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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Capitalismo promiscuo, capitalismo de Estado, prepotencia estatal

Inacreditável que o ministro da Fazenda confesse que interferiu numa empresa privada:
Leiam primeiro, comento depois:

Mantega diz que Agnelli ignorou reclamações do governo
LORENNA RODRIGUES
Folha de S.Paulo, 3/05/2011

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/910614-mantega-diz-que-agnelli-ignorou-reclamacoes-do-governo.shtml

BRASÍLIA - Apesar de afirmar que não houve interferência política na troca de comando da Vale, o ministro Guido Mantega (Fazenda) admitiu que o governo estava descontente com a empresa e disse que o ex-presidente Roger Agnelli ignorou esse descontentamento. Agnelli foi substituído por Murilo Ferreira no início de abril.

Segundo Mantega, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou "democraticamente" da Vale por dois motivos: não cumprir os planos de investimentos para a área de siderurgia e demitir 1.200 funcionários durante a crise.

Segundo Guido Mantega, ex-presidente da Vale provocou insatisfação por não cumprir metas e demitir durante a crise
"Ele [Lula] demonstrou sua insatisfação e o senhor Roger Agnelli simplesmente ignorou e continuou fazendo o que achava necessário", afirmou Mantega, durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.

Segundo Mantega, o governo poderia ter retaliado a Vale, por meio do aumento de impostos, por exemplo, mas Lula apenas reclamou publicamente.
"Não vejo uma situação mais democrática do que essa", completou.

O ministro criticou a demissão de funcionários da Vale durante a crise que, segundo ele, foi alardeada pela empresa à época. "A Vale, com todo esse lucro, demitiu 1.200 funcionários, fazendo barulho inclusive. Uma empresa onde a folha de pagamento representa nada", completou.

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Comento (PRA):

O mais inacreditável é que os "argumentos" do presidente ou do ministro são totalmente falsos: a Vale contratou mais de 50 mil trabalhadores nos cinco ou seis anos anteriores à críse. Quando ela demitiu menos de 5% dos novos contratados, os dois se colocaram contra o presidente de uma empresa privada.
Promíscuos...

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Addendum em 8/05/2011:

Um editorial a esse respeito:

O perigo de um presidente que 'retalia'
O Globo - 06/05/2011

Não há registro, nos últimos tempos, de um depoimento tão sincero de alguma autoridade do Executivo no Congresso quanto o prestado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, perante a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, na terça-feira.

O ministro era mesmo a pessoa indicada do governo para tratar de um tema grave, a intervenção do Palácio na troca do presidente de uma empresa privada, a Vale. Além de, em função do cargo ter alguma relação com o tema, foi Mantega, conforme revelação do jornal "O Estado de S. Paulo", quem, em março, comunicara ao Bradesco, de maneira formal, o interesse do governo na saída de Roger Agnelli da mineradora, ex-executivo do banco, maior sócio privado da empresa. Mantega, portanto, é um dos atores de toda esta trama.

O ministro não escondeu que a irritação brasiliense começara quando o presidente Lula cobrou, sem êxito, que a Vale executasse projetos siderúrgicos no Pará, à época governado pelo PT. Para o Palácio, é como se a Vale ainda fosse estatal. E como já não era, diante do excesso de capacidade instalada no setor siderúrgico no mundo, a direção da mineradora não cumpriu o desejo presidencial na rapidez com que ele desejava. Haveria ainda a questão da encomenda de navios, feita no exterior dentro da lógica de uma empresa privada, em defesa dos acionistas.

O mau humor de Lula e séquito tornou-se mais denso com a demissão de mais de mil empregados no estouro da crise mundial - outra demonstração de esquecimento da nova condição da empresa. A mesma reação de líder sindical ocorreu com a Embraer. Mas se estas ou qualquer empresa privada não reduzissem custos poderiam não sobreviver. Não são estatais com acesso livre e descuidado ao dinheiro do contribuinte.

Em mais um rasgo de sinceridade, o ministro, ao defender a irritação de Lula, afirmou que foi melhor ele ter manifestado "democraticamente" a contrariedade, pois poderia "ter retaliado a Vale". Tocaram, então, as sirenes para quem se preocupa com o estado de direito e a segurança jurídica no Brasil. A simples menção de que o Palácio admite como hipótese usar instrumentos de Estado contra uma empresa deve colocar em alerta instituições voltadas à defesa da Constituição, do equilíbrio entre poderes, de toda a estrutura institucional, enfim, da República e do regime de democracia representativa.

Tão grave quanto isso é que a cultura cesarista de verticalização do poder, observada no grupo controlador do Executivo há oito anos, tem desdobramentos perigosos em várias áreas. Na economia, ela se consubstancia num projeto mal disfarçado de capitalismo de Estado à la Geisel, em que o BNDES facilita a vida de empresários privados eleitos, aos quais ainda são colocados à disposição poderosos fundos de pensão de empresas públicas, tratados como do Estado pelo ministro no depoimento. Mantega tem razão: Previ, Petros, Funcex estão disfarçados de entidades de "direito privado", quando, na vida real, são braços manejados por Brasília e, nos últimos anos, também pelo financismo sindical construído no PT/CUT.

Pode-se imaginar o poder de quem estiver no controle do Estado quando este projeto ideológico alcançar estágio avançado. O veto do Executivo irá muito além do cargo de altos executivos de grandes empresas.

4 comentários:

Matheus disse...

Esse episódio deixa claro o poder do Estado.
Os argumentos do ministro revelam que o governo chantageou o presidente de uma empresa privada e ainda se considera com razão. Atitude vergonhosa!

Anônimo disse...

Esses atos do governo me deixam muito, muito revoltado, beirando o ódio mesmo. Como deixamos esse tipo de coisa ocorrer!!??? DESISTO DO BRASIL!

Anônimo disse...

Outro dia o senhor estava reclamando que seus textos estavam sendo usados sem autorização. Acaso o senhor tem autorização para reproduzir em seu blog textos da Folha/UOL, The Economist etc. etc.?

Paulo Roberto de Almeida disse...

Anônimo,
Faça=me um favor: denuncie minhas postagens da Economist, Folha/Uol, etc, aos proprios, para que eles me processem por apropriação indébita.
E seja coerente: não leia esses materiais roubados aqui: procure os originais...
Paulo Roberto de Almeida