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sábado, 14 de maio de 2011
Um peso, duas medidas: Chavez e as FARC (y otras cositas mas...)
Quando da invasão do território equatoriano por forças colombianas que mataram esse líder guerrilheiro das FARC e capturaram o material de que se fala abaixo, o mesmo chanceler ficou ainda mais histérico, e lutou para obter uma condenação da Colômbia na OEA e em outras instâncias latino-americanas. Foi de uma parcialidade exemplar, pois logo depois se anunciou a captura de mísseis manuais venezuelanos em poder das FARC e o mesmo chanceler histérico duvidou que a notícia fosse verdadeira. Jamais uma nota sequer se referiu, por exemplo, ao envio de tanques e aglomeração de tropas venezuelanas nas fronteiras da Colômbia (quando os problemas com o Equador se processavam a centenas de quilômetros dali, na fronteira com o Equador).
Agora, depois de todo este ativismo, talvez se devesse esperar por alguma nota com pedido de esclarecimentos de quem deve explicações.
Seria apenas uma demonstração de equilíbrio, já que histerias parece que passaram de moda...
Paulo Roberto de Almeida
Autoridades da Venezuela pediram às Farc para matarem opositores de Chávez, diz instituto
Fernando Duarte, correspondente
Agências internacionais, 10/05/2011
LONDRES e CARACAS - Um dossiê de 240 páginas publicado nesta terça-feira pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), de Londres, contradiz as afirmações do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de que as ligações de seu governo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) teriam sido obra de ações individuais isoladas. Com base em arquivos eletrônicos de Raul Reyes, então o número 2 na hierarquia das Farc, não só Chávez ofereceu financiamento às operações do grupo paramilitar como autoridades venezuelanas ainda pediram apoio para o treinamento de milícias pró-governo e para matar adversários políticos do presidente. Chávez, porém, não estaria ciente dos pedidos de assassinatos. Nesta terça-feira Chávez era esperado no Brasil, mas o presidente cancelou a viagem .
De acordo com o documento do IISS, Chávez via nas Farc um aliado nas divergências com a Colômbia, sobretudo por manter ocupada a cooperação militar entre Bogotá e Washington. Em 2007, teria prometido US$ 300 milhões ao grupo. Ainda que o dossiê seja bastante claro na afirmação de que a chegada das Farc à Venezuela não tenha ocorrido na presidência de Chávez, sua ascensão ao poder, em 1999, fortaleceu os laços e abriu novas portas para a guerrilha, como a possibilidade de obter armas de parceiros comerciais da Venezuela, incluindo a China, por meio de acordos triangulares usando as exportações venezuelanas de petróleo.
As alegações não param em Caracas: ainda de acordo com o material analisado pelo IISS, as Farc teriam contribuído financeiramente para a eleição de Rafael Correa à presidência do Equador em 2006, no que representou para a guerrilha o auge dos esforços de infiltração na política e território equatorianos. Embora algumas das informações ligando Chávez e Correa às Farc já tivessem sido divulgadas anteriormente, boa parte da documentação está caindo pela primeira vez em domínio público - ainda que oficialmente, o governo colombiano tenha se recusado a confirmar a entrega de informações ao instituto britânico.
Os documentos foram encontrados em arquivos de computador de Reyes, morto em uma operação em 2008 que resultou num rompimento de relações diplomáticas entre Quito e Bogotá por dois anos. O dossiê também mostrou a relação entre o governo Chávez e os guerrilheiros, embora muitas vezes cooperativa, também teve momentos difíceis e de jogo duplo.
Segundo o ISS, Chávez se colocou ao lado do governo colombiano na luta contra as Farc em algumas ocasiões, especialmente quando havia ganhos políticos envolvidos. Em novembro de 2002, o livro reporta que antes de uma reunião entre o então presidente Álvaro Uribe e Chávez, as Farc pediram ao Exército venezuelano permissão para transportar uniformes pelo território da Venezuela. Os militares permitiram, mas depois cercaram o comboio e prenderam oito membros do grupo e os entregaram à Colômbia, permitindo que Chávez informasse Uribe da operação pessoalmente.
Traições como estas, assim como promessas de grandes quantias de dinheiro, geraram uma considerável tensão entre os guerrilheiros e o líder venezuelano.
Farc estudavam treinar membros do partido comunista para ações terroristas
Em uma das descrições mais reveladores da ação das Farc na Venezuela, o instituto explica como a principal agência de inteligência do país, o Serviço de Inteligência Bolivariano, conseguiu alistar as Farc no treinamento de forças de segurança e na realização de ataques terroristas, incluindo bombardeios, em Caracas entre 2002 e 2003.
O grupo também treinou várias organizações pró-Chávez, como as Forças de Liberação Bolivarianas - um grupo paramilitar que atua na fronteira com a Colômbia -, estudou fornecer técnicas de terrorismo urbano para membros do Partido Comunista Venezuelano.
O relatório ainda cita pedidos do governo Chávez para que a guerrilha matasse ao menos dois de seus opositores. As Farc discutiram um desses pedidos em 2006, quando o assessor de segurança Alí Rodríguez Araque pediu para que matar Henry López Sisco, que dirigia a agência de inteligência venezuelana na época. Sisco deixou o país em novembro do mesmo ano.
No mês passado, o presidente venezuelano admitiu pela primeira vez que alguns de seus aliados políticos colaboraram com os guerrilheiros colombianos, mas insistiu que eles o fizeram "pelas nossas costas".
O estudo do ISS, porém, contradiz a afirmação ao apontar um longo histórico de colaboração do próprio Chávez e de seus principais confidentes.
"(A Venezuela viu as Farc) como um aliado que manteria o poder militar americano e colombiano na região controlados pela contra insurgência, ajudando a reduzir as ameaças contra a Venezuela", diz o relatório.
Em outro trecho, o documento relata um encontro secreto em setembro de 2007 entre Chávez e Reyes, quando o presidente prometeu emprestar uma grande quantia às Farc para a compra de armas.
O porta-voz do presidente não respondeu aos pedidos de entrevista. O governo venezuelano afirma que os arquivos de Reyes são fabricações. Em 2008, a Interpol rejeitou a possibilidade de que os documentos tenham sido alterados.
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