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quarta-feira, 12 de maio de 2021

Por que o capitão tem tantos apoiadores? Uma resposta tentativa - Paulo Roberto de Almeida

Por que o capitão tem tantos apoiadores? Uma resposta tentativa

 

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivo: Comentários e explicação tentativa, de natureza psicológica, a respeito do amplo apoio de que ainda desfruta o presidente; finalidadedebate público]

 

 

A pergunta é uma das mais cruciais de nossa conjuntura política: por que, a despeito da evidente desgovernança, o capitão ainda desfruta de certo apoio na sociedade?

Eu poderia tentar uma resposta sociológica, ou de ciência política, vinculada à própria conjuntura na qual vivemos desde 2013 e da qual ainda não saímos, dados os efeitos delongados da recessão, atualmente prolongados pelos da pandemia.

Quais são as características básicas dessa realidade sociológica? Resumo apenas: frustração com a Grande Destruição econômica da última fase dos mandatos petistas, choque brutal da realidade que veio à tona com a Imensa Corrupção petista, a reação moralista contra a miséria ética da maior parte do estamento político, a hábil exploração dos recursos das tecnologias de informação e comunicação (TICs) para a manipulação esperta do eleitorado, enfim, o conjunto de circunstâncias que nos levaram ao “ponto ótimo” da crise e que redundou no resultado eleitoral de outubro de 2018, não apenas no nível presidencial, mas também nas dezenas de oportunistas eleitos no mesmo ambiente de falcatruas programadas na ocasião.

Tudo isso é válido para o pleito e o entusiasmo imediato com as promessas de “grande limpeza” ética da Nova Politica, de retomada do crescimento via um liberalismo que nunca existiu, de conexão direta com o “povo”, além e acima dos partidos e da classe política, coisas que jamais existiram ou existiriam, pois que tudo não passou de uma imensa fraude (que enganou não só a classe média, mas também o Grande Capital, o conjunto dos ruralistas e pequenos agricultores, e também a cúpula das FFAA, sem mencionar as bases dos corpos de segurança naturalmente propensos a seguir o discurso fascista do “bandido bom é bandido morto”).

Mas isso não explica a natureza do apoio de que ainda desfruta o capitão em vários estratos da população, mas que não tem nada a ver com o apoio ingênuo daqueles muito dependentes da ajuda estatal, que sempre vão apoiar quem lhes dispensa essa ajuda, seja ele de esquerda, de direita ou de centro, liberal ou fascista, democrata ou autoritário. Não são os humildes que fazem marchas ou manifestações de moto ou de carro em apoio ao capitão nos feriados e fins de semana. Estes são basicamente de classe média, até eventualmente bem informados, o que não quer dizer que sejam cultos ou inteligentes.  

Depois de dois anos e meio de desgoverno, de falcatruas reveladas, de rendição à corrupção política (inclusive em causa própria), de total incompetência não só no trato da pandemia, mas na simples gestão administrativa, com o desmazelo mais que visível do capitão e sua família, com o desprezo pela vida já amplamente demonstrado, com a grosseria rude que se lhe conhece, a ignorância estatelada na face, os prejuízos já evidentes trazidos ao Brasil no plano interno e externo (armamentismo, ataques à democracia e aos DH, meio ambiente, diplomacia, etc.), nada disso, ou tudo isso poderia augurar um apoio continuado ao capitão, e sim uma legítima rejeição por parte de cidadãos aparentemente normais, ou seja, pessoas de classe média que não sofrem ou enfrentam as agruras materiais cotidianas da classe E e dos estratos mais baixos da classe D.

Não nos enganemos, aqueles que saem às ruas são majoritariamente das classes B e C, com certo número da classe D e muito poucos da classe A (só os muito canalhas, os oportunistas e os muito burros, ou naturalmente “fascistas”, pois também os há).

Existiriam muitas razões “sociológicas” para explicar o resiliente apoio ao capitão em outras faixas da população que não os “bolsonaristas raiz” – que são em número limitado – ou entre os evangélicos de maneira geral, que são “naturalmente” levados a apoiar aqueles indicados pelos pastores-funcionários de um establishment vinculado mais aos negócios do que propriamente à religião.

Minha explicação é mais de natureza psicológica do que sociológica, pois que acredito que  a maior parte dos que manifestam sua concordância com palavras e gestos do capitão realmente não ganha absolutamente nada, não tira nenhuma vantagem pessoal em apoiar o seu desgoverno; eles o fazem espontaneamente, livremente, alguns até de forma entusiasta: se enrolam na bandeira, repetem slogans imbecis e acham sinceramente que viveriam melhor com uma “intervenção militar constitucional”, “com Bolsonaro no poder”. É nisso basicamente que se traduz o seu apoio.

Não me custa nada dar minha explicação psicológica: creio que esse apoio tem a ver com o fato de que, finalmente, a maior parte dessas pessoas seja basicamente como ele, ignorantes crassos (independentemente da faixa de renda), gente frustrada, preconceituosa, direitista ingênua, enfim, todos os vícios do capitão, gente que antes vivia dispersa pelo imenso país e que de repente descobriu um boçal que as representasse perfeitamente, já que idiotas também precisam ser representados. 

Sem medo de ofender os bolsonaristas, mas ofendendo, acredito ser esta uma explicação válida: recalcados ignorantes viviam antes sem ter quem os representasse: acabaram encontrando. E isso é uma massa considerável de gente, sem falar em evangélicos também ignorantes e que se deixam enganar por um falastrão oportunista.

É mais ou menos o que ocorre, em menor escala, com o famoso guru presidencial, um oportunista esperto que descobriu uma maneira de viver às custas de algumas dezenas de milhares de pessoas, sedentas de alguma explicação, e de algum “conhecimento”, sobre as razões de nossas mazelas, que estão no “comunismo” sempre solerte, no Foro de S. Paulo “do PT”, no globalismo dos ultra ricos esquerdistas, dos burocratas da ONU e dos acadêmicos gramscianos, tudo isso servido com leves tinturas filosóficas, o que dá a impressão aos ingênuos de que eles estão ficando inteligentes ao se filiar ao subsofista espertalhão. 

Num e noutro caso, o capitão e o guru, eles conseguiram juntar os frustrados (por razões legitimas ou não) que viviam dispersos e perdidos no seio de uma população espalhada pelo Brasil inteiro, pessoas que ansiavam por encontrar um semelhante, ou um salvador providencial, ou guia espiritual, ou simplesmente um conselheiro para enfrentar a dureza que é viver num país que manifestamente perdeu o rumo de algum consenso em torno de políticas razoáveis para retomar o caminho da construção da prosperidade, da segurança pública ou da simples civilidade. É duro ter de reconhecer, mas o Brasil perdeu o rumo, dadas suas elites medíocres, desonestas, e a baixa educação política (quando não educação tout court) da maior parte da população. Somos um país que se perdeu na anomia geral do establishment político, no oportunismo das corporações de Estado, no patrimonialismo geral dos donos do poder, que não são todos representantes do Grande Capital, pois eles podem ir do mais modesto vereador de província ao mais poderoso senador da República ou governador de importante estado da (des)federação.

Esse é o estado a que chegamos, como Estado, como governo, como sociedade e como nação, às vésperas de completar duzentos anos de independência e ainda sem um rumo determinado, sem sequer algum programa oficial (já nem falo de “projeto nacional”, pois isto se revela impossível nas circunstâncias presentes) que nos possa tirar do lodo material, do pântano institucional, das frustrações pessoais, pois que continuamos a “vagar cegos pelo continente”.

Esta é a minha “explicação” para o fenômeno do apoio continuado ao PIOR dirigente que o Brasil jamais conheceu desde D. Tomé de Souza, aqui desembarcado em 1549, um homem (e um esquema familiar) que eu não hesitaria em classificar como um DEGENERADO com traços de psicopatia esquizoide, dado o comportamento esquizofrênico do personagem em questão (sem recusar-lhe alguma esperteza oportunista, dada a propensão a explorar os antagonismos e as frustrações de sua clientela).

Sinto, mais uma vez, expressar pessimismo em face da situação atual, mas é a maneira que encontro para suscitar reações, despertar consciências e animar, talvez, alguns espíritos irresolutos, dispostos a enfrentar as dificuldades do momento, na busca de alguma via de escape (nem estou pensando em “solução”) às misérias da presente conjuntura.

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3909, 12 de maio de 2021

 

 

PS: transcrevo uma mini postagem de dois dias atrás:

“O Brasil vai persistir, por decisão do nosso estamento político altamente corrupto, na manutenção do governo do degenerado até o final de 2022, com imensas perdas, prejuízos e retrocessos ao país, nada de muito diferente do que tivemos no Império e na República, de modo contínuo.

Difícil acreditar que no ano do bicentenário, 2022, possa emergir um estadista nacional que proponha um inversão radical de nossos equívocos fundamentais. E que ele tenha votos suficientes para guindá-lo ao poder. Continuaremos afundando. Sorry pelo pessimismo. Sou um realista!”

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 10/05/2021

 

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