Duas postagens, sobre o mesmo assunto, que têm ambas a ver com
fantasmas, mas estes são de carne e osso, e com contas secretas, e fedorentas.
Quando se constatam coisas assim, a gente descobre que certas
associações para delinquir tupiniquins superaram amplamente a máfia siciliana e
todas as outras organizações italianas juntas.
Acho que daria um belo filme de um Francesco Rosi nacional. Pena que não
exista...
Paulo Roberto de Almeida
A
caixa-preta (I)
A empreiteira Schahin está enrolada na Lava Jato.
Segundo Pedro Barusco, ela deu aproximadamente 2,5 milhões de reais ao
PT, através de seu operador, Mario Goes, que está preso.
Na semana passada, a Istoé publicou que o banco Schahin, que pertence ao
mesmo grupo da empreiteira, emprestou 12 milhões de reais a José Carlos Bumlai,
o pecuarista amigo de Lula. O empréstimo suspeito constava de um documento do
Banco Central e confirmava a denúncia de Marcos Valério de que Bumlai intermediara
um pagamento a Ronan Maria Pinto, o empresário de Santo André que chantageava
Lula, José Dirceu e Gilberto Carvalho.
O Antagonista teve acesso àquele mesmo documento do Banco Central e,
cruzando uma série de dados, descobriu dois fatos que podem ajudar a esclarecer
alguns dos maiores mistérios dos esquemas de financiamento clandestino do
petismo.
O primeiro é mais simples e pode ser imediatamente investigado pelos
procuradores da Lava Jato. O segundo é muito mais intricado e perigoso, porque
envolve a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, e fica para o texto
sucessivo.
Vamos lá.
O banco Schahin fez dois empréstimos - questionados pelo Banco Central -
a uma certa Florida S.A. O primeiro, em 27/3/2003, de 12,8 milhões de reais, e
o segundo, em 27/4/2004, de 8,3 milhões de reais.
A Florida S.A. foi acusada de fazer parte da rede da doleira Nelma
Kodama, que se associou a Alberto Youssef. E fazia negócios com a corretora
Planner, usada pelo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, para administrar o
dinheiro da Bancoop.
O banco Schahin é a caixa-preta do PT? Leia o próximo texto.
A
caixa-preta (II)
O depoimento de Pedro Barusco aos investigadores da Lava Jato tinha uma
frase sobre o tesoureiro do PT que não fazia muito sentido. A partir de agora,
isso deve mudar.
Pedro Barusco disse que procurou João Vaccari Neto porque sabia de sua
boa relação com o grupo Schahin. Qual relação? Por que? Desde quando?
O documento do Banco Central que questiona os empréstimos suspeitos do
banco Schahin pode fornecer uma resposta a essas perguntas.
Entre 2002 e 2005, o banco Schahin fez dez empréstimos irregulares às
empresas Cliba e Dados Empreendimentos, num total de 48,8 milhões de reais. O
dono dessas empresas era Romero Teixeira Niquini, que se tornou sócio do
concunhado de Ronan Maria Pinto, de Santo André, e faturou uma fortuna em
contratos com as prefeituras do PT.
A Folha de S. Paulo, em 2002, publicou a seguinte reportagem sobre ele,
já então desconfiando que se tratasse da principal fonte pagadora do petismo:
"O empresário de transportes Romero Teixeira Niquini herdou, em
seis meses, quase R$ 70 milhões em contratos para serviços de limpeza em duas
capitais administradas pelo PT. O presidente de empresas de seu grupo é Willian
Ali Chaim, ex-tesoureiro da campanha a deputado federal de Rui Falcão,
secretário de Governo da Prefeitura de São Paulo, e ex-assessor do presidente
nacional do PT, deputado José Dirceu. Os contratos de Niquini com as
prefeituras petistas estão sob a mira do Ministério Público e de vereadores,
que desconfiam de um suposto beneficiamento a empresas de lixo e de transporte.
O promotor Fernando Capez acredita que "há claramente um esquema para
beneficiar essas empresas nos municípios administrados pelo partido".
A Folha de S. Paulo publicou também, no mesmo período, uma reportagem
sobre o crescimento de suas empresas de ônibus nas prefeituras petistas de
Santo André e São Paulo:
"Romero Teixeira Niquini substituiu Baltazar José de Souza, de quem
comprou a Viação Iguatemi - cujo nome foi alterado para Expresso Urbano São
Judas Tadeu. A empresa tinha como sócios o próprio Baltazar, concunhado de
Ronan Maria Pinto, e Ozias Vaz, sócio de Ronan. Em agosto de 1999, Niquini
comprou outra empresa de Baltazar, a Viação Santo Expedito, por R$ 1,8 milhão.
Com as aquisições, ele passou a ser o segundo maior empresário de ônibus na
cidade, com 900 veículos - cerca de 10% da frota paulistana".
As suspeitas de pagamento de propina ao PT por parte de empresas de
transporte e limpeza - e que dizem respeito tanto à campanha de Lula, em 2002,
quanto ao assassinato de Celso Daniel - nunca foram provadas judicialmente
porque ninguém conhecia o caminho do dinheiro. Agora a Lava Jato pode resolver
o enigma, a partir do documento do Banco Central.
As relações entre o grupo Schahin e o PT não são apenas boas - elas são
uma chave para abrir a caixa-preta do partido.
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