Ao entrar num sebo em Charlottesville, Read It Again, Sam (214, East Main Street, at the Downtown Mall, Charlottesville, Virgínia), fui direto para a seção de História, como faço invariavelmente em qualquer livraria, junto com a seção de Economia (muitas vezes misturada com Business, ou Administration, ou pior, Personal Finance).
Ali encontrei um livro, ou melhor, dois, reunidos num só, que estava buscando há anos. Eu já conhecia o Virtual History, organizado por Niall Ferguson, mas não tinha ainda conseguido (não tinha ido buscar), os dois What If? organizados por Robert Cowley, que conhecia apenas de resenhas rápidas. Tive a sorte de encontrar os dois, reunidos num único volume, de mais de 800 páginas: The Collected What If?: Eminent Historians Imagine What Might Have Been (New York: Putnam, 2001; ISBN: 0-399-15238-5).
A maior parte do livro, como já esperado, refere-se a episódios militares que, como todo mundo sabe, costumam ser tão imponderáveis, por vezes, quanto um jogo de futebol.
O futebol, certamente, é o maior campo (ops) para what ifs que pode existir, no qual um time de terceira pode, eventualmente, ganhar de um de primeira. Numa guerra, um comandante incompetente, ou a ação de fatores naturais, imprevisíveis, pode alterar o resultado de uma batalha, e precipitar um outro resultado para o conflito.
Minha preferência está com episódios políticos, que são tão contingentes quanto os militares, e talvez até mais surpreendentes.
Dez anos atrás, ao ler o livro organizado por Niall Ferguson, eu também comecei a minha História Virtual do Brasil.
Para incitar-me a retomar a série, reproduzo aqui alguns episódios escritos sob a forma de síntese, esperando um desenvolvimento completo na primeira oportunidade.
Paulo Roberto de Almeida
História Virtual do Brasil
(What if...?)
Paulo
Roberto de Almeida
Introdução: O que teria acontecido se…?
Parece trivial, e sem maiores
conseqüências práticas, fazer conjecturas em direção do passado, já que a linha
contínua do tempo não nos permite operar qualquer mudança com a ajuda de alguma
máquina do tempo imaginária. Especular é contudo possível em direção do
passado, sendo em todo caso menos perigoso do que fazê-lo no presente e ainda
menos arriscado do que “contra” o futuro.
Tendo já estabelecido uma lista de “momentos decisivos” da história do
Brasil (ver em minha página: www.pralmeida.org,
link: “Trabalhos Originais”), permito-me agora selecionar alguns desses
“turning points” para realizar alguns exercícios de imaginação, que não são
todavia completamente arbitrários ou puramente aleatórios. Uma das boas regras
da história virtual, já explorada por historiadores fecundos como Niall
Ferguson, é a de que o novo curso estabelecido deve ser “plausível” ou
“possível”, isto é, seus desenvolvimentos poderiam estar inscritos na lógica
histórica do momento imediatamente antecedente. Suas conseqüências, entretanto,
podem levar a resultados totalmente aleatórios, ou divergentes do curso real da
história, um pouco como na alegoria do bater de asas da borboleta sugerido pela
teoria do caos.
O que teria acontecido com o Brasil – que talvez não fosse nem “Brasil” –
se alguns dos eventos ou processos aqui sugeridos tivessem ocorrido? Vou traçar
apenas as linhas gerais do que poderia ser uma “história alternativa”, sem
pretender agora entrar em longos desenvolvimentos em torno do curso sugerido para
cada um deles.
O “copyright” pelas idéias virtuais é meu, mas cada um deve se sentir
livre para imaginar seus outros eventos e estabelecer cursos diferentes para os
episódios selecionados.
1. Tordesilhas mais a leste, em 1494: uma
América do Sul apenas espanhola?
O que teria acontecido se em
Tordesilhas (1494) o negociador português não tivesse conseguido afastar para
oeste a linha divisória das terras descobertas em processo de incorporação aos
impérios espanhol e português? O Brasil não teria sido brasileiro, obviamente,
ou pelo menos poderia não ter “nascido” português, alguns anos mais à frente.
Mas, a América do Sul teria permanecido uniformemente espanhola?; provavelmente
não, pois esses imensos domínios teriam sido imediatamente contestados pelas
demais monarquias européias (França e Inglaterra, sobretudo), como o foram em
determinadas partes. Portugal, em todo caso, talvez tivesse ficado restrito a
seus domínios africanos e asiáticos apenas, o que poderia ter mudado a face do
mundo.
Tordesilhas foi uma espécie de Ialta
no nascimento dos tempos modernos, dividindo o mundo entre Portugal e Espanha,
mas à diferença do acordo de Ialta do século 20, que consolidou uma divisão do
mundo relativamente estável durante quase meio século, foi um acordo feito
entre duas potências relativamente marginais no concerto europeu do
Renascimento, não tão poderosas, em todo caso, quanto a França, a Inglaterra
elizabetana (que cem anos depois colocaria a Espanha imperial em cheque) ou
mesmo alguns reinos mediterrâneos. Assim, a pretensão ao monopólio do mundo não
teria sido aceita pelos demais reinos cristãos, sobretudo se a Espanha (por
alguma distração do negociador português em Tordesilhas) tivesse abocanhado
todo o hemisfério americano.
Do nosso ponto de vista, cabe apenas
registrar que em 1494, a Espanha poderia, sim, ter ficado com todas as terras a
170 léguas de Cabo Verde (e não 360 como depois se fixou), e Portugal estaria
assim restrito aos seus domínios africanos e asiáticos. Ainda neste caso, o
Brasil poderia ter emergido como “brasil” (supostamente pela madeira vermelha
de suas costas), mas ele teria sido espanhol 80 anos antes da incorporação de
Portugal pela Espanha, e talvez nem tivesse permanecido sob dominação da coroa
espanhola, nessa época excessivamente preocupada em saquear o ouro e a prata do
México e dos Andes e pouco propensa a defender costas indevassadas, povoadas
apenas por índios do neolítico, sem qualquer riqueza aparente. Os holandeses
talvez tivessem se apossado antes de parte do território brasileiro, ou outros
povos: franceses, ingleses. O Brasil em todo caso não seria português e
Portugal teria um império africano e indiano.
2. O Brasil holandês do século 17: uma
feliz tropicologia da ética protestante?
E se os
holandeses não tivessem sido expulsos do Nordeste em 1654: a ética do
protestantismo teria conseguido transformar a lógica da plantação
escravocrata?; um Brasil menos brasileiro teria sido bem sucedido?:
provavelmente não, e o Brasil estaria mais perto de uma Indonésia do que de uma
pujante democracia mercantil.
Imaginemos,
por um instante, que Calabar tivesse sido bem sucedido, que Guararapes tivesse
representado uma derrota para os luso-brasileiros ou que, por artes da
diplomacia (e da pressão militar), Portugal simplesmente tivesse concedido
“vender” sua franja nordestina do Brasil à Companhia das Índias ou diretamente
à república dos holandeses. Poderíamos ter tido um Nordeste menos
“subdesenvolvido” do que atualmente, uma vibrante economia mercantil, marcada
pelo “iluminismo” protestante e pela ética do trabalho desse capitalismo
nascente do norte do Escalda?
Duvidoso
que esse cenário bem sucedido ocorresse no sentido do progresso europeu
protagonizado pelo primeiro país moderno da Europa, o protótipo do capitalismo
“à face humana” e apenas incomodado pelo “desconforto da riqueza”.
Provavelmente estaríamos mais perto da Indonésia (sem a diversidade
multi-cultural) do que da metrópole holandesa. Não é certo que esse cenário
puramente colonial se reproduzisse, uma vez que, à diferença da Indonésia, os
holandeses teriam de toda forma de ocupar e preencher demograficamente o
território brasileiro, escassamente povoado por índios pouco afeitos a uma
economia mercantil.
Assim, a
forte presença judia (e de “cristão-novos” de modo geral) talvez tivesse
operado algum “milagre” de desenvolvimento econômico com forte inserção nos
fluxos mundiais de transações de bens e serviços, inclusive capitais.
Entretanto, a colônia holandesa do Brasil ainda assim teria conhecido a
escravidão, o regime de plantações e alguns problemas de infra-estrutura que
dificultariam sua inserção exitosa na economia mundial, de maneira autônoma,
quero dizer. Os imponderáveis de um Brasil holandês não se limitam ao próprio
território americano, uma vez que a Holanda talvez tivesse no Brasil uma grande
base de abastecimento para enfrentar não apenas a Espanha dos Habsburgos, mas a
própria Inglaterra do mercantilismo triunfante.
Ou seja,
o Brasil continuaria como colônia por um certo tempo mais, mas o jogo de
alianças seria outro, e o futuro estaria mais aberto do que sob o exclusivismo
colonial português. Quanto ao seu desenvolvimento sócio-econômico, ele
dependeria não apenas dos próprios holandeses, mas de uma eventual classe
dominante local que poderia ou não estimular traços inovadores na estrutura
básica (inclusive humana) desse Brasil nordestino. A ética protestante não
seria em todo caso garantia de êxito absoluto…
4. Vitória da Inconfidência: o Brasil
brasileiro não teria sido prematuro?
A indústria teria sido desenvolvida
(sem decreto de proibição de teares)?; Os escravos teriam sido libertados?; Os
jesuítas continuariam a prover ensino? O Brasil seria uma repetição dos EUA, ou
seguiria a experiência dos caudilhos hispânicos?
Não pretendo desenvolver todas as
minhas hipóteses aqui, mas ouso apens sugerir que um processo de independência
naquele momento, com estruturas sociais e políticas tão pouco desenvolvidas no
Brasil, com ausência quase completa de uma população educada – já não digo
alfabetizada, mas “ilustrada” tecnicamente em artes da manufatura e de ofícios
simples – e de bases sociais para a democracia local, poderia ter resultado num
Estado inoperante, claudicante e candidato ao fracasso administrativo e
financeiro.
Classes dominantes decididas também
podem ser um requisito indispensável à emergência de uma nação autônoma, e
talvez o Brasil não estivesse preparado, naquele momento, para a independência.
Recorde-se apenas que a “inconfidência” se deu mais por exação fiscal do Estado
português do que por vibrante movimento autonomista guiado por uma ideologia
iluminista como pode ter ocorrido na América do Norte (que já tinha mandado seus
“representantes” a Londres, na pessoa de Benjamin Franklin, por exemplo). Em
lugar de uma nação autônoma trinta anos mais cedo, poderiamos ter tido um
arquipélago de mini-estados separados pela geografia e pela economia. Ou seja,
um mosaico de repúblicas mais ou menos caudilhescas, como ocorreu depois com a
América espanhola.
5.
Conseqüências da não abertura dos portos em 1808: um Brasil industrial?
Se, em 1808, não tivesse havido o decreto de abertura dos portos (que
significou o fim do exclusivo colonial) e se, em 1810, não tivesse sido
assinado o tratado de comércio de Portugal com a Inglaterra (que acarretou
rigidez tarifária e abertura comercial), como poderia ter sido o
desenvolvimento econômico e industrial do Brasil? Teríamos reproduzido o modelo
americano como pretendem alguns historiadores?
Minha hipótese é a de que o atraso português – sem o desafio da presença
hegemônica inglesa, entenda-se – teria sido simplesmente transplantado para o
Brasil, que seria, sim, um bem sucedido exportador de café e de outros produtos
tropicais, como ele o foi de fato, mas não necessariamente teria acompanhado o
curso da primeira e da segunda revolução industrial (o que ele fez com enorme
atraso). Ou seja, nada de muito diferente de alguns países mediterrâneos, que
mantiveram o atraso social e econômico já bem entrado o século 20. Um
capitalismo hamiltoniano teria muito poucas chances de se desenvolver no
Brasil, em vista dos enormes diferenciais técnicos e de educação entre a Nova
Inglaterra e o Brasil das plantações. Observe-se que nada impediria, nesse
caso, o desenvolvimento de indústrias têxteis no Brasil, como sugerem alguns
historiadores (se não tivesse havido tratado de 1810, por exemplo), mas elas
seriam mais suscetíveis de serem operadas por escravos negros do que por
trabalhadores brancos europeus.
Em outros termos, um capitalismo servil e escravocrata, sem qualquer
democracia (ou apenas uma democracia restrita aos patrícios, como no sul dos
EUA) e sem qualquer estímulo inovador para a geração de um processo endógeno de
desenvolvimento econômico e social. Como diria Braudel, as estruturas sociais
são lentas a serem transformadas, resistindo a muitos movimentos políticos
superficiais, como aquele resultante de um Brasil português não dominado pelo
mercantilismo britânico.
6. Um arquipélago de repúblicas
luso-parlantes: a independência fragmentada?
Episódios
como o da Revolução Pernambucana de 1817, que representou o primeiro desafio à
unidade nacional, o da própria Independência (em 1822, sem abolição da
escravatura) com algumas lutas de retaguarda na Bahia e no norte, o excessivo
centralismo da administração de Pedro I, que redundou no ato de abdicação (em
1831) e na experiência “republicana” das Regências, sem falar nas muitas
revoltas regionais desse período, a começar pela Farroupilha no Sul (1835-45),
o segundo grande desafio à unidade nacional, todos eles poderiam, combinados ou
segundo um encadeamento que deixaria algum espaço ao acaso histórico, redundar
no esfacelamento da unidade brasileira, surgindo em seu lugar uma miríade de
estados portugueses mais ou menos caracterizados pela completa independência
econômica.
Um economia política da
regionalização brasileira na passagem da vaga napoleônica na Europa (que deixou
em crise quase terminal as duas monarquias ibéricas) seria suscetível de
demonstrar essa fragmentação do Brasil em três ou quatro estados autônomos na
conjuntura dos anos 1820 a 1840.
7. O fracasso da República e a decadência
do Império: a monarquia no século 20?
O Império certamente era frágil (o
ataque de Solano Lopez o demonstrou em 1865), mas os republicanos eram ainda
mais fracos e desorganizados. Imaginemos, por um momento, que a abolição da
escravidão não tivesse sido feita em 1888 (e que ela ocorresse apenas dez anos
depois, sem incorporação dos escravos à economia e à sociedade, como de fato
ocorreu em qualquer circunstância), e que as crises militares desse período
tivessem redundado num golpe falho, que produzisse rejeição do militarismo e do
republicanismo e uma aversão completa à anarquia política prometida pelo
federalismo exacerbado dos republicanos ideológicos.
A monarquia teria então sobrevivido
alguns anos mais, até a morte de D. Pedro (nessas circunstâncias em torno de
1896 ou 97), e que a sucessão tivesse sido realizada na pessoa da inepta e
insegura Isabel, com seu marido francês e financiamento inglês. Os faustos da
era vitoriana, em 1900, talvez pudessem ter sustentado o regime monárquico
alguns anos mais, provavelmente ultrapassando o próprio monarquismo português
(que veio a perecer quando o Brasil conheceu um novo surto de militarismo, com
a eleição de Hermes da Fonseca) e dando-lhe uma aura de diferente, de estável
(numa América Latina cada vez mais agitada por golpes e revoluções) e mesmo
progressista (teriamos “conseguido” libertar os escravos em 1898, pouco antes
de Cuba) e inagurado o século 20 com grandes promessas de constitucionalismo
britânico. Rui Barbosa teria sido várias vezes presidente do Conselho de
Ministros, Pinheiro Machado um bom tribuno monarquista e o Barão do Rio Branco
faria um grande chanceler monarquista.
Os exageros do federalismo republicano teriam sido evitados e o Brasil
talvez tivesse tido uma trajetória de responsabilidade fiscal e de
solvabilidade externa que teriam evitado vários constrangimentos com os
credores externos. O desenvolvimento industrial talvez tivesso sido menor, mas
o Estado talvez pudesse até mesmo ter encontrado o seu reformista bismarckiano.
Algum sucessor de Isabel poderia ter conduzido o Brasil monárquico até bem
passada a Primeira Guerra Mundial, mas os apelos anarquistas e bolcheviques
talvez tivessem provocado alguma tragédia à
la russa.
(...)
9. O Brasil aposta errado em 1941: fica do
lado dos derrotados e ocupados
A
viabilidade de um regime integralista-fascista moderado no Brasil, desde o
início dos anos 1920 conduziu o Brasil a uma grande aliança com as potências
nazi-fascistas da Europa e da Ásia na década seguinte. Ainda que situado fora
do teatro de conflagrações militares européias e asiáticas, e mantendo boas
relações com seus vizinhos sul-americanos (inclusive os fascistas mais radicais
da Argentina, com a qual tinha sido criado uma união aduaneira com propensão a
abarcar todo o cone sul, desde o final dos anos 1930), o Brasil faz as escolhas
erradas no momento das ofensivas militares nazi-fascistas contra os EUA, a
Rússia soviética e diversos outros alvos europeus. Mesmo declarando sua
neutralidade no conflito europeu (e asiático), ele se habilita como um dos
principais fornecedores de matérias primas estratégicas para as potências do
Eixo, provocando a ira dos EUA.
Uma recusa adicional de ceder bases
no Nordeste para utilização das forças aerotransportadas americanas a caminho
do norte da África, conduz à ocupação forçada de amplos trechos da costa
nordestina por foças dos EUA. O governo de Washington oferece um armistício,
sob ameaça de bombardeio aéreo e naval contra o Rio de Janeiro, o que o
primeiro ministro Goes Monteiro (atuando num governo de coalizão entre partidos
fascistas e republicanos brasileiros) se vê obrigado a aceitar. Tem início um
longo processo de ocupação de bases “extra-territoriais” no Nordeste que só
terminaria em 1952, com a assinatura de um acordo de “assistência” militar, ao
mesmo tempo em que os EUA devolviam a soberania “formal” ao Japão e à Alemanha
(mas ainda mantinham forças militares nesses países). O regime civil-militar do
Brasil se converte paulatinamente em aderente de uma vertente menos autoritária
do capitalismo de estado.
10. Exageros da “República sindical” levam
o Brasl à democracia burguesa em 1964
Sem ter participado da guerra e
ausente de Bretton Woods e da conferência de San Francisco, em 1944 e 1945, o
Brasil adere tardiamente às mais importantes organizações onusianas,
permanecendo num casulo semi-corporatista e estatista, no plano interno, e
sendo estreitamente vigiado pelos EUA no plano externo. Esse relativo
isolamento das correntes mais dinâmicas do crescimento econômico mundial no
pós-guerra, conduz a uma certa estagnação social e ao descontentamento da
classe média, que se deixa seduzir pela idéias democráticas e liberais de Seleções do Reader’s Digest e pelas belas fotografias de Life, com a versão edulcorada do american way of life.
Em todo caso, a revolta surda contra
o “estado novo” tropical que vigorava desde meados dos anos 20, explode quando
um lider republicano sindicalista, João Goulart, promete “mudar tudo” nas
eleições de 1960, radicalizando ainda mais as promessas distributivistas feitas
pelos líderes tenentistas dos anos 1920 mas nunca realmente cumpridas. Isso era
demais para a classe média ameaçada em seu estilo de vida e seduzida pelo
efeito demonstração produzido nos EUA, onde um jovem líder progressista, John
Kennedy, também queria mudar tudo, mas no sentido de maior bem estar econômico
e promessa de direitos civis para toda a população. Aliada a militares
sensatos, líderes social-democratas afastam o presidente populista com um golpe
de estado pacífico e instauram, pela primeira vez na história, uma democracia
burguesa no Brasil. Imediatamente reconhecido pelos EUA, o novo governo,
dirigido pelo jovem líder trabalhista (democrata) Franco Montoro, assina um
acordo com o FMI para colocar a economia do Brasil em novas bases, abrindo o
país ao capital estrangeiro, privatizando as estatais criadas nos anos 1930 e
40, e inserindo o Brasil na economia mundial, via redução tarifária e
liberalização comercial.
É o começo da voga de regimes civis em toda a América Latina, que sai
definitivamente do isolamento das ditaturas autárquicas e ingressa numa era de
rápido crescimento econômico, igual ou superior ao do Japão e da Alemanha.
Tendo feito reforma agrária e operado uma verdadeira revolução educacional, o
Brasil galga postos altos na corrida tecnológica mundial, ganhando vários
prêmios Nobel em pesquisa científica, sobretudo nas áreas biológica (e
agrícola) e física (aplicada à eletrônica).
Paulo
Roberto de Almeida
Washington,
1064: 21 de junho de 2003
Bem, agora preciso continuar...
Bom ano a todos, e muitas realizações virtuais...
Charlottesville, 31/1/2013