Uma certa ideia da França (De Gaulle), uma certa ideia do Brasil
Paulo Roberto de Almeida
Sim, eu tenho uma certa ideia do Brasil, que infelizmente não tem condições, ainda, de se materializar, assim como De Gaulle tinha uma certa ideia da França, ainda que ele tampouco tenha conseguido materializá-la inteiramente. Ele o fez pelo menos em parte, na Libération, em 1944, mas não suportou a mediocridade da política, e logo começou, a partir de 1946, sua longue traversée du désert, que durou até 1957, quando a crise criada pela guerra da Argélia o leva de volta ao poder.
Fez o que pode, criando uma nova República, uma Constituição ao seu gosto, que Miterrand chamou de coup d’État permanent. Saiu em 1969, quando lhe recusaram um Plebiscito de reforma da sua Constituição.
No que me concerne, eu só fiz, até agora, um livro do ciclo bolsolavista que se chama Uma certa ideia do Itamaraty, título diretamente inspirado da frase de De Gaulle. Sabia que era dele, mas não sabia de onde era, onde ele a tinha dito.
Descobri agora, ao ler este livro, que são as leituras e os escritores que De Gaulle leu ao longo da vida: Alain Larcan, De Gaulle Inventaire: la culture, l’esprit, la foi (Paris: Bartillat, 2010, 979 p.), que eu comprei no Mémorial De Gaulle, em Colombey-les-deux-églises, onde ele está enterrado, no modesto cemitério de uma das duas igrejas.
Pois bem, descubro agora, à p. 335, que ele disse essa frase, “une certaine idée de la France”, a propósito do escritor nacionalista de direita Maurice Barrès, que também tinha a sua petite idée de la France, depois da derrota contra a Prússia, que acabou com o império de Napoleão III, e deu início à 4a República, quando todos eram revanchistas e queriam recuperar a Alsácia-Lorena, perdida em 1870.
Bem, enquanto eu não coloco no papel a minha pequena grande ideia do Brasil, vcs podem ler a minha ideia da reconstrução da política externa e da restauração da nossa diplomacia, ambas arrasadas pelos novos bárbaros, que eu coloquei nesse livro totalmente e livremente disponível na internet: Uma Certa Ideia do Itamaraty (2020), que precede meus dois livros mais recentes (que espero os últimos deste ciclo): O Itamaraty Sob Ataque, 2018-2021: a destruição da diplomacia pelo bolsolavismo (já pronto, em edição Kindle), e Apogeu e Demolição da Política Externa: itinerários da diplomacia brasileira (a ser publicado em formato impresso dentro em breve).
Como Barrès e De Gaulle no caso das derrotas da França, eu não me despero pela miséria atual da política brasileira, mas ainda não escrevi a respeito. Pelo menos para a diplomacia, venho dando meus recados.
Paulo Roberto de Almeida
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