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sábado, 30 de dezembro de 2006

678) Nosso homem no Itamaraty

(elementos de informação sobre os “intelectuais” do Itamaraty, como subsídio a matéria jornalística; redigido em agosto de 1999.

Quem é exatamente e o que faz, hoje em dia, o diplomata brasileiro? Para começar, ele não mais será mais, majoritariamente, “o” diplomata, pois desde alguns anos um número cada vez maior de mulheres resolveu ingressar na “carrière”, assim como também a proporção dos jovens de boa família — vale dizer, os representantes refinados das antigas elites oligárquicas do passado — tende a equiparar-se à de jovens de classe média, como ocorre aliás com qualquer outra profissão “normal”. Reconhecidamente, o diplomata brasileiro do limiar do século XXI ostenta pouca semelhança com seu homólogo supostamente em “punhos de renda” do começo do século XX. A chamada “diplomacia ornamental e aristocrática” há muito tempo ficou para trás, soterrada pela mesma tendência à burocratização e à tecnocracia que caracterizam quase todos os serviços do Estado nas democracias modernas.
Os diplomatas, a bem da verdade, foram a primeira categoria do funcionalismo público a se submeterem a regras de recrutamento profissionalizado — desde 1939 pelo DASP e a partir de 1945 pelo Instituto Rio Branco —, superando a seleção algo arbitrária de outros estratos funcionais ou a que vigorava entre os próprios diplomatas da época do barão do Rio Branco, no começo do século. Os exames são comprovadamente rigorosos — a “hecatombe” entre o número de inscritos, em torno de 2700 a cada ano, e o dos sobreviventes, aproximadamente 25 apenas, o prova — e o antigo viés elitista marcado pela exigência do francês foi eliminado há cerca de dois anos. Mas não se considere por aí que os novos recrutados tenham se equiparado à média do funcionalismo brasileiro, cujos padrões são altamente desiguais, dependendo da categoria. O diplomata brasileiro continua a ser, antes de mais nada, o mais “intelectualizado” representante da burocracia pública, uma espécie de “ilha de excelência” no mar nem sempre muito azul da competência estatal.
Os exemplos dessa “intelligentsia” diplomática abundam, bastando citar, por exemplo, o falecido crítico literário e polemista político José Guilherme Merquior, o filósofo e ex-ministro da Cultura — hoje embaixador em Praga — Sérgio Paulo Rouanet, o saboroso articulista (e ex-ministro da Fazenda) Rubens Ricupero, atual secretário-geral da UNCTAD em Genebra, o fecundo historiador Evaldo Cabral de Melo, especializado na história regional do Nordeste seiscentista, assim como muitos outros da jovem geração. O atual porta-voz da Presidência da República, Georges Lamaziére (filho de pai francês e mãe brasileira), promete continuar exercendo sua veia de romancista, com mais um “roman à clef” apimentado por algum “crime de Estado”. O ex-cônsul em Lisboa João Almino deixou a sociologia e a filosofia política de seus primeiros livros pela via também atraente da literatura. O próximo Ministro-Conselheiro da Embaixada do Brasil em Washington, Paulo Roberto de Almeida, sociólogo como o Presidente, já publicou sete livros de relações internacionais e dá inicio agora a uma trilogia sobre a diplomacia econômica, desde a abertura dos portos em 1808 até o ano 2000.

Os intelectuais da Casa:
Intelectual “fundador”: Barão do Rio Branco, autor das Efemérides brasileiras e de dezenas de estudos de história do Brasil, delimitação de fronteiras etc.
Poetas: Raul Bopp, Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Francisco Alvim
Historiadores: Francisco Aldolfo Varnhagen (anterior ao Barão), Manuel Oliveira Lima, Alvaro Teixeira Soares, Heitor Lyra, Sergio Corrêa da Costa, Evaldo Cabral de Melo
Juristas: João Augusto Araújo Castro, João Hermes Pereira de Araujo, Mello, Rubens Ferreira de Melo, José Sette Câmara, Geraldo Eulálio Nascimento e Silva, José Augusto Lindgren Alves, Guido Fernando Silva Soares,
Economistas: Dionisio Dias Carneiro, Paulo Nogueira Batista, Raphael Valentino Sobrinho, Roberto Campos, Sérgio Abreu e Lima Florêncio, Samuel Pinheiro Guimarães, Jório Dauster,
Literatos: Guimarães Rosa, André Amado, João Almino, Georges Lamazière
Filósofos, críticos literários: José Guilherme Merquior, Heloísa Vilhena de Araújo, Sérgio Paulo Rouanet
Articulistas: Antonio Amaral Sampaio, José Oswaldo de Meira Penna, Rubens Ricupero, Rubens Antonio Barbosa
Cientistas políticos e sociólogos das relações internacionais: Celso Amorim, Amaury Porto de Oliveira, Ronaldo Sardenberg, Gelson Fonseca Jr., Paulo Roberto de Almeida.

Revistas de relações internacionais:
(onde escrevem os diplomatas)
Revista Brasileira de Política Internacional: Rio de Janeiro, quadrimestral, depois semestral (1958-1992); Brasília (1993) revista semestral editada pelo Instituto Brasileiro de Relações Internacionais.

Contexto Internacional: Rio de Janeiro (1985), revista semestral editada pelo Instituto de Relações Internacionais da PUC-RJ.

Política Externa: São Paulo (1992), revista trimestral editada pelo Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo e pela Editora Paz e Terra.

Originais: 704; 18.08.99

4 comentários:

Luis Sandes disse...

Olá,

Não sei se por esquecimento ou por algum motivo preciso, o nome do Antônio Houaiss não constou da lista de diplomatas intelectuais. Parece-me ser razoável adicioná-lo, a não ser que algum fato por mim ignorado mostre o contrário.
Atenciosamente,
Luis Sandes

Paulo Roberto de Almeida disse...

Meu caro Luis Sandes,
Você tem inteiramente razão e essa foi uma falha imperdoável minha. Deve ter várias outras omissões, mas essa é de fato clamorosa.
Em minha defesa, invoco apenas a rapídez da redação dessa nota, feita a pedido de um jornalista. Devo ter feito numa manhã ou numa noite, e sem qualquer tipo de pesquisa, preparação, notas, rascunhos, etc, apenas confiando na memória, que é uma grande traidora.
Muito grato por ter feito a retificação importante.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Um comentario recebido e indevida e inadvertidamente excluido ( por lidar com a 'pequenez' do iPhone):
Sandro Brás deixou um novo comentário sobre a sua postagem "678) Nosso homem no Itamaraty":

Vale lembrar do literato Aluísio de Azevedo, o pioneiro do naturalismo literário no Brasil

Paulo Roberto de Almeida disse...

Exustem muitas exclusoes involuntarias mas agradeco essa lembranca de un romancista que escreveu sobre o Japao.