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segunda-feira, 10 de abril de 2023

Política externa: cem dias do Itamaraty sob Lula têm reconstrução de pontes e prioridades errantes - Mayara Paixão (Folha de S. Paulo)

Cem dias do Itamaraty sob Lula têm reconstrução de pontes e prioridades errantes

Política externa liderada por Mauro Vieira e Celso Amorim faz acenos múltiplos, retoma protagonismos e vive pressão interna
Mayara Paixão
Folha de S. Paulo, 9.abr.2023


SÃO PAULO - Estava um clima tão descontraído —dentro dos padrões do rito diplomático— que, a certa altura, Celso Amorim esqueceu que seu interlocutor era russo e começou a falar em português. Do outro lado de uma mesa gigante no Kremlin, estava Vladimir Putin, que por uma hora conversou com o enviado de Lula.

O russo riu. Foi uma quebra de gelo que, para o assessor especial da Presidência e ex-chanceler, cristalizou a receptividade que nem ele esperava. Amorim, afinal, foi à Rússia vender a Putin a ideia de Lula sobre o "clube da paz" para frear a guerra em curso na Ucrânia.

A viagem representou o mais recente aceno da política externa brasileira novamente sob a batuta de Lula. Os cem primeiros dias do novo Itamaraty foram marcados por acenos múltiplos em várias direções. O desafio, agora, é esclarecer o que será prioridade.

Com a ressaca do bolsonarismo —um período que apartou o Brasil da China, seu principal parceiro econômico, e tornou o país quase um pária— o clima geral sobre a agenda externa capitaneada por Lula, pelo chanceler Mauro Vieira e por Celso Amorim é de otimismo.

Mas diplomatas e acadêmicos salientam que, daqui para a frente, é preciso medir a materialidade dessas propostas e, claro, quais sairão primeiro do papel. "Quando há uma multiplicidade de prioridades, pode-se incorrer em erros de concretização e materialização de alguns projetos", diz Hussein Kalout, pesquisador de Harvard e membro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

Em três meses a pasta fez acenos à América do Sul aos EUA, à China —para onde Lula viaja nesta semana—, à União Europeia, à agenda ambiental, à igualdade de gênero e à Guerra da Ucrânia.

Foi também um período inicial de ampla agenda no exterior. Enquanto Lula esteve em Portugal, antes mesmo da posse, na Argentina, no Uruguai e nos EUA, Vieira fez, além dessas, outras cinco viagens oficiais —como à Alemanha, para a Conferência de Segurança de Munique, e a Índia, para reunião do G20.

Ao todo, segundo levantamento da Folha junto ao Itamaraty, foram 65 encontros bilaterais de Vieira com chanceleres e ministros desde 1º de janeiro. Ao Brasil, já vieram seis chanceleres nestes cem dias —de Japão, Grécia, França, Portugal, Uruguai e Angola.

Figuras próximas aos principais formuladores da atual política externa argumentam que a multiplicidade de acenos se trata, na verdade, da construção de pontes necessárias para fazer avançar áreas prioritárias, como a agenda climática, o combate às desigualdades e a mediação da paz e da democracia (na Ucrânia e em outros lugares, como na Venezuela, para onde Amorim também foi enviado por Lula).

O próprio chanceler adota essa linha. À Folha Vieira afirma que, nestes cem dias, o foco inicial foi "normalização" das relações com o mundo. "Transmitimos aos nossos parceiros uma mensagem clara, de que o Brasil retomou suas linhas tradicionais de política externa, como parceiro comprometido sempre com o diálogo."

"Com os canais já plenamente restabelecidos, o momento é o de trabalhar no seguimento e na retomada de projetos com nossos vizinhos sul-americanos, com a América Latina como um todo, com os EUA, China e Europa, e também com nossos parceiros africanos", acrescenta o chanceler.

Os cem primeiros dias também não deixaram de registrar certos entraves. Nos EUA, onde Lula esteve em fevereiro, a frustração se deveu ao valor enxuto destinado pelo governo de Joe Biden ao Fundo Amazônia: US$ 50 milhões (R$ 260 milhões).

Mas a proximidade da administração do democrata à do petista não deixa de ser vista com bons olhos por especialistas na agenda climática. "É impressionante como a filantropia internacional se moveu [desde a eleição de Lula]", avalia Renata Piazzon, membro da Coalizão Brasil Clima e diretora do Instituto Arapyaú.

Ela diz que caberá ao Itamaraty, em articulação com outros ministérios, saber aproveitar o momento. "Nos próximos dois ou três anos, temos que surfar nessa onda de olhares voltados para o Brasil, porque ela vai passar rapidamente"

Houve, ainda, a resposta à pressão da Alemanha —cujo premiê, Olaf Scholz, veio ao Brasil— para não enviar armas à Ucrânia. E as rusgas com Washington após a decisão de receber navios de guerra do Irã.

Com a União Europeia, o esforço é para tirar do papel um acordo comercial com o Mercosul gestado há mais de 20 anos. A expectativa vendida por Lula, de assinar as tratativas finais até o meio do ano, parece compartilhada por parte da diplomacia do bloco europeu. Em certa medida, o arranjo vem também com a expectativa de fazer deslanchar a aliança sul-americana. Há, no entanto, arestas a serem aparadas com o Uruguai, que publicamente manifesta querer arranjos por fora do Mercosul, em especial com a China.

Lula, aliás, embarca para o gigante asiático na terça (11) —iria no último dia 26, mas a viagem foi adiada pelo quadro de saúde do presidente. Em Pequim, devem ser publicizados mais de 20 acordos bilaterais.

Com a viagem, Lula também almeja mostrar "equilíbrio pragmático" entre as duas principais potências globais, EUA e China. A ideia é enfatizar a defesa de um mundo multipolar, sem alinhamento automático a Washington ou Pequim. A Guerra da Ucrânia, por óbvio, também será posta em discussão.

Mas a proposta de Lula para o chamado "clube da paz" é vista com pouco crédito mesmo entre alguns aliados. A avaliação é de que, a despeito do crédito de colocar o Brasil como um interessado em atuar pelo fim do conflito, não há materialidade na proposta.

Para o ex-chanceler Celso Lafer, a medida dialoga, em partes, com "um componente de antiamericanismo da instintiva tradição de correntes do PT". "E propicia menor abertura para a tragédia da Ucrânia e da sensibilidade política dos que a respaldam", diz.

"A credibilidade do Brasil como um terceiro em prol da paz não aumenta com a viagem de Amorim a Moscou, não acompanhada de prontas e explícitas iniciativas em relação à Ucrânia", acrescenta Lafer. "Correm o risco de serem vistos como um terceiro aparente, que não é neutro e busca se beneficiar de um conflito que é pluridimensional."

Amorim, depois de retornar da Rússia, argumentou à Folha que um cessar-fogo realmente não está na agenda imediata. Mas sinalizou a vontade de Brasília de se mostrar disponível para quando houver a possibilidade de esboçar um plano de paz.

Para Kalout, "antes da paz, que não está dada, o Brasil pode ser proponente de ações humanitárias". "Isso é muito mais importante no momento. O Brasil está fazendo todo um movimento tático para garantir um assento na mesa. Mas pode não ser da forma como o Brasil espera. É preciso recalibrar o discurso."

Outro ponto sensível tem sido a relação com ditaduras como Venezuela e Cuba. Enquanto o governo Lula parece querer ser um dos mediadores de acordos entre regime e oposição em Caracas, o discurso sobre Nicarágua sofreu alterações após Daniel Ortega ser acusado por um comitê da ONU de práticas nazistas.

Brasília chegou a ofertar nacionalidade aos mais de 300 expatriados de Ortega e tem manifestado preocupação com o contexto regional, mas evitado críticas mais assertivas à ditadura centro-americana.

Outra frente abraçada no ministério foi a igualdade de gênero. Para enviar uma mensagem aos parceiros internacionais, a pasta criou o cargo de alta representante para temas de gênero. A escolhida foi a diplomata Vanessa Dolce de Faria. O tema ganha contornos mais sensíveis, porém, nas fileiras do próprio Itamaraty, onde há pressão crescente por paridade. Entre as diplomatas, a visão é de que a pasta tem adotado boas políticas, mas que para isso tem sido necessária pressão constante e pública.

Há também um receio de que as esparsas e ainda raras nomeações femininas sejam uma espécie de token —símbolo feito para atenuar demandas e reclamações. O temor foi expressado em carta enviada pela embaixadora Irene Vida Gala ao senador Renan Calheiros (MDB-AL), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.

No texto obtido pela reportagem, Gala, presidente da recém-fundada Associação das Mulheres Diplomatas Brasileiras, aponta que, de 23 indicações para os maiores postos diplomáticos, apenas uma é feminina —Maria Luiza Viotti, em Washington. Pouco depois da pressão, a diplomata Claudia Vieira Santos foi indicada para a Agência Internacional de Energia Atômica, em Viena.

"Tem de haver pressão continuada da nossa parte e reconhecimento, por parte da chefia do Itamaraty, de que eles precisam conversar com a gente", diz Gala. "Não adianta a chefia do ministério nos demonizar ou desqualificar como lideranças na questão de gênero. As diplomatas têm apoio dentro do governo e na sociedade civil."

Na última semana, o Itamaraty iniciou ciclos de conversa sobre gênero, raça, pessoas com deficiência e pessoas LGBTQIA+. No discurso de abertura, ao qual a Folha também teve acesso, Mauro Vieira reconheceu a necessidade de avançar na inclusão. "O Itamaraty reproduziu discriminações e preconceitos herdados do colonialismo e da escravidão. Esperamos, a partir desse diálogo, seguir avançando na dimensão étnico-racial", disse.

Para os próximos meses, também estarão na agenda da diplomacia brasileira a organização do encontro de líderes do G20, a partir de dezembro, a ser sediado no Brasil, e da cúpula dos países amazônicos, prevista para agosto. "Buscaremos respostas conjuntas para os desafios da sustentabilidade e da criminalidade ambiental", afirma o chanceler.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2023/04/cem-dias-do-itamaraty-sob-lula-tem-reconstrucao-de-pontes-e-prioridades-errantes.shtml

Brasil na presidência do G20: quando menos poderá ser mais - Assis Moreira, Valor

Brasil na presidência do G20: quando menos poderá ser mais

A ostentação da Índia na presidência do grupo das maiores economias vai custar R$ 500 milhões neste ano
Por Assis Moreira
Valor — Genebra, 07/04/2023

A Índia tem atualmente a presidência do G20, o grupo das maiores economias e que pretende ser o fórum para solução de grandes problemas. Sua presidência culminará com a cúpula de chefes de Estado e de governo em Nova Déli em 9 e 10 de setembro. No começo de dezembro, os indianos passarão a presidência para o Brasil, no que marcará um importante retorno do país à cena internacional.

Pelo que se viu até agora na Índia, o mínimo que se pode dizer é que o Brasil precisará evitar o show de ostentação dos indianos.

Quem chega na Índia tem a impressão de que a principal preocupação do país atualmente é a presidência do G20, como notou recentemente a revista The Economist. É difícil escapar dos grandes cartazes de propaganda espalhados pelo país com o logo do G20 e a foto do primeiroministro Narendra Modi, que tem tendências crescentemente autoritárias.

Uma observação corrente entre delegados no G20 é sobre os excessos de todo tipo. Por exemplo, na escolha de 56 cidades para acolher reuniões do grupo. Há cidade que terá uma única reunião técnica, mas precisa fazer gastos para se preparar. Somente neste mês de abril, há encontros do grupo em Siliguri/Darjeeling, Gandhinagar, Guwahati, Kumarakom, Goa, Hyderabad, Varanasi e Bhubaneswar.

A programação para cada reunião de três dias é recheada com eventos que vão de apresentação de elefantes, de música e dança, passeio de barco onde isso é possível, jantares demorados. Sobra pouco tempo para fazer reuniões bilaterais e focar mais nos temas em discussão.

Com tudo isso, vem uma fatura pesada. A India vai gastar R$ 500 milhões, pelo menos, com sua presidência do G20 – e, por tabela, com a propaganda favorável a Modi e a seu partido Bharatiya Janata Party.

Para sua presidência do G20, a Índia escolheu como tema ‘Vasudhaiva Kutumbakam’, uma expressão sânscrita encontrada em textos hindus, que significa "o mundo é uma família’.

Sobretudo, o governo de Modi tenta apresentar seu país como voz do ‘Sul Global’, ou dos países em desenvolvimento, em rivalidade com a China. O acúmulo de papelada colocada na mesa por Nova Deli também é grande

E todo esse barulho resultará em nada, ou pouco. A cooperação internacional está em frangalhos, em meio à intensidade das tensões geopolíticas. As reuniões do G20 continuam sendo marcadas pela ausência mesmo de simples declarações comuns, illustrando a dificuldade de o grupo das maiores economias se engajar em discussões construtivas por causa da invasão da Ucrânia pela Rússia.

Nas reuniões do G20, as discussões sobre a guerra na Ucrânia tomam quase toda a agenda. A maioria destaca que o conflito deve ser tratado no Conselho de Segurança das Nações Unidas, mas é inevitável insistir com a preocupação com os efeitos econômicos da invasão russa

O racha é claro no grupo: Rússia e China de um lado e os países do G7 (EUA, Alemanha, Japão, França, Itália, Canadá, Reino Unido) de outro. No meio, estão emergentes como a própria Índia, Brasil, México, Indonésia, Argentina, tentando evitar fragmentação maior. Mas a dinâmica é mesmo de desconfiança. Dificilmente haverá ações concretas, a partir do grupo, agora ou no ano que vem, quando o Brasil assumirá a presidência.

Para o Brasil, estar na presidência do G20 em dezembro, por um ano, dará a oportunidade para o país moldar a agenda, com suas prioridades e aspirações na cena internacional. Mas é preciso focar em alguns temas principais, sem querer tratar de tudo. Para ser eficaz, o governo brasileiro precisará evitar dispersão com uma agenda enorme que não teria continuidade depois.

Além disso, o Brasil não pode gastar tanto dinheiro como os indianos. Ter marca de perdulário, no estado atual das finanças nacionais, não é a melhor política. Como nota um negociador de país do G20, em referência ao que a Índia vem fazendo: 'Vocês não vão fazer assim, não é?'.

O Brasil precisará definir também com cuidado onde vai organizar o número enorme de reuniões. Os problemas de logística são conhecidos. Já será um quebra-cabeça fazer uma reunião de ministros de energia em Foz do Iguaçu. Juntar ministros de meio-ambiente em Rio Branco (Acre), então, seria um desafio adicional. Quanto à cúpula de chefes de Estado e de governo, se depender dos parceiros, seria realizada no Rio de Janeiro.

Depois do show de exageros da Índia, a presidência brasileira do G20 poderia mostrar que ‘menos pode ser mais’ em certas ocasiões. Mas é preciso combinar com o presidente Lula.

Já ouviram falar de "desconhecimentos desconhecidos"? - Paulo Roberto de Almeida

 Já ouviram falar de "desconhecimentos desconhecidos"?

Pois é...

Não sei por quais razões, exatamente, Lula defende tanto Cuba, Venezuela, Nicarágua, e agora China e Rússia. Ou melhor, penso que sei, mas como não tenho provas documentais disponíveis, vou me eximir de acusá-lo disso ou daquilo. Basta constatar, e ninguém me dirá que minha afirmação é falsa. Ele mesmo confirmou isso muitas vezes.
Eu sei por quais razões eu me oponho a esses países, ou melhor, a seus governos do presente. Simplesmente porque são DITADURAS, não sei se Lula sabe exatamente o que isso significa.
Eu sei, como acadêmico. Em minha qualidade de livre pensador e participante dos debates em torno das políticas públicas, eu posso dizer o que penso, sem precisar esconder, sem temer retaliações, a não ser a crítica de colegas acadêmicos ou até de funcionários públicos e dirigentes governamentais. Mas ninguém me impedirá de dizer o que eu penso.
Ora, isso é impossível em qualquer um dos países citados, e em dezenas de outros. Os acadêmicos, membros de think tanks, professores, jornalistas, cidadãos comuns NÃO PODEM escrever, dizer, publicar posturas criticas ao governo, a não ser em termos muito velados e apenas em algumas circunstâncias. 
Isso é DITADURA, coisa da qual tenho HORROR!
Apenas por isto, o que para mim é muito.
Sendo amigo da LIBERDADE, só posso lamentar que meus confrades nesses países não sejam livres para escrever o que pensam, ou até para defender o governo (até para isso, eles precisam passar pela censura do regime, para verificar que os seus elogios estão dentro das conformidades do momento). 
Acho que Lula ainda não aprendeu isso, ou não quer, ou não pode.
Mas isso talvez só seja esclarecido um dia.
Lembram-se da queda do Muro de Berlim?
Foi tudo tão rápido que a Stasi, a política política, não teve tempo de apagar os arquivos, destruir papéis comprometedores.
Os cubanos já tiveram muito tempo para fazê-lo, assim como russos e chineses...
Mas, sempre aparece alguma coisa, algum Wikileaks cubano, chinês ou russo...
Aguardemos...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10/04/2023

Picassos iranianos?

 

1,000 Words

A painting by Emad — an Iranian artist in Tehran who described himself as “an objector to the Islamic Republic” — that represents violence perpetrated by the Islamic Revolutionary Guard Corps. (Emad)

A painting by Emad — an Iranian artist in Tehran who described himself as “an objector to the Islamic Republic” — that represents violence perpetrated by the Islamic Revolutionary Guard Corps. (Emad)

A painting by Emad representing Iranian government repression and propaganda aired by state media. (Emad)

A painting by Emad representing Iranian government repression and propaganda aired by state media. (Emad)

My colleague Miriam Berger profiled three Iranian artists whose recent work “reflects the hope, turmoil and tragedy of the popular uprising and the violent crackdown that followed.”“It was incredibly risky to film or photograph the anti-government protests that swept Iran after the September death of Mahsa Amini. In the privacy of their homes and studios, however, some Iranian artists began to take inspiration from the scenes on the streets.”

FFAA da Ucrânia racionando suas munições (da era soviética) - The Washington Post

Dramático... 

Rationing ammo

Ukrainian forces fire a 2S1 “Hvozdyka,” a Soviet-era 122mm self-propelled artillery installation, toward Russian positions. (Heidi Levine for The Washington Post)

Ukrainian forces fire a 2S1 “Hvozdyka,” a Soviet-era 122mm self-propelled artillery installation, toward Russian positions. (Heidi Levine for The Washington Post)

DONETSK REGION, Ukraine — The artillery shells were stored in a shallow mud dugout, covered with a black plastic tarp to keep them safe. Just 14 rounds remained — evidence of a critical ammunition shortage that has the Ukrainians scrambling for ways to conserve supply until their Western allies can produce or procure more.

The artillery platoon, with the 59th Motorized Brigade in eastern Ukraine, used to fire more than 20 or 30 shells per day with their Soviet-era howitzer. Now, they typically shoot one or two, or none at all.

The ammunition that has pounded parts of Ukraine daily for more than a year has become a precious resource in the artillery war with Russia — and which side conserves shells and rearms faster could turn the tide on the battlefield.

In the dugout, a Ukrainian soldier reached for a round as his commander recited coordinates for their first shot of the day. “Fire,” yelled the commander, whom The Post agreed to identify by his call sign, Spider, due to the security risks. After the blast, he waited, staring at his phone for another order. He didn’t receive one, so he told his men to stand down, not knowing if the shell had hit its target or his commander just didn’t want to spend another one.

Even amid a shortage, Ukraine is firing some 7,700 shells per day, or roughly one every six seconds, according to a Ukrainian military official who spoke on the condition of anonymity. Russia, which may also be running low, is firing more — by some estimates triple that amount.

To keep up with their adversary and still conserve ammunition, the Ukrainian military is now pickier in selecting targets, often prioritizing equipment over small groups of infantry. Precision is key because misses mean wasted shells. And in underground workshops across eastern Ukraine, soldiers are using 3D printers and recycling unexploded ordinances to create alternative munitions.

In a secret location in the Donetsk region, Ukrainian military personnel fashion their own explosives to be dropped from drones on Russian equipment or infantry on March 28. (Heidi Levine for The Washington Post)

In a secret location in the Donetsk region, Ukrainian military personnel fashion their own explosives to be dropped from drones on Russian equipment or infantry on March 28. (Heidi Levine for The Washington Post)

Artillery rounds for Ukraine’s Soviet-era guns, which make up the majority of their arsenal, have long been in short supply. That has forced a reliance on the artillery provided by Kyiv’s Western allies because they use 155mm caliber shells, which Ukraine has more of for now but for far fewer guns.

At the pace Ukraine is firing, those stocks could soon run out, too, as Western countries struggle to ramp up production.

Nearby Spider’s artillery position, the thunder of a U.S.-provided M777 howitzer, with its 155mm shells, roared every few minutes while he and his men drank tea in a foxhole. “Sometimes we just sit here and listen to the M777 shooting and the Russian creatures shooting back. It’s like a talk between them,” Spider said.

“We don’t have a lot of ammunition, so that’s why we don’t work a lot,” he said.

The countries that still have stocks of Soviet-standard 152mm and 122mm rounds are largely former Soviet republics, many of which are hesitant to sell to Ukraine because of their ties with Russia. Some African and Middle Eastern countries, which have received weapons and ammunition from Russia over the years, also have stocks of those shells. A few former Warsaw Pact countries have the capacity to manufacture the shells but not at the scale and speed Ukraine needs on the battlefield.

Occasionally, a third country friendly to Ukraine will purchase the ammunition — sometimes through a broker — and then supply it to Ukraine in secret to avoid any political fallout for the seller. Often, the result is that one artillery piece on the battlefield may have shells produced in several countries, which soldiers say may not fire the same, affecting accuracy. – Isabelle Khurshudyan and Kamila Hrabchuk

Read more: Facing critical ammunition shortage, Ukrainian troops ration shells

China’s new world order is taking shape - Ishaan Tharoor with Sammy Westfall (WP)

 

Um debate espontâneo no programa Latitudes, do Antagonista e revista Crusoé - Visão Holística, Paulo Roberto de Almeida



O Brasil tem futuro? Um debate no programa Latitudes

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com; pralmeida@me.com)

Notas sobre um comentário feito no programa Latitudes 19.

  

No dia 1º de abril – e não era mentira – foi veiculado o programa Latitudes 19, gravado alguns dias antes, com os jornalistas Rogério Ortega e Duda Teixeira, como registrado nesta minha ficha de trabalho: 

4347. “Faz sentido o Brasil se aproximar de China e Rússia?”, Programa Latitudes n. 19, 1 abril 2023, 1h de conversa com os jornalistas Rogério Ortega e Duda Teixeira sobre as posições adotadas pela diplomacia petista em relação aos grandes temas da política internacional, como a invasão da Ucrânia e a retórica belicista da China (link: https://www.youtube.com/watch?v=3S2n8_pCtrw); divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/faz-sentido-o-brasil-se-aproximar-de.html). Relação de Publicados n. 1501.

 

Nos muitos comentários – a maior parte elogiosos – a essa entrevista, deparei-me com um longo comentário, abaixo transcrito, de autor desconhecido, que só fui ler na madrugada desta segunda-feira 10 de abril. Transcrevo a seguir, e depois formulo alguns poucos comentários pessoais, não sobre todos os pontos, pois o texto é realmente abrangente e instigante, mas sobre alguns deles, a começar, ou a terminar, pela pergunta do final do comentário: “Será que existirá Brasil daqui 200 anos?”

Esclareço desde já que não disponho de NENHUMA informação sobre esse autor, resguardado atrás desse nome provocador, “Visão Holístca”; digo apenas que o quadro que enfeita sua página no Facebook é de um pintor suíço, cuja enorme tela, uma vista de uma das majestosas montanhas suíças dos Alpes, creio já ter visto no museu de Berna, mas cujo nome me escapa; sua página não contém absolutamente nada, a não ser uma ilustração inicial que contém as seguintes palavras: “Só observando e opinando sobre coisas do mundo... Não pertenço a bolhas de realidade!!”

Vamos ao texto, portanto, antes de meus comentários: 

 



Visão Holística

há 1 dia (dia 8/04/2023)

 

“O período glorioso das nações latinas europeias acabou com a ascensão das nações anglo-saxãs, a revolução industrial foi o golpe de misericórdia. O Brasil teve a sua formação e evolução sob o guarda-chuva das nações latinas europeias (principalmente Portugal, mas também Espanha). Apesar de ser um gigante, sempre foi um gigante aquém do seu potencial (pelo menos, o Brasil se percebe assim). Desde o império, como se vê pelo comentário do embaixador, o Brasil esteve submetido à influência e vontade das nações anglo-saxãs, assim como Portugal, Espanha e Itália. Assim, o Brasil sempre se reconheceu como país ocidental, mas um país com papel menor, um primo pobre que é deixado meio de lado, esnobado pelos demais. O Brasil olha para os Estados Unidos com admiração e ressentimento ao mesmo tempo, por isso fica nessa posição meio ambígua em relação a ele. Na primeira metade do século XX, o Brasil tentou uma aproximação com os países fascistas, mas mudou de ideia ao ter navios brasileiros bombardeados. Acabou como país aliado, não por convicção democrática, mas por força dos acontecimentos. Depois da guerra, fez um longo debate se deveria se posicionar com país ocidental nas relações internacionais ou simplesmente com país neutro, optou pela neutralidade e se afastou dos grandes acontecimentos do século (durante a Guerra Fria sofreu as consequências da escolha pela neutralidade). Agora, no século XXI, permanece neutro numa situação análoga aquela do século XX, coloca-se novamente diante do Brasil a mesma necessidade de posicionamento e, mais uma vez, o Brasil busca aliança com regimes autoritários, tentando encontrar espaço para exibir sua suposta grandeza e obter reconhecimento. Provavelmente, mais uma vez, se alinhará ao Ocidente não por convicção, mas por força dos acontecimentos. Por que o Brasil tem que agir assim? Será que o Brasil acha que pode se colocar a altura dos Estados Unidos ou enfrentá-lo? Nem a Europa e Japão conseguiram, ambos aceitaram a posição que lhes restaram na história como aliados na defensa da liberdade e democracia, deixando aos Estados Unidos a parte suja do processo. No final, o que se conclui de tudo isso é que nossa atitude faz com que exista certa desconfiança em relação a nós, sem que isso nos traga qualquer benefício verdadeiro (o Brasil não consegue acordos de transferência de tecnologia com facilidade, por exemplo). O Brasil não é um país de muita confiança para o Ocidente, porque se apresenta como esse negócio meio estranho que não tem convicção, meio amoral e que vive com um pé em cada barco (sempre!). Será que existirá Brasil daqui 200 anos?

 

Retomo (PRA):

Permito-me, em primeiro lugar, agradecer ao distinto e misterioso comentarista a excelência de seus argumentos expostos no texto acima e postados na URL do programa. Digo que concordo com a maioria deles, em especial este aqui: “Na primeira metade do século XX, o Brasil tentou uma aproximação com os países fascistas, mas mudou de ideia ao ter navios brasileiros bombardeados. Acabou como país aliado, não por convicção democrática, mas por força dos acontecimentos.” Ou seja, o Estado Novo estaria muito bem com as ditaduras, se elas não ameaçassem o Brasil, como o fizeram, e talvez por isso acabamos nos “rendendo” à realidade: o peso dos EUA era bem maior e mais prometedor, mas sobretudo a partir da ação decisiva de Oswaldo Aranha (ex-embaixador em Washington, 1934-1937), como tive a oportunidade de expor em minhas introduções tópicas a várias partes desta obra que editei quando era diretor do IPRI-Funag, no Itamaraty: Sérgio Eduardo Moreira Lima; Paulo Roberto de Almeida; Rogério de Souza Farias (orgs.): Oswaldo Aranha: um estadista brasileiro, Brasília, Funag, 2017, 2 volumes; disponíveis na Biblioteca digital da Funag: volume 1, 568 p.; ISBN: 978-85-7631-696-1; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=913; volume 2, 356 p.; ISBN: 978-85-7631-697-8; link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=914.

Não sei se o Brasil pode ser chamado de “país neutro”, dependendo do que esse termo signifique ou represente para o comentarista. Tentamos nos inserir dentro da ordem internacional, em alguns momentos de maneira alinhada, em outros, os mais frequentes, em busca de uma autonomia difícil, pois que somos dependentes de capitais e investimentos estrangeiros, e também há que contar com nosso tradicional anticomunismo e o ainda mais renitente conservadorismo oligárquico. Nos poucos momentos em que fomos “desalinhados”, a coisa não andou bem: sofremos retaliações, até golpe de Estado, ou então perdemos oportunidade de obter vantagens na cooperação de mais alto nível, justamente por essa busca de autonomia que levou ao cerceamento de nosso acesso a tecnologias sensíveis, o que dependia de nossa aceitação da OCDE e das regras da interdependência econômica e política, o que nunca quisemos fazer. 

Na verdade, a Europa e o Japão só se alinharam porque foram vencidos na guerra e ocupados militarmente (aliás, a metade mais infeliz pela União Soviética, o que demorou mais 40 anos). Nós não fomos levados a isso, nem precisávamos, mas faltou visão de futuro a nossas elites medíocres e protecionistas (como sempre fomos). Agora, quanto à sua pergunta – “Será que existirá Brasil daqui 200 anos?” –, respondo que sim, mas com muito atraso ainda, sobretudo do ponto de vista social, pois que o escravismo e a miopia das elites impedem ou dificultam um avanço mais decisivo em direção do progresso econômico e social. Fico com a estrofe de Mário de Andrade, num poema curioso, de 1924, “O poeta come amendoim”, no qual ele afirma isto: “Progredir, progredimos um tiquinho / Que o progresso também é uma fatalidade”. Eis aí, temos pelo menos a fatalidade de progredir, mas dificilmente vamos ser inovadores se não qualificarmos educacionalmente a população mais pobre (claro, os ricos já estão integrados à modernidade).

Gostaria de continuar o debate, mas ele já está longo. Fica para outra vez.

 

Foi isso o que respondi ao Holístico interlocutor. Estou aberto ao debate...

 

PS.: O quadro se chama “Der Wanderer über dem Nebelmeer”, e o pintor é Caspar David Friedrich, sendo que a tela faz parte do acervo do Hamburger Kunsthalle, em Hamburgo.

 

==========

 

Aproveito para responder aqui, antes que se percam, duas perguntas do Chat, que foram feitas durante a emissão, e que eu não respondi por não ter tido acesso no momento, por não saber, e talvez também porque não houve tempo aos jornalistas de selecionarem algumas. Respondo agora, in fine, a estas perguntas mais desafiadoras:  


Denis Santossobre a guerra, pq ninguém fala q a culpa é da OTAN, pq pós seg guerra houve acordo de não expansão para o Leste.

PRA: Nunca houve acordo formal, apenas conversas entre dirigentes europeus e russos. Não foi a OTAN que se expandiu. Foram os países que pediram, desesperadamente, para ingressar na OTAN, pois já tinham sido invadidos e dominados pelo Império soviético. Ninguém entrou forçado, todos quiseram entrar, pois não gostavam do abraço do urso russo.

 

4C RIPPortugal foi neutro durante as grandes guerras, certo?

PRA: Não! Portugal foi neutro apenas na 2ª Guerra; na primeira foi participante e até enviou soldados nas frentes de combate do norte da França. Um eminente historiador, Jaime Cortesão, que depois fugiu da ditadura do Estado Novo de Salazar (que começou entre 1928 e 1932), esteve lutando em 1917, e foi gravemente ferido por gás alemão, se recuperou e voltou a brilhar em Portugal. Foi preso e se refugiou no Brasil, onde fez brilhante carreira de historiador, pesquisador e professor do Instituto Rio Branco no RJ. Foi autor de obra brilhante, como “Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madri” (1953).


 Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4359: 10 abril 2023.

domingo, 9 de abril de 2023

O retorno da diplomacia presidencial nos cem dias de Lula, entrevista ao jornalista Duda Teixeira (Crusoé)

4538. “O retorno da diplomacia presidencial nos cem dias de Lula”, entrevista com o jornalista Duda Teixeira da revista Crusoé (emissão em 9/04/2023, 14:29; link: https://crusoe.uol.com.br/diario/o-retorno-da-diplomacia-presidencial-nos-100-dias-de-lula/). Relação de Publicados n. 1503.



Minhas reservas quanto à diplomacia presidencial estão expostas nesse meu livro de 2014, Nunca antes na diplomacia, ao considerar que chefes de governo e de Estado são a última linha de tomada de decisão, e não deveriam eles mesmos, tomar a iniciativa de gestos ousados sem que os órgãos técnicos e jurídicos tenham feito um exame aprofundado de todos os impactos para o país, e sem uma recomendável consulta ao parlamento para aquelas decisões mais relevantes.


Carga misteriosa na visita de Lavrov ao Brasil - Claudio Dantas (Jovem Pan)

Carga misteriosa na visita de Lavrov

Visita do chanceler russo Serguei Lavrov ao Brasil no dia 17 vem causando desconforto entre representantes diplomáticos de países que apoiam a Ucrânia na guerra contra a Rússia

  • Por Claudio Dantas
  •  

  • 07/04/2023 14h09 - Atualizado em 07/04/2023 15h05
  • Willy Kurniawan / AFP
    Serguei Lavrov, chanceler da RússiaSerguei Lavrov, chanceler russo

    Representantes diplomáticos de países aliados da Ucrânia na guerra contra a Rússia estão desconfortáveis com a visita do chanceler russo Sergei Lavrov a Brasília, no próximo dia 17. O motivo é uma carga de 5 toneladas, classificada como ‘bagagem diplomática’, que deverá entrar no Brasil no período. O carregamento é sigiloso e encontra-se parado na Argentina, com previsão de transporte em uma semana. Essas fontes suspeitam que possam ser equipamentos sensíveis, armamentos ou dinheiro não declarado. Além do contêiner misterioso, Lavrov estaria trazendo em sua comitiva 18 agentes de segurança e inteligência.

    Malas e bagagens diplomáticas não podem ser revistadas, mas parlamentares da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado avaliam solicitar informações ao Itamaraty.

    Detalhes da viagem do chefe da diplomacia russa foram ajustados no encontro com Celso Amorim dias atrás, em Moscou. O assessor especial de Lula também foi recebido por Vladimir Putin, que convidou o presidente da República a visitá-lo. A missão discreta de Amorim teve como pauta oficial negociações sobre o comércio de fertilizantes e a oferta de Lula para mediar um acordo de paz. “Dizer que as portas estão abertas (para a negociação de paz) seria um exagero, porém afirmar que estão fechadas tampouco é verdade”, disse o assessor,  de forma lacônica.

    Céticos em relação a qualquer avanço num cessar-fogo, esses diplomatas ouvidos pela Jovem Pan, na condição de anonimato, enxergam os encontros como cortina de fumaça para uma aproximação estratégica entre Brasil e Rússia, no âmbito de um alinhamento geopolítico liderado pela China. É conhecida a intenção do bloco de se criar um sistema de pagamento global alternativo ao Swift, a fim de livrar aliados de sanções ocidentais. A esse contexto conturbado, somam-se prisões recentes de três espiões russos que estariam atuando mundo afora com identidades brasileiras. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo desta quinta-feira, 6, informa que a Polícia Federal suspeita do uso do país de forma sistemática para formar agentes ilegais pelo governo russo.

    *Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.


    Meus 100 primeiros dias de Lula 3 - Paulo Roberto de Almeida

    Meus 100 primeiros dias de Lula 3

     

     

    Paulo Roberto de Almeida

    Diplomata, professor

    (www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

    Nota de avaliação sobre os primeiros cem dias do novo governo. 

      

    Não é só uma convenção jornalística e uma invenção arbitrária essa mania de fazer uma avaliação de qualquer governante no exercício dos seus 100 primeiros dias na função. É um direito e uma obrigação de qualquer governado seguir atentamente as palavras e as ações daquele que pretende dirigir toda uma nação, o que compreende todos os jurisdicionados, inclusive este modesto escrevinhador que insiste em expressar sua opinião, mesmo contra “ventos e marés”.

    Pois então vamos lá.

    Acredito, em primeiro lugar, que Mister Lula começou a se comportar mal ainda antes de tomar posse, esquecendo (ou preferindo ignorar) que só conseguiu ganhar as eleições porque contou com um expressivo número de votos que NUNCA foram a seu favor, e que apenas expressaram o imenso HORROR que milhões de brasileiros tinham CONTRA o psicopata que desonrou a cadeira presidencial desde 2018 e nos quatro anos seguintes. Então, a visão curta de Lula 3 sobre essa realidade vem atrapalhando seu governo desde então, deixando de lado a coalizão democrática que o elegeu para governar com o que lhe vem à cachola: muito ressentimento e sobretudo sectarismo.

    Segunda coisa: renegou todas as suas afirmações sobre o estupro orçamentário construído pelo estamento político para se apropriar de vultosas verbas da nação via emendas secretas e farta distribuição de recursos coletivos para mãos e bolsos privados, geralmente corruptos e no mínimo mal aplicados. Essa é forte, pois tinha dito que iria extirpar isso.

    Terceiro: fazer um governo não só de competentes e bons gestores, mas de aliados incondicionais, o que vai contra as recomendações de qualquer Maquiavel de botequim (ao tratar dos assessores do príncipe).

    Quarto: ele tem sido um desastre TOTAL em política externa e em diplomacia, ao continuar apoiando (“precisa tratar com carinho”) ditaduras execráveis e ao deixar sua megalomania e preferências políticas prevalecer sobre os interesses da nação a médio e longo prazos. Quer se meter a fazer recomendações ao G7 em matéria de políticas econômicas e de posturas diplomáticas no tocante à maior ameaça à paz desde a Segunda Guerra Mundial, mas recusa sequer considerar uma aproximação do Brasil ao “clube de boas práticas” que representa a OCDE e se recusa a condenar o tirano de Moscou pelas atrocidades que vem praticando contra o povo-irmão da Ucrânia.

    Quinto: pretende crescimento, com benefícios sociais aos mais pobres, mas continua se recusando a adotar uma gestão responsável dos recursos públicos, como se o Estado fosse uma cornucópia infinita de bondades e como se esse ogro famélico pudesse ser um bom administrador de todos os empreendimentos econômicos.

    Sexto: ao colocar sua improvisação política na frente de um exame técnico competente de quaisquer medidas de caráter público que possam ser tomadas por um governo que dispõe de uma tecnocracia competente e preparada para oferecer políticas sustentadas, não na vontade individual, mas na factibilidade e na exequibilidade de tais propostas, sobretudo no plano orçamentário.

     

    Dito tudo isso, sobre os “meus” primeiros cem dias do governo de Lula 3, afirmo e reafirmo que a reeleição do psicopata teria sido um HORROR, sob TODOS os pontos de vista. Nunca tivemos, e espero que nunca mais tenhamos de novo, um indivíduo tão asqueroso, incompetente e perverso no comando de qualquer administração em qualquer nível da federação, o que compreende também a representação dos cidadãos deste país tão sofrido pela má qualidade de suas elites.

    O Brasil continuará a se arrastar penosamente em direção a um futuro incerto, em grande medida pela má educação do seu povo. 

    Termino então, dizendo que se eu fosse um dirigente público, em qualquer nível, eu teria apenas cinco prioridades em matéria de políticas públicas: quatro estariam em educação integral de qualidade para TODAS as crianças dos 3 aos 17 anos, sendo que a quinta seria maior liberdade econômica possível no que respeita a inserção do Brasil na economia global.

     

    Meus melhores votos para Mister Lula nos seus 1.360 dias restantes de governo.


     

    Paulo Roberto de Almeida

    Brasília, 4357: 9 abril 2023, 2 p.


     

     

    sábado, 8 de abril de 2023

    Pensando no longo prazo histórico - Paulo Roberto de Almeida

    Pensando no longo prazo histórico

    Paulo Roberto de Almeida

    Uma reflexão à la Gibbon ou à la Toynbee, num sábado de Aleluia. Falta um Homero nessa história, ou talvez um Heródoto ou um Tucídides? Mas, chega de destruição! Feliz Páscoa a todos!

    Os romanos do século V não tinham ideia de que a dissolução de seu império iria lançar todos os povos da Europa e adjacências em mil anos de fragmentação política e econômica, recuo cultural e poucos avanços sociais. Mas, estes viviam enviando produtos e riquezas para Roma, de forma que não se preocuparam muito com o enfraquecimento da metrópole.

    Tampouco os “romanos” de Constantinopla, que ganharam mil anos de sursis, podiam imaginar que o mundo otomano seria avassalador, até às portas da Europa, e que durasse tanto tempo (mais de 600 anos). Antes já tinham sofrido na passagem caótica das hordas cruzadistas, que devastaram tudo no seu caminho para Jerusalém.

    Hoje, a ameaça é mais às liberdades do que ao bem-estar. Um “mundo chinês” terá, provavelmente, mais ordem e segurança, mas ao preço de coisas que julgamos elementares, como escolher o que você vai ler, assistir nas telas de TV, laptops ou celulares, o que você poderá expressar publicamente nas redes.

    Seria um Big Brother não tão totalitário e opressor quanto o imaginado por Orwell, mas ainda assim um Big Brother estatal.

    Impérios bem-sucedidos são mais longevos e resilientes do que Estados nacionais, que podem sucumbir a impérios predatórios. 

    Para as tribos primitivas da Europa continental, o Império romano, por mais predador e escravista que fosse, representou avanços em matéria de segurança, cultura e comércio, ao preço da perda de suas características originais (e de muitos escravos enviados a Roma). 

    Estaríamos no limiar de um novo império, vindo do Oriente profundo? 

    Outros impérios menores (Mogul, persa, vikings) ficaram pelo caminho, submergidos por forças mais poderosas. O maior império marítimo do mundo, o britânico, encolheu como a peau de chagrin de Balzac; o mesmo pode ocorrer com o maior império terrestre, o russo, ou eslavo-bizantino. 

    O Brasil nunca teve a oportunidade real de ser a sede de um grande império marítimo lusitano, e foi melhor assim, mas conservou durante muito tempo a chaga quase incurável do escravismo, que perdura até hoje nas relações contratuais.

    Assim caminha a humanidade, certamente melhor hoje do que em qualquer época do passado, mas nunca liberta das paixões e interesses dos seres humanos que somos.

    Não estamos tão longe assim da guerra de Troia, mesmo sem algum bardo à vista para cantar novas epopeias.

    Pelo menos isso, para deixar aos nossos sempre curiosos descendentes.

    Paulo Roberto de Almeida

    Brasília, 8/04/2023