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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Le Monde: triste fim de uma bela aventura editorial

O Le Monde, jornal que eu lia regularmente cada vez que morei na Europa, apreciado pela sua independência de opinião, está em crise, talvez terminal.
Ele está à venda, mas seu comprador terá de respeitar a linha editorial do jornal, como alertado pelo Conselho de Editores:
"As ofertas, quando concretizadas, serão analisadas pelo conselho editorial do Monde, mas a decisão final será tomada pelos funcionários, atuais majoritários da empresa."
Bem, se isso for verdade, e se mantiver, o jornal passará de uma grave crise financeira para uma crise fatal, talvez terminal.
Ele tem prestígio, e por isso alguns capitalistas benévolos se interessam pelo título, mas se seus novos proprietários não puderem fazer nenhuma mudança sem o acordo do que é de fato um sindicato de funcionários, então ele vai continuar em crise, pois a atual, aliás delongada, decorre precisamente do fato de que seus funcionários fazem o que eles querem, não o que a clientela, o público que compra e os anunciantes que financiam em grande parte qualquer jornal, desejam.
Sindicatos servem para isso: para causar desemprego e para afundar empresas, que de outro modo poderiam ser viáveis, desde que atendam ao que o mercado necessita e deseja. Se é para fazer o que seus "associados" desejam, melhor criar uma fundação cultural que viva de doações de interessados, da caridade pública (eventualmente de subsídios estatais, ou seja, o dinheiro do contribuinte, que pode ser o que os funcionários do Le Monde desejam).
Nesse caso, melhor desaparecer mesmo. Se os jornalistas são incapazes de sustentar um jornal que viva com suas próprias pernas, melhor mudar o caráter da sociedade e chamar por outro nome. Jornal só pode existir se atender a uma clientela livre...
Paulo Roberto de Almeida

Em crise, jornal 'Le Monde' é colocado à venda na França
Andrei Netto
O Estado de S.Paulo, 3 de junho de 2010

Investidores franceses e estrangeiros estão na briga para assumir o controle acionário do periódico

PARIS - O jornal francês Le Monde, um dos mais importantes do mundo, foi oficialmente posto à venda nesta quarta-feira, 2, em Paris. O anúncio foi feito em editorial de capa pelo diretor-executivo da publicação, Eric Fottorino, e confirma a perspectiva aberta em janeiro de 2008, quando começou o agravamento da crise do maior diário da França.

Os futuros proprietários, que deverão injetar entre € 80 milhões e € 100 milhões em troca do controle acionário, terão de assinar um termo de compromisso para garantir a total independência editorial do periódico de centro-esquerda.

A troca de mãos do Le Monde é desde já o maior movimento em curso no mercado editorial da Europa, e está mobilizando investidores da própria França, mas também da Itália, da Espanha e da Suíça.

As ofertas deverão ser concretizadas até 14 de junho pelo conjunto do grupo Le Monde, integrado também pelo site lemonde.fr (portal informativo mais frequentado do país), pelo jornal Le Monde Diplomatique, pelas revistas Courrier International, Télérama e La Vie e pela gráfica da companhia, além de seus imóveis.

A perspectiva é de que, até 30 de junho, o selecionado para liderar o processo de recapitalização do grupo seja conhecido.

A venda, nas palavras do diretor Fottorino, marcará "uma virada histórica para o Le Monde", um jornal fundado pelo legendário jornalista Hubert Beuve-Méry, em 1944, e controlado por seus funcionários desde 1951. "O Monde sofreu as consequências de tensões sobre sua tesouraria, que o conduziram no ano passado a contrair um empréstimo bancário de € 25 milhões, condicionado por nossos credores - o banco BNP em primeiro lugar - à implantação de uma recapitalização", informou executivo.

Ainda de acordo com Fottorino, a empresa precisará reembolsar entre 2012 e 2014 um total de € 69 milhões em empréstimos contraídos dos grupos Publicis, La Stampa e BNP Paribas. Apesar do quadro adverso, a direção do grupo reafirmou seu otimismo sobre o futuro, em especial depois que o jornal conseguiu reverter, em 2009, os crônicos deficits, fechando o ano com um saldo de € 2 milhões, "sinal de um dinamismo editorial e de um retorno à melhor gestão", segundo o editor.

Em 2009, o jornal já havia demitido 130 funcionários, dos quais 70 eram jornalistas, além de ter vendido títulos como a revista Cahiers du Cinéma, com o objetivo de reduzir o endividamento e enfrentar a queda das receitas publicitárias e das vendas. Como em grande parte do mundo desenvolvido, a circulação de jornais impressos na França vem em queda, mas o Le Monde se mantém na liderança entre os jornais generalistas do país, com 320 mil exemplares por dia - 40 mil destes circulados no exterior.

Apesar da crise, o futuro do diário parece assegurado. Se, de um lado, o grupo Lagardère, um dos maiores conglomerados da França e atual detentor de 17% das ações, informou que não participará da seleção, investidores de pelo menos quatro países já anunciaram a intenção de fazer parte da recapitalização.

Até o momento, a oferta mais concreta parece ser a de três investidores franceses: Pierre Bergé - ex-companheiro do estilista Yves Saint-Laurent e acionista do jornal Libération -, Matthieu Pigasse e Xavier Niel, os dois últimos empresários dos setores bancário e de comunicações.

Em nota oficial divulgada nesta quarta-feira, em Paris, Bergé, Pigasse e Niel confirmaram a disposição de investir entre € 80 bilhões e € 100 bilhões em um projeto de longo prazo que visará ao reequilíbrio do projeto industrial do grupo, sem interferir em seu conteúdo editorial, que seguiria a cargo da mesma equipe. "A independência é antes de mais nada editorial", diz a nota.

"Ela constitui o bem mais precioso para o futuro, um futuro que se inscreve na autonomia em relação a todos os poderes e no não alinhamento a nenhum campo, na defesa da qualidade da informação e das análises, e não à conformidade a uma ideologia", completa o texto.

Estrangeiros
Além dos investidores, outro grupo de imprensa francês, o Nouvel Observateur, editor da mais importante revista semanal do país, poderia participar da recapitalização do Le Monde, mas não além de € 60 milhões. Claude Periel, fundador do semanário, informou nesta quarta que pode vir a disputar o controle do jornal, desde que encontre parceiros que assumam entre 30% e 40% da oferta.

Fora da França, segundo informou Fottorino, o grupo Prisa, editor do jornal espanhol El País - já sócio minoritário do conglomerado francês, com 2% das ações -, e Ringier, que imprime o diário suíço Le Temps, estudam as condições de aquisição.

O grupo italiano Espresso/La Repubblica também estaria interessado. As ofertas, quando concretizadas, serão analisadas pelo conselho editorial do Monde, mas a decisão final será tomada pelos funcionários, atuais majoritários da empresa.

2 comentários:

Rodrigo L. disse...

Concordo que talvez deva desaparecer, mas por outros motivos. Acho que se um jornal não pode ser livre, então realmente não serve para nada, para desinformar e emitir opiniões (por definição) parciais de seus acionistas e outros envolvidos, não é preciso mais um veículo de comunicação.

Eficiencia, reestruturação, melhoria dos processos de gestão, tudo isso sou a favor, mas perda de independência não, muito menos banalização de um jornal que se realmente tem essa posição tão independente, é uma raridade nos dias de hoje.

José Marcos disse...

HAJA DINHEIRO

Esta informação é surreal: "Em nota oficial divulgada nesta quarta-feira, em Paris, Bergé, Pigasse e Niel confirmaram a disposição de investir entre € 80 bilhões e € 100 bilhões em um projeto de longo prazo..." Nem os caças que a França deseja vender ao Brasil custam isso tudo. Deve ter sido um engano. No segundo parágrafo, a ordem de grandeza era mais modesta: milhões de euros. Se for verdade, haja dinheiro, ou melhor, haja euro!!!!