Dawisson Lopes (Unesp)
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Páginas: 336
Já se disse que, nas sociedades pós-industriais, o conflito social teria como eixo a tensão crescente provocada pela coexistência de duas tendências contraditórias: a de busca por igualdade e a de crescente burocratização – esta última caracterizada pela importância cada vez mais central assumida pelo componente técnico do conhecimento.
No Brasil atual, ameaçado de desindustrialização, mais do que passível de ser classificado como uma sociedade pós-industrial, talvez em nenhum outro campo das políticas públicas a cargo do governo federal tal tensão tenha tanta visibilidade, pelo menos nos meios acadêmicos, como na política externa. Nessa seara, os dois principais partidos políticos advogam projetos distintos de inserção internacional para o país. A corporação diplomática, diante da crescente politização da política exterior, por vezes trai a sua aparência monolítica, revelando profundas clivagens intracorporativas. As decisões tomadas no plano internacional produzem impactos redistributivos domésticos de intensidade inaudita e o tema ganha as manchetes da grande mídia.
Inúmeros e diversificados fatores convergiram, no último quarto de século, para reforçar a necessidade de tratamento da política externa brasileira como uma política pública, e não mais como seara exclusiva e monopólio de nossos diplomatas. No plano analítico, tal processo de desencapsulamento da nossa política exterior ganha, neste livro de Dawisson Lopes, o seu tratamento mais sistemático. Esta obra é dedicada ao questionamento da possibilidade de compatibilização entre política externa e democracia e à interpretação deste encontro conflitivo no Brasil da Nova República. Tais objetivos inevitavelmente implicam colocar em discussão a trajetória e as tendências ao insulamento por parte do Itamaraty. Nessa empreitada, o leitor é brindado com uma mescla de erudição e ousadia analítica, em uma tessitura argumentativa original e provocativa, que alia o método histórico ao comparativo, questionando o cânone e ao mesmo tempo retirando dele novas e promissoras chaves interpretativas, como a hipótese do “republicanismo aristocrático mitigado”.
Se a tensão entre expertise e democracia (ou entre eficiência e representatividade) talvez possa ser pensada como constitutiva da produção da política externa em regimes poliárquicos como o brasileiro, esta importante contribuição de Dawisson Lopes está fadada a se tornar referência inescapável no debate acerca das gramáticas políticas das relações exteriores do país.
Carlos Aurélio Pimenta de Faria
Professor do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da PUC Minas.
“Com lastro empírico e solidez analítica, este livro traça um amplo panorama histórico e teórico do sistema de formulação da política externa brasileira. O autor procura construir uma solução dialética entre os conceitos de democracia e de república em nossa história diplomática. Trata-se de uma contribuição valiosa para um debate ainda incipiente no país.”
Celso Amorim
“Quais os limites e as possibilidades da democratização da política externa brasileira? Para respondê-lo, o autor percorre narrativas próprias da história, da teoria social, da análise institucional, da cultura política e do desenvolvimento da política externa. O viés aristocrático é apontado como um dos principais empecilhos à maior porosidade da diplomacia brasileira aos insumos da sociedade civil.”
Maria Regina Soares de Lima
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