Acho que eu não diria a mesma coisa hoje, de certos trabalhos, mas vale o registro...
Estudos de Relações Internacionais do Brasil:
novos trabalhos e projetos coletivos
Paulo Roberto de
Almeida
Os trabalhos de
relações internacionais do Brasil, durante longo tempo o domaine reservé de um
punhado de especialistas, vem desenvolvendo-se com maior intensidade nos
últimos tempos, tanto dentro da academia como nos próprios meios profissionais.
Ainda assim, a bibliografia pertinente permanece extremamente restrita, já que
a maior parte dos estudos continua a ser veiculada através de revistas especializadas,
reconhecidamente muito poucas no Brasil. Em geral os pesquisadores atuam de
forma isolada e raras vezes seus trabalhos são objeto de divulgação ampla, o
que só seria permitido mediante sua publicação em forma de livro. Um livro
lançado recentemente e dois projetos coletivos permitem, nesse campo, suprir
algumas das lacunas existentes na documentação à disposição dos estudiosos.
O historiador
Moniz Bandeira, já sobejamente conhecido por seus trabalhos sobre as relações
do Brasil com os Estados Unidos (Presença dos Estados Unidos no Brasil, 1973, A
Rivalidade Emergente, 1989) e com os vizinhos do Prata (O Expansionismo
Brasileiro, 1985, O Eixo Argentina-Brasil, 1987), acaba de lançar uma obra
fundamental para se conhecer a história recente das relações entre o Brasil e a
Argentina: Estado Nacional e Política Internacional na América Latina: O
Continente nas Relações Argentina-Brasil, 1930-1992 (São Paulo-Brasília.
Editora Ensaio-Editora da UnB, 1993). Trata-se de um minucioso trabalho de
pesquisa histórica que acompanha o itinerário político, nacional e
internacional, de ambos os países, tanto no âmbito bilateral, como no que se
refere ás relações respectivas com os Estados Unidos e os demais países da
América do Sul.
Quanto aos
projetos coletivos, eles são desiguais em sua natureza, mas igualmente
importantes pelo escopo e abrangência dos trabalhos coletados. O primeiro
resulta de trabalho de pesquisa conduzido por professores da Universidades de
Brasília e da UNESP e já foi concluido exitosamente sob a forma de um volume de
textos a ser editado pela UnB, também em coedição com a Editora Ensaio,
inaugurando aliás uma coleção de estudos de Relações Internacionais. Essa obra,
provisoriamente intitulada O Desafio Internacional: a política exterior do Brasil
de 1930 a nossos dias, apresenta uma divisão temática e geográfica, com
capítulos bem definidos a cargo de especialistas conhecidos. O coordenador,
historiador Amado Luiz Cervo, abre com uma Introdução de caráter histórico e
discute as tendências da política externa no período. Moniz Bandeira assina um
texto sobre as relações do Brasil com os vizinhos do continente, o que
obviamente inclui o relacionamento com os Estados Unidos (“uma tendência em
baixa”) e com os demais parceiros latinos (“a caminho do encontro”). O
cientista político León Enrique Bieber apresenta um estudo sobre as relações
entre o Brasil e a Europa, enquanto que os professores de história José Flávio
Sombra Saraiva e Antonio José Barbosa prepararam trabalhos sobre,
respectivamente, as relações com a África negra e com a Ásia (aqui incluída a
África do Norte). Da UNESP, o historiador Clodoaldo Bueno, que já tinha
assinado com o professor Amado Cervo um manual de História da Política Exterior
do Brasil (São Paulo, Ática, 1992) encaminha um trabalho sobre a política
multilateral do Brasil no período do pós-guerra. O volume deve estar sendo
lançado até o mês de novembro de 1993.
Numa outra
vertente, mais ambiciosa, mas talvez menos uniforme do ponto de vista
metodológico, o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), do
Itamaraty, e o Departamento de Ciência Política da USP vêm coordenando um
ciclópico esforço de mapeamento sistemático das relações internacionais do
Brasil desde os anos 30 até o presente, através do projeto “60 Anos de Política
Externa Brasileira”. De outubro de 1991 a abril de 1993 foram realizados quatro
seminários nacionais, com a apresentação de mais de 40 ensaios temáticos por
especialistas acadêmicos e funcionários diplomáticos (algumas das colaborações
destes últimos consistindo de depoimentos fundamentados sobre episódios
importantes da diplomacia brasileira contemporânea). Sob a coordenação dos
Profs. Ricardo Seitenfus e José Augusto Guilhon de Albuquerque, os resultados
do projeto serão consolidados numa só obra, em quatro volumes, cobrindo
praticamente todas as áreas de atuação da diplomacia brasileira no período
estudado. Os diplomatas profissionais assinam grande parte dos trabalhos
apresentados, muitos deles reunindo esforço de pesquisa e participação direta
nos eventos narrados e analisados, o que os converte em “fonte primária” de
muitos dos episódios focalizados. Além dos comentários preliminares por um
relator designado pela Comissão Editorial, todos os trabalhos foram submetidos
a exame e debate coletivos nos seminários de avaliação. A publicação dessa obra
coletiva ocorrerá, provavelmente no decorrer de 1994.
Ambos os
projetos marcam uma nova etapa no processo de pesquisa e divulgação de
trabalhos sobre a diplomacia brasileira, representando possivelmente a lenta
emergência e a progressiva consolidação de uma comunidade de especialistas em
relações internacionais do Brasil cuja estruturação orgânica é apenas uma
questão de tempo.
356. “Estudos de Relações Internacionais do Brasil: novos trabalhos e
projetos coletivos”, Brasília: 6 julho 1993, 2 p. Apresentação do livro de
Moniz Bandeira (Estado Nacional e Política Internacional na América Latina: o
continente nas relações Argentina-Brasil, 1930-1992) e das obras coletivas O
Desafio Internacional: a política internacional do Brasil de 1930 a nossos dias
(Coordenador Amado Luiz Cervo) e 6o Anos de Política Externa Brasileira
(Projeto IPRI-USP). Publicado na Revista Brasileira de Política Internacional
(nova série: Brasília: ano 36, n. 1, 1993, p. 143-144). Relação de Publicados
nº 137.
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