Cesar Maia, ex-prefeito
do Rio, usa as informações disponíveis, e uma recente entrevista a um jornal
brasileiro do filho de Tomas Eloy Martinez, que fez um documentário a partir da
entrevista gravada que seu pai fez com Perón, exilado em Madrid, antes de
retornar à Argentina, para tecer algumas considerações e selecionar alguns
trechos dos dizeres de Perón naquela gravação.
Perón foi o homem, o
demagogo político, o populista econômico, o líder carismático, essencialmente
fascista, que afundou a Argentina, que construiu uma "decadência
programada", se ouso dizer, e os argentinos continuam até hoje reféns de
um cadáver insepulto, o de Perón e o de sua esposa mítica e mistificada.
Perón foi o líder
destruidor que construiu uma única coisa: a República Sindical, mas o fez com uma
doutrina justificadora, embora mentirosa: o Justicialismo, que aliás rima com
fascismo. A República Sindical destruiu a Argentina, como ela está destruindo o
Brasil, com seu patrimonialismo de tipo gangsterista, com seu corporativismo
prebendalista, fisiológico, nepotista, rentista, expropriatório, concentrador,
até mafioso.
A grande diferença entre
a "nossa" República Sindical -- tentada em 1963-64, e desmantelada
pelos militares, mas renascida com as hostes lulopetistas e cutistas de 2003 em
diante -- e a dos hermanos é que a essa "nossa" não tem nenhuma
doutrina, nenhuma conceituação política, mas pura demagogia e puro oportunismo,
quando não roubalheira desenfreada. Trata-se de um peronismo de botequim, uma
contrafação do original, um rentismo sem qualquer sentido nacional, atividades
quadrilheiras no mais alto grau.
Vejamos aqui uma das
avaliações finais de Cesar Maia sobre o resultado do peronismo:
"Erro maior
dos peronistas: a Volta de Perón em 1973 não foi para construir um futuro, mas
para repetir o passado, dos anos de glória entre 1946 e 1955."
No nosso caso, a
contrafação também tentou repetir a era Geisel, aquela que, em meio aos grandes
projetos de desenvolvimento econômico, acabou por ser um processo amplamente
fracassado, aumentando a inflação e a dívida externa, sendo diretamente
responsável pelas década e meia perdida, em sua sequência. O lulopetismo,
geiseliano em intenção, mas corrupto por vocação e fundamentalmente inepto,
levou o Brasil à Grande Destruição que atravessamos atualmente, à margem de (e
sem qualquer conexão com) qualquer conjuntura externa de crise ou recessão.
Transcrevo abaixo a
coluna de Cesar Maia desta quinta-feira, 4 de maio de 2017.
Paulo Roberto de Almeida
PERÓN, NA
ÉPOCA, COM 75 ANOS! ENTREVISTA: ENSINAMENTOS QUE SERVEM AOS NOSSOS POLÍTICOS DE
HOJE!
1. O
consagrado escritor argentino Tomás Eloy Martínez, em 1970, com 36 anos,
conseguiu que Perón -75 anos e já com 15 anos de exílio- concedesse em sua casa
em Madrid (Puerta de Hierro) uma entrevista gravada. Foram 4 dias de gravações.
Em base a essa entrevista, Eloy Martinez escreveu dezenas e dezenas de artigos
e dois livros de grande sucesso: Santa Evita e A Novela de Perón.
2. Essas fitas,
mantidas em caixas, ficaram guardadas até agora. Nos últimos meses foram
transformadas em filme e documentário. Dias atrás, antecipando o lançamento,
foram divulgadas 5 partes deste documentário, que vão desde a sua infância até
sua morte. As respostas de Perón a Eloy Martinez são comentadas por
politólogos, historiadores, políticos sêniores e até publicitários.
3. Deveriam ser
vistas e revistas por nossos políticos de hoje, pois contêm experiências
acumuladas até a sua maturidade. Seguem trechos que este Ex-Blog selecionou.
4. “O líder,
primeiro, se faz ver, para que o conheçam. Depois se faz obedecer espontânea e
naturalmente para passar a ser percebido como infalível. O que conduz deve ser
percebido como infalível. Isso tudo é uma arte.
5. Não sou um
político: sou um condutor. Carisma é o produto de um processo técnico de
condução.
6. Condução é
unificar as ideias dispersas em direção a um objetivo que conhece o condutor.
7. Ao se chegar ao
poder se tem 2 objetivos: fazer a felicidade do Povo e a grandeza da Nação. Se
se excede em um, se sacrifica o outro. Deve-se conseguir um equilíbrio entre os
dois.
8. A política deve
ser pendular entre o sindicalismo que está sempre a direita e a esquerda que
está na política.
9. A Condução
política é sui generis. As pessoas estão acostumadas à gestão da ordem (que de
fato é uma gestão militar). Mas em política jamais existe ordem. Há que se
preparar e se acostumar a gerir a desordem.
10. A política não
pode ser um corpo rígido. Tem que ser flexível.
11. Fui criado com os
animais; adoro os animais. Na política há 10% de idealistas e 90% de opiniões
dispersas. Estes 10% são como os cães (tenho 4) e 90% como os gatos. Os cães
são fiéis e acompanham silenciosamente. Os gatos são dispersos. Saem para caçar
à noite. Quando são contrariados preferem ficar num canto e até se ocultar. Mas
quando se veem cercados, reagem atacando. São felinos.
12. Estar longe dos
fatos é melhor que se estar perto. De longe se vê a totalidade.
13.
Comentários finais. Perón sempre teve o controle do movimento peronista. Só
perdeu o controle quando voltou do exílio ao governo em 1973. / Erro maior dos
peronistas: a Volta de Perón em 1973 não foi para construir um futuro, mas para
repetir o passado, dos anos de glória entre 1946 e 1955.
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