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domingo, 1 de novembro de 2015

Sobre os metodos de trabalho dos pareceristas de revistas cientificas - Alexandre Hage

Considerações interessantes, uma espécie de mini-manual dos pareceristas anônimos, esses seres temidos e quase nunca conhecidos...
Paulo Roberto de Almeida

OBSERVAÇÕES SOBRE A FUNÇÃO DE PARECERISTA
Alexandre Hage
30 de Outubro de 2015

Talvez por ser rede social o Facebook se presta a ser via de desabafo de alguns professores e pesquisidores sobre a atual política editorial que abrange as revista de classificação A1, A2 e B1.

Há algumas semanas um professor da UnB comentou sobre os critérios que um indexador tem para albergar revistas, exigindo mudanças que às vezes tornam difícil sua admissão nesse mesmo indexador, como a obrigatoriedade ser os artigos escritos em inglês.

Há uma razão que força o indexador querer isso de uma revista, razão controvertida, por causa da "cultura editorial e científica" que está em vigência, segundo a qual o debate científico no Brasil não acompanha em importância aos existentes nos Estados Unidos ou sudeste asiático. E um dos motivos para isso seria a abundância de artigos em português, língua não franca para a ciência mundial.

Mas também vi desabafo de ex-editor de uma revista A que deve ter submetido artigo em outra publicação de mesmo nível e recebido negativa para publicação. Não é lícito aqui entrar no mérito do parecerista, uma vez que não conheço o texto nem a revista em questão.

O ex-editor fez um desabafo indicando que há um comportamento que deve comum em um grupo de pareceristas "A": a pouca sensibilidade e a visão desconsiderada que eles tem do autor, como alguém desprovido de personalidade e usando o anonimato para agressões ou algo que tenha tom de agressão. Deve saber isso por experiência de ter lido muitos pareceres assim.

É claro que a atividade de parecerista não é pessoal e não deve ser feita a partir de comiserações. Por isso mesmo que o parecerista não tem nome, da mesmo forma que o artigo também não informa o autor, para evitar constrangimentos.

Talvez não há ainda meio mais adequado para se aprovar um artigo que não o do método atual, em que há o emprego de pareceristas anônimos, como se diz às cegas. Por isso mesmo penso que seria interessante haver um tipo de manual de etiqueta e recomendação para quem aceitar ser pareceristas, justamente para não aumentar ainda mais a angústia de quem passou mais de um ano pesquisando e escrevendo assunto que fora negado. Evidentemente que não é pelo tempo gasto que o artigo tem mérito, é apenas um indicativo do problema.

A possível publicação de um artigo em revista A pode levar até três anos na atualidade. Isto porque as normas de submissão exigem que o artigo seja apenas submetido em uma revista apenas. O tempo de avaliação pode ser superior a mais de um ano. Já aconteceu do próprio editor de uma revista A sugerir ao autor para que retirasse o artigo porque não se concluía a avaliação depois de um ano e meio. Caso o artigo seja aprovado pode levar mais um ano ou mais para sua publicação. E isso tudo angustia mais ainda porque praticamente todos os departamento universitários fazem "amigável pressão" para que seus professores publiquem em grupo A ou B1 por causa da cultura que viceja no governo brasileiro, a de ser o professor um ser produtivo.

Assim, considerando a importância de ser parecerista acredito que normas de conduta podem ser uteis para aqueles que às vezes se entusiasmam com a prestigiosa tarefa. É fato que há um bom grupo de pareceristas que prestam com qualidade e respeito sua função. Para mim algumas recomendações são:

1 - Não avalie um texto se você não tiver condições emocionais em virtude de problemas pessoais ou mesmo acadêmicos.

2 - Não tenha vergonha de dizer ao editor que você não conhece o assunto para avaliá-lo. Não é porque sou cientista político que estou apto para ler tudo dessa área. Nem mesmo da minha própria área de pesquisa consigo ler tudo que se publica.

3 - Não se irrite com o texto submetido porque ideologicamente ele não combina com você. O que está em jogo não é a ideologia do autor, mas sim a qualidade do texto e a forma como ele é posto. No meu campo de estudo há pesquisadores liberais e marxistas que escrevem com qualidade seus assuntos. É básico, mas tem de ser dito: o autor tem o direito de seguir a ideologia que lhe é mais apropriada. Não é a ideologia que está em avaliação.

4 - Se você não aprovar o artigo não o faça porque o autor leu autores de mais ou de menos. Não diga a ele que ele devia ler fulano, sicrano ou beltrano porque cada um tem sua experiência e visão de mundo. Isso seria aquilo que chamam "engenharia de obra feita" depois de tudo feito chega alguém e fala que devia ter feito isso ou aquilo. Só faça recomendações se o texto for aprovado com restrição.

5 - Por ser ação anônima não destrate o autor, não despeje nele sua raiva e irritação. Não o chame de louco, de limitado, de doente. Não fale que sua redação não vale nada, que por você o autor desapareceria da terra. Às vezes pode se tratar de um autor com acúmulo de cultura maior que a sua e pode ser que sua escrita seja fruto de uma época em que era outra a percepção de correção e estilo.

6 - Ao negar um texto não seja pedante, aponte apenas as razões de sua negativa, não queria dar aula sobre o terma do autor.

7 - Cumpra o prazo correto.

Acredito que estas sejam recomendações que podem melhorar a vida de quem recebe a honra de ser parecerista e de quem produz para melhorar sua vida profissional.

Obrigado!!
Alexandre Hage

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