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quarta-feira, 26 de março de 2014

Brasil 1964: os militares como os agentes da desmilitarizacao da politica brasileira

Recebido, via Google+, esta nota assinada, que me parece historicamente correta e factualmente objetiva, sobre a participação dos militares na política brasileira.
Uma coisa é certa: depois de 1964, e começando a contar em 1985, na verdade (com alguma tutela no período imediatamente subsequente), não ocorreram mais intervenções dos militares na política brasileira.
São os militantes da esquerda, atualmente no poder, que parecem estar trazendo os militares de volta, ao pretender retaliações contra os que cometeram torturas e violações dos direitos humanos.
As alegações são seriamente enviesadas, na medida em que nenhum dos atentados cometidos pelos grupos armados são sequer mencionados.
Ora, é evidente que se não tivesse havido iniciativas de guerrilha urbana e rural no Brasil, dificilmente o Brasil, e os militares e civis envolvidos na repressão, teriam embarcado nos "anos de chumbo".
Paulo Roberto de Almeida

ALENTOS PARA A VERDADE SUFOCADA
General da Reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva
(Recebido em 26/03/2014)

O regime militar teria sido um dos fatores determinantes do fortalecimento da democracia no Brasil? Sim.
De 1922 até 31 de março de 1964, o Brasil viveu sucessivas revoltas internas, devido à debilidade das instituições para garantir a normalidade democrática em momentos de crises políticas que, via de regra, tinham a participação das Forças Armadas. Eram conflitos onde sempre havia chefes militares envolvidos na política partidária, que arrastavam consigo parte da tropa numa demonstração de que o País não amadurecera para a democracia. Vários chefes, ainda no serviço ativo, participavam da política partidária não só como candidatos a cargos eletivos. Havendo ou não honestidade de propósitos, ficavam prejudicados: o compromisso, que deveria ser exclusivamente com a Nação; a dedicação, que deveria estar integralmente voltada para a missão constitucional; e os princípios de hierarquia e disciplina, comprometendo a coesão militar e a própria unidade nacional.
Pode-se fazer uma longa lista para comprovar essa instabilidade institucional.
- Em 1922, ocorreram levantes em quartéis da Vila Militar, Escola Militar do Realengo e no Forte de Copacabana, este último passando à história como o episódio dos “18 do Forte”.
- Entre 1924 e 1927, sucessivas revoltas, principalmente nos Estados de São Paulo, Mato Grosso e no sul do Brasil, culminaram com a campanha da Coluna Miguel Costa-Prestes pelo interior do País.
- Em 1930, a revolução que depôs o presidente Washington Luiz e colocou Getulio Vargas no poder.
- Em 1932, a Revolução Constitucionalista de São Paulo.
- Em 1935, a Intentona Comunista no Rio de Janeiro, Natal e Recife.
- Em 1937, o golpe de Getulio Vargas e a implantação do “Estado Novo”, regime ditatorial que durou até 1945.
- Em 1938, a revolta integralista de Plínio Salgado.
- Em 1945, a deposição do ditador Getulio Vargas e a redemocratização do País.
- Em 1954, a crise político-militar que culminou com o suicídio do presidente Vargas e sua substituição pelo vice-presidente Café Filho.
- Em 1955, o “golpe preventivo” do Marechal Lott, Ministro da Guerra, para garantir a posse de Juscelino Kubitschek na presidência da República, ameaçada pelo então presidente interino Carlos Luz, setores militares e aliados políticos.
- Em 1956, a revolta de Jacareacanga.
- Em 1959, a revolta de Aragarças.
- Em 1961, a crise da posse de Jango após a renúncia de Jânio Quadros, que resultou na implantação do parlamentarismo no Brasil.
- Em 1963, a revolta dos sargentos em Brasília.
- Em 1964, a Contra-revolução de 1964, com a implantação do chamado regime militar.
- Entre 1968 e 1977, o período que abrange o combate à luta armada e sua neutralização.
Em 1978, começou o processo de abertura democrática, com a revogação do AI-5 e a concessão da anistia no ano seguinte. Desde então, não houve mais nenhuma crise política com o envolvimento das Forças Armadas no Brasil.

Foi o regime militar que afastou os militares da ativa e, como consequência a tropa, da política partidária, sendo este um dos fatores determinantes do fortalecimento das instituições democráticas, junto com a neutralização dos movimentos radicais que tentavam implantar a ditadura comunista nos moldes soviético, cubano ou chinês. Podem ainda ser destacados outros indutores do regime democrático, quais sejam: a implantação de infraestruturas básicas que permitiram o desenvolvimento econômico, o crescimento da classe média, a melhoria das condições de vida e a criação de oportunidades para grande parte da população; e o amadurecimento político-social da Nação. A esses fatores, pode-se agregar o descrédito do socialismo radical, após o categórico fracasso das matrizes soviética e cubana, e a transformação da China de uma economia socialista-estatal para capitalista-estatal, porém ainda ditatorial e liberticida, portanto incompatível com a índole do povo brasileiro.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Golpe à Brasileira - Marco Antonio Villa

Golpe à Brasileira
Marco Antonio Villa*
O Estado de S.Paulo, 19 de Fevereiro de 2013

Às vésperas dos 50 anos do golpe militar torna-se necessário um resgate da História para entendermos o presente. Em 1964 o Brasil era um país politicamente repartido. Dividido e paralisado. Crise econômica, greves, ameaça de golpe militar, marasmo administrativo. O clima de radicalização era agravado por velhos adversários da democracia. A direita brasileira tinha uma relação de incompatibilidade com as urnas. Não conseguia conviver com uma democracia de massas num momento de profundas transformações. Temerosa do novo, buscava um antigo recurso: arrastar as Forças Armadas para o centro da luta política, dentro da velha tradição inaugurada pela República, que já havia nascido com um golpe de Estado.
A esquerda comunista não ficava atrás. Sempre estivera nas vizinhanças dos quartéis, como em 1935, quando tentou depor Getúlio Vargas por meio de uma quartelada. Depois de 1945, buscou incessantemente o apoio dos militares, alcunhando alguns de "generais e almirantes do povo". Ser "do povo" era comungar com a política do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e estar pronto para atender ao chamado do partido numa eventual aventura golpista. As células clandestinas do PCB nas Forças Armadas eram apresentadas como uma demonstração de força política.
À esquerda do PCB havia os adeptos da guerrilha. O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) era um deles. Queria iniciar a luta armada e enviou, em março de 1964, o primeiro grupo de guerrilheiros para treinar na Academia Militar de Pequim. As Ligas Camponesas, que desejavam a reforma agrária "na lei ou na marra", organizaram campos de treinamento no País em 1962 - com militantes presos foram encontrados documentos que vinculavam a guerrilha a Cuba. Já os adeptos de Leonel Brizola julgavam que tinham ampla base militar entre soldados, marinheiros, cabos e sargentos.
Assim, numa conjuntura radicalizada, esperava-se do presidente um ponto de equilíbrio político. Ledo engano. João Goulart articulava sua permanência na Presidência e necessitava emendar a Constituição. Sinalizava que tinha apoio nos quartéis para, se necessário, impor pela força a reeleição (que era proibida). Organizou um "dispositivo militar" que "cortaria a cabeça" da direita. Insistia em que não podia governar com um Congresso Nacional conservador, apesar de o seu partido, o PTB, ter a maior bancada na Câmara dos Deputados após o retorno do presidencialismo e não ter encaminhado à Casa os projetos de lei para tornar viáveis as reformas de base.
Veio 1964. E de novo foram construídas interpretações para uso político, mas distantes da História. A associação do regime militar brasileiro com as ditaduras do Cone Sul (Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai) foi a principal delas. Nada mais falso. O autoritarismo aqui faz parte de uma tradição antidemocrática solidamente enraizada e que nasceu com o Positivismo, no final do Império. O desprezo pela democracia rondou o nosso país durante cem anos de República. Tanto os setores conservadores como os chamados progressistas transformaram a democracia num obstáculo à solução dos graves problemas nacionais, especialmente nos momentos de crise política. Como se a ampla discussão dos problemas fosse um entrave à ação.
O regime militar brasileiro não foi uma ditadura de 21 anos. Não é possível chamar de ditadura o período 1964-1968 - até o Ato Institucional n.º 5 (AI-5) -, com toda a movimentação político-cultural que havia no País. Muito menos os anos 1979-1985, com a aprovação da Lei de Anistia e as eleições diretas para os governos estaduais em 1982. Que ditadura no mundo foi assim?
Nos últimos anos se consolidou a versão de que os militantes da luta armada combateram a ditadura em defesa da liberdade. E que os militares teriam voltado para os quartéis graças às suas heroicas ações. Num país sem memória, é muito fácil reescrever a História.
A luta armada não passou de ações isoladas de assaltos a bancos, sequestros, ataques a instalações militares e só. Apoio popular? Nenhum. Argumenta-se que não havia outro meio de resistir à ditadura a não ser pela força. Mais um grave equívoco: muitos desses grupos existiam antes de 1964 e outros foram criados pouco depois, quando ainda havia espaço democrático. Ou seja, a opção pela luta armada, o desprezo pela luta política e pela participação no sistema político, e a simpatia pelo foquismo guevarista antecederam o AI-5, quando, de fato, houve o fechamento do regime. O terrorismo desses pequenos grupos deu munição (sem trocadilho) para o terrorismo de Estado e acabou sendo usado pela extrema direita como pretexto para justificar o injustificável: a barbárie repressiva.
A luta pela democracia foi travada politicamente pelos movimentos populares, pela defesa da anistia, no movimento estudantil e nos sindicatos. Teve em setores da Igreja Católica importantes aliados, assim como entre os intelectuais, que protestavam contra a censura. E o MDB, este nada fez? E os seus militantes e parlamentares que foram perseguidos? E os cassados?
Os militantes da luta armada construíram um discurso eficaz. Quem os questiona é tachado de adepto da ditadura. Assim, ficam protegidos de qualquer crítica e evitam o que tanto temem: o debate, a divergência, a pluralidade, enfim, a democracia. Mais: transformam a discussão política em questão pessoal, como se a discordância fosse uma espécie de desqualificação dos sofrimentos da prisão. Não há relação entre uma coisa e outra: criticar a luta armada não legitima o terrorismo de Estado. Temos de refutar as versões falaciosas. Romper o círculo de ferro construído, ainda em 1964, pelos adversários da democracia, tanto à esquerda como à direita. Não podemos ser reféns, historicamente falando, daqueles que transformaram o antagonista em inimigo; o espaço da política, em espaço de guerra.
*Marco Antonio Villa é historiador, autor do livro 'Ditadura à Brasileira'

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Toda censura se torna sumamente ridicula - Blog Do Triste Tropico - Denise Chrispim Marin

Abaixo, transcrição do post mais recente do blog da jornalista do Estadão Denise Chrispim Marin, sobre a censura à imprensa, especificamente sobre os jornais dos irmãos Mesquita, Estadão e Jornal da Tarde, durante a ditadura militar.
Como os censores são subordinados submissos, e não querem parecer distraídos, desatentos, ou complacentes com as vítimas, eles sempre acabam cortando bem mais do que pretendiam os seus chefes, os gorilas no poder.
Daí cortarem notícias anódinas, que vistas no contexto são sumamente ridículas.
Toda censura é burra, estúpida, uma ofensa à inteligência dos cidadãos.
Tem muito companheiro por aí que adoraria censurar notícias sobre suas patifarias e crimes.
Paulo Roberto de Almeida

Os príncipes e a imprensa livre

Denise Chrispim Mariin
Do Triste Tropico, 24/01/2014
      O Estado de S Paulo trouxe em sua edição de 10 de outubro de 1972, inusitadamente, a seção carta ao editor em sua primeira página. O Jornal da Tarde optou por sair com um espaço em branco na capa. O recado ao leitor fora evidente: o material escolhido fora censurado. Tratava-se de reportagem sobre o discurso do então diretor responsável do Estado, Júlio Mesquita Neto, contra a censura aplicada pelo governo militar brasileiro.
 O palco das críticas do “doutor Julio Neto” fora um encontro da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), em Santiago, Chile. Quase quarenta anos depois, a instituição prossegue na tarefa de condenar e desmontar os sistemas de restrição à liberdade de expressão vigentes nos vizinhos do Brasil na América Latina.
 O relato sobre esse caso específico de censura ao Estado e ao JT consta da correspondência diplomática (telegrama) 497 do Consulado dos Estados Unidos em São Paulo daquele mesmo dia. O documento explica ter o Estado enfatizado a mensagem sobre a censura sofrida, em sua segunda edição, ao publicar uma fotografia de Júlio Mesquita Neto no espaço. “Os censores disseram também a outros jornais de São Paulo que a publicação de relatórios da SIP sobre a censura no Brasil está proibida”, completou o telegrama.
 Em pesquisa no Arquivo Nacional dos Estados Unidos, o Estado encontrou outros três documentos diretamente relacionados à resistência dos jornais paulistas e de seus responsáveis à restrição da liberdade de imprensa e à proibição do debate e da crítica sobre temas considerados sensíveis pelo governo militar. O telegrama de outubro de 1972 encontrado no arquivo está incompleto. Parte de seu conteúdo continua submetido às regras americanas de confidencialidade. Apenas a primeira página foi liberada à consulta pública 40 anos depois, em 30 de julho de 2012.
 Os telegramas cobrem um período de relativa instabilidade política, em meados do mandato presidencial do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974). Com o aparato de repressão e de restrição às liberdades civis sustentado pelo AI-5 (Ato Institucional Número 5, de 1968) e pela ação das forças de segurança, o governo havia ampliado o escopo dos temas sob censura. A candidatura do general Ernesto Geisel, então presidente da Petrobrás, havia sido lançada pela Arena, o partido oficial, à revelia de Médici. O então presidente pretendia manter-se por mais tempo no poder.
Os quatro textos encontrados no Arquivo Nacional não chegam a informar o grau de censura aplicada pelo governo militar sobre o  Estado e o JT. Desde 12 de dezembro de 1968, a véspera da edição do AI-5, ambos sofrera censura prévia. Toda a edição do dia 13 fora apreendida por decisão do general Sílvio Correia de Andrade, chefe da Polícia Federal em São Paulo. Andrade não gostara do editorial “Instituição em Frangalhos”, escrito por Júlio Mesquita Filho.
“Façam as reportagens e escrevam; os censores que cortem”, fora a orientação dos Mesquitas aos jornalistas da casa. Por sugestão do redator Antônio Carvalho Mendes, versos de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, passaram a ser publicados no lugar do material censurado. O JT preferiu preencher os espaços com receitas culinárias.
 Camões apareceu no Estado 655 vezes e, entre 29 de março de 1973 e 3 de janeiro de 1975, 1.136 textos do jornal foram cortados, segundo reportagem de José Maria Mayrink. Repórteres dos dois jornais foram perseguidos e intimidados. O chefe da sucursal de Recife, Carlos Garcia, foi preso e torturado em março de 1974. Um ano e meio depois, Luiz Paulo Costa, correspondente em São José dos Campos, passou pela mesma experiência.
 Apenas em 3 de janeiro de 1975, na véspera do centenário do  Estado, a censura foi oficialmente eliminada, em cumprimento de promessa eleitoral do general Geisel (1974-1979). Mas, na prática, os censores continuaram seu trabalho na redação, e as restrições só acabaram com o fim da vigência do AI-5, em dezembro de 1978.
 Uganda. Em 20 de setembro de 1972, a Embaixada dos EUA em Brasília enviou ao Departamento de Estado o telegrama 835, com detalhes sobre a expansão da censura no momento de tensão entre o presidente Médici e o candidato Geisel. O texto informou o governo americano que a nova cartilha do Ministério da Justiça proibira também textos sobre a situação econômico-financeira do país e o mercado de ações e, particularmente, que o Estado entrevistasse o economista Roberto Campos. Havia rumores sobre o propósito de Campos de criticar duramente o regime, que ele inicialmente apoiara.
 Tanto a cartilha como a resposta “emocional” ao então ministro da Justiça Alfredo Buzaid escrita por Ruy Mesquita, então diretor do JT e atualmente diretor de Opinião do Estado, circularam e foram lidas no plenário do Congresso, diz o telegrama, “criando tensões em torno do que muitos vêem como divergências dentro do ‘sistema’”. Em um comentário final, o telegrama avalia que, se não foi uma refutação a Geisel, a carta de Ruy Mesquita “seria pelo menos um chamado aos que apoiam Geisel para que ele suavizasse as presentes restrições políticas” no País.
 Trechos da carta foram copiados no telegrama, para acentuar a indignação do diretor do JT com os rumos adotados pelo regime, seus meios arbitrários e a censura aos meios de comunicação. “Mesquita disse que ele está ‘profundamente humilhado e envergonhado’ porque ‘o Brasil foi trazido à condição de uma república de bananas ou uma espécie de Uganda por um governo que parece ter perdido a compostura’”, diz o texto.
 Houve destaque, no telegrama, à comparação feita por Ruy Mesquita do governo Médici aos da “Alemanha de Hitler, Itália de Mussolini e Rússia de Stalin” e a sua crítica aos rumos tomados pelo regime. “O Brasil vai aprender a história verdadeira desse período, quando foram abandonados os objetivos traçados pelo grande líder da Revolução de 64, Marechal Castelo Branco, e passou a ser conduzida pelos objetivos do caudilhismo militar, que estão ultrapassados até mesmo nas repúblicas hispano-americanas”, reproduz o telegrama.
 Príncipes. No telegrama 911, intitulado “Censura contra a Imprensa Brasileira – Uma Noite com Júlio Mesquita”, o Consulado Americano em São Paulo traz a avaliação do diretor do Estado sobre a situação política do País durante um jantar informal de empresários dos dois países, promovido pelo Conselho das Américas.  O documento foi enviado em 22 de setembro de 1972.
 Mesquita relatara que, ao final de encontros com os então ministros Leitão de Abreu (Casa Civil) e Buzaid, estava convencido de que eles e outros colaboradores do governo estavam promovendo a extensão do mandato de Médici ou um novo mandato para o presidente. “Ele enfatizou o papel da família Mesquita e de O Estado nos destinos do Brasil e que eles eram duradouros guardiães da liberdade de imprensa no País”, afirmou o redator do telegrama.
 “Os Mesquitas não podiam aceitar o continuísmo, e Júlio não escondeu sua simpatia pela candidatura de Ernesto Geisel”, mencionou, para em seguida citar novamente a carta de Ruy Mesquita a Buzaid.
 “Príncipes, Orgulho e Poder” foi o título do telegrama A-61, do Consulado Americano em São Paulo, sobre “uma das maiores instituições brasileiras, o jornal O Estado de S Paulo“. Diz o texto que o jornal se guiava pelas tradições e orientações filosóficas de seus fundadores e então proprietários – todos diretamente envolvidos produção jornalística.
 Naquele momento, o Estado tinha “poderosos inimigos e amigos fieis” e estava em constante conflito com o governo por causa da censura à imprensa, explica o telegrama. Seus leitores eram da “elite bem-informada e demandante”, mas o jornal fazia poucas concessões a eles. Os donos zelavam pela independência e segurança financeira do Estado, por necessidade editorial e por seus interesses econômicos, completa o texto.
 “As pessoas que conduzem e trabalham para o  Estado o fazem com seriedade. Eles estão convencidos de que o  Estado é um dos jornais diários preeminentes no mundo e que é missão deles preservar suas tradições e mantê-lo grande”, diz o telegrama. “Sua rígida independência é muito conhecida, como também seus contenciosos, contradições e desavergonhados preconceitos profundamente arraigados”, critica.
 Júlio e Ruy Mesquita são descritos como  ”príncipes”, os herdeiros da família de jornalistas proprietária até o dias de hoje da empresa de comunicação. Dr. Julio Mesquita, diretor responsável entre 1891 e 1927, é comparado a James Reston (1909-1995), colunista e editor do New York Times. Julio Filho, seu sucessor na condução do jornal, entre 1927 e 1969,  ”carregou sua tradição”, e Julio Neto (1969-1996) “é mais distante que seus predecessores, porém ainda envolvido ativamente no dia-a-dia das decisões editorais”, diz o texto.
 O telegrama A-61 detalha o estilo operacional adotado pelo irmão de Júlio Neto, Ruy Mesquita, à frente do JT naquela época. “Sua escrivaninha está no centro da redação, de onde ele conduz sua equipe, escreve editoriais, manchetes e reportagens e é ativo quanto à distribuição do jornal”, afirma o telegrama.

sábado, 2 de novembro de 2013

Um contraponto a Comissao da (In)Verdade: a versao dos militares que lutaram contra a esquerda - Orvil

Uma postagem meramente informativa, sem endossar o conteúdo do livro, que não conheço, mas que suspeito seja uma tentativa de se opor à versão, certamente enviesada, da esquerda derrotada pelos militares e que tenta eternizar sua história como sendo a de uma luta pela democracia e contra uma ditadura, quando na verdade todos os grupos de esquerda queriam implantar um regime socialista no Brasil.
Não acredito que esta versão dos militares seja totalmente isenta, pois tenta não reconhecer os crimes contra os direitos humanos que foram cometidos na repressão à esquerda, mas certamente é uma versão menos falsa, e sobretudo menos enganadora, do que a que tentam impingir os socialistas de todos os matizes, atualmente no poder.
Sou totalmente isento para expressar o que vai acima, pois lutei contra a ditadura militar, fui um dos milhares de esquerdistas que queriam um regime socialista no Brasil, saí do País para o exílio, onde fiquei por mais de sete anos e voltei sempre disposto a lutar pelo socialismo. Com base nas leituras, na experiência, e no simples reconhecimento dos fatos, constatei meus equívocos juvenis, e hoje procuro sinceramente a verdade sobre o regime militar e a dos grupos que lutaram contra o regime.
Creio ser importante ter todas as fontes de informação a respeito de ambos os grupos, ou posições, e com base nesse conhecimento formar uma opinião responsável sobre quais caminhos o Brasil deveria adotar.
Paulo Roberto de Almeida

Blog do Aluizio Amorim, quinta-feira, janeiro 17, 2013
LIVRO REVELA A LUTA DOS MILITARES CONTRA AS TENTATIVAS DE TOMADA DO PODER PELA SUBVERSÃO COMUNISTA NO BRASIL

Vendido em apenas quatro livrarias, mas lançado em clubes e círculos militares de 14 cidades, Orvil - Tentativas de Tomada do Poder, versão de oficiais do Centro de Informações do Exército (CIE) sobre a repressão, volta às prateleiras até o fim do mês com uma tiragem de mais dois mil exemplares. As três primeiras remessas, de mil exemplares cada uma, esgotaram-se em três meses. O livro é assinado pelo tenente-coronel reformado Lício Augusto Maciel e pelo tenente reformado José Conegundes Nascimento, que trabalharam sob a coordenação do general Agnaldo Del Nero Augusto, falecido em 2009. Outros oficiais que participaram do projeto não quiseram que seus nomes aparecessem.

Disponível pela internet no site da mulher do coronel reformado Carlos Alberto Ustra, que chefiou o DOI- Codi (órgão de informação e repressão do Exército, em São Paulo) e assina a apresentação, o texto original do Projeto Orvil ficou pronto em 1987, mas o então ministro do Exército, general Leônidas Pires Gonçalves, que havia autorizado o levantamento, não permitiu que fosse publicado. A iniciativa CIE pretendia ser uma resposta ao livro Brasil: Nunca Mais, de denúncias de prisões, torturas e assassinatos durante o regime militar, escrito por uma equipe ligada ao cardeal d. Paulo Evaristo Arns.

A publicação de Orvil (Editora Schoba, R$ 72,90), segundo o general reformado Geraldo Luiz Nery da Silva, autor do prefácio, é uma reação à criação da Comissão Nacional da Verdade. "Releva enfatizar neste prólogo", escreve o general, "que os revanchistas da esquerda que estão no poder -- não satisfeitos com as graves restrições de recursos impostas às Forças Armadas e com o tratamento discriminatório dados aos militares sob todos os aspectos, especialmente o financeiro - tiveram a petulância de criar, com o conluio de um inexpressivo Congresso, o que ousaram chamar de comissão da verdade".
Volume de 924 páginas, Orvil - livro, escrito ao contrário - destaca o golpe - ou contrarrevolução de 1964, como preferem seus autores - que derrubou o presidente João Goulart e a ação de organizações clandestinas que no período de 1966 a 1975 combateram o regime militar pela luta armada. A primeira parte trata da Intentona Comunista de 1935 e a quarta parte analisa a opção da esquerda por uma nova estratégia - a "doutrinação" pelos meios de comunicação, instituições de ensino, sindicatos e movimentos populares sobre a necessidade da revolução.

Dilma. A presidente Dilma Rousseff é citada três vezes e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso uma vez, no índice onomástico de mais de 800 nomes de militantes e teóricos do marxismo que se envolveram direta ou indiretamente na luta armada. Dilma Vana Rousseff Linhares aparece como membro do setor de logística do Colina (Comando de Libertação Nacional), depois na VAR-P (Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares), sempre em notas de rodapé. O livro informa que a ex-presidente foi presa.

"No Centro Brasileiro de Pesquisas (Cebrape) foram contatados Fernando Henrique Cardoso, José Artur Gianotti e outros elementos, em busca de inspiração", registram os autores, ao relatar a ação de Piragibe Castro Alves que viajou de Paris para São Paulo em busca de apoio para o Movimento Popular de Libertação (MPL). Esse grupo, liderado inicialmente por Miguel Arraes, então refugiado na França, tinha participação da Juventude Operária Católica e, segundo o CIE, de vários padres e religiosos, entre os quais o dominicano frei Tito de Alencar Lima, um dos frades que se envolveram no esquema de Carlos Marighella.

O livro descreve a agitação estudantil de 1968, citando o nome de José Dirceu de Oliveira e Silva, em rodapé, ao falar do congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna (SP), onde foram encontradas, segundo os arquivos, drogas, bebidas alcoólicas e grande quantidade de preservativos. "Alguns estudantes chegaram a declarar que havia, inclusive, uma escala de serviço de moças para atendimento sexual", afirma o texto. O deputado José Genoino é mencionado no episódio da guerrilha do Araguaia. Utilizava o codinome Geraldo e, ao ser preso na selva, teria dado "informações valiosas" sobre o armamento, nível de instrução e de suprimento dos "terroristas".

Outros episódios destacados, além do Araguaia, são a deserção, luta e morte do capitão Carlos Lamarca, a ação de Carlos Marighella e o caso Vladimir Herzog, sempre na versão oficial divulgada na época. Lamarca teria morrido num tiroteio no interior da Bahia, Marighella teria levado um tiro ao resistir a agentes de segurança na Alameda Casa Branca, em São Paulo, e Herzog se teria suicidado numa cela do DOI-Codi. Foram os frades dominicanos que entregaram Marighella, reitera o livro.

Os adeptos da teologia da libertação apoiaram a subversão e a luta armada, afirmam os autores. ao descrever o papel da Igreja Católica no período militar. O cardeal d. Paulo Evaristo Arns (São Paulo), os bispos d. Helder Câmara (Olinda e Recife), d. Waldir Calheiros (Volta Redonda-RJ) e d. Antônio Fragoso (Crateús-CE) e numerosos padres, muitos estrangeiros, são citados como líderes de uma corrente aliada dos subversivos.


Os autores de Orvil atribuem à censura dos meios de comunicação "a falta de conhecimento e de convicção que predisporiam a população a aceitar como verdade os fatos que lhe fossem oferecidos de forma racional ou emocional". Daí, segundo os militares, as repercussões negativas do Ato Institucional nº 5 (AI-5), a apresentação do regime como "brutal ditadura militar latino-americana" e a afirmação de que os órgãos de segurança e informações vinham sendo os algozes dos subversivos, "atingindo-os de forma sistemática e permanente". É uma referência à tortura, embora não se use a palavra. Do site do jornal O Estado de S. Paulo

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Ditadura militar e NuncaAntesNestePais: diferencas ou tudo a ver? -Reynaldo Rocha


Blog de Augusto Nunes, 28/10/2013
 às 16:30 \ Política & Cia

Reynaldo-BH: os governos lulopetistas e a ditadura militar — semelhanças, ou meras coincidências?

Como no tempo da ditarura militar, atualmente a política econômica é tratada como segredo de estado
“Como no tempo da ditarura militar, atualmente a política econômica é tratada como segredo de Estado”
Post do leitor Reynaldo-BH
Coincidências
Post-do-Leitor11 – Censura
Ditadura militar: controle sobre a imprensa, com um comitê designado pelos militares (os censores) que liberava o que era pró-”milagre” ou se abstinha de críticas e censurava notícias em contrário.
Lulopetismo: obsessão pelo controle social da mídia em que os novos censores seriam escolhidos pelo Estado (como na ditadura) com poderes para interferir em conteúdos.
2 – Imprensa paga
Ditadura militar: Amaral Neto e O Cruzeiro são exemplos.
Lulopetismo: blogs oficiais e algumas revistas/jornalistas/colunistas que se dizem progressistas. Pagos do mesmo modo.
3 – Bipartidarismo
Ditadura militar: dois partidos, a Arena e o MDB, e as “sublegendas” que abrigavam as correntes dentro de cada um deles.
Lulopetismo: base alugada que se reduz a uma posição de “contra x a favor”.
4 – Judiciário
Ditadura militar: intimidação e escolha de dóceis ministros do Supremo, de modo a não contrariar a ditadura.
Lulopetismo: Sem comentários.
5 – Legislativo
Ditadura militar: domínio total dobre o Poder Legislativo.
Lulopetismo: idem, com uso de emendas e acordos regionais. Tentativa de ir mais fundo, com o mensalão.
6 – Obras faraônicas
Ditadura militar: Transamazônica, hidrelétrica de Itaipu e Ponte Rio-Niteroi, entre outras.
Lulopetismo: Ferrovia Norte-Sul, transposição do Rio São Francisco.
(As propagandas são AS MESMAS! O Brasil que nunca houve antes!)
7 – Obras de papel
Ditadura militar: Angra 3, 4, etc.
Lulopetismo: Trem-bala
Obras gigantescas são marcas registradas dos dois períodos: na ditadura militar, foi a transamazônica e a Angra III, e no lulopetismo a transposição do Rio São Francisco e o trem-bala (Fotos: ABr :: Hans von Manteuffel :: VEJA :: Presidência da República)
Obras faraônicas, nem sempre concluídas, são marcas registradas dos dois períodos: na ditadura militar, a Transamazônica e a Angra III (fotos da coluna à esquerda), e no lulopetismo a transposição do Rio São Francisco e o trem-bala (Fotos: ABr :: Hans von Manteuffel :: VEJA :: Presidência da República)
8 – Slogans
Ditadura militar: “Ninguém segura este país.”
Lulopetismo: “Nunca antes neste país.”
9 – Aparelhamento
Ditadura militar: em cada ministério, um exército de militares da reserva, sobretudo nas extintas áreas de informação de cada um deles.
Lulopetismo: em cada ministério, um exército de sindicalistas.
10 – Demonização
Ditadura militar: “Brasil! Ame-o ou deixe-o!”
Lulopetismo: todos os adversários são inimigos. FHC é o culpado de tudo, até da seca no Nordeste.
11 – Estatais
Ditadura militar: em nome de um nacionalismo caolho, criaram-se dezenas de estatais.
Lulopetismo: quase sem comentários. Para o pré-sal, não bastava a Petrobras: criou-se também a PPSA.
12 – Economia
Ditadura militar: o mundo estava errado e o Brasil certo.
Lulopetismo: idem, ibidem.
13 – Corrupção
Ditadura militar: nunca houve uma condenação de militares corruptos (não existiu nenhum?)
Lulopetismo: são todos inocentes mesmo com provas em contrário.
14 – Divisão de poderes
Ditadura militar: entre os falcões e os moderados das Forças Armadas, ficando em segundo plano a capacitação do indicado ao cargo.
Lulopetismo: entre os partidos da base e correntes do PT, ficando em segundo plano a capacitaão do indicado ao cargo.
15 – Medo
Ditadura militar: dos comunistas.
Lulopetismo: dos direitistas raivosos — denominação reservada à maioria dos críticos e adversários do governo.
Tanto ontem como hoje, a escolha de ministros para o STF era feita de modo a não contrariar o governo (Foto: Creative Commons - CC BY 3.0)
“Tanto ontem como hoje, a escolha de ministros para o STF era feita de modo a não contrariar o governo” (Foto: Creative Commons – CC BY 3.0)
16 – Inimigos preferenciais
Ditadura militar: os democratas.
Lulopetismo: os democratas.
17 – Previsão temporal
Ditadura militar: eterna.
Lulopetismo: a eternidade.
18 – Eleições
Ditadura militar: valia tudo. O importante era ter os mais de 70% (em média) que conseguiam nas urnas.
Lulopetismo: Gilberto Carvalho, Dilma e Lula já responderam: “o bicho vai pegar” e a eles vão “fazer o diabo” nas eleições.
19 – Segredos
Ditadura militar: tudo na economia era secreto. Nada revelado
Lulopetismo: perguntem ao BNDES. A partir de 2027, por favor.
20 – Política externa
Ditadura militar: apoiando e ajudando as ditaduras do Chile, Uruguai, Paraguai e outras na América Latina.
Lulopetismo: apoiando e ajudando as ditaduras de Cuba, Venezuela, Angola, Mianmar, Líbia de Kadhafi, Coreia do Norte e qualquer outra que se enquadra na diplomacia ideológica (já abandonada até pela China).
CONCLUSÃO
Lula e Dilma são como os generais de ontem. (Óbvio que não me refiro à tortura e assassinatos. Mas somente divergir nisto é suficiente?). Um passando o poder ao outro. Legitimados por eleições, como era a Arena. Usando de TODOS os meios para se manter no poder. Mentindo. Acusando. Demonizando. Manipulando. Intimidando.
Se antes coronéis aposentados mandavam em estatais e gritavam “sentido!”, hoje sindicalistas incultos, despreparados, ignorantes e desonestos estão nos mesmos cargos e gritam “presente!”.
Se antes o Brasil se alinhava a um “americanismo” de extrema-direita com as ditaduras do Cone Sul, hoje estamos alinhados com o bolivarianismo (seja o que isto for) de uma América Latina que parece condenada a ser um poço de atraso.
Se antes tínhamos uma ditadura, hoje, se os democradas não reagirem, caminhamos para outra.
Disfarçada. Aprendeu com a outra. Mas tão perniciosa quanto.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A luta contra a ditadura militar nos EUA; em seminarios da Columbia e da Brown

Blog de RoldÃo arruda
OESP, 18.outubro.2013 12:20:18

Solidários, eles denunciaram crimes da ditadura nos EUA

A vergonhosa participação do governo dos Estados Unidos no processo que levou ao golpe militar de 1964 e à ditadura que se seguiu é conhecida. Documentos oficiais, já revelados por historiadores e jornalistas, mostram que Washington fomentou o golpe e depois reconheceu e apoiou incansavelmente o governo militar. Ainda é pouca conhecida, porém, a participação de americanos nos movimentos de oposição à ditadura.
Na semana passada eles receberam merecidas homenagens da Comissão da Anistia, em duas cerimônias realizadas naquele País. Os atos contaram com o apoio das universidades Brown e Columbia.
 Em relato distribuído pelas redes sociais sobre os eventos, o presidente da comissão, Paulo Abrão, lembrou que a resistência nos Estados Unidos era formada por jornalistas, intelectuais, estudantes, religiosos, artistas e congressistas. Pessoas que muitas vezes nunca tinham pisado no Brasil, mas eram inspiradas “pela solidariedade cristã” e crença na “defesa dos direitos humanos”.
Abrão também disse que foi “graças a incansáveis protestos nas universidades, igrejas e em parte da imprensa” que denúncias sobre torturas e mortes de opositores da ditadura ganharam repercussão no exterior. “Os ativistas norte americanos ou brasileiros que viviam nos Estados Unidos, motivados pela situação política no Brasil e no restante da America Latina, ajudaram a reduzir o isolamento doa presos e perseguidos políticos. Ajudaram a salvar vidas”, afirmou.
Na Universidade Brown, a homenagem foi precedida por um seminário sobre Anistia, Justiça de Transição e Heranças da Ditadura Brasileira. O cartaz foi feito para anunciar o evento.
A seguir uma lista de algumas pessoas oficialmente homenageadas, com informações fornecidas pela Comissão da Anistia:
Paul Silberstein. Foi o editor do Boletim Informativo Brasileiro, um periódico que relatava violações de direitos humanos no Brasil. Produzido por brasileiros que viviam nos Estados Unidos, o boletim circulou de 1871 a 1976 entre acadêmicos, membros do Congresso e outras pessoas que se interessavam pela situação no País.
Marcos Arruda. Após ter sido preso e torturado por sua militância política, mudou para os Estados Unidos, onde fundou o Comitê Contra a Repressão no Brasil. Um artigo sobre sua prisão e tortura publicado no Washington Post, em 1970, levou o jornal a publicar um editoria contra a ditadura e o apoio que recebia do governo americano.
Harry Strharsky e sua companheira Loretta Strharsky. Após conhecerem a história de Marcos Arruda, participaram da organização de um protesto contra visita do general Médici à Casa Branca, durante o governo de Richard Nixon. Também participaram do Comitê Contra a Repressão no Brasil (CARIB) e apoiaram a Comissão Bertrand Russell sobre a Tortura e Repressão no Brasil, Chile e América Latina.
William Wipfler. Em 1970, à frente do Departamento do Conselho Nacional de Igrejas da América Latina, levou uma série de documentos sobre violações de direitos humanos no Brasil à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA. Ao publicar o artigo intitulado Progresso a que Preço? , na revista Cristandade e Crise, mobilizou vários religiosos na luta contra a ditadura.
Jovelino Ramos. Ministro presbiteriano, foi acusado de subversão política por defender questões de justiça social no Brasil. Incurso na Lei de Segurança Nacional, mudou para os Estados Unidos em 1968. Tornou-se militante de movimentos que denunciavam torturas e mortes na ditadura, especialmente na comunidade religiosa americana.
Margaret Craham. Professora Emérita de História Latino-americana no Hunter College, da Universidade da Cidade de New York. Nas décadas de 1960 e 1970 apoiou campanhas para denunciar a tortura. Acompanhou o deputado Márcio Moreira Alves, quem havia sido cassado, em uma série de palestras que ele fez por universidades americanas.
Ralph Della Cava. Professor Emérito de História da América Latina do Queens College, da Universidade da Cidade de New York. Ajudou a fundar a organização Amigos Americanos do Brasil, que denunciava torturas. Foi um dos primeiros a revelar o apoio do embaixador Lincoln Gordon ao golpe e ao regime que se seguiu. Co-organizador do dossiê Terror no Brasil.

sábado, 11 de maio de 2013

Pequena historia de duas mentiras - Reynaldo Rocha


REYNALDO ROCHA
Blog de Augusto Nunes, 11/05/2013

Não se deve temer a verdade. É bíblico. “A Verdade vos libertará!”. Não é assim?
Mas qual é a verdade dos homens? Sei quais não são. Do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra jamais será. A argumentação do assassino demonstra que continua acreditando na mentira.
Não foi ele quem impediu a implantação de um regime de extrema esquerda no Brasil. Foi o povo nas ruas.
A derrubada de uma ditadura de extrema direita ensinou que toda e qualquer quebra da legalidade deve ser execrada. Aprendemos que deveríamos impedir que outra – de extrema-esquerda – fosse imposta ao Brasil.
A nós, nas ruas, não importava a cor do porco. O essencial era impedir a continuidade da barbárie cometida em nome do Estado e com o uso do mesmo. Sempre quisemos liberdade, dignidade e democracia.
De onde o famigerado Ustra tira a conclusão de que ele seria um “defensor” de nossos direitos, como afirmou no depoimento patético na Comissão da Verdade?
É um anistiado. E em nome do que foi possível ser feito, à época, para dar fim ao pesadelo. Seria salutar que o Brasil passasse a respeitar os compromissos com a história assumidos pelo povo. Ou em nosso nome.
Não propugno a prisão de quem foi anistiado. Anistia é perdão. Foi negociada e não imposta. Foi uma conquista que os que estão agora no poder (e naquela época, onde estavam?) teimam em tentar desprezar, sem entender que desprezam a NOSSA luta.
Mas a Verdade tem que ser dita. Demonstrada e exposta, como antídoto. Ustra foi (e parece continuar a ser) um monstro. Alguém com um grave desvio de conduta. É daqueles que se compraziam com a dor imposta a outros. Com o poder infinito sobre a vida de terceiros.
Acha que quem deveria estar sentado na Comissão da Verdade é o Exército. Precisa explicar melhor o que diz e identificar os alvos que está mirando.
Nada que é erguido sobre mentiras tem a mais remota chance de prosperar. Como a ditadura não prosperou. Foi por isso que as ditaduras — todas — não prosperam. É por isso que democracias centenárias esbanjam saúde.

As democracias são eternas. As ditaduras são acidente de percurso, dolorosos e desnecessários. Estes novos tempos pós-ditadura são diferentes dos anos de chumbo.
O que há em comum entre o que vivemos hoje e o que sofremos ontem é a mentira oficial. É indispensável a demonização dos adversários. Se antes éramos os “comunistas” – nunca fui! – hoje somos os “raivosos direitistas”. Nunca fui!
A ferocidade de um Ustra não tem parentesco estreito com a imbecilidade patética de um Delúbio Soares, a arrogância idiota de um José Genoino, a mitomania de um Dirceu ou a megalomania de um Lula. São males distintos. Um é uma besta humana. Os outros são delirantes corruptos.
Mas há como ver nos dias de hoje as mesmas sementes que germinaram no pântano de 1964. A tentativa de censurar a imprensa, por exemplo. O Brasil que se deve amar ou deixar. A idolatria que substituiu generais por sindicalistas. A procissáo de programas nunca executados: antes a Transamazônica, agora o PAC. A compra de apoios da dita classe (desclassificada) política. O emprego de asseclas (antes os milicos, hoje os companheiros). A alteração da história como instrumento de permanência no poder (antes o perigo vermelho, hoje o desprezo pelo que outros fizeram. Pelo que nós fizemos.)
Ideologicamente, cada vez mais o hoje se parece com o ontem.
Sem Ustras, pois isso seria repetir a barbárie! Com a troca da violência física pela violência moral.
Os lulopetistas somente aprimoraram o método.