sexta-feira, 14 de maio de 2021

A correspondência intelectual de Celso Furtado, por Rosa Freire d’Aguiar (BBC)

Correspondência intelectual de Celso Furtado nesta matéria da BBC, sobre o livro organizado por Rosa Freire d’Aguiar. 

Como diplomata, tendo também vivido, em etapa anterior ,um exílio voluntário durante a ditadura militar, mas dispondo felizmente de passaporte, constrange-me especialmente transcrever este trecho de suas palavras na entrevista:

“"As cartas do exílio são muito pungentes, dolorosas de ler. Expõem os dramas vividos pelos exilados. Seus problemas eram incontáveis: de saúde, financeiros, familiares... As embaixadas, por sua vez, dificultavam ao máximo suas vidas: negavam vistos, não concediam passaportes, entre outras pequenas maldades".”

Como as ditaduras, os regimes intolerantes, em geral, podem ser tão crueis com os seres humanos, os concidadãos? 

Durante a ditadura, o Itamaraty colaborou sim com o regime. Sabemos do colaboracionismo da maior parte dos franceses durante a ocupação nazista do país: por mais que existam “explicações”, ou justificativas, é sempre vergonhoso reconhecer. 

Saber que as ditaduras militares do Cone Sul cooperaram entre si na repressão a seus próprios nacionais, em alguns casos levando-os à morte, é algo pungente de descobrir, quando alguém se torna, como no meu caso, membro da corporação, depois de ter enfrentado o exílio, ainda que voluntário (era aquilo ou expor-se a uma possível prisão). 

O Itamaraty teve sua cota de colaboracionistas, alguns entusiastas da ditadura por obsessiva ideologia anticomunista, outros por oportunismo dos mais abjeto, outros simplesmente por falta de coragem. Tentei fazer a minha parte durante a ditadura, antes e depois de me tornar diplomata, o que um dia relatarei.

Paulo Roberto de Almeida

Cinquenta e cinco anos de História do Brasil em 300 cartas: a correspondência do economista Celso Furtado

  • André Bernardo
  • Do Rio de Janeiro para a BBC News Brasil

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