O Santander pediu desculpas, não deveria, pois publicou uma verdade que está em vários relatórios e nas páginas dos jornais. Isso não significa absolutamente nada sobre o sucesso ou fracasso de um suposto segundo governo da nossa presidenta, apenas uma verdade: os mercados reagem mal quando a presidenta sobe nas pesquisas de intenção de voto. Isso é fato por mais que se queira demonizar os analistas de mercados.
Mas o que parece não ser verdade são as declarações da Ministra Teresa Campelo que traz para o PT a concepção do Bolsa Família e ainda critica o governo FHC. Umas das mentes por trás do programa é o economista Ricardo Paes de Barros que já trabalhava no governo FHC com a criação do cadastro único para políticas sociais.
Pelo que soube, no início do governo Lula, havia uma certa resistência muito forte do PT ao programa Bolsa Família. A grande aposta do PT para combater a miséria era o fracassado programa Fome Zero. Mas a Ministra Tereza Campello passa a impressão em entrevista ao repórter Josias de Souza (clique aqui para ler e assistir a entrevista) que o Bolsa Família é uma concepção do PT, que desde criancinha defende o programa. De acordo com a matéria no Blog do Josias:
“Integrante do grupo de trabalho que formulou o Bolsa Família, em 2003, Teresa reconhece: “Quando assumimos o governo, já existiam alguns programas.” Havia o Bolsa Educação, o Bolsa Escola e o Vale Gás. Mas eram “muito tímidos, muito mal organizados e feitos há muito pouco tempo”, afirmou a ministra. Ao rememorar as decisões tomadas sob Lula, Tereza desqualificou as bolsas de FHC: “O que nós fizemos? Não queremos esse monte de farelinho que não chegava a R$ 1 bilhão. Queremos um programa que tenha consistência.”
Quem são nós? Com certeza não era a ministra. Em matéria na Revista Piauí, Edição 74 Novembro de 2012 que trata dos programas sociais e do economista Ricardo Paes de Barros que esteve por trás da concepção do Bolsa Família, a matéria fala sobre a origem do programa Bolsa Família.
Primeiro, a concepção do programa vem de 2002 e não teve absolutamente nada a ver com o PT. Mas reconheçamos que o governo do presidente Lula teve o mérito de aceitar a ideia, mas foi uma posição muito pessoal do ex-presidente Lula e do ex-Ministro da Fazenda Antônio Palocci, que morria de medo dos economistas do PT e corretamente os manteve distante do Ministério da Fazenda.
“Ainda em 2002, quando presidia a Fundação Ulysses Guimarães, “braço programático” da legenda, Moreira Franco encomendou a economistas ligados ao Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), no Rio, a elaboração de propostas para um futuro governo. Seriam entregues como contribuição à candidatura de José Serra à Presidência. A vice da chapa, deputada Rita Camata, era do PMDB. Marcos Lisboa, Ricardo Henriques, José Márcio Camargo e Ricardo Paes de Barros participaram da concepção do documento, que veio a ter um título estranho: “Tirando o atraso: combate às desigualdades já.” Criticavam a falta de focalização dos gastos sociais e propunham ações que significariam levar adiante o trabalho iniciado por Wanda Engel.” (Revista Piauí, Edição 74 Novembro de 2012).
Wanda Engel foi ministra da Assistência Social do governo Fernando Henrique Cardoso de 1999-2003. No ano passado ela falou sobre a tentativa constante do PT de tentar reescrever a história e trazer para si parternidade do Bolsa Familia. (clique aqui).
Segundo, como fala Ricardo Henriques sobre os bastidores da criação do programa Bolsa Família na mesma matéria citada acima da Revista Piauí:
“Na reunião do início do governo, incentivado por Lula a falar, Henriques fez a defesa da criação de um cadastro único e da reunião de todos os programas sociais em um único cartão. A ideia, afirma Ana Fonseca, já havia aparecido nos trabalhos do grupo de transição, de que ela participou. Foi Henriques, de toda forma, quem recebeu o sinal verde do presidente, em meio à crise precoce do Fome Zero. Passou a trabalhar, nos meses seguintes, no projeto técnico da unificação do Bolsa Escola, do Bolsa Alimentação, do Auxílio Gás e do Cartão Alimentação do Fome Zero.
Detalhes do novo programa passaram a ser discutidos em reuniões semanais que Ricardo Henriques mantinha, no Rio, com Lisboa, Márcio Camargo e PB. Trabalhavam às sextas e nos fins de semana. Francisco Ferreira, já no Banco Mundial, voava de Washington para participar. “Fui a várias dessas reuniões para desenhar a unificação.”
“Isso virou um método”, afirmou Henriques. “Eram reuniões meio de bombardeio. Parte da ideia era a de exaurir hipóteses possíveis. Para formatar o Bolsa Família, tínhamos que testar várias hipóteses. Eu dizia: ‘Não posso sair daqui com uma proposta para o governo sobre a qual tenhamos dúvidas.’ Às vezes, a discussão tinha recortes específicos. Qual o melhor modelo para fazer seleção de beneficiários? Quem pode ajudar? A parte empírica é muito do Ricardo. A Rosane Mendonça também foi trabalhar comigo lá na Secretaria. Para rodar os dados, fazer simulações de impacto na pobreza.”
O projeto enfrentou resistências dentro do governo e também em setores do PT, mas quem importava já havia empenhado seu apoio à iniciativa. “Os grandes avalistas do programa foram o Palocci e o presidente”, reconheceu Henriques.
Em Brasília, ele participava de reuniões com os vários ministérios. Precisava coordenar os cadastros e chegar ao formato final do programa. A Caixa Econômica desenvolveu a estrutura técnica para alcançar milhões de beneficiários em todo o país. O novo programa incorporou condicionalidades das bolsas lançadas no governo Fernando Henrique: frequência escolar e acompanhamento do cartão de vacinação das crianças. O Bolsa Família, que se tornaria o maior símbolo da era Lula, seria lançado alguns meses depois, antes que chegasse ao fim aquele primeiro ano de mandato. Revista Piauí, Edição 74 Novembro de 2012)
E qual foi a efetiva participação da atual Ministra do Desenvolvimento Tereza Campello? Eu não sei e nunca escutei as pessoas que conheço e que participaram do programa citar o nome da ministra na concepção do Bolsa Família.
A matéria da Revista Piauí bem que tentou falar com a ministra para saber o que ela achava do papel do economista Ricardo Paes de Barros na criação do programa. Mas ……:
“A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, também foi procurada, para que falasse sobre as contribuições de Ricardo Paes de Barros à sua pasta. Um mês antes da publicação da revista, um assessor da ministra me comunicou que a entrevista não seria concedida. Questionado sobre a razão da recusa, não respondeu. No final de setembro, pedi, formalmente, uma entrevista à ministra do Planejamento, Miriam Belchior, que participou da criação do Bolsa Família. Alguns dias depois, recebi um telefonema em que uma assessora do Ministério questionava a motivação da reportagem. “A matéria é sobre a queda na desigualdade, não é?”, perguntou, enfatizando a palavra “queda”. “Por que vocês querem falar justo agora sobre o Ricardo Paes de Barros?” Belchior também não quis falar à Piauí.”
É impressionante como o PT tem raiva, ressentimento ou simplesmente se nega a reconhecer que a concepção do programa Bolsa Família decorreu não da atuação de pessoas historicamente ligadas ao partido, mas sim de um grupo de técnicos tratados como “neoliberais” de forma pejorativa.
A Ministra do Desenvolvimento parece ter raiva quando qualquer partido que não o PT tenta garantir que o Bolsa Família seja consolidado como uma política de estado. Por que? Simples. De acordo com a última pesquisa do Datafolha de 15 e 16 de julho de 2014, , quando se olha a intenção de voto para o segundo turno, a única faixa de renda familiar que a presidenta Dilma lidera é no grupo de eleitores que tem renda familiar até 2 salários mínimos.
Intenção de Voto no Segundo Turno por Faixa de Renda Familiar Mensal – Datafolha (15 e 16 de julho de 2014).
Assim, politizar o programa Bolsa Família é uma forma “racional” de tentar consolidar o eleitor fiel do PT, mas tão antiético como fazia a direita mais reacionária e tradicional do Nordeste nas décadas de 1980 e 1990, quando adotava o terrorismo eleitoral para assustar o voto no Partido dos Trabalhadores (PT). É triste ver isso do PT, que antes foi vitima da mesma estratégia. E tem gente que acha que a nota abaixo do Santander foi terrorismo eleitoral.
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