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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Petrolao-Dos delitos e das penas (2): a natureza da patifaria - Reinaldo Azevedo

Segunda parte de uma reflexão relevante para o país: teremos mais uma fraude judicial desta vez, ou os criminosos verdadeiros vão pagar pelos seus crimes?
Leitores bem informados, como os que frequentam estas páginas, sabem quem são os verdadeiros criminosos, não é?
Paulo Roberto de Almeida

Leia antes o texto “A NATUREZA DO JOGO 1 – RICARDO PESSOA TEM NITROGLICERINA PURA CONTRA O PT, ESTÁ DISPOSTO A FALAR, MAS PARECE QUE O MINISTÉRIO PÚBLICO NÃO QUER OUVIR. E POR QUE NÃO QUER? EIS A QUESTÃO” (clique aqui)

José Eduardo Cardozo com Rodrigo Janot. Tudo positivo? Para quem?

José Eduardo Cardozo com Rodrigo Janot. Tudo positivo? Para quem?

Muito bem! O Brasil está de olho em Rodrigo Janot, procurador-geral da República. E espera-se que Rodrigo Janot esteja de olho no Brasil, mais preocupado em dar a resposta necessária à impressionante sucessão de descalabros na Petrobras do que em, digamos, “administrar” a denúncia para amenizar a crise política. Esse é, afinal, um papel que cabe aos… políticos. Sim, é preciso que a gente acompanhe com lupa o trabalho do Ministério Público Federal.

Janot andou a pensar alto por aí. E este blog revela um desses pensamentos, prestem atenção: “Passei a régua e, felizmente, Lula e Dilma estão limpos”. É? Então é hora de voltar à prancheta. E isso implica, parece, encaminhar o acordo de delação premiada com o empresário Ricardo Pessoa, da UTC. Ele está disposto a contar como repassou R$ 30 milhões para as campanhas eleitorais do PT em 2014 — R$ 10 milhões desse total para os cofres da candidatura de Dilma Rousseff. Que diabo, então, de “limpeza” é essa?

Como já resta mais do que evidente, José Eduardo Cardozo, um dos “Três Porquinhos” de Dilma, andou transitando — e transita ainda — freneticamente nos corredores para impedir novas delações premiadas de empreiteiros, com atenção especial dedicada a Pessoa, ex-amigão de… Luiz Inácio Lula da Silva!

Um dos interlocutores frequentes de Cardozo, diga-se, tem sido justamente Janot. E isso não é bom. É evidente que um procurador-geral deve manter relações institucionais com o ministro da Justiça. E só! Em dias como os que vivemos, conversas cordiais entre quem investiga e porta-vozes informais de investigados não parecem constituir atitude muito prudente.

E tudo se torna institucionalmente mais arriscado quando um interlocutor de Janot — como tem sido Cardozo — anuncia ao advogado de um dos réus uma “reviravolta” no caso, com suposto potencial para tragar também a oposição. É preciso muito rigor para que não se alimente a desconfiança, não é?, de que Cardozo sabe mais do que deveria saber sobre o que anda apurando o Ministério Público Federal.

Ademais, não cabe a Jonot saudar o fato de que Lula e Dilma estão limpos. De saída, cabe a pergunta: estão mesmo, ou isso traduz apenas a leitura mais conveniente?

Para entender
O que muita gente não entendeu até agora é que a obsessão do Ministério Público — e, sim, do juiz Sérgio Moro — de provar a existência de um “cartel” e de um suposto “Clube das Empreiteiras”, ao qual se confere um perfil mafioso, muda aquela que é a natureza evidente do jogo.

Fosse assim, os descalabros que se viram poderiam ter se dado em qualquer governo, com qualquer esquema de poder, em parceira com qualquer partido político. E ISSO, LAMENTO DIZER, É ESCANDALOSAMENTE MENTIROSO. O PT e o Planalto gostariam muito que essa versão triunfasse. A verdade é que o esquema, como estava organizado, só poderia ter sido liderado, como foi, pelo PT. O modelo traduz uma forma de entender e de se apropriar do estado, que difere do mensalão apenas na escala e na ousadia. Reportagem de VEJA desta semana revela que Delúbio Soares está na raiz também desse escândalo. A UTC simulou um contrato com a consultoria de José Dirceu para repassar ao chefão petista R$ 2,3 milhões.

A banqueira Kátia Rabello foi condenada a 16 anos e oito meses de cadeia; o publicitário Marcos Valério, a 40 anos e um mês. Você pode achar muito justo, leitor. Ocorre que Dirceu e Delúbio, que agora voltam à ribalta, já estão gozando do conforto de seus lares. Assim, a julgar pelas penas, a gente fica com a impressão de que eles foram muito mais efetivos na arquitetura do mensalão do que a dupla dinâmica do petismo. E essa hipótese, convenham, é ridícula.

Sim, eu sei como as coisas funcionam. A Kátia e Valério, foram imputados mais crimes, as penas foram se somando, e o resultado é o que vemos. Mas é preciso que se analise, então, se algo não acabou sendo mal encaminhado desde a denúncia, erro que não se pode repetir desta feita. A hipótese de que o petrolão chegue à fase de julgamento como mero esquema de assalto aos cofres do país, protagonizado por empreiteiros que decidiram corromper agentes públicos, é coisa ainda mais grave do que uma mentira: É UMA CORRUPÇÃO DA VERDADE. Tal leitura busca absolver o PT de seu crime principal: O ASSALTO À INSTITUCIONALIDADE.

Não cabe a Janot dar-se por satisfeito e aliviado que, passada a régua, nada exista de concreto contra Lula e Dilma. Sugiro ao procurador-geral que encaminhe logo a delação premiada de Ricardo Pessoa. Aí, então, veremos. E sugiro também que suspenda as conversas com José Eduardo Cardozo. Afinal, doutor Janot, como esquecer as palavras de Paulo Okamotto, sócio e faz-tudo de Lula, em entrevista ao Estadão? Ao se referir às relações do PT com as empreiteiras, foi cristalino: “Funciona assim: ‘Você está ganhando dinheiro? Estou. Você pode dar um pouquinho do seu lucro para o PT? Posso, não posso.’”

Tudo muito claro.


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