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segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Mulheres no Itamaraty: a FSP faz demagogia barata em editorial

Abaixo, reproduzo editorial da FSP, transcrita pelo SindItamaraty, que possui inúmeros clichês equivocados e muita demagogia, supostamente de gênero.
É certo que muitos diplomatas homens ditos incompetentes (nesse editorial) têm sido promovidos, como ocorre em qualquer corporação desse tipo, caracterizada por fortes relações de compadrio, amizades oportunistas e pistolões em excesso, o famoso QI, quem indica. É também certo que o Itamaraty tem sido submisso em excesso às vontades e preferências dos donos do poder, de todas as tendências em todas as épocas. 
Mas não existe nenhuma razão para dizer que existe um "sério" problema de gênero no Itamaraty apenas porque as mulheres constituem um quarto do contingente. 
Não há porque o Itamaraty "proteger essa minoria", se elas são apenas um quarto - o Itamaraty não escolhe sexos no processo de seleção -- ou se em recentes promoções a "minoria" foi excluída. O gabinete do chanceler é da escolha do chanceler, e ele não deveria ser obrigado a escolhê-las ou promovê-las apenas por serem mulheres.
Essa tese do "machismo institucionalizado" é impressionista e precisaria ser apoiada em fatos fundamentados, a menos que se queira acusar os gays -- que certamente são uma "minoria" de mais de um quarto do contingente -- de também serem partidários desse "machismo". 
Que exista assédio no Itamaraty é possível e mesmo provável, como também nas redações de jornais e em diversos outros meios. Isso não torna obrigatória a promoção das mulheres apenas devido a essa condição natural.
Não existe por acaso demagogia e incompetência quando se introduzem cotas raciais ou de gênero para promoção, remoção ou exercício de cargos? É claro que existe!
O mérito, o reconhecimento do trabalho, a competição e a competência deveriam ser os únicos critérios de desempenho na carreira, sem qualquer demagogia barata de tipo racial ou de gênero.
Paulo Roberto de Almeida 

Folha de São Paulo: É sério o problema de gênero no Itamaraty
13.11.2015


O Brasil tem mulheres diplomatas há cem anos, mas até hoje elas representam menos de um quarto do quadro.
Como o ministério não tem mecanismos para proteger essa minoria, o resultado é o que é. Este ano, dos cinco diplomatas recém-promovidos a embaixador, nenhum é mulher. Entre os dez novos ministros, uma mulher. A lista de ramais do ministério revela que, via de regra, mulher ali não manda nem ocupa posição de liderança. Não há mulher diplomata no gabinete do chanceler.

O machismo institucionalizado tem raiz profunda. Quando o ex-ministro Celso Amorim promoveu mulheres a cargos de chefia, os porta-vozes do atraso alertaram para o risco de serem promovidas funcionárias incompetentes. Nada disseram, claro, sobre a promoção de homens de sabida incompetência.

Num ambiente assim, existe ampla tolerância ao assédio e à discriminação de gênero. Há numerosas histórias de arrepiar, mas quem reclama compromete a carreira.

Isso dito, há boas mudanças. Um grupo informal de mulheres está transformando a maneira como a questão é tratada no ministério, ao passo que avança um comitê formal para promover igualdade de gênero (e raça).

As resistências existem. "Essas meninas vão dividir o Itamaraty", diz um embaixador. Quando um texto sobre o assunto vazou, um chefe concluiu: "Isto é um ataque ao ministério". Como sempre, o atraso reage mostrando os dentes.

A maior agressão contra o Itamaraty é lotar em cargos de relevo homens com passagens pela polícia por agredir colegas de trabalho e/ou parceiras. Afinal, uma brasileira é assassinada a cada 90 minutos, metade das vezes por estrangulamento ou uso de objetos cortantes. Dividir o Itamaraty é fazer vista grossa à cultura de assédio que atormenta algumas diplomatas e muitas oficiais de chancelaria. Cultura importa: não é só que o SUS atende 405 casos de violência doméstica e sexual por dia, mas metade das vítimas de estupro tem menos de 13 anos (dois terços dos agressores são familiares, amigos ou conhecidos).

Quando uma mulher do Itamaraty sente que o toque impróprio, a ameaça velada, a tungada de um colega desvairado ou as travas informais à progressão profissional ficam por isso mesmo, tolhe-se a capacidade do ministério de defender os interesses de uma sociedade que ainda está em dívida com as suas mulheres.

Vai mudar?

Muito dependerá do atual chanceler. Ele pode ouvir as novas iniciativas com interesse. Ou pode fazer de conta que ouve e deixar tudo como está.

O caminho do progresso é claro. 
Fonte: Folha de São Paulo 

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