partido abertamente contra as sanções contra a Rússia, decididas pela comunidade internacional após a invasão da Ucrânia. Com isso, conseguiu manter intactas as importações de fertilizantes agrícolas, dos quais Moscou é o principal fornecedor.

    E no futuro poderá receber grandes descontos em petróleo e gás, segundo disse Bolsonaro recentemente, referindo-se a conversas "muito cordiais" com Vladimir Putin durante sua visita ao Kremlin, pouco antes do início da guerra.

    Mesmo com Pequim, o presidente brasileiro colocou questões práticas diante de divergências ideológicas: a China é o primeiro parceiro comercial do Brasil, do qual compra principalmente matérias-primas (carne, trigo e soja) e para quem, por sua vez, vende produtos estratégicos, em especial máquinas para a indústria e tecnologia avançada.

    Por outro lado, Bolsonaro não opôs, por exemplo, resistência particular ao avanço da empresa de telecomunicações Huawei (interessada em implementar seu 5G), chegando a contrariar o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, seu grande aliado, notoriamente contrário à expansão chinesa no território americano.

    Se por um lado ainda é desconhecido o real papel que a ex-União Soviética poderá desempenhar em relação ao Brasil, dada a continuidade da guerra com Kiev, por outro, as relações de Brasília com Pequim estão destinadas a crescer.

    Em vez de abraçar definitivamente um discurso anti-chinês, pensando no negócio, Bolsonaro surpreendentemente favoreceu o gigante asiático em detrimento dos países regionais, arriscando, entre outras coisas, pular definitivamente a ratificação do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.

    Para a China, em suma, a derrota de Bolsonaro nas mãos de Luiz Inácio Lula da Silva pode representar um obstáculo à sua expansão: o ex-presidente de esquerda é bem visto pelas principais potências ocidentais, que buscarão uma reaproximação com o Brasil, ameaçando o crescente protagonismo de Pequim.

    Bolsonaro está isolado dos EUA, de Joe Biden, e de quase todas as nações latino-americanas vizinhas e do bloco europeu quase completo, apesar do apoio da Hungria, do premiê Viktor Orbán, e muito poucos outros.

    Por isso, o líder de direita tenderá a continuar a focar sua política externa nos BRICS, sem medo de ser esnobado.

    Em suma, a reeleição de Bolsonaro, embora não represente o cenário ideal, paradoxalmente pode trazer ganhos concretos ao "País do Dragão". A de Lula, por outro lado, significaria reabrir as portas do Brasil para organizações internacionais como a OCDE, e a China arriscaria ter que competir com mais concorrentes na tentativa de ampliar sua influência política e econômica na América Latina. 


A guerra nuclear de Putin contra a Ucrânia - Igor Gielow (FSP)

 Rússia mobiliza 200 mil e divulga treinamento para guerra nuclear


Kremlin segue usando ameaça, que Alemanha diz ser uma chantagem a ser levada a sério

Folha de S. Paulo, 4.out.2022 às 9h20
Igor Gielow

O Ministério da Defesa da Rússia disse nesta terça (4) que já alistou 200 mil dos 300 mil reservistas que pretende usar na Guerra da Ucrânia em uma contestada mobilização, e passou a divulgar ostensivamente que eles estão sendo treinados para lutar num ambiente de guerra nuclear, química ou biológicas.

"O pessoal das unidades formadas [desde 21 de setembro] está sendo treinado em 80 campos e seis centros", afirmou o ministro Serguei Choigu em um evento em Moscou. Nele, foram repassados números de destruição de equipamento ucraniano, mas não foi dita uma palavra sobre as controfensivas de Kiev no leste e no sul do país invadido em fevereiro.

A perda das áreas ocupadas em Kharkiv (nordeste), de um bastião russo em Donetsk (leste) e o rompimento das defesas num ponto de Kherson (sul) têm preocupado a linha dura do governo Vladimir Putin, que passou a fazer críticas públicas à condução da guerra e sugerir o uso de armas nucleares táticas, de menor potência, para deter Kiev.

Militarmente, não parece fazer muito sentido, mas esta é uma carta que o Kremlin tem usado com frequência desde o começo do conflito. Ao decretar a anexação de quatro áreas ucranianas em que não tem controle total, Putin elevou a aposta, dizendo que elas seriam defendidas com "todos os meios possíveis" —e isso inclui o maior arsenal atômico do mundo.

Com efeito, desde domingo (2) o Ministério da Defesa passou a postar no seu canal no Telegram imagens e relatos de treinamento de recrutas, incluindo como lidar com terreno contaminado por armas nucleares, químicas ou biológicas. É rotina, claro, em especial em um país com as capacidades que a Rússia tem, mas a visibilidade ao tema não é casual.

A Alemanha, rival histórica da Rússia que passou a ser sua parceira energética nos anos que precederam a guerra, disse nesta terça que as ameaças nucleares de Putin podem ser para valer. "Não é a primeira vez que ele recorre a tais ameaças, que são irresponsáveis e nós devemos levá-las a sério", disse a chanceler Annalena Baerbock.

"Mas isso é também uma forma de nos chantagear", disse ela, dando nome ao que está na mesa. Baerbock sabe que a população europeia, particularmente a alemã, antevê um inverno de dificuldades sem gás russo para aquecer os lares e mover a indústria, e que o temor de um conflito nuclear ainda é presente nas gerações que viveram a Guerra Fria.

No cálculo do Kremlin, presumido obviamente, a ameaça pode desestimular o apoio europeu, já bem menos coeso e volumoso do que o americano, a Kiev.

Também nesta terça, o Pentágono fez vazar a repórteres a avaliação de que nada indica que Putin esteja prestes a mobilizar suas forças nucleares. Isso é possível devido ao monitoramento de movimentos em bases por satélites e informação colhida por espiões.

Mas o emprego de uma arma tática traz complicadores, com por exemplo o fato de que algumas são muito pequenas, facilmente transportáveis. Enquanto isso, a especulação em torno do tema só aumenta, dando uma vitória ao Kremlin.

Na segunda (3), por exemplo, o jornal britânico The Times publicou reportagem dizendo que os russos estariam enviando material nuclear para sua fronteira ocidental. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse nesta terça que não comentaria porque "não quero fazer parte do exercício ocidental em retórica nuclear".

Há especulação acerca uma detonação de intimidação sobre o mar Negro, talvez até atacando a ilha da Cobra, rochedo estratégico que os russos ocuparam e perderam. O problema é que o local é muito próximo da Romênia, e parece inevitável que a radiação chegaria a um membro da Otan (aliança militar ocidental), disparando uma resposta.

Da mesma forma, o uso de uma arma tática contra forças ucranianas demandar o emprego de diversas ogivas para ter efeito, o que potencializaria o risco de contaminação da própria Rússia. Para os soldados, há o treinamento de proteção pessoal e descontaminação de blindados e caminhões depois, mas não há o que fazer com uma nuvem radioativa.

Adeus política externa ativa? - Oliver Stuenkel (Estadão)

 Resultado das eleições torna menos plausível política externa assertiva do Brasil

Oliver Stuenkel
04/10/2022 | 10h00
Estadão

As numerosas vitórias de candidaturas bolsonaristas nas corridas para Senado, Câmara Federal e governos estaduais terão um profundo impacto na política externa brasileira ao longo dos próximos anos. Quem acreditava que a possível eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva permitiria que o Brasil pudesse simplesmente retomar uma agenda externa ambiciosa verá suas expectativas frustradas.

O ativismo externo do Brasil entre 1995 e 2013 só foi possível devido a um raro período de estabilidade política doméstica e consolidação democrática que começou com o Plano Real e terminou com a onda de manifestações de junho de 2013. A atuação internacional da época, que viu o Brasil liderar uma negociação de paz entre Peru e Equador em 1995, evitar um golpe no Paraguai em 1996, chefiar uma missão de paz no Haiti em 2004 e virar membro fundador do grupo Brics nos anos seguintes, só foi possível porque os presidentes podiam dar-se ao luxo de não se preocupar permanentemente com as tensões políticas internas que viraram regra ao longo da última década. Sem estabilidade política doméstica, nenhum presidente brasileiro tem como assumir a liderança no plano internacional.

Se Lula for eleito em 30 de outubro, é provável que enfrente uma resistência política enorme do Legislativo desde seu primeiro dia de mandato, demandando atenção redobrada ao cenário político interno. Liderar grandes iniciativas globais – seja no âmbito da saúde global, seja da crise de refúgio na Venezuela, seja qualquer outra área que requeira diplomacia presidencial – será bem mais difícil.

Da mesma forma, o forte desempenho de candidatos como Ricardo Salles, um dos deputados mais votados no Estado de São Paulo, dificultará as tentativas de um possível governo Lula de tornar o Brasil em um dos atores globais no combate ao desmatamento. Não passou despercebido no exterior que Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, persona non grata em Washington, Berlim e Oslo, ganhou muitos mais votos do que Marina Silva, ícone mundial no combate às mudanças climáticas, e que outros candidatos ambientalistas, como a deputada Joenia Wapichana, primeira mulher indígena eleita para a Câmara, não conseguiram se reeleger. Ricardo Galvão, ambientalista conhecido no exterior, também não se elegeu.

Se Bolsonaro conseguir a reeleição, mesmo um cenário político interno estável não levará a grandes iniciativas internacionais: tanto como o trumpismo, o bolsonarismo não vê nos fóruns multilaterais uma oportunidade para defender o interesse nacional brasileiro. Pelo contrário: na leitura do presidente, instituições como a ONU representam uma ameaça à soberania brasileira, o que explica o Brasil ter abraçado uma posição antimultilateral, levando a uma perda inédita da influência brasileira no âmbito externo.