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domingo, 30 de maio de 2021

Meu pitaco, de agora a outubro-dezembro de 2022 - Paulo Roberto de Almeida

 Meu pitaco, válido de 29/05/2021 a outubro-dezembro de 2022

Paulo Roberto de Almeida


Vamos ser brutalmente sinceros: os organizadores das manifestações de 29/05 não estão minimamente interessados no impeachment do Bolsovirus; eles só querem enfraquecê-lo para as eleições de 2022. Esse foi o verdadeiro objetivo.

Mas, mesmo que quisessem o impeachment, não iriam conseguir. O Centrão, por oportunismo e conivência com a tradicional corrupção política, o Desprocurador Particular da republiqueta bolsonarista, por interesse próprio, não vão  sequer se mover.

Mas, se colocassem pelo menos as coisas claramente, os organizadores dos protestos seriam menos hipócritas. 

Sorry, meus caros manifestantes; vcs estão legitimamente interessados em afastar um genocida. Os que organizaram os protestos, não querem chegar a isso: usaram vcs como massa de manobra eleitoral. 

Estou aguardando contestação dos hipócritas, o que não vai mudar a realidade das coisas. 

Aqueles que detêm o real poder de mudar o destino do Brasil, não têm a mínima intenção de fazê-lo, nem políticos, nem militares, nem magistrados, nem os donos do Capital, e nem os poucos liberais que clamam no deserto têm a capacidade de mudar alguma coisa de forma decisiva.

Não é que essas supostas “elites” sejam simplesmente medíocres, ou ridículas, o que elas também o são.

A triste verdade é que o Brasil não possui sequer elites dignas desse nome.

Estadistas, então, nem pensar.

Vamos continuar no pântano por mais alguns anos, não sei quantos. 

Mesmo que surgisse, por acaso algum estadista, ele ainda precisaria de votos de eleitores motivados.

A tragédia é que só teria a oferecer algum equivalente funcional do “sangue suor e lágrimas”, o que não é exatamente o que gostariam de ouvir os eleitores das classes C e D, que são os que elegem dirigentes e representantes atualmente.

Portanto, não esperem milagres de aqui até o final de 2022: o que temos é mais ou menos isso que já está aí, com muito poucas surpresas na agenda eleitoral.

O que teremos, então?

Talvez mais do mesmo, o de agora e o de antes. Ou então um outro personagem que terá os mesmos problemas que todos já conhecemos: manobras ingentes e escusas para formar as bases de um presidencialismo de cooptação, ou mais provavelmente de corrupção. 

Esse é o Brasil, a menos de alguma grande tragédia que não é do interesse de ninguém, de gregos ou de goianos.

Vamos continuar afundando mais um pouco? Muito provavelmente, mas sempre lentamente, como é costume por aqui, que ninguém é de ferro.

Um dia conserta? Sim, parcialmente, que o estamento político não é de grandes reformas. Este é o país no qual os progressos dentro da ordem seguem o ritmo de uma lesma. Foi assim com o tráfico negreiro, foi assim com a abolição da escravidão, tem sido assim, desde sempre, com a educação de massa, ainda não se pensa eliminar o patrimonialismo, nem a corrupção política e os privilégios dos donos do Capital. Os militares estão mais interessados na ordem do que no progresso, os magistrados inteiramente satisfeitos com suas prebendas aristocráticas, as corporações de ofício com seus benefícios, e a classe média não tem educação suficiente para reclamar avanços mais ousados.

Quem paga o custo de tudo isso?

Os pequenos e médios empresários e os trabalhadores das classes C e D, os mesmos que elegem os mesmos políticos de sempre, os predadores da riqueza duramente criada pelos primeiros.

Desculpem pelo longo pitaco: era para ser pequeno e puramente conjuntural, mas acabou grande e estrutural. 

Não tenho grandes ilusões quanto ao futuro do Brasil: continuaremos a nos arrastar penosamente em direção à modernidade, que o progresso também é um fatalidade.

Esta é a conclusão a que chegou Mario de Andrade, o principal organizador da Semana de Arte Moderna de fevereiro de 1922 e profeta do modernismo no Brasil. Em 1928, ele publicou Macunaima, um romance passavelmente pessimista.

Não era a minha intenção: eu estava apenas tentando ser realista. 

Sorry, mais uma vez.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 30/05/2021

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